08 - Robine, J.-m, A Awareness, Conhecimento Imediato e Implícito Do Campo

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Capítulo 8 de "O self desdobrado", Jean-Marie Robine.

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    Mas, afinal, citando F. Perls (1969, p. 220): "O contato aapreciao das diferenas".

    ~

    NOTAS1 Cf. pginas 13,71,75,76,79,117,132,160,175,181-209,238.2 Essa obra, fundadora da teoria da Gestalt-terapia, constituda por duas partes. Asegunda parte (terica) foi inteiramente escrita por P.Goodman. Assim, quando me refiroa esse texto, evoco o verdadeiro autor, Paul Goodman, e no F. Perls.3 Cf. Grand Larousse de Ia langue franaise, p. 939.4 difcil saber com preciso quais as fontes de Perls, pois ele fez pouqussimas citaese referncias, e parecia funcionar corno alguns pacientes que, apresentando perturbaesneurticas de assimilao, nos propem suas introjees corno se se tratasse de suaprpria elaborao, esquecendo-se do outro original.5 Ver tambm Melon & Lekeuche (1988) e Schotte et aI. (1990).6 Lembremos que "estrutura" urna das acepes da palavra alem "Gestalt".7 Sheldrake Simondon (campos morfogenticos).8 Ser necessrio desenvolver essas noes de "conflito" e de "destruio" que esto nocerne da teoria gestltica e que so foco de mltiplas discusses. Remeto o leitor, nesteponto, a Ego, fome e agresso, e tambm especialmente aos captulos 8 e 9 da parte II deGestalt-terapia.9 Em 1986, propus o termo "suspenso" para marcar bem o carter processual, moment-neo, Ligado experincia em curso, dessa incapacidade do modo-ego. Ver Robine (1989).10 No decorrer das pginas, Perls, Hefferline e Goodman (195\) mencionam: a represso,a alucinao, o sonho, a imaginao, a identificao, o autisrno, a repetio obsessiva, odelrio, a fixao, a distoro, o isolamento, a fuga, o deslocamento, a regresso.

    #

    5A awareness, conhecimento imediatoe implcito do campo

    No cerne da teoria gestltica, o conceito de awareness no deixade gerar dificuldades para todos aqueles que no tm o inglscomo lngua me. Sabemos que as palavras e os conceitos podemrecortar nossa experincia, mold-Ia, dar-lhe uma forma, e atmesmo perrne-la ou interromp-Ia. Sabemos tambm como, aolongo de dcadas, os contedos transmitidos pelas palavraspodem evoluir at chegarem, algumas vezes, a perder a especifi-cidade que carregavam em uma poca anterior.

    Assim, observando o uso corrente de seu idioma pelas pessoasde lngua inglesa, nem sempre fcil estabelecer a distino entre"awareness" e "consciousness". Se s vezes os contornos de uma oude outra parecem claros, muitas vezes ns as vemos deslizar umapara a outra e se fundir.

    Mesmo entre os Gestalt-terapeutas que com freqncia con-vidam seus pacientes a aumentar ou a focalizar sua awareness,trata-se verdadeiramente de um trabalho de awareness? Ou noseria mais exato falar, nesse caso, de "conscious awareness" (awa-reness consciente)?

    No estudo que se segue, usarei o termo "awareness" em ingls porconsiderar que no existe um equivalente exato em nossa lngua, ano ser que se use uma parfrase tal como a que escolhi como sub-ttulo: conhecimento imediato e implcito do campo. Quando euusar a palavra "conscincia': esta no corresponder, portanto, aoconceito de awareness, embora possa contribuir para sua definio.

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    REFERNCIA AOS DICIONRIOS

    Os dicionrios ingleses ou norte-americanos de uso correnteremetem a "conhecimento" e a "vigilncia": "aware", referindo-se ao conhecimento adquirido por meio da percepo ou deinformaes, enquanto "consciente", ao reconhecimento dealgo sentido.

    No Dictionnaire gnral des sciences humaines [Dicionriogeral de Cincias Humanas 1,G. Thines prope o termo "conscien-tizao": "Termo utilizado para distinguir a conscientizao quepressupe uma atitude de vigilncia (em ingls awareness) dosimples estado de conscincia, qualquer que seja o objeto deconscincia (em ingls consciousness)" (Thins & Lernpereur,1984). Se buscarmos sua definio de "vigilncia", encontrare-mos: "Etimologicamente, esse termo evoca as idias de viglia ede vigor, mas sua acepo psicofisiolgica faz referncia a umnvel de eficcia perceptual especfica ao qual necessrio asso-ciar uma intensificao das reaes do organismo a seu meio(interno e externo) e, sobretudo, um grau de adaptao dessasreaes". E Thines continua um pouco adiante: "Em psicologia,esse termo designa o estudo do homem atento ao aparecimentode sinais que, em geral, so pouco freqentes, e que so aleatriosno tempo, no espao ou em ambos".

    H. B.English &A. C. English (1958), em um dicionrio que fazreferncia ao assunto (A comprhensive dictionnary of psychologi-cal and psychoanalytical terms [Um dicionrio abrangente de ter-mos psicolgicos e psicanaliticos 1, trazem maiores referncias aotermo "awareness": "O fato de estar consciente (conscious) dealguma coisa; a ao de "dar-se conta de um objeto ou de umasituao" E adicionam: "O termo no pressupe nem atenonem avaliao das qualidades ou da natureza do objeto: podehaver uma simples awareness sem discriminao nem reconheci-mento especfico de caractersticas objetivas, mesmo que taiscaractersticas devam ser julgadas para ter efeito".

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    Os autores tambm observam que alguns psiclogos so reti-centes em usar a forma verbal "estar consciente de" (conscious) epreferem "estar aware de", mesmo que creiam ser necessrio dis-por de um termo nico para evocar "esse tipo nico de relaoentre os animais superiores e determinadas partes de seu ambien-te", especialmente para possibilitar que se leve em conta a dimen-so comportamental.

    Se buscarmos completar nossa pesquisa pela definio de"consciousness", veremos em especial que, segundo eles, o usomais comum atualmente desse termo designa "a soma total dosprocessos de estar-aware, de dar-se conta e de reagir aos objetos; a soma total dos atos".

    igualmente interessante observar que English & Englishcriaram um termo especial em seu dicionrio para "unconsciousawareness", que definiram do seguinte modo: ''Atividade ou pro-cessos pessoais que no so diretamente verificveis nem nos soconhecidos a no ser por inferncia, mas que mesmo assiminfluenciam o comportamento de uma pessoa, como se se tratas-se de um processo consciente". Eles acrescentam que esse termoapresenta uma aparente contradio, pois "estar aware significaestar consciente", mas que no existe outra possibilidade paradesignar a construo hipottica assim evocada e que a esse ttu-lo, essa expresso, "parece til, ou at mesmo inevitvel".

    Por fim, acrescentemos: por um lado, English & English escre-vem que "awareness" tambm utilizado como traduo da pala-vra alem "Bewwusstheit", que definem como "contedo total doconhecimento que no nem analisado nem analisvel"; poroutro, lembremos aquilo que Rollo May (1980) alude a respeitoda etimologia da palavra "awareness":

    A palavra" awareness" tem como raiz a palavra anglo-sax gewaer, que

    por sua vez vem de vaer; essa famlia de palavras refere-se ao conheci-

    mento da ameaa exterior, isto , ao conhecimento do perigo, dos inimi-

    gos, conhecimento que requer estratgias defensivas. As palavras

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    "wary"(prudente, desconfiado) e "bewere" (tomar cuidado) so deriva-

    das dessa mesma raiz" aware ".

    A AWARENESS EM GESTALTTERAPIA

    GESTALT-TERAPIA, DE PERLS E GOODMAN

    O fenmeno "conscincia" e os conceitos a ele associados (cons-ciente, pr-consciente, "awareness", no consciente, inconsciente,conscincia imediata, conscincia reflexiva, conscientizao, insi-ght ...) esto no cerne de toda psicoterapia. Os autores de Gestalt-terapia, Perls e Goodman, bem perceberam que todas as escolas depsicoterapia se concentraram nos diferentes modos de aumentar aawareness, seja por meio da palavra, dos exerccios musculares, daanlise do carter, de situaes sociais experimentais, seja por meioda anlise dos sonhos (Perls; Hefferline; Goodman, 1951, Il. 3).'

    Os criadores da Gestalt-terapia nunca procuraram descartarcompletamente as observaes e reflexes daqueles que os prece-deram; ao contrrio, eles reconhecem sua dvida especfica paracom a fenomenologia, a psicologia da Gestalt e a psicanlise. Emespecial, Freud e William Iames sero evocados em relao aoproblema da conscincia.

    AWARENESS E CONTATO

    Para Perls e Goodman, a experincia se situa na fronteira entreo organismo e o ambiente. O fenmeno que se manifesta nessafronteira constitui o que eles chamam de "contato": "O contato awareness do campo ou resposta motora nesse campo" (ibi-dem, I, 3). Se aceitarmos minha proposta de traduo de "awa-reness", a frase deles se transformar em: "O contato conheci-mento imediato e implcito do campo, ou resposta motora nocampo'" Awareness e comportamento motor so, portanto, liga-dos para constituir o contato. "Presumivelmente", acrescentameles, "existem organismos primitivos nos quais awareness e rea-

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    o motora so a mesma ao" (ibidem, I, 1). Propondo s vezesoutros termos, os autores falaro de orientao e de manipula-o para designar essas duas operaes fundamentais que cons-tituem o contato: ''A awareness no ociosa; ela orientao, oprocesso de apreciao e aproximao, o processo de escolha deuma tcnica; e em toda parte ela est em interao funcionalcom a manipulao e o excitamento crescente do contato maisntimo" (ibidem, XI, 1).

    A FRONTEIRA DE CONTATO, RGO DA AWARENESS

    A fronteira de contato , por assim dizer, o rgo especfico de awareness

    da situao nova no campo, em contraste, por exemplo, com os rgos

    "orgnicos" mais internos do metabolismo ou da circulao que funcio-

    nam conservativamente sem necessidade de awareness, deliberao,

    seleo ou evitao da novidade. (ibidem, 111,4)

    Lembremos que a fronteira de contato no pode ser, de modoalgum, reduzida a um "lugar" geogrfico (os limites do corpo, apele, as fronteiras do eu ...), pois designa aquilo que em ummomento dado ressalta do fundo como figura e que, portanto, incessantemente mutvel. uma outra maneira de denominar aexperincia em curso. Na percepo, por exemplo, "somos sens-veis no condio do rgo (que seria a dor), mas interaono campo" (ibidem, I, 3).

    AWARENESS E FIGURA-FUNDO

    O que define a figura na awareness uma percepo, uma ima-gem, uma intuio, viva e clara. O que define a figura no com-portamento motor o movimento gracioso e enrgico, quepossui ritmo, que tem continuidade etc. (ibidem, I, 6).

    Nessa perspectiva, mais uma vez difcil dissociar o organis-mo e o ambiente como fazem, por exemplo, algumas teorias dapulso: a necessidade ou o desejo, assim como as possibilidades

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    do ambiente so incorporadas e unificadas na figura que se defi-ne. O fundo, gerador desse aparecimento, uma continuidade doorganismo e do ambiente, e o aparecimento da figura se originamais de um "id da situao", de um "dado da situao" do que deuma localizao intra-organsmica, mesmo que seja do lado doorganismo que ela poder ser experienciada.

    A awareness organizada segundo o princpio da dominn-cia, caro aos psiclogos da Gestalt. A dominncia representa atendncia de que uma tenso forte prevalea no campo e, assim,organize a awareness e o comportamento. A awareness figurasobre um fundo.

    A VOZ MDIA DA AWARENESS

    Uma das caractersticas do self teorizado por Perls e Goodmanreside em um funcionamento em voz mdia. O conceito de vozmdia emprestado da gramtica do grego antigo (Ragon, 1957,p. 56, 171-2). Essa, na verdade, possui trs vozes (ou formas): aativa, a passiva e a mdia. Quando o modo diretamente reflexi-vo, o grego antigo utilizava, na maior parte do tempo, uma formade conjugao diferente, prxima de nossa forma pronominal. Avoz mdia designa uma voz indiretamente reflexiva. Ela indicaque o sujeito tem algum interesse na ao, que o sujeito age porsi mesmo, comprometendo-se pessoalmente.

    Pode-se ver, nos poucos exemplos que se seguem, como omesmo verbo: conjugado na voz ativa e depois na voz mdia,mudar sutilmente de significado:

    ativa mdia

    pegar escolher

    guardar cuidar de

    afastar, socorrer defender-se, vingar-se

    fazer cessar cessar a prpria ao

    impor (leis) elaborar (leis)

    Robine refere-se aqui a verbos em grego antigo. (N. R.)

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    mostrar (um objeto) expor (a prpria opinio)eu anuncio (uma novidade) eu demonstro (minha cincia)

    Para simplificar, Perls e Goodman evocaram, muitas vezes, avoz mdia como "eqidistante dos extremos (nem passivo nemativo), uma imparcialidade criativa [...] O self age e ao mesmotempo sofre a ao" (Perls; Hefferline; Goodman, 1951, X, 4).

    O exemplo paradigmtico que eles utilizam freqentemente o do artista em situao de criao:

    Pela sensao vivida e de jogo com o meio como seus atos fundamen-

    tais, o artista aceita ento e usa sua reflexo crtica: e realiza esponta-

    neamente uma forma objetiva. O artista est inteiramente consciente

    do que est fazendo [...] ele no inconsciente em sua atividade, mas

    tampouco em essncia deliberada mente calculista. Sua awareness est

    numa espcie de modo intermedirio, nem ativo nem passivo, mas que

    aceita as condies, se dedica ao trabalho, e cresce no sentido da soluo.

    (ibidem, 11,8)

    Icel Latner (1992), ainda que eu no siga o conjunto de suaproposta, , certamente, quem mais contribuiu para refinar oconceito de "voz mdia" a que deu nfase em sua teoria do self,como equilbrio entre as funes id e ego.

    A AWARENESS COMO INTEGRAAO CRIATIVA

    "A awareness no uma reflexo sobre o problema, mas por simesma uma integrao criativa do problema" (Perls; Hefferline;Goodman, 1961, I, 7). Perls e Goodman insistiram na importnciade no confundir a awareness ou a Gestalt aware (isto , um conte-do estruturado) com um simples contedo, uma expresso empalavras ou em lembrana. A awareness esse conhecimento ime-diato que torna possvel a construo das relaes figura/fundo.

    Essa abordagem da awareness lhes possibilita, portanto, colo-c-la no centro do dispositivo teraputico, j que a "resposta

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    consciente no campo (como orientao e como manipulao) oinstrumento de crescimento no campo" (ibidem, 1,5). impor-tante observar que eles falam de "crescimento no campo", ou seja,

    tanto no organismo quanto no ambiente, e no adotam umaposio nem mondica nem egotista. A partir desse fato, a terapia

    ser proposta como uma situao de experimentao de aware-ness deliberada, um tipo de treinamento da awareness pela cons-cincia-consciousness, para reencontrar a capacidade de aounificada. Nesse aspecto, a awareness verdadeiramente um

    motor de cura.

    ...E A CONSCINCIA'?

    "O que se denomina 'conscincia' (consciousness) parece ser umtipo especial de ""areness, uma funo de contato em que hdificuldades ou demoras de ajustamento" (ibide111.,I, 3). "Porqlh,;,

    caso a interao na fronteira de contato seja relativamente sim

    pies, h pouca awareness, reflexo, ajustamento motor ou delibrao; mas onde a interao difcil e complicada, h uma con

    cincia intensificada. [ ...1 O retardamento - conscinciadificuldade em terminar o processo" (ibidem, Ill, 4-5).

    Esse atraso, caracterstico da conscincia, intervm esscn

    mente de duas maneiras. A primeira, j mencionada, torna Pvel que a "conscientizao" seja mais aguda a fim de rcsnl

    problema e confrontar a novidade no campo; a seguml

    possvel a retrao, o repouso, especialmente quando o prno pode ser resolvido de outro modo. Nesse ltimo ,asn,,oodman falam, com relao conscincia, de ulllil ur's\l.0\\\mcnto da energia - que preside teoria frcU(.Ii.\llI\~I.011 ;'\Il'oria da fantasia sexual em Reich, c alinn'lll\. 1\nulUlIIII. qUl' 11 sonho (: pcrfcil\\tnl'nll' cOIISlil'\lll' (

    11","",,\11" ,IW,"I'III'~~ .1i hasl.\I\llli\l\il.IlI.1 (ihidll\\. \\l,,,"III.lIIIIIII,I .Iqlli llllllll \11\\,11\l1\~,\I.11\\1\

    o SELF DESDOBRADO 81

    dora, uma funo de urgncia (emergency) que torna possvelesvaziar o excesso de energia, seja esgotando o excesso de tensoligada Gestalt inacabada, retardando sua resoluo, seja possibi-

    litando uma retrao diante da situao a ser tratada.

    EVOLUES POSTERIORES DO CONCEITO

    O conceito de awareness permeia o conjunto da obra de F. Perls.Ele j estava presente em Ego, fome e agresso (Perls, 1978), de1942; reveste-se de importncia central em alguns artigos ante-riores a Gestalt-terapia, e me parece que durante toda sua vidaPerls teceu elaboraes em torno desse conceito, a ponto de umimportante manuscrito (no-publicado) ter sido descoberto hpouco sob o ttulo de Psychopathology of Awareness [Psicopatologiad(/ (/wareness]. 3 Em seu ltimo livro, pstumo, compilado por1'.11ricia Baumgardner, Perls (1975, I, p. 15-25,11, p. 96-9) retomaI', idias bsicas a que era pessoalmente apegado no que se refere,i I1\\'1/ rcness.

    luquanto Goodman, na obra que lhes comum, insistia na1t\~!IIIintcgrativa da awareness (ver antes), Perls sempre diferen-

    \I ,\ uwarcness de si (o corpo, as emoes), a awareness do mun-(quilu que est no exterior de nossa pele) e a awareness da zonaIIIIt'.It.llia (a DMZ), que rene fantasias, fantasmas, projees,'\'1111,uihos etc. Para essas trs zonas, Perls sugeriu que se tra-

    .11111o contnuo da awareness, que consiste em uma awa-1111'.1I'lIle do fluxo, de instante a instante, que ele sempre\I 1\~1.'\1.,11emergente. Ele gostava de dizer, "Awareness is

    IliA I1"'li f"I'I/eSS tudo"], com o poder de sntese que lhe10 1111.1.11uhm , "A awareness curativa por si mesma':1"")lilll.I,,\() C0111a fsica, Perls considerava a aware-''''I 'Ii"'IIIII) \11\1dos trs "universais" ao lado da ex-

    u c ILi .11",,,"0 (

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    Retomado, entre outros, por Latner (1992, capo 3 5) em suaabordagem da awareness, Perls insistia no "vazio frtil" comocondio da awareness. Estar vazio estar aberto a todas as pos-sibilidades e permitir que o desenvolvimento da Gestalt emer-gente inclua todos os aspectos pertinentes do campo. Perls opu-nha o vazio frtil ao "vazio estril': Esse ltimo experienciadocomo o nada. Do vazio frtil qualquer coisa pode emergir, neleno h nada alm do processo. Ele representa nossa possibilidadede transformar a confuso em clareza. Esses buracos so espaospara desenvolvimentos posteriores.

    FORA DA GESTAlHERAPIA: O PONTO DE VISTA DE ROllO MAY

    Rollo May (1980, capo 6 e 7), psicanalista norte-americano deorientao existencial, contemporneo dos fundadores da Gestalt-terapia, escreveu diversos artigos a fim de estabelecer a distinoentre "consciousness" e "awareness".

    Para ele, a awareness caracteriza aquilo que se manifesta nasformas de vida diferentes da humana. Quanto mais evoludo naescala do desenvolvimento, maior o grau de liberdade, e mais essecampo permeado pelo campo da awareness. A forma distintivada awareness no ser humano a conscincia de si mesmo (auto-conscincia). Tal como o Perls tardio mencionado antes, ele con-sidera que a awareness uma caracterstica de todas as coisas danatureza, incluindo o nvel das partculas moleculares. Ele apre-senta o seguinte exemplo:

    Posso estar consciente-aware dessa escrivaninha sobre a qual escrevo,

    simplesmente tocando-a. Mas a conscincia-consciousness refere-se ao

    fato de que posso estar consciente-aware de que sou eu quem est sen

    tado a essa escrivaninha. A conscincia-consciousness est ligada con

    cepo que tenho de mim mesmo como um ser que usa uma escrivaninha,

    como algum que se debate com as idias que se esfora por tornar clar

    atravs de escrita.

    o SELF DESDOBRADO 83

    Rollo May baseia-se em um artigo famoso de Erwin Strauss4sobre ''A postura em p': um trabalho que talvez fosse conhecidopor Goodman, que exprimiu idias muito semelhantes em seucaptulo ''Antropologia da neurose':

    o animal que anda com quatro patas, como o cachorro de nossa famlia,tem incomensuravelmente e em muitos nveis uma awareness maior que

    a minha. Sua vigilncia grande distncia, graas ao seu olfato e sua

    audio, para mim uma fonte infinita de surpresa e me faz. sentir que

    ns, seres humanos, somos na verdade pobres espcimes no conjunto da

    evoluo [...] Mas quando o homem se levanta sobre as duas pernas, em

    p, para olhar, ele no percebe distncia, mas est consciente-aware de

    uma distncia entre ele e o mundo. Essa distncia, creio, est em relao

    Com a conscincia-consciousness [...] Se quisermos falar em termos de

    evoluo, podemos diz.er que a conscincia-consciousness e a capacidade

    de neg-Ia, ou seja, o inconsciente, emergem de uma conscincia-aware_

    ness indiferenciada. O inconsciente uma descrio das formas no-

    acabadas e primitivas da conscincia-consciousness [...] Certo dia, Freud

    me disse que a tarefa do analista consiste em tornar consciente o incons-

    ciente. Eu diria, no entanto, que a tarefa do terapeuta a de ajudar opaciente a transformar a awareness em consciousness.

    Acrescentemos tambm que, para Rollo May, aquilo que inconsciente est at certo ponto presente na awareness, pelo1I1('I10S potencialmente.

    ( ONCLUSO PROVISRIA

    '\0 tinal dessa investigao, que no pretende de modo algum ser~,III~liva, algumas linhas de fora podem ser percebidas. Os1l110I!',~da primeira teoria da Gestalt-terapia, em coerncia com

    11 /',11 oIdignla proposto da "natureza humana animal': colocam a/I'IIII'/I".\.\ 110Cl'1l1ro de sua abordagem. Eles enfatizam a aware-

    dl.'i\.llIdo 11111 POIlCOem segundo plano as possveis reflexespeil! I do 1'111/.\';01/\'/1/'.\,\, sl'ndo nisso, por c('rlo, fiis;) S('II 1'1'0