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FLORESTAS DO MUNDO

Propostas para

a sustentabilidade

Luis Felipe Cesar, organizador

2003

Cadernos de Proposições

para o Século XXI

Aliança por um Mundo

Responsável, Plural e Solidário

Esta série de Cadernos foi

im pres sa em pa pel 100% re ci cla do, su jei to a pe que-

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na quali dade de im pres são.

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CATALOGAÇÃO NA FONTE – PÓLIS/CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO

CESAR, Luis Felipe, organizador

Florestas do mundo: propostas para a sustentabilidade.

São Paulo, Instituto Pólis, . p. (Cadernos de Proposições para o

Século XXI, )

1. Meio Ambiente. 2. Desenvolvimento Sustentável. 3. Recursos Naturais.

4. Floresta. 5. Manejo Sustentável de Florestas. 6. Rede Florestas. 7. Expe-

riências Inovadoras. I. Instituto Pólis. II. Aliança por um Mundo Respon-

sável, Plural e Solidário. VII. Título. VIII. Série.

Fonte: Vocabulário Pólis/CDI

REALIZAÇÃO

Instituto PólisRua Araújo, São Paulo–SP CEP - Brasiltel. - fax -

www.polis.org.br

EDIÇÃO DOS CADERNOS DE PROPOSIÇÕES EM PORTUGUÊS

coordenação geral Hamilton Faria coordenação editorial Janaina Mattos preparação de originais, revisão e edição Toni Fariaprojeto gráfi co Cássia Buitoni ilustrações Marcelo Bicalho (as ilustrações foram produzidas especialmente para esta coleção) difusão Isis de Palma — Imagens Educação

APOIO

Fondation Charles-Léopold Mayer pour le Progrès de l’Homme – FPH (Paris)

Propostas para

a sustentabilidade

Luis Felipe Cesar, organizador

2003

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Florestas do Mundo 7

Sumário

Apresentação

As florestas e a Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidário A Rede Florestas

História

Gilgamesh e a floresta protegida pelos deuses

Contexto

Situação das Florestas do Mundo – 2001: Excertos do Resumo Analítico da FAO Os recursos florestais: superfície e condição Ordenação, conservação e desenvolvimento sustentável dos recursos flo-

restais Bens e serviços derivados das florestas

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8 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 9

O diálogo internacional e as iniciativas mundiais e regionais Conclusão Avaliação da FAO sobre a situação das florestas: ocultando a verdade Pablo

Luis Caballero A situação parece mesmo estar fora de controle Claudia Teixeira Causas ocultas do desmatamento e degradação das florestas World Rain-

forest Movement (Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais) Causas diretas do desmatamento Causas ocultas do desmatamento e degradação das florestas Forças que atuam por detrás da agricultura insustentável Conseqüências da globalização em longo prazo Políticas de posse de terra e as desigualdades Modelos de produção e consumo Um problema mundial com muitos atores O papel dos militares Olhando para o futuro Sobre Sustentabilidade

Vozes

Transversalidade

Florestas e comércio justo Bernardo Reyes Florestas e dívida externa Marcus Azaziel Florestas e energia Mycle Scheider

Florestas, mulheres e economia: uma boa pergunta! Cécile Sabourin Florestas, mulheres e economia Manon Boulianne

Propostas

Interromper o corte de florestas primitivas O que é secundário pode ser passível de manejo sustentável Promover a cultura florestal Por um novo paradigma econômico Política Florestal do Banco Mundial A ONU e as florestas: 10 propostas de ação prioritária Propostas dos jovens da Amazônia

Experiências

Proteção de 4.000 ha. de florestas, campos de altitude e mananciais em Matutu, Serra da Mantiqueira, Brasil

Coleção Vozes da Floresta de Educação Ambiental Plano Piloto: Desenvolvimento Florestal Sustentável Temas e Problemas da Floresta Projeto Lemu Canteiro de Capacitação Nós e a Floresta Nativa Florestas Urbanas Comunidades e Florestas Estratégias para Proteção de Florestas Adote uma Árvore na Terra do Fogo

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10 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 11

Carvão Ecológico Manejo Florestal na Amazônia A Colina Trabalha pela Colina Núcleo Regional de Unidades de Conservação Integrando Ações na Serra da Mantiqueira

Conclusão

Pessoas

Referências para consulta

Anexo

Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidário: Carta dos Aliados da Floresta e Gente da Terra

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Florestas do Mundo 13

Apresentação

As florestas e a Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidário

Seria muito difícil conceber uma aliança por um mundo respon-sável, plural e solidário sem o tema florestal. A própria arquitetura da floresta inspira o trabalho em aliança. A floresta tem como uma de suas mais marcantes características a explícita e estreita relação entre todos os seus componentes. As florestas tropicais, de forma es-pecialmente potencializada, sintetizam o que se pode chamar de har-monia da diversidade — genética, de cores, de formas, de tamanhos... Compreender — com a mente e o coração — a dinâmica que sustenta esses grandes ecossistemas é uma das chaves para a construção de propostas e ações no rumo da sustentabilidade ambiental planetária.

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O Caderno de Propostas Florestas do Mundo foi elaborado a partir de contribuições dos participantes de um fórum eletrônico realizado no período de fevereiro a outubro de . O ponto de partida foi a Carta dos Aliados da Floresta e Gente da Terra, escrita no Encontro de Bertioga, São Paulo, Brasil, em dezembro de .*

No marco da Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidá-rio muitos eventos se realizaram nos últimos anos, destacando-se o plantio do Bosque das Nações, nos dois primeiros Fórum Social Mun-dial, em e , Porto Alegre, Brasil, e o Encontro das Américas, em Quito, Equador, de a de junho de . Uma das propostas do encontro se referia a “recuperar uma relação de harmonia e de res-peito com a natureza, da qual nós, seres humanos, também fazemos parte. Queremos ‘pisar leve sobre a Terra’ como fundamento para ser na natureza e estar com os seus ciclos. Florestas, águas, terras, céus, animais e seres humanos — somos todos parte do santuário do nosso planeta... Estamos todos sob o mesmo céu, embora não vejamos o mesmo horizonte....”.

A Rede FlorestasO fórum eletrônico Florestas do Mundo ([email protected])

reúne pessoas da Argentina, Bolívia, Brasil, Camarões, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos da América, França, Malásia, Para-guai, Rússia, Uruguai e Venezuela. O eixo das propostas é a conservação do manancial de diversidade biológica e cultural existente nas flores-tas, no sentido de se estabelecerem diretrizes para um relacionamento saudável e realmente sustentável entre os seres humanos e o ambiente.

Durante nove meses um total de mensagens — em português, inglês e espanhol — foram enviadas simultaneamente a todos os par ti-ci pantes do Fórum, tendo como ponto de partida para debate o docu-mento preliminar Preservação das Florestas e da Biodiversidade. Du-rante esse período a coordenação do fórum realizou contatos pes soais com outros grupos e redes, destacando-se as entidades en volvidas no Projeto Gondwana, atuantes na Patagônia Argentina e Chilena; organi-zações do Equador, onde nasceu a proposta de se proteger, também, as florestas do paralelo zero; e participantes do primeiro Fórum da ONU sobre Florestas (UNFF), que reuniu governos de quase todo o mundo, além de ONGs de todos os continentes. Finalmente, em outubro, uma estadia de dez dias na Amazônia brasileira impregnou toda a alma

* Ver anexo, p. .

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16 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 17

desse esforço com a incrível energia que permeia a maior floresta tropical do planeta, onde gente, plantas, animais, ar, sol e água se mul-tiplicam em diversidade de vida.

Com a mesma forma — diversa e harmoniosa — ensinada pela floresta, tentamos organizar este caderno. O resultado é uma amos-tra propositiva de diferentes e complementares visões que um tema tão amplo e com tantas conexões possui. Com a intenção de expor a riqueza do debate que resultou nas propostas apresentadas, optamos por deixar falar as vozes e compilar documentos e opiniões que circu-laram no fórum eletrônico.

Devido à complexidade do tema, esse caderno é permeado por con-trastes. As propostas refletem visões e realidades diversas — de uma conferência na ONU, em Nova York, a uma reunião de jovens, na Ama-zônia. Permeando essa diversidade, um objetivo comum: interromper o rumo de destruição das florestas do mundo. O resultado é um mosai-co de propostas agrupadas em sete grandes eixos, que receberam os seguintes títulos: Interromper o corte das florestas primitivas; O que é secundário pode ser passível de manejo sustentável; Promover a cultura florestal; Por um novo paradigma econômico; Política Florestal do Ban-co Mundial; A ONU e as florestas; Propostas dos jovens da Amazônia.

Há textos que se originam por processos diferentes: Vozes são par-ticipações no debate eletrônico; Transversalidade é resultado de um chamado aos aliados de outras áreas temáticas. Documentos diversos, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM), e de especialistas completam os subsídios apresentados ao fórum eletrô-nico, aqui agrupados e comentados.

A Equipe de Animação do fórum eletrônico inseriu no debate diversos grupos de trabalho da Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidário, tendo em vista reforçar a transversalidade do tema florestal. Os comentários recebidos e transcritos constituem uma excelente contribuição a este caderno.

Ao concluirmos o trabalho, fica evidente que estamos apenas co-meçando a resgatar a Terra e os seres que aqui vivem. A implemen-tação das propostas apresentadas dependerá de uma ampla rede de parcerias e também da continuidade, aprofundamento e ampliação dos debates e das ações em andamento.

Pouco mais de um ano após ter sido finalizada a versão provisó-ria do caderno, a publicação em português renova a esperança de se ampliar a rede de aliados da floresta, que continua ativa por meio do

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18 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 19

fórum eletrônico, sempre aberto a novas participações. No final deste documento, uma lista de sítios na internet ajudará a atualizar perma-nentemente as informações sobre as florestas do mundo.

Uma árvore, ao cair, provoca grande ruído. Mas uma grande flo-resta cresce silenciosamente.

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Florestas do Mundo 21

História

Gilgamesh e a floresta protegida pelos deuses1

A história das florestas confunde-se com a própria história da civilização, começando na antiga e hoje árida Mesopotâmia. Naque-la região — Crescente Fértil — foi iniciada a intensiva exploração das áreas florestais.

Nos últimos . anos os seres humanos foram capazes de redu-zir as florestas do planeta a menos de metade da sua área original. Se antes % da superfície da terra do planeta era ocupada por florestas, hoje essa extensão corresponde a apenas %. Muitas das áreas hoje

Baseado em PERLIN, .

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consideradas campo, como as savanas africanas, os pampas argentinos e algumas pradarias da América do Norte, possuíam grandes exten-sões cobertas por florestas antes que os seres humanos as destruíssem. Em áreas mais secas como o norte da África, Grécia, Itália e Austrá-lia, as áreas desmatadas foram tão seguidamemente utilizadas para agricultura, que tiveram seu solo empobrecido a ponto de se trans-formarem em desertos.

Conta o Épico de Gilgamesh, que há . anos, Gilgamesh, o regen-te da cidade-reino Uruk, desejava construir a sua cidade como forma de eternizar o seu nome. Os ambiciosos planos de construção exigiam grande quantidade de madeira de lei, disponível na enorme floresta primeva de Uruk — tão grande que ninguém se arriscava a determinar seu tamanho e onde os cedros se elevavam com toda a sua exuberância.

Penetrar nessa floresta não era uma tarefa simples. Sua folhagem era tão densa que a luz do sol mal podia passar. Até aquela data não havia notícia de qualquer pessoa que tivesse se aventurado a penetrar naquelas matas, protegidas por ordem direta de Enlil, a principal di-vindade sumeriana, que ordenara ao violento semideus Humbaba que preservasse a floresta de cedros.

Apesar das advertências de seus conterrâneos sobre os poderes de

Humbaba, cujo rugido é como uma tempestade, cuja boca é o fogo e cuja respiração é a morte, Gilgamesh e seus companheiros entraram na floresta com a intenção de matar Humbaba e, assim, cortar as enormes árvores.

Num primeiro momento a majestosa beleza da floresta distraiu o grupo de Gilgamesh, paralisando suas intenções. Mas depois de algum tempo deleitando-se na moradia dos deuses, os lenhadores começa-ram a derrubar os cedros. O barulho logo acordou Humbaba que, en-furecido com a invasão do lugar proibido e a destruição da floresta, ordena aos invasores que se retirem.

Mas após uma violenta luta, Humbaba é morto e decapitado.Quando Enlil, que tinha por missão garantir para sempre a pros-

peridade da Terra, soube da destruição da floresta, lançou uma terrível maldição sobre o reino de Uruk: — Que a comida e a água de vocês seja consumida e tragada pelo fogo!

Este épico transcende o tempo, prenunciando acontecimentos que se repetiriam ao longo da História. Em quase todo o planeta a guerra contra a floresta continuou, com o objetivo de suprir com ma-teriais de construção e combustível o contínuo crescimento material da civilização. Hoje, o sul da Mesopotâmia é um deserto.

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Florestas do Mundo 25

Contexto

Situação das Florestas do Mundo – 2001Excertos do Resumo Analítico da FAO

Há quase dez anos a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), celebrada em no Rio de Janeiro, adotou o compromisso de trabalhar a favor de um ma ne jo sustentável, da conservação e desenvolvimento de todos os tipos de florestas. A CNUMAD, ao catalisar o debate e a ação sobre as florestas, redefiniu o objetivo e os destinatários da exploração florestal, e elabo-rou o conceito de manejo sustentável. Com o firme compromisso de alcançá-lo, foram criadas novas alianças na consecução de objetivos comuns na atividade florestal. Este resumo assinala fatos im portantes, cuja relação com as florestas, em muitos casos, remontam à CNUMAD

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26 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 27

ou a um período anterior; em outros, respondem a tendências e acon-tecimentos econômicos, sociais e políticos mais recentes.

Ainda que seja difícil alcançarmos resultados na ordem florestal sustentável, e o progresso não seja tão rápido como desejável, o cami-nho está agora mais aberto e é indiscutível que já está sendo percorrido.

Os recursos florestais: superfície e condiçãoEstima-se em , milhões de hectares a superfície de florestas

existente no mundo. % correspondem a florestas naturais e % ao plantio florestal. O desmatamento tropical e a degradação de florestas em muitas áreas do mundo afetam negativamente a disponibilidade de bens e serviços florestais. Se nos países desenvolvidos a superfície florestal se estabilizou, e no conjunto experimentou um pequeno aumento, o desmatamento tem continuado nos países em desen-volvimento. A variação anual líqüida da superfície florestal mundial durante o último decênio (-) foi estimada em –, milhões de ha, cifra que representa a diferença entre a taxa anual estimada de desmatamento de , milhões de ha e a taxa anual estimada de incremento da superfície de florestas de , milhões de ha.

As causas da degradação das florestas são de índole diversa. Algu-mas, como a exploração excessiva de produtos florestais, podem ser evitadas ou reduzidas mediante sistemas adequados de planejamento e de gestão, e os efeitos de outras causas, como as catástrofes naturais, podem ser mitigados mediante planejamento para imprevistos. A Si-tuação das Florestas do Mundo – 2001 analisa duas causas recentes dos danos sofridos pelas florestas: os intensos incêndios que se produzem em todas as regiões do mundo e os furacões ocorridos na Europa em de-zembro de . Estuda-se também uma das atividades que começam a ameaçar a vida das florestas: a exploração comercial da carne silvestre.

É certo que no transcurso dos anos - os incêndios não foram tão generalizados nem devastadores como no biênio anterior, ocorridos na zona ocidental dos Estados Unidos, Etiópia, Medi ter-râneo oriental e Indonésia. Nos quatro últimos anos os incêndios pro-vocaram a conscientização e preocupação da opinião pública sobre o problema e suscitaram a adoção de medidas políticas de caráter nacional, assim como iniciativas regionais e internacionais para a sua prevenção, alerta, detenção e controle.

Agora são mais conhecidos os vínculos existentes entre os incên-dios e as políticas e práticas do uso da terra. Em muitos países fo ram

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28 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 29

postos em prática projetos comunitários de luta contra os incêndios e, ao mesmo tempo, houve uma reavaliação sobre os efeitos da exclusão do fogo nos ecossistemas que dependem deste elemento.

Os temporais que se abateram sobre a Europa em dezembro de causaram enormes danos a florestas e a árvores isoladas, afe-tando gravemente os meios de subsistência de muitas pessoas e perturbando indústrias e mercados florestais. No total, tais danos re-presentaram seis meses de exploração madeireira regular na Europa; e em alguns países o vento derrubou tantas árvores quanto as que se extraem durante vários anos. Os governos agiram com rapidez e eficácia para minimizar os efeitos ambientais, econômicos e sociais, e muitos países se propuseram a modificar as políticas relativas ao es-tabelecimento e manejo das florestas para reduzir no futuro os riscos derivados das tormentas.

O esgotamento da vida silvestre nas florestas devido à explora ção comercial da carne silvestre é motivo de preocupação crescente. O comércio não sustentável dessa carne constitui um grave problema em muitas regiões, tendo alcançado dimensões de uma autêntica crise em algumas zonas da África tropical, onde estão ameaçadas, entre outras, numerosas espécies de primatas e antílopes. Organizações

não-governamentais (ONGs) e governos e, em nível internacional, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres (CITES) adotaram medidas corretivas para afron tar esse grave problema.

Ordenação, conservação e desenvolvimento sustentável dos recursos florestais

(...) Existe em todo o mundo a tendência de aumentar o plantio de florestas e a depender dessas áreas em maior escala como fonte de madeira industrial. A ampliação da superfície de plantio no mundo é um fenômeno muito recente; com efeito, metade das plantações têm menos de anos de idade. A Ásia é a região predominante no cultivo de novas áreas; em , em torno de % das plantações florestais do mundo estavam situadas nessa região. Outras novidades impor-tantes se referem ao incremento de investimentos do setor privado no estabelecimento do plantio de florestas nos países em desenvolvimen-to, ao aumento do aporte de recursos estrangeiros, e à expansão do sistema através de contratos, pelos quais comunidades ou pequenos proprietários produzem árvores para vender a empresas privadas.

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30 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 31

Há bastante tempo a biotecnologia tradicional se dedica ao au-mento da produtividade das plantações florestais. Não há opiniões contrárias no caso de muitas aplicações biotecnológicas na atividade florestal, mas atualmente inicia-se no setor florestal o debate sobre o uso de organismos modificados geneticamente. A manipulação genética tem a finalidade de oferecer mais resistência das espécies arbóreas florestais a vírus e insetos, assim como a redução da lignina e a tolerância aos herbicidas. Não há notícias da produção comercial de árvores transgênicas, embora se realizem ensaios sobre o assunto em vários países. A aplicação de novas biotecnologias pode ser de interesse, porém é necessário atuar com cautela na sua utilização a longo prazo em programas de conservação e melhoramento genético, e nas plantações.

(...) Muitos países impuseram recentemente proibições ou res-tri ções à extração de madeira, seja com a intenção de conservar os re cur sos florestais, ou como medida para enfrentar catástrofes natu-rais devastadoras (como, por exemplo, deslizamentos de terra e inun-da ções) que se atribuem, corretamente ou não, a uma exploração co mer cial excessiva. Os efeitos dessas medidas têm sido variáveis. Em alguns países tais efeitos contribuíram para a conservação das

florestas naturais, mas em outros afetaram negativamente o setor flo-restal e as comu nidades locais, ou, simplesmente, transferiram para outros países o problema da superexploração. Uma série de condições devem concorrer para que os resultados sejam satisfatórios: objetivos bem definidos baseados no conhecimento das causas da degradação das florestas; políticas adequadas, firme vontade política e recursos suficientes para enfrentar custos a curto e a médio prazo.

(...) Cada vez é maior a sensibilidade em toda parte acerca das ati-vidades florestais ilegais, incluindo a corrupção e seus enormes custos financeiros, ambientais e sociais. A corrupção, considerada até pouco tempo como um tema tabu, é agora tratada abertamente nos princi-pais fóruns internacionais; e os governos, as ONGs, o setor privado e a comunidade internacional estão enfrentando ativamente o problema.

(...) A participação de comunidades no manejo florestal é uma ca-racterística significativa das políticas e programas florestais nacionais em todo o mundo. Muitos organismos florestais nacionais estão imer-sos num processo de descentralização, reestruturação e redução, com resultados variáveis. Frente ao problema da falta de recursos financeiros e humanos, os governos recorrem, cada vez mais, a comunidades locais para que contribuam na proteção e gestão das florestas estatais (...).

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32 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 33

Bens e serviços derivados das florestas(...) O biênio passado (-) se caracterizou pela recuperação

geral da demanda mundial de madeira industrial, depois da pronun-ciada queda do período - originada pela crise econômica asiática. Os efeitos da crise, embora negativos, foram menos duradouros do que a princípio se temia. Não obstante, a produção de produtos de ma deira tropical não chegou a alcançar os níveis anteriores, e alguns paí ses asiáticos não superaram as dificuldades. O comércio, que se havia reduzido naqueles dois anos, experimentou importante recu-peração entre e . Um elemento novo, e que merece desta-que, se refere à crescente importância da China como consumidor de madeira, ao lado do espetacular crescimento experimentado pelas importações de madeira nesse país nos últimos anos, face às restri-ções impostas à exploração de florestas naturais. Este fato influiu de forma significativa nas redes de produção e comércio, tanto dentro da região da Ásia como fora dela.

No que diz respeito ao comércio (...), e mesmo se tratando ainda de uma decisão controvertida, a certificação de produtos florestais conseguiu maior aceitação, mostrando-se de maior interesse nos prin-cipais países importadores (Europa ocidental e Estados Unidos), e em

países exportadores cujos principais mercados se encontram nessas zonas. A superfície de florestas certificadas continua em crescimento, sendo estimada agora em cerca de milhões de hectares. De todo modo, isso representa apenas algo em torno de % da superfície flo-restal do mundo; e a maioria das florestas certificadas encontram-se situadas em um número limitado de países da zona tem pe ra da, e não nos países tropicais, onde predomina maior preocupa ção sobre as práticas não sustentáveis de extração de madeira.

Entre as novidades registradas nesse campo, deve-se mencionar a elaboração de novos sistemas nacionais de certificação, o reconheci-mento mútuo desses processos, a preferência pelos produtos de ma-deira com essa garantia por parte de grandes consórcios varejistas da Europa e dos Estados Unidos, além de vários grupos de compradores, e a certificação de alguns produtos não madeireiros.

(...) As indústrias florestais continuam adaptando-se às mudanças em relação à matéria-prima, isto é, ao aumento da oferta de madeira pro-cedente de plantações e de um conjunto mais variado de espécies. (...) A menor disponibilidade de matérias-primas procedentes das florestas está dando lugar ao aparecimento de sistemas inovadores que aumen-tam a oferta de madeira, e a uma utilização maior de resíduos e sobras.

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As recentes negociações sobre o Protocolo de Kioto, da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, têm destacado as flo-restas no contexto das mudanças do clima. As florestas influem nessa mudança e sofrem a sua influência. Desempenham um papel impor-tante no ciclo mundial do carbono, cuja gestão ou destruição poderia afetar significativamente o processo de aquecimento mundial durante o século XXI. Se as mudanças climáticas se efetivarem, os seus efeitos sobre as florestas poderiam ser de longo alcance e durar muito tempo. As florestas podem contribuir para reduzir as emissões e também reter e arma ze nar o carbono. Uma vez ratificado, o Protocolo de Kioto poderia in fluir profundamente no setor florestal, segundo o tipo de atividades flores tais aceitas, com o objetivo de mitigar a mudança climática e as nor mas que a ela se aplicarem.

Durante as duas últimas décadas, a conservação e a diversidade biológica têm sido um dos elementos constitutivos da política e da planificação florestais em todo o mundo, como um fator de primeira ordem no programa da comunidade internacional, e um componen-te importante na assistência para o desenvolvimento, assim como o centro de muitas atividades apoiadas pelas ONGs. Por muito tempo se considerou que as áreas protegidas constituíam o elemento básico

para a conservação da biodiversidade. Estima-se que % das florestas mundiais se encontram em áreas protegidas. Entre as novidades re-centes registradas na gestão dessas áreas figuram iniciativas dirigidas a integrar as necessidades em matéria de conservação e desenvol-vimento, atividades de conservação de caráter comunitário, maior atenção à gestão do ecossistema e o enfoque biorregional, no qual as áreas protegidas são consideradas no contexto geográfico e de maior amplitude no uso da terra (...).

O diálogo internacional e as iniciativas mundiais e regionais

Os países adotaram posturas de acentuado confronto nas questões florestais em curso na CNUMAD. Para ir além dos acordos adotados na Conferência do Rio, as deliberações intergovernamentais prossegui-ram, inicialmente no seio do Grupo Intergovernamental sobre Florestas (GIF) entre - e, a seguir, no âmbito do Fórum Inter go ver na men tal sobre Florestas (FIF), entre e . Em outubro de , os países concordaram em subscrever um acordo internacional sobre as flores-tas, que incluía o estabelecimento do Fórum das Nações Unidas sobre

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36 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 37

Florestas, cujo mandato consiste em promover a ordem sustentável, a conservação e o desenvolvimento de florestas de todo tipo, reforçar o compromisso político a longo prazo e promover a aplicação de pro-postas de ação decididas pelo GIF e o FIF.

Nos últimos anos foram produzidos novos avanços na aplicação das três convenções decididas na CNUMAD, ou seja, o Convênio sobre Diversidade Biológica, a Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática e a Convenção das Nações Unidas na Luta contra a Desertificação. Os vínculos entre elas foram fortalecidos, juntamente com o processo GIF/FIF e outras convenções e acordos anteriores (...).

Nos últimos anos, nota-se uma tendência recente de fortalecimen-to da cooperação regional. Além disso, cada vez mais, se reforça a coo pe ra ção em nível ecorregional e ainda se destacam iniciativas re-lacionadas aos países que têm uma cobertura vegetal reduzida e às flo-restas de montanha (em particular no marco do Ano Internacional das Montanhas, em ). Esta tendência se observa igualmente em nível técnico, como, por exemplo, a cooperação regional sobre incêndios.

Uma série de iniciativas regionais e mundiais apoiam os esforços realizados pelos países em prol do manejo florestal sustentável. A ela-boração de critérios e indicadores para o manejo contribuiu para uma

melhor definição deste conceito e para calcular os progressos realizados para alcançá-lo. Os programas de florestas-modelo e de demonstração do que se está aplicando na maioria das regiões do mundo têm contri-buído para ilustrar a prática do manejo florestal sustentável (...).

ConclusãoOs anos foram muito importantes no sentido da adoção em

escala mundial de uma visão compartilhada sobre o futuro das flo-restas e sua relação com a vida da população. Foram firmados acor-dos sobre a forma de avançar e transformar essa visão em realidade. Desenvolveram-se tecnologias e instrumentos que facilitam essa ta-refa, assim como foram esclarecidas questões relacionadas a custos e benefícios. Foram, por assim dizer, estabelecidas as bases. Porém, para que uma visão fundamentada no manejo sustentável se torne realidade, a con servação e desenvolvimento das florestas do mundo ainda dependerá de uma série de fatores, tais como a capacidade em financiar e distribuir de forma eqüitativa os custos e benefícios do manejo, a manutenção e o fortalecimento do compromisso político e a tradução desse compromisso numa ação eficaz.

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38 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 39

Avaliação da FAO sobre a situação das florestas: ocultando a verdade

Pablo Luis Caballero

Recentemente a FAO apresentou os resultados de sua Avaliação dos Recursos Florestais Globais – , que caracterizou como “o rela-tório de base mais abrangente, confiável e fidedigno em relação aos atuais recursos florestais”. Mas a pergunta mais importante é: ele serve para algo? A mensagem central da avaliação da FAO é que a situação melhorou em relação a estudos anteriores desse tipo em nível mundial. Indica que, no presente, o desmatamento está se dando “a uma taxa bruta significativamente inferior à registrada no informe an-terior da FAO, correspondente ao período -”, e acrescenta ser “possível que, desde a década de , o desmatamento bruto em ní-vel global tenha decrescido”. Desta maneira pareceria que — afinal! — a situação estaria melhorando. No entanto, ao analisar detidamente o estudo, é claro que a situação não melhorou em nada e que as con-clusões a que chega o relatório resultam de manipulação da infor ma-ção de distintas formas:. Mudança na definição de florestas.

. Falta de inclusão do corte comercial como desmatamento.. Inclusão das plantações de árvores como “florestas”, segundo a

clássica definição da FAO.. Inclusão de mais tipos de plantações como florestas — a exemplo

da borracha.

Intencionalmente ou não, a FAO está difundindo mensagens er-rô neas. Sugere que o desmatamento está diminuindo, quando os seus próprios dados indicam o contrário. Está dizendo aos governos que podem cortar todas as suas florestas, que apenas deverão ser consi-deradas como “áreas temporariamente sem árvores.”

O mundo necessita saber a verdade acerca do estado real das florestas! Não como um exercício acadêmico, senão como uma ferra-menta para adotar e implantar políticas públicas que assegurem a conservação de suas florestas em perigo. Infelizmente, a FAO perdeu a oportunidade de subministrar ao mundo essa ferramenta.

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A situação parece mesmo estar fora de controleClaudia Teixeira

O relatório da FAO, Forest Resource Assessment (FRA-) pare-ce querer propositadamente confundir mais do que esclarecer a real situação das florestas no mundo. E tudo indica que tão cedo não tere-mos dados confiáveis, tendo em vista o alto custo de se produzir um le-vantamento completo e bem documentado. Argumentando a escassez de recursos, a FAO utiliza métodos de amostragem e coleta de dados ofi ciais dos países, que variam muito em escalas, datas e qualidade da infor mação. Analisei esses dados da FAO logo que foram divulgados na inter net, em janeiro de . A conclusão é de que não se pode ter cer-teza das taxas de desmatamento, não só porque a FAO considera como florestas as grandes monoculturas arbóreas (eucaliptos, pinus, teca, aca-cia, hevea, etc.), como, principalmente, porque alterou o critério anterior de % de cobertura arbórea (dossel) para % nos países industriali-zados não tropicais, concluindo assim que os “ricos” estão preservando e aumentado suas florestas e os “pobres” estão destruindo as suas.

A FAO utilizou os novos critérios para reavaliar os dados de , podendo assim definir a variação de cobertura florestal no período

- segundo os mesmos critérios e fontes. O resultado apresen-tado indica que a queda da taxa mundial de desmatamento caiu de para bilhões ha/ano da década de para a de . Como os métodos foram diferentes em , torna-se impossível a comparação!

Para tentar identificar as taxas de desmatamento das florestas tro-picais, diminuí da área total de floresta de cada país o correspon dente às plantações arbóreas, apresentados pela FAO em tabelas se pa ra das. Os dados de plantações de eu extraí do FRA-. Em re la ção ao total de florestas existentes no mundo apresentado pela FAO para (, bilhões de hectares), as plantações correspondem a menos de %. Somente na Ásia as plantações têm maior peso, ocupando % do total.

Considerando somente os países tropicais (entre os trópicos de Câncer e Capricórnio) a taxa de desmatamento, incluindo as planta-ções, no período -, seria de milhões ha/ano. Excluindo as plantações, essa taxa sobe para milhões ha/ano.

Quando se analisam os dados por país, as divergências se tornam ainda mais fortes. O caso da Índia é o mais gritante: se consideradas as plantações (e a Índia tem a maior área de eucalipto do mundo), a taxa de desmatamento seria nenhuma; excluídas as plantações, a Ín-dia apareceria como o segundo país mais desmatado, com uma taxa

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de , milhões ha/ano. O primeiro país em taxa de desmatamento no período - foi o Brasil — com ou sem plantações (não houve grande crescimento de área plantada no período, segundo a FAO) — com a média de desmatamento de , milhões ha/ano. A Indonésia é o terceiro, depois da Índia, com , milhões ha/ano.

Apesar de o Brasil ser o “campeão” do desmatamento, a situação da Ásia é mais crítica. Mantidas as atuais taxas de desmatamento, a Índia e a Tailândia perderão completamente suas florestas naturais em menos de anos; a Malásia, em anos; e a Indonésia (terceiro país com a maior área de floresta tropical, depois do Brasil e da Repú-blica Democrática do Congo), em anos. E para exterminar total-mente com as maiores áreas de floresta tropical do mundo, bastariam pouco mais de dois séculos.

Se considerarmos que a tendência é de aumento da velocidade de desmatamento — na medida em que avançam as estradas e a ocupa-ção — e que a FAO provavelmente está subestimando as reais taxas de desmatamento no mundo, a situação parece mesmo estar fora de controle. Os últimos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espa-ciais (INPE) mostram que na Amazônia, onde ocorre a maior parte do desmatamento, a situação está cada vez pior.

Causas ocultas do desmatamento e degradação das florestas

World Rainforest Movement(Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais)

As florestas constituem um dos ecossistemas mais valiosos do mundo. Contêm mais de % da biodiversidade do planeta e, além do seu valor intrínseco, possuem outros múltiplos valores sociais e econômicos — desde as importantes funções ecológicas das flores-tas em termos de proteção do solo e bacias hidrográficas, até o valor econômico pecuniário e não pecuniário dos numerosos produtos que se podem extrair da floresta. Para muito indígenas e povos que dela dependem, a floresta constitui o seu sustento, abastecendo-os de plan-tas comestíveis e medicinais, de carne de animais silvestres, frutas, mel, refúgio, fogo e vários outros produtos, em torno do qual eri gem seus valores culturais e espirituais. Em escala mundial, as florestas de-sempenham um papel crucial na regularização do clima e cons tituem um dos principais sumidouros de carbono do planeta. Sua sobre vi vên-cia, portanto, impede o aumento do efeito estufa.

Florestas desapareceram em muitas partes do mundo, e os índices

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de desmatamento mundial chegaram a até quinze milhões de hectares por ano somente para as florestas tropicais, durante a década de oiten-ta. Na maior parte do mundo o desmatamento se acelerou na década de . Neste sentido, convém destacar que os índices de desmatamen-to tendem a ser obscurecidos em função da ambigüidade existente em torno da definição de floresta. A última definição da Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO), formalmente o órgão res-ponsável pelas florestas dentro do sistema das Nações Unidas, é tão ampla que de fato a maior parte das superfícies urbanas verdes podem ser consideradas grandes ecossistemas de florestas. E assim, poucas vezes se toma em conta a substituição de valiosos ecossistemas de flo-restas primitivas por plantações de monoculturas — em muitos casos de espécies arbóreas exóticas, como o eucalipto ou o pinho — ou por florestas biologicamente pobres. Grande parte da Europa, por exem-plo, perdeu a maioria de suas florestas primitivas durante o século XIX. Apesar disso, os últimos relatórios da FAO estabelecem com en-tusiasmo que existe aumento de florestas boreais e temperadas nessa região. Uma parte substancial dessa “floresta”, porém, conta com uma pro dução biologicamente pobre e carece de soto-bosque, de bio di ver-si dade edáfica original e da maioria das espécies originais de aves,

mamíferos e répteis. Na realidade, mais se assemelham a plantações de monoculturas do que a florestas verdadeiras.

Causas diretas do desmatamentoEntre as causas diretas mais importantes do desmatamento,

estão o corte, a transformação da floresta em agricultura e criação de gado, a urbanização e construção de infra-estrutura, a mineração e exploração de petróleo, a chuva ácida e os incêndios. Não obstante, existe tendência em se acusar os pequenos agricultores migrantes, ou a “pobreza”, como causa principal da perda de florestas. A tendência geral desses agricultores está mais para assentamentos ao longo dos caminhos que cruzam a floresta, limpeza de uma parcela de terra e seu uso para a plantação de culturas de subsistência ou comerciais. Nas florestas tropicais, tais práticas acabam por provocar uma rápida degradação do solo, em geral demasiado pobre para resistir a práticas agrícolas desse tipo. Por conseguinte, em poucos anos o agricultor vê-se forçado a devastar outra parcela da floresta. A terra agrícola de-gradada em geral é utilizada alguns anos mais para a criação de gado, o que equivale a sua sentença de morte, uma vez que o gado elimina os

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últimos rastros de fertilidade que poderiam permanecer. O resultado é uma parcela de terra totalmente degradada, que durante muitos anos não terá condições de recuperar sua biomassa original.

É um grande erro crer que tais práticas agrícolas insustentáveis só ocorrem nos países tropicais. Muitas partes da América do Norte e da Europa Ocidental foram desmatadas devido a esse tipo de agricul-tura, provocando uma severa degradação do solo, e em muitos casos o seu abandono pelos agricultores. Em outros países, as práticas flo-restais de corte raso têm sido a causa da perda florestal. No início dos anos , Canadá e Malásia foram exemplos famosos de países nos quais as companhias madeireiras cortaram sem piedade milha-res e milhares de preciosas florestas primitivas. Aqui tampouco se pode passar por cima da perspectiva histórica. Países como Irlanda e Escócia eram praticamente cobertos de florestas, porém, durante o império britânico foram quase totalmente cortados para abastecer de madeira as serrarias inglesas.

Atualmente, a exploração florestal ainda continua, e as áreas mais ameaçadas são as florestas do Escudo da Guiana, da África Central, da Sibéria Oriental e da Colúmbia Britânica.

Causas ocultas do desmatamento e degradação das florestasNo decorrer das últimas décadas, a crise florestal motivou o apa-

recimento de várias iniciativas internacionais, regionais e nacionais destinadas à preservação das florestas, ainda que muitas delas não te nham alcançado muito êxito. Em geral há consenso de que esse fra cas so se deve a que certas estratégias se concentraram em causas mais próximas do desmatamento e da degradação, desconhecendo suas cau sas subjacentes, que são múltiplas e estão interrelacionadas.

Em alguns casos são resultado de grandes fenômenos econômicos internacionais, tais como estratégias macroeconômicas que oferecem grandes incentivos para a obtenção de lucros a curto prazo, em lugar de buscar a sustentabilidade a longo prazo. Também são impor tantes as estruturas sociais profundamente arraigadas, que sus ten tam a de-sigualdade em relação à propriedade da terra, assim como dis cri mina-ção de povos indígenas, agricultores de subsistência e pobres em geral.

Em outros casos atuam fatores políticos como a falta de democra-cia participativa, influência de militares e exploração de zonas rurais por elites urbanas. O consumismo desmedido em países de ren das ele-vadas constitui outra das principais causas ocultas do desmatamento, enquanto em algumas regiões a industrialização não con tro lada se

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torna um fator chave para a degradação das florestas, afetadas pela chuva ácida provocada pela contaminação generalizada.

Devido a sua complexidade, é impossível mencionar, neste contex-to, a maioria das causas subjacentes mais importantes do desmata men-to. No entanto, podemos fornecer vários exemplos para de mons trar como estas causas podem parecer sumamente diversas à pri mei ra vis ta, e, contudo, estar estreitamente interrelacionadas.

Forças que atuam por detrás da agricultura insustentável

Segundo a FAO, % do desmatamento é provocado por práticas de agricultura insustentável, enquanto o corte e o plantio de árvores para exploração florestal desempenha o papel mais importante na degradação das florestas. Por mais controvertidas que sejam estas ci-fras, pode-se dizer que a agricultura insustentável é, sem dúvida, uma das principais causas diretas do desmatamento e da degradação das florestas em muitos países.

Um enfoque simplista do problema poderia levar a culpar a “igno-rân cia” dos agricultores envolvidos nesse processo, o que, sem dúvida,

é muito mais complexo. São poucos os que realmente decidem vo-luntariamente abandonar sua terra natal, penetrar numa floresta, devastá-la e convertê-la em terra agrícola. São levados a isso pelas forças nacionais e internacionais que atuam em função de interesses diferentes dos seus.

Em alguns países, as florestas servem de válvulas de escape para evitar levantes sociais. A concentração do poder e da terra em poucas mãos dão origem a uma grande massa de despossuídos que podem chegar a protagonizar situações de enfrentamento e de explosão so-cial, pelo que, para evitá-lo, se lhes oferece a possibilidade de acesso gratuito a parcelas de terra floresta adentro. E isto se torna possível através de projetos promovidos pelo governo, seja para desbastar e “desenvolver” as florestas, ou como resultado de atividades de com-panhias dedicadas à exploração florestal, mineração, energia, entre outras atividades econômicas. O desmatamento somente ocorre por-que há uma série de políticas estatais — sociais e econômicas — que indiretamente a promovem. São os pobres que fazem funcionar as serras e põem fogo na floresta; mas são, principalmente, o governo e as empresas que estão por detrás de tais ações.

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Conseqüências da globalização no longo prazoEm outros casos as florestas desaparecem para abrir caminho pa-

ra a agricultura moderna e à criação de gado em grande escala, com destino ao mercado de exportação. Florestas são cortadas para possi-bilitar a criação de gado na América Central, a produção de soja no Brasil e a fabricação de madeira para pasta na Indonésia. No primeiro caso, o processo teve origem no crescimento explosivo do mercado de comida rápida nos Estados Unidos, mercado este que exige grande quantidade de carne barata e de baixa qualidade, que pode ser produ-zida em países próximos à zona tropical. O resultado foi a devastação generalizada da América Central.

A produção subvencionada e de alta tecnologia na Europa exige um abastecimento sempre crescente de cereais para alimentar o gado. A soja é um dos principais insumos dessa produção, e no Brasil — assim como em outros países do Sul — enormes superfícies de flores-tas foram abatidas para assegurar a sustentabilidade econômica desse setor por meio do abastecimento de cereal barato.

Situação similar ocorre com o papel: o aumento constante do seu con sumo, particularmente nos países de alta renda, depende da dis-po ni bilidade de madeira, ou pasta de madeira barata, que alimentam

a indústria papeleira. É assim que se devastam as florestas da Indo né-sia — e de muitas outras partes do mundo — para dar lugar a planta-ções de eucalipto destinadas a abastecer esse mercado com crescentes quantidades de matéria-prima barata.

Políticas de posse de terra e as desigualdadesO exemplo do Equador pode ser extensivo não só à maioria dos

demais países amazônicos, como também a muitos outros do hemis-fério Sul em outras regiões distantes. No início da década de hou-ve um grande fluxo migratório de agricultores que penetraram na Amazônia equatoriana, uma das zonas de florestas mais apreciadas do mundo. A maioria desses agricultores provinham dos Andes e de regiões costeiras do país, escapando da falta de terra, do desemprego e da degradação da terra. A migração foi ativamente alentada por um programa do governo equatoriano que incluía a entrega de títulos pa-ra parcelas de a hectares para os imigrantes. Como os agriculto-res corriam o risco de perder o direito à terra se não a transformassem em terra agrícola ou outra terra “útil”, o desmatamento era mais ou menos obrigatório.

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Na maioria dos casos, bastava combinar uma situação desespe-radora na região de origem com fortes incentivos legais, econômicos ou de outro tipo para que as pessoas migrassem para as florestas. No Equador tais incentivos estiveram principalmente dirigidos pelo governo e incluíam tanto a falta de uma reforma agrária e um sistema de agricultura sustentável nos Andes e na região costeira (fatores de expulsão), como uma política deliberada para convencer as pessoas a trasladar-se para a floresta (fatores de captação) através de uma campanha de informação pública na qual se alentavam falsas expec-tativas e se prometiam títulos de propriedade sobre terras que, em geral, lesionam os direitos dos povos indígenas.

No Equador ficou claro que uma série de causas profundas desen-cadearam um processo migratório dentro da floresta, provocando um desmatamento generalizado na região amazônica. Entre as diversas causas, a política de migração promovida oficialmente foi provavel-mente a número um, que resultou num processo destrutivo no qual o desmatamento foi levado a cabo por um agricultor imigrante, mas cuja responsabilidade deveria recair sobre o governo.

Modelos de produção e consumoEntre as numerosas causas subjacentes ao desmatamento, uma

das menos compreendidas se refere à relação entre o desmatamento e os modelos de produção e consumo, tanto de produtos agrícolas, como em geral. É necessário destacar que pouquíssimas vezes a pro-du ção de alimentos para os pobres é causa do desmatamento, uma vez que as maiores superfícies de florestas convertidas para outros usos estão atualmente dedicadas à produção de cultivos comerciais e à criação de gado. Estes produtos, que vão desde o café e carne à coca e soja, em muitos casos são produzidos quase exclusivamente para os mercados exportadores dos países da Organização para a Coo pe ração e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). É absurdo defender a produ-ção desses bens — cujo destino é satisfazer os desmedidos modelos de consumo dos países do hemisfério Norte — com o argumento da segurança alimentar, como fazem alguns governos e instituições inter-nacionais, inclusive a própria FAO.

Os modelos de produção e consumo desempenham em geral um papel importante no desmatamento, já que constituem a resposta à pergunta: por que tantos, senão a maioria, dos países tendem a centra-lizar sua produção no abastecimento dos mercados de exportação? Na

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maioria dos casos há um estímulo para que a produção para a ex por-ta ção repare constantemente a balança comercial seriamente aba la da, e/ou para pagar dívidas em parte causadas por esse mesmo de se qui lí-brio da balança comercial. Segundo a atual ideologia do livre comér cio, o remédio padrão de instituições financeiras como o Fundo Mo ne tá rio Inter na cio nal é o aumento da exportação, em lugar da re du ção das impor tações. Enquanto isso, é a importação de bens suntuosos para a parte mais rica da sociedade, e a importação de armas, que tendem a ajustar a causa estrutural dos desequilíbrios da balança comercial e da balança de pagamentos, tanto dos países industrializados como dos de baixa renda. Uma das principais e mais profundas causas do des-matamento é o não reconhecimento desta relação entre os modelos de consumo e os problemas macroeconômicos por parte de grandes forças da economia mundial como as instituições de Bretton Woods.

Um problema mundial com muitos atoresO desmatamento e a degradação das florestas ocorre tanto nos paí-

ses do Norte como nos do Sul, e as causas subjacentes também se origi-nam de ambos, se bem que em graus diferentes de responsabilidade. Os

países industrializados não só reduziram ou degradaram suas pró prias florestas no passado, como muitos ainda o continuam fazendo no pre-sente, seja através do abate em grande escala (como em muitas zonas do Canadá, Estados Unidos e Austrália), ou pela simpli fi ca ção — e por-tanto a degradação — das florestas reduzidas a umas poucas espécies de valor comercial, a custo de sua biodiversidade (como ocorre na Sué-cia, França ou Finlândia). Ao mesmo tempo, os problemas resultantes do modelo de industrialização — tais como a chuva ácida — têm um forte impacto na degradação das florestas. Algo similar ocorre no Sul, onde algumas florestas estão sendo cortadas — em grande parte para a agricultura insustentável orientada para a exportação, para a plan-tação de monoculturas de árvores e palmeiras oleaginosas, ou ainda para o gado — ou estão sendo degradadas como resultado da atividade madeireira seletiva de espécies mais comerciais, como a caoba.

O papel dos militaresA importação de armas constitui um peso importante para a si-

tua ção socioeconômica, e portanto ecológica, em muitos países. Cada dólar gasto em armas é um dólar a menos destinado à educação, ao

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cuidado com a saúde, ao desenvolvimento de tecnologia sustentá-vel e ao desenvolvimento sustentável em geral —e um dólar que se soma ao lado negativo da balança de pagamento. Por outra parte, a exportação de armas constitui um grande negócio para muitos países, especialmente os do Norte. Naturalmente que a guerra e a violência representam, em si mesmos, um importante peso direto e indireto para as florestas. Em alguns casos, os militares têm interesses diretos nas concessões para a exploração florestal ou para a produção de cul-tivos comerciais, como a coca. A influência dos militares nas políticas governamentais de muitos países é mais profunda, porém está mais velada. Em muitos casos, há considerações estratégicas por detrás da colonização de zonas florestais.

Para os militares, o caráter inacessível das florestas constitui um “problema estratégico”. As trilhas constituem uma “vantagem estra-tégica”. Os povos indígenas e outros grupos isolados da sociedade constituem uma “ameaça estratégica”. A devastação de florestas e o estímulo à imigração de pessoas do centro do país para zonas iso-ladas servem a um “fim estratégico”. A exploração petroleira e a mine-ração dentro do país são “estrategicamente importantes”, mesmo que atraiam companhias estrangeiras em condições tais que os lucros

praticamente se vão do país. E, mais indiretamente, é em parte o con-tí nuo domínio das ideologias estratégicas da guerra fria a causa de algumas instituições macroeconômicas mundiais estarem tão im pie-do samente orientadas para o livre mercado.

A despeito destas relações óbvias, ou menos óbvias, parece haver um forte tabu sobre a influência dos militares no desmatamento e em outros problemas sociais e ecológicos. Não há cifras claras e pouco se pesquisou a esse respeito.

Olhando para o futuroA comunidade internacional — pelo menos dentro do marco do

Fórum Intergovernamental sobre Florestas, e da Comissão para o De-senvolvimento Sustentável — reconhece a necessidade de identificar as causas subjacentes do desmatamento, com o objetivo de encon-trar soluções e salvar as florestas do planeta que ainda permanecem em pé. As organizações não governamentais que participam deste Fórum ofereceram seus serviços para trabalhar em cooperação com go ver nos e organismos internacionais e levar a cabo um processo de iden ti fi ca ção das grandes causas subjacentes do desmatamento em

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todas as regiões do mundo — e elaborar soluções. Tal oferta foi aceita e o processo já começou.

Não obstante, é importante estarmos conscientes de que o des-ma tamento e a degradação das florestas não são apenas temas “téc-nicos”. As florestas não estão desaparecendo porque as pessoas e seus governos sejam ignorantes ou porque não existam planos de gestão adequados. As florestas estão desaparecendo porque uma série de po-líticas nacionais e internacionais interconectadas preparam o terreno para que isto aconteça. É neste nível, portanto, que se devem buscar as soluções. Ademais, mesmo que seja necessário identificar as cau-sas subjacentes e elaborar mudanças nessas políticas para conter o desmatamento, é crucial envolver a sociedade civil organizada para assegurar que tais mudanças realmente sejam aplicadas, de forma que tanto a humanidade no seu conjunto como as pessoas que vivem nas zonas florestais se beneficiem igualmente. Este é, obviamente, um desafio muito grande e difícil. Mas se trata sem dúvida de um esforço necessário e que vale a pena.

Sobre Sustentabilidade

A partir da divulgação do documento Princípios e Critérios para o Manejo Florestal na Mata Atlântica, do Forest Stewardship Council (FSC Florestal, Conselho para o Manejo), diversos participantes da Rede Florestas se manifestaram sobre a sustentabilidade florestal. Transcrevemos a seguir introdução do documento.

É amplamente aceito que os recursos florestais e as terras rela-cionadas com eles devam ser manejadas para suprir as neces-sidades sociais, econômicas, ecológicas, culturais e espirituais das gerações presentes e futuras. A crescente conscientização do pú blico sobre a destruição e degradação das florestas tem leva-do os consumidores a exigirem que suas compras de madeira e outros produtos florestais não contribuam para esta destruição, mas aju dem a assegurar os recursos florestais para o futuro. Em resposta a estas exigências, proliferam no mercado os programas de cer ti fi cação por terceiros e/ou de autocertificação.

O FSC é uma entidade internacional que credencia as orga ni-za ções certificadoras de modo a garantir a autenticidade de suas

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de cla rações. O processo de certificação começa por iniciativa vo lun- tá ria de proprietários de operações florestais e responsáveis pelo ma-nejo florestal. São eles que solicitam os serviços de uma organização certificadora. O objetivo do FSC é promover um manejo florestal das flo restas do mundo de forma ambientalmente adequada, socialmente benéfica e economicamente viável. Isto é feito através do estabeleci-mento de um padrão mundial de princí pios de manejo florestal am-pla men te reconhecido e respeitado.

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Vozes

As árvores são pilares primários e indispensáveis das correntes vitais do planeta: são como antenas, que captam a energia do Cosmos e a entregam à Terra. Toda nossa preocupação pela saúde da vida deve-ria começar estimulando o cultivo, cuidado, conhecimento, respeito e amor pelas árvores. O desmatamento, ou seja, a perda de árvores, re-presenta um dos erros mais graves que os homens cometeram em sua história. Nossos templos são as florestas antigas. Catedrais Florestais que evoluíram por milhares de anos e conseguiram uma harmônica convivência entre as árvores gigantes, as árvores menores, os arbus-tos, cipós, epífitas, samambaias, musgos e ervas que cobrem o chão da floresta. Os animaizinhos, as aves, sapos e lagartos, os insetos que polinizam as flores, e os microscópicos organismos que vivem no solo:

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todos resultam indispensáveis para que os ciclos da vida na floresta chilena e no planeta se desenvolvam harmoniosamente. Nada sobra e nada falta. As florestas prístinas são a perfeição e a máxima expressão de Deus sobre a Terra.

Malu Sierra, Chile

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Com respeito a este debate aberto, suspeitamos que nossa proposta já tenha sida colocada. Ainda assim não queremos deixar de registrá-la aqui: Exigir que não se corte nem mais uma árvore nativa. O que significa que a sustentabilidade da floresta não está em quantificar o corte, nem em pretender que uma floresta degradada se recupere com o corte de % de sua área básica, transformando as florestas virgens em florestas manejadas através da engenharia florestal. Para nós, com o desaparecimento de % na Argentina dessas massa florestal, a úni-ca alternativa é a criação de “um santuário internacional de florestas nativas ao sul do paralelo °, Gondwana.

Javier Rodríguez Pardo, Argentina

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Na minha opinião, até prova em contrário, este manejo sustentável não existe. Se continuar assim a exploração deve ser interrompida. Essa me parece a conclusão de todo este debate. E ela só deveria ser alterada no dia em que aparecessem dados demonstrando que ela está errada. Hoje se faz ao contrário. Vai-se explorando para ver como fica depois. Qual das duas atitudes é a correta? A primeira garantiria a preservação das poucas florestas nativas que restam. A segunda, ainda que feita com intenções de manejo sustentável, não pode garantir essa sobrevivência. O problema político de como conseguir essa interrupção são outros quinhentos. Pode até ser impossível na prática, mas propor outra coisa fere a minha consciência.

João Madeira, Brasil

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Manejo florestal ainda é uma atividade irresponsável. Se não se conhe-ce a resposta de cada intervenção, não existe manejo sustentável. É um manejo de fato insustentável. Não temos ainda manejo florestal, o que praticamos é uma exploração irresponsável das formas de vida das flo-restas. Basta verificar que o controle inexiste. As licenças de exploração são expedidas por meio de análises tremendamente superficiais, sem

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uma visão ecossistêmica da floresta. Autoriza-se com base, apenas, em volume de madeira que se acredita ser o razoável para permitir a re-posição automática, sem qualquer acompanhamento do que acontece depois. Certificação de quê, se não dispomos dos mínimos conhecimen-tos? Quero parabenizar o questionamento sobre certificação. Acredito no manejo florestal, mas isso não é nada semelhante com o que se pratica atualmente.

Paulo Cezar Mendes Ramos, Brasil

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A interrupção do comércio de produtos florestais extraídos das flores-tas primitivas atende a necessidade de interromper a destruição das florestas primitivas e, ao mesmo tempo, estabelecer a paz com os que dependem da floresta para sobreviver. As florestas primitivas devem ser reconhecidas como “sagradas”, por abrigarem mistérios da susten-tabilidade da vida no planeta, que nunca iremos compreender, pois somos apenas parte deste mistério. Não acredito que a implantação de sistemas sustentáveis de manejo seja uma boa estratégia para in-terromper a destruição das florestas do mundo, uma vez que a própria idéia de manejo florestal visa conferir sustentabilidade na exploração

florestal, e na verdade o conceito foi utilizado para se prosseguir no corte de florestas primitivas.

André Vieira, Brasil

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Me parece, inclusive, um pouco prematura a definição de certas posi-ções sem que se tenha discutido melhor as suas implicações. Por exem-plo, a proposta de André Vieira, de “preconizar uma moratória florestal e ser contra sistemas de manejo sustentável...” acho que é complicada. Não é o mau uso de certos instrumentos que os torna desqualificados. E vale lembrar que a presença humana nas florestas e o uso dos “bens” florestais são históricos e fica difícil dizer o que é uma “ floresta pri-mitiva” (especialmente se quisermos entender esse conceito como algo isento da ação humana), pois o problema está nos modos de utilização e apropriação desses “bens”.

Claudia Teixeira, Brasil

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Uma das nossas propostas é a criação de um santuário intercontinental de florestas nativas ao sul do paralelo o — Gondwana. Esta proposta,

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respaldada por um número crescente de ONGs no mundo todo, implica na criação de um status de proteção definitiva para as florestas nativas mais austrais do planeta, e guarda relação direta com o Santuário In-ternacional das Baleias, criado há poucos anos em todos os mares que se encontram ao sul do paralelo o. O objetivo desta área natural pro-tegida internacionalmente é preservar a enorme riqueza biológica que ainda existe nestes frágeis ecossistemas do hemisfério Sul, permitindo sua perpetuação para as futuras gerações, apesar da super ex plo ra ção irracional à qual foram submetidas durante o último século.

Alejandro Nebbia, Argentina

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O Cinturão Mundial de Diversidade Cultural e Biológica do Paralelo Zero — Santuário Equatorial tem por objetivo central a proteção da ri-queza cultural e biológica da zona tropical da Terra. Para isto, o grupo de ONGs do Equador determinou a faixa entre os paralelos Norte e Sul como foco da campanha. A estratégia de ação já tem alguns de seus primeiros passos definidos: uma convocação ampliada a outras ONGs do Equador, para a apresentação do documento-base da proposta. Em seguida pretendemos divulgá-lo e difundi-lo para organizações e gover-

nos dos países do Paralelo Zero na América, África e Ásia. A terceira eta-pa será a organização de um encontro mundial, em Quito, no solstício de , quando o movimento deverá ganhar visibilidade internacional. Outras atividades estão sendo planejadas, como um concurso para a criação de uma logomarca, a participação do setor estudantil do Equa-dor e o estímulo à pesquisa sobre a importância ambiental e cultural que os países tropicais representam para o equilíbrio mundial.

Luis Felipe Cesar, Brasil

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Estamos altamente motivados com a idéia de declarar o Santuário Inter-con ti nental de Florestas no Paralelo Zero. Um grupo de trabalho está se for-man do no momento. Cremos que a idéia de lançar a declaração de um san-tuá rio de florestas no Equador terá o apoio institucional das diversas or-ganizações ambientalistas e a boa vontade da comunidade internacional.

Carolina Mancheno, Equador

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As florestas, como qualquer outro bem natural entendido como recurso, devem ser utilizadas de acordo com o consenso político da comunidade

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próxima e não depender de políticas nacionais ou de legisladores que não sabem nem onde estão as árvores. Em outras palavras, os processos de decisão e desenvolvimento local devem incluir a participação social da comunidade.

Alejandro Nebbia, Argentina

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Devemos considerar que a humanidade é só uma parte pequena da natureza e que a preservação do valor é superior à do futuro da huma-nidade. Desenvolvimento sustentável deve significar a busca da felici-dade da humanidade de forma respeitosa à natureza e preocupação com as gerações futuras.

Bruno Cinotti, França

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Sustentável é o que leva nossas florestas em direção às florestas primi-tivas, aumentando os estoques de carbono e a área de expansão dos processos biológicos e da biodiversidade.

André Vieira, Brasil

O uso de praguicidas destrói uma grande parte da fauna e flora asso-ciada com a floresta. Estes produtos, usados pela agricultura, causam efeitos nocivos prolongados, alimentando sistemas de produção que são crescentemente intensivos e frágeis. A madeira foi usada ao longo da história, mas foi substituída por materiais mais modernos. Restabelecer seu uso para edifícios públicos estimularia a indústria de madeira e promoveria o uso de um recurso ecológico. Parques naturais expressam uma visão de territórios fechados. O desenvolvimento sustentável requer ampliar concepções e impactos positivos em territórios circunvizinhos.

Olivier Rank, França

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Sob aspectos ditos técnicos e mesmo ambientais, acredito, com base na minha experiência profissional e em estudos feitos em diversos tipos de ecossistemas florestais em todo o mundo, que é possível pro-duzir madeira de modo compatível com a manutenção dos processos essenciais dos ecossistemas florestais, incluindo a manutenção de sua estrutura básica, ao longo de grandes períodos de tempo. Já temos um conhecimento teórico e empírico razoável que permitiria a exploração florestal em áreas de alto potencial madeireiro, e de baixa prioridade

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em termos de preservação, utilizando cortes seletivos, sob rotações de média e longa duração, com cuidados extras nas atividades de corte e extração, visando reduzir o impacto na vegetação remanescente, que inclui indivíduos mais jovens das espécies exploradas. Poderíamos ainda desenvolver métodos que combinem algum nível de exploração com a recuperação de áreas degradadas, ou em florestas secundárias ( já exploradas, ou resultado de abandono de terras agrícolas), com o objetivo a longo prazo de recuperar, pelo menos parcialmente, as ca-racterísticas estruturais e dinâmicas da floresta.

Cláudio Bohrer, Brasil

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Devemos estar atentos quanto ao uso das florestas. Vários aspectos devem ser avaliados ou ser criada uma comissão de avaliação. Em de-terminados locais o uso da floresta é válido na reprodução de essências farmacêuticas e alimentos para uso de uma determinada comunidade local. Porém a relação floresta/homem é bastante delicada, sendo ne-cessário o controle desse uso, fato complexo em todos os aspectos. Os sistemas de Unidades de Conservação têm direcionado e de certa for-ma têm dado cobertura quanto ao uso sustentável ou somente pesquisa,

etc. O uso da floresta necessita de acompanhamento das pessoas que conhecem e estudaram o sistema como um todo.

Ciro Croce, Brasil

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O papel das florestas está mudando rapidamente devido à pressão de um mundo crescentemente urbanizado. A princípio vistas como berços da vida, elas são agora lugares para refrescar a mente e corpo. Como pode ser dado a esse papel a sua dimensão correta? Os objeti-vos das florestas não podem ser definidos sem a participação da po pu-lação local. Estes cidadãos são os mais capazes de expressar as suas necessidades.

Olivier Rank, França

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Os principais atores para resolver a atual crise são os povos das flores-tas e as comunidades que delas dependem para sua sobrevivência, os quais têm um conhecimento crucial para conservar e utilizar a floresta de forma sustentável. Os governos, organizações internacionais e ONGs devem trabalhar junto com esses povos, apoiando seus esforços e crian-

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do o entorno socioeconômico e político adequado para que possam continuar desenvolvendo seus estilos de vida, determinados por eles mesmos, e portanto assegurando a proteção das florestas.

Documento das ONGs e OPIs

presentes no Fórum de Florestas da ONU

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Eu nasci numa província verde, Esmeraldas, e é meu desejo devolver aquilo que está sendo usurpado... Eu quero ver a minha gente crescer sabendo que são ricos pelo que têm — sua riqueza natural; e pelo que são — gente alegre.

Carolina Mancheno, Equador

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Dentro da realidade da Amazônia o fator humano deve estar no cerne do ideal de auto-sustentabilidade. Existe uma necessidade urgente de suprir a carência destas populações que sobrevivem abandonadas na floresta, após a derrocada do ciclo da borracha. A chave para tudo isso está em achar este novo modelo, injetar vida a essas novas células de auto-suficiência e regeneração do organismo combalido de Gaia, depois

de tantos séculos de devastação. Caso contrário, não sobrará quase nada para se discutir. Portanto, mãos à obra.

Alex Polari, Brasil

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Cremos que uma rota segura para penetrar nos valores superiores do ser humano é através da beleza: apresentar a natureza às pessoas com toda sua beleza. Como se faz isso? Partindo de si mesmo, contemplando a beleza e deixando-se levar por sua dinâmica. Ela comove e não falo da beleza estética, mas daquela que permite ver a criação tal qual é, de verdade. Compartilho isso porque o técnico é algo que está à mão; mas no fundo, são poucos os que ascendem. Creio que neste milênio os projetos que terão êxito devem ter uma cota de inspiração e serão simples. Muitas vezes a técnica ou os técnicos complexificam as coisas para marcar um território de poder, mas os projetos devem ser simples para serem participativos. As pessoas se iluminam quando compreen-dem e se completa em cada uma a coerência interior; daí surge uma sensação que se traduz em “agora compreendo!”

Carlos Fuenzalida, Chile

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A questão não é chegarmos a um desenvolvimento sustentado, mas a uma sociedade sustentada. Precisamos construir um novo paradigma que garanta o futuro da Terra. É imperativa uma re-educação da hu-manidade. Sem ela, nenhuma das propostas apresentadas se sustenta. E se tivéssemos que escolher... E se, para que o planeta sobreviva, tivés-semos que nos deixar morrer? E então?

Isabel de Andrade Pinto, Brasil

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Considerar como ativo ecológico aquilo que hoje é considerado um pas-sivo financeiro. Esta é a questão que pode sensibilizar o coração e os bolsos das grandes potências e levá-las a um diálogo com os países que são ricos ainda neste aspecto.

Alex Polari, Brasil

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Falar de sustentabilidade não significa ter a boa intenção de manter as florestas primitivas sem mudar o nosso pensamento, comportamento e valores. Também fico preocupada quando falamos em manter os es-toques de carbono, mas continuamos andando de carro, sem a busca

urgente de outras formas de energia. Como diz um ditado mexicano: Entre el dicho y el hecho hay un gran trecho.

Rosângela Azevedo Corrêa, Brasil

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A madeira é só uma mínima parte da floresta. Os valores da floresta não podem ser adequadamente expressados em termos monetários. Por esse motivo, os métodos de valoração devem levar em consideração os bene-fícios culturais, espirituais e sociais das florestas e o resultado dessa va-loração holística deve formar a base para a tomada de decisões políticas a esse respeito. No entanto, qualquer esforço dirigido à conservação das florestas e seu uso sustentável pode ser anulado pelas atuais tendências globalizadoras, uma vez que o comércio se converteu em uma das prin-cipais ameaças a este esforço. Os impactos potenciais do comércio sobre a integridade das florestas e direitos dos povos das florestas devem ser ur gentemente identificados e devidamente abordados. Para colocar em prática várias das soluções da atual crise das florestas é crucial destinar suficientes recursos financeiros. É imprescindível a colaboração entre o Norte e o Sul para se conseguir que estes recursos estejam disponíveis.

Documento das ONGs e OPIs

presentes no Fórum de Florestas da ONU

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Transversalidade

Florestas e comércio justoBernardo Reyes, Chile

Os ecossistemas regionais não têm um limite físico exato, mas di-fu so, e cada um deles está permanentemente influenciando e sendo influen ciado por outros. Como parte da biosfera, os ecossistemas de floresta cumprem uma única e insubstituível função. As alterações que sofrem, a redução de sua extensão, a erosão genética resultante do corte raso, da introdução de variedades comerciais e cultivos de transgênicos, entre outros, afetam seriamente a sua capacidade e o seu papel na ecosfera. Como conseqüência, haverá menos retenção de carbono e menos biodiversidade para gerar a informação necessária à recuperação de áreas degradadas ou para a recolonização ecológica de terras afetadas por incêndios e outros fenômenos naturais.

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A floresta, como um reservatório de biodiversidade, como “área pára-choque” protege os ecossistemas das intervenções humanas e ameniza a variação climática do planeta, não podendo ser substituída por massa verde, de cultivos ordenados, seja para fins agropecuários, ou plantações de árvores. Sua função ecossistêmica está profunda-mente ligada ao “serviço ambiental” que ela provê e à capacidade para contribuir com recursos naturais para os sistemas produtivos que abriga, como os coletores de borracha — seringueiros — ou de cas-tanha do Pará, ou ainda às economias de subsistência das populações nativas e de recentes colonos. Especialmente como “lugar de vida”, a floresta é um espaço que dá à humanidade informação, produtos, serviços ambientais e inspiração.

São exatamente estas economias, de pequena escala, de usuários novos e colonos aprendendo o processo e adaptação a estes ecossis-temas, sem radicalmente os transformar, aquelas que nos articulam com o comércio justo. Também as economias das tribos das florestas, muitos delas ainda autônomas e fechadas, mas especialmente as que são articuladas com a produção de cacau, café, mandioca, frutas, er-vas medicinais, resinas de árvores e plantas, fibras vegetais, etc., aque-las que dão relevância das florestas para o comércio justo.

Um exemplo para entender como o comércio justo se articula na floresta são as economias de pequena escala, sem depredação do ter-ri tório, contra a opção das megaintervenções do mercado. Produtos medicinais freqüentes na área de floresta amazônica são usados na me dicina tradicional há séculos, continuando acessíveis a preços ra-zoáveis, com múltiplos mecanismos de transporte e abastecimento que caracterizam a economia popular. Sua comercialização ainda não foi monopolizada pelos grandes laboratórios farmacêuticos.

Por outro lado, o efeito líquido da ação dos grandes laboratórios causa a depredação de áreas de floresta acessíveis para as redes de comércio. Quer dizer, enquanto a comercialização de grande escala não impõe uma demanda pesada em sistemas cuja fragilidade e capacidade de regeneração são lentas e não reconhecidas como res-tritivas para os mercados, não há um efeito pernicioso. No entanto, a demanda excessiva e a reação de sistemas não articulados — nem aos sistemas produtivos, nem à restrição ecológica — impõe deterioração e até extinção eventual das mesmas fontes de bem-estar ou saúde.

Deste modo, o comércio justo, no que se refere a essas áreas, deve-ria ter particular cuidado em investigar os efeitos atuais e potenciais da criação de redes de comercialização de produtos da floresta, com

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o propósito de não aumentar sua degradação e, especialmente, de fortalecer as economias locais, tirando proveito somente dos excessos de produtos que esses ecossistemas e as comunidades locais podem gerar, a partir de suas próprias habilidades tecnológicas e de acordo com a capacidade desses ecossistemas.

Florestas e dívida externaMarcus Azaziel, Brasil

É necessário reorganizarmos toda a economia por princípios hu-ma nistas ecológicos. Neste sentido, a eqüidade entre países deve ocor-rer por meio de projetos de cooperação nos quais as dívidas externas, especialmente dos países em desenvolvimento, sejam recontabiliza-das por seu caráter injusto e ilegal, conforme os direitos nacionais e o direito internacional. Não deverá ser aceita qualquer proposta de troca de dívidas monetárias por certificados de direitos de poluição para países credores. A economia monetária deve estar a serviço da ecologia e não o contrário, senão seremos nós que perderemos.

Todos os tipos de custos ambientais devem ser internalizados nas

contas internacionais e cláusulas sobre avaliação de impactos am-bientais e segurança ecológica devem constar nos contratos de finan-ciamento ao desenvolvimento social. O que atualmente é considera do passivo financeiro poderá passar a ser ativo ecológico se o país em ques tão preservar a vida em suas reservas naturais de valor (florestas, neste caso, mas também pessoas por meio de políticas governamen-tais cooperativas de desenvolvimento social, especialmente em saúde e educação), com geração de empregos e conservação dos recursos naturais (atmosfera, oceanos, florestas e seres vivos em geral).

Florestas e energiaMycle Scheider, França

A relação direta imediata entre floresta e energia é o uso combus-tível da madeira. A madeira continua sendo uma fonte muito subs-tancial para cozinha e aquecimento em muitas regiões do mundo. A crise da agricultura em muitos países da África levou os pequenos fazendeiros a abandonarem suas terras, o que contribuiu para o rápi-do crescimento das cidades. O combustível é freqüentemente trazido

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para a cidade na forma de carvão, um uso muito ineficiente da madei-ra, que tem que ser transportado por longas distâncias, o que consome ainda mais energia.

Mesmo num país como a França, a madeira é uma fonte substan-cial de energia, pois muitas casas (provavelmente uns %) ainda têm fogões à lenha e usam a madeira como fonte secundária de aqueci-mento. Em termos mais gerais, a madeira vem sendo usada de várias for mas como outra biomassa. O aquecimento urbano e as usinas ter moelé tricas, por exemplo, funcionam a custa da exploração das florestas ou sobras de madeira. A Áustria tem uma parte significativa de usinas de biomassa.

Finalmente, a madeira é uma importante fonte de energia no con-texto do debate sobre mudanças climáticas, tendo em vista o ciclo do carbono, liberado na atmosfera através da combustão, e absorvido e armazenado pelas florestas.

Florestas, mulheres e economia: uma boa pergunta!

Cécile Sabourin, Canadá

Posso dizer que durante a oficina de trabalho Mulheres e Economia o tema da relação com a floresta ainda não foi discutido. As mulheres estão ocupadas e preocupadas com outras coisas.

Isto não significa que a floresta não seja parte de suas vidas, mas apenas que o tema esteve ausente nos debates. Por outro lado, falamos da produção, e da sua “valorização” através do PIB. Que melhor exem-plo das aberrações nas metodologias de cálculo da contabilidade na-cional, do que essa imagem de árvores mortas traduzidas em dó la res, considerando que uma bela floresta nada vale? As riquezas na turais não são tomadas em conta, a menos que sejam destruídas e uti li za das com êxito. Neste sentido, valeria a pena desenvolver o hábito de “dar valor” (mise en valeur) com preocupação pelo “capital inicial”, caso em que uma bela floresta geraria saúde e bem-estar coletivo.

Nos dias atuais a floresta que alguém luta para conservar é um objeto de debate político em que interesses e pontos de vista de dife-rentes grupos se expressam de formas bastante desiguais. A floresta

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de Quebec é mais que tudo um recurso natural explorado, mal ex-plorado — a não mais poder, segundo os mais conscientes. A história dessa exploração é conhecida, mas não suficientemente internalizada para que dela se tirem algumas lições.

Quando se pensa nessa exploração em relação às mulheres, o que logo me vem à mente é que, no princípio do século, e provavel mente no século passado, as mulheres eram “viúvas” em função da ex plo ra ção florestal. Quando os homens partiam para cortar as florestas mais dis-tantes, as mulheres ficavam com as crianças, fre qüen temente ocupa-das com os afazeres das fazendas, responsáveis por toda a vida diária durante os longos meses do inverno. Essa geração de mulheres fortes mantinha a vida nas regiões onde se explo ravam as florestas. Sua força, coragem — e sua solidão — têm sido contadas e cantadas por nossos artistas. Esse trabalho, porém, não tinha nenhum “valor econômico.”

Para mim, diariamente, desde há cerca de vinte anos, a floresta está presente na hora de dormir de um modo tão evidente e imedia-to que, às vezes, nem mais tomo consciência dela. Está integrada à minha vida. Mas há momentos durante o dia em que a floresta reto-ma toda a sua importância: nas jornadas entre a casa e o espaço de trabalho. Os quilômetros que dirijo no meio de um ambiente rural,

onde os campos se alternam com a floresta, são momentos que sinto muito conscientemente como essenciais ao meu bem-estar. Eles for-mam uma tela entre o mundo exterior e a intimidade. Um trajeto de metrô ou dirigir na cidade poderia produzir o mesmo efeito? Quem sabe? Os parques seriam, provavelmente, desse ponto de vista, essen-ciais à vida urbana.

Florestas, mulheres e economiaManon Boulianne

Em resposta à questão sobre a relação entre mulheres, a econo-mia e as florestas, o que imediatamente me vem à mente se refere ao tempo e aos trajetos percorridos diariamente pelas mulheres do meio rural, em vários países do sul, para a obtenção de madeira necessária para o preparo das refeições, pelas quais são responsáveis. Quanto mais as florestas se distanciam e mais pioram os desmatamentos, maior e mais pesada se torna a tarefa. O trabalho de coleta de di-ferentes produtos da floresta, comida, frutas ou plantas medicinais também é produzido pelas mulheres desde tempos imemoriais.

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Florestas do Mundo 89

Propostas

Interromper o corte de florestas primitivas

. Declarar a floresta primitiva sagrada e não autorizável para qual-quer tipo de exploração.

. Criar um santuário intercontinental de florestas nativas ao sul do paralelo o.

. Criar um cinturão mundial de diversidade cultural e biológica no paralelo zero — Santuário Equatorial, incluindo territórios de países da América Latina, África e Oceania.

. Preconizar uma moratória florestal, só admitindo o comércio de produtos florestais oriundos do manejo em áreas de vegetação se-cundária.

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O que é secundário pode ser passível de manejo sustentável

. Implementar uma política de uso dos bens florestais baseada na pla- nificação territorial, que incremente a interconexão de áreas naturais.

. Respeitar as espécies nativas dentro dos sistemas florestais sem alte-rar sua composição, eliminando a produção florestal com espécies exóticas de rápido crescimento, que atentam contra a biodiversida-de e promovem o uso de inseticidas e praguicidas.

. Implementar políticas de reflorestamento progressivo em áreas agrí-colas que se encontram em processo de empobrecimento.

. Proibir o uso de praguicidas em florestas.. Aprofundar o conhecimento científico e resgatar o conhecimento

dos povos tradicionais das florestas sobre seu uso sustentável. . Promover o uso de madeira ecocertificada para edifícios públicos.

Estabelecer um acordo com as autoridades públicas no sentido de requerer que % das construções que financiam, direta ou indire-tamente, sejam feitas de madeiras ecocertificada.

. Cercar as unidades de conservação por áreas concêntricas cres-centes, para garantir o desenvolvimento de atividades humanas sustentáveis no entorno das áreas protegidas.

. Estabelecer florestas gerenciadas de forma participativa, para aten-dimento de necessidades locais, em cada conjunto de cidades que tenham uma população maior que mil habitantes.

. Estabelecer proteções claras para habitats e ecossistemas florestais.

Promover a cultura florestal

. Criar espaços de capacitação formal e informal para toda a comu-nidade, onde possam ser capacitados políticos, engenheiros, técni-cos, profissionais, docentes, estudantes, produtores rurais, a fim de revalorizar a relação que existe entre a sociedade e a natureza com o objetivo de que aprendamos entre todos a conviver na floresta.

. Promover e articular uma rede internacional de florestas urbanas protegidas.

. Ampliar, através de campanhas junto à opinião pública, o reconhe-cimento da importância das florestas.

. Desenvolver atividades que reaproximem o cidadão urbano das florestas.

. Criar condições para a gestão participativa de todo tipo de floresta, sejam elas urbanas, primitivas, secundárias, etc.

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. Aumentar a presença de agentes de conservação para as áreas pro-tegidas, de forma que eles possam educar a população a respeitar e querer a natureza que a rodeia.

. Melhorar as estratégias e as coalizões das “forças sustentabilistas” existentes dentro e fora da Amazônia e demais florestas primitivas, e desenvolver práticas de lobby a favor da conservação da floresta.

. Produzir vídeos e espetáculos temáticos como canais pelos quais se possa transmitir o sentimento de pertencer à floresta.

. Inserir o tópico História das Florestas nos currículos escolares.. Promover arte na floresta por meio da utilização de espaços flores-

tais para a realização de peças de teatro, pintura, dança, música e demais mostras artísticas.

. Criar um portal na internet dedicado ao tema florestal, integrado ao website da Aliança.

. Dar continuidade ao processo de discussão sobre o tema florestal, por meio da contínua atualização e aprimoramento do Caderno de Propostas, estabelecendo um fórum eletrônico permanente.

. Promover a renovação da classe política através da campanha pelo voto responsável.

Por um novo paradigma econômico

. Avançar no rumo da eqüidade quanto à divisão dos benefícios eco-nô micos, valorizando os trabalhadores de toda atividade florestal, e garantindo um maior equilíbrio na distribuição das riquezas, para alcançar uma silvicultura sustentável.

. As florestas não devem ser instrumentalizadas como sumidouros de carbono ao excesso de contaminação que os países desenvolvi-dos têm provocado.

. Discutir em igualdade, para resolver conjuntamente os problemas dos países desenvolvidos do Norte e do Sul, aceitando-se a dívida ambiental e moral que os primeiros têm com os segundos.

. Não usar as florestas como moeda de troca de políticas de meca-nismos de desenvolvimento limpo.

. Reorganizar toda a economia por princípios humanistas e ecoló-gicos.

. Recontabilizar as dívidas externas, especialmente dos países em desenvolvimento, por seu caráter injusto e ilegal.

. Não aceitar qualquer proposta de troca de dívidas monetárias por certificados de direitos de poluição para países credores.

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. Internalizar os custos ambientais nas contas internacionais.. Considerar ativo ecológico o que hoje é considerado passivo finan-

ceiro.. Criar uma reserva de valor ecológico que sirva como um novo pa-

drão econômico monetário mundial, por exemplo o Padrão Cristal Líquido.

. Arrecadar um imposto, tal como a Taxa Tobim, em emissões de carbono fora de fronteiras nacionais.

. Criar um selo de participação de produtos florestais nos diversos produtos de consumo, para que os consumidores saibam a origem florestal do plástico, da gasolina, dos móveis, carvão e outros bens de consumo.

. Rejeitar o uso dos nossos países e de nossos solos, como sumidou-ros de carbono.

. Chile e Argentina devem compartilhar a mesma mesa de decisões sobre os mecanismos de desenvolvimento limpo.

. Proibir a entrada de empresas multinacionais com projetos de pro-du ção que destroem nossos bens naturais.

. Melhorar a lei de acesso a recursos genéticos.. Incentivar a agrossivicultura extrativista.

Política Florestal do Banco Mundial

Recomendações do Movimento Mundial pelas Florestas, destacadas do documento intitulado Uma Estratégia Florestal Revisada para o Grupo do Banco Mundial (rascunho, julho de 2000)

. Reconhecer e ajudar a assegurar os direitos legais e consuetudiná-rios dos povos indígenas e de outras comunidades locais. Manter a proscrição do Banco Mundial ao financiamento do corte em flo-restas primitivas tropicais úmidas. Torná-la extensiva a todo tipo de florestas primitivas em não dar apoio a projetos e programas que possam provocar danos a essas florestas.

. Não financiar projetos ou programas que contrariem acordos e tra tados internacionais sobre direitos humanos e meio ambiente. Esta belecer proteções claras para os habitats e ecossistemas flores-tais. Garantir a tomada de decisões num contexto inclusivo, efetivo, transparente e participativo.

. Estabelecer mecanismos de participação efetiva para as comunida-des locais e outros grupos principais em programas nacionais sobre florestas, planos de ação sobre a biodiversidade e outros pro je tos

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96 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 97

relacionados e apoiados pelo Banco Mundial, como o PROFOR. In-cluir regras operacionais claras e obrigatórias a serem seguidas por parte do pessoal da burocracia interna, com o fim de assegurar que os empréstimos nos setores não-florestais não sejam prejudiciais às florestas e àqueles que nelas habitam.

. Explicitar os requisitos mínimos que os prestadores e os entes exe-cutores devem cumprir antes da aprovação de empréstimos que afetam as florestas e as comunidades que delas dependem.

. Reconhecer a controvérsia relacionada com o conceito e a prática do estabelecimento de plantação de árvores como bloqueadoras do carbono.

. Adotar um enfoque de precaução com respeito ao plantio de árvores blo quea doras do carbono e não financiar tais projetos frente à ine xis-tên cia de salvaguardas e acordos sociais e ambientais internacionais.

. Explicar conceitos e procedimentos-chave, como, por exemplo, o zoneamento de habitats críticos e outras áreas florestais de valor social e de conservação.

A ONU e as florestas 10 propostas de ação prioritária

Documento das ONGs e OPIs distribuído no Fórum de Florestas da ONU, junho de 2001

Depois de vários anos de trabalho, o Painel Intergovernamental sobre Florestas (PIF) adotou, em , uma série de propostas de ação para resolver a crise das florestas. As propostas ainda estão pre sentes, mas é óbvio que falta a ação. Um novo organismo — o Fó rum Intergo-vernamental sobre Florestas — foi criado a seguir com o objetivo de pôr em prática tais propostas, porém seu trabalho começou e termi-nou com poucos resultados. O trabalho continua agora, no Fórum sobre Florestas da ONU, mas não parece que muito tenha mudado des de então. Nesse contexto representantes de ONGs e de Orga niza-ções de Povos Indígenas (OPI) presentes na primeira reunião do novo or ga nis mo, em junho de , insistiram na necessidade de pôr em prá ti ca os compromissos existentes e prepararam uma lista de dez pro pos tas de ação do PIF que poderiam ser as mais ade qua das para co me çar a re sol ver a questão da crise das florestas.

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. Os países, no exercício de sua soberania nacional, de acordo com a si tua ção específica de cada um deles e com a legislação nacional exis tente, devem proceder a elaboração, execução, vigilância e ava-liação de programas florestais nacionais — o que compreenderia uma ampla variedade de critérios para o planejamento da floresta sus tentável — levando em consideração os seguintes elementos:

- compatibilidade com as políticas e estratégias locais, nacionais e subnacionais e, quando procedente, com acordos internacionais;

- mecanismos de associação e de participação nos quais possam intervir os interessados;

- reconhecimento e respeito dos direitos consuetudinários e tra-dicionais de determinados grupos, entre eles as populações in-dí genas e as comunidades locais;

- um regime de seguro de posse da terra;- critérios integrados, intersetoriais e interativos;- métodos de proteção dos ecossistemas que integrem a conser-

vação da diversidade biológica e o aproveitamento sustentável dos recursos biológicos, abastecimento e valorização adequados dos bens e serviços florestais.

. Os países devem estabelecer mecanismos e estratégias eficazes de

coordenação nacional entre todos os interessados, sobre a base dos princípios da criação de consenso para promover a execução de programas florestais nacionais.

. Deve-se formular e aplicar, mediante um processo aberto de par ti-cipação, estratégias nacionais para fazer frente às causas básicas do desmatamento e, quando necessário, determinar objetivos norma-tivos relacionados com a cobertura florestal nacional, como aportes à execução de programas florestais nacionais.

. Deve-se formular políticas que garantam a posse de terra às co mu-nidades locais e às populações indígenas, entre elas, quando neces-sário, políticas que distribuam de forma justa e eqüitativa os bene-fícios derivados das florestas.

. Deve-se proporcionar informação oportuna, fidedigna e precisa so-bre as causas subjacentes do desmatamento e da degradação flores-tal, quando necessário, assim como sobre as múltiplas funções das florestas, informação essencial para a compreensão desses proble-mas pelo público e para a adoção de decisões pertinentes.

. Os países, ao executarem seus programas florestais, devem adotar medidas para reabilitar e proteger conhecimentos tradicionais relacionados com as florestas, levando em consideração que a

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integri dade da sobrevivência cultural das populações cujo modo de vida depende das florestas é uma condição fundamental para a prote ção e a reabilitação eficazes dos conhecimentos tradicionais relacionados com as florestas.

. Deve-se solicitar que organizações competentes da ONU, institui-ções financeiras, e outras organizações internacionais, bem co-mo a comunidade de doadores que colaboram com países em desen vol vimento, considerem os programas florestais nacionais, determi nem as necessidades desses países quanto à silvicultura sustentável, calculem os recursos necessários para financiar ativi-dades destinadas a atender a necessidades e localizem os recursos que esses países poderiam utilizar paras lograr tais objetivos.

. Os países devem dar início a consultas entre todas as partes inte-ressadas em planos nacionais, subnacionais e locais, a fim de de-terminar a ampla gama de benefícios que as florestas fornecem às socie dades, considerando plenamente o enfoque ecossistêmico.

. Os países, em colaboração com as organizações internacionais, de-vem utilizar os métodos disponíveis para melhorar as estimativas de valor de todos os bens e serviços florestais. Devem-se adotar deci sões melhor fundamentadas sobre as conseqüências de outras

pro postas sobre programas florestais e planos de utilização de terras, levando em consideração que a ampla gama de vantagens fornecidas pelas florestas não se encontram devidamente cobertas pela meto dologia atual de avaliação, e que a valoração econômica não pode ser um substituto para o processo de decisão política, que compreende a consideração de uma ampla gama de fatores ambientais, socieconômicos, éticos, culturais e religiosos.

. Os países e as organizações internacionais competentes devem es tu dar os efeitos ambientais, sociais e econômicos das medidas comerciais relacionadas com os produtos e serviços florestais.

Propostas dos jovens da Amazônia, Guardiões da Floresta

A mais recente taxa de desmatamento na Amazônia passou de . km (de agosto de a agosto de ) para . km (mais ,%) no período até agosto de . O Brasil dispõe de nada menos que % da biomassa florestal do planeta (um terço está na América do Sul), com a vantagem adicional de ter m de madeira por hectare,

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enquanto a média mundial é de m/ hectare, e toneladas de biomassa por hectare, enquanto a média mundial é de toneladas. Com isso dispomos de , hectares de floresta por habitante, enquan-to a média mundial é de , hectare por pessoa.

Pesquisa feita há pouco pelo Instituto de Estudos de Religião (ISER) e Fundo Mundial para Vida Silvestre (WWF) revelou que a conservação da floresta é a prioridade número um para a população da Amazônia.

Como parte das atividades da Rede de Florestas na Amazônia, no dia de outubro de realizamos um encontro com alunos da Escola Cruzeiro do Céu, no município de Céu do Mapiá, no Estado do Amazonas. Os alunos listaram ações prioritárias para a conservação da floresta:. Reflorestar as áreas já desmatadas, com ênfase no plantio de agroflo-

restas, espécies frutíferas e recuperação de mata ciliar dos igarapés.. Preservar as florestas primitivas existentes e tudo o que estiver ao

alcance.. Conhecer a floresta, organizando caminhadas junto com os matei-

ros da região, que detêm o conhecimento tradicional e prático sobre a floresta e seus habitantes.

. Conhecer para utilizar, sem destruir.

. Criar os Guardiões da Floresta, grupos de jovens de todas as idades para implementar as propostas acima, a partir da formação em meio ambiente. Serão contatadas instituições públicas como o Ibama e a Prefeitura de Pauiní, além dos próprios mateiros, para iniciar a preparação do grupo. O grupo também deseja conhecer outros grupos, especialmente aqueles que atuam nas fronteiras florestais do Norte (Canadá e Rússia) e do Sul (Patagônia).

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Florestas do Mundo 105

Experiências

Proteção de 4.000 ha. de florestas, campos de altitude e mananciais em Matutu, Serra da Mantiqueira, Brasil

A Comunidade da Reserva Matutu constitui um grupo de pes-soas, quase todas de origem urbana, que vivem de forma comunitária. Sua principal fonte de renda é a produção e venda de artesanato. Este grupo criou a Fundação Matutu, que é proprietária de . ha de ter ras em ecossistema de montanha no bioma Mata Atlântica Brasi-leira. A Fundação desenvolve atividades de proteção do ecossiste ma, composto por campos de altitude e florestas tropicais de altitude (.-. m), com a presença destacada de candeia e araucária. A proteção é feita por meio de uma brigada de prevenção e combate a incên dios florestais, reflorestamento com espécies autóctones, como

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arau cá rias, vigilância diária em motocicleta e participação em cam-panhas educativas realizadas nos povoados vizinhos.

A Comunidade da Reserva Matutu estabeleceu um novo modelo de ocupação de terras em áreas de montanha, de forma que a pre-sença humana represente um impacto positivo no ecossistema. Sua experiência é um exemplo de organização comunitária ambiental-mente sustentável, que indica uma opção concreta para a ocupação de ecossistemas de montanha, uma vez que possibilita um modo de vida com elevada qualidade, concomitante com um reduzido padrão de consumo e baixa pressão sobre os recursos ambientais.

Contato: Guilherme França, [email protected]

Coleção Vozes da Floresta de Educação Ambiental

A coleção de guias para docentes Vozes da Floresta faz parte do programa de educação ambiental desenvolvido pela ONG Defensores del Bosque Chileno. Livros para bibliotecas, manuais práticos para a

reprodução de espécies nativas, livros coloridos para a infância, car-tazes didáticos e fitas cassete com música e sons da floresta chilena são os materiais que fazem parte deste programa, cuja motivação principal são as florestas do Chile.

Centenas de professores estão sendo capacitados, milhares de crianças e jovens realizaram excursões ecológicas a florestas nativas e as comunidades desenvolveram projetos práticos de arborização ou de recuperação ambiental, além da participação em atividades, expo-sições e outros eventos públicos.

A iniciativa também integra o esforço internacional pela criação do Santuário Intercontinental das Florestas Nativas ao Sul do Paralelo °, Gondwana.

Vozes da Floresta é uma iniciativa que resgata o valor das florestas numa das sociedades que mais destruíram suas florestas e que, ao mesmo tempo, ainda detém importantes remanescentes de florestas primitivas de inestimável riqueza. O caráter de transversalidade temá-tica da coleção contribui para inserir o tema nas distintas disciplinas escolares e formar jovens com uma nova mentalidade.

Contato: Malu Sierra, [email protected]

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Plano Piloto: Desenvolvimento Florestal Sustentável

O Estado de Quintana Roo, no México, uma organização compos-ta por povoados está cultivando mil ha de floresta subtropical úmida para beneficiar seus membros e, ao mesmo tempo, preservar a floresta. Do total da área de floresta, mil ha são reservados funda-mentalmente para produção permanente de cedro e caoba. Depois de negociar com as empresas madeireiras, os participantes — . em — começaram a trabalhar os troncos, o que agrega valor ao pro-duto e dá às comunidades um lucro maior do que a simples extração da madeira em bruto.

Antes do manejo da floresta, as comunidades residentes não obti-nham nenhum benefício das operações de corte. Agora, os participan-tes trabalham para manter a floresta natural, realizando o corte em ciclos de anos, o que permite que as espécies nativas se regenerem; e incrementam a proporção de cedro e de caoba mediante a semea-dura enriquecida. Depois de oito anos, as comunidades já estão vendo uma boa regeneração da floresta natural, juntamente com lucros e incentivo para continuar com o seu bom trabalho.

Temas e Problemas da FlorestaProjeto educacional e editorial coordenado pelo Projeto Lemu e

financiado pelo Ministério de Educação da Argentina

O livro é dedicado à floresta andino-patagônica, vista por um expedicionário no começo do século XX, que destaca a ação do ga-do, o efeito do fogo nas florestas e a competição biológica. Os temas abordados são a floresta entendida como um ecossistema complexo, as florestas e a relação delas com a vida na terra, como foram forma-das as florestas andino-patagônicas, as ameaças à biodiversidade da floresta, a situação atual das florestas no mundo, o conceito das fron-teiras florestais e propostas para o presente e futuro das florestas.

O objetivo é mostrar como a floresta era habitada em princípios do século XX, quando a região ainda não tinha sido povoada pelos coloniza-dores de origem européia. O olhar através da história é útil para entender o processo de ocupação dos espaços florestais e como se dá essa relação com a floresta através das gerações. O livro também apresenta alterna-tivas para a utilização da floresta por meio da silvicultura responsável.

Contato: Alejandro Nebbia, [email protected]

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Projeto Lemu

O Projeto Lemu é uma iniciativa nascida no Vale de Epuyen, na Argentina, em , e tem como objetivo básico a proteção e reavalia-ção das florestas nativas andino-patagônicas. As ações realizadas para alcançar esse objetivo são divididas em quatro ramos principais:

. Conscientização da população, através do material didático: histó-rias para crianças, textos para pedagogos, manuais, jogos didáticos, fitas cassete, informes, calendários, folhetos, guias, do cu mentos, etc.

. Educação dos estudantes e docentes de todas as escolas rurais da bioregião da cordilheira, com um intenso programa didático que inclui o tema floresta a partir de um ponto de vista que integra todos os aspectos sociais, ecológicos e econômicos da bioregião patagônica.

. Estímulo e promoção para criar viveiros de árvores nativas em todos os estabelecimentos educacionais da Patagônia.

. Trabalho com o manejo de florestas e legislaturas das províncias pa-ra a criação de novas áreas naturais protegidas e para a ampliação das já existentes, por meio de corredores biológicos de conexão e

interconexão que tendem à concreção do Santuário Intercontinen-tal de Florestas ao Sul do Paralelo °.

Contato: Lucas Chiappe, [email protected]

Canteiro de Capacitação Nós e a Floresta Nativa

Esta proposta foi realizada em como experiência prática de-pois da publicação do livro Aprender com a Floresta: texto para profes-sores. Como parte do mesmo canteiro de capacitação foram realizadas várias atividades, como o plantio de cerca de árvores nativas nas ruas de El Bolsón e Lago Puelo e se realizaram distintas viagens de co-nhe ci mento da floresta, no Parque Nacional Lago Puelo e na reserva Pro vin cial la Casada Escondida, em Mallin Ahogado, na Argentina. Trabalhou-se no vi vei ro do município de Rio Preto com sementes de árvores nativas. Um grupo de professores de artes plásticas participou do projeto para repre sen tar o que foi vivenciado.

Contato: Alejandro Nebbia, [email protected]

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Florestas Urbanas

As cidades de Taubaté, no Estado de São Paulo, e Piraí, no Rio de Janeiro, possuem respectivamente, o Parque Monteiro Lobato e o Par que Florestal da Mata do Amador, ambos destinados a atividades de educação ambiental e conservação florestal. Além disso, a cidade de São Paulo possui o Parque Trianon, em plena Avenida Paulista, e a cidade do Rio de Janeiro abriga a maior floresta urbana do mundo, situada no Parque Nacional da Tijuca. Na cidade de Volta Redonda, no sul do Estado do Rio de Janeiro, existe a Floresta da Cicuta, conside-rada Reserva da Biosfera pela Unesco. Em Manaus, capital do Estado do Amazonas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia abriu para o público o Bosque da Ciência, para ser usado em educação am-biental e servir como espaço de lazer para a população local e turistas. Em Belém, capital do Pará, a Escola Bosque desenvolve seu currículo escolar totalmente vinculado à floresta do entorno.

Contato: Luis Felipe Cesar, [email protected]

Comunidades e Florestas

Em Santarém, no Estado do Pará, o Projeto Saúde e Alegria estimu-la e resgata a participação da comunidade local no manejo florestal. Na Reserva Chico Mendes, no Acre, seringueiros e técnicos bus cam alternativas para a extração sustentável de produtos não madeireiros da floresta. No Estado do Amapá, o poder público vem estimulando o desenvolvimento de projetos participativos de manejo flores tal. A Rede de Monitores Ambientais do Vale do Ribeira, em São Paulo, bus ca criar alternativas econômicas para a região, principalmente atra vés do ecoturismo. A Fundação Matutu, na Serra da Mantiqueira de Minas Gerais, protege extensa área de matas e campos de altitude e possui uma brigada voluntária de combate a incêndios florestais. No Céu do Mapiá, município do Estado do Amazonas, pessoas vi vem em busca permanente da sustentabilidade dentro de uma flores-ta com mais de mil hectares. Na Serrinha do Alambari, municí-pio de Resende – RJ, iniciativa pessoal iniciada em 1985 possibilitou a regeneração de Mata Atlântica por meio do plantio de mais de 5 mil árvores, com ênfase no palmito Euterpe edulis.

Contato: Luis Felipe Cesar, [email protected]

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Estratégias para Proteção de Florestas

A Ancient Forest International (AFI) é uma ONG dos Estados Unidos que tem como estratégia para preservar florestas primitivas a compra de terras na América do Sul e em outras partes do mundo. A compra das terras acontece juntamente com o desenvolvimento de projetos de apoio econômico de longo prazo às comunidades vi-zinhas, como forma de garantir a participação dos moradores locais na preservação da floresta. Do mesmo modo, uma comunidade pode desenvolver uma estratégia inovadora ao restabelecer seus ambientes naturais e ganhar com aquele trabalho; mas se o refúgio selvagem não estiver protegido, a iniciativa dificilmente terá sucesso.

A compra de florestas para preservação da biomassa e da biodiver-sidade é uma ferramenta efetiva, uma “aplicação de dólares em con-servação”. A criação de rede de reservas privadas provoca um efeito moral de conservação que se espalha nas comunidades circunvizinhas, incre mentando esforços já iniciados pelos proprietários de terras e co-munidades, no sentido de cuidar sabiamente de suas terras.

Em termos de aquisições no Chile e Equador, sabe-se que estran-geiros que compram terras numa região podem causar ressentimento,

como também elevação de preços de terra. Por isso, os esforços da AFI se focalizam em parcerias com organizações locais. A AFI considera que depois de décadas conduzindo o mundo para o consumo, polui-ção e ameaças aos ecossistemas, os habitantes dos EUA deveriam assumir a responsabilidade e a iniciativa para ajudar outras nações a proteger os seus tesouros naturais.

Contato: Ancient Forest International, www.ancientforests.org

Adote uma Árvore na Terra do Fogo

Ecologistas sul-americanos lançaram uma campanha para com-prar as florestas da Terra do Fogo na divisa entre o Chile e Argentina, de propriedade da Trillium Corp., baseada em Bellingham, no EUA. As ONGs Defensores del Bosque Chileno, do Chile e Finis Terrae, da Argentina, lançaram a campanha Adote uma Árvore na Terra do Fogo, com um concerto em Bellingham. Os ecologistas disseram que sua meta é convencer a Trillium a vender as florestas que possuiu na ilha de Terra do Fogo desde a metade dos anos .

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116 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 117

A idéia é fazer as florestas da Trillium parte de uma área protegida intercontinental, conhecido como Gondwana, que incluiria terras em di-versos países ao longo do Hemisfério Sul. O programa Adote uma Árvore pede de US$ a US$, de doadores. Grandes ONGs, como Ancient Forest International, estão tentando levantar dinheiro de doações. Os eco logistas dizem que não estão seguros quanto a quantia necessá ria, mas eles suspeitam que será mais que os US$ milhões que a Trillium pagou por seu primeiro naco da floresta da Terra do Fogo, em .

A Finis Terrae organizou uma campanha na qual mais de . e-mails foram enviados aos escritórios de Trillium em Bellingham, pe-dindo para a companhia não derrubar árvores na Terra do Fogo.

Contato: Defensores Del Bosque Chileno, [email protected]

Carvão Ecológico

Na área rural de Morogoro, na Tanzânia, continente africano, os principais combustíveis são a lenha e o carvão, feito muitas vezes com árvores nativas. Por isso, há muitas áreas devastadas. O professor

Yohana Komba, junto com seus colegas e alunos, desenvolveu na re-gião um conjunto de atividades que mostram que é possível, através da coo peração, recuperar áreas degradadas.

O grupo acabou descobrindo uma mistura feita de pasta vegetal, cinzas, sobras de capim e barro que funciona como carvão vegetal. Es-se combustível, feito sem dano para a biodiversidade local, gera calor, não produz fumaça e não deixa resíduos tóxicos. Essa expe riência nos mos tra que, com imaginação, é possível encontrar formas de evitar o cons tante desmatamento a que são submetidas as florestas do mundo.

Contato: Yohana Komba, Tânzania.

Manejo Florestal na Amazônia

Até , existiam poucas experiências de manejo florestal em andamento na Amazônia. Nessa década, O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) iniciou um projeto piloto de manejo flo restal buscando conciliar as atividades de pesquisa aplicada e a ex-tensão florestal. Realizado em parceria com uma empresa madeireira

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118 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 119

de Paragominas, no Estado do Pará — o maior pólo madeireiro do Bra-sil — o trabalho foi conduzido na propriedade de uma serraria local, em duas parcelas vizinhas: uma sujeita a práticas de explo ração sem planejamento e a outra sob regime de manejo florestal.

O estudo revelou as vantagens do manejo florestal. Os resultados mostram que o manejo florestal pode resultar numa duplicação da produção em diversas situações. Nesses casos, as serrarias requere-riam apenas a metade da área de floresta que utilizam hoje para suprir suas necessidades de matéria prima. O manejo florestal também ga-rante a manutenção de populações saudáveis de árvores matrizes das espécies comerciais nas áreas de extração.

O projeto do Imazon tem atuado como catalisador e colaborador de iniciativas promissoras de manejo florestal na Amazônia. A Fun-dação Floresta Tropical está replicando o modelo em outras áreas da Amazônia. A empresa madeireira Precious Wood está operando um projeto de manejo em escala comercial.

Existem também iniciativas de manejo florestal comunitário, en-volvendo ONGs e populações locais, nas regiões de Machadinho do Oeste, em Roraima, Carajás, Altamira, Marabá e outros municípios do Estado do Pará. Além disso, o Instituto Socioambiental (ISA), em par-

ceria com a associação Bep-Noi dos índios Xikrins, está iniciando um projeto-piloto de manejo florestal na reserva Cateté, no sul do Pará.

Fonte: Amaral, P. & Corrêa T., . Extensão e educação fl orestal na amazônia orien-tal: o caso do projeto-piloto de manejo fl orestal.

A Colina trabalha pela Colina

A Colina é um bairro rural localizado na Serra da Mantiqueira, a . m de altitude, no entorno do Parque Nacional do Itatiaia, su des te do Brasil Desde são desenvolvidas atividades com a comunidade que incluem desde oficinas educativas com jovens e crianças até a construção em mutirão de um viveiro de mudas. A maior parte do trabalho tem sido realizada de forma voluntária, mas atualmente conta com financiamento da Fundação Luterana de Diaconia. Os recursos estão sendo investidos em atividades com jovens e crianças e no apoio ao desenvolvimento de produtos diferenciados e ecológi-cos, tais como tecelagem, artesanato, produção de mudas e mel, que possam ser comercializados com base em critérios de comércio justo.

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120 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 121

O objetivo, a longo prazo, é buscar a sustentabilidade na relação entre o ser humano e a montanha.

Contato: Isabel de Andrade Pinto, [email protected]

Núcleo Regional de Unidades de Conservação

A criação recente do Núcleo Regional de Unidades de Conservação, vinculando vários parques nacionais, reservas, estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e áreas de relevante interesse ecológico, tem contribuído significativa e gradativamente para melhor desem-penho destas unidades através de aportes de flexibilidade, autonomia e agilidade administrativa. Esta experiência tem produzido resulta-dos que serão de extrema valia para o processo de discussão e iden-tificação de condições para a administração do sistema nacional de unidades de conservação do Brasil.

Desde a criação da primeira unidade de conservação brasileira — o Parque Nacional do Itatiaia — em , poucas tentativas foram im-plementadas no sentido de aprimorar a instância organizacional das

unidades de conservação Nos últimos anos as unidades de con ser va-ção da natureza vêm sendo administradas sob o enfoque da adminis-tração burocrática clássica, o que não vem atendendo às necessidades cotidianas dessas unidades e das exigências cada vez maiores da so-ciedade com respeito à proteção ambiental.

Os Núcleos Regionais de Unidades de Conservação da Natureza que vêm sendo criados estão embasados nos métodos modernos do de senvolvimento organizacional participativo. Tanto é assim, que o prim eiro núcleo foi criado após fase de experimentação e de funciona-men to prático em um período de um ano, quando ocorreram fases de desen vol vimento do pessoal envolvido no gerenciamento das unida-des envolvidas, estabelecimento de procedimentos administrativos com incorporação de novas tecnologias, definição do relacionamento inter e intraorganizacional, implantação da gerência participativa e de ob jeti vos voltados para o usuário final, a sociedade. Só depois destas fases iniciais é que foi criado a primeira unidade, o Núcleo Regional de Unidades de Conservação, em Teresópolis, constituído por Uni-dades de Conservação Federais vinculadas ao Ibama.

Contato: Jovelino Muniz de Andrade Filho, chefe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Ibama, Brasil

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122 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 123

Integrando Ações na Serra da Mantiqueira

O objetivo desta experiência é articular e integrar iniciativas co-munitárias em desenvolvimento na Serra da Mantiqueira e potenciali-zar seus resultados, por meio da realização de atividades de educação ambiental, reflorestamento com espécies nativas e comunicação. A iniciativa é da ONG Crescente Fértil, envolvendo diretamente as co-munidades de Visconde de Mauá, Serrinha, Colina, Matutu e Campo Redondo. Um dos resultados esperados é a formação de uma rede de monitores ambientais jovens.

A Serra da Mantiqueira é uma área de proteção ambiental federal (APA), criada com o intuito de promover a proteção dos recursos na-turais da região com desenvolvimento social e preservação da cultura local. Situada entre as três maiores cidades brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte), a APA circunda quase completamente o Parque Nacional do Itatiaia, o primeiro a ser criado no Brasil.

Espera-se que o projeto obtenha resultados locais e regionais ao longo de sua implantação. Na esfera local cada comunidade partici-pante passará a contar com um grupo de doze monitores ambientais jovens, capacitados para atuarem de forma cidadã na defesa do meio

ambiente local, inclusive multiplicando seu conhecimento através de terceiros, turistas ou moradores. Ainda no âmbito local, cada locali-dade recebe mudas de araucária e outras árvores nativas, cujo plantio irá contribuir para o aumento da área florestada e a articulação dos moradores através do reflorestamento de espécies autóctones. A troca de sementes de araucária é uma estratégia utilizada para aumentar a diversidade genética da espécie.

Regionalmente, o principal resultado é a integração social a partir do fortalecimento das relações humanas, construídas durante as vivên-cias. Além disso, o projeto insere as comunidades rurais da região e todos os demais parceiros no esforço global de proteção dos ecossis-temas de montanha e ampliação das áreas florestadas do planeta, no contexto da Agenda .

Contato: Ednilda Bayde Teixeira, [email protected]

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Conclusão

As propostas contidas neste caderno expressam o conteúdo hu-mano e técnico de pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o tema florestal. Apesar da diversidade de idéias — e eventuais contra di-ções — há um pedido comum de urgência por uma nova atitude mun-dial com relação às florestas, especialmente para aquelas que ainda se encontram em estado primitivo. A triste história das florestas e a desconfiança provocada pelos modernos “planos de manejo susten-tável” tendem a fortalecer uma atitude reativa, a qual preconiza não se tocar mais nas áreas ainda intocadas, ou muito pouco alteradas.

A relação entre as florestas e as políticas macroeconômicas mun-diais também é evidente. A distância entre os discursos e as práticas, em distintos níveis, é quase escandalosa.

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A descoberta de novos valores relacionados às florestas pode ser um indicativo que aponte para novas possibilidades de convivência entre a humanidade, as árvores e todos os seres e elementos que aqui se encontram em profunda aliança. Os povos nativos certamente têm um papel estratégico na construção de uma nova lógica. E à humanidade como um todo caberá visualizar e tornar real um futuro que reverta a história de mais de . anos de desaparecimento das florestas, desaparecimento este que sempre foi acompanhado pela perda da qualidade de vida.

As experiências bem sucedidas e os bons exemplos são muitos. Muitos mais, inclusive, do que os descritos neste trabalho. A continui-dade da troca de idéias e experiências faz-se fundamental para sua multiplicação, assim como a consciência de que a construção de no-vos valores não responde somente a uma tentativa de salvar as flores-tas, mas de resgatar a humanidade. Portanto, mãos à obra por uma cultura florestal.

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Pessoas

Equipe do Fórum Eletrônico Florestas do Mundo

Luis Felipe Cesar, organizaçãoWaldo Aranha Lenz Cesar, tradução e versão espanhol/portuguêsLuciana Santa Rita, revisão da versão em portuguêsKiria de Carvalho Rocha, traduções do fórum eletrônicoEdnilda Bayde Teixeira, pesquisa de experiências

Apoio Institucional

Crescente Fértil/Fundación Charles Leopold-Mayer Endereço Estrada J. C. Silveira, , Caixa Postal , Serrinha, Resende, RJ, Brasil. cep - Telefax ()

Endereço Eletrônico [email protected]ítio Internet www.crescentefertil.org.br

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Agradecimentos

A todos e todas que ajudaram e que amam árvores e florestas, em especial Beth Grimberg, Gustavo Marin, Manola Rauss, Isabel de An-drade Pinto e aos participantes do Fórum Eletrônico e da Rede Florestas.

Participantes da Rede Florestas*

Alejandro Nebbia, professorAsociación Trabajadores de la EducaciónLago Puelo, [email protected]

Alba Simon, bióloga e mestranda em Ciência AmbientalRio de Janeiro, [email protected]

Alex PolariIDA/CEFLURIS, Instituto de Desenvolvimento Ambiental Raimundo Irineu Serra Mapiá, [email protected]

Alexandre Pedrini, doutor em Biologia Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, [email protected]

Amelia Niemeyer, professora de GeografiaRio de Janeiro, [email protected]

André Assis, engenheiro agrônomoBocaina de Minas, [email protected]

Andrés Cortés Censat Agua Viva/Amigos de la Tierra (FoE Colombia) Santafé de Bogotá, Colô[email protected]

Bernardo Reyes, biólogoPrograma de Economia Ecológica/Instituto de Ecologia PolíticaSantiago, [email protected]

* Lista restrita àqueles que enviaram seus dados.

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Bruno Cinotti, engenheiro de águas e florestaAmiens, Franç[email protected]

Carina Cavalcanti, estudante de biologiaSalvador, [email protected]

Carlos Zelaya, economista agrícola Tegucigalpa, Honduras [email protected]

Carlos Fuenzalida, engenheiro florestalDiretor do Projeto ProtegeSantiago, [email protected]

Carolina Mancheno, oficial de cooperação internacional Ministerio do Meio Ambiente do Equador Quito, Equador [email protected]

Cássio Garcez, psicólogo e especialista em Educação AmbientalProjeto EcoandoNiterói, [email protected]

Christianne Godoy, engenheira florestal e especilista em EcoturismoPrefeitura de Ribeirão PiresSão Paulo, Brasil

Cláudia Teixeira, engenheira florestal Niterói, [email protected]

Claudio Bohrer, doutor em Engenharia FlorestalUniversidade Federal FluminenseNiterói, [email protected]

Cícero Costa, dirigente políticoPirapozinho, [email protected]

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Ciro Croce, engenheiro florestalCentroflora-AnidroBotucatu, [email protected]

Cristina Magnanini, biólogaPrefeitura Municipal de ItatiaiaItatiaia, [email protected]

Daniel Veja, guarda florestalTucumán, [email protected]

Dea Assis, pesquisadora Embrapa SolosRio de Janeiro, [email protected]

Diolina Silva, biólogaPrograma de Pós-Graduação em Biologia Vegetal/UFESVitória, [email protected]

Felipe Munita, advogadoAssociação de Municipalidades Projeto ProtegeSantiago, [email protected]

Felippe Alves, professor São Paulo, Brasil

Geny Guimarães, professora de Geografia e de Educação AmbientalRio de Janeiro, [email protected]

Gerhard Sardo, jornalista e ambientalistaNiterói, [email protected]

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Ginny Ng, oficial de conservação de florestasWWF MalaysiaPetaling Jaya, Malasia

Graciela Reiche, geógrafaAsociación Ornitológica Cuenca del Puelo Lago Puelo/Chubut, [email protected]

Guilherme FrançaFundação MatutuAiuruoca, [email protected]

Isabel Pinto, biólogaParque Estadual Nova Baden/Lambari Colina/Itamonte, [email protected]

Jacqueline Aguiar, professoraNúcleo de Educação Ambiental Continuada e à Distância Rio de Janeiro, [email protected]

Javier PardoMovimento Antinuclear de Chubut/Sistemas Ecológicos PatagônicosChubut, Argentina [email protected]

Joana Costa, engenheira agrônomaCPDA/UFRRJRio de Janeiro, [email protected]

João Madeira, biólogo e doutorandoPrograma de Pós-Graduação em Ecologia/UFRJRio de Janeiro, [email protected]

José AraújoCooperativa de Amigos para Reflorestamento FlorescerRio de Janeiro, [email protected]

Julio AmaralInstituto de Desenvolvimento e Ação ComunitáriaRio de Janeiro, [email protected]

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Karla MatosISER/Programa de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio de Janeiro, [email protected]

Krishna Simpson, engenheiro agrônomoRio de Janeiro, [email protected]

Lucy Ruiz M., antropóloga e assessora Programa Bolsa AmazôniaFundación Ambiente y Sociedad Equador

Luciano Dalcol, professor de GeografiaRio de Janeiro, Brasil

Luis Felipe Cesar, bacharel em comunicação e ambientalistaCrescente FértilResende, [email protected]

Lusi Videla, antropólogo e mestre em Educação AmbientalCaracas, Venezuela

Malu SierraDefensores del Bosque [email protected]

Marcus AzazielRio de Janeiro, Brasil

Miguel Angel CrespoPROBIOMA – Productividad, Biósfera y Medio Ambiente Santa Cruz, Bolí[email protected]

Mycle Schneider, consultor internacional em energia e jornalista científicoWISE/Takagi Fund for Citizen ScienceParis/Tóquio, França/Japã[email protected]

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Olivier Ranke, engenheiro agrônomo SCEA Ferme de la Bergerie/Fundacion Charles Leopold-MayerParis, Franç[email protected]

Oralda Diniz, estudante de HistóriaBrasília, [email protected]

Paulo César Ramos, doutor em Engenharia FlorestalBrasília, [email protected]

Paulo Manoel Protasio, administrador de empresasProjeto Homem-Á[email protected]

Ricardo Domingues, biólogoRio de Janeiro, [email protected]

Ricardo BuitrónAcción EcológicaQuito, Equador

Ricardo Rodrigues, economista e especialista em Gestão Ambiental Instituto de Gestão Ambiental – INGÁ Campinas, [email protected]

Rob Wheeler, educador ambientalGlobal Peoples AssemblyInter na tional Institute for Sustaintainable FutureNew York, [email protected]

Rocio VelandiaInternational Native Tradition Interchange Inc.New York, [email protected]

Rosa Suarez, especialista em Desenvolvimento AgrárioSanta Cruz, Bolí[email protected]

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142 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 143

Rosângela Corrêa, antropólogaUniversidade de BrasíliaBrasí[email protected]

Ruben Pablos, educador ambientalProyecto de Restauración del Bosque Nativo Andino-Patagónico San Carlos de Bariloche, [email protected]

SidhartaPipal Tree – Grupo Geo-Cultural Ásia-PacíficoAliança por um Mundo Responsável, Plural e SolidárioÍ[email protected]

Tiago Santos, estudante de Educação Física e montanhistaSão Leopoldo, [email protected]

Estudantes da Escola Cruzeiro do CéuCéu do Mapiá, Amazonas, Brasil

Alcinete Paes do NascimentoAntonia Morais da SilvaAntônio Francisco Lucena PaimAntônio Francisco Maciel LagesDavi AlvergaDraaú Rocha LessaFrancisca Átali de Souza SilvaFrancisco Andrei Melo de OliveiraI’ai Lin Lira da SilvaIarumim Parente do NascimentoIemanjá Laurentino SalesJoão Arruda Coutinho João Francisco ZuloagaJoão Mader FerrazJoel Pinheiro do Nascimento

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144 Cadernos de Proposições para o Século XXI Florestas do Mundo 145

O desenho acima foi produzido logo após o encontro com jovens residentes no Céu do Mapiá, pequena comunidade do interior da fl oresta amazônica, em outubro de .

Moara Facchini BarséPaula Palhares de Polari AlvergaPedro Paes de OliveiraRafael de Lucena PaimRaimundo Bartolomeu A. da S. J.Sebastião SantosVeronica Castella JamilVitória-Régia Provenzano Zuloaga

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Florestas do Mundo 147

Referências para consulta

1. Livros

DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica bra-si leira. São Paulo: Companhia das Letras, .

DEVÈZE, Michel. Histoire des forêts. Paris: Presses Universitaires de France, .LAURENCE, Willian e BIERREGAARD, Richard (ed.). Tropical forest remnants:

ecology, management, and conservation of fragmented communities. Chicago: University of Chicago Press, .

PERLIN, John. História das fl orestas: a importância da madeira no desenvol-vimento da civilização. Rio de Janeiro: Imago, .

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2. Websites

Aliança Por Um Mundo Responsável, Plural E Solidário www.alliance21.org

Ancient Forest International www.ancientforests.org

Crescente Fértil www.crescentefertil.org.br

FAO Forestry www.fao.org/forestry/Montes.asp#

Forest People Program www.gn.apc.org/forestpeoples

Forests And Communities www.forestsandcommunities.org

Fundação Matutu www.matutu.org

Fundação SOS Mata Atlântica www.sosmatatlantica.org.br

Greenpeace www.green peace.org

Inventaire Forestier National www.ifn.fr

Instituto Sócioambiental www.isa.org.br

Native Forest Network www.nativeforest.org/www.nfn.org.au

Rainforest Action Network www.ran.org

Rede Florestas www.alliance21.org/fr/themes/forests.htm

Russian Far West Hotspot Project www.foejapan.org/en/siberia/index.html

The Wood Hole Research Center www.whrc.org

Trees For LifE www.treesforlife.org.uk

World Rainforest Movement www.wrm.org.uy

World Resources Institute www.wri.org

World Wild Foundation – WWF www.wwf.org

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Florestas do Mundo 151

Anexo

A carta abaixo foi escrita durante o Encontro Internacional da Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidário, em Bertioga, de zem bro de , que reuniu cerca de aliados de países diferentes, quando formou-se o grupo Aliados da Floresta e Gente da Terra.

Aliança por um Mundo Responsável, Plural e SolidárioCarta dos Aliados da Floresta e Gente da Terra

As terras e as florestas foram e são a base de sustentação de todas as civilizações. O crescimento dos grandes impérios e países foi reali-zado a partir dos recursos florestais, que se tornaram cada vez mais distantes e raros na mesma proporção em que as cidades cresciam.

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- contribuindo para informar governos e cidadãos quanto aos seus diversos e intrínsecos valores;

- apoiando a realização da reforma e desenvolvimento agrários;- apoiando o desenvolvimento da reforma urbana, potencializando o

equilíbrio campo-cidade e entre os povos da terra;- facilitando a obtenção de recursos para estas ações.

Bertioga, SP, Brasil, dezembro de .

Anil Bhattarai, Nepal

Feroz-Ud-Din, Dehdarum, Índia

Guilherme de Melo França, Matutu, Brasil

Luis Felipe Lenz Cesar, Resende, Brasil

Márcia Freire, Matutu, Brasil

Rob Wheeler, Santa Cruz, USA

Rosenilde dos Santos Viana, Maranhão

Sain Bibi, Dehdarum, Índia

Samuel M. Kibedi, Iganga, Uganda

Simron Jit Singh, Dehdarum, Índia

Os países colonizadores impuseram as regras de ocupação das ter-ras e pilharam as florestas em suas colônias e hoje os países do norte são os maiores consumidores de madeira das florestas tropicais. Além disso, poucas pessoas concentram a maior parte das terras, impedindo o acesso das famílias camponesas. As terras e as florestas são bens de uso comum e sua utilização de forma ambientalmente sustentável constitui direito de cidadania.

As florestas são conjunto e parte da constelação de seres vivos do mundo, sendo essenciais para a conservação da biodiversidade, da água, do solo, encantamento das paisagens e desenvolvimento da espi-ritualidade. É fundamental para a conservação das florestas incluir a participação, o conhecimento e a cultura de seus moradores tradi-cionais ou ancestrais, que devem ser integrados aos processos de uso sustentável e preservação da biodiversidade. Não é por coincidência que a região tropical abriga, simultaneamente, as maiores diversidades biológica e geo-cultural do planeta, que devem ser preservadas em suas plenitudes, pois são interdependentes.

A Aliança poderá apoiar e integrar intimamente todas as iniciati-vas de uso responsável e solidário das terras e florestas da seguinte forma:

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