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INTERFERÊNCIA DO LUCRO BRUTO
IMPLÍCITO NO ESTOQUE SOBRE A
CAPACIDADE DE PAGAMENTO DE
CURTO PRAZO DAS EMPRESAS - UM
ESTUDO EXPLORATÓRIO NO SETOR
DE BENS INDUSTRIAIS
ADAIL MARCOS LIMA DA SILVA (UFCG)
Ana Karoliny Nascimento Apolinario (UFCG)
PAULO MAURICIO FONSECA VIEIRA (UFCG)
A tradicional análise de liquidez avalia a capacidade de pagamento de
curto prazo das empresas com base em uma abordagem falimentar ou
estática. Uma das explicações à compreensão da perspectiva estática
encontra-se na desconsideração do luccro bruto implícito no saldo do
estoque como um meio ao encerramento das dívidas circulantes.
Todavia, seguindo uma orientação ancorada no conceito de
prosperidade, exatamente a perspectiva dinâmica, a interferência do
lucro bruto implícito no saldo do estoque, a ser percebida quando do
cumprimento das vendas em condições normais, não pode ser
descartada da análise da capacidade de pagamento de curto prazo das
empresas, sendo esta a hipótese central do modelo de análise de
liquidez conhecido como adaptado à lucratividade do estoque. Com
base no exposto, este trabalho tem por objetivo geral analisar a
interferência do lucro bruto implícito no saldo do estoque sobre a
capacidade de pagamento de curto prazo das empresas do setor de
Bens Industriais listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. O período
considerado no desenvolvimento desta pesquisa perfaz o quinquênio
iniciado em 2006 e encerrado em 2010. Sobre a metodologia: por
optar desenvolver uma pesquisa acerca de um tema pouco abordado
na literatura contemporânea, este trabalho pode ser classificado como
exploratório, quanto ao objetivo geral; por utilizar dados de livre
acesso em sites especializados, a técnica de pesquisa mais apropriada
converge à classificação bibliográfica; à obtenção dos resultados
foram empregados tópicos relacionados ao conteúdo de estatística. Os
resultados mais relevantes apregoam: em 97,20% das observações, o
lucro bruto implícito no saldo do estoque contribuiu com o
recrudescimento do poder de liquidação das obrigações circulantes; as
interferências desfavoráveis oscilaram entre -0,10% e -1,08%,
portanto, praticamente imperceptíveis; nos casos atípicos, a
intensificação da capacidade de pagamento de curto prazo alcançou
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marcas entre 51,59% e 160,74%; a forte assimetria à direita, 3,19,
confirma a ocorrência de valores significativamente favoráveis às
empresas; apesar das observações altamente favoráveis, o coeficiente
de variação, estimado em 125,88%, indica uma distribuição não
homogêneo à interferência do lucro bruto implícito no saldo do
estoque sobre a capacidade de pagamento de curto prazo. Finalmente,
a desconsideração da margem de lucratividade intrínseca ao saldo do
estoque da análise de liquidez gera prejuízos drásticos aos conceitos
de adimplência das empresas do setor de Bens Industriais listadas na
Bolsa de Valores de São Paulo.
Palavras-chaves: Análise de liquidez, lucro bruto implícito no saldo do
estoque, interferência.
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1. Introdução
A tradicional análise de liquidez tem seu emprego direcionado à equação de questionamentos
atrelados à capacidade de as empresas liquidarem suas dívidas sob a hipótese de manifestação
da falência, ratificando a adoção de uma perspectiva estática no cumprimento do estudo do
perfil de adimplência.
Dentre as possíveis explicações dedicadas à compreensão da perspectiva estática (SILVA;
CAVALCANTI, 2004): o índice de liquidez corrente averigua a capacidade de pagamento das
empresas no curto prazo, comparando ativos e passivos circulantes; ao tratar o saldo contábil
do estoque como um meio de pagamento, justamente em virtude de o referido saldo compor o
ativo circulante, tem-se estabelecida a hipótese de a arrecadação a ser alcançada com as
vendas dá-se com base no valor do custo do produto fabricado, sugerindo a realização das
vendas sem auferir lucro, muito provavelmente em virtude de uma configuração falimentar.
Como o lucro bruto a ser auferido com a venda do estoque contribuirá com o recrudescimento
do saldo das disponibilidades, culminando no aprimoramento da liquidez das empresas, sob
uma perspectiva dinâmica, calcada na ideia de prosperidade, opondo-se de forma abrupta à
hipótese falimentar, a tradicional análise de liquidez pode subestimar a real capacidade de
pagamento de curto prazo das empresas.
Sobre um procedimento contábil capaz de identificar de forma aproximada o valor do lucro
bruto a ser alcançado com a venda do estoque (SILVA; CAVALCANTI, 2004): o saldo do
estoque indica o custo do produto fabricado; quando da venda do estoque, o valor do custo do
produto fabricado passa a ser tratado como custo do produto vendido; a divisão do lucro bruto
pelo custo do produto vendido esclarece a intensidade com a qual o primeiro consegue ser
gerado com as vendas para cada unidade monetária do segundo, sendo tratado por margem de
lucratividade do estoque; o produto entre a margem de lucratividade e o saldo contábil do
estoque consegue identificar o valor aproximado do lucro bruto ainda implícito, a ser
alcançado com o cumprimento das vendas em condições normais.
Com base no exposto, este trabalho tem por objetivo geral analisar a interferência do lucro
bruto implícito no estoque sobre a capacidade de pagamento de curto prazo das empresas do
setor de Bens Industriais listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). O período
considerado no desenvolvimento desta pesquisa perfaz o quinquênio iniciado em 2006 e
encerrado em 2010.
2. Fundamentação teórica
2.1. Análise de liquidez – modelo tradicional
Dentre os indicadores do modelo tradicional de análise de liquidez, o índice de liquidez
corrente (LC), considerado um importante medidor da capacidade de pagamento das
empresas no curto prazo, deriva do quociente entre ativo circulante (AC) e passivo circulante
(PC), fórmula 01, sendo interpretado da seguinte forma: quanto maior o valor apurado, mais
aperfeiçoada a capacidade de uma empresa liquidar suas dívidas circulantes (ASSAF NETO,
2010; GLANTZ, 2007; IUDÍCIBUS, 2009; MATARAZZO, 2010).
PC
ACLC (01)
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O indicador LC é empregado na avaliação do poder de liquidação das dívidas de curto prazo,
considerando uma suposta propensão à falência, pois, além de tratar como conversíveis em
entradas e saídas de caixa todos os integrantes do AC e do PC, respectivamente, despreza a
lucratividade inerente ao estoque como um meio de pagamento (BRASIL; BRASIL, 2005;
FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003; GLANTZ, 2007; SILVA; CAVALCANTI, 2004;
SILVA, 2010).
Sobre a hipótese da desconsideração do lucro bruto implícito no saldo do estoque como um
meio à liquidação das obrigações correntes (SILVA; CAVALCANTI, 2004): dificilmente
uma empresa em processo falimentar conseguirá auferir lucro através da realização de seu
estoque; em falência, a realização dos ativos ocorre em condições anormais; no melhor dos
cenários, a realização do saldo do estoque dar-se-á com base no preço de custo; como o saldo
do estoque pertence ao ativo de curto prazo, sendo alocado segundo o custo do produto
fabricado, o modelo tradicional de análise de liquidez considera a venda do estoque segundo
uma perspectiva estática – ou falimentar.
Apesar de a utilidade gerencial da perspectiva estática intrínseca ao indicador LC ser
questionada na literatura sob uma gama variada de enfoques, a versão tradicional da análise
de liquidez é empregada no desenvolvimento de teses (LYRA, 2008), dissertações e artigos
científicos (BRAGA; NOSSA; MARQUES, 2004; MELLO; AMARAL; MACEDO;
CORRAR, 2010; PIMENTEL; BRAGA; CASA NOVA, 2005; SANTOS; SANTOS, 2008;
TONETTO FILHO; FREGONESI, 2010), sendo, inclusive, abordada em estudos destinados à
investigação da sustentabilidade financeira das empresas (AQUEGAWA; SOUZA, 2010).
2.2. Análise de liquidez – modelo adaptado à lucratividade do estoque
No estudo da solvência por demonstrações contábeis, a análise de liquidez adaptada à
lucratividade do estoque adota um posicionamento dinâmico, fundamentado na venda do
estoque por meio de seu valor de mercado. Portanto, no processamento dos indicadores de
liquidez adaptados, o estoque deve figurar com seu valor devidamente corrigido ao lucro
bruto, a ser auferido com a realização das vendas.
O raciocínio central do modelo adaptado pode ser descrito como segue (SILVA;
CAVALCANTI, 2004):
o saldo contábil do estoque (EST), contido no balanço patrimonial, encontra-se
avaliado com base no custo do produto fabricado;
quando da efetivação das vendas, o valor do EST passa a ser contabilizado como
custo do produto vendido (CPV);
o lucro antes das despesas, dos juros e do imposto de renda (LADJIR) exprime o
resultado bruto, alcançado com a venda do EST;
o LADJIR, mesmo antes de ser conhecido, ou seja, mesmo antes das vendas,
encontra-se atrelado de forma implícita ao saldo EST;
a divisão do LADJIR pelo CPV apregoa um resultado capaz de esclarecer a
magnitude com a qual o resultado bruto, antes implícito no EST, conseguiu reproduzir o
CPV, sugerindo, por analogia, a intensidade com a qual o LADJIR implícito no saldo
atual do EST contribuirá com a geração de caixa nas empresas;
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o quociente entre o LADJIR e o CPV recebe o tratamento de margem de
lucratividade do EST (MLEST) – fórmula 02;
CPV
LADJIRMLEST (02)
por sugerir, com base no valor assumido pelo CPV, a intensidade com a qual o
LADJIR inerente ao saldo atual do EST contribuirá com a geração de caixa nas empresas,
a MLEST pode ser considerada uma variável relevante à análise da capacidade de
pagamento de curto prazo;
o produto entre o saldo atual do EST e a MLEST, fórmula 03, divulga uma
previsão à geração de caixa, a ser alcançada com o LADJIR implícito no saldo atual do
EST (LEST);
MLESTESTLEST (03)
optar por considerar os efeitos da interferência do LEST no estudo do potencial de
liquidação das dívidas circulantes pode ser considerada uma decisão prudente, devido à
contribuição auferida com o mesmo à geração de caixa;
no caso de o LEST assumir valores positivos, quando o LADJIR indicar o alcance
de resultados igualmente positivos, o lucro bruto implícito no EST corrobora com o
recrudescimento do potencial de liquidação das dívidas circulantes;
no caso de o LEST assumir valores negativos, quando o LADJIR indicar o
alcance de resultados igualmente negativos, o lucro bruto implícito no EST corrobora com
o arrefecimento do potencial de liquidação das dívidas circulantes;
assim sendo, o LEST exerce ingerência direta sobre a capacidade de pagamento de
curto prazo das empresas.
A versão adaptada à lucratividade inerente ao EST do tradicional LC, tratado na fórmula 04
como LCA, averigua a capacidade de pagamento de uma empresa no curto prazo, sob a
hipótese de o lucro bruto implícito no EST assumir a condição de variável interferente.
PC
LESTACLCA
(04)
A aplicação da fórmula 05 consegue mensurar, de forma isolada, a interferência do lucro
bruto implícito no EST sobre a capacidade de pagamento no curto prazo das empresas.
PC
LESTLCLCA (05)
Com base em uma perspectiva de causa e efeito, a fórmula 05 pode ser reescrita como sugere
a fórmula 06, onde:
LEST/PC, assume a condição de variável dependente, indicando a interferência do
lucro bruto implícito no EST sobre a capacidade de pagamento de curto prazo;
LADJIR/CPV ou MLEST, primeira variável independente, sugerindo, com base no
CPV, a intensidade de uma potencial geração de caixa, a ser alcançada com o LADJIR
implícito no saldo atual do EST;
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EST/PC, segunda variável independente, esclarecendo a representatividade assumida
pelo saldo do EST em relação ao PC.
PC
EST
CPV
LADJIR
PC
LEST (06)
3. Aspectos metodológicos
Quanto ao objetivo geral, este trabalho pode ser classificado como exploratório:
no contexto das empresas pertencentes ao setor de Bens Industriais, buscou-se
proporcionar uma visão geral sobre o fato de o lucro bruto inerente ao estoque interferir
diretamente no conceito de adimplência das empresas.
Sobre a técnica de pesquisa empregada:
os dados secundários, necessários à execução desta pesquisa, encontram-se livremente
disponibilizados em sites específicos, justificando a utilização da técnica de pesquisa
tratada como bibliográfica.
Dois critérios limitaram a 29 (vinte e nove) o número de empresas (Quadro 1):
saldo do estoque atrelado ao cumprimento das atividades fins;
disponibilidade das demonstrações contábeis consolidadas, para o período
2006/2010 (5 anos), no site www.cvm.gov.br.
As fórmulas 05 e 06 contribuem ao encerramento dos questionamentos a seguir:
como pode ser aferida a interferência do lucro bruto implícito no estoque sobre a
capacidade de pagamento de curto prazo das empresas?
como a margem de lucratividade do estoque (LADJIR/CPV) e a representatividade do
estoque ante o passivo circulante (EST/PC) se relacionam com a interferência do lucro
bruto implícito no estoque sobre o potencial de encerramento das dívidas circulantes
(LEST/PC)?
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Inspirado nas questões mencionadas, o tópico referente à apresentação e análise dos
resultados encontra-se desmembrado em duas partes:
análise da ingerência exercida pelo LEST sobre o potencial de encerramento das
dívidas circulantes – subsidiada a partir da aplicação da fórmula 05 145 vezes (5 valores
para cada uma das 29 empresas);
análise conjunta das relações da variável dependente LEST/PC com as variáveis
independentes LADJIR/CPV e EST/PC.
Sobre sumários estatísticos, Anderson, Sweeney e Williams (2011) esclarecem: “o objetivo
desses métodos é sintetizar os dados, de modo que eles possam ser facilmente entendidos e
interpretados”. Assim sendo, na construção da primeira parte da apresentação e análise dos
resultados foram aplicados sumários estatísticos, todos dedicados à sintetização dos valores
assumidos pelo quociente LES/PC (fórmulas 05 e 06):
escala de Índices-Padrão (formada por decis);
Regra dos 5 Itens e Box Plot;
medidas de posição, dispersão e forma (média, mediana, desvio padrão, coeficiente de
variação, assimetria e curtose).
Segundo Lapponi (2005), a análise de regressão visa formular uma função linear capaz de
“descrever e compreender a relação entre uma variável dependente e uma ou mais variáveis
independentes”. A partir da perspectiva sugerida por Lapponi (2005), a consecução da
segunda parte da apresentação e análise dos resultados teve como meio o emprego de um
modelo específico de regressão linear múltipla. A aplicação da análise de regressão teve como
orientação (ANDERSON; SWEENEY; WILLIAMS, 2011):
desenvolvimento de um modelo adequado à interpretação das relações da variável
dependente LEST/PC com as variáveis independentes MLEST e EST/PC, fórmula 07
(β0, β1 e β2 são os parâmetros do modelo, respectivamente indicando o coeficiente linear e
os coeficientes angulares, e ϵ, o termo de erro, é a referência à variabilidade da LEST/PC
não explicada pela suposta relação linear entre LEST/PC, MLEST e EST/PC);
PC
ESTMLEST
PC
LEST210 (07)
utilização do método dos mínimos quadrados na aferição de estimativas (b0, b1 e b2)
aos parâmetros do modelo;
definição da equação de regressão linear múltipla estimada – fórmula 08;
PC
ESTbMLESTbbprevisto
PC
LEST210 (08)
as análises do teste F e do R2 foram direcionadas à compreensão da intensidade da
relação de causa e efeito sugerida no modelo de regressão;
as análises das estimativas dos parâmetros e do teste t foram dedicadas ao
entendimento dos níveis de sensibilidade esboçados pela LEST/PC em relação aos
comportamentos da MLEST e do EST/PC.
Todos os procedimentos quantitativos foram viabilizados a partir do emprego do conjunto de
funcionalidades básicas e estatísticas do Microsoft Excel.
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4. Apresentação e análise dos resultados
4.1. Interferência do LEST na capacidade de liquidação do PC (LEST/PC)
A Figura 1 apresenta o conjunto dos Índices-Padrão atribuídos ao indicador LEST/PC. De
acordo com os resultados apurados:
os menores níveis observados, limitados ao 1º decil, sob o patamar de 1,87%,
evidenciam 4 situações, aproximadamente 2,8% do conjunto de 145 valores, onde o LEST
gerou potenciais arrefecimentos no poder de liquidação do PC (a Tabela 1 expõe os
protagonizadas pelas empresas Kepler Weber S.A., 1 vez, e West S.A., 3 vezes);
em 97,2% das ocasiões, aproximadamente 141 observações, as empresas pertencentes
ao setor de Bens Industriais conseguiram auferir valores ao LEST propícios à expansão do
LC;
a mediana, destacada no 5º decil, sugere um valor de 12,60%, alcançado pela empresa
Plascar Participações Industriais S.A., no ano de 2007;
como destaques referentes aos decis anteriores à mediana, Tabela 2, figuram Lark
Maqs, Bardella S.A., Marcopolo S.A. e Plascar S.A.;
como destaques referentes aos decis posteriores à mediana, Tabela 2, figuram Randon
S.A., Embraer S.A., Indústrias Romi S.A., Lupatech S.A. e Baumer S.A.;
a interferência do LEST sobre o LC ocorreu de forma heterogênea, pois em 30% das
observações o indicador LEST/PC teve seu valor limitado ao patamar de 7,90% (até o 3°
decil), assim como em igual frequência foram apurados valores superiores à 20,78%
(acima do 7° decil).
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A Figura 2 (Regra 5 Itens e Box Plot) favorece a identificação dos valores atípicos e a análise
das características da distribuição empírica:
segundo o limite superior, indicado no gráfico Box Plot, todos os valores situados
acima de 49,05% devem ser classificados como atípicos;
acima de 49,05%, até o ponto extremo positivo, de 160,74%, constam 12 pontos, ou
seja, os outliers formaram um conjunto equivalente a 8,28% das 145 observações;
a Tabela 3 divulga as empresas responsáveis pelos outliers, portanto, aponta as
situações onde o LEST esboçou capacidade atípica de recrudescer o poder de liquidação
do PC:
a Baumer S.A. figura na distribuição como destaque principal, pois, em quase
todos os anos, é possível perceber uma contribuição acima de 100% do LEST ao
encerramento do PC;
em apenas uma ocasião, a Forjas Taurus S.A. não conseguiu aumentar em pelo
menos 50% sua capacidade de encerrar o PC;
em três oportunidades, a Metisa Metalúrgica Timboense S.A. auferiu
contribuições acima de 50% ao potencial de liquidação do PC;
em apenas um ano, a Lupatech S.A. teve a oportunidade de recrudescer sua
capacidade de pagamento de curto prazo em mais de 60%;
os pontos extremos, 160,74% e -1,08%, divulgam uma amplitude total de 161,82%;
os quartis 3º e 1º, estimados em 23,46% e 6,40%, indicam um desvio interquartílico de
17,06%;
a relação entre a amplitude total e o desvio interquartílico traduz um elevado nível de
dispersão no contexto da distribuição em estudo;
a maior aproximação da mediana em relação ao 1º quartil, bem como a grande
distância entre o 3º quartil e o ponto extremo positivo, ratifica a compreensão de uma
distribuição intensamente assimétrica à direita.
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Tabela 3 – recrudescimento atípico do potencial de liquidação do PC pelo LEST
Contendo as principais medidas de posição, dispersão e forma, a Tabela 4 subsidia a análise
definitiva das principais características inerentes à distribuição dos valores assumidos pelo
indicador LEST/PC:
com base no coeficiente de assimetria, de 3,19, ratifica-se a forte assimetria à direita,
ou seja, no contexto das empresas pertencentes ao setor de Bens Industriais existe uma
forte tendência à ocorrência de valores atípicos positivos;
a medida de dispersão relativa, exatamente o coeficiente de variação, sob o valor
125,88%, fruto do quociente entre o desvio padrão, 25,51%, e a média, 20,26%, confirma a
existência de uma dispersão elevada;
com forte assimetria à direita e intensa dispersão, é possível concluir favoravelmente à
constatação de uma contribuição não homogênea do LEST à liquidação do PC.
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Tabela 4 – sumário de estatística descritiva do indicador LEST/PC
4.2. Relação LEST/PC x MLEST x EST/PC
A fórmula 09 apresenta a equação de regressão estimada à explicação da relação do indicador
LEST/PC, variável dependente, com os indicadores MLEST e EST/PC, variáveis
independentes.
PC
ESTMLESTprevisto
PC
LEST3,073,019,0 (09)
A Tabela 5 expõe os principais medidores estatísticos pertinentes à análise do modelo de
regressão implementado.
Tabela 5 – estatística de regressão (LEST/PC x MLEST x EST/PC)
A fórmula 9 e a Tabela 5 subsidiam o levantamento do conjunto de considerações listadas a
seguir:
de acordo com o valor ajustado do R2, as variáveis independentes MLEST e EST/PC
conseguem explicar 90% da variação apresentada pela variável dependente LEST/PC;
segundo o F observado, a variância explicada do indicador LEST/PC consegue ser
equivalente a 575 vezes o valor da variância não explicada, gerando um Valor-P de
0,0000%, abaixo do nível de significância de 1,00%, e, finalmente, ratificando a elevada
capacidade de a variável dependente ser explicada pelas variáveis independentes;
a multicolinearidade, referente à correlação observada entre MLEST e EST/PC,
estimada em 0,42, valor abaixo de 0,70, sentencia ser viável determinar o efeito distinto
das variáveis MLEST e EST/PC sobre a variável LEST/PC, ou seja, não há margem à
contestação das interpretações derivadas da análise dos resultados da aplicação do teste t
sobre as estimativas lançadas aos parâmetros;
os coeficientes de regressão positivos, 0,73, para MLEST, e 0,30, para EST/PC,
alertam sobre a relação diretamente proporcional entre as variações da LEST/PC e as
variações dos indicadores MLEST e EST/PC, todavia, é preciso salientar a maior
sensibilidade da LEST/PC em relação ao comportamento da MLEST;
os resultados da aplicação do teste t sobre os parâmetros atrelados às variáveis
MLEST e EST/PC, calculados em 23,25 e 10,32, respectivamente, confirmam a maior
significância da interferência da MLEST sobre o comportamento do indicador EST/PC –
com percentuais ao Valor-P estimados em 0,0000%, abaixo do nível de significância de
1,00%, as duas variáveis independentes assumem relações isoladas significativas em
relação à variável dependente.
Os resultados obtidos enfatizam ainda mais a importância de ser considerado o lucro bruto
intrínseco ao saldo do estoque na avaliação do perfil de adimplência das empresas do setor de
Bens Industriais, exatamente porque os coeficientes de regressão sentenciam, para o período
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considerado, a vigência de uma combinação entre giro de estoque elevado, devido à menor
sensibilidade do indicador LEST/PC ante a relação EST/PC, e margem de lucro sobre o
custo do produto vendido mais significante, dada a maior sensibilidade do indicador
LEST/PC ante a variável MLEST.
Portanto, no contexto das empresas do setor de Bens Industriais listadas na BOVESPA, a
interferência do lucro bruto implícito no saldo do estoque no poder de liquidação das dívidas
circulantes não assume uma condição aparente – situação marcada por um giro do estoque
baixo, onde o indicador LEST/PC passa a depender mais da relação EST/PC e menos da
MLEST –, sendo de fundamental importância tornar evidente sua participação no cálculo dos
principais indicadores empregados no estudo da capacidade de pagamento de curto prazo.
5. Considerações finais
Em relação ao quinquênio 2006-2010, o comportamento da interferência do lucro bruto
implícito no saldo do estoque sobre a capacidade de pagamento de curto prazo no contexto do
setor de Bens Industriais, representado nesta pesquisa pelas empresas listadas na BOVESPA,
pode ser resumido como segue:
valores negativos assumidos pela margem de lucratividade do estoque contribuíram
com o arrefecimento do poder de liquidação dos compromissos correntes em 4 ocasiões, ou
2,80% das observações, protagonizadas pelas empresas Kepler Weber S.A. e Wiest S.A.;
portanto, em 97,20% das observações as empresas desfrutaram da oportunidade de
recrudescer o poder de liquidação das dívidas circulantes, a partir do lucro bruto implícito
no saldo do estoque;
o modelo de regressão implementado sustenta uma interferência não aparente do lucro
bruto implícito no saldo do estoque sobre a capacidade de pagamento de curto prazo, pois
esta mostra-se mais sensível à variação da margem de lucratividade do estoque;
ancorado em um coeficiente de variação estimado em 125,88% (desvio padrão,
25,51%, dividido pela média, 20,26%), a influência do lucro bruto implícito no estoque
sobre a capacidade de pagamento de curto prazo assumiu um comportamento não
homogêneo, explicado, devido à maior significância, pela evolução igualmente
heterogênea da margem de lucratividade do estoque;
a desconsideração da margem de lucratividade intrínseca ao saldo do estoque da
análise de liquidez gera prejuízos drásticos aos conceitos de adimplência das empresas
Baumer S.A., Forjas Taurus S.A., Metisa Metalúrgica Timboense S.A. e Lupatech S.A.,
responsáveis por 12 observações atípicas, ou 8,28% das casos, onde o índice de liquidez
corrente passou a contar com reforços oriundos do lucro bruto implícito no estoque
estimados em 51,59% do valor das obrigações circulantes, no mínimo, até o nível máximo
de 160,74%.
Suscintamente, Brasil e Brasil (2005) esclarecem a importância da perspectiva dinâmica aos
fornecedores e às instituições financeiras no estudo da capacidade de pagamento de curto
prazo: “[...] é melhor ter um cliente vivo do que seu espólio, de valor sempre problemático”.
O ponto de vista de Brasil e Brasil (2005) alcança relevância ampliada no âmbito do setor de
Bens Industriais, pois a margem de lucratividade intrínseca ao estoque exerce influência
significativa na capacidade de pagamento de curto prazo das empresas.
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O emprego do modelo de análise de liquidez adaptado à lucratividade do estoque em outros
setores de atividade pode contribuir com a expansão do conhecimento concernente ao
comportamento da influência do lucro bruto implícito no saldo do estoque sobre a capacidade
de pagamento de curto prazo das empresas, representando a principal sugestão deste trabalho
ao desenvolvimento de novas pesquisas.
Referências
ANDERSON, D. R.; SWEENEY, D. J. & WILLIAMS, T. A. Estatística aplicada a administração economia.
São Paulo: Cengage Learning, 2011.
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