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Com ele, mais do que nunca, as aparências enganam

Com seus 185 centímetros de altura ,47 anos, tórax protuberante, braços lon-gos (o que lhe permite uma razoável en-vergadura) e invejável jogo de cintur aapesar do atual excesso de peso, o demoli -dor de candidatos não perdeu uma atéagora . Invicto no ringue da política, ele jáenfrentou vários, indiferente ao tamanho,peso ou categoria de cada um : candidatoseleitorais (sua preferência), a caciquespartidários, a burocratas de carreira, can-didatos a manchete de jornal ou a simplesdemagogos. O golpe decisivo não mudanunca, já que agora não foi preciso maisdo que a notícia direta, seca, curta, gros-sa, apartidária, honesta, desinteressada eobjetiva para prostrar na Iona do descré-dito quem se aventurou a desafiar a ban-deira do jornalismo independente que eleabraçou há 14 anos e, pelo visto, ndo vai

desabraçar nunca .Boris Casoy é seu nome e seu apareci-

mento deve-se à unido de um casal dejudeus russos, Isaac e Raiza, que imigra-ram para o Brasil em 28 e o concebera mem 40. Assim, Boris veio à luz em feverei-ro de 41 e pouco depois foi condenadopor uma cruel poliomielite, que o impediude andar até os 9 anos . Venceu-a espeta-cularmente, da mesma forma que ndo s eabateu com o empobrecimento repentin odo pai . Forçado a trabalhar prematura -mente aos 15 anos, tentou e conseguiu,imagine!, uma vaga de locutor na antigaRádio Piratininga, levado por uma inex-plicável devoção ao veiculo . Passou pormuitos deles, foi assessor de imprensa desecretário de Estado, prefeito e ministro ,até que o destino o apresentou num dia de71 ao sr. Otávio Frias, capo do Grupo Fo-

lhas . O empresário literalmente se encan-tou . Três anos depois, lá estava Boris co-mo editor de Política do matutino, se mnunca ter trabalhado em jornal antes . Fo ieditor-chefe, editor-responsável, cansou,parou, voltou e hoje é editor do Painel, acoluna política mais lida de Sao Paulo, eum dos principais repórteres politicos doPais. Entrevistá-lo, junto com Manoe lCanabarro e Paulo Markun, foi um agra-dável exercício dialético . Ele assimila mui-to bem qualquer provocação, e procur amaliciosamente o clinch verbal quando sesente acuado, para, em seguida, deixargrogue o interlocutor com rápidas e con-tundentes opinióes, a característica maismarcante de seu estilo .

DANTE MATTIUSSI

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Imprensa - Em 1985, no debate d aTV Globo com os candidatos a pre-feito de São Paulo, você fez uma per -gunta ao candidato do PT, EduardoSuplicy, e uma outra ao candidato d oPMDB, Fernando Henrique Cardo-so, então favorito nas pesquisas, quecausaram enorme repercussão e aba-laram definitivamente a candidatur adeles . Nós gostaríamos de começaressa entrevista com as mesmas per-guntas : Quanto custa um pãozinho ?Você acredita em Deus ?

Boris - Eu acredito em Deus. E nãosei quanto custa um pãozinho. Tam-bém não bato no peito dizendo quesou um representante da periferia eque eu conheço profundamente o sproblemas do povo . Não soudemagogo .

Imprensa - Até que ponto, com es-sa história do pãozinho e de Deus, re-citada em todas as ocasiões nas quai sse fala do resultado eleitoral daquelaeleição, você acha que agiu correta -mente ao fazer aquelas perguntas ?

Boris - Não sei se agi corretamente .Tenho certeza absoluta de que ag ijornalisticamente . A pergunta deDeus tinha dois fundamentos, produ-to de duas vertentes : uma era, de cer-ta maneira, perscrutar a posição ideo-lógica do Fernando Henrique, que naminha opinião escamoteava durante acampanha. Ele não se definia ideolo-gicamente com clareza . Outra eramas acusações que vinham de setores li -gados ao candidato Jânio Quadros ,de que Fernando Henrique era ateu ecomunista . Acho que era uma per-gunta esclarecedora . Não sabia que i adar no que deu . Era uma pergunt aimportante, embora fora do spadrões . Não acho que atingiu a inti-midade dele, mas apenas o campo dascrenças e do pensamento . Há dias, arevista francesa Le Point fez a mesmapergunta ao Chirac e ao Mitterrand .

Imprensa - Você conseguiu as res-postas que queria com aquelas per-guntas, isto é, você conseguiu o perfi lideológico do Fernando Henrique ?

Boris - Não, ele não respondeu. Elese perdeu . A resposta não daria o per -fil ideológico completo, apenas u mpequeno traço . Mas importante noBrasil . . .

Imprensa - Como você se defin eideologicamente ?

Boris - E difícil definir alguémcom precisão. Me considero um libe-

As perguntas"Minhas perguntas estãomais para o bar d aesquina do que para aAcademia ou o Cebrap . "

ral . Dizem que sou de direita, masnão me considero um homem de direi-ta . Não me identifico com os clichêsda direita, nem em nível internacio-nal . Longe disso . Acredito na iniciati -va privada, sou contra a socializaçãodos meios de produção . Sou pela liberdade total do ser humano, pela liberdade de expressão e contra a cen-sura. Não gosto do radicalismo da di-reita . E não gosto do radicalismo d eesquerda. Muitas vezes sou identifica-do com a direita porque tive uma vid ade política estudantil vista como d edireita e que me marcou muito . Masos fatos, a minha vida profissionalconfirmam que sou liberal . Eu meconsidero um liberal .

Imprensa - Você foi convidado aassumir a editoria de Política na Fo-lha de S . Paulo em 1974, trazendo co -mo experiência apenas o fato de tersido repórter e locutor de rádio e as-sessor de Imprensa . Você se conside-rava preparado para o cargo?

Boris - Quando fui convidado par aeditor de política, sim; quando foi pa-ra editor-chefe, tenho dúvidas .

Imprensa - Como foi sua experiên -cia ao assumir pela primeira vez ocargo de editor-chefe da Folha de S .Paulo?

Boris - Ser editor-chefe de um jor-nal como a Folha é ser administradordo caos . Eu não estava psicologica-mente preparado para isso . Eu queriaas coisas muito certas, funcionandomuito rápido e com seres humano ssofisticados, como são os bons jorna-

Paine l

O jornalismo"Jornalismo éinformação. Eu não façojornalismo paramudar a sociedade . "

A justiça"Eu procuro me comporta rseguindo uma cois aque não existechamada justiça."

listas . Mas havia um grau acentuad ode neurose, e não era possível . As coi -sas que eu tinha na cabeça eram mui -to maiores . E comecei a ter proble-mas de estafa . Aí eu saí . Não agüen-tei . Saí do cargo e do jornal e fique iseis meses como diretor da Escola d eComunicação da FAAP (Faculdad eArmando Alvares Penteado) . Até se rconvidado para voltar .

Imprensa - Como era o seu relacio-namento com o Claudio Abramo, ex -diretor da Folha de S. Paulo, já fale -cido, uma vez que vocês pensavamabsolutamente diferente ?

Boris - Nós pensávamos absoluta-mente igual na concepção do jornal .Era um relacionamento fraternal .Tanto que nós nunca brigamos . Agente se dava bem, embora ideologi-camente opostos . Havia identifi-cações de caráter . Pelo menos, ele di-zia isso .

Imprensa - Como você analisa oafastamento do Claudio Abramo d adireção da Folha de S. Paulo, em1977 ?

Boris - Não vou falar do afasta -mento do Claudio, vou falar da parteque eu vi . Eu estava de férias em Ara -xá, quando recebi um telefonema .Era o Otávio Frias, o pai : "Boris, euestou tendo alguns problemas e gosta-ria de conversar com você . Dá paravocê vir com certa rapidez?" . Eramcinco horas da tarde, mais ou menos .Eu disse tudo bem, eu janto, pego omeu carro e vou. Lá pelas nove damanhã de amanhã eu estou aí . Mas

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ele disse não : "Estou mandando umavião". Aí concluí que o negócio eratotalmente grave . Cheguei na Folhaàs oito e pouco da noite . Entrei na sa -la do Frias . Ele, o Claudio Abramo, oRuy Lopes, o Alberto Dines estavamlá, com umas caras muito particula-res . Assim que entrei, o Frias me pu-xou para uma sala ao lado e disse :"Olha, eu fui ameaçado, o jornal estácorrendo um perigo muito grande,nós vamos fazer modificações e eugostaria que você assumisse o carg ode editor-chefe temporariamente .Salva o jornal . Você precisa assumir ,eu te peço" . Eu fiquei perplexo . Edisse : "Olha, se você precisa, eu acei -to, mas antes quero conversar com oClaudio" . Aí o Frias me contou querecebeu uma ameaça grave do generalHugo de Abreu, então chefe da CasaMilitar, um telefonema violento, esoube através de pessoas amigas qu ehavia se desencadeado no govern oum processo que visava de algum amaneira comprometer ou punir o jor-nal . E o Frias se sentia em risco . Ele ea família dele . Eu fiquei muito emo-cionado . Fui conversar com o Clau-dio, e ele disse: "Olha, meu caro, as-suma. Você tem que assumir" . Aí ,aceitei .

Imprensa - Gostaria que você expli-casse com detalhes o motivo dessa cri -se governo-Folha de S. Paulo .

Boris - O caso todo foi deflagrad opor causa de uma crônica do Louren-ço Diaféria publicada na Semana daPátria . Uma coluna ingênua, que elemostrou antes para várias pessoas n aredação. Reportava-se à notícia deum sargento do Exército que havia s eatirado em um poço de ariranhas noZoológico de Brasília, para salvar u mmenino que havia caído lá . O Diafé-ria fazia uma comparação entre a es-tátua do Duque de Caxias, que ficana praça Princesa Isabel, aqui em Sã oPaulo, e o sargento, dizendo que a es-pada da estátua estava "enferrujad ano coração do povo", que mijava ao spés da estátua, que não tinha mai srespeito pela estátua . Quando a colu-na foi publicada, o general Silvio Fro-ta, então ministro do Exército, achouo texto ofensivo, decretou a prisão d oLourenço Diaféria e causou toda acrise . Na verdade, o general Frota eracandidato à Presidência da Repúblicae estava interessado na conturbação .Então, o Silvio Frota desencadeo uuma tempestade e faturou a defesa d ahonra do Exército .

Imprensa - Você acha que a colun aera ofensiva ao Exército ?

Bons - Não. Absolutamente não .

Sarney (I)"Eu acho o Sarney umdemocrata consciente .E essa justiça não lhetem sido feita . "

Imprensa - Você publicaria a mes-ma coluna hoje?

Boris - Tranqüilamente . Não é na -da ofensiva . Bem, no dia seguinte àprisão do Diaféria, a Folha publicouo espaço da coluna em branco, e aíhouve o telefonema do Hugo d eAbreu para o Frias . . .

Imprensa - O que levou o Frias aescolher você para tomar conta dojornal, ou seja, a achar que, você nadireção, a Folha de S. Paulo estariasegura?

Bons - Essa é a pergunta que voc êtem que fazer ao Frias . Mas eu achoque o Frias sabia que eu era um ho-mem com bom relacionamento em to -das as áreas, coisa que o Claudio nã otinha, nem na área militar nem na go -vernamental . Não fui sua primeir aopção. Ele pensou no AlexandreGambirásio, que não pôde assumi rpor ser brasileiro naturalizado .

Imprensa - Qual era a opinião d oClaudio Abramo sobre este episódio?

Boris - O Cláudio achava que hou-ve um complô do regime militar paraderrubá-lo . Ele morreu pensando is-so .

Imprensa - Faça uma comparaçãoentre a redação da Folha de S . Paulodaquele tempo, composta de grandese experientes jornalistas, e a Folha dehoje, composta na maioria por jorna-listas jovens .

Boris - Eu não posso fazer umacomparação porque a comparação é

Sarney (II)"O que falta ao president eé ousadia. De vez emquando dar um socona mesa. . . "

Sarney (III)"Sempre que eu ligo oSarney atende . Ele sabeque quando euligo é porque é sério . "

cruel . O fato é que a redação de hojeé do Otávio (Otávio Frias Filho) . Édiferente . Ele investiu em gente quetem potencial de evolução . Gente no-va, sem vícios . Se a idéia der cert ocom essa juventude, potencialmentemuito interessante, eles serão muit oprovavelmente melhores do que noss ageração. Eu acredito que dê certo . Oproblema hoje é a inexperiência . Maseles vestem a camisa da Folha muitomais .

Imprensa - A Folha de S. Paulo éum jornal melhor do que O Estado deS. Paulo?

Boris - É um jornal melhor .

Imprensa - Por quê?Boris - Porque a Folha tem subido

muito e o Estado tem caído . Eu achoque a Folha é mais moderna . A Folhatem algumas virtudes em relação a oEstado muito fortes, por ser um jor-nal mais aberto, que admite outra sopiniões . Eu respeito o Estado, ele éum grande jornal, mas neste instant ea Folha é melhor . Tanto melhor que oEstado está trocando de direção, estámexendo no jornal . O problema é qu eo Estado não ousa, o jornal não ousagraficamente, não ousa na reporta-gem . Ele se acomodou no topo da li -derança. Manteve o mesmo jornal . Omundo mudou, e o Estado não mu -dou . Não mudou graficamente, asmatérias são muito vinculadas à parteeditorial .

Imprensa -'Qual a comparação qu evocê faz entre o Otávio Frias pai e ofilho?

Paine l

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Boris - São muito inteligentes . Sãoduas inteligências fora do comum ,absolutamente fora do comum . Umainteligência voltada para o empreen-dimento, que é a do pai . Um homemcorajoso, criativo e ousado . E outravoltada para o intelecto.

Imprensa - Qual dos dois é mai sjornalista ?

Boris - Claro que é o Otávio pai ,embora ele negue que seja . Ele é e nãosabe . O pai é muito mais jornalista . Eo melhor jornalista que eu conheço .Ele acopla sua visão jornalística à d eempresário . Um empresário corajos oe ousado . O Frias é um homem de 7 6anos que se renova diariamente .

Imprensa - O Otávio filho seria u mtipo de jornalista mais . . .

Boris - Ele, acima de jornalista, éintelectual . Mas é um grande jornalis-ta . Vive na Folha desde criança ; Aos15 anos já escrevia editoriais . E umprofissional brilhante .

Imprensa - Você foi assessor d eprefeito, de ministro . Você chegou asubornar algum jornalista ?

Boris - Nunca . Nunca subornei .

Imprensa - Mas você teve conheci -mento de casos de suborno a jornalis-tas . . .

Boris - Tive . Mas já como editor-responsável da Folha e não como as-sessor . Não adianta perguntar, poi snão vou citar nomes . O que gostari ade dizer é que condeno um tipo decomportamento como, por exemplo ,o do jornalista político que é funcio-nário público. Isso eu não chamari ade corrupção, eu chamaria de um jor-nalista não-correto .

Imprensa - Você já recebeu algumatentativa de suborno?

Boris - Já, quando era assessor doprefeito Figueiredo Ferraz . Comojornalista da Folha, nunca. Foramduas vezes : a primeira, de um empre-sário que veio pedir que eu fiscalizas -se junto com o prefeito uma concor-rência pública . Só que, na hora de s edespedir, ele me chamou de lado edisse : "Os seus 1 0 07o estão garantido sse eu ganhar" . A outra foi de um di-retor de um órgão de imprensa queprecisava vender propaganda e fico umuito admirado quando eu recusei .Disse que eu era "careta" . Acho quesou "careta" mesmo .

Imprensa - Você acredita nos polí-ticos ?

Boris - Em alguns, eu tento . Gostode crer, mas desconfio muito . Tenhouma grande desconfiança . Então, pri -

Os telefones"Tenho duas cadernetascompletas com o stelefones de quasetodos os políticos . "

meiro suspeito de todos . Depois, co-meço a procurar virtudes .

Imprensa - Você recebe telefone-mas de políticos querendo usá-lo ouusar a sua coluna para mandar algumtipo de recado ?

Boris - Recebo . Muita gente . Hávários tipos de informantes do "Pai-nel" : o sujeito que quer passar coisasdele e, porque é esperto, passa a dosoutros também, porque ele acha qu eganha a minha graça transmitind ooutras informações ; o informantecompulsivo, que você não sabe po rque ele passa informações ; o funcio-nário público que passa tudo, um tipoque é muito comum ; o anônimo, quedeve sentir um prazer imenso em ve ro chefe dele, corrupto, se arrebenta rno jornal . Eu tenho um informante ,por exemplo, na área da Justiça, umapessoa muito distinta, que me telefo-na sempre e que eu não sei quem é,mas que me dá informações muitoprecisas . Até hoje todas foram verda-deiras . Isso porque eu checo tudo.Tenho muito medo de ser usado . Es-tabeleci um método que é o seguinte :quando o sujeito me usa com umamentira, denuncio a fonte, deixo delado o compromisso com a preserva-ção de fonte .

Imprensa - Como você se relacionacom os políticos?

Boris - Mantenho uma distância euma proximidade respeitosa dos polí -ticos . Não me dou a intimidades . Euacho que a promiscuidade entre o jor-nalista e o político é danosa para o

A precisão"Eu sei quanto a Imprensapode estigmatizar alguém.Eu senti isso na carne .E não esqueço .

leitor . Por exemplo: Brasília, que éuma cidade pequena, tem muito dis-so . E perigosa a aproximação .

Imprensa - Qual é o político quevocê admira ?

Boris - Todos! . . . Falando sério :hoje em dia não tenho grandes admi-rações . Eu tenho grandes interro-gações .

Imprensa - Qual a sua impressã osobre o doutor Ulysses Guimarães?

Boris - Um grande político, u mgrande articulador, um esplêndid onegociador, um homem inteligente . OPaís deve a ele parte de seu avanç opolítico . Mas ele não resiste a uma fi-siologiazinha . Ele tem um lado antigodo PSD do qual ele não conseguiu s elibertar . E essa coisa do PSD, que é apequena nomeação, o pequeno apa-drinhamento, a conciliação perma-nente. Se o doutor Ulysses ainda con -seguir superar isso, será muito bo mpara o País . Eu não posso pedir paraas pessoas serem perfeitas .

Imprensa - O Antônio Carlos Ma-galhães?

Boris - Um político da antiga Ba-hia : cruel e eficiente . Um bom opera-dor . Faz misérias na Constituinte . E o"carcereiro moral" da Nova Repúbli-ca .

Imprensa - Qual é o político mo-derno da Nova República ?

Boris - Muitos. Posso citar o AfifDomingos, o José Serra, o Almi rPazzianotto, o Lula, o presidente d aUDR, Ronaldo Caiado, o José Ge -

Os políticos"O político mais difíci lde me atender é odoutor Ulysses . Atéo Brizola me atende . "

Painel

IMPRENSA - MAIO DE 198 8.99

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noíno, Fernando Henrique, CláudioLembo, Setúbal, Antonio Ermírio ,todos com virtudes e defeitos .

Imprensa - Em qual ministro vocêencontra mais dificuldades para tirarinformações ?

Boris - Ulysses Guimarães. Não éministro . E superministro . E a"prima-dona" da República .

Imprensa - Você acredita que Ores-tes Quércia vai se tornar presidenteda República?

Boris - Eu acho que nós corremos orisco .

Imprensa - Qual a sua opinião so-bre ele ?

Boris - Um político extremament eesperto, corajoso, prático, não a ogosto dos intelectuais . Competente .Até tenho surpresas administrativasagradáveis com ele . Não é um políticoque faz política moderna, usa méto-dos antigos. Mas está dando certo .Ele consegue reunir apoios importan-tes . Falando sério : nesse momento éum forte candidato a presidente, tra-balha 24 horas para isso .

Imprensa - E o Jânio Quadros ?Boris - O Jânio é um político anti -

go, candidato à Presidência da Repú-blica que rema de costas para o obje-tivo . Um populista de direita, como oBrizola é um populista da esquerda .Um grande ator, sabe que está inter-pretando e morre de rir de todos nós .Neste País ele é a única pessoa que es-tá exercendo mesmo a autoridade, eele sabe disso . E a grande vantagemdele: tem a noção do poder e de auto-ridade. Exerce a autoridade . As pes-soas acham que ser democrata é dei-xar as coisas à vontade, ao deus-dará ,muitas pessoas pensam que a demo-cracia só nos dá direitos . E não impli-ca deveres. O Jânio procura mostrarque ele é autoritário . Realmente, nóscorremos o risco de ele aparecer par aesse monte de desabrigados como a sal-vação .Ele é a imagem de um pai, quetem autoridade, que acaricia e pune .E o que uma sociedade burramentehierarquizada como a nossa semprequer .

Imprensa - Você disse que tem umcaso interessante para contar sobreele . . .

Boris - É, eu fiquei sozinho com elee disse : "Presidente, isso de o senho rtoda hora empregar a expressão"chefe da Nação" quando se refereao Sarney é uma coisa estranha . Sar-ney não é chefe de Nação, é o chefede governo, chefe do Estado . Chefeda Nação é uma coisa fascista, auto-

A incompetência"Quem é atingido pelaImprensa acha que o problemaé ideológico . Mas normalmenteé incompetência . "

tária, uma coisa dos tempos de Getú-lio' . E o Jânio me perguntou : "Poracaso o jornalista Casoy vê algum acoisa de autoritário em mim?" Eu ve-jo, respondi . E ele completou : "Poisacertou" .

Imprensa - Por que você tem certe-za que Jânio Quadros é candidato àPresidência da República?

Boris - Porque ele se comporta co -mo candidato à Presidência da Repú-blica, à maneira dele: remando d ecostas para o objetivo . E só analisaros sinais que vêm de sua assessoria .Se não der, se não houver espaço, el enão será candidato . Mas o quadroatual, com essa grande ascensão d oBrizola, que é um populista de es-querda, é favorável ao Jânio, pois po-de indicar, para um determinado gru-po da sociedade que tem horror aoBrizola, que ele é um homem que, co -mo populista de direita, pode enfren-tar o doutor Brizola .

Imprensa - O que você tem contraBrizola ?

Boris - Eu não votaria no Brizola .Mas ele sempre tem todo o espaç opossível, normal, comigo na Folha .Eu, pessoalmente, simplesmente nã ovotaria no Brizola, mas nunca o dis-criminei . Não concordo com os méto-dos dele . É um populista . E o popu-lismo só leva o País ao passado .

Imprensa - Qual sua opinião sobr eos atuais partidos políticos brasilei-ros?

Boris - Acho que não são democrá-

A coluna (I)"Eu não faço o Paine lsozinho. O Emanuel Neryé meu auxiliar e todaa redação ajuda . "

"A alma do Painel emBrasilia é o Leleco (Harold oCerqueira Lima), meu irmãogêmeo de pensamento . "

ticos porque não existe democraciainterna nos partidos . Em cada parti -do há um cacique . Há um cacique e mRibeirão Preto, um em São Paulo etc .E o cacique que escolhe os candidatosa vereador na Capital ; outro, os can-didatos a deputado. E ninguém chia .Quem são os delegados dos grande spartidos? A Folha mostrou : são ge-ralmente funcionários públicos, quedependem do cacique . Isso aconteci ano PDS, acontece agora no PMDB .Um dos problemas graves deste nossosistema que eu nem sei se pode se rchamado de democracia é a questãoda democracia partidária . Não existe .E democracia partidária é tabu . Nin-guém quer falar sobre ela .

Imprensa - Você tem habilidade emimitar vozes de muitas pessoas, prin-cipalmente políticos . Você já enga-nou muita gente ao telefone imitandovozes de políticos famosos, não é ?

Boris - Eu sou uma pessoa que nãoafoga mágoas no álcool . Afogo mi-nhas mágoas brincando e fico conten -te de transmitir alegria e receber ale-gria dos outros . Me divirto, me consi -dero extrovertido e, às vezes, me se-guro para me comportar . As vezes ,faço uma frase de efeito e acabo per-dendo uma amizade. Não resisto .Mas eu descobri uma nova função -não vou entrar em detalhes - da mi-nha qualidade de imitador : é profis-sional, é jornalística . . . Eu não dig oque enganei muita gente com minha simitações . Mas já conversei com gen -te grande, imitando políticos, e trou-xe bons resultados . . .

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