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Bomfim, Suzete Santos.A Moradia do Operário no Brasil – O Caso da Vila Santa Cruz, Estância/SE / Suzete Santos Bomfim – Brasília: UnB/ 2007.Numero de páginas .:il (280)Orientador: Andrey Rosenthal SchleeDissertação (mestrado) – Universidade de Brasília, Faculdade deArquitetura e Urbanismo, Programa de Pesquisa e Pós-Graduação emArquitetura e Urbanismo, 2007.Bibliografia: f. (267-277)1. Arquitetura. 2. Arquitetura Industrial. 3. Vilas Operárias. 4. Sergipe. 5. Brasília (DF) - Dissertação. I. Schlee, Andrey Rosenthal. II. Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. III. Título.

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A Jeová Deus, o Arquiteto Maior, criador de todas as coisas.À minha família: Antônio Meneses Bomfim e Suzi Bomfim, meus amados pais, responsáveis por meu apreço pelos estudos, e por me

ensinarem constantemente com suas ações como me tornar uma pessoa melhor. Aos meus irmãos, Plínio e Sueane,

pelo amor e incentivo constante. E ao meu companheiro de todas as horas, meu porto seguro,

o maior incentivador dos meus sonhos, Marcos Vinícius.

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“Era Ele que erguia casasOnde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asasEle subia com as casas

Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia, por exemplo

Que a casa de um homem é um temploUm templo sem religião

Como tampouco sabiaQue a casa que ele fazia

Sendo a sua liberdadeEra a sua escravidão(...)

(...)E um grande silêncio fez-seDentro do seu coração

Um silêncio de martíriosUm silêncio de prisão.

Um silêncio povoadoDe pedidos de perdão

Um silêncio apavoradoCom o medo em solidão.Um silêncio de torturas

E gritos de maldiçãoUm silêncio de fraturas

A se arrastarem no chão.E o operário ouviu a vozDe todos os seus irmãos

Os seus irmãos que morreramPor outros que viverão.Uma esperança sinceraCresceu no seu coração

E dentro da tarde mansaAgigantou-se a razão

De um homem pobre e esquecidoRazão porém que fizeraEm operário construído

O operário em construção.”

Vinícius de Moraes

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Ao professor Andrey Rosenthal Schlee, um orientador tão atencioso. Pela paixão dedicada à pesquisa da História da Arquitetura, pela amizade e bom humor característicos, tornando nossos encontros acadêmicos algo prazeroso.

À generosidade da sua esposa, Zíndia, pela paciência com as visitas inesperadas dos seus orientandos.

À Fau-UnB, pelo apoio à pesquisa científica, e a todos seus funcionários, sempre atencio-sos e dispostos a ajudar.

Aos companheiros de mestrado, pelo contínuo debate sobre Arquitetura.

À amiga Aline Figueiró, pelo carinho constante. Sem dúvida, um dos melhores benefícios que a Unb me proporcionou: a sua amizade.

À amizade e apoio dos queridos amigos Café e Cláudio Bull, companhia sempre anima-dora.

Aos amigos: Henrique, Gustavo e Michelli, pela generosidade em se oferecer para ajudar no desenvolvimento desde trabalho, por digitar, escanear... enfim, por aturar meu stress.

Aos meus amigos-irmãos, Bruno Sellani e Cristiano Bernardes, que tornaram minha vida em Brasília mais agradável e divertida, pelo apoio incondicional, por suportar meus papos de arquiteta até nas férias de verão, em praias nordestinas.

Aos meus amigos sergipanos que mesmo à distância, torcem por mim sempre. Amanda, William, Wesley, Gilvam e Ézio. Companheiros que transpuseram o período de graduação e se tornaram amigos pra toda a vida.

À Flávia Rochet, minha vizinha-amiga, que, com disponibilidade providencial, se ofereceu generosamente para diagramar esse trabalho num prazo tão curto.

À arquiteta Doutora Telma Correia Barros, pela atenção e material enviado. Suas pesquisas foram contribuições valiosas.

À professora Vera Lúcia França, por escrever sobre a História de Sergipe e pelo interesse em ajudar nessa pesquisa.

A todos aqueles que ajudam a construir o conhecimento sobre o Patrimônio Arquitetônico Brasileiro.

Agrad

ecimentos

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Este trabalho tem por objetivo compreender as questões relativas à construção de vilas operárias e núcleos fabris no Brasil. Para tanto utilizamos o estudo de caso da Vila Operária Santa Cruz, situada na cidade de Estância, litoral sul do estado de Sergipe. Analisou-se o período de 1891 a 1950, fase do seu surgimento e crescimento, que foi marcada pela implantação e consolidação do bairro como local de moradia dos seus operári-os. Foi necessária a revisão do referencial teórico e historiográ-fico, abrangendo o surgimento da classe operária e a situação em que ela se encontrava na Europa, e, posteriormente, ressaltando sua ligação com a história da industrialização no Brasil. Assim, foi possível compreender as peculiaridades que diferenciaram o processo de implantação industrial no Nordeste do restante do Brasil, principalmente da pioneira região Sudeste. Para comple-tar o entendimento da Vila Operária Santa Cruz, os espaços fo-ram estudados e caracterizados arquitetonicamente em forma de inventário, dando uma visão geral da Vila, mostrando seu valor histórico, e atentando para sua preservação.

Palavras-chave: Arquitetura – Arquitetura Industrial – Patrimônio – Sergipe.

Resumo

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This work has the objective to understand questions re-taled to the construction of working villages and manufactur-ing nucleus in Brazil. So we used the Laboring Village Santa Cruz’s study as a case, situated in the Estância city, south coast of Sergipe state, between 1891 and 1950, period of its raising and growth, marked with the beginnning of the consolidation of that city as a place where its workers started to live. The revi-sion of the theoretical and graphic-historic referencial was neces-sary, enclosing the emergence of working class and its situation in Europe, and, later, standing out its linking with the history of industrialisation in Brazil. Then, it was possible to understand the peculiarities which differentiated the north-eastern indus-trial process implantation of the remain of Brazil, espeacially the Southeast region, the pioneer. Concluding the understanding of the Laboring Village Santa Cruz, the region was studied and ar-chitecturally characterised as an inventory, giving a general view of the whole village and being able to show its historical value for the preservation of it.

Key-words: Architecture – Architecture Industrial - Patrimony - Sergipe

Abstract

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11 Dedicatória

13 Epígrafe

15 Agradecimentos

16 Resumo

17 Abstract

19 Sumário

21 Introdução

Capítulo 1

29 Genealogia das Vilas Operárias

31 1.1- A Gênese da Vila Operária

61 1.2- A Gênese da Vila Operária no Brasil

Capítulo 2

73 A Arquitetura das Vilas Operárias

74 2.1- A Vila Operária, Aspectos Urbanos e Arquitetônicos

87 2.2- Modos de Morar

92 2.3- Nomenclatura para definir os conceitos de habitação para o trabalhador

95 2.4- Nomenclatura para definir os tipos de cortiço

100 2.5- Nomenclatura para definir a habitação operária

102 2.6- Nomenclatura para definir os tipos na habitação operária

104 2.7- Os tipos na habitação operária pelo Brasil

Índice

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Capítulo 3

117 Um olhar sobre o contexto regional

119 3.1 - O contexto da República Velha no Brasil

122 3.2 - O Caso do Nordeste

133 3.3 - Núcleo fabril de Pedra, Alagoas

148 3.4 - Núcleo fabril de Paulista, Pernambuco

Capítulo 4

159 O caso de Sergipe

161 4.1 - Contextualização Histórica e Sociocultural

171 4.2 - A cidade de Estância

Capítulo 5

175 O Bairro Operário Santa Cruz

177 5.1 - Uma cidade dentro da própria cidade

201 5.2 - História e Arquitetura como documentos - Acervo

257 Conclusão

267 Bibliografia

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As transformações ocorridas nas cidades, observadas e analisadas a partir do advento da Revolução Industrial, per-mitem visualizar uma relação significativa entre as migrações ur-banas, os fenômenos de crescimento urbano-industrial e a partici-pação tanto do Estado quanto do capital privado na tentativa de criar soluções para o problema da habitação popular. Nos países europeus, principalmente na Inglaterra, foi notória a correspon-dência entre a consolidação do processo de industrialização e o crescimento dos centros urbanos. A evolução tecnológica, a procura de novas fontes de ener-gia e a demanda de mão-de-obra levaram os estabelecimentos fabris a se deslocarem do meio rural para as cidades. Fascinados pelas oportunidades de emprego oferecidas pelo sistema fabril, os trabalhadores do campo migraram para as cidades, provocan-do o aumento demográfico desses aglomerados urbanos e con-tribuindo para a formação de uma nova classe social: o proletaria-do. Em um primeiro momento, esse novo contingente popu-lacional buscou abrigo em locais caracterizados pelas péssimas condições de higiene, acarretando, então, a disseminação de várias doenças. Estes problemas não afetaram apenas a classe operária, mas passaram a representar uma ameaça à saúde de toda a população de tais centros urbanos. A situação motivou uma série de intervenções por parte do poder público. Inicial-mente a atitude dos órgãos oficiais foi o combate às epidemias e a dotação de infra-estrutura básica e de equipamentos urbanos nos bairros mais carentes. Só mais tarde o Estado formulou pro-postas de habitação para operários. Problema que se perpetua até hoje:

“A sociedade industrial é urbana. A cidade é horizonte. Ela produz as metrópoles, conurbações, cidades industriais, grandes conjuntos habitacionais. No entanto, fracassa na ordenação desses locais. A sociedade industrial tem espe-cialistas em planejamento urbano. No entanto, as criações do urbanismo são em toda parte, assim que aparecem, con-

Introdu

ção

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testadas, questionadas. (...) Quisemos procurar a signifi-cação em si dos fatos, colocar em evidência as razões dos erros cometidos, a raiz das incertezas e das dúvidas levan-tadas hoje por qualquer nova proposta de planejamento ur-bano.” ¹

Na segunda metade do século XIX, o avanço tecnológico modificou drasticamente o sistema de produção, a indústria e as atividades terciárias. A partir daí, algumas providências começa-ram a ser tomadas para resolver o problema de habitação. Com todas essas transformações em andamento, foi necessário repen-sar a distribuição da população nas cidades. Como visto, atraídas pelas ofertas de emprego, as pes-soas se aglomeravam em péssimas condições de habitação:

“As carências higiênicas relativamente suportáveis no campo tornavam-se insuportáveis na cidade, pela contigüi-dade e o número enormíssimo de novas habitações. En-quanto cada casa tinha muito espaço à sua volta, os dejetos líquidos e sólidos podiam ser eliminados com facilidade, e as diversas atividades que se realizavam ao ar livre – criação dos animais, tráfego dos peões e dos carros, os jogos das crianças – podiam processar-se sem interferirem demasiado entre si”. ²

Para exemplificar a total falta de higiene, Frederich Engels registrou que, em Manchester, entre 1843 e 1844, uma pesquisa revelou que havia apenas um aparelho sanitário para cada grupo de 212 pessoas. A redução do custo das construções e a implan-tação de equipamentos urbanos, foram, entre outras, algumas das providências tomadas para reduzir os males causados pela formação da cidade industrial. O surgimento das vilas operárias pode ser datado histori-camente. A Revolução Industrial, além de provocar uma trans-formação nas formas de produzir, transformou os princípios da organização social humana. As novas formas de trabalho origi-

¹ CHOAY, Françoise. O Urbanismo, Utopias e Realidades.

São Paulo: Perspectiva, 2000, pg. 1.

² BENÉVOLO, Leonardo. As Origens da Urbanística Moderna. Lisboa: Coleção Di-mensões, Editorial Presença, 1987, pg.36.

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naram novas formas de viver, de pensar e de morar. Por isso, uma breve retomada da genealogia das vilas operárias, dentro do cenário onde se processou a Revolução Industrial, é necessária para demarcar as condições históricas de seu nascimento no Brasil. No Brasil, a transformação de uma economia baseada predominantemente no setor primário em direção ao setor se-cundário apresentou algumas semelhanças com o que ocorreu em nível internacional. O problema da habitação popular se agra-vou como conseqüência do processo de urbanização ocorrido na denominada “virada do século”. Tal fenômeno coincidiu com a substituição da mão-de-obra escrava pela livre, com a expansão das atividades comerciais e com o surgimento da indústria. Foi precisamente a partir do Segundo Reinado que a preocupação com a questão da moradia popular começou a fazer parte do pro-grama de ação governamental e também da iniciativa privada, ou seja, os industriais, tendo articulação com o quadro econômico e social do país. O objetivo geral desse trabalho é compreender as questões relativas à construção de vilas operárias e núcleos fabris no Brasil; e estudar particularmente a Vila Operária Santa Cruz, situada na cidade de Estância, litoral sul do Estado de Sergipe, no período de 1891 a 1950. Os objetivos específicos são: Revisar o referencial teórico e histórico sobre o tema, especialmente o relacionado com o sur-gimento da classe operária e sua situação na Europa e no Brasil; Entender as diferenças entre o processo de implantação indus-trial no Nordeste e no Sudeste do Brasil, e analisar as peculiari-dades desse processo no Estado de Sergipe; Resgatar a gênese da introdução das Vilas Operárias no Nordeste do Brasil; Caracteri-zar arquitetonicamente os espaços de Vilas Operárias do Brasil; Estudar a Vila operária Santa Cruz; Sugerir a preservação desse conjunto urbano. O presente trabalho está organizado em cinco capítulos. O primeiro deles, intitulado Genealogia das Vilas Operárias, trata do cenário da Revolução Industrial na Europa e das trans-

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formações dela decorrentes; resgata a gênese das vilas operárias e mostra como tais conceitos influenciaram a produção dessas moradias no Brasil. O capítulo 2, A Arquitetura das Vilas Ope-rárias, comenta sobre os aspectos urbanos e arquitetônicos das vilas; mostra, também, os diversos tipos de habitação operária e as nomenclaturas mais utilizadas na literatura existente sobre habitação popular. O capítulo 3, Um olhar sobre o contexto re-gional, mostra como a industrialização se desenvolve no Nor-deste, e descreve dois exemplos pioneiros de cidades nas quais industriais produziram habitação para seus operários. Trata-se da cidade de Paulista, em Pernambuco, e, Pedra – hoje chama-da Delmiro Gouveia – em Alagoas. O capítulo 4, O Estado de Sergipe, explana sobre a região pesquisada, ao comentar sobre sua história, sua evolução sócio-cultural e industrial. Em segui-da, mostra as características da cidade de Estância, onde se lo-caliza o bairro operário Santa Cruz, alvo do nosso trabalho. O capitulo 5, Bairro Operário Santa Cruz, descreve o cotidiano da vila operária, explica sua configuração, mostra todos os tipos ar-quitetônicos ainda existentes e seus respectivos espaços públicos e, então, complementa o trabalho por meio do inventário Con-junto Urbano Da Vila Operária Santa Cruz – Acervo da Fábrica Santa Cruz, que documenta as tipologias encontradas. Faz-se necessário, porém, comentar sobre as dificuldades encontradas ao longo da pesquisa. O tema abordado foi estu-dado por diversos autores no país, como por exemplo, Eva Blay e Nabil Bonduki nas vilas operárias paulistanas, ou, os autores Telma Correia de Barros e Sérgio Leite Lopes nas vilas operárias do Nordeste, principalmente os estados de Alagoas e Pernambu-co. No entanto, as vilas operárias do Estado de Sergipe ainda não foram suficientemente estudadas, sendo alvo de pouca pesquisa em trabalhos acadêmicos, como dissertações de mestrado e teses de doutorado. Houve muita dificuldade na pesquisa do Bairro Santa Cruz por não haver bibliografia específica. Na verdade, esse é o primeiro trabalho que estuda tal região à luz da histo-riografia e da arquitetura. Outro fator que dificultou o trabalho foi o acesso às edificações, pois, por se tratar de propriedade par-

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ticular, não foi permitido o acesso interno a todas as unidades do conjunto urbano. A discussão sobre o tema ocorreu na Inglaterra em meados da década de 1950, época em que foi definida a expressão “arque-ologia industrial”, ganhando maior vigor e atraindo a atenção pública a partir do início da década de 1960, quando importantes representantes da arquitetura fabril foram demolidos. O movi-mento de interesse pelo patrimônio industrial foi se ampliando, e desde então alguns países estão em processo de construção de inventários sistemáticos da sua herança industrial. O interesse pela compreensão da industrialização e suas conseqüências já existe há muito tempo nas ciências sociais e econômicas. Porém, a valorização da arquitetura industrial como patrimônio foi tardia. Felizmente tal interesse vem criando força. Grandes esforços foram feitos para se definir o que é patrimônio industrial. Como estabelecer parâmetros cronológicos e elabo-rar registros e estudos? Como determinar “o que” e “por que” preservar? No Brasil, o tombamento pioneiro feito pelo Iphan, em 1964, foi do conjunto formado pelos remanescentes da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, no município de Iperó³. A iniciativa abriu caminhos para a arqueologia industrial no Brasil. No entanto, iniciativas mais sistemáticas demoraram a acontecer, sendo muito rara a tutela oficial de bens vinculados ao processo de industrialização. Trabalhos relevantes têm sido desenvolvi-dos aqui no Brasil, como o da “Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo”, que dedica, há tempos, esforços ao es-tudo, análise e preservação dos bens relacionados ao setor ener-gético. Arqueologia industrial é encarada na Europa como um tema particular da arqueologia. Mas no resto do mundo, mais es-pecificamente nas antigas colônias européias, a arqueologia dos últimos séculos passados é definida como arqueologia histórica.

“Mais recentemente, esse ramo que se tem designado, de maneira ampla, de arqueologia industrial, tem se preocupa-do em reconstituir, a partir de elementos concretos, o espaço ³ (Processo 0727-T-64, Arquivo Noronha

Santos, RJ; Cunha, 2005:107-108).

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material e humano que envolve uma sociedade. A arqueolo-gia industrial, desta forma, não visa realizar uma história da ciência ou das técnicas, mas encontrar as circunstâncias materiais e técnicas que estão na origem de uma fabricação, da montagem de uma máquina ou da construção de um estabelecimento ou de um equipamento que marcou a vida de seus contemporâneos, e em seguida pesquisar as con-seqüências que esses ‘acontecimentos’ tiveram sobre todos os dados do ambiente de uma população ou de um grupo social.” ⁴

À arqueologia industrial interessam várias áreas do co-nhecimento, em especial as humanas, estando ligada à antropo-logia, à sociologia e à história (social, do trabalho, econômica, das ciências, da técnica, da engenharia, da arte, da arquitetura, das cidades etc.) Um esforço multidisciplinar, na troca de infor-mações, ajudaria a ampliar o conhecimento do tema, por meio de inventários, registros, pesquisas históricas, documentais e iconográficas, entrevistas, levantamentos, análises de edifícios e conjuntos e de sua transformação no decorrer do tempo, estu-dos dos materiais, das estruturas, das patologias impregnadas atual-mente, do contexto das áreas industriais na cidade onde está situada. Enfim, é necessário um esforço conjunto das diferentes áreas para a construção desse conhecimento. Como afirma Bea-triz M. Kühl:

“A industrialização teve papel fundamental na definição dos destinos de várias cidades brasileiras. Muitos dos re-presentantes de nossa arquitetura industrial, principal-mente da fase inicial, são testemunhos de um período da história de nossa arquitetura marcada pela transposição de estilos e de materiais, inserindo-se também no contexto da pré-fabricação de elementos ou de edifícios inteiros para a exportação. Existem exemplares de interesse pela sua es-cala, pelo cuidado na composição, pela introdução e consoli-dação de variados tipos arquitetônicos e pelo uso de novas

⁴ Artigo: “Arqueologia industrial ou arqueo-logia da industrialização? Mais que uma

questão de abrangência”. Beatriz Valladão Thiesen. h�p://www.revista.iphan.gov.

br/materia.php?id=161.

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técnicas e materiais construtivos. Tiveram papel relevante na disseminação da alvenaria de tijolo e de outros mate-riais industrializados, tal como o ferro, sendo exemplos de racionalização que auxiliaram no estabelecimento de uma renovada práxis construtiva. Mais recentemente, foram feitos exemplares que exploraram o potencial expressivo e construtivo do concreto armado. Muitos desses edifícios não mais existem, não tendo sido poupados no processo de transformações por que passaram várias cidades, tendo como fator agravante o fato de parte deles ser de período até recentemente pouco apreciado pela historiografia da ar-quitetura.” ⁵

No entanto, o Brasil tem diversos exemplares da arquitetu-ra industrial pouco conhecidos e ainda sem nenhuma proteção. Assim, tendo em vista a conservação do patrimônio cultural bra-sileiro, o trabalho tem como objetivo principal mostrar que o estudo de caso analisado trata-se de um exemplo significativo do Patrimônio Industrial nacional e deve ser preservado, não apenas pelas suas características sociais e históricas que possui, mas também por suas qualidades urbanísticas e arquitetônicas.

⁵ Artigo: “Algumas questões relativas ao patrimônio industrial e à sua preservação”. Beatriz Mugayar Kühl. h�p://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=165.

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1.1 - A Gênese da Vila Operária

Para compreendermos plenamente o objeto de estudo do nosso trabalho – a Vila Operária Santa Cruz, em Estância – precisamos recordar alguns conceitos relacionados à história, à economia e aos pensamentos urbanos que antecederam os pro-blemas da habitação para o trabalhador. Entre os diversos fatores que se encontram na origem do processo de industrialização, três merecem destaque especial: a chamada Revolução Comercial, a acumulação primitiva de capital e o desenvolvimento de instru-mentos de produção como o tear mecânico, a máquina a vapor e a máquina de fiar. A partir daí ocorreu o surgimento da indústria fabril, nos sécs. XVI e XVII, os nobres ingleses, apoiados pelas estruturas do absolutismo, expulsaram os camponeses de suas terras comu-nais e se apossaram delas, transformando-as em pastagens para criação de ovelhas. Esse processo ficou conhecido como “cer-camento”, provocando uma considerável migração de mão-de-obra do campo para a cidade. Em meados do século XVIII, com as melhorias tecnológi-cas, a Inglaterra estabeleceu novas condições de trabalho. Após a invenção da primeira máquina a vapor por James Wa�, em 1769, o modo de produção artesanal realizado em propriedades rurais foi substituído por grandes oficinas de trabalho com máquinas, nos centros urbanos. A Revolução Industrial fez com que ocorressem várias transformações na estrutura das cidades, como por exemplo, a redistribuição da população, o aumento dos processos migratóri-os campo-cidade. Em contrapartida ao progresso, as cidades industriais começaram a ter problemas relacionados à falta de higiene, de infra-estrutura e de moradia para grande parte da população. Propostas teóricas e reais foram realizadas, respecti-vamente, por pensadores sociais e proprietários de indústrias. Para exemplificar, citaremos projetos de Robert Owen, Charles Fourier e Godin , elaborados pouco depois da revolução indus-

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trial, cuja orientação principal era transformar as cidades em celeiros de mão-de-obra para as indústrias, assim melhorando a produtividade fabril. Podemos citar também o modelo de ci-dade-jardim de Howard, que buscava integrar cidade e campo, trazendo grandes áreas verdes para dentro das cidades. Partimos da descrição da autora François Choay*, que di-vide as propostas em progressistas e culturalistas, mostrando a principal força atuante sobre o pensamento urbano. É com base na análise desta autora e em sua abordagem sobre modelos ur-banos que tentaremos resumir as teorias mais importantes para o entendimento do tema deste trabalho. Usamos também o autor Joseph Rykwert*, que descreve as soluções dadas pelo setor pri-vado influenciado por tais teorias. A primeira evidência que chocou todos os contemporâ-neos da fase da Revolução Industrial foi o grande desenvolvi-mento urbano. O século XIX foi o tempo das “cidades tentacu-lares”. É que o crescimento urbano está ligado à industrialização. A mobilidade da mão-de-obra é uma necessidade vital para a nova indústria que pretende especializar o trabalho, passar do domestic system para a aglomeração da manufatura e da fábrica, dispondo de um espaço restrito de fontes de matérias-primas e de mão-de-obra para baixar os custos. “Nada de crescimento, nem de domínio e de lucros novos, sem uma profunda reconstrução da so-ciedade, apoiada em uma exploração racionalizada do trabalho de todos aqueles que não possuem meios de produção modernos; as alterações sociais estão organicamente ligadas à revolução industrial.” ¹ A cidade “provinciana” com sua economia tradicional, suas funções religiosas, administrativas e militares, com seus pequenos negociantes, camponeses e artesãos, deveria se render à nova estrutura urbana baseada na indústria. As cidades se ex-pandem, infladas pelos seus novos habitantes. Londres, por exem-plo, se amplia livremente:

“A vida urbana suscita logo enormes problemas. Um grande serviço de limpeza publica a manter (Londres possui 8.500 Km de ruas em 1860), iluminação a gás, depois elétrica, de

¹ RIOUX, Jean-Piere. A Revolução Industrial, 1780-1880. Ed. Livraria Moderna. São Paulo,

1975. Pg. 129.

* François Choay, no livro “O Urbanismo, Utopias e Realidades”, e Joseph Rykwert,

no livro “A Sedução do lugar”.

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² RIOUX, Jean-Piere, pg. 134,135.

esgotos para construir, de lixo para recolher, um abasteci-mento delicado para organizar: de água, de alimentos, de energia, de matérias-primas industriais; o canal, a usina de gás, galão, se integram - mal - na paisagem. Na balbúrdia das carruagens, os ônibus puxados por cavalos e os novos trens aumentam o atravancamento, de que Londres, uma vez ainda dá o exemplo, a tal ponto que se projetará muito cedo a construção de unia ferrovia subterrânea. Mas este urbanismo hesitante da grandeza e da utilidade desaparece quando se chega aos quarteirões populares e as construções, com seus impasses, seus caminhos lodosos, seus raros bicos de gás, suas atrozes aglomerações humanas que fornecem o pano de fundo sinistro à vida operária que descreveremos mais adiante. É que a grande cidade, malgrado sua moder-nização, permanece implacavelmente o reflexo da sociedade industrial que a criou. As grandes obras do centro freqüen-temente expulsam os habitantes para a periferia com unia seleção cuidadosa entre ricos e pobres, através de uma cu-riosa segregação geográfica que dá o Oeste aos primeiros e deixa os outros se concentrarem no Leste.” ²

A cidade tradicional ainda podia durante muito tempo manter a sua população de artesãos e de pequenos comerciantes. No entanto, seu pólo de crescimento passava a se o estabeleci-mento industrial moderno, em torno do qual se aglomerava a maioria os serviços e das habitações. A Fábrica em si, por sua originalidade e eficácia, torna-se o símbolo da revolução indus-trial. Os seus “mecanismos” acoplados e facilmente controláveis exerciam um fascínio sobre os industriais do período. Por meio da Fábrica a divisão do trabalho operário podia ser aplicada com sucesso, pois desligava o trabalhador do seu meio familiar, o obrigava a ser pontual, permitia uma servidão constante do ope-rário perante a máquina.

“Enquanto isso, a população de Londres era proscrita cada vez para mais longe do centro rico, espalhando-se por con-

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juntos de casinholas. Os subúrbios parisienses, por sua vez, eram formados por barracos em terrenos grilados ou blocos de apartamentos empilhados. Horizontalmente es-tratificadas, essas edificações ofereciam uma mistura social mais complexa que as pequenas propriedades geminadas de Londres. A gradação social e de valor do aluguel de acordo com o andar dos apartamentos foi alterada com a invenção do elevador de segurança – o primeiro deles foi instalado em Mannheim, em 1880.” ³

Mas, como cresceu o mundo obreiro? Os industriais pensavam apenas em favorecer os seus investimentos, e assim submetiam os trabalhadores a uma jornada longa de trabalho e baixos salários, a mão-de-obra era abundante e sem organização. Como a oferta de mão-de-obra era extensa, o emprego era dado àqueles que aceitavam as regas da produção, como horário ex-tensos, por exemplo. Friedich Engles comparou, em Manchester, a vida dos operários com a impressão de viver “no meio de um exército que retorna de campanha”. O emprego de crianças de 4 a 6 anos era freqüente e procurado, desde que elas soubessem caminhar e fossem capazes de ser adestradas para o trabalho nas máquinas. Nos tempos de crise ou de revoltas obreiras, emprego de jovens era a maneira mais segura de manter a produção e os lucros. ⁴ Algumas leis foram criadas e votadas pelos parlamentos para limitar os grandes abusos. Em 1819, na Grã-Bretanha as leis proibiram o trabalho de crianças abaixo dos 9 anos nas manufa-turas de algodão e reduziram a jornada de trabalho para 12 ho-ras. Em 1831, interditaram o trabalho noturno para trabalhadores com menos de 18 anos. Em 1833, houve leis para a reduzir a 48 horas por semana a jornada de trabalho das crianças. Porém, to-das as leis criadas foram pouco aplicadas. ⁵

A Influência das idéias revolucionárias

O problema da habitação logo se tornou grave. O Estado

³ RYKWERT, Joseph. A Sedução do lugar. A história e o futuro da cidade. São Paulo:

Ed.Martins Fontes, 2004. Pg. 102.

⁴ RIOUX, Jean-Piere, pg. 149.

⁵ RIOUX, Jean-Piere, pg. 156-158.

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⁶ ENGLES, Friedich. A situação da Classe tra-balhadora na Inglaterra. São Paulo. Ed. Global, 1985. Pg. 14. Ele critica fortemente tais idéias, cuja origem seriam os trabalhos de Prou-dhon. Ele procura desmontar os argumentos produzidos pelos seguidores do Proudhon, sugerindo que o problema da habitação se encaixa na questão mais geral que o modo de produção capitalista. Mais especifica-mente, ele considerava que o ponto crucial era a oposição entre cidade e campo. A curto prazo, ele propunha “a expropriação dos proprietários atuais, pela ocupação de seus imóveis por trabalhadores sem abrigo ou incomodamente amontoados nos alojamen-tos; e quando o proletariado tiver tomado o poder político, esta medida exigida para o bem público será tão fácil de realizar como são as expropriações e requisição de insta-lações pelo Estado. ⁷ ENGLES, Frederic. Pg12,13. ⁸ RIOUX, Jean-Piere. Pg. 18.

precisava apoiar a construção de casas operárias para venda, e não só para aluguel. Alguns ideais da social democracia européia influenciaram nessa atitude. Principalmente aos ideais que En-gels ⁶ chama de “medicina social”. Esta corrente supunha que o problema de habitação estaria resolvido na medida em que cada trabalhador fosse proprietário de sua casa. O aluguel era posto não como uma relação econômica própria do capitalismo, mas como algo eticamente injusto, que devia ser eliminado por uma questão de justiça social. Segundo Engels: “Proudhon propunha transformas os lo-catários em compradores moderados; desta maneira o aluguel pago anualmente seria considerado como uma amortização sobre o valor da habitação e ao fim de certo tempo, o inquilino tornar-se ia proprietário”. Ainda conforme Engels, a solução que Proudhon considerava revolucionária era praticada em vários países da Europa e era usada por sociedades de especuladores para ganhar dinheiro e obter vantagens políticas. ⁷ A base doutrinaria das revoluções dos sistemas e formas de produção surgiu na Inglaterra através de um movimento filó-sofo-social cujos principais expoentes foram Adam Smith (1723-1790), Jeremy Bentham (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873). A indústria seria um sistema auto-regulador que conse-guiria o equilíbrio de todos os esforços dispersos e sem conexão dos indivíduos estimulados pelos seus próprios interesses. Esta harmonia pré-ordenada, que recebeu o nome de laissez-faire, procurava minimizar a ação governamental. O uso utilitarista propunha a mais completa liberdade na realização de investi-mentos, na produção, da comercialização e do gerenciamento administrativo, entre eles a aquisição de imóveis, a construção de indústrias e a condução dos processos relativos à mão-de-obra. Essas ideais desencadearam uma série de acontecimen-tos que levou a Europa em cem anos a transformar-se completa-mente. Como vimos, este fenômeno, que todos conhecem como Revolução Industrial, encontrou seu primeiro cenário na Ingla-terra, em meados do século XVIII, e a sua base concreta de ação se deu principalmente na indústria têxtil. ⁸

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O avanço tecnológico, na procura de nova fonte de en-ergia, fez com que a manufatura têxtil tradicional abandonasse a sua base predominantemente rural e concentrasse suas insta-lações junto aos rios, para aproveitar a força da água. Depois, com a descoberta da máquina a vapor por Wa� em 1775, começaram a se instalar perto de depósitos de carvão. As descobertas tec-nológicas desencadearam a produção em massa e esta, por sua vez, exigiu a concentração das fábricas próximas dos centros ur-banos da época, de onde passou a concentrar-se a mão-de-obra. Este acontecimento deu lugar ao desenfreado crescimen-to das cidades industriais. No entanto, de acordo com os princí-pios do laissez-faire, tudo se estabeleceu seguindo a lei do míni-mo esforço, pois considerava-se que tudo aquilo que facilitava a produção industrial era, por conseguinte, “bom para o bem estar e progresso das nações”. ⁹

“Em 1841, a Grande Londres contava com 2.500.000 habitantes, número que subiu para 3.890.000, em 1871, e 6.586.000 em 1901. Além disso, era também a cidade mais poderosa em termos financeiros, absorvendo novos habitantes tão rapidamente que, no princípio da Primeira Guerra Mundial, um quinto da população da Inglaterra e de Gales se concentrava em Londres. Porém, Londres con-tinuava a ser uma cidade horizontal, enquanto as cidades européias começavam a se expandir para cima. A demanda por moradias se tornou voraz e insaciável. As casas haviam sido um tanto negligenciadas pelos arquitetos do passado: eram produzidas por construtores que seguiam alguma prática estabelecida. Em uma cidade fortificada, as habi-tações ocupavam o espaço residual entre seus dois elemen-tos públicos, as muralhas e as instituições. Da Antiguidade ao século XVIII, os artesãos tinham suas oficinas, os mer-cadores e mesmo os banqueiros tinham seus armazéns e es-critórios, todos em suas próprias casas.” ¹⁰

Com relação à transição urbana, Lewis Mumford destaca,

⁹ FRAMPTON, Keneth. História Crítica da Arquitetura Moderna, São Paulo: Ed. Martins

Fontes, 2000. Pg 18-21.

¹⁰ RYKWERT, Joseph. Pg. 100.

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¹¹ MUNFORD, Lewis. MUNFORD, Lewis. A Cidade na História. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998. Pg.483. ¹² ENGLES. Friedich. Pg. 88.

entre outras coisas, o elevado índice de crescimento demográfico e o grande deslocamento de população que ocorreu da Europa para fora, dizendo que:

“O generalizado aumento dos números fez-se acompa-nhar por uma transferência dos excedentes para as cidades e por um imenso alargamento da área dos centros maiores. A urbanização aumentou quase em proporção direta à in-dustrialização. Nos territórios recentemente abertos do pla-neta, originalmente povoados por acampamentos militares, postos de comércio, missões religiosas, pequenas colônias agrícolas, surgiu uma inundação de imigrantes de países que sofriam de opressão política e pobreza econômica”. ¹¹

Nas diferentes cidades os bairros operários tinham uma grande densidade, intenso aproveitamento do terreno e ausên-cia de espaços livres e pátios. Referente às precárias condições de moradia da classe trabalhadora inglesa da época, Engels des-creveu, em 1845, que:

“As casas dos trabalhadores estão mal implantadas, mal construídas, mal conservadas, mal arejadas, úmidas e in-salubres; nelas, os habitantes estão confinados a um espaço mínimo, e, na maior parte dos casos, num cômodo dorme pelo menos uma família inteira. A disposição interior das casas é miserável; chega-se num certo grau à ausência total dos móveis mais indispensáveis”. ¹²

Os efeitos da Revolução Industrial, no século XIX, con-duziram à revolução social. Os trabalhadores reivindicavam melhores condições de trabalho e habitação. Condições mais favoráveis foram gradualmente conquistadas graças à reivindi-cação das Trade Unions e dos sindicatos. No intuito de amenizar as tensões que se acumularam desde o século anterior, a indús-tria assumiu diferentes alternativas, desde a fábrica “modelo”, às vilas ferroviárias e fabris.

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Precisamos lembrar que, agregar trabalho e moradia já era uma prática anterior a esse período. Palácios toscanos e venezianos, por exemplo, com três e quatro andares são os tipos mais conhecidos de habitação em que está estabelecida e fixada a combinação de moradia e dependências de trabalho. ¹³ A análise de algumas das manifestações de habitações ope-rárias que tiveram lugar na Europa, no advento de Revolução Industrial, pode trazer uma contribuição significativa à busca da gênese da vila operária, no Estado de Sergipe. Tal afirmativa sustenta-se na idéia de que as formas do habitar operário que surgiram no Estado tem seu ponto de origem e influência nesse mesmo precedente. O fornecimento de habitações para trabalhadores prece-deu a Revolução Industrial. Mesmo que muitos historiadores tenham encontrado manifestações dessa prática nas civilizações da Antigüidade, nesse trabalho nos limitamos a fixar o ponto de partida no período pré-industrial.

Os socialistas utópicos

O pensamento socialista foi primeiramente formulado por Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (1771-1858). As idéias dos cha-mados socialistas utópicos que se distinguiram, de uma manei-ra geral, por propor certas mudanças desejáveis que buscavam alcançar uma sociedade mais justa e igualitária. O “socialismo utópico” pode ser definido como um conjunto de idéias que se caracterizavam pela crítica ao capitalismo e buscavam ao mesmo tempo, a igualdade entre os indivíduos.

Suas principais idéias eram :

- Crítica ao liberalismo econômico, principalmente à livre con-corrência;- Formação de comunidades auto-suficientes;- Organização de um sistema de cooperativas de trabalhadores

¹³ RYKWERT, Joseph. Pg. 100.

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¹⁴ MUNFORD, Lewis. p. 587.

que negociariam, entre si, a troca de bens e serviços;- Atuação do Estado que, através da centralização da economia, evitaria os abusos típicos do capitalismo.

A cidade industrial

A cidade industrial, entre outras características, é mar-cada pelo fato de concentrar mais população que suas anteces-soras. Tal inchaço ocorreu em decorrência da implantação das fábricas, da ausência de planejamento do desenvolvimento urba-no e, no caso particular da Inglaterra, da apropriação das terras campesinas com o apoio da monarquia, o que expulsou a popu-lação rural de seu meio e os forçou a tentar a vida nas cidades. As indústrias, por sua vez, buscavam se estabelecer nas proximidades das cidades mais populosas, assim garantindo um estoque de mão-de-obra de baixo custo. Ocupavam espaços antes considerados “vazios”, ou seja, campos verdes ou matas. Naturalmente, as condições de vida da população que outrora vivia no campo decaíram; antes cercados por verde, ar puro e água limpa, os novos citadinos agora viviam amontoa-dos em cortiços, cercados por ratos, porcos, doenças e dejetos. Segundo Mumford ¹⁴, atirar restos nas ruas nessas cidades, era o método regular de despejo:

“Os restos ali ficavam, por mais fedorentos e imundos, até que o acúmulo induzisse alguém a levá-los embora para servir de esterco.(...) As privadas, de uma imundície indes-critível, ficavam geralmente no porão; era também prática comum ter chiqueiros debaixo das casas, e os porcos volta-ram a invadir as ruas, como não faziam havia séculos, nas cidades maiores.Havia mesmo uma terrível falta de re-tretes: o ‘Relatório sobre o estado das grandes cidades e dos distritos populosos’ (1845) informa que em uma parte de Manchester, em 1843-44, as necessidades de mais de 7000 habitantes eram atendidas apenas por 33 privadas – ou seja, um retrete para cada 212 pessoas (...) tal imundície

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e tal congestionamento, maus por si mesmos, trouxeram outras desgraças: os ratos que conduziam a peste bubônica, os percevejos que infestavam as camas, as moscas que visi-tavam imparcialmente a privada do porão e o leite das cri-anças. Mais ainda, a combinação de quartos escuros e pare-des úmidas formava um meio de cultura quase ideal para bactérias, especialmente porque os quartos congestionados proporcionavam as possibilidades máximas de transmissão, através da respiração e do contato.”

Continuando sua descrição sobre a situação da falta de higiene nas cidades, Mumford ¹⁵ afirma que:

“Se a ausência de encanamentos e de higiene municipal criava um mau cheiro insuportável nesses novos bairros urbanos, e se a propagação de excrementos expostos, junta-mente com a sua infiltração nos poços locais, significava uma propagação correspondente da febre tifóide, a falta de água era ainda mais sinistra, porque afastava por completo a possibilidade de limpeza doméstica ou de higiene pes-soal. (...) As casas costumavam ser construídas bem junto das usinas siderúrgicas, fábricas de tintas, gasômetros ou cortes ferroviários. Era muito freqüente serem construídas em terras cheias de cinzas, vidros quebrados e restos, onde nem mesmo a grama podia deitar raízes; podiam estar ao pé de uma pirâmide de detritos ou junto de uma enorme pilha permanente de carvão e escória; dia após dia, o mau cheiro dos dejetos, o negro vômito das chaminés e o ruído das máquinas martelantes ou rechinantes acompanhavam a rotina doméstica.”

Diante de tais afirmações, observamos que a burguesia podia ter uma casa fora da cidade industrial, e essas condições impulsionaram o pensamento dos urbanistas do período.

¹⁵ MUNFORD, Lewis p. 585-588.

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¹⁶ MARX, Karl. Manifesto comunista. São Paulo: Bomtempo, 1998.

O surgimento do proletariado e do socialismo

Enquanto a burguesia tinha em mãos a possibilidade de fugir das cidades para o campo, as classes baixas eram obrigadas a viver as difíceis condições da então cidade industrial. Os ope-rários trabalhavam por horas a fio em condições degradantes, sem higiene ou segurança, por salários que mal eram capazes de suprir suas necessidades básicas. Como conseqüência da opressão nas fábricas e da con-dição de vida nas cidades, surgiram as teorias socialistas e comu-nistas, que vieram para criticar o modelo vigente naquele perío-do. Karl Marx (1818 – 1883), discípulo ideológico de Georg W. Friedrich Hegel (1770-1829), o principal teórico dessa época, di-fundiu suas idéias pela Europa, e o proletariado se agitava con-tra os regimes ainda vigentes:

“[O mundo burguês] impiedosamente quebrou os fortes laços feudais que uniam o homem a seus superiores natu-rais, e não deixou nenhum outro vínculo entre os homens, a não ser o puro interesse pessoal e o insensível ‘pagamento em espécie’. Ele afogou os mais divinos êxtases de fervor religioso, de entusiasmo nobre, de sentimento filisteu, na congelada água do cálculo egoísta. Transformou o valor pessoal em valor de troca, e em lugar das inumeráveis e inquebrantáveis liberdades ergueu uma simples e inescru-pulosa liberdade – a liberdade de comércio. Seria com o in-tuito de melhor atender as necessidades desta camada social que alguns dos mais importantes pensadores urbanos do período desenvolveriam seus modelos.” ¹⁶

Com a intenção de atender às necessidades dessa nova classe trabalhadora, os pensadores urbanos procuraram resolver tais problemas desenvolvendo seus modelos urbanos, como ve-remos.

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Principais modelos urbanos

Após a revolução industrial, as cidades européias pas-saram a concentrar população e a ter o céu poluído pela fumaça das fábricas. Nestas circunstâncias, o modelo de vida das pes-soas mudou radicalmente para pior e em muito pouco tempo; famílias que tiravam o sustento do campo e do artesanato, em casas individuais e rodeadas de vegetação, passaram a viver con-centradas em cortiços coletivos, tendo como vizinhos ratos e es-gotos a céu aberto. A transformação no modelo habitacional era apenas uma das mudanças no estilo de vida dessas pessoas; a outra se refe-ria aos seus locais de trabalho. Antes trabalhavam ao ar livre, e nesse momento estavam trancados nas fábricas, por até 14 horas ou mais, ao dia, executando serviços braçais de força e risco à saúde. Tantas mudanças em tão pouco tempo estimularam in-telectuais a criar novos modelos urbanos e sociais. Estes intelec-tuais se dividiam, entre aqueles que estavam interessados em criar cidades racionais – criando espaços apropriados para as no-vas concentrações populacionais, para o funcionamento das fá-bricas, para a produção agrícola, etc – e os que acreditavam que a solução para os problemas urbanos de então consistia em tornar a cidade mais parecida com o campo. François Choay ¹⁷ classifica a primeira destas vertentes como ‘pré-urbanismo progressista’ e a segunda como ‘pré-urbanismo culturalista’. ¹⁸

Pré-urbanismo progressista

Os pré-urbanistas progressistas, como Robert Owen (1771 – 1858), Charles Fourier (1772 – 1837), Jean-Baptiste Godin (1817 – 1888), Etienne Cabet (1788 – 1856), Pierre-Joseph Prou-dhon (1809 – 1865) e Benjamin Ward Richardson (1828 – 1896), propunham formas a seu ver mais racionais de organização da cidade, criticando a imensa cidade industrial por alienar a popu-lação. O desejo deles era resolver o problema da grande concen-

Uma rua em Londres. Gravura de Gustave Doré documentando a falta de espaço nas

construções. Fonte: h�p://www.vitruvius.com.br/

arquitextos/arq058.

¹⁷ CHOAY, Françoice. O Urbanismo, Utopias e Realidades. São Paulo: Perspectiva, 2000.

¹⁸ Choay, como já vimos, classifica a pri-

meira destas vertentes como ‘pré-urbanismo progressista’ e a segunda como ‘pré-urba.

nismo culturalista’. Descreveremos resumi-damente cada uma delas.

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¹⁹ CHOAY 2000, pg. 87. ²⁰ CHOAY, 2000, pg. 63.

Cidade industrial de Robert Owen.Fonte: h�p://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Harmonia, acessado em 25/04/07.

tração populacional da nova cidade por meio da otimização do seu funcionamento, usando a técnica e o raciocínio influenciados pela idéia do progresso. Tais modelos foram em grande parte associados a idéias marxistas constituindo uma base para este pensamento. Marx atribuiu a invenção do ‘comunismo utópico’ a Cabet, que desen-volveu a visão de um socialismo de Estado na Voyage em Icarie (1840), que ele afirmava ser “uma descrição da organização social e política da comunidade, um tratado científico e filosófico”.¹⁹ Owen ficou conhecido como um dos que mais se destacou entre os reformistas sociais de sua época. No entanto, para Godin, a distribuição igualitária da luz, da água e do ar seria o símbolo do progresso. O verde ofereceria um quadro para os momentos de lazer, sendo consagrado à jar-dinagem e à educação do corpo. Após mostrar as principais características deste conjunto, faremos uma breve descrição de cada modelo, começando pelo primeiro dos pré-urbanistas progressistas: o socialista utópico Robert Owen.

Robert Owen

Em meados de 1825, Owen projetou “núcleos ou asso-ciações-modelo contendo de 500 a 2.000 habitantes alojados em construções apropriadas para produzir e conservar uma varie-dade de produtos e para dar às crianças uma educação adequa-da.” ²⁰ Ele fazia uma previsão que cada um desses núcleos iria se sustentar, se governar e ocuparia todos os seus moradores. Seu modelo previa cidades quadriculadas em que cada qua-drado poderia receber 1.200 pessoas e seria rodeado de 1.000 a 1.500 acres de terreno. Cada quadrilátero teria um grande edifício que ser-viria de alojamento para os cidadãos da cidade. Nestes as crianças se-riam separadas dos pais aos três anos de idade e seriam criadas pela comunidade. Ao redor dos quadrados haveria jardins e após estes, as áreas industriais. Owen previa aumentar em mais de dez vezes a força e o poder político do país em que tal modelo fosse adotado.

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Charles Fourier Fourier começou a publicar suas idéias no diário Le Phalans-tère ou la reforme industrialle, de 1832, que em 1836 se transformou no Phalange - o modelo mais detalhado do pré-urbanismo progres-sista. Esta seria constituída por três anéis concêntricos; no primeiro anel haveria a cidade central, com um grande edifício residencial - o falanstério , cercado por um segundo anel que conteria as grandes fábricas, por sua vez circundado por um terceiro anel no qual ficaria o subúrbio. Os espaços vazios aumentariam em tamanho do pri-meiro até o terceiro anel. A obrigatoriedade de amplos vazios faria com que a população vivesse agrupada em edifícios para até 100 famílias. Por sua vez, os espaços livres teriam as funções primor-diais de higienização urbana e amenidade estética.

Falanstério de Fourier.Fonte: h�p://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/fourier/fourier05b.jpg acessado em 25/04/07

Projeto do edifício do familistério. h�p://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/godin/

godin.htm acessado em 20/04/07.

Jean-Baptiste Godin

Seguindo o modelo do falanstério, Godin fundou o Fa-milistério de Guise, sua construção teve inicio em 1859, em 1866 as obras foram concluídas e o prédio foi todo habitado. O prédio principal existe ainda hoje. O que o diferenciava do original eram duas características fundamentais: o empreendimento produtivo seria de caráter estritamente industrial, e não mais agrícola-in-dustrial como em Owen e Fourier, e à toda família residente seria concedido um alojamento autônomo, como foi feito posterior-mente nos projetos de vilas operárias.

Familistério por dentro (id.). Fonte : biblio-teca Wikipédia, acesso em 20/04/07.

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²¹ PAQUOT,Thierry. Habiter L’utopie Lê Familistèr Godim À Guise. Ed. De la ville�e. 2003.

Renunciava-se assim à vida comunitária prevista por Fourier, mantendo, no entanto, as vantagens asseguradas pelos serviços comuns. Ao redor do familistério, também conhecido como ‘palácio social’ ²¹, jardins e passeios concorreriam para dar livre acesso ao ar e à luz. No projeto de Godin a jardinagem faria, inclusive, parte da educação das crianças, que ajudariam a man-ter os jardins da cidade. As indústrias dispor-se-iam em local afastado da área do palácio social. Etienne Cabet

Cabet, influenciado por Owen e Fourier, dedicou especial atenção ao tema da higiene e salubridade em sua cidade modelo Icaria, idealizada em 1839, prevendo a localização de cemitérios, fábricas e hospitais nas margens da cidade, limpeza diária das ruas e canais subterrâneos de águas servidas. Previa também, uma praça arborizada no centro da cidade, que abrigaria um palácio com soberbos jardins elevados e uma estátua colossal que dominaria a todos os edifícios. Em volta desta praça haveria outras praças dispersas por toda a cidade. Todas as ruas seriam retas e largas; os bairros representariam cada uma das sessenta princi-pais cidades do globo, reproduzindo inclusive sua arquitetura. Dentro de tais bairros, as ruas se dividiriam de forma uniforme até mesmo quanto ao número de casas e edifícios; as casas também seriam uniformes, apenas três modelos-padrão. Inclusive a mobília seria idêntica para todas as famílias – otimi-zando sua fabricação – justificando a associação dos urbanistas deste período a utopistas.

Familistério Restaurado. Fonte: PAQUOT,Thierry. Habiter L’utopie Lê Familistèr Godim À Guise. Ed. De la ville�e. 2003.

Livro publicado por cabet e difundido pela Europa, com suas teorias.Fonte: E. Cabet, Vo-yage en Icarie, Paris, 1840, in G.M. Bravo, Le origini del socia-lismo contemporaneo 1789/1848, p. 48.

Proposta de desenho da Icaria. Fonte: h�p://www.clio.unige.it/utopia1/icaria.htm.

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Pierre-Joseph Proudhon

Trabalhando de modo diferente dos anteriores temos Proudhon, que embora tenha escrito sobre as cidades, não che-gou a elaborar um modelo urbano. A maioria das suas teorias foi desenvolvida entre 1840 e 1861, entre muitos livros, estão o seu ensaio Qu’est-ce que la propriété?, onde afirma que “a propriedade é o roubo” e o livro Les confessions d’un révolutionnaire, que, entre outras coisas, diz que “a anarquia é a ordem”. Ele está incluído entre os pré-urbanistas progressistas porque seu trabalho se baseava em suas idéias: a luta para pro-mover uma forma global de existência moderna; a necessidade de uma racionalização do meio de comportamento e o papel da indústria na nova cidade. Proudhon condenava o excesso de obras de arte nas ci-dades européias – especialmente em Paris – que serviriam para ocultar a verdadeira miséria e alienação em que vivia a popu-lação:

“Nós apertamos o cinto, e na falta do que comer, nos ali-mentamos com espetáculos!(...)Daria o museu do Louvre (...) em troca de uma casinha (...) no centro de um terreno de um décimo de hectare onde eu teria água, sombra, grama e silêncio. Se me ocorresse colocar lá dentro uma estátua não seria um Júpiter nem um Apolo: não saberia o que fazer com estes senhores; nem vistas de Londres, de Roma, de Constantinopla ou de Veneza. Deus me livre de morar nestas cidades! Colocaria o que me falta: a montanha, o vi-nhedo, o prado, as cabras, as vacas, os carneiros (...). ²²

Apesar de alinhado ao pensamento progressista, Prou-dhon valorizava o meio natural, partilhando em parte idéias culturalistas; curiosamente, via na natureza valores além do es-tético, higiênico ou organizador de espaços; via a natureza como necessária ao bem-estar.

²² CHOAY, 2000, pg. 98.

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²³ CHOAY, 2000, pg. 100. ²⁴ CHOAY, 2000, p. 13. ²⁵ CHOAY, 2000, p. 12.

Proposta para Hygeia. Fonte: h�p://www.geocities.com/pensamentobr/2geo027.htm.

Benjamin Ward Richardson

Para Benjamin Ward Richardson, médico, o aspecto ur-bano mais relevante seria a manutenção da higiene urbana como forma de evitar a propagação de doenças – seu modelo de cidade ideal se chamaria Hygeia. Tal objetivo seria alcançado por meio das tipologias de casas, pois não deveriam ser muito altas para evitar sombrea-mento das demais e os edifícios não deveriam ultrapassar quatro andares. Com relação às ruas:

“A superfície de nossa cidade permite o estabelecimento de duas ruas principais ou bulevares que vão de leste a oeste e constituem as principais vias de comunicação. As ruas norte-sul, que cortam as principais vias de circulação em ângulo reto, e as ruas secundárias, paralelas a estas, são todas bem largas e, devido à baixa altura das casas, são per-feitamente ventiladas e bem ensolaradas. Têm árvores dos dois lados. Todos os espaços intermediários dos fundos das casas são jardins.” ²³

Pré-urbanismo culturalista

Os culturalistas, segundo Choay , eram tomados pela nos-talgia. O saudosismo da vida bucólica e das cidades medievais aliada à vontade de tornar a cidade mais parecida com o campo. Tal movimento não contou com nenhum representante francês, concentrando-se na Inglaterra, palco do paisagismo naturalista em voga na época e uma das fontes de inspiração culturalista. Eles se opunham frontalmente ao rigor geométrico pro-posto pelos progressistas: “Dêem uma volta em torno de seus monu-mentos edinburgueses... tabuleiros, mais tabuleiros, sempre tabuleiros, um deserto de tabuleiros... esses tabuleiros não são prisões para o corpo, mas sepulturas para a alma” ²⁴ ou “os falanstérios de Fourier e todas as coisas do gênero não implicam nada além de um refúgio contra a pior indigência.” ²⁵

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Os pré-urbanistas culturalistas manifestavam um anti-industrialismo, acreditando que a produção não deveria ser en-carada em termos de rendimento, mas do ponto de vista de sua relação com o harmonioso dos indivíduos, que gozariam de uma vida feliz e plena de prazeres. ²⁶ Dentre os principais seguidores desta tendência pode-se apontar John Ruskin (1819 – 1900) e Wil-liam Morris (1834-1896).

John Ruskin

Ruskin criticava o exagero da repetição de elementos ar-quitetônicos encontrados nas cidades européias, afirmando que os clientes pedem dos arquitetos sempre a mesma coisa e ainda esperam se surpreender com o resultado. Ele se inspirava na na-tureza para condenar a igualdade e a repetição na arquitetura – “os brotos do freixo terminam em quatro hastes verdes, com folhas; vistas de cima, têm a forma de uma cruz. (Porém) duas hastes opos-tas só têm cinco folhas, enquanto as outras duas têm sete; (...) é a essa assimetria que a árvore deve toda a sua graça, todo o seu encanto” ²⁷ – pregando a diversidade de elementos construtivos. Ruskin valorizava ao extremo a arquitetura medieval de-fendendo que a glória de um edifício residiria em sua idade, e, portanto, conservar monumentos do passado não seria simples questão de conveniência, mas de obrigação para com as gerações passadas e futuras. Suas idéias também influenciaram muito os conceitos de conservação e restauro, dizia que “A única influên-cia que pode substituir a dos bosques e dos prados é a força da antiga arquitetura. Não se separem dela por consideração para com a regulari-dade da praça, a alameda arborizada, a bela rua ou o grande cais. Não é disso que uma cidade irá orgulhar-se.” ²⁸

William Morris

Morris foi um dos fundadores do movimento socialista na Inglaterra. Também ajudou a fundar o Movimento das Artes e Ofícios britânico e é mais conhecido como designer de papéis de

²⁶ CHOAY, 2000, p. 14.

²⁷ CHOAY, 2000, p. 124.

²⁸ CHOAY, 2000, p. 127.

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²⁹ WOODCOCK, George. O Anarquismo. Lisboa, Ed. Meridiano, 1971. p.23.

Vista da Fuggerei. Fonte: h�p://www.jli�lewood.com/pictures/deutschland/pix.htm.

parede, tecidos padronizados e livros, além de escritor de poe-sia e ficção. Nasceu em Walthamstow, próximo a Londres. Sua família era rica, e ele foi para a Oxford (Faculdade de Exeter), onde se tornou influenciado por John Ruskin.

“A relação entre o pensamento libertário e a obra literária e filosófica de William Morris, inscreve-se na encruzi-lhada que liga o ideário racional do século XIX às tradições utópicas que vinham se desenvolvendo desde o crepúsculo do século XVI com Thomas Morus. O livro de Morris, “News from Nowhere”, não é a visão de um epígono, tentando, através da re-edição de uma idéia, preservar a essência do pensamento dos que o precederam. Mas sim, um pensamento harmônico com o seu tempo e em diálogo constante com as questões concretas produzidas a partir de sensações e ansiedades únicas de uma época. O ideal mor-risiano, embora aparentemente avesso a “modernidade”, é sintoma desta. Reação de um espírito inquieto e voltado para o projeto utópico legítimo aos homens que, embora pertençam a um determinado tempo, colocam sua sensibi-lidade ao serviço abnegado de uma sociedade melhor, mais justa e igualitária.” ²⁹

A vida de Morris é bastante elucidativa em relação aos significados de sua obra. As posições que assumiu dentro da Liga Socialista na Inglaterra e sua visão de mundo, o colocavam em distinta oposição às teses do socialismo tradicional.

Primeiras respostas e realizações do setor privado

Na prática, os modelos do pré-urbanismo realizaram de forma concreta poucas das suas aspirações. A maioria de deses-truturou rapidamente devido ao caráter repressivo de sua orga-nização e à falta de conexão com a realidade sócio-econômica da sua época. No entanto, a partir de agora veremos as principais realizações promovidos pelos proprietários de indústrias, ou

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mesmo pelo Estado, exemplos de solução para habitação ope-rária que merecem destaque, pois funcionaram e foram precur-sores das vilas operárias que se desenvolveram no século XIX. Vejamos alguns exemplos que antecederam o período da Revolução Industrial. Voltando um pouco no tempo, por exem-plo, em meados do século XVI a família Fugger – os poderosos financistas de Augsburg – construiu parte da cidade com casas para os seus empregados. A pioneira Fuggerei de Augsburg, na Alemanha, apesar de ter sido construída num período distante da Revolução Industrial, a Fuggerei representou um marco no que diz respeito a prover habitação às famílias de baixa renda. Era uma construção no meio da cidade, toda fechada por muros, e o acesso era através de portões que eram fechados à noite. Havia 52 casas , uma administração e uma capela. Grande parte dos primeiros industriais não se preo-cupava com o tipo de habitação que era construída para os seus trabalhadores. Porém, o oleiro Josiah Wedgwood construiu uma residência para si mesmo cercada por casas para os seus empre-gados em Etruria, nos arredores de Burslem, Staffordishire, entre 1769 e 1770; outro proprietário de moinhos, Richard Arkwright, contruiu moradias para os seus empregados em Cromford, Der-byshire. São dois exemplos pioneiros e excepcionais, dignos de nota. Em Glamorgan, em Merthyr Tydfiul – a maior cidade galesa de meados do século XVIII –, a família Guest financiou a construção de casas geminadas nas proximidades de sua fundição, bem semelhante à de Robert Owen em Nova Lanark, porém, bem mais modestas e sem programa reformista algum. Infelizmente, a poluição provocada pela mina e pela fundição era tamanha que, após cerca de uma década, a propriedade foi abandonada e tentativas de fornecer residências “padronizadas” tiveram que aguardar outro século. Tais esforços eram insignifi-cantes se comparados com o número imenso de cortiços que vi-nham sendo construídos por todo o país. ³⁰ A primeira legislação inglesa de saúde pública, que ten-tou regulamentar a rede de esgotos e o fornecimento de água, foi

Richard Arkwright e as Moradias para tra-balhadores em Cromford, Inglaterra.

Fonte: h�p://www.vatbuiltheritage.org.uk.

³⁰ RYKWERT, Joseph, pg. 106.

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Conde de Sha�esbury e Moradias de Sha�esbury. Fonte: h�p://www.anglik.net/sha�esbury.htm.

³¹ RYKWERT,Joseph, pg. 107.

introduzida apenas em 1848, graças à pressão orquestrada por um funcionário público, Edwin Chadwick. Como as autoridades se mostrassem negligentes em sua aplicação, foram necessárias várias décadas de ação do Parlamento e de governos locais antes que surtisse algum efeito.³¹ Com relação ao esforço de Chadwick, Rykwert afirma que:

“Nesse ínterim, o sétimo conde de Sha�esbury – um con-temporâneo de Chadwick, o qual também havia sido um incansável proponente de uma legislação que limitasse as horas diárias de trabalho nas fábricas e proibisse o trabalho infantil – havia posto em ação a “Sociedade para Cons-trução de Moradias-Modelo” para patrocinar algumas de-las em 1846/47. Mesmo assim, Sha�esbury sensibilizou o príncipe consorte Alberto, o qual, contrariando conselhos do governo, envolveu-se no movimento em favor de melhores condições de trabalho e moradia. Ele já havia construído habitações para trabalhadores nas propriedades reais e, por ocasião da grande exposição de 1851, fez erigir algumas “casas-modelo”, sem grande expressão arquitetônica, mas à prova de incêndio e com esgotos adequados, perto do Palá-cio de Cristal. Seu projetista, Henry Roberts, trabalhou como supervisor de obras na Sociedade para Melhoria das Condições das Classes Trabalhadoras, a primeira das várias organizações de igual finalidade, a qual construiu um con-junto em Clerkenwell, em terras que lhe foram oferecidas por um preço inferior ao de mercado. Em sociedade com o Lorde Sha�esbury, Roberts alcançou fama por ter vencido um concurso. A sua atuação e o seu primeiro livro, As Mo-radias das Classes Trabalhadoras (1850), advogavam prédios de vários andares como a única forma adequada para habi-tações de baixa renda. O livro foi avidamente lido em toda a Europa. Por volta dessa mesma época, o filantropo ameri-cano George Peabody, que havia se estabelecido em Londres, fundou uma sociedade semelhante, embora tenha empregado um arquiteto menos famoso, Henry Darbishire.”

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Podemos concluir que, tanto Roberts como Darbishire foram os primeiros arquitetos a considerar a habitação popular como um problema profissional central, que podemos afirmar como um avanço na profissão. Muitos outros arquitetos se inspi-raram neles, e, após perceberam que os novos tipos de moradia não podiam ostentar nenhum dos velhos uniformes estilísticos, as habitações organizadas horizontalmente passaram a ser acei-tas até mesmo pela classe média inglesa, mesmo que, a princípio, relutante. Em fins do século XVIII, nos primórdios da industriali-zação, alguns poderosos importantes haviam dado início à cons-trução de habitações pré-industriais. Ferdinando IV de Nápoles fundou uma cidade, San Leucio, localizada ao norte do imenso palácio em Caserta - construído em 1786 por seu pai, Carlos III - para abrigar uma tecelagem de seda, a qual foi organizada como um tipo de fábrica constituída por pequenas casas. ³² Outro empreendimento, um dos mais notáveis, foi a “real” fábrica de ferro e vidro em Le Creusot, na Borgonha. Como o local era muito isolado, foi necessário incluir habitações para os trabalhadores em um edifício de múltiplos usos. Sabe-se que:

Tecelagem de San Leucio, Itália. Fonte: h�p://www.napoliontheroad.it/agora22/testi/paganosanleucio.htm.

Ferdinando IV de Nápoles. Fonte: h�p://www.ilportaledelsud.org/don_carlos.htm.

Conjunto em Clerkenwell . Fonte: h�p://www.anglik.net/

sha�esbury.htm.

³² RYKWERT,Joseph , pg. 112.

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Fábrica de ferro e vidro Le Creusot, Bor-gonha, França. Fonte: h�p://webpublic.ac-dijon.fr/pedago/histgeo/Bourgogne/DocBourg/DiapoCreusot/edcLeCreusot.htm.

Arc-et-Senans (Chaux/França). Fonte: h�p://museum.agropolis.fr/english/pages/expos/aliments/sucre_sel/images/arcetsenans.htm visitado em 24/04/2007.

³³ RYKWERT,Joseph, pg. 113.

³⁴ RYKWERT,Joseph. pg. 114.

“Depois da Revolução, a fábrica passou por vários pro-prietários e transformações. Os Irmãos Schneider, que a compraram em 1836, consideraram inadequados os seus apartamentos superpovoados, uma vez que eram um con-vite à formação de sindicatos, e decidiram que os barracões “vinculados” em que vivia a maioria dos trabalhadores po-deriam ser pelo menos complementados com casas gemina-das.” ³³

Também podemos mencionar o caso das Salinas Reais Francesas. A mais significativa de todas foi edificada em Arc-et-Senans (Chaux/França), pelo arquiteto Claude-Nicola-Ledoux, entre 1775 e 1780. “As salinas reais em Arc-et-Senans, não muito longe de Besançon, ofereciam habitações vinculadas para seus empre-gados. Os apartamentos para os trabalhadores estavam agrupados em vários edifícios, e os dormitórios distribuídos em torno de um pavilhão com cozinha, sala de jantar e serviços comunitários.” ³⁴ Nessa salina, a habitação fez parte do programa original. Observando a planta geral das salinas reais de Arc-et-Senans, no-tamos o rigoroso e geométrico esquema compositivo que reflete a estrutura hierárquica dessa organização. No projeto, foram previstos, também, equipamentos de serviço de uso coletivo, tais como sala de reuniões e de jogos, hospital e escola. Fato interes-sante tal modernidade, pois equipamentos e serviços coletivos viriam a se tornar freqüentes somente no século XIX.

“Conjunto modelo” (1849-1853), erguido pelo Cel. Edward Akroyd, para os traba-lhadores de um moinho na Inglaterra. Arquiteto: George Gilbert Sco�. Fonte : h�p://www.calderdale.gov.uk.

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Havia na Inglaterra, em meados do século XIX, uma nova safra de casas vinculadas, entre elas um “conjunto-modelo” pio-neiro de habitações para os trabalhadores de um moinho, com biblioteca e escola, construído entre 1849 e 1853 em Copley, perto de Halifax, idealizado pelo coronel Edward Akroyd, um fabri-cante de lã. Ele contratou George Gilbert Sco�, que havia estuda-do com Henry Roberts, para dar um “caráter de aldeia” à praça em torno da qual as pequenas casas com telhados de duas águas haviam sido construídas. ³⁵ Nesse mesmo período, em 1851, Sir Titus Salt, um inven-tor e industrial de grande sucesso e de origem humilde,

“transferiu sua tecelagem de fios de mohair e alpaca de Brad-ford para outro local e, incentivado pelo relatode Disraeli, construiu gradualmente ao redor dela uma cidade-modelo, Saltaire. Embora a estrutura da fábrica tivesse sido projeta-da pelo famoso engenheiro Sir William Fairbairn, em co-laboração com George Stephenson, o projeto de seu exterior e do conjunto habitacional com traçado ortogonal de Sal-taire foi feito de fato por um escritório de Leeds, a Lockwood & Mawson, que se orientou por modelos arquitetônicos de

Fábrica de choco-lates Cadbury, Inglaterra. Fonte: h�p://www.spartacus.schoolnet.co.uk/REcadbury.htm.

Fábrica ao redor da cidade-modelo Salteire, Inglaterra. Projetada por Lockwood &

Mawson.Fonte: h�p://www.heritagecouncil.ie/publi-

cations/portlaw/critical.html.

Port Sunlight (1887), Inglaterra. Fonte : h�p://www.vitruvius.com.br/arqui-

textos/arq042/arq042_02.asp.

³⁵ RYKWERT,Joseph. pg. 114.

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Vila “Pullaman”, projetada por Solon Ber-man, EUA. Fonte: h�p://www.chipublib.org/003cpl/hf/pullman_g19.html.

³⁶ RYKWERT,Joseph. pg. 115.

³⁷ RYKWERT,Joseph . pg.115.

³⁸ RYKWERT,Joseph ,pg.115.

³⁹ RYKWERT,Joseph ,pg.116.

gosto italiano, valorizados por edifícios públicos.” ³⁶

Em 1888, e a cerca de um quilômetro e meio de Copley, William Hesketh Lever – um comerciante bem-sucedido – fun-dou Port Sunlight, situado às margens do rio Mersey e não muito distante de Liverpool; também foi o fundador da primeira cáte-dra de planejamento e desenho urbano, na Universidade de Liver-pool. Poucos anos depois, a fábrica de chocolate Cadbury con-struiu Bournville, nos arredores de Birmingham. ³⁷ Já nos Estados Unidos, situação evoluiu de forma dife-rente. A primeira tecelagem de algodão americana movida por força hidráulica foi fundada em 1814 por Francis Cabot Lowell, em Waltham, Massachuse�s, junto ao Rio Charles. Como não havia, na região, um número suficiente de trabalhadores rurais sem terras ou um albergue para pobres, os trabalhadores têxteis – na grande maioria mulheres – tiverem que ser atraídos pelas condições de trabalho.

“Os salários eram razoáveis, e os operários foram alojados em grandes pensionatos com condições de salubridade rela-tivamente boas. A cidade de Lowell iria servir de modelo para muitas outras cidades operárias construídas junto a tecelagens movidas por força hidráulica: Chicopee Falls e Holyoke em Massachuse�s, Manchester em Nova Hamp-shire.” ³⁸

A maioria dos industriais que ofereciam habitações vincu-ladas aos empregados impunha condições muito mais severas. O mais conhecido deles, George Pullman, o fabricante dos “vagões sala-de-estar”, importou o arquiteto Solon Beman para construir sua residência e uma vila “vinculada” nas proximidades que re-cebeu seu nome e incluía, além de uma escola e um parque, equi-pamentos pouco usuais, como biblioteca e teatro, igrejas, centro esportivo e hotel. ³⁹ Pullman era inflexível, pois os seus trabalhadores não po-diam se sindicalizar nem tinham contratos de aluguel de suas

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casas, podendo ser despejados com um aviso prévio de dez dias. Tal atitude também serviu de modelo para o tratamento dos in-dustriais para com o operariado, inclusive no Brasil. Enfim, nos Estados Unidos, as cidades de companhias continuaram a ser construídas até pelo menos 1914, e,

“não apenas para os siderúrgicos de Bethlehem, antiga cidade da Irmandade Moraviana próxima de Pi�sburgh, como também para os operários de fabricantes de artigos de borracha, como Firestone Park e Goodyear Heights, em Ohio. “Uma mão-de-obra abrigada é uma mão-de-obra controlada” era uma convicção compartilhada por muitos industriais. Mas os industriais queriam se precaver contra potenciais conflitos e, cada vez mais, até o mais controlador deles preferia apoiar planos habitacionais mais ou menos cooperativos ou fornecer subsídios para os seus emprega-dos.” ⁴⁰

As medidas oficiais

Mas foi só a partir da segunda metade do século XIX que o Estado teve uma participação mais efetiva no encaminhamento de soluções para o problema da habitação operária. As autori-dades inglesas criaram várias comissões para estudar o surgi-mento de doenças e epidemias causadas pela aglomeração ur-bana . Na Inglaterra, tais comissões deram suporte a uma nova legislação sobre a condição das grandes cidades, que foi criada em 1833, pela “Poor Law Comission”. A intenção das autoridades era o de chamar a atenção da sociedade sobre a necessidade de melhorar as habitações da classe operária, porém, inicialmente houve pouco acordo. Mas, a “Sociedade para a Melhoria das Condições da Classe Operária”, como já vimos, sob inspiração de Chadwick, patrocinou a construção dos primeiros apartamentos para operários em Londres, no ano de 1844. Na França, em 1802, com a fundação dos conselhos de

⁴⁰ RYKWERT,Joseph ,pg.117.

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Interior da Cité Napoléon,Fonte: h�p://napoleontrois.free.fr/site/index.php?2006/06/01/153-l-empereur-de-la-vie-quotidienne.

Cité Napoléon, vista geral.Fonte: h�p://antimuseum.online.fr/peintures/riviere/index.html.

Streatham StreetFonte: h�p://www.workhouses.org.uk/index.html?model/model.shtml.

Streatham StreetFonte: h�p://www.workhouses.org.uk/index.html?model/model.shtml.

higiene, os médicos adquiriram poder administrativo. Em 1829, com a publicação dos Annales d´hgiene publique et de la médicine légale, estruturou-se uma nova ideologia com relação ao proble-ma da higiene pública e passou a ser consenso que saúde física e saúde moral eram problemas a serem tratados em conjunto. Com base nas lições deixadas pela revolução de 1848 e com o propósito de atender as reivindicações populares, foi de-sencadeada uma série de medidas paternalistas e sociais. Du-rante o exílio, Napoleão Bonaparte visitou o primeiro edifício de habitação coletiva para operários, construído em 1847 na Street-ham Street no Bluoomsbury, em Londres. Em 16 de Novembro de 1849, uma comissão nomeada pelo Presidente da República visitou a Inglaterra. Entre 1850 e 1851, por ordem do Presidente da República, o livro de Henry Roberts, intitulado “As Habitações das Classes Operárias”, foi traduzido em francês, publicado e distribuído às instituições so-ciais e patronais respectivas. Durante esse período, em 1849, foi constituída a Société des Ouvries de Paris, com o propósito de cria-ção das Vilas Operárias. A primeira realização dessa comissão foi a Cité de la rue Rochechouart nº 58, batizada, mais tarde, de Cité Napoléon. A ini-ciativa, denominada de Cité de la rue Rochechouart, foi o marco ini-cial de uma longa trajetória francesa na execução de edificações para dar abrigo à classe operária.

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As Cites Ouvières

No período de governo de Louis-Napoléo Bonaparte, na cidade de Mulhouse - na região do Alto Reno, França – um in-dustrial chamado André Koechlin construiu uma Vila Operária entre os anos de 1835 e 1836. O projeto foi idealizado pelo ar-quiteto Emile Muller, era composto por 36 grupos de 04 casas cada. Tal iniciativa tornar-se-ia o pontapé inicial de uma seqüên-cia de intervenções que existiria até o século XX, o conjunto ficou conhecido como Cité Ouvrière de Mulhouse. “(...)a Société des Cités Ouvrières, a qual estabeleceu um padrão para a habitação operária na França tendo por base casas unifamiliares a serem postas à venda a uma taxa hipotecária extremamente baixa, ainda que com a exigência do pagamento de uma entrada.” ⁴¹ A experiência dessa vila operária se transformou num marco de referência para os empresários e industriais europeus, que tinham problemas em alojar seus trabalhadores. A partir daí surgiram muitas outras iniciativas semelhantes, tanto em dife-rentes regiões da França como em outros países. Na Cité Ouvrière francesa de Mulhouse havia convivência comunitária, por meio do uso dos memos espaços e equipamen-tos, como hospitais, parques, escolas, salão de festas, entre out-ros. Podemos então estabelecer uma referência ao nosso caso de estudo, o bairro operário Santa Cruz, pois seus operários mora-vam em vilas próximas ao seu local de trabalho e compartilha-vam equipamentos comunitários e espaços de uso comum.

O Co�age System

O chamado Co�age, era o modo de perfilar casas, encontra-do nos grandes estabelecimentos agrícolas do interior da Inglaterra. No ambiente fabril, a necessidade de reter mão-de-obra qualificada por períodos de tempo mais prolongados fez com que as novas con-struções precisavam ser mais duráveis. Entretanto, a transferência do ambiente rural para urbano, aparentemente, trouxe uma sensível de-gradação da qualidade do espaço, devido à densidade de ocupação.

Vista das Cites Ouvriéres. Fonte: h�p://www.crdp-strasbourg.fr/

archi_pat/articles/DT3_archi_indus01.php.

⁴¹ RYKWERT,Joseph ,pg.118.

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⁴² ENGLES. Friedich, pg. 38.

Segundo Friedrich Engels (1820 – 1895), em 1845, todas as grandes cidades possuíam esses “bairros de má reputação”, os quais eram

“organizados em toda a Inglaterra mais ou menos da mes-ma maneira, as piores casas na parte mais feia da cidade; a maior parte das vezes são construções de dois andares ou de um só, de tijolos, alinhadas em longas filas, se possível com porões habitados e quase sempre irregularmente construí-das. Estas pequenas casas de três ou quatro cômodos, e uma cozinha, chama-se co�age e constituíam vulgarmente em toda a Inglaterra, exceto em alguns bairros de Londres, as habitações da classe operária. Habitualmente, as próprias ruas não são planas nem pavimentadas; são sujas, cheias de detritos vegetais e animais, sem esgotos nem canais de escoamento, mas em contrapartida semeadas de charcos es-tagnados e fétidos. Além disso, a ventilação torna-se difícil pela má e confusa construção de todo o bairro e como aqui vivem muitas pessoas num pequeno espaço, é fácil imagi-nar o ar que se respira nestes bairros operários. De resto, nas ruas, quando há bom tempo, estende-se varais de uma casa a outra, onde se pendura a roupa úmida”. ⁴²

É por meio dessa mesma descrição pormenorizada dos co�ages, realizada por Engels, que se pode distinguir, ao longo do tempo, uma evolução na forma de habitação. Tempos depois, foi adotada uma outra estratégia para a construção dos co�a-ges. A princípio, cada casa era construída isoladamente. Porém, passaram a ser construídas em maior número, por um só cons-trutor, encarregado de uma ou várias ruas. Ou seja, como me-dida econômica, para otimizar o espaço, em alguns lotes eles diminuíam a qualidade da ventilação e iluminação necessárias. Esta nova estratégia imposta ao co�age determinava uma certa hierarquia ao conjunto. Sobre esse mesmo objeto, Engels acres-centa que:

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“uma das fachadas compreende as casas de primeira cate-goria que têm a sorte de possuir uma porta e um pequeno pátio e que corresponde ao aluguel mais alto. Por trás das paredes destas casas, há uma estreita ruela, a rua dos fun-dos (back street), fechada de ambos os lados e cujo acesso é feito lateralmente por um estreito caminho ou por uma passagem coberta. As casas que dão para esta ruela pagam o aluguel mais baixo, e são as mais descuidadas. As suas paredes de trás são comuns as da terceira fila de casas que dão para o lado oposto da rua, e correspondem a um aluguel mais baixo que a primeira mas maior que a segunda.” ⁴³

A construção de habitações unifamiliares isoladas próxi-mas à fábrica, o Co�age System, trouxe benefícios tanto para os empresários quanto para os operários. Engels analisa esse sis-tema como vantajoso para o empresário, pois podia ser utilizado como elemento de controle se houvesse algum ponto de tensão entre eles. Por outro lado, esse fenômeno também significou um salto qualitativo para as condições da moradia operária, sendo comparada com os porões e hospedarias coletivas onde os ope-rários se amontoavam uns sobre os outros.

⁴³ ENGLES. Friedich, pg. 68.

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⁴⁴ LEMOS. Carlos. Alvenaria Burguesa. Ed. Nobel. São Paulo. 1989. pg 55,56.

1.2 - A Gênese da Vila Operária no Brasil A história das vilas operárias no Brasil desenvolveu-se principalmente a partir da chegada das estradas de ferro e com a instalação das primeiras indústrias no País. As vilas, construídas no final do século XIX e começo do século XX, eram controladas pelos industriais, que delas eram proprietários e assim manti-nham seus empregados sob determinada custódia. Na opinião da professora da Faculdade de Arquitetura da PUC-Campinas, Maria Cristina da Silva Schicchi, uma das responsáveis pela disciplina Estudos Sócio-Econômicos da Ar-quitetura e Urbanismo, a formação das vilas tinha segundas in-tenções. “Foi o primeiro tipo de segregação oficializada”, comen-ta. Incentivados pelo governo a construir as vilas em troca de redução dos impostos os industriais não titubeavam. Além das vilas construídas pelos patrões, as cidades do início do século também abrigavam, nas regiões de periferia, bairros populares. Estes, eram formados, em sua maioria, por casas construídas pe-los próprios operários e cortiços.

“Foi nas residências, no entanto, que a questão dos pro-gramas de necessidades apresentou facetas interessantes e de grande importância sociológica, além, evidentemente, de arquitetônica, pois que a cidade tomou nova fisionomia e outras dimensões através de seus recentes bairros residen-ciais. Agora, com o café e a crescente indústria, as moradias já recebem nova classificação. A expressão “casa operária”, por exemplo, incorporou-se ao linguajar comum e designa oficialmente a morada modesta de poucas dependências, mas perfeitamente enquadrada nos critérios de composição arquitetônica que os novos materiais permitiam dentro das lições construtivas dos imigrantes. Mesmos critérios que também regeram a construção de outro programa inédito: o cortiço.” ⁴⁴

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No que diz respeito a manifestações oficiais frente ao problema da moradia popular, no Brasil, as construções ope-rárias tiveram características semelhantes às realizadas na Eu-ropa. Aqui, as primeiras iniciativas partiram do setor privado, por meio da construção de casas de aluguel e criação de cortiços, até o surgimento das primeiras vilas operárias que atenuaram a demanda de habitação. A legislação se pronunciaria somente na virada do século e o Estado só irá assumir um papel mais efetivo, no gerenciamento do problema, a partir da implantação da Fundação Nacional da Casa Popular, em 1946, já no fim do Estado Novo.

Moradia popular e expansão urbana

O Brasil no final do século XIX aumentou consideravel-mente sua produção industrial. Fazia-se necessária à ampliação da produção de bens manufaturados, pois a população crescia e o consumo aumentava. Com a mudança do trabalho escravo para o trabalho assalariado, ocorreu a mudança das relações de produção, adicionada com o declínio da sociedade agrícola e o início da formação da burguesia urbano-industrial, o espaço ur-bano sofreu mudanças, pois precisou se adaptar ao novo contin-gente humano (o trabalhador urbano-industrial). A industrialização teve seu desenvolvimento principal-mente em São Paulo, e posteriormente, no Rio de Janeiro, Minas e Bahia. A classe operária brasileira cresceu extraordinariamente. Em sua composição, pelo menos até os anos 1920, predominava o operário de origem estrangeira, principalmente o italiano, o português e o espanhol, concentrados no Centro-Sul do país. No Nordeste o trabalhador de origem estrangeira era raro. Apesar da composição heterogênea que poderia dificultar sua organiza-ção, a classe operária era solidária e unida em suas lutas reivin-dicatórias. O processo de industrialização contribuiu para o cresci-mento e desenvolvimento das cidades brasileiras. Atraídos pela oferta de empregos, os imigrantes estrangeiros e a população

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⁴⁵ Fontes: 1836 – Muller, Mar. D. P., 1923; 1872 a 1970 – Daniel J. Hogan, 1972, apud Berlinck M., 1975, p.50; 1980 – Governo do Estado de São Paulo – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos. Emplasa. A Grande São Paulo Hoje. 1982, p. 27. apud Eva Blay, quadro 1, pg. 10.

rural chegavam às principais capitais do país. A cidade de São Paulo, por exemplo, entre 1836 e 1934 teve uma explosão popula-cional, desencadeando, em 1900, sua primeira crise habitacional: 168% no aumento da população.

Crescimento populacional do município de São Paulo de 1836 a 1934 ⁴⁵:

Ano População Incremento Percentual

1836 21.9331872 31.385 431886 47.697 521890 64.934 361900 239.820 1681920 579.033 1411934 1.060.120 83

Com esse inchaço populacional e a falta de espaço habi-tacional para absorver esse novo contingente, começam a surgir os problemas com a habitação popular. A cidade expandiu-se em todas as direções, com o loteamento de chácaras e abertura de novos bairros. A pequena cidade de 1870, que podia ser percor-rida a pé, ao receber milhares de novos moradores, passou a ne-cessitar urgentemente de transporte público, saneamento, abas-tecimento e habitação. Nesse cenário foi que surgiu a solução imediata para resolver, mesmo que precariamente, o problema da habitação: os cortiços (palavra que significa a casa das abelhas, os alvéolos repetidos se comparam ao aglomerado de cubículos para mora-dia). Detalharemos suas variações tipológicas no capitulo 2. Encontramos até na literatura brasileira a denuncia da situação de moradia das classes de baixa renda. Aluízio Azevedo descreve por várias vezes na sua obra “O Cortiço”, as condições dessas habitações:

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“Por toda a miséria daquele quarto sórdido;pelas paredes imundas, pelo chão elameado de poeira e sebo, nos tetos fu-nebremente velados pelas teias de aranha, estrelavam pon-tos luminosos que se iam transformando em gão-cruzes, em hábitos e veneras de toda a ordem e espécie.(...) Ali perto, o colchão velho, já roto e destripado, os moveis desconjunta-dos e sem verniz, as trouxas de molambos úteis, as loucas ordinárias e sujas de usos, tinham, tudo amontoado e sem ordem, um ar indecoroso de interior de quarto de dormir, devassado em flagrante intimidade.” ⁴⁶

Eles se tornaram a forma predominante de habitação no início do século XX. As cidades tinham a característica de não serem segregadas, os bairros residenciais eram mistos, havia casarões onde morava a burguesia e bem próximo localizavam-se os cortiços.

“Habitações coletivas, em imóveis com pouca ou nenhuma conservação, de idade média de construção elevada que proliferam nas áreas centrais... viver significa morarem várias pessoas em cubículos (cômodos minúsculos), que têm várias funções: dormitório, cozinha, refeitório, etc. Os banheiros, chuveiros, tanques e pias são coletivos. O con-gestionamento das unidades e dos cômodos é a constante. As filas para o banho, banheiro e limpeza, tudo tem que passar ‘co-habitação’ forçada.” ⁴⁷

O fato de os cortiços estarem localizados em áreas cen-trais provocava mal-estar nas classes mais abastadas, pois a bur-guesia se preocupava com o saneamento, e a proximidade dos cortiços favorecia a proliferação de doenças entre as diferentes classes sociais.

“O processo de expansão das cidades leva gradativamente à incorporação de novas áreas, à criação de novos centros, ao aparecimento das zonas ditas deterioradas e à modificação

⁴⁶ AZEVEDO, Aluízio. O Cortiço. Ed. Ática, São Paulo, 1994. pg. 103,107 (Texto original

escrito em 1890).

⁴⁷ RODRIGUES, Arlete Moysés, Moradia nas Cidades Brasileiras, 3. ed. São Paulo: Con-

texto, 1990, pg. 46.

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⁴⁸ RODRIGUES, Arlete, pg. 47.

⁴⁹ LEMOS. Carlos. Alvenaria Burguesa. Ed. Nobel. São Paulo. 1989. pg 57.

de uso dos imóveis. Assim, os cortiços situados nessas áreas estão instaladas em imóveis que não foram construí-dos para abrigar esta parcela da população. Na verdade, a maioria são antigos casarões unifamiliares em que a própria lógica da ocupação e de mudança da cidade e na cidade é alterada”. ⁴⁸

Os cortiços estavam em edifícios antigos, com pouco valor, porém, seu terreno era valioso. Enquanto esses terrenos estavam em processo de valorização, a área continuava a ser uti-lizada como cortiço. Porém, quando o imóvel era comprado, o cortiço era demolido e a população, removida para áreas mais periféricas. A burguesia tentava impedir os cortiços com incentivos à produção de “casas higiênicas” e impondo limites à construção dos mesmos. Se as habitações populares, como o cortiço, não representassem perigo às condições sanitárias da cidade, prova-velmente nada se saberia sobre elas, pois as únicas informações sobre esse tipo de habitação e as soluções para melhorá-las, nos chegaram através dos técnicos contratados pela elite, preocupa-dos com a saúde pública. Os programas habitacionais passaram, pela primeira vez, a fazer parte das cogitações legais e começou-se a legislar sobre as dimensões mínimas dos cômodos, por exemplo. Porém, em vários estados brasileiros, não é difícil dominar completamente a situação, principalmente no que tange às áreas fragmentadas por loteamentos, muitas vezes sem estarem adequadas às con-dições topográficas. Posteriormente, vieram os loteamentos das velhas chácaras, que propiciaram o crescimento extensivo da ci-dade. Também chegou a vez do loteamento das grandes áreas abandonadas - por serem improdutivas e insalubres - tais glebas, de modo geral, acompanhavam a direção das estradas de ferro e dos rios. Como por exemplo, em São Paulo, o traçado sinuoso de rios como o Tietê e o Tamanduateí. ⁴⁹ Os terrenos próximos das fábricas mais importantes, que sempre estavam situadas ao lado dos desvios ferroviários, pas-

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saram a ser disputados. As estações de pequeno porte da linha férrea tornaram-se pólos de atração, originando o centro de pequenos núcleos comerciais. As estradas de ferro, então, tor-naram-se também, meios de transporte coletivo urbano, muito usado pelos operários. O Código Sanitário de março de 1894, trata precisamente da higiene das habitações, e, mais tarde, a Lei Municipal 498, de 14.12.1900, dizem textualmente que as vilas operárias “deverão” ser estabelecidas “fora da aglomeração urbana”. ⁵⁰

“Parece que, no começo, cada um construía o que pudesse, da forma que quisesse e muito argentário tratou de fazer verdadeiros cubículos em série, destinados aos pobres imi-grantes recém-chegados da Europa ou interior, depois de fracassados contratos de parceria nas fazendas de café. As-sim, os programas de habitação popular eram extremamente variados, indo dos cortiços às casas de três, quatro ou cinco cômodos, até chegarem às vizinhanças da programação de classe média(...)É sumamente interessante a verificação de como as casas velhas foram, aos poucos, sendo adaptadas, ou substituídas, em função de outras expectativas advindas de novos conceitos, hábitos, nova maneira de morar.” ⁵¹

A construção de tais casas higiênicas se tornou um negócio bem lucrativo, pois havia acordos entre os industriais e as companhias de sa-neamento, pois o governo concedia facilidades tais como a isenção de impostos.

“Considerando que poderiam propiciar a contaminação e a dissemi-nação de epidemias – doenças físicas e morais – dizia-se que eram lugares que propiciavam a deformação do caráter do trabalhador e que proprietários gananciosos exploravam as misérias do povo”. ⁵²

O problema da habitação popular no fim do século XIX es-tava atrelado aos primeiros indícios da segregação espacial nas novas cidades brasileiras.

⁵⁰ Desde o começo, sempre houve a preo-cupação das construções ditas “operárias”

fora do perímetro urbano – indústrias, operários, imigrantes e estradas de ferro eram assuntos para serem tratados fora da “cidade”, e “cidade” naquele tempo

não passava do perímetro histórico mas a “cidade nova”, ou a paróquia de Santa

Efigênia. Idem, pg 58.

⁵¹ LEMOS. Carlos, pg. 59.

⁵² RODRIGUES, Arlete, pg. 55.

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⁵³ BONDUKI, Nabil Georges. Origens da Hab-itação Social no Brasil. Arquitetura Moderna, Lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade, FAPESP, 1998, pg. 20.

⁵⁴ RAGO, Margareth. Do Cabaret ao Lar: A Utopia da Cidade Disciplinar. Brasil 1890 – 1930. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1994, pg. 177.

⁵⁵RAGO, Margareth, pg. 178.

”Se a expansão da cidade e a concentração de traba-lhadores ocasionou inúmeros problemas, a segregação social do espaço impedia que os diferentes estratos so-ciais sofressem da mesma maneira os efeitos da crise ur-bana, garantindo às elites áreas de uso exclusivo, livres da deterioração, além de uma apropriação diferenciada dos investimentos públicos”. ⁵³

Esses incentivos não surgiram meramente pela preo-cupação com a classe trabalhadora. A burguesia se assustou com a crise da mão-de-obra, que se formou mediante os bai-xos salários pagos e as péssimas condições de vida, fazendo com que a classe trabalhadora se articulasse em organizações sindicais de movimentos operários.“Com a Vila Operária se tor-naria mais fácil disciplinar a classe trabalhadora, rebelde, abrindo caminho para a realização da utopia burguesa de fabricação de uma classe trabalhadora desejada, combinando imperativos econômicos e políticos.” ⁵⁴ As Vilas tinham a intenção de disciplinar a classe tra-balhadora, “permitia controlar a economia interna do trabalhador e o seu próprio tempo fora da esfera do trabalho, usando a vila como um disciplinante, delimitando em que a classe trabalhadora pode cir-cular”. ⁵⁵ Desta forma, estando a vila operária e a fábrica no controle de um único agente, o dia-a-dia do operariado fora da fábrica era apenas uma extensão do regime rígido do seu horário de trabalho. Além do mais, a proximidade da mão-de-obra assegurava a assiduidade e a pontualidade, era um estado de permanente prontidão ao industrial. A explosão demográfica nas grandes cidades brasilei-ras fez com que o mercado imobiliário se tornasse atraente, com altas taxas de lucro. Os industriais, fazendeiros e outros que tinham condições financeiras propícias investiam na cons-trução de casas para aluguel. “... estas iniciativas individuais começaram a se juntar a outras, na forma de mútuas, isto é, com-panhias de capital aberto que reúnem acionistas a fim de investir na

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construção de casas para aluguel e que muitas vezes as constroem na forma de vilas”. ⁵⁶ As Vilas Operárias se caracterizam, em sua maioria em dois tipos: o primeiro tipo de vila foi construído pelos indus-triais, com o intuito de alugar as casas para os seus operários, na tentativa de atrair a mão-de-obra com alguma qualificação e su-prir a falta de moradia, principalmente por essas fábricas serem mais afastadas dos centros urbanos. O segundo tipo é formado pelas vilas construídas por empresas, companhias de construção ou um único empreendedor, as chamadas vilas do setor privado. A intenção era alugar aos trabalhadores mais qualificados.

“As vilas operárias... perduram na paisagem, marcam a mo-radia, tem um papel na lógica da urbanização e um sentido nos processos de reajustamento das relações de produção... Há vilas de todos os tamanhos e de variada estruturação in-terna, comportando desde uma rua apenas até várias ruas, jardins, praça de esportes e outros bens de uso coletivo (...) Quando a moradia na casa da vila é constituída de um alu-guel pago ao patrão, esse fato pode interferir nas relações de produção, pois a vila constitui o elemento mediador entre a venda da força de trabalho e o preço pago por esta força... ela tem, ao lado do valor de uso, um valor de troca”. ⁵⁷

As vilas operárias foram construídas também para reduzir o custo da reprodução da força de trabalho. “Segundo Marx, o salário é o ‘custo de produção da própria força de trabalho... é o custo necessário para con-servar o operário como tal e para formar um ope-rário.’” ⁵⁸ A dominação que o industrial exercia no operário, no caso das vilas, é dupla, pois além do poder do patrão, ele tinha o poder de proprietário sobre inquilino. A moradia na vila operária fazia com que o industrial tivesse total controle sobre o operário na sua vida social da fábrica. A perda do emprego significava a perda da moradia, e isso inibia greves e re-beliões. “Desde o primeiro momento a casa representa uma forma de reduzir o preço da força de trabalho, ampliar a capacidade de acumulação e induzir o trabalhador a permanecer no emprego”. ⁵⁹

⁵⁶ BLAY, Eva Alterman. Eu Não Tenho Onde Morar: Vilas Operárias na Cidade de São Paulo,

São Paulo: Nobel, 1985, pg. 1.

⁵⁷ BLAY, Eva. pg. 7 – 11.

⁵⁸ BLAY, Eva. pg. 13.

⁵⁹ BLAY, Eva, pg. 53.

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⁶⁰ BLAY, Eva, pg. 17. ⁶¹ BLAY, Eva, pg. 27. ⁶² BLAY, Eva, pg. 20. ⁶³ BLAY, Eva, pg. 75-77.

A falta de moradia era um problema tão grave que o opera-riado se submetia aos maus tratos para poder oferecer um teto à sua família. “Reflexões de Engels... demonstram que a casa constitui um vínculo do trabalhador com a terra, que o escraviza, o torna devoto e respeitoso... perde o seu espírito revolucionário, perde sua capacidade de exigir melhores salários”. ⁶⁰ A localização das fábricas nas áreas periféricas da cidade e a implantação das vilas operárias ao lado dessas fábricas contribuíram para o surgimento de vários núcleos urbanos numa mesma cidade fa-zendo com que esta crescesse e preenchesse os vazios urbanos entre o centro e a periferia (onde se localizavam as vilas). “Quando o Estado organiza uma política de imigração, é ele que está ativamente induzindo a con-formação da força de trabalho. Estrutura-se uma divisão social do trabalho em que o Estado, viabilizando o investimento de capital, atua para a formação da força de trabalho”.⁶¹ O crescimento das cidades e da população induziu o Estado a se posicionar com relação ao problema da habitação popular. “... en-tender a habitação é situá-la enquanto atividade social de produção e de con-sumo... este processo de produção, enquanto processo de valorização do capital, explica em parte a intervenção do Estado no setor”. ⁶² Segundo Eva Blay,

“saúde, especulação imobiliária e vazios urbanos são os três pro-blemas que o governo pretende solucionar ao propor o incentivo à construção das vilas operárias (...) O Estado propõe mudanças e facilita as condições para construção de vilas, promete melhoria no transporte... o que a câmara pretende é atrair o capital privado, induzindo-o a investir em habitações operárias... o poder munici-pal pretendia oferecer isenções e estímulos que garantissem uma elevada taxa de lucro... abrindo mão de impostos...” ⁶³

Foram criados alguns códigos de postura e higiene a serem segui-dos, porém, ao observar esses códigos percebemos que o principal interesse era afastar os cortiços e casas operárias do perímetro urbano, deixando-os longe das casas e do comércio da burguesia. Posteriormente foram ditadas regras para construção ou melhoria de habitação popular.

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Casa operária e legislação municipal

Apesar das confusões iniciais relativas à fiscalização mu-nicipal das construções populares autônomas – por terem sido erguidas em ruas mal-abertas e sem critérios de iluminação e ventilação, as casas de variados tamanhos, isoladas ou agrupa-das, erguidas segundo as necessidades e possibilidades de seus humildes proprietários, em sua grande maioria constituída de imigrantes de outras regiões do país e estrangeiros – a Prefeitura, aos poucos, foi controlando aos poucos a situação. A Câmara Municipal de São Paulo, promulgou o Código de 1886, depois de algumas resoluções esporádicas sobre a repar-tição e altura do interior das habitações. Naquele regulamento, o Capítulo VI, tratou de normas referentes a “Cortiços, Casas de Operários e Cubículos”, onde, dentre dezessete variados itens, podemos ver que tais construções deveriam possuir recuo fron-tal que garantisse 30m² livres. Tal exigência do recuo não existia para os lotes dentro do “perímetro urbano”, parecendo ser facultativa a criação do jardim frontal. Aquele código ainda exigia uma torneira ou um poço de água, para tanque de lavar roupas, atendendo cada grupo de seis casas. Deveria haver uma latrina para cada duas habitações. As casas térreas deveriam ter 4,00m de pé direito, sendo tolerados 3,50m de altura para os pavimentos assobrada-dos. Cada habitação deveria possuir, pelo menos três cômodos, todos com abertura para o exterior, “de modo que disponham amplamente de ar e luz”. Os soalhos seriam necessariamente afastados 0,50m do solo, devido à umidade emanada pelo lençol freático, e a área mínima de cada dependência seria 10,00m². ⁶⁴

“Talvez essas dependências comunitárias fossem aceitas somente em agrupamento de moradias levantadas por capi-talistas, grupos com o número máximo de seis casas, como era costume exigir-se. Com o tempo, o número mínimo de três dependências por residência passou a caracterizar a casa operária embora nem sempre cada uma delas tivesse os

⁶⁴ LEMOS. Carlos. pg.65,66.

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⁶⁵ LEMOS. Carlos pg. 66.

⁶⁶ LEMOS. Carlos,pg. 83.

exigidos 10,00m2. A lei 498, de 14.12.1900, catorze anos depois do primeiro código, ainda estipulava aquela regra de três cômodos, mas já obrigou uma latrina para cada mo-radia, em qualquer hipótese. O recuo de frente continuava obrigatório.” ⁶⁵

Os programas mínimos dessas habitações era, portanto, uma imposição de ordem econômica. Existia superposição de funções ou de atividades domésticas devido à óbvia falta de es-paço apropriado.

“Os raios do sol haviam sido descobertos como poderosos bactericidas através de seu agente ultravioleta e o então Serviço Sanitário, por meio de seu Código de 1911, já não só exigia rigor no afastamento da umidade emanada do solo, precaução já antiga, como também recomendava nas condições de saneamento que a orientação dos edifícios de-vesse “visar, sempre que possível, a sua proteção contra os ventos úmidos” e fosse tal que assegurasse “uma insolação de 3 a 4 horas por dia, no mínimo”. ⁶⁶

Muitos autores, como vimos, deram uma valiosa con-tribuição para o conhecimento sobre a questão da habitação popular, inseridos no contexto histórico, econômico e político. Porém, observa-se que os estudos mais freqüentes sobre as vi-las operárias, tanto em âmbito nacional como no regional, inse-rem seu olhar crítico à luz da história e da sociologia, e deixam de lado, por vezes, aspectos específicos relacionados à sua ar-quitetura e configuração urbana. Nesse trabalho, desejamos dar uma parcela de contribuição na construção desse conhecimento ao observar as vilas operárias também pela ótica da arquitetura.

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Pretendemos nesse capítulo comentar sobre os aspectos urbanos e arquitetônicos das vilas e, também, mostrar os diver-sos tipos de habitação operária e as nomenclaturas mais usadas na literatura existente sobre habitação popular.

2.1 - A Vila Operária, Aspectos Urbanos e Arquitetônicos

Os horrores das habitações da classe trabalhadora po-dem parecer óbvios atualmente, mas as ações para mudar es-sas condições foram incrivelmente lentas. As massas populares sempre foram de pouco interesse para engenheiros e arquitetos. No fim do século XIII e na primeira metade do século XIX, os proprietários de cortiços pouco se importavam com projetos ar-quitetônicos. Na Europa, queriam apenas que os seus empreitei-ros realizassem a coisa mais simples possível: uma versão simpli-ficada das casas em estilo georgiano, geminadas e de alvenaria. Edifícios públicos, como igrejas ou escolas, não faziam parte dos “conjuntos” habitacionais em série e eram implantados posteri-ormente, como resultado da benevolência de algum particular ou da intervenção institucional. ¹ Para compreendermos melhor a configuração espacial das vilas operárias, precisamos conhecer os conceitos e filoso-fias influenciaram na concepção arquitetônica e urbanística da disposição das vilas e dos seus espaços de convívio social. É necessário entender de onde surgiram os elementos de controle e dominação traduzidos na conformação do espaço das vilas ope-rárias.

A Vila operária, uma materialidade conceitual

O modo de produção capitalista, sustenta-se nos dois pi-lares da dominação do capital sobre o trabalho:

1- A propriedade dos meios de produção e; 2- O controle real sobre o processo de produção.

¹ RYKWERT, Joseph. Pg. 107.

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Tais princípios existentes no ambiente de produção ul-trapassaram os portões da fábrica e se refletiram nas atividades extra-fabris dos operários de maneira que, a figura da “empresa” também se fazia presente e recriava a sua forma de dominação e controle. O Brighton Labour Process Gruop ², ao analisar o proces-so de trabalho capitalista, identificou três características básicas na organização do mesmo. São elas:

(a) a divisão entre trabalho intelectual e manual; (b) a fragmentação/desqualificação do trabalho; (c) o controle hierárquico.

Uma primeira característica da noção de desqualificação é a substituição da relação antes existente entre trabalhador/ferramenta pela relação trabalhador/máquina. Em última instância, significava a substituição do artesão pelo operador de máquina. A hierarquia é significativa no sistema de produção capi-talista. Através do estabelecimento das relações de poder, são regu-lados os princípios de classificação por intermédio da conservação ou mudança do grau de isolamento que separava uma categoria da outra. Foi por intermédio da definição de um critério de disciplina que o capital definiu regras no processo de produção, podendo alo-car tarefas, impor velocidades e punir a má qualidade do trabalho.

“A disciplina não pode se identificar com uma instituição nem com um aparelho; ela é um tipo de poder, uma modalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto de instrumentos, de técnicas, de procedimentos, de níveis de aplicação, de alvos; ela é uma física ou uma anatomia do poder, uma tecnologia”. ³

Mas, como utilizar a experiência extraída dos estudos de Michel Foucault sobre o poder e aplicá-los às Vilas Operárias? O próprio Foucault responde esta questão, dizendo que

² BRIGHTON LABOUR PROCESS GROUP. O processo de trabalho capitalista. In Silva, Tomaz T. da (org.) Trabalho, Educação e Pratica social – Por uma teoria da formação humana. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1991. Pg.32.

³ FOUCALT, Michel. Vigiar e punir. Petrópo-lis – RJ. Ed. Vozes, 1991. pg. 189.

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“Se uma outra coisa (em termos de abordagem ou de método) que acreditei poder utilizar na psiquiatria, na penalidade, na história natural pode lhe servir, fico satisfeito. Se forem obriga-dos a recorrer a outros ou a transformar os meus instrumen-tos, mostrem-me porque também poderei lucrar com isso”. ⁴

É preciso registrar que, quando Foucault definiu uma nova conceituação de poder, os seus estudos faziam parte de uma pesquisa realizada sobre a história da penalidade (sistema prisional). O problema se colocava então, numa relação especí-fica de poder existente entre os indivíduos que se encontravam enclausurados. Assim o autor definiu este tipo específico de po-der como “disciplina” ou “poder disciplinar”. Ou seja, a disci-plina se comporta como uma rede que permeia todo o aparelho produtor de poder, ela é uma técnica, um instrumento de poder. O importante na vigilância é que sempre esteja presente, de maneira contínua e permanente nos indivíduos a ela expos-tos. Inerente a esta questão, está o conceito de olhar invisível pro-posto por Bentham no Panóptico, segundo o qual é permitido ver tudo, permanentemente sem ser visto. Nas primeiras fábricas, os instrumentos dessa vigilância eram os mestres e contra-mestres. À medida que o aparelho de produção se tornou mais complexo, aumentou o número de ope-rários e a divisão do trabalho. Neste sentido, se fazia necessária a criação das funções de controle das operações de produção, como parte integrante do processo. No final do séc. XVII, o sistema de aprisionamento na Eu-ropa era chamado de Panoptismo, e a arquitetura e a filosofia desse sistema de controle interferiu no pensamento dos “pré-ur-banistas progressistas”, quando começaram a criar soluções para a cidade industrial e seus trabalhadores. Esse sistema influen-ciou também a forma dos governos da época administrarem e controlarem suas cidades.

“The Panopticon is a type of prison building designed by English philosopher Jeremy Bentham in the late eighteenth

⁴ FOUCALT, Michel. pg. 127.

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century, 1791. The concept of the design is to allow an ob-server to observe (-opticon) all (pan-) prisoners without the prisoners being able to tell if they are being observed or not, thus conveying a “sentiment of an invisible omniscience.” In his own words, Bentham described the Panopticon as “a new mode of obtaining power of mind over mind, in a quantity hitherto without example”. ⁵

A filosofia do Panóptico é induzir as pessoas da cidade ou os detentos das prisões a um estado consciente e constante de visi-bilidade. Traduzindo esse conceito em arquitetura, analisemos o Panóptico de Benthan, é uma espécie de prisão, circula, no centro se localiza uma torre, as celas ficam ao redor da torre, também em forma circular, essa torre é vazada por largas janelas que se abrem para a face interna do anel. O anel é dividido em várias celas, cada uma com janelas para o interior e para o exterior, com isso, pelo efeito da luz, da torre percebe-se qualquer movimento do detento.

“A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a som-bra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha...O Panóptico é uma máquina de dissociar o par ver e ser visto: o anel periférico, se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto.” ⁶

A partir desse sistema do Panóptico, o panoptismo passou a ser também uma nova modalidade de disciplinamento, que se in-filtrou na formação da sociedade, pois seus conceitos foram aplica-dos nas escolas, hospitais,e, provavelmente, nas soluções fabris e operárias.

“A finalidade prescrita ao ensino primário será, entre outras coisas,“fortificar”, “desenvolver o corpo”, dispor a criança “para qualquer trabalho mecânico futuro”, dar-lhe “uma ca-pacidade de visão rápida e global, uma mão firme, hábitos rápi-dos. ”As disciplinas funcionam cada vez mais como técnicas para fabricar indivíduos úteis.” ⁷

⁵ BENTHAM, Jeremy.The Panopticon Wri-tings, London: Verso, 1995, pg.95. Tradução livre : O Panoptico é um tipo de edifício projetado para o sistema prisional pelo filósofo inglês Jeremy Bentham no fim do século XVIII em 1791. O conceito do projeto é permitir que um observador veja todos os prisioneiros sem que sejam capazes de dizer se estão ou não sendo observados, con-vergindo em um “sentimento de onisciência invisível”. Em outras palavras, Bentharn des-creve o Panoptico como “uma nova forma de obter poder mental sobre a mente”.

⁶ FOUCALT, Michel pg. 177, 178.

⁷ La Révolution française et l’education tech-nique, 1968, p.106. apud FOUCALT, Michel, pg. 185.

Panóptico de Bentham, planta circular, celas voltadas para a torre central de vigilância constante. Fonte: Michel Foucalt, Vigiar e Punir, p.44

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Foucault entende que a disciplina, ao distribuir os indi-víduos no espaço, se utiliza de várias técnicas:

(1) A cerca, definida como “a especificação de um local heterogêneo a todos os outros e fechado em si mesmo”. ⁸ A evo-lução, desde a manufatura e oficinas até a fábrica, imprimiu ao processo produtivo não só uma mudança na escala do espaço a ocupar como também um novo tipo de controle. Ao concentrar as forças de produção num único recinto, pretendia-se não só retirar delas o máximo de utilidade, como também anular toda e qualquer manifestação de resistência de luta; (2) O principio de quadriculamento individualizante, ou de localização imediata. “Cada indivíduo no seu lugar; e em cada lugar, um indivíduo”. ⁹ O espaço disciplinar estabeleceu uma cor-respondência na divisão entre parcelas e corpos ou elementos. Esta estratégia visava estabelecer as presenças e as ausências, a posição dos indivíduos e vigiar seu comportamento, medir suas qualidades ou méritos; (3) A regra das localizações funcionais codificou o espaço que a arquitetura destinou ao múltiplo uso. A definição dos es-paços permitiu, ao mesmo tempo, vigiar, “romper as comunicações perigosas” e criar um espaço útil. Porém, o principio do quadricu-lamento individualizante tornou-se complexo quando aplicado às fábricas que surgiram século XVIII. Naquele momento, não bastava somente distribuir os indivíduos num espaço, isolá-los e localizá-los. O novo estágio do processo produtivo exigia a articulação dessa forma de distribuição dos indivíduos num aparelho de produção com características específicas. “É preciso ligar a distribuição dos corpos, a arrumação espacial do aparelho de produção e as diversas formas de atividade na distribuição dos postos”. ¹⁰ (4) O conceito de unidade não se refere nem a local ou ter-ritório, mas a uma posição: o lugar que o elemento ocupa numa classificação. “A disciplina, arte de dispor em fila e da técnica para a transformação dos arranjos (...) individualiza os corpos por uma localização que não os implanta, mas os distribui e os faz circular numa rede de relações”. ¹¹

⁸ FOUCALT, Michel, pg.130.

⁹ FOUCALT, Michel, pg. 131.

¹⁰ FOUCALT, Michel, pg. 132.

¹¹ FOUCALT, Michel, pg.133.

Projeto de uma penitenciária, 1840, nos princípios do panoptismo. Um detento em

sua cela, rezando diante da torre central.Fonte: Michel Foucalt, Vigiar e Punir, p.47.

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Por meio da concepção de Foucault, podemos entender que habitações para operários, construídas à margem das fábricas, como no caso da Vila Operária Santa Cruz, constituem na expressão mate-rial desses princípios disciplinares, extrapolando o âmbito fabril. Tais habitações recriaram, no âmbito extra-fabril e domésti-co, as condições existenciais fabris. Precisamos apreender o objeto de estudo a partir da dupla perspectiva dos efeitos desse poder. Neste sentido, a arquitetura se constituiria como um dos efeitos repressivos na manutenção da vigilância e do controle nos modos de morar.

As Vilas e o Processo de Industrialização / Urbanização no Brasil

A cidade pioneira no processo de construção de vilas ope-rárias foi São Paulo, no final do século XIX e início do século XX, o centro financeiro do café. A concentração de capital era grande e esse quadro propiciou a base para atividades produtivas, pois existe elevação no poder de consumo e automaticamente o aumento da produção. “A expansão econômica da cidade e o afluxo de um enorme con-tingente populacional corresponde a uma elevada demanda habitacional.” ¹² Os industriais encontravam dificuldades com a mão-de-obra, pois os ex-escravos não eram especializados e os imigrantes, mais conscientes do seu valor, não permaneciam após perceberem as péssimas condições de trabalho e de moradia.

“A moradia na forma de vilas operárias encontra raízes num remoto passado. Elas aparecem como sucedânio da senzala... no período escravocrata, junto à casa senhorial, rural ou urbana, o proprietário destinava uma parte da construção à senzala. Pela habitação, o proprietário preservava e protegia sua mercadoria - o escravo. Posteriormente, o trabalho livre rural, exercido pelo colono, também foi controlado e parcialmente remunerado pelo uso da habitação nas ‘colônias’ do interior das fazendas... o surgimento no cenário urbano das vilas operárias é parte do processo de industrialização.” ¹³

¹² BLAY, Eva, pg. 45.

¹³ BLAY, Eva, pg. 30.

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Nesse momento, os industriais percebem que os terrenos próximos às fábricas podiam representar possibilidade de negó-cios futuros.

“Interessados em atrair e reter força de trabalho, já em 1853... Bahia, Rio de Janeiro, Minas... iniciando com o for-necimento de locais para dormir, as indústrias passam a fornecer casas... aos operários estrangeiros. Aos brasileiros são oferecidos a construção de fornos, fogões, ou apenas col-chões, camas e objetos caseiros.” ¹⁴

No Brasil, os primeiros industriais a investirem no setor imobiliário urbano foram os irmãos Falchi:

“... Construíram na Vila Prudente localidade deserta... uma vila fabril, cheia de vida e de trabalho, ornada de belos edifícios, com comércio local relativamente desenvolvido. Escola, templo, fábrica e casas residenciais de elegante ar-quitetura e vila de operários, formando um todo que atesta a força de vontade de seus fundadores, os quais em home-nagem ao Venerando Dr. Prudente de Morais, deram o seu nome(...) O espaço da Vila Prudente foi ocupado, urbaniza-do e loteado, ampliando os limites da cidade. Desde o início verifica-se, pois, que as indústrias e as vilas operárias se instalam na cidade de São Paulo ao longo das vias férreas... em terrenos inundáveis. ... A emergente burguesia urbana é relativamente reduzida se confrontada com o operariado já presente na cidade .” ¹⁵

Com a implantação das vilas e o surgimento de novos aglomerados urbanos, a estrutura espacial da cidade de São Pau-lo, bem como do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, todas pas-savam, nesse momento, por um processo industrial semelhante, adquiriram maior segregação social. Em determinadas áreas sur-giram ocupações características das classes sociais dominantes. Formam-se os bairros operários e os bairros burgueses.

¹⁴ BLAY, Eva, pg. 31.

¹⁵ BLAY, Eva, pg. 04.

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Comissão de Exame e Inspeção das Habitações Operárias

No final do século XIX, quando as autoridades “tomaram conhecimento” das condições de vida nos cortiços e nas demais habitações operárias, passaram a legislar sobre o assunto. Pri-meiro houve os relatórios das comissões de exame das habita-ções operárias, posteriormente foram criados os primeiros códi-gos sanitários. O conhecimento médico e higienista adquiridos no Bra-sil foram reflexos das teorias médicas francesas. A exigência de higienização das habitações deu origem às leis que concediam poder para intervir na topografia urbana e corrigir projetos de habitação popular. Em São Paulo, a partir de 1893, a prefeitura passou a exi-gir a aprovação das plantas das novas construções, começou a cobrar ventilação e luz natural para os compartimentos de uso contínuo, entre outras exigências. Os relatórios elaborados, de-ram subsídios para a redação do primeiro Código Sanitário, em 1894, oficializado pelo decreto 233, de 02/03/1894. Posteriormente surgiram soluções não só para o controle da higiene, mas regras para construção, intervenção e localização de tais habitações ope-rárias.

“Em 1885, a cidade sofre um grave surto de varíola que imediatamente é atribuído aos cortiços, às casas de moradia em comum... O médico da câmara municipal, Dr. Eulálio da Costa Carvalho... expõe o grave problema sanitário... o qual necessitaria impor normas para a construção de cortiços... higiene e até demolição dos que forem julgadas inconve-nientes ou prejudiciais à saúde de seus habitantes...”A construção dessas casas, quer ao longo das ruas, praças, etc, quer dentro dos terrenos particulares, é inteiramente proibida no perímetro comércio”. ¹⁶

Percebe-se que a intenção não foi necessariamente re-solver os problemas da insalubridade das habitações operárias,

Casas propostas pela Comissão de Exame e Inspeção.Fonte: Nabil Bonduki, Origens da Habitação Social no Brasil, p. 59.

¹⁶ Eva Blay, pg. 62.

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mas sim afastá-las das áreas centrais do valorizado solo urbano paulistano. Com relação às especificações para construção das habitações operárias, estas seguiram um padrão inferior aos das casas burguesas. As alturas mínimas, recuos, etc. são inferiores. “O pé-direito das casas operárias, por exemplo, deve ser de no mínimo quatro metros. As portas do primeiro pavimento: 2,75m x 1,00m, etc. As casas burguesas terão 5 metros de pé-direito e as portas, 3,20m x 1,30 m.” ¹⁷ O relatório da comissão de exame e inspeção das habita-ções operárias da prefeitura de São Paulo, em 1894, dizia:

“A população triplicou em dez anos. Cuidar da unidade urbana, não já da habitação privada, mas daquela onde se acumula a classe pobre, a estalação onde pulula a população operária, o cortiço como vulgarmente se chamam estas cons-truções acanhadas, insalubres, repulsivas, algumas onde as forças vivas do trabalho se ajuntam em desmedida, fusti-gada pela dificuldade de viver, numa quase promiscuidade que a economia lhes impõe, mas que a higiene repele.” ¹⁸

Além de ditar regras sobre como deveriam ser as casas das vilas operárias, com qualidade bem inferior às casas burguesas, com dimensões e materiais construtivos abaixo das exigências normais, a comissão, mediante o relatório já mencionado, propôs o local onde deveriam ser instaladas estas vilas: “A situação mais conveniente para as vilas operárias deve ser, sem dúvida, aquela que reúna facilidade de comunicação à barateza dos terrenos... em torno da cidade de São Paulo, num raio de 10 a 15km...” ¹⁹ O incentivo do Estado à construção das vilas indica a politização do espaço urbano. Os últimos parágrafos do relatório da comissão de exame das habitações operárias, porém, não es-condem as reais intenções do poder público e privado: preservar e reproduzir a mão-de-obra importada. O texto diz:

¹⁷ Eva Blay, pg. 63.

¹⁸ Prefeitura Municipal de São Paulo, Apud Eva Blay, pg. 64.

¹⁹ Prefeitura Municipal de São Paulo, Apud

Eva Blay, pg. 76.

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“Tais são as medidas que julgamos adequadas a solver o problema das habitações entre nós. Os favores que o Estado ou município deliberar conceder no intuito de estimular ou criar empresas que se proponham a construir vilas ope-rárias nos tempos atuais, quando a crise financeira está em período agudo, e por outro lado as epidemias nos ameacem todos os anos, dizimando a classe operária e roubando-nos braços úteis que importamos com sacrifícios... “ ²⁰

Após a consolidação dos decretos, nas primeiras déca-das do século XX, as vilas aumentaram nos principais centros do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e depois Bahia. Já na década de 1930, aumentou o processo de industrialização e houve uma elevação na quantidade de postos de trabalho, o que abriu margem para maior organização social e maior presença dos trabalhadores na vida sócio-econômica e política do Brasil. No Brasil, existiram algumas variações com relação às ca-sas operarias e ao seu espaço de convívio social. Um dos exemplos de vila particular é a projetada pelo engenheiro Regino Aragão, em 1911, que é similar a muitos outros empreendimentos para habitação operária. Pela planta da vila percebe-se a racionaliza-ção da organização espacial, que buscou reduzir ao máximo o preço da construção e tirar o maior proveito possível do terreno, e ao mesmo tempo seguia os padrões municipais para desfrutar dos incentivos fiscais. Apesar da variedade de tipos de habitação, todas se baseavam numa viela central, casas geminadas, tanques e banheiros no fundo dos lotes, corredor perpendicular à rua, ausência de recuos laterais e frontais, entre outros. É impossível analisar a disposição e configuração espa-cial das vilas operárias sem comentar sobre a vila Maria Zélia, em São Paulo, situada no bairro do Belenzinho, próxima ao Rio Tietê. Construída entre 1911 e 1916, a vila foi inaugurada em 1917 para abrigar os dois mil e cem funcionários que trabalhavam na Companhia Nacional de Tecidos de Juta, do empresário Jorge Street. O nome da vila é em homenagem à filha Maria Zélia, que morreu ainda adolescente, no ano da inauguração da vila. O ²⁰ Prefeitura Municipal de São Paulo, Apud

Eva Blay, pg. 77.

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projeto ficou nas mãos do arquiteto francês Pedarrieux. Foram erguidas 198 casas com dois, três e até quatro dormitórios, de tamanhos que variavam entre 75 e 110 metros quadrados. Havia água encanada, energia elétrica e calçamentos. As casas pos-suíam assoalho de pinho-de-riga e portas em madeira maciça. Somente a energia elétrica era paga diretamente pelo morador. Já a água e o aluguel eram descontados do salário. Era considerado modelo da boa habitação operária: casas unifamiliares e “higiênicas”, controle patronal e ampla gama de equipamentos coletivos, como igreja, biblioteca, teatro, creche,

Melhores habitações situadas de frente para a rua, permitindo a cobrança de aluguéis mais altos.

Corredor lateral para iluminação do segundo dormitório e da sala, obedecendo a legislação municipal.

Ausência de recuos laterais e frontais, aumentando o aprovei-tamento do terreno.

Lotes de 40m2 , com a alta taxa de ocupação de 75%, corres-pondente a 30m2 de construção.

Corredor perpendicular à rua, garantindo o aproveitamento do miolo do quarteirão.

Paredes hidráulicas e paredes laterais comuns às duas casas, reduzindo o custo da construção.

Vila da Rua São João, projetada por Regino Aragão.

Fonte: Nabil Bonduki, Origens da Habitação Social no Brasil, p. 51.

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jardim de infância, grupo escolar, consultório médico e dentário, associação recreativa e beneficente, além de comércio, todos co-mandados pelo industrial. Eva Blay descreve a configuração espacial do conjunto:

“Além do já descrito jardim, 5 ruas perpendiculares à Rua dos Prazeres e 4 ruas transversais, 178 residências estão distribuídas por essas 9 ruas. Há ainda o Grupo Escolar Maria Zélia e o Colégio Manuel da Nóbrega, em cujo fron-tispício se lê “Escola de Meninos” e que fica em frente ao grupo escolar, antiga “Escola de Meninas”. Há uma Igreja Católica, um armazém, um depósito de material, um bar, uma pequena oficina de calçados desativada e um escritório de administração da vila. Na época da sua fundação (1916-17) ela possuía um posto médico, dentário, creche, um tea-tro e um clube recreativo.” ²¹

Jorge Street, foi um dos pioneiros na implantação da in-dústria no Brasil, numa época em que a burguesia do país só valorizava a agricultura.

“Em 1912 fez um vultoso empréstimo junto aos bancos in-gleses para aqui instalar uma grande fábrica de algodão... Contratara o arquiteto francês Pedarrieaux, para projetar

²¹ BLAY, Eva, pg. 221.

Igreja da Vila Maria Zélia, nas áreas externas de convívio.

Divisão da “escola para meninos” e “escola para meninas”, em blocos separados.

Vista dos Galpões. Imagens da Vila Maria Zélia, São Paulo, Fonte: Nabil Bonduki, Ori-gens da Habitação Social no Brasil, pg. 64,65.

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as casas, fábrica, igreja, escola, etc. Colocara a vila nas mãos de um administrador que, mesmo na fase crítica, manda continuar a construção de mais algumas casas... Este in-vestimento, segundo os filhos de Street, agravou a situação econômica do empresário, que não conseguiu completar sua obra...” ²²

Apesar de compará-lo aos utópicos, como Owen e Fou-rier, pesquisas comprovam que Street defendia o trabalho infan-til e a não concessão de licença à gestante. ²³

“Através do Instituto de Aposentadorias e Pensões. Além de ser segregada do tecido urbano, introduz a noção de habi-tação não só como o abrigo unifamiliar, mas como conjunto de equipamentos coletivos necessários para o desenvolvi-mento de todas as atividades do tempo do “não-trabalho”. A vila era servida por comércio diversificado: açougue, pa-daria, mercadinho com câmara frigorífica, farmácia com laboratório e armazém.” ²⁴

Como já foi visto, os teóricos desde o século XVII influen-ciaram no desenvolvimento e na configuração espacial das fábri-cas industriais e na moradia do operariado, esse rebatimento foi notado nas propostas dos socialistas utópicos, e posteriormente, em fins do século XIX, chegou ao Brasil propostas de fábricas e vilas operárias com características européias, quando essas pro-postas foram implantadas e consolidadas no Sudeste do Brasil, chegou também ao Nordeste, com características próprias e pe-culiares, não seria diferente no estado de Sergipe, e particular-mente no bairro operário Santa Cruz, na cidade de Estância.

²² BLAY, Eva, pg. 225-27.

²³ BLAY, Eva, pg. 229-30.

²⁴ BONDUKI, Nabil, pg. 64-5.

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2.2 - Modos de Morar

A forma de discutir a moradia popular sofreu várias mu-danças ao longo do tempo. A intenção desse capítulo, é também, exemplificar as diversas formas de morar da população de baixa renda . De acordo com o “Dicionário Ilustrado de Arquitetura”²⁵, de onde tiramos todas as ilustrações desse item, existem várias definições para diversas formar do morar operário, como:

· Chalé – 01. casa imitando o estilo suíço. Tem como prin-cipais características o uso da madeira como elemento estrutural e decorativo, a utilização de ornamentação rendilhada, particu-larmente o lambrequim. O emprego de telhado com duas águas com amplos beirais e a implantação em centro do terreno com empena voltada para a via publica. 02. casa pré-fabricada feita de madeira cuja principal característica é a cobertura que se estende até o chão formando vedações laterais. 03. No Rio de Janeiro, antigo tipo de edificação popular que utilizava a madeira como elemento de vedação. Foi muito freqüente na cidade em fins do séc. XIX. Foi proibida por legislação no início do século XX. 04. No interior do Rio Grande do Sul, casa de madeira rural ou campestre. Em todos os sentidos é usada às vezes a grafia fran-cesa Chalet.

²⁵ ALBERNAZ, Maria Paula. Lima, Cecília Modesto. Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000. Ilustrações usadas nesse capítulo, das pági-nas: 127-129; 185; 305;383;397;422-424; 443; 564; 574.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

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· Casa Brejada - No Norte, principalmente Ceará, casa modesta cujo chão é úmido por deficiência de impermeabiliza-ção do piso, utilizado por classes trabalhadoras.

· Casa de Cômodos - Casa que contém várias unidades habitacionais formadas, cada uma delas, por um único compar-timento, sem instalações sanitárias privativas e servidas por uma ou mais entradas comuns. Em geral trata-se de um antigo pré-dio deteriorado subdividido por seu proprietário para locação. Freqüentemente são encontrados em antigas áreas centrais da cidade, que se tornaram decadentes com o tempo. No Rio de Janeiro e São Paulo, em fins do século XIX. constituía uma das principais alternativas de moradia para a população pobre.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2°

Edição. São Paulo, 2000.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

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· Casa de Parede-Meia - Casa que possui uma de suas paredes externas, usualmente lateral, em comum com a casa vi-zinha. Em geral, a expressão refere-se a casas bem modestas. As casas geminadas e as casas corridas são casas de parede-meia. .

· Casa de Torrões - Casa humilde encontrada na cam-panha gaúcha. É feita com blocos maciços de argila empilhados. Conserva o capim proveniente dos solos argilosos que serve para vedar as juntas entre os blocos. Suas paredes são baixas. Possui cobertura de quatro águas feita de palha. Seu piso é de chão bati-do. Constitui um tipo tradicional de edificação da região atual-mente em vias de desaparecimento.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEdi-tores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

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Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEdi-

tores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

· Casas Corridas – conjunto formado por mais de duas casas implantadas de modo a terem suas paredes laterais em co-mum com as casas vizinhas, resultando em telhado único para todas as unidades. Em geral as casas possuem ainda fachadas frontais no mesmo alinhamento. Muitas vezes as casas são idên-ticas internamente.

· Edícula - Construção complementar à edificação princi-pal, sem comunicação interna com esta e de menor porte. Comu-mente é utilizada em residências unifamiliares como lavanderia, garagem e dependências de empregados ou de hóspedes. Em antigas casas urbanas e em casas humildes no interior constitui muitas vezes o compartimento de W.C. Porém, a maioria das vezes era utilizado como moradia de empregados.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores,

2° Edição. São Paulo, 2000.

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· Habitação coletiva - Habitação destinada ao uso resi-dencial de um grupo de pessoas, usualmente não unidas por laços familiares, ligadas por interesses diversos.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Ar-quitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

· Palafita – 1.Conjunto de estacas, em geral de paus roliços ou madeira em bruto, fincadas firmemente no solo, sustentando edificações implantadas em terrenos alagados, sujeitos a inun-dações, ou em áreas com água. É também chamada estacaria. 2. Por extensão, nome dado às casas construídas sobre palafita.

· Senzala – 1. Antigamente, cada uma das unidades de mo-radia dos escravos no Brasil colonial. 2. Por extensão, construção que servia de alojamento para os escravos negros em fazendas e casas senhoriais no Brasil colonial e imperial. Nos engenhos de açú-car, localizava-se entre as edificações da Casa-Grande e da Casa-de-Engenho. Nas fazendas de café situava-se em um dos lados do ter-reno que circundava o terreiro para secagem de café. Comumente era feita de taipa, tinha forma retangular alongada e possuía uma única entrada com porta baixa e estreita. Em geral tinha cobertura de telha, às vezes de palha, e chão de terra batida. Freqüentemente dispunha de vários quartos grandes destinados aos solteiros e de alguns menores para casados. Não tinha instalações sanitárias e a cozinha situava-se na frente da edificação sobre galeria coberta.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Ar-quitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

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²⁶ ALBERNAZ, Maria Paula. Lima, Cecília Modesto. pág. 305.

²⁷ Definições retiradas da leitura do primei-ro e segundo capítulos do livro: BONDUKI, Nabil Georges. Origens da Habitação Social

no Brasil. Arquitetura Moderna, Lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade, FAPESP, 1998.

²⁸ MINISTÉRIO DAS CIDADES, Secretaria Nacional de Habitação. Déficit Habita-

cional no Brasil – Municípios Selecionados e Microrregiões Geográficas. Fundação João

Pinheiro, Belo Horizonte: 2004. pág. 7-9.

2.3 - Nomenclatura para definir os conceitos de habitação para o trabalhador

O termo “Habitação” em seu conceito mais amplo é defi-nido como : Espaço construído destinado para moradia. Pode ser unifamiliar, quando se destina a uma única família, ou multi-familiar, quando se destina a mais de um domicílio, como por exemplo, um edifício de apartamentos. ²⁶ Porém, o termo se subdivide em vários outros, com dife-rentes conotações. Algumas definições sobre o termo “Habi-tação” podem ser vistas da leitura do primeiro e segundo capítu-los do livro Origens da Habitação Social no Brasil. Nabil Bonduki :

· Habitação Popular – um termo genérico que define uma determinada solução de moradia para a população de baixa renda. · Habitação Sub-Nornal – Utilizada pela prefeitura de São Paulo para definir a moradia que não oferece as condições mínimas de segurança, espaço e salubridade. · Habitação de Interesse Social – Utilizada pelo extinto BNH, envolvendo seus programas para as faixas de menor renda. · Habitação de Baixo custo (Low-Cost Housing) – Utili-zado para designar habitação a baixo custo, porém sem que isso sig-nifique necessariamente habitação para população de baixa renda. · Habitação para população de baixa renda – conceito se-melhante ao de habitação social, ou seja, direcionado realmente para a população de menor renda. ²⁷

Já segundo a Secretaria Nacional de Habitação ²⁸, existem ainda os conceitos de moradia que são aplicados aos estudos de Déficit habitacional e Inadequação de moradia, como:

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· Domicílio Rústico: sem paredes ou com paredes aparelhadas.

· Domicílio improvisado: todos os locais destinados a fins “não residenciais” que servem como moradia.

· Co-Habitação – soma de família diferentes em mesmo domicílio ( compartimentos cedidos ou alugados ) Observando a Habitação Popular no seu conceito mais genérico, notamos o abrangente universo de soluções encontradas pela própria população, e posteriormente pelo Estado e pela inicia-tiva privada. Na produção vernacular tem-se:

· Favelas - Segundo Nestor Goulart, são barracos precários semelhantes aos mocambos. No Rio de Janeiro, no final do século XIX, com a construção de barracos no “Morro da Providência da Favela” . Os materiais eram restos de demolição. As favelas se tor-nam comuns em outras cidades, transformando-se em um dos tipos básicos de ocupação de terreno irregular. ²⁹ Segundo o dicionário Houaiss ³⁰, o nome Favela, sugere no regionalismo brasileiro um conjunto de habitações populares que utilizam materiais impro-visados em sua construção tosca, e onde residem pessoas de baixa renda. Na sua etimologia, fava + -ela; segundo Nascentes, a acepção ‘habitação popular’ surge após a campanha de Canudos, quando os soldados, que ficaram instalados num morro daquela região, cha-mado da Favela, provavelmente por aí existir grande quantidade da planta favela, ao voltarem ao Rio de Janeiro, pediram licença ao Mi-nistério da Guerra para se estabelecerem com suas famílias no alto do morro da Providência e passaram a chamá-lo morro da Favela, transferindo o nome do morro de Canudos, por lembrança ou por alguma semelhança que encontraram; o nome se generalizou para ‘conjunto de habitações populares.

· Mocambos – Termo regional, ainda segundo Nestor Goulart, eram habitações instaladas irregularmente em terrenos públicos, perto de praias, mangues e às margens de córregos e

²⁹ REIS, Nestor Goulart. Habitação Popular no Brasil: 1880-1920. São Paulo: Fau-Usp, cadernos de pesquisa do LAP, 1994. pg.31.

³⁰ HOUAISS, Antonio. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Ed. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia Rio de Janeiro, 2001.

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³¹ REIS, Nestor Goulart. pg.29.

³² FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. Introdução à História da Sociedade Patriar-cal no Brasil. 8 ed. Recife: Record, 1990, pg.

153-207.

³³ REIS, Nestor Goulart. pg.35.

rios, predominante em algumas regiões do Nordeste, pelo cli-ma quente, forma de habitação mais precária que as “casinhas”. Muitas vezes não chegavam a ser revestidas com barro, sendo fechadas por pedaços de madeira e outros restos de material en-contrado na região. ³¹ Porém, o sociólogo Gilberto Freyre tinha outra visão dos mocambos, geralmente tinham cobertura de palha, tal cobertura protegia os moradores do sol e das chuvas, suas paredes eram executadas com duas ou três camadas de sapé, a disposição dos cômodos era muito simples, um quarto entre duas salas separa-das por um corredor, ou um quarto e uma sala em “L”, todos os cômodos possuíam abertura para ventilar e iluminar, diferente das alcovas dos sobrados burgueses. Houve muita resistência da nova burguesia agrário-industrial com relação a esses no-vos tipos de habitação, porém, segundo certos estudiosos, era a solução mais adequada ao nosso clima. ³²

· Casas precárias de periferia – Construções executadas ao longo do tempo, de acordo com as possibilidades do proprie-tário, em 10 ou 20 anos, partindo de um núcleo mínimo, sempre precário. ³³

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2.4 - Nomenclatura para definir os tipos de cortiço

Tipos e características construtivas

A descrição dos vários tipos de habitação coletiva inclui muitos tipos de cortiço. São muitas as definições para Cortiço, pois ela tem um significado por vezes ambíguo, pois se refere às diversas formas de habitação coletiva precária, mas também às formas intermediárias : hotéis ou pensões chamadas na época de “estalagens”. Em 1886 existiam no Rio de Janeiro 1.046 estala-gens, acomodando mais de 46.000 pessoas. Os cortiços (palavra que significa a casa das abelhas, os alvéolos repetidos se com-param ao aglomerado de cubículos para moradia), se tornaram a forma predominante de habitação no início do século XX. As cidades tinham a característica de não serem segregadas, os bair-ros residenciais eram mistos, havia casarões onde morava a bur-guesia e bem próximo localizavam-se os cortiços. O relatório da comissão de exame e inspeção das habi-tações operárias da prefeitura de São Paulo, em 1894, dizia:

“A população triplicou em dez anos. Cuidar da unidade urbana, não já da habitação privada, mas daquela onde se acumula a classe pobre, a estalação onde pulula a população operária, o cortiço como vulgarmente se chamam estas cons-truções acanhadas, insalubres, repulsivas, algumas onde as forças vivas do trabalho se ajuntam em desmedida, fusti-gada pela dificuldade de viver, numa quase promiscuidade que a economia lhes impõe, mas que a higiene repele.” ³⁴

Podemos classificar os tipos de moradia em:

· Cortiços em Casarão – Subdividido em cubículos, onde cada um deles era considerado moradia: 1- Casarão+meias–águas (chamados também de cortiço de quintal); 2- Casarão+meias-águas+porão; 3- Casarão+porão

³⁴ Prefeitura Municipal de São Paulo, Apud Eva Blay, pg. 64.

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³⁵ REIS, Nestor Goulart. pg.33.

³⁶ MOURA, Rosa Maria Garcia. Habitações Populares em Pelotas(1880-1950): Entre

políticas públicas e investimentos privados. Tese de doutorado. PUC-RS. Porto Alegre,

2006. pg. 66.

³⁷ MOURA, Rosa Maria Garcia. pg.67.

· Porões isolados + casarão com habitação normal – no caso, o dono da residência apenas alugava o porão. · Cortiços em “vielas ou avenidas” - Eram cortiços cha-mados ironicamente de “avenidas”, pois apresentavam no seu exterior uma fachada de residência comum, porém no seu inte-rior eram conjuntos de pequenas habitações, que abriam para uma rua particular ou viela, tendo ao fundo um espaço maior de uso coletivo (onde estavam os tanques de lavar roupa e as latri-nas de uso coletivo, a maioria desses cortiços era desprovida de instalações sanitárias). Mas também haviam formas mais elabo-radas desse tipo de cortiço-avenida, com portões de entrada vistosos, acesso de veículos e cada unidade possuía banheiro e cozinha próprios. Essas exceções eram encontradas no Rio de Ja-neiro nos bairros Botafogo e Flamengo e em São Paulo no bairro de Pinheiros. · Hotel-Cortiço ou Pavilhões para cortiço – Eram pavi-lhões construídos exclusivamente para serem cortiços, tinham em geral vários andares e aproveitavam os desníveis do terreno, por exemplo, o Vale do Saracura tinha nos porões as moradias mais pobres. ³⁵ Era uma espécie de restaurante agregado de pequenos dormitórios coletivos, ocupado por operários sem família. ³⁶ · Cortiço - Casa de cômodos – Eram casas residenciais onde havia vários quartos (cômodos), e tais quartos eram aluga-dos a pessoas de baixa renda. Compreendia sobrados cujos com-partimentos eram subdivididos em pequenos espaços. Havia ainda os cortiços-improvisados formados, quase sempre, a partir de casas comerciais cujos depósitos, construídos nos fundos do terreno e de forma precária, eram subdivididos e transformados em inúmeras moradias. ³⁷

“Como na Capital Federal há mais quem habite do que onde habitar, começou logo a entrar-lhe pela casa, à procura de cômodos, uma interminável procissão de desamparados da sorte e de magros lutadores pela vida, que lhe foram enchen-do surdamente, do primeiro ao último, os numerosos quar-tos. Mais houvesse, e não faltariam para os ocupar estu-

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dantes pobres, carteiros e praticantes do correio, repórteres de jornais efêmeros, moços de botequim, operários de todas as profissões, comparsas e figurantes de teatro, pianistas de contrato por noite, cantores de igreja, costureiras sem ofi-cina, cigarreiros sem fábrica, barbeiros sem loja, tipógrafos, guarda-freios, limpa-trilhos, bandeiras de bondes, enfim toda essa pobre gente, rara quem se inventaram os postos mais ingratos na luta pela vida, os mais precários e os mais arriscados; essa gente que em tempo de paz morre de fome, e em tempo de guerra dá de comer com a própria carne às bocas de fogo das baterias inimigas. ³⁸

· Cortiço-Pátio + Casinhas – Nome dado no século XIX às habitações mais humildes, construídas de material simples, quase sempre de madeira ou barro cobertas de palha, habitado por lavadeiras e ex-cravos, repetiam nas cidades os padrões numa arquitetura rural mais simples. ³⁹ · Cortiço-casinha - correspondia a uma pequena casa em um terreno, também pequeno, voltada para a rua e construída com materiais de baixa qualidade e em péssimo estado de con-servação. · Cortiço-Corredor ou Cortiço em “meia-água” - No fun-do do terreno das casas comerciais e das residências encortiçadas, havia um tipo de solução que aproveitava os muros, utilizando uma cobertura simples, e sob esse telhado vários cubículos abriam para um corredor ou pátio central. Cada cubículo abrigava uma família. Banheiros e tanques eram de uso coletivo. · Cortiço pátio - considerado o mais comum, ocupava, segundo o relatório:

“(...) comumente uma área no interior do quarteirão: quase sempre um quintal de um prédio onde há estabelecida um venda ou tasca qualquer. Um portão lateral dá entrada por um estreito e comprido corredor para um páteo com três a quatro metros de largo nos casos mais favorecidos. Para este páteo ou área livre se abrem janelas e portas de pequenas

³⁸ Texto extraído do livro “Casa De Cô-modos”, de Aluízio Azevedo. São Paulo: Martins Editora , 1954.

³⁹ REIS, Nestor Goulart. pg.25.

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casas enfileiradas, com o mesmo aspecto, a mesma cons-trução, as mesmas divisões internas e a mesma capacidade. Raramente cada casinha tem mais de 3 metros de largura, 5 e 6 de fundo e altura de 3 a 3,50 metros.”

Também no Rio de Janeiro, por volta do ano de 1850, a demanda por moradias baratas para os trabalhadores provocou o surgimento de alguns tipos habitacionais todos reunidos sobre o termo cortiço. ⁴⁰

· Portão - tratava-se de um conjunto de compartimentos dispostos em fita, com o acesso feito por uma rua interna e escon-didos do espaço público através de um portão. O portão, era for-mado por fitas de casas desenvolvidas no sentido longitudinal do lote com pequena rua interna onde, geralmente, situavam-se as latrinas e os tanques para uso coletivo. Dependendo da lar-gura do lote, a rua era central as duas fitas ou colocada em uma das laterais do terreno. · Contrafeitos - com unidades tão diminutas quanto as anteriores os contrafeitos eram pequenos compartimentos, quase sempre com o telhado constituído por apenas um plano inclina-do. ⁴¹ A diferença com relação ao portão ou cortiço-pátio, reside no fato destas moradias serem construídas voltadas para o pas-seio público e, pela referência na própria planta, retiradas quatro metros do alinhamento, condição estabelecida pelo Código de Posturas então em vigor. Em julho de 1889, no jornal Correio Mercantil, foi publi-cada uma pequena nota sobre a concessão obtida pela Compan-hia de Saneamento do Rio de Janeiro, através de seu diretor En-genheiro Arthur Sauer, para “construir villas proletárias, [com] casa cômodas, sólidas, higiênicas e baratas”. ⁴² As características que unificam esses projetos entre si e com as descrições de cortiços são a exigüidade da área cons-truída para cada unidade, a sobreposição em um único com-partimento das atividades de estar, dormir e principalmente a cocção de alimentos e as instalações sanitárias coletivas quanto

⁴⁰ RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil 1890-1930.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p. 166. No ano de 1869 haviam aproximadamente 624

cortiços na cidade do Rio de Janeiro. Em 1888, essas moradias coletivas chegavam a

1331 e habitadas por 46.680 pessoas.

⁴¹ CRUZ, Glenda Pereira. Espaço construído e a formação econômico-social do Rio Grande do

Sul. Porto Alegre, 1987. Dissertação (Mestra-do em Planejamento Urbano), p. 450. Além de o termo ser empregado para identificar

pequenas habitações populares, também serviu para denominar edificações construí-

das no fundo dos lotes e utilizadas para usos complementares como o dormitório de

empregados, depósitos, lavanderias, etc.

⁴² CORREIA, Telma de Barros. A construção do habitat moderno no Brasil – 1870-1950. São

Carlos: RiMa, 2004, p.41. Sob a direção de Arthur Sauer foram construídas cinco vilas

operárias no Rio de Janeiro denominadas, Ruy Barbosa, Arthur Sauer, Senador Soares,

Maxwell e Sampaio.

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existiam. Fossem galpões, portões ou vilas, casas de um pavi-mento ou sobrados, aparentemente, qualquer casa vazia ou so-bra de terreno era um cortiço em potencial. A modernização das áreas centrais, através da implan-tação de infra-estrutura e a construção de novos edifícios para tea-tros, bibliotecas, paço municipal etc., e o aumento da demanda por habitação por parte de populações de maior poder aquisitivo constituíam algumas das condições para que a terra e a moradia, valorizadas, passassem a ser consideradas como mercadorias. Investir no urbano tornou-se um bom negócio. ⁴³

Croquis do esquema de cortiço. Desenho: Suzete Bomfim.

Croquis do esquema de cortiço. Desenho:

Suzete Bomfim.

Croquis do esquema de cortiço. Desenho: Suzete Bomfim.

⁴³ MOURA, Rosa Maria Garcia. pg.69.

Croquis do esquema de cortiço. Desenho: Suzete Bomfim.

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2.5 - Nomenclatura para definir a habitação operária

A iniciativa privada, incentivada pelo Estado, deu sua contribuição na construção da habitação popular. É chamada por alguns autores de “Produção Rentista”, pois tinham altos lucros com os aluguéis cobrados, além dos industriais que forneciam a moradia e descontavam dos salários do operariado. Podemos citar:

· Vila Operária de Empresa ou Vilas Industriais- As fá-bricas tinham que ser relativamente auto-suficientes, os indus-triais eram obrigados a manter uma equipe de pedreiros e de-mais pessoas da construção civil, para atender às necessidades da própria industria. Aproveitavam o tempo de sobra dessas equipes para construir as vilas operárias, onde inicialmente ins-talavam os empregados estrangeiros. Posteriormente, essa prati-ca se estendeu para acomodar o maior número possível de ope-rários, descontando os aluguéis dos seus salários. Esse vínculo criava uma submissão extrema entre operários e industrial. ⁴⁴ · Vilas Cidadelas (com equipamentos coletivos)- Eram na verdade “Bairros Operários”, muito próximos às Fabricas, pois além das casas havia espaços semipúblicos, como praças e campos de futebol, e equipamentos coletivos como Escola, Igreja, Armazéns, e em alguns casos, Teatro e Cinema. · Vila Operária Particular (vilas comerciais) - Era seme-lhante às construídas pelos industriais, porém era destinada ape-nas para obtenção de lucro. Se caracterizada por um conjunto de pequenas moradias com acesso por ruas particulares ou por vias públicas, com fachada padronizada. Essas construções se tornaram interesse de muitos empresários, nos primeiros anos do Regime republicano. Pois a Câmara Municipal de São Paulo liberava terrenos e impostos para os empresários que se com-prometessem a construir no mínimo 20 habitações operárias. Em 1897, o vereador Guilerme Mawxell Rudge apresentou à Câmara solicitação para a concessão de 500.000m2 de terrenos públicos, para construção de 2.000 casas operárias. ⁴⁵

⁴⁴ REIS, Nestor Goulart. Habitação Popular no Brasil: 1880-1920. São Paulo: Fau-Usp,

cadernos de pesquisa do LAP, 1994. pg.31.

⁴⁵ REIS, Nestor Goulart. pg.34,35.

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· Vilas de Usina – Nomenclatura utilizada por José Sér-gio Leite Lopes ⁴⁶ para se referir à peculiaridade das vilas do in-terior do Nordeste, onde os operários estão em áreas semi-rurais, em locais onde houve a mecanização do engenho em usina de açúcar. Os terrenos no fundo dos lotes eram utilizados para um pequeno roçado, ou criação de pequenos animais, diferente do comportamento das Vilas próximas às Fábricas têxteis. Eva Blay resume, comentando sobre a grande variedade de possibilidades existentes, que:

“As vilas operárias... perduram na paisagem, marcam a moradia, tem um papel na lógica da urbanização e um sentido nos processos de reajustamento das relações de produção... Há vilas de todos os tamanhos e de varia-da estruturação interna, comportando desde uma rua apenas até várias ruas, jardins, praça de esportes e outros bens de uso coletivo (...) Quando a moradia na casa da vila é constituída de um aluguel pago ao patrão, esse fato pode interferir nas relações de produção, pois a vila constitui o elemento mediador entre a venda da força de trabalho e o preço pago por esta força... ela tem, ao lado do valor de uso, um valor de troca”. ⁴⁷

Não confundir as Vilas Operárias aqui citadas com “Villa” ou “Village”, que tem uma outra conotação , são pequenas ci-dades ou bairros residenciais utilizados para moradia de pes-soas de alto poder aquisitivo. No Brasil, atualmente se utiliza dessa nomenclatura para nomear edifícios de luxo e condomí-nios fechados. Podemos ainda encontrar outras possibilidades de conceituação e definição das Vilas Operárias e da Habitação Popular do trabalhador de baixa renda.

⁴⁶ LEITE LOPES, José Sergio. O vapor do Diabo- o trabalho dos operários do açúcar. Rio de Janeiro. Ed. Paz e Terra. 1978. pg. 183 a 191.

⁴⁷ BLAY, Eva. pg. 7 – 11.

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2.6 - Nomenclatura para definir os tipos na habitação operária

· Casa de Porão Alto no Alinhamento da Rua - Casa com porão de pequena altura que se constitui no embasamento da construção. É um tipo de habitação característico da segunda metade do século XIX. Comumente, o porão é ventilado por aber-turas retangulares ou circulares vedadas por grade de ferro. Muitas vezes é implantada no alinhamento da rua, possuindo entrada lateral descoberta provida de gradil e portão de ferro. Quase sempre possui platibanda ornamentada de diferentes ma-neiras. · Casa de Porta-e-Janela- Casa térrea de pequeno porte cuja disposição interna determina a presença de uma porta e uma janela na sua fachada frontal. Até o início deste século foi um tipo muito comum de habitação que se adaptava muito bem aos estreitos lotes urbanos. Era formada basicamente por uma sala na frente que se unia a uma alcova, seguida de uma sala de refeições, que por sua vez se ligava a um pequeno puxado, onde se encontrava a cozinha. Com a proibição do uso de alcovas em finais do século XIX, essa planta teve de ser modificada, resultan-do na necessidade do alargamento dos lotes e conseqüente quase desaparição desse tipo de edificação. Principalmente no Norte é também chamada porta-e-janela.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

e A construção do habitat moderno no Brasil – 1870-1950. São Carlos: RiMa, 2004.

Fonte: Pedra: plano e cotidiano operário no sertão. Ed. Papirus, Campinas, 1998.

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· Casa Geminada - Casa que Possui uma de suas pare-des externas laterais em comum com outra casa vizinha, apre-sentando-se as duas casas como uma edificação única. Em geral, ambas têm fachada frontal igual e mesma distribuição interna, só que rebatidas. Se comparada às casas isoladas, sua implantação em loteamentos tem como vantagem permitir a diminuição do comprimento das ruas, reduzindo despesas de urbanização. Seu inconveniente é a dificuldade de ambas possuírem orientação ade-quada nos compartimentos. Foi muito comum sua construção no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX.

Fonte: Dicionário Ilustra-do de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

· Casa Isolada- Casa construída em centro de terreno. portanto sem paredes externas encostadas nas divisas do lote.

· Casario- Conjunto formado por edificações agrupadas, em geral corridas, de poucos pavimentos, formando um todo ho-mogêneo. · Casas Corridas – conjunto formado por mais de duas casas implantadas de modo a terem suas paredes laterais em co-mum com as casas vizinhas, resultando em telhado único para todas as unidades. Em geral as casas possuem ainda fachadas frontais no mesmo alinhamento. Muitas vezes as casas são idên-ticas internamente.

Casas da Vila Santa Cruz, SE. Fonte: Suzete Bomfim.

Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Ed. ProEditores, 2° Edição. São Paulo, 2000.

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A Moradia do Operário no Brasil 104

2.7 - Os tipos na habitação operária pelo Brasil

Os pesquisadores Telma Correia Barros e Philip Gunn, fotografaram muitos exemplares pelo Brasil. Mostraremos al-guns deles, para demonstrar os tipos de habitação popular para operários produzida no Brasil. ⁴⁸

As Experiências Pioneiras no Brasil, 1811-1880

No período entre 1811 e 1880, quatro setores tiveram uma ação expressiva no Brasil em relação à criação de casas para seus empregados: os engenhos de açúcar, as fábricas de ferro, as minas e as indústrias têxteis. Mostraremos algumas imagens exemplificando a produção desse tipo de moradia, nas diferentes partes do país.

Os Engenhos de Açúcar

No Brasil, desde o período colonial, pequenos povoados se formaram junto dos engenhos de açúcar, reunindo, geral-mente, uma capela, o engenho e seus anexos, uma casa grande, moradias para trabalhadores livres e para escravos.

⁴⁸ Informações extraídas do artigo “Brasil, Suas Fábricas E Vilas Operárias”. PÓS-20.

Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Fau/Usp. N°

20, São Paulo, 2006. Pg. 10 a 32.

Ipojuca, Pernambuco. Capela e senzalas do Engenho Tinoco, Foto: 1995.

Igarassu, Pernambuco. Senzalas do Engenho Monjope, foto:1998.

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As Fábricas de Ferro

No século 19 muitas moradias para trabalhadores foram erguidas no Brasil, especialmente no estado de Minas Gerais, por forjas e fábricas de ferro. Nesse estado, dezenas de pequenas forjas surgiram, geralmente incluindo a construção de uma casa para a administração e outra para o mestre ferreiro e de ranchos para os operários ou escravos. Alguns núcleos fabris mais amplos foram gerados por fá-bricas de ferro de maior porte, como a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema (1811), a Fábrica de Ferro do Prata (1812), a fábrica do Morro do Pilar (1812) e a Fábrica de São Miguel de Piracicaba (1827). O primeiro desses núcleos se situava no estado de São Paulo e os demais no de Minas Gerais.

Iperó, São Paulo. Prédios fabris da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. Foto: 2004.

Iperó, São Paulo. Prédios fabris da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. Foto: 2004.

Iperó, São Paulo. Prédios fabris da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. Foto: 2001.

Iperó, São Paulo. Casa do diretor da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, Foto: 2001.

Iperó, São Paulo. Casa de funcionário da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, Foto: 2001.

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A Moradia do Operário no Brasil 106

As Empresas de Mineração

Em Minas Gerais, a atividade mineradora gerou pequenos núcleos residenciais em propriedades privadas desde o período colonial. No século 19, um núcleo de grande porte surgiu criado pela Mina de Morro Velho, que a partir de 1834 pertenceu à em-presa The Saint John D’El Rey Mining Company.

Nova Lima, Minas Gerais. Casas para

gerentes da Mina de Morro Velho.

Foto: 1998.

Nova Lima, Minas Gerais. Casas para

gerentes da Mina de Morro Velho.

Foto: 1998.

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As Fábricas Têxteis

Entre meados do século 19 e 1880, diversas fábricas têx-teis localizadas no campo devido, especialmente, à busca de proximidade com matas e cachoeiras, exploradas como fonte de energia – criaram habitações para seus empregados. Nesse período, essas indústrias deram ênfase à con-tratação de operários – sobretudo mulheres – solteiros, os quais eram abrigados em alojamentos coletivos. Além desses alojamen-tos, entretanto, os núcleos fabris dessas indústrias costumavam reunir algumas casas, capela e escola. Entre as indústrias têxteis que criaram núcleos fabris no Brasil, até 1880, estão as fábricas: Todos os Santos; Esther (1849); Fernão Velho (1857); Brasil Industrial (1871); Cedro (1872); Petro-politana (1874); Carioba (1875); Biribiri (1876); Gabiroba (1876); Santa Francisca (1876) e Cachoeira (1877).

Caetanópolis, Minas Gerais. Casa do diretor da Fábrica de Tecidos Cedro. Foto:1998.

Diamantina, Minas Gerais. Biribiri, núcleo fabril criado pela Fábrica de Fiação e Tecidos Biribiri. Foto: 1998.

Diamantina, Minas Gerais. Biribiri, núcleo fabril criado pela Fábrica de Fiação e Tecidos Biribiri. Foto: 1998.

Diamantina, Minas Gerais. Biribiri, núcleo fabril criado pela Fábrica de Fiação e Tecidos Biribiri. Foto: 1998.

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A Moradia do Operário no Brasil 108

A Difusão Nacional Dos Assentamentos Fabris, 1881 - 1930

No Brasil, entre 1880 e 1930, os conjuntos de moradias erguidos por empresas para seus funcionários difundem-se em larga escala, em diferentes estados e regiões. Nesse momento, esses espaços se afirmam como uma importante expressão da era industrial não apenas por suas ori-gens, usos, funções e conflitos sociais, como também por suas características formais, que usualmente remetem a valores, ma-teriais e símbolos do mundo fabril. Na arquitetura desses lugares, nesse período, surgem freqüentemente exemplares inspirados em modelos tradicionais brasileiros. O padrão urbano de casas de porta e janela dispostas em renque e desprovidas de recuos frontais ou laterais foi, nesse momento, bastante comum em vilas operárias e núcleos fabris.

Magé, Rio de Janeiro. Casas em Pau Grande, núcleo fabril erguido pela Fábrica de Fiação e Tecidos Pau Grande. Foto: 1998.

Neópolis, Ser-gipe. Núcleo Fabril criado pela Fábrica

da Passagem. Foto: 1995.

Paulista, Pernambuco. Núcleo fabril criado pela Companhia de Tecidos Paulista. Foto: 1995.

Petrópolis, Meio da Serra, Rio de Janeiro. Casas er-

guidas pela Companhia de Fiação Cometa.

Foto: 1998.

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Rio de Janeiro. Casas erguidas pela Compa-nhia de Fiação e Tecidos Confiança Industrial. Foto:1998.

Tatuí, São Paulo. Vila operária da Compa-nhia de Fiação e Tecelagem São Martinho.

Foto: 2001.

Itu, São Paulo. Vila operária da Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro. Foto: 2001.

Bagé, Rio Grande do Sul. Casas erguidas pela Charqueada Santa Thereza.

Foto: 1997.

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A Moradia do Operário no Brasil 110

Em alguns casos, grupos de casas semelhantes recebem alpendres frontais, que remetem à arquitetura de senzalas ergui-das em engenhos de açúcar do Nordeste durante o período colo-nial e o século 19.

Rio Grande, Rio Grande do Sul. Casas erguidas pela Indústria de Tecidos Rheingantz. Foto: 1997.

Rio Tinto, Paraíba. Núcleo fabril criado pela Com-panhia de Tecidos Rio Tinto.

Foto: 1995.

Recife, Pernambuco. Casa na vila ope-rária erguida pelo Cotonifício Othon Bezerra de Mello S.A. Foto: 2003.

Delmiro Gouveia, Alagoas. Núcleo fabril criado pela

Fábrica da Pedra. Foto: 1995.

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111 A Moradia do Operário no Brasil

Inovações higienistas do final do século XIX se fazem presentes na sua arquitetura de vilas operárias e núcleos fabris: o porão alto é raro, enquanto o recuo lateral freqüente.

Jundiaí, São Paulo. Casas da Fábrica São Bento. Foto: 2002.

Nas primeiras décadas do século XX os chalés que povoa-ram a paisagem dos subúrbios brasileiros também se difundiram amplamente em vilas operárias e núcleos fabris. Podiam remeter a modelos europeus, incluir ornatos ou assumir formas despoja-das.

Timbaúba, Pernambuco. Casas erguidas pela Fiação e Tecelagem Timbaúba. Foto: 2005.

Votorantim, São PauloCasas erguidas pela Fábrica de Estamparia

e Alvejaria Votorantim, Foto:2001.

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Em algumas vilas operárias e núcleos fabris criados nesse período emerge uma estética tipicamente industrial, expressa na simplificação ou ausência de ornatos. O tijolo aparente usado em fábricas, moradias, igrejas, etc., torna-se um elemento caracterís-tico do despojamento que baliza essa nova paisagem industrial.

Santa Rita, ParaíbaVila operária da Companhia de Tecidos Paraibana, Foto:2002.

Itabirito, Minas GeraisChalés pertencentes à Valadares Diesel

Ltda, Foto:1998.

Itabirito, Minas GeraisChalés pertencentes à Companhia Industrial Itabira do Campo, Foto:1998.

Cachoeira do Prata, Minas GeraisChalés no núcleo fabril da Companhia Têxtil Cachoeira de

Macacos, Foto:1998.

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Em alguns casos raros, a estética industrial se expressa na arquitetura de vilas operárias por meio de ornatos cujos temas remetem ao mundo das máquinas. Um exemplo, nesse sentido, é a Vila Maria Zélia, edificada entre 1916 e 1920, onde desenhos no reboco de fachadas compõem quadriláteros sugerindo chapas de metal, pequenos prismas que remetem a parafusos e formas circulares as quais lembram manivelas. É também o caso da igreja da vila operária do Cotonofício Othon Bezerra de Mello S.A., em Recife, na qual os desenhos dos óculos se inspiram na forma de engrenagens industriais.

Petrópolis, Meio da Serra, Rio de JaneiroCasas erguidas pela Companhia de Fiação Cometa, Foto:1998.

Petrópolis, Rio de JaneiroCasas erguidas pela Companhia de Fiação

Cometa, Foto:1998.

Niterói, Rio de JaneiroVila operária da Companhia Commercio e Navegação, Foto: 2004.

São PauloVila Maria Zélia, criada pela Companhia

Nacional de Tecidos de Juta, Foto:2001.

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A Afirmação Do Modelo, 1931-1960

Nas décadas de 30, 40 e 50 os conjuntos residenciais de empresas continuaram a difundir-se no Brasil em grande escala: novos conjuntos são criados e muitos dos existentes se ampli-am. Na arquitetura desses lugares, nas décadas de 30 e 40 foi significativa a difusão de uma vertente modernista que, poste-riormente, seria identificada como art-déco, da tipologia que se popularizou no Brasil com o nome de bangalô e do estilo “mis-sões”. Atendendo a preceitos higienistas e, às vezes, à intenção de diferenciar casas destinadas a técnicos especializados, casas geminadas duas a duas foram erguidas com freqüência em vilas operárias e núcleos fabris.

Goiana, Pernanbuco, casas para operário. Foto: 2000.

Diamantina, Minas Gerais , Núcleo

fabril de Gouveia, criado pela compan-

hia industrial São Roberto. Foto: 1998.Diamantina, Minas Gerais , Núcleo fabril de Gou-

veia, criado pela companhia industrial São Roberto. Foto: 1998.

Diamantina, Minas Gerais , Núcleo

fabril de Gouveia, criado pela compan-

hia industrial São Roberto. Foto: 1998.

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“A partir da segunda metade dos anos 30, a construção de vilas e nú-cleos de empresas no Brasil passou por uma alteração importante, carac-terizada pela crescente participação de urbanistas e arquitetos elabo-rando planos e projetos de construções para esses locais.Marcos importantes desse novo momento foram o concurso para o plano de Monlevade (1934) e a proposta do arquiteto A�ílio Corrêa Lima para Volta Redonda (1941). Um outro exemplo de núcleo fabril projetado por arquiteto é Harmonia, criado pela Fábrica de Papel e Celulose Klabin, no Paraná, cujo plano de urbanismo foi elaborado em 1943 pelo ar-quiteto Abelardo Caiubí. Na década de 50, a tendência da concepção de planos para vilas e núcleos de empresas por urbanistas persiste, em pro-jetos elaborados por alguns dos mais destacados arquitetos que atuaram no Brasil no século 20. esse foi o caso do projeto do núcleo residencial realizado pelos arquitetos Jacques Pilon e Giancarlo Gasperini para a Fábrica Mecânica Pesada em 1956”. ⁴⁹

Diamantina, Minas Gerais , Núcleo fabril de Gouveia, criado pela companhia industrial São Roberto. Foto: 1998.

Votorantin, São Paulo. Casas erguidas pela Fábrica de Estamparia e Alvejaria.

Foto: 2001.

Jundiaí, São Paulo. Vila Argos, construída pela Argos Industrial S.A.

Foto: 2002.

Piracicaba, São Paulo. Vila Boyes, erguida pela industria Boyes. Foto: 2001.

⁴⁹ PÓS-20. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Fau/Usp. N° 20, São Paulo, 2006. Pg. 24 a 27.

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Pretendemos nesse capítulo mostrar como a industriali-zação se desenvolve no Nordeste e descreve dois exemplos pio-neiros de cidades nas quais industriais produziram habitação para seus operários.

3.1 - O contexto da República Velha no Brasil

A consolidação do modo de produção capitalista no Bra-sil decorre de um processo que teve seu início na segunda metade do século XIV. No fim do século XIV, houve importantes aconteci-mentos no cenário político, social e econômico brasileiro. Surgiu o domínio do setor cafeeiro, ou seja, a afirmação e o domínio das oligarquias. A economia voltou-se para produção de um número restrito de artigos agrícolas de exportação. Relativo à economia, a fase caracterizou-se pelo pre-domínio do setor agrário, a hegemonia do capital mercantil e uma indústria emergente. A ascensão cafeeira do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 1840, representou uma fonte de capitaliza-ção para dar início a processo de industrialização. Após os acordos entre Brasil e Inglaterra pela questão do tráfico de escravos e a posterior proibição do mesmo em 1850, sucedeu-se a retomada dos investimentos ingleses. Tais investi-mentos, somados aos capitais nacionais, até então aplicados ao tráfico de escravos, deram início à industrialização. Nas três décadas que sucederam a 1840, “o comércio ex-terior triplica; o café passa ser a base material do Segundo Reina-do” ¹. A economia brasileira iniciou o novo século com aumento da sua dependência ao capital internacional, fato que, ao mesmo tempo, gerou a modernização de alguns setores. Nessa época, instalou-se a linha telegráfica e houve a construção de ferrovias e pontes. Foi um período no qual se intensificou o estabelecimento de empresas estrangeiras, e de expansão econômica. Progressi-vamente, estabeleceu-se um processo de substituição de impor-tações, especialmente na produção de bens de consumo não du-ráveis tais como tecido e alimento. Com o surgimento da industrialização, iniciou-se o desen-

¹ GAP. Habitação Popular: inventário da ação governamental. São Paulo: ed. Finep/Projeto. 1985. Pg. 25. Apud, NORO. Júlio, Dissertação de mestrado. A vila operária na república velha: o caso Rheingantz. Porto Alegre, 1995. pg. 33.

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freado processo de urbanização que trouxe, paralelamente, um quadro de reivindicações sociais. A emergente cidade industrial começou a mostrar seus reflexos pelo rápido crescimento popu-lacional e a densificação dos bairros. Nos centros urbanos mais populosos, apareceram novos tipos de habitações coletivas para abrigar os habitantes da cidade industrial: os cortiços. A fase inicial do acelerado desenvolvimento industrial aconteceu com a Primeira Guerra Mundial (1914/1918). A di-ficuldade de importação de produtos manufaturados estimulou o surgimento de empresas que preencheram este espaço. O final da Guerra Mundial marcou o crescimento do setor industrial e o retorno do capital estrangeiro ao cenário brasileiro, adotando-se novas formas de ação. Este período coincidiu com um crescimen-to das tensões no campo político e social. Em 1918, tiveram lu-gar as primeiras greves que denunciavam o surgimento de uma nova classe: a classe operária. ²

A crise da habitação popular

A proibição do tráfico negreiro em 1850 e sua extinção em 1857, o acúmulo de capital vindo do setor cafeeiro e o processo de expansão econômica ocorrido até 1875, causaram surgimento dos centros urbanos mais populosos, e também novos tipos de habitação coletiva. A falta de planejamento e controle na construção destas formas de habitação – os cortiços – culminou nas precárias con-dições de higiene, tornando essas moradias verdadeiros centros de doenças endêmicas. Tais tipos de habitação, que serviram de moradia para 4% da população do Rio de Janeiro por volta de 1869, chegaram a 25% no início da República Velha. ³ O crescente número de habitantes dos cortiços começou a preocupar as au-toridades da Capital do Império até que, em 1865, foi editada uma lei que proibia a construção de novos cortiços sem prévia autori-zação da Câmara. Mais tarde, em 1876, uma outra resolução foi mais radical com relação à questão, proibindo a construção de cortiços no centro da cidade.

² NORO, Júlio. pg. 34.

³ NORO, Júlio. pg. 44.

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“No final de 1882, o Segundo Império promulgou uma série de decretos, os quais concediam favores às empresas que construíssem habitações para os seus operários. O primeiro destes foi Decreto n.º 3.151, de nove de dezembro de 1882 (29). A contrapartida dessa concessão de favores especiais a essas empresas previa a demolição às expensas das mes-mas, de um número equivalente de casebres e a construção de habitações para operários dentro de padrões de higiene e conforto.” ⁴

Tal medida atendia tanto aos interesses do governo como aos industriais, e tinham uma dupla conotação. Por um lado, visava atrair mão de obra, de preferência, imigrante, pois era considerada de melhor qualidade; por outro lado, eliminava a possibilidade de qualquer foco de epidemia. Entre os favores concedidos às empresas, estava prevista a isenção de impostos para importação de materiais de construção e a concessão de ter-renos públicos destinados a casas populares. Os protestos contra a crise do setor habitacional, na época, estenderam-se por todo o território nacional. Os representantes dos vários setores atingidos por estas questões, reivindicavam a diminuição das taxas de imposto predial e dos aluguéis inci-dentes nas habitações . A resposta governamental foi expressa na criação de normas, já citadas em capítulo anterior, que regula-mentavam a construção dessas habitações.

“A dificuldade de acesso à moradia pela população de baixa renda e as condições de higiene nos bairros e habitações da classe operária manteve-se praticamente sem alterações substanciais durante a República Velha. O poder público limitou-se a administrar esta crise através da tributação e fornecimento de serviços de infra-es-trutura básica estimulando ou desestimulando a ocupação de deter-minadas áreas por habitações julgadas impróprias pelas condições de higiene e salubridade. Por outro lado o setor da construção civil via na crise a possibilidade da construção de imóveis de baixo custo recebendo aluguéis compensadores pelos mesmos.” ⁵

⁴ NORO, Júlio. pg. 44.

⁵ NORO, Júlio. pg. 48.

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3.2 - O Caso do Nordeste

Contextualização Histórica

No Nordeste do Brasil, a base da economia colonial era o engenho de açúcar. O senhor de engenho era um fazendeiro proprietário da unidade de produção de açúcar, usava a mão-de-obra africana escrava e tinha como objetivo principal vender o açúcar para o mercado europeu. Além do açúcar, destacou-se também a produção de tabaco e algodão. As plantações ocorriam no sistema de plantation, ou seja, eram grandes fazendas produ-toras de um único produto, visando o comércio exterior. A sociedade no período do açúcar era marcada pela grande diferenciação social. Os senhores de engenho detinham poderes políticos e econômicos. Abaixo, aparecia uma camada média formada por trabalhadores livres e funcionários públicos. E na base da sociedade estavam os escravos. A casa-grande era a residência da família do senhor de engenho, onde moravam, além da família, alguns agregados. O conforto da casa-grande contrastava com a miséria e péssimas condições de higiene das senzalas. A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empre-gar assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros. No Norte e Nordeste, as usinas substituíram os primitivos engenhos, fato esse que permitiu a utilização de um número menor de escravos. Já nas principais cidades, era grande o desejo do surgimento de indústrias.Visando não causar prejuízo aos proprietários, o go-verno, pressionado pela Inglaterra, foi alcançando seus objetivos aos poucos. O primeiro passo foi dado em 1850, com a extinção do tráfico negreiro. Vinte anos mais tarde, foi declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871), que tornava livres os filhos de escravos que nascessem a partir de sua promulgação. Em 1885, foi aprovada a lei Saraiva-Cotegipe, ou dos Sexagenári-os, que beneficiava os negros de mais de 65 anos. Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que a liberdade total final-

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mente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil. Entretanto, onde passariam a residir tais ex-escravos? Fora das fazendas onde trabalhavam, houve o primeiro grande problema de moradia. As senzalas foram sendo modificadas e melhoradas para absorver os trabalhadores livres e imigrantes estrangeiros. Os ex-escravos, sem opção digna de moradia, cria-ram as palhoças e mocambos, em substituição às senzalas. Com a chegada da industrialização no Nordeste, o pro-blema da habitação popular teve uma solução inicial com a im-plantação das Vilas Operárias, substituindo parte das habitações tradicionais da região.

O Difícil Cotidiano Dos Escravos

“As condições de vida do escravo rural variaram de fazenda para fazenda: embora não fosse regra geral, houve fazendei-ros que se preocuparam em manter os seus escravos sadios, pois deles dependia o bom andamento dos trabalhos na la-voura. Desta forma, a sorte do escravo – um melhor ou pior tratamento – estava sujeita, praticamente, ao temperamen-to do fazendeiro. O que prevalecia, quase sempre, eram os maus tratos, o desprezo. São inúmeros os relatos de época denunciando as atrocidades cometidas contra os escravos, os desmandos, o despotismo e a sua total impunidade.” ⁶

⁶ BENINCASA. Vladimir. Velhas Fazendas. Arquitetura e cotidiano nos campos de Ara-raquara. 1830-1930. Ed. Edufscar. São Carlos, 2003. pg. 181.

Plantas baixas de Senzalas. Fonte: Engenho&Arquitetura, tipologia dos edifícios dos antigos engenhos de açúcar de Pernam-buco. Ed. Fundação Gilberto Freire, Recife, 1998.

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As senzalas eram edificações alongadas, de forma re-tangular, ou então edificações que se estendiam ao redor de um quadro central. Em geral, eram construídas de pau-a-pique, mas houve também as construídas de pedras ou tijolos. A cobertura podia ser de sapé, de telha capa e canal. Raramente as senzalas possuíam piso revestido, o mais comum eram os pisos de terra batida.

“As senzalas mais precárias – as da taipa de mão, ou pau-a-pique, e cobertura de sapé – não sobreviveram ao tempo, (...). Em geral, foram demolidas ainda no século XIX, quando os fazendeiros, pressentindo a mudança iminente do trabalho escravo para o livre, as puseram abaixo, substituindo-as por casinhas separadas de quatro cômodos, mais adequa-das às famílias de trabalhadores europeus, que começavam a chegar em grande número. As senzalas mais bem edifica-das tiverem fim diferente, acabaram sendo subdivididas e adaptadas para abrigar as famílias de imigrantes. Outras senzalas acabaram sendo transformadas em edificação de uso misto, com várias funções ao mesmo tempo, como as de depósitos, armazéns, de moradias, etc.” ⁷

Em geral, os escravos dormiam separados, homens em um cômodo, mulheres e crianças em outros. As mães podiam dormir com os filhos pequenos. Embora não houvesse uma preo-cupação especial com a reprodução, em algumas fazendas havia o cuidado de se destinar aos casais de escravos, casebres de pau-a-pique isolados, próximos às senzalas, de modo que pudessem desfrutar de um pouco de privacidade.

“No entanto, em geral, o aspecto das senzalas era aviltante: sujas, pouco ventiladas e iluminadas, com apenas uma por-ta de entrada e nenhuma abertura para o exterior. Estas, quando havia, possuíam grades, a fim de evitar possíveis fugas. Algumas possuíam aberturas de trinta a quarenta centímetros junto ao beiral, também protegidas por gradea-

⁷ BENINCASA. Vladimir. pg. 184.

Vista duma antiga senzala sendo apro-priada para habitação operária. Fonte:

Engenho&Arquitetura, tipologia dos edifícios dos antigos engenhos de açúcar de Pernambuco. Ed. Fundação Gilberto Freire,

Recife, 1998.

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mento de madeira, de modo a garantir a ventilação em seu interior. As divisões internas, quando havia, formavam pequenos cubículos, com pouco ou nenhum mobiliário: em algumas, apenas esteiras, cobertores e palha; em outras, tarimbas e jiraus.” ⁸

O chamado “quadrilátero principal” do engenho de açúcar, constituído pela casa-grande, capela, fábrica e senzala, retrata as relações de produção do açúcar. Seu arranjo sobre a topografia e os diferentes materiais utilizados em cada um destes edifícios reflete a hierarquia social e o sistema de valores dessa sociedade. Num extremo, a casa-grande e a capela, geralmente cons-truídas por especialistas em materiais nobres, como pedra e cal, localizadas na parte mais alta do terreno; no outro, a senzala, construída de materiais simples e de pouca durabilidade, como terra, madeira, cipó e palha, ficando na parte mais baixa do ter-reno. Por esta razão, são poucas as senzalas e até mesmo os en-genhos e usinas que chegaram até nós. ⁹

“Analisando alguns engenhos, observamos que, embora exis-tissem algumas vinculações entre os vários edifícios que formavam o engenho, como os binômios casa-grande/capela e fábrica/casa-de-purgar, não existia um modelo plani-métrico rígido. O zoneamento, refletindo a estrutura so-cial, é bem mais vertical: casa-grande e capela no alto, ins-talações fabris e moradas de trabalhadores na parte baixa. Entre as casas de engenhos do século XVIII, no Recôncavo Baiano, distinguem-se, basicamente, três tipos de plantas. O primeiro é formado pelas casas com pátio interno, de for-ma tendente ao quadrado, com três e até quatro pavimen-tos. Edifícios de pátio interno foram introduzidos no Brasil provavelmente por influência dos tratadistas do Renasci-mento. De qualquer forma nota-se, nestes edifícios, a inter-venção de profissionais com formaçãoerudita, arquitetos e pintores.” ¹⁰

⁸ BENINCASA. Vladimir. pg. 190.

⁹ AZEVEDO. Erterzilda Berenstein de . Arquitetura do Açúcar. Ed. Nobel, São Paulo, 1990. Pg. 96.

¹⁰ AZEVEDO. Erterzilda Berenstein de . Pg. 141.

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Entre as senzalas analisadas por Esterzilda Azevedo, no seu livro Arquitetura do Açúcar, no Recôncavo Baiano, muitas for-mavam um grande pavilhão, constituído por oito conjuntos de três cubículos, que se estendia de fachada a fachada, ventilado apenas por uma porta de ingresso e outra de saída; cada cubículo media aproximadamente 6m². Um outro tipo de senzala utiliza-do naquele período tratava-se de um pavilhão alongado, situa-do entre a casa-grande e a fábrica, e recoberto por telhado de duas águas, uma das quais se prolongava para formar a varanda-corredor, que era sustentada por esteios de madeira. Em Pernambuco ainda se conservam algumas senzalas deste tipo, como as dos engenhos Bombarda, no município de Barreiros, e Engenho Tinoco, no município de Rio Formoso. Es-sas senzalas eram formadas por cubículos de 3 a 3,5 m2, onde moravam famílias inteiras de escravos, ou dois a três celibatá-rios. Possuíam uma única porta, que se abria para uma galeria externa. ¹¹ A idéia muito difundida entre os fazendeiros, de que o negro apenas trabalharia sob a ameaça constante de castigos, era amparada pela lei. O uso de instrumentos de tortura, como o tronco, as máscaras de flandres, os grilhões, a palmatória, as sur-ras com chicotes, entre outras modalidades perversas, chegava a níveis intoleráveis.

“No meio rural, de onde as notícias pouco saíam, esses abu-sos foram sempre mais freqüentes do que nas cidades. In-clusive crianças eram açoitadas. Os negros eram castigados em geral por embriaguez, roubo, fuga e pela “preguiça”, esta castigada a qualquer momento com chicotadas ou bofetões distribuídos de passagem. Os abusos só terminariam com a Abolição, pois os fazendeiros, mesmo sabendo da sua inevi-tabilidade, mesmo incentivando a imigração estrangeira, revelaram até o fim o seu apego à escravidão.” ¹²

A adaptação à nova vida de libertos após o fim da es-cravidão, porém, não foi nada fácil para os ex-cativos, e, tam-

¹¹ AZEVEDO. Erterzilda Berenstein de . Pg. 153-157.

¹² BENINCASA. Vladimir. pg. 191.

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bém, para os seus descendentes, sendo alvos de toda a sorte de preconceitos e desprezo, por todas as classes da estrutura social, uma realidade em todo o País. O preconceito que existe na atua-lidade ainda é resquício dessa época. Algo lamentável para o perfil cultural da sociedade brasileira. A visão existente sobre a forma de tratamento dos escravos pode ter influenciado fortemente a visão de como os industriais tratavam os seus operários. Inclusive, a proximidade das vilas ope-rárias das fábricas, sob o olhar vigilante do industrial, pode ser com-parado, com relação à localização, à proximidade das senzalas da Casa-Grande, sob a vigilância do Senhor de Engenho.

Contexto Regional da Industrialização Nordestina

A industrialização chegou ao Nordeste quando já estava consoli-dada em São Paulo e no Rio de Janeiro. No Sudeste do país, as indústrias em sua maioria produziam produtos manufaturados. Já no Nordeste, onde havia o predomínio da agricultura e do cultivo da cana-de-açúcar, a industrialização veio inicialmente para transformar o engenho em usina. A base da economia nordestina sempre foi essencialmente agrária, e o cultivo da monocultura o motor principal que gerava essa economia.

“A casa-grande, embora associada particularmente a um en-genho de cana, ao patriarcalismo nortista, não se deve considerar expressão exclusiva do açúcar, mas da monocultura escravocrata e latifundiária em geral: criou-a no Sul o café tão brasileiro como no Norte o açúcar”. ¹³

A sociedade colonial no Brasil, principalmente em Pernambuco e no Recôncavo da Bahia, teve seu desenvolvimento patriarcal e aris-tocrático à sombra das grandes plantações de açúcar. ¹⁴ A produção de açúcar sofreu a mudança da forma mais artesanal, nos engenhos para a produção através das usinas. A mão-de-obra diminuiu, pois nessa época os escravos já eram trabalhadores livres, e sem sua moradia nas fazendas, as senzalas, começam a criar sua própria moradia:

¹³ FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala. 30 ed. Recife: Record, 1992, p. LXIII. ¹⁴ FREYRE, Gilberto. pg. 17.

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“Terminando o tempo do patriarcalismo rural, de que os engenhos bangüês com as suas casas grandes isoladas, procurando bastar-se a si mesmas, foram os últimos repre-sentantes no Norte e seus substitutos no Sul, as fazendas mais senhoriais de café e as estâncias mais afidalgadas no gênero de vida de seus senhores; é iniciado o período indus-trial das grandes usinas de açúcar e das fazendas... Também no interior, as senzalas foram diminuindo e engrossando a população das palhoças, dos cafuás e dos mucambos (SIC): trabalhadores livres quase sem remédio, sem assistência e sem amparo das casas grandes.” ¹⁵

Os mocambos geralmente tinham cobertura de palha, que protegia os moradores do sol e das chuvas; suas paredes eram executadas com duas ou três camadas de sapé, a disposição dos cômodos era muito simples, um quarto entre duas salas separa-das por um corredor, ou um quarto e uma sala em “L”. Todos os cômodos possuíam abertura para ventilar e iluminar, diferente das alcovas dos sobrados burgueses. Houve muita resistência da nova burguesia agrário-in-dustrial com relação a esses tipos de habitação, porém, segundo certos estudiosos, era a solução mais adequada ao nosso clima.

“A iluminação e a ventilação fazem-se pelas aberturas vas-tas do frontão e realizam-se de modo muito mais perfeito do que seria lícito esperar, se se fizessem através de janelas, mesmo as mais altas possíveis. Esse sistema de ventilação é o mesmo que se encontra na sub-região levantina – zonas urbana, sub-urbana e rural – no Nordeste... A casa ideal para as regiões tropicais do Brasil não seria a que despre-zasse o material empregado pelos indígenas e pelos africa-nos... Na ânsia de ‘modernizar’ as condições de habitação pobre, isto é, americanizá-la ou europeizá-la pelo emprego do ferro e outros ‘excelentes condutores de calor’, proibindo-se o uso de ‘ripa’ na construção das casas e reduzindo-se ao mínimo o emprego da madeira como material desprezivel-

¹⁵ FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. Introdução à História da Sociedade Patriar-

cal no Brasil. 8 ed. Recife: Record, 1990, pg. 153.

Mocambos NordestinosFonte: Gilberto Freyre,

Sobrados e Mucambos, pg. 207.

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mente arcaico. ...Os que ingenuamente ou para enfeite de seus programas de um messianismo simplista ou cenográ-fico, vem se considerando o mucambo ou a palhoça de nossa vida e querendo resolver o problema da habitação proletária no Norte do Brasil, proibindo o uso da palha na construção de casas pequenas, vem colocando o problema em termos falsos e inteiramente antibrasileiros e antiecológicos. O mucambo higienizado com saneamento e piso, parece ser solução inteligentemente ecológica e econômica do nosso problema de habitação proletária no Norte do país. (...)“A verdade, porém, é que desde os fins do século XVIII, foi se verificando no Brasil – nas áreas mais europeizadas – con-siderável invasão das atividades industriais e até mercantis por gente nobre mais afoita em desembaraçar-se do precon-ceito ruralista”. ¹⁶

Quando a industrialização chegou ao Nordeste não so-mente em forma de usinas de açúcar, mas com a chegada de fá-bricas têxteis, por exemplo, parte da população, como será visto posteriormente, não se adaptou às jornadas exaustivas dentro das fábricas, tendo que abandonar o seu roçado, e não se adap-tou à nova moradia nas vilas operárias, tendo que abandonar seus mocambos. No setor açucareiro eram contratados trabalhadores tem-porários só para o período da safra da cana-de-açúcar, era um tipo de mão-de-obra diferente do operariado do eixo Rio de Ja-neiro - São Paulo. “... é comum às fábricas localizadas em meio rural – particularmente as grandes indústrias agrícolas, mais sujeitas às va-riações sazonais de produção – de terem sua força de trabalho bipartida em operários fixos que trabalham o ano todo e operários sazonais.” ¹⁷ Os operários nordestinos que trabalhavam nas usinas açucareiras passavam por maus tratos. Mas como teriam tais industriais consciência para dar um tratamento digno aos seus operários num período pós-escravidão? Um dos primeiros presi-dentes do Sindicato dos Trabalhadores Industriais do Açúcar de Pernambuco declarou:

¹⁶ FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos, Pg. 231-233.

¹⁷ LEITE LOPES, José Sérgio. Mudança Social no Nordeste: A Reprodução da Subordinação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.49.

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“Antes da nossa gestão, apareceram coisas isoladas (em res-posta a pergunta sobre greves não patrocinadas pelo sin-dicato), assim, nas usinas, não é? Eu tenho conhecimento que houve. Por exemplo, no começo do sindicato, eu tive conhecimento que houve uma greve na usina Santa Tere-zinha. Mas nós ainda não estávamos à frente do sindicato. (Pergunta: era por salário também ?) Não, não posso infor-mar o motivo, os motivos eram muitos, não é, mas eu não sei dizer porque ainda não estava na nossa gestão, tínhamos conhecimento por alto. Agora, tínhamos conhecimento, e que sabemos, porque tivemos oportunidade de falar com os operários, é que todos aquelas que, na sua maioria foram massacrados e botados para fora. Após a volta ao trabalho, foi colocado um trem de cana, de carros, e tirados os objetos, a mobília dessa gente toda, pôs-se em cima desses vagões da carregar cana, e levados pra estação de Palmares e sacudido lá na estação de Palmares, e cada um que tomasse seu des-tino como bem entendesse...”. ¹⁸

Percebe-se que os operários despedidos são humilhados, despejados, sem prazo para reorganizar a vida, esvaziar a casa. As indústrias que se localizavam no interior, longe dos centros urbanos, tinham características semelhantes, os donos das fábricas mais afastadas tinham a vantagem de construir aloja-mento para os operários, pois o aluguel de casas da vila operária buscava assegurar a assiduidade e pontualidade dos operários. Essa proximidade também serve de argumento para exigência de horas extras, ou seja, é um estado de “prontidão permanente”.Parte do operariado que trabalhava nas usinas de açúcar no Nor-deste morava em casebres no campo, chamados de mocambos. Mas algumas vilas foram instaladas ao redor das fábricas, como é o caso da fábrica Navarro, em Pernambuco, que quis separar seus operários da relação de convívio com outros camponeses ou pescadores da vizinhança.

¹⁸ LEITE LOPES, Sérgio, pg.55.

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“Distando do Recife (algumas poucas) léguas, (Navarro) a esse tempo se apresentava ao observador comum como um lugar renegado do progresso, com a pequena fábrica de tecidos nos últimos arrancos de vida de uma miserável população, subnutrida e doente, alojada em palhoças (...)(O novo dono) ao ficar de posse de Navarro, com a quase des-mantelada fábrica de tecidos, em 1904, tratou logo de me-lhorar as condições de vida daquela gente, e determinou que seus filhos se pusessem à frente do empreendimento, com sua supervisão... A primeira medida foi a construção de uma vila de casas de tijolo e telha, em substituição às in-fectas e miseráveis palhoças que alojavam o operário e suas famílias”. ¹⁹

Alguns operários resistiram à imposição das fábricas e continuaram nos seus mocambos e roçados. Esse caso do nor-deste do Brasil é bem particular, pois mesmo que os povoados fossem distantes da fábrica, a população preferia morar na sua casinha de interior, por existir um tipo de expediente incomum nas indústrias do nordeste açucareiro, de meio-dia à meia-noite, para que o operário tivesse a manhã livre para trabalhar diaria-mente no seu roçado. Essa resistência encontrada na população local em se adaptar às novas regras de moradia fez com que essa fábrica per-nambucana recrutasse força de trabalho na Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte, pois em “terra estranha” os novos traba-lhadores se adaptariam às condições de vida impostas. Comparando a fábrica Navarro, uma indústria têxtil, com as usinas de açúcar, que adaptaram as senzalas dos engenhos para mora-dia de trabalhadores temporários, vemos a nítida dife-rença entre o ope-rariado têxtil e o das usinas. O têxtil se adaptava ao estilo de moradia das vilas, vigentes em várias partes do mundo; o operariado do setor açucareiro estava ligado a uma tradição dos arruados e senzalas. No entanto, a semelhança está na imobilização da força de trabalho através da moradia. A subordinação da vida domés-tica fica atrelada à vida no trabalho.

¹⁹ LEITE LOPES, Sérgio, pg.63.

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“... A concessão e controle de recursos acessórios à moradia, tais como lenha, água, luz e roçadas eventuais em contra-partida de baixos salários, são fenômenos comuns à usina e à fábrica têxtil de tal modo que o operário do açúcar que se transfere para a fábrica têxtil encontrará um contexto familiar de subordinação dos trabalhadores ao patrão. Com efeito, uma certa independência do lado da força de trabalho existe no sentido usina-fábrica têxtil, os operários do açú-car indo procurar emprego ou sendo recrutados... tais fatos se acrescentariam às informações empíricas existentes las-treando afirmações como a de se a classe operária existente no Nordeste açucareiro-têxtil, com seus segmentos urbanos e rurais, havia se formado ao longo de toda uma tradição de confrontação aberta com a burguesia açucareira-têxtil..“ ²⁰

A semelhança entre o Sudeste e o Nordeste também se evidencia, quando percebemos que as indústrias se instalaram tanto na periferia das grandes cidades como nos interiores mais afastados, contribuindo para o crescimento das cidades. Cons-tatamos isso em São Paulo e Rio de Janeiro, e no Nordeste temos como exemplo a cidade de Recife: Jaboatão, São José e Afogados; No interior da Paraíba destaca-se a Rio Tinto, e no interior de Pernambuco, a já mencionada Navarro. Detalharemos posterior-mente dois exemplos de núcleos fabris da região Nordeste, a ci-dade de Pedra, no sertão de Alagoas e a cidade de Paulista, em Pernambuco. Todavia, constata-se que a formação das fábricas e Vi-las Operárias no Nordeste tem outra conotação. Como foi visto, carga horária do operário sofre alterações para se adaptar ao trabalho no campo; existem os operários temporários contrata-dos apenas para a período da safra de cana-de-açúcar (isso no caso do setor açucareiro); e a preferência do operário de morar em sua própria casa, mesmo distante das fábricas. Por essas es-pecificidades, percebe-se que existem características específicas que diferem o Nordeste do Sudeste do País no que concerne ao processo de industrialização.

²⁰ LEITE LOPES, José Sérgio, pg. 82.

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3.3 - Núcleo fabril de Pedra, Alagoas

O Complexo fábrica-vila operária de Pedra, situado no sertão de Alagoas, é um bom exemplo de como a industriali-zação influenciou a vida do nordestino. Delmiro Gouveia, um personagem muito polêmico, com admiradores e inimigos, foi o criador do Núcleo Fabril de Pedra. Sua trajetória empresarial permeou entre os estados de Alagoas e Pernambuco.

Breve Biografia

Ele nasceu em Ipu, no estado do Ceará em 1863. Em 1868, a família mudou-se para Goiana-PE, após a morte do seu pai. Com o falecimento da mãe, em 1878, Delmiro Gouveia foi para Recife e começou a trabalhar como cobrador na “Brazilian Street Railways Company”. A trajetória de Delmiro Gouveia teve momentos impor-tantes. Inicialmente servindo de intermediário entre os produ-tores de peles de cabra, carneiro e couros de boi espalhados por todo o sertão nordestino e os comerciantes estrangeiros sediados no Recife. Depois trabalhou para a Keen Su�erly & Co., da Fi-ladélfia. Em 1892, tornou-se gerente da filial da empresa ameri-

Região circulada é a localização de Pedra, hoje uma cidade chamada de Delmiro Gouveia. Fonte: Mapa extraído do site oficial do Go-verno de Alagoas.

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cana. No ano seguinte, quando a matriz faliu, ele comprou seus escritórios no Recife e fundou a Delmiro Gouveia e Cia. Ligou-se à firma L. H. Rossbch, Brothers de Nova York e, com seu apoio financeiro, eliminou todos os concorrentes. Logo, Delmiro ampliou e diversificou seus negócios, cons-truindo o grande Mercado do Derby, a primeira instalação da ci-dade a ser servida de energia elétrica. Adquiriu a Usina Beltrão, que com maquinismos importados da Europa pretendia refinar o açúcar bruto dos engenhos e bangüês por um processo de du-pla cristalização, à vácuo. Embora tenha chegado a presidir a Associação Comercial, Delmiro Gouveia se indispôs com os oligarcas da família Rosa e Silva que governava o Estado. Sua refinaria foi boicotada pelos produtores e seu mercado incendiado. Faliu, foi perseguido e, sob ameaça de prisão, viu-se forçado a fugir para o vizinho Es-tado de Alagoas, terminando por se instalar no distrito de Pedra. ²¹

“Em 1903, Delmiro tornou-se proprietário de uma fa-zendo em Pedra, no sertão de alagoas, na qual centralizou seu comercio de peles. Em 1913, construiu uma usina hi-drelétrica na cachoeira de Paulo Afonso, para fornecer ener-gia à fábrica de linhas de costura que inaugurou no ano seguinte. Com a fábrica, criou no interior da fazenda um núcleo fabril, dotado de habitações, comércio, hotel, escolas e equipamentos de lazer. Em 1917, foi assassinado em Pe-dra.” ²²

Delmiro Gouveia era visto por seus admiradores como um grande empreendedor. Embora contasse entre seus sócios com os italianos Lionello Iona e Guido Ferrario e com o inglês John Krause, e entre seus funcionários contasse com técnicos contratados em Glasgow e com o engenheiro italiano Luigi Bore-la, sua fama por ressaltar o Brasil e em especial o Nordeste, se destacava sempre.

²¹ h�p://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/empreendedor/emp13.htm.

²² CORREIA, Telma de Barros. Pedra: Plano e cotidiano operário no sertão. Campinas-SP:

Papirus,1998. pg. 188.

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Sua ligação com estrangeiros também ocorria no comércio de peles. Em 1910, Delmiro negociou com o empresário ameri-cano Moore, uma parceria para a criação de uma concessionária para fornecimento de energia elétrica para estados do Nordeste. O acordo foi que o capital americano apoiaria desde que Delmiro conseguisse a concessão de uso da cachoeira de Paulo Afonso para fornecimento da energia às cidades. Como Delmiro tinha “jogo de cintura” com os políticos da região, foi fácil de conse-guir. No decorrer da trajetória empresarial, Delmiro conso-lidou uma reputação de empresário ousado e inovador. Em 1889, ele inaugurou em Recife o “Derby”, era um complexo comer-cial e de lazer, que incluía mercado, hotel, cassino, velódromo, parque de diversões e loteamento residencial.

“Depoimentos de observadores da época revelam a admi-ração causada pelo Derby nos segmentos da população do Recife e seu orgulho diante desse empreendimento que parecia colocar a cidade em sintonia com o que havia de mais moderno e de bom gosto no mundo de então.” ²³

O Derby surgiu como expressão de progresso, como um local que dava ares de civilização e dignificava a cidade de Re-cife. Foi encarado como um centro de diversões modernas que trazia aos pernambucanos “os prazeres inéditos produzidos com o auxílio da técnica e da ciência”. ²⁴ A idealização e concepção do Derby e de Pedra foi fa-vorecida pela divulgação de experiências européias e ameri-canas. Naquele momento, haviam muitas revistas especializadas e exposições onde o foco principal era a Indústria. Delmiro Gouveia visitou a Exposição Universal de Chi-cago, de 1893, e a Exposição Universal de Paris, de 1900, muito provavelmente, tais eventos o influenciaram na decisão de im-pulsionar seus projetos.

²³ CORREIA, Telma de Barros.pg. 193.

²⁴ CORREIA, Telma de Barros. pg. 193.

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“A arquitetura das construções erguidas especialmente para sediar as exposições constituía-se em um dos elementos centrais na estratégia de sedução das massas pela mercado-ria e pelas inovações técnicas que fundamentou tais even-tos. Tais construções compartilhavam de uma nova noção de monumentalidade, que inseria os motivos do ecletismo em projetos que exploravam a ampla disponibilidade de recursos e as novas possibilidades técnicas. O projeto do Mercado do Derby foi profundamente marcado por esses valores arquitetônicos, revelando particular inspiração no Fisheries Building, projetado para a Exposição de Chicago por H. Ives Cobb.” ²⁵

Tais exposições foram também locais de divulgação de novos modelos de gestão dos trabalhadores, experiências no campo da moradia e da criação de núcleos fabris eram dissemi-nadas. Modelos de habitação higiênica e confortável para ope-rários foram exibidos, enfatizando-se os efeitos positivos que proporcionariam em suas condutas e as vantagens resultantes para o patrão. Isso explica por que as fábricas e vilas operárias no Brasil e no Mundo têm tantas semelhanças. As iniciativas empresariais eram muito arrojadas, e de-pendiam de concessões públicas, como isenção de impostos, etc. Delmiro às obteve graças as suas alianças políticas, tanto em Per-nambuco como em Alagoas. O empreendimento de Pedra, que incluía núcleo fabril, fábrica, curtume, fazendas, usina hidrelétrica, açudes, sistema de abastecimento de água e aproximadamente 520 quilômetros de estradas, não existiria facilmente sem as concessões políticas. Delmiro conseguiu tudo isso graças às relações de “amizade” que tinha com os governadores alagoanos do período.

“Do governo de Alagoas obteve o direito de posse de ter-ras devolutas no município de Água Branca, auxílio para a construção de açude em Pedra, isenção de impostos para a fábrica de linhas, concessão para captar energia elétrica na

²⁵ CORREIA, Telma de Barros. pg 195.

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cachoeira de Paulo Afonso, permissão para conduzir fiação para qualquer parte do estado, isenção de impostos esta-duais e municipais relativos à produção de energia, isenção de impostos para a importação de algodão e recursos para financiar parte das obras de construção de estradas ligando Pedra a outras localidades”. ²⁶

Havia um trunfo em suas mãos, que usava para conse-guir o que precisava com os parceiros políticos. Além de favores, Delmiro tinha a possibilidade de oferecer votos. Com sua per-sonalidade dominadora, muito provavelmente tinha o controle dos votos entre seus fornecedores , locatários do mercado e os operários das várias empresas que possuía. No caso de Pedra, o programa de alfabetização dos operários era uma forma de in-dução de pensamento e ações. Sem dúvida, esse fato não agra-dava os seus adversários políticos. Delmiro era acusado de enriquecimento ilícito por seus adversários, como sonegar impostos no comércio de couro e al-godão e de praticar violências contra concorrentes, características dos coronéis nordestinos da época. “teria usado um capanga para espancar, em uma rua do Recife, um dos seus concorrentes no comércio de peles, Clément Levy, que, após o incidente, teria se transferido para Fortaleza.” ²⁷

O Cotidiano Da Vila Operária Em Pedra

Apesar dos admiradores verem Delmiro e sua postura perante o complexo fabril de Pedra, como algo extraordinário, nem tudo foi tão perfeito como parecia. Houve conflitos com vizinhos poderosos, também “coronéis”, e tanto ele como os ge-rentes de sua fábrica em Pedra entraram em conflito com ope-rários e moradores do lugar. No caso de Pedra se demonstra o regime de terror im-posto pela fábrica, excessivos regulamentos e na rigidez das for-mas de punição. A violência que permeava as relações sociais no capita-lismo e o autoritarismo que caracterizou o cotidiano das

²⁶ CORREIA, Telma de Barros. Pg 196.

²⁷ CORREIA, Telma de Barros. Pg 199.

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vilas operárias e dos núcleos fabris ao redor do mundo, não foi diferente em tal situação.

Na extremidade da fazenda próxima ao povoado e à ferro-via, construiu currais, açude, uma residência e prédios para abrigar um curtume. Em 1912, com a decisão de implantar uma fábrica de linhas no local, foi iniciada a construção do núcleo fabril, que incorporou essas primeiras edificações. Entre moradores e contemporâneos o núcleo era referido como Fazenda Rio Branco, Fazenda da Pedra, Vila Ope-rária da Fazenda Rio Branco ou simplesmente como “a Pedra”, ao passo que a povoação preexistente era chamada Pedra Velha ou “cidade livre”. ²⁸

Pedra foi inteiramente idealizada por Delmiro Gouveia e edificada sob seu comando, detinha a centralização de todas as decisões, desde as obras de construção até maquinário e con-tratação do operariado. Em 1917, havia cerca de 250 casas, cha-farizes, lavanderias e banheiros coletivos, loja, padaria, farmácia e feira semanal, escolas, médico e dentista, cinema, pista de pati-nação, banda de música, posto do Correio e Telégrafo. “Conforme Hildebrando Menezes,”repetia sempre que não queria mestres a orien-tarem a execução das suas obras. Preferia homens que cumprissem bem as suas ordens e executassem os seus planos.” ²⁹ O complexo tinha sete ruas largas e regulares, também muitos espaços desocupados, um deles, na frente da fábri-ca, chamavam de “Praça”. A maioria dos operários da fábrica morava em casas de alvenaria alugadas ou cedidas pela empresa. O aspecto regular de suas construções e o silêncio de suas ruas testemunhavam uma condição singular. Não se tratava de uma cidade comum, mas de um empreendimento privado, o com-plexo fábrica-Vila operária era usado como fixação territorial dos sertanejos para convertê-los em operários. Assim como ocorria em vários núcleos fabris, em Pedra tudo era feito para tornar o operário mais produtivo. A vida de-les era administrada com muito rigor. Todas as atividades tin-

²⁸ CORREIA, Telma de Barros. Pg 205.

²⁹ CORREIA, Telma de Barros. Pg 206.

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ham hora determinada, proibição de bebidas alcoólicas, regras de higiene, etc. O baixo valor da terra em plena caatinga dava a possibilidade de criar varias áreas vazias. Os blocos de casas se espalhavam, dando lugar às ruas largas, generosas vias sanitá-rias, amplos quintais e casas de ambos os lados. Todos os demais blocos de casas abriam-se para espaços vazios, casa possuía um alpendre. Seus amplos blocos de casas padronizadas definiam ruas retas e largas. Essa dispersão de espaço inibia concentração de pessoas, ou prováveis rebeliões. As Vilas Operárias de Pontezinha e Paulista, em Pernam-buco, tanto como as de Rio Tinto, na Paraíba, tinham a planta baixa semelhante, utilizando essa forma de alpendre. As casas-tipo, em Pedra, eram compostas dos seguintes compartimentos: 02 salas, 02 quartos e cozinha, o sanitário se localizava no quin-tal, no fim do lote. A depender do tamanho médio das famílias, as salas eram usadas como quartos, o uso de redes era comum. A cozinha ficava nos fundos da casa, num tipo de alpendre que servia de área de transição entre a casa e o quintal. Como o es-paço era favorável à construção de casas maiores, uma dos mo-tivos era combater a “promiscuidade”, havia controle até dos contatos e trocas afetivas entre familiares. Dependendo do nível de especialização, tais casas au-mentavam de tamanho e de qualidade de materiais e construção. No caso de Pedra, as casas maiores, destinadas a funcionários mais graduados - chefes e engenheiros, eram compostas de cinco quartos, três salas, cozinha, despensa e dependências.

“(...)Requisitos de higiene, conforto, segurança e economia presidiram a organização dos espaços coletivos e das habitações em Pedra. Noções de segurança se expres-saram na estratégia de reter a família trabalhadora em local isolado e confinado, submetendo-a a disciplina rígida. O es-paço cercado, com seqüências de casas padronizadas ao lon-go de ruas largas e regulares, facilitava o controle do acesso ao núcleo e dos movimento no seu interior. A dimensão reduzida, as baixas densidades e os grandes vazios também

A monotonia e a impessoal idade presidiam a ordem espacial de Pedra. Grandes vazios, ruas desertas, uniformidade e simplicidade das construções eram alguns atributos do lugar. Fonte: Museu Delmiro Gouveia.

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eram solidários com a inspeção minuciosa dos moradores. Tal distribuição eliminava amontoamentos, altas densi-dades, ajuntamentos, misturas e confusões, desfavorecendo contatos suspeitos, comportamentos autônomos e desregra-mentos. À ordem espacial solidária com o controle social, aliavam-se os rígidos regulamentos aos quais estava subor-dinado o cotidiano dos moradores e a fiscalização constante exercida sobre eles.” ³⁰

Telma Correia, cita Adolpho Santos, que comenta sobre como Delmiro Gouveia fiscalizava de perto os passos do seu ope-rariado:

“Todos os dias, pela manhã, invariavelmente, Delmiro fazia demorado passeio de fiscalização pela vila operaria, aconse-lhando uns, repreendendo os faltosos, impondo costumes de educação domestica, verdadeira romaria de evangelizador exercendo a catequese de civilização naquele centro semi-bárbaro.” ³¹

Há uma história contada por antigos moradores que, por ocasião do passeio diário de Delmiro pela Vila Operária, os mo-radores deviam deixar as portas das casas abertas, para que seu interior pudesse ser visto. Muito provavelmente, era a inspeção relacionada também à higiene e conservação do imóvel. Ou seja, nem no interior da sua casa, o operário se sentia protegido da fiscalização constante. Para a segurança em Pedra, foi ainda pen-sada a disposição das casas destinadas a funcionários mais gra-duados em pontos estratégicos. Como já mencionado, as melhores casas, localizadas nas esquinas, habitadas pelos operários mais especializados, tinham uma razão estratégica de fiscalização, pois eles podiam observar o dia-a-dia das relações de vizinhança entre os demais. Tal estraté-gia de misturar as moradias de operários e de funcionários gradua-dos era coerente com o controle moral e político assumido por Delmiro. Apenas sua casa era isolada e diferenciada das demais.

³⁰ CORREIA, Telma de Barros. Pg 209.

³¹ CORREIA, Telma de Barros. Pg. 212.

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“Em Pedra, não havia casas ou alojamentos para soltei-ros, apenas uns poucos moradores - professoras, comer-ciantes etc. - tinham a casa também como local de trabalho. O patrão e seus auxiliares interferiam profundamente no interior do espaço doméstico - procurando afastar tudo o que fosse julgado contrário à moralidade, à salubridade e à tranqüilidade - e o acesso de estranhos, sobretudo de homens solteiros, era regulado pela fábrica. Essa casa era, simultaneamente, o abrigo necessário para atrair e reter as famílias récem-chegadas ao núcleo e a base para alterar o cotidiano de seus moradores.” ³²

Controle social através do isolamento

Pedra tinha uma localização privilegiada, no que tange ao controle social. Estava numa posição estratégica em relação à matéria-prima utilizada no seu negócio, às fontes de energia e aos meios de. Situada apenas a 24 km da cachoeira de Paulo Afonso-BA, Pedra encontrava facilidades para o uso de energia elétrica e água, captadas do Rio São Francisco, bem como a pos-sibilidade de escoar sua produção pelo mesmo. Delmiro também fez uso da Ferrovia Paulo Afonso, que tinha sido construída no século XIX com o intuito de fazer a ligação entre o “baixo” e o ”alto” São Francisco, ou seja, desde a nascente do Rio, em Minas, até o escoamento do Rio no mar, entre os Estados de Alagoas e Sergipe. Tal ferrovia achava-se subutilizada e deficitária no início do século XX, funcionando apenas uma vez por semana. Então começou a ser usada pelo Complexo Fábrica-Vila Operária de Pedra.

Antiga estação de Trem em Pedra, atual Museu Delmiro Gouveia ³³.

³² CORREIA, Telma de Barros. Pg.214.

³³ h�p://www.citybrazil.com.br/al/delmiro-gouveia/turismo.htm. Abriga um rico acervo sobre a história do empreendedor Delmiro Augusto da Cruz Gouveia. Equipamentos do curtume e da antiga fábrica, aparelhos de telégrafo, instrumentos e equipamentos utili-zados por funcionários da Rede Ferroviária, móveis e objetos de uso pessoal de Delmiro Gouveia, além de um significativo acervo fo-tográfico e várias publicações e documentá-rios que contavam a história da região. No museu está exposta a antiga Maria Fumaça, locomotiva que puxava o comboio através da ferrovia 610.

Angiquinho, primeira hidrelétrica da região, aproveitando a cachoeira de Paulo Afonso, no Baixo São Francisco. Foto: Suzete Bomfim, 2003.

Angiquinho, primeira hidrelétrica da região, aproveitando a cachoeira de Paulo Afonso, no Baixo São Francisco. Foto: Suzete Bomfim, 2003.

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A fábrica da Pedra beneficiou-se dessa situação na medida em que, garantindo um uso efetivo da ferrovia, pôde, por outro lado, subordiná-la quase inteiramente a suas neces-sidades. A realização de viagens especiais, requisitadas pela fábrica, para transporte de mercadorias, matérias-primas, caravanas de visitantes ou mesmo simples técnicos, tomou-se rotina”. ³⁴

A região de Pedra - uma caatinga extremamente seca - apresentava, ainda, a vantagem de ser pouco habitada e de ofere-cer terras baratas, bem como a possibilidade de uso terras devo-lutas, concedidas pelos aliados políticos. Tal localização também era importante do ponto de vista do controle social, pois o lugar era isolado espacialmente de outros povoados e cidades. O “go-verno” era ditado apenas pelo dono do empreendimento. Pedra era um lugar fechado. Visando reter ao máximo os moradores em seu interior, reuniu-se tudo o que se julgou útil e necessário à vida operária e concentrou num único lugar. Motivo pelo qual se explica a existência em Pedra de feira, armazém, padaria, médi-co, escolas e lazer, além da moradia. Artigos mais sofisticados - inacessíveis à maioria deles - eram encontrados em cidades mais próximas como Piranhas, Penedo, Maceió ou até Recife.

“Ao mesmo tempo em que se procurava reter os mora-dores, buscava-se afastar presenças indesejáveis. O acesso era reservado a indivíduos selecionados, àqueles dispostos a trabalhar na fábrica e a acatar as normas que regiam essa comunidade do trabalho. Ser útil, produtivo e obediente eram os atributos exigidos dos habitantes. Aos que não cor-respondessem a essa expectativa, estavam reservados cas-tigos e humilhações públicas, seguidos, nos casos julgados mais graves, de expulsão da comunidade. A entrada e a saída de pessoas do núcleo eram controladas, dependendo muitas vezes da benevolência dos fiscais, como relata Lauro Góes, sobre a saída à noite de moças para se encontrar com rapazes, contrariando determinações de Delmiro. Apenas

³⁴ ARARIPE, J.C. Alencar. A Glória de um pioneiro. A vida de Delmiro Gouveia. Rio de Janeiro, Ed. O Cruzeiro, 1965, Pg. 124).

Apud, CORREIA, Telma de Barros. pg.224.

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famílias residiam em Pedra. Os operários solteiros sem família no local moravam fora do núcleo fabril, na Pedra Velha, e tinham seu acesso ao núcleo rigidamente contro-lado.” ³⁵

Por estar situada em Pleno Sertão, numa fazenda onde predomina a vegetação da caatinga, havia uma cerca de arame que separava a área do complexo fabril de povoados mais próxi-mos. O controle patronal sobre cotidiano dos operários era facili-tado pelas distâncias generosas que afastavam seus moradores do mercado de trabalho das grandes cidades e a carência de opções de trabalho nas proximidades da região. Em Pedra, Delmiro Gouveia dispensou inclusive a colaboração da Igreja Católica, tão cara à maioria dos industriais construtores de núcleos fabris, isso é bem inusitado, pois muitos industriais se valiam da igreja para manipular seus operários, parece que a posição autoritária dele era tão soberana que não precisava desse artifício. ³⁶ Como Delmiro queria controlar tudo em sua volta, o pa-dre poderia ser alguém a disputar o status de autoridade. Outro fator positivo na sua visão era o fato da ausência de igreja evitar as festas e procissões do calendário religioso. Nada interferia no ritmo de trabalho da fábrica e assegurava seu monopólio sobre a ação de controle moral da vila operária, lugar sem polícia nem representantes da justiça. “A ordem urbana e social de Pedra expres-sava uma busca abrangente e meticulosa de controle sobre a totalidade da existência local, concentrada na autoridade única e onipresente de Delmiro Gouveia.” ³⁷

A sedução do sertanejo

Para os flagelados da seca da segunda década do século XX, a oferta de moradia, emprego e principalmente água abun-dante, era praticamente irresistível. Os operários de Pedra eram, na sua quase totalidade, originários do próprio sertão. Outros eram pessoas foragidas em função de conflitos, muitas vezes eram pessoas recomendadas por amigos políticos e comerciais

³⁵ CORREIA, Telma de Barros. Pg. 255.

³⁶ CORREIA, Telma de Barros. Pg. 226.

³⁷ CORREIA, Telma de Barros. Pg. 227.

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de Delmiro. Como Pedra tinha seu próprio código de leis, era um lugar perfeito para seus “protegidos”. “Numa época em que a justiça tinha enorme dificuldade de penetrar nos domínios particulares de homens ricos e poderosos, a prática de dar proteção a foragidos era rotineira. O próprio Delmiro chegou ao local colocando-se sob proteção do coronel Ulisses Luna e do governador de Alagoas após envolvimento em conflitos em Pernambuco.” ³⁸ No entanto, em Pedra, não havia apenas o operário ser-tanejo, também existia, mesmo que em pequeno número, técni-cos mais especializados, vindos dos centros urbanos mais próxi-mos como Recife e Maceió, além de pessoas vindas do exterior. A fábrica costumava empregar vários membros de uma mesma família, ocupando pessoas de ambos os sexos e crianças, havia trabalho para todos, e as crianças eram obrigadas a freqüentar a escola. Uma curiosidade era o controle especial aos operários solteiros e sem família, eles não podiam morar na vila operaria, viviam em pensões fora do núcleo , e os namoros com moças da fábrica eram estritamente vigiados. Eles não podiam nem freqüentar as casas das famílias operárias. Inclusive as sessões de cinema eram vigiadas, mesmo casais, não podiam sentar juntos, havia o lugar das mulheres, dos homens e das crianças. Outro tipo de controle era feito por direcionar os gastos dos operários, o essencial era encontrado lá mesmo em Pedra, para que os operários não precisassem sair do local pra comprar. A idéia de realizar uma feira dentro do núcleo fabril foi adotada, também, em outros complexos fabris nordestinos, como Paulista e Rio Tinto. Com ela, concilia-se o gosto do homem do campo pela feira com a intenção de controlar seu consumo e evitar seu contato com o ambiente das feiras das localidades vizinhas ao núcleo. Embora os operários fossem livres para abandonar Pedra e o castigo físico não fosse o principal meio de obrigá-lo a per-manecer, tal castigo aparecia como nuvem que ameaça pairando sobre eles, intimidando-os a obedecer ao patrão pelo medo da degradação que o castigo representava. As imposições eram es-

³⁸ CORREIA, Telma de Barros. Pg. 229.

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tranhas ao homem do Sertão. Como o sertanejo poderia desejar ou se sentir à vontade? Num lugar onde estavam privados de suas formas usuais de diversão e prática religiosa, induzidos a mudar a forma de vestir e de cuidar do corpo. Para o camponês, a experiência do ingresso em Pedra foi, antes de tudo, de perda da sua cultura. Pois, sua relação anterior com o mundo era rom-pida; eram privados da autonomia de gerir suas vidas. Pedra surgia como exemplo de comunidade obreira, disciplinada e civilizada, foi eleita como modelo a ser seguido. Muitos homens – dirigentes políticos e intelectuais – voltaram seus olhos pra ela. Muitos visitantes ilustres demonstraram ad-miração e escreveram sobre o complexo fabril. No período de 1914 a 1917, quando Delmiro esteve no seu comando, ele rece-beu visitas, entre outros, de Assis Chateaubriand; Manoel Borba (governador de Pernambuco); João Batista Acioli (governador de Alagoas); José Bezerra; Eugênio Gudin; Oliveira Lima, Oliveira Viana e Saturnino de Brito. Nos artigos que escreveu em 1917, Assis Chateaubriand mostra o impacto causado por Pedra nele e em outros intelec-tuais que a visitaram:

“Aquele lindo diamante solitário, encravado n’uma zona adusta, desdobrou aos meus olhos um panorama de traba-lho, de organização operaria e social, que não foi só o meu espanto, mas de todos os homens de inteligência que o tem visitado e com quem tenho trocado idéias: o Sr. Saturnino de Brito, o Sr. Eugenio Gudin, o Sr. Oliveira Lima, etc. (...) Ele é o intermediário, o porta-bandeira da civilização naquele rincão longínquo, desamparado dos governos, desagregado do resto do país, as populações vivendo à toa, sem escolas, entregues exclusivamente à cupidez dos fiscos municipais e à mercê do destino. O sr. Delmiro Gouveia surge à margem do São Francisco como a grande energia solitária e dominadora, o braço terrível que nos aproxima pouco a pouco daquela coordenada histórica - o tempo, a qual segundo Euclides da Cunha nos separa daqueles nos-

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sos patrícios do interior. Há nesta audácia desempenada um misto de arrojo yankee, de disciplina teutônica e de urbani-dade latina, caldeados pelo sol do meridiano.(...)Ele mostra como impondo, graças a uma disciplina que nem por ser assaz minuciosa escapa aos limites de uma justa temperan-ça, aquelas sub-raças, novas maneiras de ver, de julgar e de sentir as coisas, e de se adaptar ao mundo, modificando habilmente tendências internas, hábitos adquiridos, substi-tuindo-os por outros compatíveis com o aspecto diverso da sua existência coletiva, é possível fazê-las valores sociais apreciáveis (...). é agora moda menosprezar-se a disciplina, mas ajudado por ela, o Sr. Delmiro Gouveia desdobra, hoje, o panorama mais sugestivo de organização social que meus olhos ainda contemplaram.) ³⁹

Esse artigo evidencia como os intelectuais admiravam Delmiro e como seu conceito sobre o sertanejo era preconcei-tuoso, chamando-os de “sub-raça”, provavelmente tais formas de pensar influenciaram o modo como até os dias de hoje mui-tos brasileiros do Sudeste e Sul do País desprezam o cidadão do Norte e Nordeste. As Elites brasileiras estavam entusiasmadas com as no-vas teorias de ordem e progresso. E as novas noções de higiene. O intelectual do inicio do século via Pedra como a resposta pra-tica a tais teorias. Tais artigos buscam edificar a imagem do ser-tanejo nordestino, procurava desfazer discrepâncias entre um Brasil que se julgava cosmopolita e civilizado e um Brasil tido como atrasado, mergulhado no misticismo e na violência. O Exem-plo de Pedra era usado para mostrar ser falsa a oposição entre sul civilizado e norte atrasado, entre litoral cosmopolita e sertão selvagem, entre grandes cidades progressistas e interior retró-grado. A imagem de Pedra como uma comunidade exemplar, construída pelos intelectuais da época, continuou a ser promo-vida ao longo do século XX. Por exemplo:

³⁹ CHATEAUBRIAND, 1917, pg. 3, 62, 64, 65. Apud, CORREIA,

Telma de Barros. Pg. 270.

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“O poeta Mário de Andrade via nela uma “perfeição de mecanismo urbano”, onde tudo tinha sentido (Andrade 1963; 1992). Gilberto Freyre também se mostrou seduzindo pela “maravilha de técnica, de economia e, sobretudo, de organização social e de solidariedade humana”, que identi-ficava em Pedra (Freyre 1963). Graciliano Ramos também ressaltou sua ordem exemplar, embora a considerasse “até excessiva” (Ramos 1992, p.115). “ ⁴⁰

Existe ainda a idéia que de Delmiro Gouveia foi o símbo-lo das dificuldades de industrialização do Nordeste. Sua morte precoce, por meio do seu assassinato, foi usado, assim como ou-tras desculpas já conhecidas, como motivo para explicar o “atra-so” da industrialização e do progresso na região. Para exem-plificar tal pensamento, Telma Correia cita o autor Fernandes Távora, que em 1966, escreveu: “O desaparecimento prematuro do bravo lutador de pedra representou um golpe tremendo no progresso do norte do Brasil. Mais uma vez caiu sobre nós , pesada e dura, a mão do destino” ⁴¹ O núcleo de Pedra se transformou num município com a denominação “Delmiro Gouveia”, território desmembrado da região de Água Branca em 16 de junho de 1952 por força da lei N.º 1.628, que elevou a vila a categoria de cidade . A instalação da cidade teve lugar no dia 14 de fevereiro de 1954, dia da sua emancipação. Na verdade, o “Mito Delmiro Gouveia” até hoje propa-gado na região, se deve à sua grande capacidade de articulação com pessoas estratégicas, à sua hábil noção de explicitar suas idéias e torná-las aceitáveis. Foi realmente um homem ousado, empreendedor. Contudo, tais características positivas não devem nos fazer esquecer das atrocidades cometidas com seus operá-rios, pois antes de ser um “homem moderno e ousado”, Delmiro praticava atos dos autênticos coronéis do Sertão.

⁴⁰ CORREIA, Telma de Barros. Pg. 283.

⁴¹ CORREIA, Telma de Barros. Pg.296.

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3.4 - Núcleo fabril de Paulista, Pernambuco

Paulista é um município estado de Pernambuco, localiza-do no litoral, próximo à cidade de Olinda, região metropolitana de Recife.

No século XVIII, por ordem de Rei de Portugal, foi edi-ficada a fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, em Pau Ama-relo, local onde dera-se em 1630, a invasão dos holandeses, permanecendo como referencial histórico. Em 1689 toda a pro-priedade, inclusive a de Maranguape, foi vendida a Manoel de Moraes Navarro, chamado de “O Paulista”, por vir de São Paulo. Comandava parte das forças governamentais que destruíram o Quilombo dos Palmares, reduto de brancos pobres, negros e ín-dios que sonhavam com a liberdade. Os engenhos foram se multiplicando em toda Capitania e no século XIX, já existiam várias usinas, inclusive a de Timbó, próxima ás terras pertencentes aos Rodrigues Lima & Cia., cuja propriedade e a pequena fábrica de tecidos de algodão (sacos), foram vendidas em 1904 ao grande empreendedor sueco, natu-ralizado brasileiro, Herman Theodor Lundgren. Paulista foi pionei-ra no Nordeste em fábricas de tecidos de algodão. Com a morte de Herman Lundgren (1907), a Companhia de Tecidos de Pau-lista – CTP, passou a ser administrada por seus filhos João Fre-

Localização de Paulista, Região metropolitana de Recife.

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derico, Alberto e Arthur Lundgren. Depois pelos seus netos, sob a presidência do Sr. Nilson e Carlos Nogueira Lundgren. Era o 2º distrito do Município de Olinda até 1935, quando então foi assinada sua emancipação política pela Lei Estadual Nº 11, de 04 de setembro de 1935. ⁴²

Fonte: LEITE LOPES, José Sérgio. A Tecelagem dos conflitos de classes na cidade das chaminés. Brasília, Ed. Unb, 1988. pg 263.

O Autor Sergio Leite Lopes, dedicou boa parte da sua vida, ao estudo sociológico do núcleo fabril de PAULISTA, cha-mando-a de “Cidades das chaminés”, veremos que tal detalha-mento sobre essa cidade, tem uma conotação um pouco diferente do que vimos sobre a cidade de Pedra, pois o caso anterior foi pesquisado por uma arquiteta, e a bibliografia encontrada sobre nosso exemplo foi escrito por um sociólogo. Lopes explica sobre sua tese:

⁴² h�p://www.prefeituradopaulista.hpg.ig.com.br/.

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“Se a “cidade das chaminés” incluída no título deste tra-balho indica que se trata do estudo de uma cidade indus-trial única, a de Paulista, em Pernambuco, no entanto, aquela expressão traz a necessária ambigüidade apontando para uma designação genérica, de um padrão de cidade in-dustrial em que “as chaminés” subordinam a “cidade”. E é disto que se trata neste trabalho: estudar, através da análise detalhada de um grupo operário determinado, submetido a relações de dominação peculiares, um padrão mais geral, uma forma de dominação específica, a das fábricas com vila operária. Mais ainda, pretende-se empreender o estudo de-talhado da constituição, diante dessa forma de dominação, da identidade própria de um grupo operário determinado, a partir do qual pode-se levar adiante comparações, através de regularidade (...)” ⁴³

O complexo Fábrica-Vila Operária de Paulista, Pernam-buco, tem algumas características semelhantes às mencionadas em Pedra, Alagoas. No que tange à busca dos operários no cam-po e forçando-os a se adequar ao novo estilo de vida fabril. No entanto, existem algumas peculiaridades interes-santes, como a concessão de pequenas faixas de terra para que cada família tivesse seu próprio “roçado”, e mantivessem algu-ma ligação com sua vida anterior. Mas tal atitude não deve ser encarada apenas como um ato de bondade, havia algo mais en-volvido. ⁴⁴ O maior desejo do industrial, ao conceder roçados no “sistema Paulista” ⁴⁵ é o máximo aproveitamento econômico na região, é a ligação do roçado concedido com a feira existente. As referências à concessão de roçados em outras fábricas com vila operária no Nordeste, enfatizam o caráter pedagógico de uma atividade extra-fabril que mantenha o operário ocupado em suas horas de lazer, ligado à família tanto através do trabalho familiar na horta, no roçado ou na criação, quanto através do motivo da melhoria do consumo alimentar doméstico, criando hábitos de trabalho mesmo no seu tempo livre e evitando atividades de la-

⁴³ LEITE LOPES, José Sérgio. A Tecelagem dos conflitos de classes na cidade das cham-

inés. Brasília, Ed. Unb, 1988. pg 15. A concessão de roçados para os “velhos” chefes de família, de famílias recém-recru-

tadas ou atraídas pela fábrica, parece ser a forma, pelo menos a retida na memória

dos trabalhadores, pela qual a companhia procura resolver o problema da “velhice

precoce” colocada pelo trabalho fabril, tentando aliviar a sobrecarga da unidade

familiar com os velhos e ao mesmo tempo reforçando sua moral do trabalho.

⁴⁴ LEITE LOPES, José Sérgio. Pg 93.

⁴⁵ O Termo “Sistema Paulista” será usado algumas vezes, pois é a forma pela qual o autor Sérgio Leite Lopes, designa a forma

da Fabrica administrara vida no Núcleo Fabril.

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zer tidas como indesejáveis, como jogatina e consumo de álcool. O grupo Lundgren, além de possuir o complexo fabril de Paulista, construiu também outros complexo fábrica-vila ope-rária em Rio Tinto, na Paraíba, também de propriedade da CTP. Como esta fábrica e sua vila operária não foi adquirida de uma administração anterior diversa, como o foi a Fábrica Paulista, mas foi totalmente construída, assim como sua vila operária, pela CTP, freqüentemente a política patronal se expressa publi-camente com mais informações sobre Rio Tinto do que no caso de Paulista.

“O povoamento original da vila operária dava margem à existência, de forma majoritária, de casas de taipa às vezes construídas pelos próprios operários, às vezes pela “gerência externa” em terrenos da CPT. Os arruados de casas cons-truídos pela CTP, dos quais há referência em Raul de Góes desde o tempo de Herman Lundgren – a ser relativizada pela tendência à “condensação antecipatória” já referida – assim como nos relatórios anuais aos acionistas desde 1919, concentram-se nas ruas principais, próximas às fábricas, mas coexistem com um grande número de casas de taipa nos bairros mais afastados do centro. (...)A antiga casa de taipa, “palhoça” ou “mocambo”, necessariamente uma casa isolada, implica na concessão de um terreno que além da casa sustentava também roçado e criação,. Permitindo assim a conjugação casa-roçado que o arruado típico da vila operária vem interromper.” ⁴⁶

Os operários mais antigos, descreveram o processo de destruição das casas de taipa e da ligação casa-roçado. O argu-mento era o saneamento das terras das vargens, criando novas áreas de roçado, indo para os quintais no fundo das casas dos arruados, visando a criação pequenos animais para consumo, como galinhas, e o controle de preços na feira protegendo o con-sumo operário.

⁴⁶ LEITE LOPES, José Sérgio. Pg. 107,108.

Detalhe de uma vaca leiteira, no quintal da rua da vila operária no “bairro Nobre”, em Paulista.Fonte: Sérgio Leite Lopes, pg.269.

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As “alternativas” oferecidas pela companhia ao processo de destruição da ligação casa-roçado implícita nas “casas de taipa” características do modo de povoamento operário anterior ao grande afluxo de mão-de-obra proveniente da ação de aliciamento da CTP no interior ou de atração às fontes de trabalho abertas na Fábrica Paulista, são ressalta-dos pelos descendentes dos velhos operários como aspectos positivos do “tempo do Coronel Frederico”. (...) A orien-tação autárquica deixa de manter seu raio de abrangência e sua preocupação com a redução do custo da reprodução da força de trabalho e com a promoção das “forças marginais do trabalho familiar, para fixar-se predominantemente no combustível para as caldeiras, perdendo seu caráter “sis-têmico”. Mas aí nós já estaríamos no início da desagregação do “sistema Paulista”: a perda das condições de total con-trole da feira, do poder local, e da associatividade dos seus operários, fazem a companhia desinteressar-se na ligação roçados-feira, que ela promovia. A ocupação de suas terras com roçados-operários passa a ser vista com desconfi-ança e hostilidade. (pg. 109,118)

O trabalhador recém chegado à Paulista, já a encontrava pronta e em crescimento, uma vila operária à espera de sua família e de seus semelhantes, procedentes de diversas partes do Nordeste. Nestes aspectos há um contraste significativo, a ausência de conservação da companhia nas casas operárias, que eram de sua propriedade, habitadas por seus próprios operários, assim como a passagem para a administração pública de serviços antes assegurados pela fábrica como água e luz. Se a ausência de conservação pela CTP da parte da vila operária de sua propriedade é lamentada pelos operários, tal não é o caso no que diz respeito à passagem para a administração pública de certos serviços urbanos, pois o controle da vida social era muito abrangente.

Rua da Vila Operária no “bairro do Nobre”, nas proximidades da fábrica Arthur. As varandas e basculantes são meios pelos

quais alguns moradores de casas próprias distinguem suas casas dos arruados da vila operaria.

Fonte: Sérgio Leite Lopes, 1988.

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O posicionamento da CTP sobre a casa operária e a expec-tativa gerada nesses grupos de trabalhadores, da casa higiênica e confortável para os operários, vai de encontro com a realidade da desigualdade de classes que é notória dentro da nova vila ope-rária. O depoimento de um dos poucos trabalhadores “letrados” da Fábrica Paulista, publicado no Diário da Manhã, mostra a rea-lidade da época:

“Departamento Estadual do Trabalho (...) Um operário da fábrica Paulista endereçou ao Departamento a seguinte carta, devidamente assignada: ‘Tomo a liberdade de vos endereçar a presente a fim de des-mentir as referências feitas pelo Jornal Pequeno de 4-12-1930, num artigo entitulado “o Departamento Estadual do Trabalho e a assistência aos operários”.... Não é verdade que em Paulista tenha casas saneadas para operários com água, luz, fossa hygienica, nem hospital de isolamento. As casas saneadas com todo conforto que existem em Paulista são somente para os estrangeiros. As casas para operários brasileiros, com especialidade as penúltimas construídas, não são ladrilhadas, não tem latrinas de espécie alguma e muito menos luz elétrica. A água é apanhada no meio da rua, dos canos anti-hygienicos, a que dão o nome de chafa-rizes. Hospital de isolamento, houve em alguns annos para variolosos, porém a Cia. extinguiu-os a título de econo-mia e hoje os variolosos são tratados em suas casas. (...) Se algumas existem dentre essas com saneamento é porque mora ou morou alguem de destaque. Com certeza as casas que o Jornal Pequeno se refere são umas 20 ultimamente construídas, as quais tem ladrilhos e fossas, mas isso foi uma tapiação, em vista de terem mandado aliciar gente no interior e naturalmente era necessário mostrar um pouco de agrado ao menos nos primeiros dias Creia V.S que estou expondo verdade sem alteração, e se V.S. Se dignar mandar examinar, ficará convencido. (...)” ⁴⁷

⁴⁷ LEITE LOPES, José Sérgio. pg.144.

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Anos depois, encontra-se sobre o assunto, num dos relatórios da companhia, em 1939, admitindo que:

“Em conseqüência do desenvolvimento técnico das nossas fábricas mais diversos milhares de operários acharam um meio de vida em nossos estabelecimentos fabris, reforcando assim o número de auxiliares já especializados. O elevado número de operários abrigou-nos a ampliar ainda mais o programa de construção de casas de moradia afim de asse-gurar a cada um deles um lar adequado. Prosseguimos na demolição dos mucambos, substituindo por casas de pedra e cal. Não obstante as rendas reduzidas das nossas vilas operárias que mal cobrem as importâncias empregadas nas obras efetuadas, não nos descuramos da conservação e lim-peza de todas as casas, com o intuito de proporcionar aos nossos operários o melhor conforto.(...) “Prosseguimos na renovação da vila operária dotando a cidade de numerosos grupos e casas higiênicas, em substituição aos antigos mo-cambos, cujo número já se acha bastante reduzido.” ⁴⁸

Na situação política pós-revolução de 1930 que houve o desenvolvimento de outra característica política do “sistema Paulista”, além de seu aparato próprio do monopólio local, do uso da violência e além do controle político territorial de suas propriedades, adjacentes à fabrica Paulista, as fronteiras com um novo município próprio facilitava o controle dos operários na região, pois era de conhecimento público a incompatibilidade com a associação sindical de seus operários.

“À emergência dessa característica é atribuída, pelos trabalhadores mais antigos de Paulista, uma série de conseqüências para o pró-prio povoamento e para a vida social e política para a vila operária: muitos trabalhadores vêem nas demissões em massa que se se-guem à repressão do 1º sindicato operário, em 1932, a causa do aperfeiçoamento e desenvolvimento quantitativo da política de aliciamento massivo de trabalhadores nas áreas do interior”. ⁴⁹

⁴⁸ LEITE LOPES, José Sérgio. Pg 147,149.

⁴⁹ LEITE LOPES, José Sérgio. Pg. 205.

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Todavia, não eram apenas os operários que estavam in-satisfeitos com a CTP. Havia um conflito entre os industriais do “Sul” e do “Norte” do país, e alegando motivos de crise, os in-dustriais do Rio de janeiro e São Paulo, inclusive “a crise de su-perprodução” conseguem apoio do governo em 1931, e através do decreto 19.739 de março de 1932, restringiram a importação de maquinas industriais para todas as indústrias consideradas em estado de “superprodução”, como era o caso de Paulista. Com isso, a CTP passa a abrir apenas 3 dias por semana. ⁵⁰

“Com efeito, a CTP acabava de travar um pequeno conflito com os industriais do Rio e de São Paulo, os quase, preocu-pados com o crescimento do número de fabricas têxteis no interior do pais, proveniente do desvio de capitais da agri-cultura para a industria têxtil na segunda metade dos anos 20, e preocupados com as dificuldades de escoamento de sua produção, armam a tese de uma “crise de superprodução” na industria têxtil e aprovam primeiramente, desde o final de 1928, a idéia de preconizar a suspensão de todas as im-portações de maquinas têxteis enquanto durasse a crise, e depois, em agosto de 1930, patrocinam a apresentação de um projeto de lei no Congresso, pelo deputado Eduardo Lima Castro, prevendo não somente a suspensão total da importação de teares, como também simultaneamente, a obrigação de todas as fabricas têxteis limitarem sua jornada de trabalho a 8 horas diárias.” ⁵¹

Em dezembro de 1930, a CTP, mandou cartas criticando tal decreto, e se justificando da impossibilidade de obedecer às exigências impostas. Várias outras fábricas também se impuse-ram ao decreto, por exemplo, a Fábrica de tecidos Cruz&Cia, de Aracaju-SE e a Santa Luzia Industrial, e Belo Horizonte-MG. Interessante perceber, que a imposição de jornada de trabalho, não afetava a fábrica em Pedra, pois como já visto, desde o inicio do sé-culo XX, Delmiro Gouveia já atendia a esse requisito, promovendo outras atividades durante o período de lazer e descanso dos seus operários.

⁵⁰ LEITE LOPES, José Sérgio. Pg. 219.

⁵¹ LEITE LOPES, José Sérgio. Pg. 220.

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Alguns autores da época, como Maciel, citado por Sérgio Leite Lopes, chamavam a cidade industrial de Paulista de “feu-do”, a forma como companhia controlava a vida dos operários e os baixíssimos salários pagos, faziam a produção sair a baixo custo, o que incomodava os industriais paulistas e cariocas, pois os preços eram mais baixos e a luta concorrencial do “sistema Paulista” sobressaía os demais. ⁵² A evocação da grandeza da “cidade das chaminés” esta-va associada, para os trabalhadores, às garantias materiais que a CTP proporcionava aos seus operários, controlando os diversos aspectos da vida social da cidade-vila operária por ela construí-da. Tal controle era iniciado pela própria busca de famílias de trabalhadores nas áreas rurais e pequenas cidades do inte-rior da Paraíba e de Pernambuco, aliciando forças de trabalho. Esse processo de aliciamento, desde a chamada no interior até a chegada das famílias à Paulista, proporcionava, de certa forma, um ritual de agregação ao mundo da fábrica, uma apresentação rígida da forma de dominação ali instituída. Portanto, a construção de uma enorme vila operária, foi um importante elemento de legitimidade dessa forma de domi-nação, pois a garantia material da moradia para as famílias re-crutadas, era o principal elemento de fixação delas no novo mun-do da fábrica, abrindo-lhes até a possibilidade de trazer novos parentes e agregados de suas regiões de origem. ⁵³ A delimitação de áreas para a concessão de “roçados-operários”, a administração de uma feira com preços regulados de mercadorias transportadas pela estrada de ferro da própria empresa, entre outros, foram garantias acessórias a moradia na vila operária, assim eram também os créditos para enterros de familiares e aos remédios da farmácia, descontados do salário.

⁵² LEITE LOPES, José Sérgio. Pg. 294.

⁵³ LEITE LOPES, José Sérgio. Pg. 585-587.

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Pretendemos nesse capítulo explanar sobre a região pesquisada, comentando sua história, evolução sócio-cultural e industrial. Sequencialmente, mostraremos as características da cidade de Estância, onde se localiza o bairro Santa Cruz, alvo do nosso trabalho.

4.1 - Contextualização Histórica e Sociocultural

Sergipe nas primeiras décadas do Século XIX

A independência da Capitania de Sergipe Del Rei da Capitania da Bahia ocorreu em 8 de julho de 1820. O momento histórico coincidiu com a independência do Brasil. As condições histórico-sociais do processo de independência trouxeram para o plano nacional o poder dos senhores rurais, os donos do poder, que do controle de sua área territorial estendido às Províncias, atingiriam como uma cadeia de ferro sobre toda a Nação. Dentro dessas transformações ocorridas no plano nacio-nal e os problemas surgidos entenderemos o processo da inde-pendência de Sergipe, as mudanças na estrutura política tradi-cional e suas conseqüências, como também o seu engajamento na consolidação da independência nacional. A Autora Maria Thetis Nunes, descreve sobre o Estado nesse período:

“No inicio do século XIX, Sergipe possuía uma numerosa população livre composta de mestiços e negros,que viviam nas periferias das propriedades açucareiras. Em 1834 os escravos representavam somente 29,7% da população. Constituía a estrutura político-administrativa, a Capital, a cidade de São Cristóvão, a quarta cidade mais antiga do Brasil e sete Vi-las. Sociedade predominantemente rural com alguns núcleos urbanos precários. O poder exercido pelos senhores de terra sem restrição de autoridade e a prepotência por eles exercida, marcaram o período colonial sergipano com episódios de ex-trema violência. Nas quatro primeiras décadas do século XIX, a instabilidade social manifestou-se, em Sergipe, nas várias

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revoltas de escravos, levantes de índios, manifestações de an-tilusitismo, luta entre os componentes da classe dominante pela disputa do poder exemplificada na revolta de Santo Amaro, em 1836. Os capitães-mores que governaram a Capitania de Ser-gipe, nas duas primeiras décadas do século passado demonstra-ram visão política mais esclarecida, preocupando-se com pro-blemas administrativos e procurando não se envolver nas lutas entre facções da classe dominante. Assim atuaria Manuel Inácio de Morais Mesquita Pimentel (1806/1814). Na administração do brigadeiro Luis Antonio Machado (1814/1821), o último dos capitães-mores de Sergipe era criado o correio terrestre mensal, ligando a cidade de São Cristóvão a Salvador.” ¹

Evolução Sociocultural

Conforme consta nos estudos da SEPLANTEC/SRH-SE, “o espaço que hoje corresponde ao Estado de Sergipe apresenta analo-gias quanto à forma de ocupação e exploração econômica com toda a porção leste nordestina, onde surgiram os dois principais núcleos de povoamento do Brasil colonial: Recife e Salvador.” ² No Nordeste, o povoamento inicialmente foi se processando em função da cana-de-açúcar no litoral, e da pecuária extensiva no espaço sertanejo, para prover de alimentos e de animais de trabalho a principal zona açucareira da região. Da mesma forma, durante vários séculos, o Estado de Sergipe teve sua economia baseada na agroindústria do açúcar e na criação de gado, acrescida, posteriormente, do algodão e do fumo, além das culturas de sub-sistência. O movimento povoador estendeu-se para o norte e para o centro da capitania, alcançando o fértil Vale do rio Cotinguiba, mais tarde conhe-cido como o Vale da Cana. Até meados do século XVII, sua ocupação es-tava praticamente limitada à região costeira. Por outro lado, a pecuária foi se expandindo, chegando a alcançar as regiões sertanejas e, ao lado dessa, outras atividades vieram incorporar-se ao elenco das atividades agrárias, das lavouras do fumo e do algodão, ocupando vastas áreas do Agreste e do Sertão sergipanos. Ainda assim, o povoamento se fazia mais intenso no lito-ral, sobretudo nas regiões centrais e na área banhada pelo São Francisco.

¹ NUNES, MARIA THETIS, (1923-). Sergipe provincial. Rio de Janeiro, Ed.Tempo

Brasileiro, Aracajú, Banco do Estado de Sergipe, 2000-2006,2vols, pg. 321.

² h�p://www.seplantec-srh.se.gov.br/ .

SEPLANTEC/SRH-SE, 2001.

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A cultura do algodão em Sergipe teve o seu maior desen-volvimento no período da Guerra de Secessão dos Estados Uni-dos, ocorrida em meados de 1864, para depois entrar em decadên-cia, ficando apenas uma importante herança para a economia do Estado: a indústria de tecidos. Por volta de 1910 já funcionavam fábricas de tecidos em Aracaju, Estância e Vila Nova. O início da industrialização proporcionou melhores condições de vida, sobretudo para as camadas mais modestas da população. O desenvolvimento industrial foi durante muito tempo retardado pela escassez de energia elétrica e pela deficiên-cia de transporte. Na atualidade, a Usina Hidroelétrica de Xingó superou o problema energético, e novas estradas cortando o Estado em várias direções possibilitou o acesso e o escoamento da produção. A economia estadual encontra-se em franco dina-mismo, tanto pela expansão da agroindústria, como pela partici-pação dos setores petroquímicos e de extração de produtos min-erais. A área costeira, devido à presença da Capital, possui a mais elevada densidade demográfica do Estado. Aracaju é um centro de comércio e de prestação de serviços, abrangendo 36,2% da população urbana de Sergipe. Além de Aracaju são poucos os centros urbanos de Sergipe que se destacam em termos populacionais: Nossa Senhora do Socor-ro, São Cristóvão, Itabaiana, Estância, Lagarto, Tobias Barreto, Propriá e Laranjeiras. Esses nove centros reúnem 68,5% da popu-lação urbana de Sergipe. Os demais centros urbanos apresentam população abaixo de vinte mil habitantes. A Microrregião de Estância corresponde ao trecho mais meridional do litoral sergipano. A estrutura da produção está centrada na fruticultura, com destaque para a produção de la-ranja e banana desenvolvida nos tabuleiros, além do coco-da-baía presente no litoral. A atividade industrial é expressiva, representada pelos gêneros de produtos alimentares e têxteis. Estância, situada na bacia do rio Piauí, é o principal centro ur-bano da microrregião, apresentando, em 2000, uma população de 50.854 habitantes.

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Evolução Industrial

A redução do Brasil à condição de exportador marginal no mercado internacional, a partir do início do século XIX, criou uma concorrência entre os diversos produtores nacionais. Nesse período, os produtores sergipanos permaneceram no mercado de forma excludente, porque a economia estava fortemente liga-da à praça de Salvador, diminuindo-se as exportações sergipanas pela criação de casas comerciais exportadoras da Província, sen-do algumas envolvidas com capitais estrangeiros. ³ Duas principais casas comerciais se destacaram nas duas primeiras décadas do século XX em Sergipe, foram: Cruz, Irmão & Cia. e a firma Sabino Ribeiro & Cia., caracterizadas por cons-truírem fábricas de fiação e tecelagem de algodão. Boa parte das fábricas têxteis fundadas em Sergipe até 1930 era vinculada a essas casas comerciais com características diversificadas, como: Sergipe Industrial, a primeira fábrica de fiação e tecelagem de algodão; a fábrica têxtil de Estância; a fábrica Confiança de fia-ção e tecelagem; as duas fábricas têxteis fundadas em Vila Nova – atual cidade chamada Neópolis – e outra fundada em Propriá. Algumas fábricas fecharam após vinculação às firmas comer-ciais. Após a abolição da escravidão, a produção têxtil local das fábricas sergipanas alcançou uma quantidade expressiva no total de produtos exportados, colocando-se em segundo lugar em re-lação às exportações de tecidos de algodão. Entre 1907 e 1920, a indústria têxtil sergipana cresceu a um ritmo muito mais acelerado que a indústria têxtil brasilei-ra, em geral. Contudo, alguns fatores foram responsáveis pela redução das exportações têxteis em Sergipe, colocando-as abaixo da média nacional: a importação de algodão a partir de 1916, a ausência de uma rede pública de distribuição de energia elétrica, o aumento do grau de mercantilização decorrente da abolição da escravidão e da introdução do trabalho livre e o acirramento da concorrência inter-regional, além de outros fatores. ⁴ Em Sergipe, bem como no restante do Nordeste em meados do século XIX, o modo de produção era agrário exporta-

³ SUBRINHO, Josué Modesto Passos, Tese de Doutorado, Campinas, mimeo, 1992. pg. 198-199.

⁴ CRUZ, Maria Helena Santana. Mudanças

tecnológicas e relações de trabalho: Um olhar de gênero na indústria têxtil . Revista

da Fapese, n. 2, jul./dez. 2005, pg. 7 a 24.

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dor, e o modelo da sociedade em curso era extremamente exclu-dente. Porém, após a abolição da escravatura em 1888, ocorrem alguns reveses. As cidades próximas ao vale do Continguiba — Maruim, Laranjeiras, Rosário, Itaporanga, Capela, Riachuelo e Japaratuba — continuavam produzindo cana-de-açúcar. A produção era voltada para o mercado externo. Apenas as elites detentoras desse poder de mercado dominavam a política do Estado. No final do século XIX, apesar de o Estado ser principal-mente agrário, começou a se destacar também no setor têxtil, a economia sofreu várias mudanças.

“Desta forma, a difusão das inovações no processo produ-tivo do açúcar, em nível mundial, colocou o seguinte desafio aos produtores sergipanos: a modernização ou a sua trans-formação em engenhos rapadureiros, voltados unicamente para o pequeno mercado interno e dos sertões nordestinos. Nesse sentido, a modernização deixou de ser negócio de ‘audazes excêntricos’ senhores para ser uma necessidade vital de todos os produtores de açúcar.” ⁵

Desde o final do século XIX observa-se o aumento do número de usinas e a redução de engenhos, isso diminuiu a quantidade de postos de trabalho. Mas nesse tempo a indústria têxtil começa a ter seu espaço e absorve parte dessa mão-de-obra liberada pela mecanização do campo. “...das duas fábricas têxteis existentes no final do século XIX, com 780 postos de trabalho, chega-se em 1918, com oito fábricas e 3.674 postos de trabalho, que atingiria, em 1934, a quantidade de dez fábricas, com 5.682 postos de trabalho.” ⁶ O operariado tinha certa medida de organização. O mais antigo jornal da classe foi “O Operário”, que já em 1891, publi-cava artigos com crônicas, poesias, mas sua maior reivindicação era com a educação popular. “A nossa instrução pública tem se limi-tado até hoje a preparar a mocidade para os cursos superiores de direito, medicina, engenharia, etc., deixando em criminoso esquecimento, em completo abandono, as classes operárias.” ⁷

⁵ SUBRINHO, Josué Modesto Passos. pg.37.

⁶ ROMÃO, Frederico Lisboa, Na Trama da História – O Movimento Operário em Sergipe, Frederico Lisboa Romão, Aracaju, 2000, pg.32.

⁷ O Operário. Aracaju, 23/02/1891, BPED (Hemeroteca), Sergipe, apud. ROMÃO, Frederico. Pg. 45.

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Entre o fim do século XIX e o início do século XX,

“Sergipe tem 103 estabelecimentos na indústria de trans-formação, dividida entre metalurgia, madeira, química e farmacêutica, têxtil, vestuários – calçados e artefatos de tecido -, produtos alimentares, bebidas e fumo, perfazendo um total de 3.027 operários empregados.” ⁸

Apesar do avanço tecnológico e melhoria da economia do Estado, isso não se refletia na vida do operariado, que con-tinuava a ser mal pago, vivendo em condições precárias. Nesse período em que a indústria têxtil se destaca, o jor-nal “O Operário” faz várias denúncias sobre as fábricas Con-fiança, Sergipe Industrial, Santa Cruz, em Estância. Manifesta-se contra as opressões e os acidentes de trabalho.

“ Escravidão dos Operários(...) O patrão é o senhor que traz n’uma das mãos o chicote e noutra as algemas (...) ao penetrar-se no recinto de uma fábrica, assiste-se ao certo morrer de uma turma numerosa de homens, mulheres e crianças. (...) Fábrica de tecidos de Estância. A funcção dos calhordas reage operários. Na fá-brica de tecidos grossos... há um conluio de patrões, cuja funcção quotidiana é usurpar cinicamente o mais que pode da resumida jornada dos operários que ali vivem alugados como uma turma de escravos indefesos e maltrapilhos. (...) o que é certo, é que os operários da fábrica de tecido nunca operaram um movimento, brusco ou lento, da reacção con-tra os seus pretensos senhores.” ⁹

Em meados da década de trinta, no século XX, existiam onze fábricas têxteis no Estado de Sergipe: duas em Aracaju: Sergipe Indus-trial e Confiança; três em Estância: Santa Cruz, Senhor do Bomfim e Pi-auitinga; duas em Neópolis: Passagem e Têxtil; uma em São Cristóvão: Empresa Industrial; uma em Maruim: Sergipe Fabril; uma em Própria: Indústria Propriá; e uma em Riachuelo: Tecelagem Central. ¹⁰

⁸ ROMÃO, Frederico. Pg.50 O Operário, Aracaju, n. 01, 30/01/1910,

BPED (Hemeroteca), n. 20, Sergipe, apud.

⁹ ROMÃO, Frederico. Pg.61.

¹⁰ ROMÃO, Frederico. Pg. 93.

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Tabela 02: PRINCIPAIS FÁBRICAS SERGIPANAS ¹¹

Fábricas Cons. Algo-dão Kg 1929

Nº de teares que funcio-nam / 1922

Número de operários /

1922Sergipe In-dustrial

1.019.094 350 2.175

Confiança 71.739 300 811Santa Cruz 41.396 300 530Senhor do Bomfim

75.713 180 361

Emp. Indús-tria de Pro-priá

36.684 180 353

Emp. Ind. São Cristóvão

321.685 250 347

Passagem 46.351 250 600Têxtil 72.088 100 a 200 320Sergipe Fabril 24.930Tecelagem Central

256.454

Mas como eram as condições de trabalho em Sergipe den-tro das fábricas? Não muito diferente das condições do restante do país.

“O interior das fábricas têxteis eram ambientes enorme-mente insalubres, operavam em grandes galpões de tetos altos e com muito pouca ventilação. As janelas, além de poucas e pequenas, situavam-se nos altos das paredes, não sendo suficientes para arejar o ambiente. Dentro desses galpões, as diversas etapas do processo de produção do te-cido (tecelagem, tinturaria, engomação) eram separadas por paredes, comprometendo ainda mais a ventilação e a luminosidade, que também eram muito ruins... como os

¹¹ Relatório dos Presidentes: Pereira Lobo, 07/09/1922; Manuel Dantas, 07/09/1930. Apud: ROMÃO, Frederico. Pg.94.

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maquinários eram pouco automatizados provocavam um barulho ensurdecedor, exigindo ainda um grande número de operários por setor, o que agravava ainda mais o calor... as condições sanitárias não ficavam para trás. As fábricas não possuíam banheiros, sanitários, bebedouros, nem mes-mo locais providos de água e sabão para se lavarem as mãos de forma higiênica (...) ” ¹²

Percebe-se que o fato de os operários morarem nas vi-las operárias, ao lado das fábricas, constitui-se um elemento de controle e dominação, o que é confirmado pelos seguintes depoi-mentos: “A gente pulava da cama às 4:00h da madrugada, arrumava a marmita e saía rápido chamando os colegas, porque quando davam cinco horas, a sirene apitava, e quem não tinha entrado, não entrava mais.” (Maria Emília dos Santos, ex-operária e ex-dirigente sindi-cal da Sergipe Industrial) ¹³ A proximidade da moradia com o local de trabalho fazia com que o industrial exigisse jornadas absurdas – entre 10 e 14 horas por dia – a baixíssimos salários. Fontes comprovam que o Estado de Sergipe era um dos locais do país onde se pagavam os piores salários aos operários.

“(...) nas indústrias têxteis recebiam um salário médio diário de 5$239, para o Brasil como um todo, 5$729 em São Paulo, 6$720 no Distrito Federal e 3$360 em Sergipe (...) Por outro lado, em Sergipe, a predominância do sexo feminino entre os operários industriais indicam uma pos-sibilidade de menor remuneração”. ¹⁴

Com relação à exploração de menores nas fábricas ser-gipanas, o jornal “A Voz do Operário” denuncia “como são sacri-ficadas as crianças proletárias (...) os filhos dos trabalhadores que tudo produzem morrem de fome, miséria e maus tratos”. ¹⁵ Em 1932 denuncia e cobra o cumprimento do Código de Menores. Esse Código de Menores que vigorava desde 1926, con-forme Decreto Federal nº 5083, limitava o trabalho dos meno-

¹² ROMÃO, Frederico. Pg. 95.

¹³ ROMÃO, Frederico. Pg. 95.

¹⁴ SUBRINHO, Josué Modesto Passos. Pg. 110.

¹⁵ Voz do Operário. Aracaju, n.24, 31/07/1932, BPED (Hemeroteca), Sergipe,

apud ROMÃO, Frederico. Pg. 97.

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res, “proibindo-o para menores de 14 anos, e não permitindo jornadas maiores do que 6 horas por dia para menores de 18 anos. Não permitia ainda o trabalho noturno e obrigava que houvesse uma hora de repouso por jornada.” ¹⁶ Esse decreto não era cumprido na capital e tam-pouco no interior do estado de Sergipe. Referente às condições de moradia, foi constatado que os operários viviam em péssimas condições. A quantidade de ca-sas nas vilas operárias não era suficiente para o número de tra-balhadores. Apesar de os industriais implantarem o sistema de vilas com o objetivo maior de controlar os trabalhadores – não com a meta de resolver o problema da moradia – as casas das vilas eram fornecidas para os operários mais qualificados. Aos sem qualificação restava a opção de viver em casebres nas áreas próximas às vilas operárias, em vielas e becos sem saneamento, água ou luz.

“(...) Geralmente têm uma porta e uma janela, com uma sala, um quarto e uma cozinha. Oito, dez, doze pessoas, pais e filhos, tios e cunhados, vivem, promiscuamente, sem conforto e sem higiene, dormindo no chão, comendo no chão, amando no chão, sofrendo as piores e mais graves enfermidades (...)” ¹⁷

Sergipe, como foi visto, não diferia do restante do país, no tocante às condições de moradia, saúde e trabalho do opera-riado. Alguns dos municípios que se destacaram no processo de industrialização do Estado foram: Capela, Riachuelo, Neópolis, São Cristóvão, Boquim, Própria, Estância, entre outros. A maioria das indústrias contava com casas para os ope-rários e, em alguns lugares como Neópolis, por exemplo, a vila de Passagem tinha uma boa infra-estrutura: escola, igreja, praça, campo de futebol, mercado, clube de lazer, além das casas da vila. Essa vila foi fundada pelo comendador português Manoel Gonçalves. A fábrica têxtil empregava mais de 200 pessoas. Em Capela, onde havia mais de uma centena de enge-nhos, cultivava-se cana de açúcar, fabricava-se açúcar, plantava-

¹⁶ ROMÃO, Frederico. Pg. 110.

¹⁷ Depoimento de Manoel Messias dos San-tos, ex-operário, apud ROMÃO, Frederico. Pg. 101-2.

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se algodão e mandioca. Com relação às industrias, merecem destaque: Santa Clara, Vassouras, Proveito e Pedras. Em Boquim, havia um parque industrial com sessenta e três indústrias, desde descaroçadeiras de algodão até uma potente sapataria. Na cidade de Propriá, a indústria ganha força em 1914 com a inauguração de uma série de usinas de beneficiamento de arroz, como também fábrica têxtil, de óleos e indústria de calça-dos. A indústria e a mão-de-obra passaram a atrair pessoas de todo o Estado e de Alagoas. Outra cidade que teve sua produção destacada foi Riachuelo, que por ter sido bem servida de linhas férreas e de rios, tinha facilidade de escoar sua produção: açúcar cristal, tecidos, aguardente, etc. Suas fábricas empregavam em média mil trabalhadores. Não poderia deixar de ser citada a cidade de São Cristóvão, que por volta de 1912 começou sua fase industrial, com a fundação da fábrica têxtil Sam Cristovam Industria S.A. As fábricas e sua cidade operária (com creche, escola, moradia, e assistência médica e odontológica), atraiam a população de Aracaju, que nesse momento estava com o mercado de trabalho saturado e oferecia péssimas condições de moradia e trabalho. Posteriormente, com os incentivos fiscais decorrentes da Segun-da Guerra Mundial, houve a fundação de outra fábrica têxtil: a Companhia Industrial São Gonçalo S.A., inaugurada em 1945, mas que faliu em 1969 e sua vila operária foi abandonada pelos moradores. Já a fábrica “Sam Cristovam” transmitiu a posse das casas como forma de indenização. Assim como os demais estados do Brasil, em Sergipe, o conjunto arquitetônico Fábrica-Vila Operária fazia o controle da vida dos seus trabalhadores fora do seu expediente. Para a elite burguesa, esse conjunto era admirado e tido como exemplo de disciplina e moradia higiênica. Porém, a visão do operariado com relação ao conjunto era a comparação com os antigos núcleos de escravidão patriarcal dos engenhos nordestinos.

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4.2 - A cidade de Estância

O mexicano Pedro Homem da Costa foi o verdadeiro fundador da cidade de Estância. Localizada em um planalto ele-vado, cortado por dois rios importantes – o Piauí e o Piauitin-ga, além de outros menores como o Fundo e o Maculanduba, o Biriba, o Cassunguê e o Rosentina. Por receber a brisa suave do Oceano Atlântico, o município tem um clima excelente e as suas praias, algumas delas ainda intocadas, são motivos de visita cons-tante de turistas de vários estados brasileiros. Pedro Homem da Costa e seu concunhado foram agra-ciados com as terras onde se encontra hoje o território de Estân-cia. A doação foi feita pelo Capitão-Mor da Capitania de Sergipe, João Mendes, em 16 de setembro de 1621, porém, as ditas terras haviam sido adquiridas anteriormente por Diogo de Quadros e Antônio Guedes, os quais não a povoaram nem a colonizaram, razão pela qual perderam o direito da concessão. Tanto Pedro Homem da Costa, como Pedro Alves e João Dias Cardoso, este último sogro dos dois, já ocupava a gleba antes da concessão, com roças e criação de gados. Quem primeiro desbravou as terras foi Pedro Homem da Costa e nelas edificou uma capela, dedicada a Nossa Senhora de Guadalupe, santa que nos consta, é, também, a Padroeira do México. Durante muito tempo, Estância foi subordinada à Vila de Santa Luzia do Real, atualmente Santa Luzia do Itanhy. Só em abril de 1757, o Rei autorizou que realizassem na povoação de Estância “vereações, audiências, arrematações e outros atos ju-diciais na alternativa dos juízes ordinários”, acontecendo assim, a separação jurídica da Vila de Santa Luzia, então em franca de-cadência. Em 25 de outubro de 1831, a sede da Vila de Santa Lu-zia é transferida para Estância. Em 5 de março de 1835, é criada a sua Comarca, e, finalmente, em 4 de maio de 1848, foi elevada a categoria de cidade. ¹⁸

Igreja Matriz, Nossa Senhora de Guadalupe. Fonte: Suzete Bomfim, 2002.

Mapa do Estado de Sergipe – Localização da cidade de Estância.

¹⁸ h�p://www.estancia.se.gov.br/historico.asp

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“A primeira atividade econômica da povoação foi a pecuária, em decorrência da boa qualidade dos pastos. Esse fato aca-bou determinando o nome da localidade. Estância significa fazenda de gado, uma palavra castelhana, idioma falado pelo fundador, o mexicano Pedro Homem da Costa.” ¹⁹

Em 1860, a cidade recebeu a presença de D. Pedro II, na excursão do imperador às “Províncias do Norte”. E pelo ano de 1891, um empreendedor chamado João Joaquim de Souza, ob-servou a grande quantidade de água nos arredores da cidade e fundou a Fábrica de tecidos Santa Cruz - seu conjunto ar-quitetônico será nosso objeto de estudo. Alguns anos mais tarde, foram também instaladas as fábricas “Senhor do Bomfim” e “Piauitinga”, esse fato fez com que Estância fosse considerada a cidade de vanguarda no processo industrial de Sergipe.

Mapa de Localização da Implantação das Indústrias em EstânciaFonte: Plano Diretor de Estância. Prefeitura Municipal, 1992.

Fábrica Senhor do BomfimFábrica Piauitinga

Fábrica Santa Cruz

¹⁹ CINFORM, História dos Municípios, Aracaju: Editora Globo

Cochrane, 2002, p.74.

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Estância recebeu imigrantes de várias nacionalidades: holandeses, portugueses, franceses – houve até mesmo uma colônia inglesa, formada pelas famílias dos técnicos e engenhei-ros que vinham instalar os maquinários das fábricas de tecidos.Com o surgimento das indústrias, a área central foi se expandin-do, e, em meados do século XX, a cidade já estava mais próxima das áreas industriais. Apesar da cidade de Estância possuir três pólos indus-triais, Santa Cruz, Senhor do Bomfim e Piauitinga, iremos des-tacar a importância do bairro operário Santa Cruz. Como foi a influência no crescimento da cidade, na vida dos moradores do bairro e da região, pois foi o primeiro e maior conjunto urbano no formato de bairro operário, e em melhor estado de conservação da região sul do Estado. A Vila Operária Santa Cruz tem valor arquitetônico e pode certamente ser considerado patrimônio industrial da arquitetura sergipana. Sua configuração espacial se assemelha muito às Vilas Operárias estudadas no Sudeste e restante do Nordeste do Brasil, todas elas com influências da arquitetura e filosofia européias.

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Pretendemos nesse capítulo descrever o cotidiano da Vila Operária Santa Cruz, explicar a sua configuração, mostrar os tipos arquitetônicos existentes e os seus espaços públicos. Complementaremos o trabalho por meio do inventário que documenta as tipologias encontradas.

5.1 - Uma cidade dentro da própria cidade

Uma indústria pioneira

Historiadores afirmam que a Fábrica Santa Cruz, surgiu por iniciativa e espírito empreendedor de João Joaquim de Souza. Ao observar a abundância de água doce nas cercanias da ci-dade, concluiu que tal recurso hídrico poderia ser utilizado para aproveitamento industrial e fundou, então, a Fábrica de Tecidos Santa Cruz, em 1891, a pioneira na região. Alguns anos mais tarde, foram instaladas também as fábricas Senhor do Bomfim e Piauitinga, caracterizando o município como pólo industrial de vanguarda. ¹ Em 1937, o advogado formado pela Faculdade Livre de Di-reito do Rio de Janeiro e empresário bem sucedido, Julio César Leite, assumiu o comando da Companhia Industrial de Estância (Fábrica de Tecidos Santa Cruz). Anteriormente, tinha dirigido o Engenho Central e o Engenho Espírito Santo. Ele nasceu em Riachuelo, Estado de Sergipe, em 06 de novembro de 1896, e era filho do usineiro Francisco Leite e Maria Virgínia. Casou-se com Maria Carmem com quem teve 11 filhos, entre eles o engenhei-ro Jorge Prado Leite, que presidiu a SULGIPE (Companhia de Eletricidade, cuja sede foi instalada em dependências da Fábrica Santa Cruz) desde 1950 até 2006. Julio César Leite teve grande presença na vida pública local. No mesmo ano que assumiu a Fábrica Santa Cruz, fundou o Partido Republicano, pelo qual, em 1950, foi eleito Senador da República. Sua passagem pelo Senado registrou marcante parti-cipação. Segundo opinião dos seus admiradores, ele demonstrava na sua personalidade aparente fragilidade, mas tinha grande ¹ h�p://www.infonet.com.br/cinformmuni-

cipios/municipio_estancia.htm.

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habilidade como orador. Em 1959, foi nomeado pelo Presidente da República Juscelino Kubistcheck como membro do Conselho Nacional de Economia. No ano de 1962, candidatou-se mais uma vez à Câmara Alta da República, sendo eleito Senador, encer-rando o mandato em 1970, quando então se recolhe a atividades particulares no Rio de Janeiro, lugar onde faleceu em 06 de fe-vereiro de 1990. ² Uma série de fatores contribuiu para a expansão da Companhia. Além da perspectiva de crescimento do mercado consumidor, o desenvolvimento da infra-estrutura regional pos-sibilitou a ampliação do número de máquinas e de operários, fa-zendo crescer o bairro operário nas primeiras décadas do século XX. Em dezembro de 1958, quando a indústria têxtil na região estava entrando em decadência, o filho de Júlio César Leite, o engenheiro Jorge Prado Leite, usou o mesmo lugar onde fica a Fábrica de Tecidos Santa Cruz, para criar a companhia de ener-gia elétrica SULGIPE (Cia. Sul Sergipana de Eletricidade). As-sim, os escritórios da antiga fábrica se tornaram os escritórios da concessionária de energia. E o bairro operário continuou a ser usado pelos trabalhadores. Atualmente, a SULGIPE fornece energia para 14 municípios da região sul de Sergipe e mais dois da Bahia, distribuindo energia elétrica para 95.267 famílias.

O cotidiano da Vila Santa Cruz

São poucas as informações sobre o cotidiano da vila ope-rária Santa Cruz, pois a maioria destas foi obtida por um jornal da própria fábrica. Dificilmente uma publicação desta natureza registraria os problemas ali vivenciados. Sabemos que a Fábrica Santa Cruz teve íntima relação com a po-pulação local, pois a maioria do seu operariado era composta por cidadãos estancianos. Apenas os mais qualificados, que faziam a manutenção do maquinário, não eram da região, e sim imigrantes de outros países. A maioria das famílias de hoje, na cidade, já teve algum parente que foi ope-rário da Fábrica Santa Cruz na época do auge da indústria têxtil.² h�p://www.infonet.com.br/itnse/noticia_

ler.asp?idNoticia=81.

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No início do século XX, as casas operárias não tinham abastecimento domiciliar de água. Havia a Fonte da Donana que abastecia a população do bairro de maneira comunitária, com tanques para lavar roupas e banheiros públicos. Posteriormente, nos anos 1940, as casas tiveram a construção de um pequeno banheiro no fundo do lote. Atualmente, nas casas ainda ocupa-das, existem instalações hidráulicas individuais.

“A Fábrica Santa Cruz foi construída por João Sobrinho ainda nos fins do século XIX. As vilas operárias provavel-mente foram fruto de exigência legal para unidades fabris com mais de 300 empregados. A vila da Santa Cruz era bastante rica: além das casas residenciais para operários e técnicos tinha toda a infra-estrutura como biblioteca, cas-sino, escola, creche, cinema, quadra para a prática de es-portes, campo e time de futebol e até a feira. Além disso, ainda havia os atendimentos médicos e odontológicos para os operários e seus dependentes. A população tinha como se abastecer sem necessitar ir ao centro da cidade. Havia festas no próprio bairro, a exemplo da festa da padroeira: a SANTA CRUZ que acontecia na primeira semana do Mês de maio. Era freqüente a vinda de cantores famosos e or-questras para as festas no bairro, somente para os operári-os. A ideologia se baseava no distanciamento dos operários dos centros das cidades a fim de não serem influenciados por outras pessoas e criarem dificuldades no trabalho, ou mesmo se organizarem em greves. Estância foi o primeiro município de Sergipe onde ocorreu uma greve desembocada pelos trabalhadores da indústria têxtil. A lei é do período de Getúlio. A vila da Santa Cruz é uma das mais preservadas de Sergipe que teve outras em Estância, em Aracaju e em Neópolis.” ³

Como em todos os complexos de Fábricas com vila ope-rária do período, segundo informação de antigos moradores, os horários eram muito rígidos e extensos. A longa semana de tra-

³ Informações dadas pela Dr. Vera Lúcia Fança, professora do departamento de Geografia, Universidade Federal de Sergipe. Escreveu o livro: Vamos Conhecer Estância. 1. ed. Estância- Sergipe: Prefeitura Municipal de Estância, 2000. v. 1. 119 p.

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balho exaustivo era compensada aos domingos com atividades esportivas, a Vila Operária tinha inclusive um campo de fute-bol. A feira, para compra de alimentos e outros produtos de necessidade básica, era feita também aos domingos, dentro da vila operária, no espaço existente entre a biblioteca e o centro recreativo.

Controle social através do isolamento

No final do século XIX, a cidade formava apenas um retângulo compreendido entre a Rua Pedro Homem da Costa, ao norte, até a Praça 24 de Outubro, ao sul, onde hoje fica o centro histórico.Com o surgimento das indústrias se iniciou a ocupação da “Rua Nova”, chamado antigamente pelos estancianos de “Caminho para a Bahia”, atualmente denominada de “Avenida Getúlio Var-gas”. Esta rua ligava a cidade ao Bairro Operário Santa Cruz. No inicio do século, numa época em que tudo era feito a pé, a distân-cia entre o centro da cidade e o Bairro era grande, com grandes vazios entre eles. Tal distanciamento da área central da cidade propor-cionava um estado de prontidão do operário, pois até nas horas

Vermelho- Primeiro núcleo urbano da cidade.

Azul- Início da ocupação do bairro Santa Cruz.

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de lazer ele estava dentro do bairro. A distância inibia os mora-dores de freqüentar outras áreas da cidade, e, da mesma forma, moradores do centro não costumavam ir com assiduidade até o Bairro Operário. Salvo ocasiões como festas religiosas e partidas de futebol. Conforme verificamos no mapa abaixo, a “entrada” do Bairro Santa Cruz, para a população estanciana, se localizava antigamente, e está no imaginário da população até os dias de hoje, na quadra da Igreja Santa Cruz, onde logo em frete situa-se a praça Princesa Isabel e a casa do proprietário da Fábrica. Percebemos que após esse espaço assimilado como “entrada” do bairro estão localizadas as casas operárias mais antigas, na rua Santa Cruz e Santa Luzia, respectivamente. Para que os operários circulassem pelo bairro ou saíssem dele, passavam pelo “olhar” da residência principal da Vila, que não deixa de ser um tipo de vigilância comum desse tipo de com-plexo fabril. Tal forma de configuração foi observada em outros bairros operários já comentados em capítulos anteriores.

A população da cidade encara como “entrada” do Bairro, a região da Igreja Santa Cruz e da Praça Princisa Isabel. Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

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Mapa indicativo do crescimento urbano do bairro.Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

A configuração O Bairro Operário Santa Cruz é formado por diversas tipologias arquitetônicas, desde as habitações para os traba-lhadores, até os edifícios de uso comunitário. De acordo com o grau de especialização do operário, sua moradia era de melhor qualidade. As casas dos engenheiros que faziam a manutenção das máquinas, por exemplo, eram maiores, dotadas de recuos frontais e laterais, tinham melhor ventilação e iluminação, além de mais detalhes decorativos nas suas facha-das. No entanto, as casas da rua Santa Cruz e rua Santa Luzia,

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para operários sem especialização, eram menores e não possuíam nenhum tipo de recuo, no alinhamento do passeio público. Ao longo do seu período de crescimento urbano, foram construí-dos prédios de uso comum, como o Centro de Recreação Operária, o Cen-tro Educativo, a Escola Primária para filhos dos operários, o Armazém, as Praças e a Igreja. Como veremos mais detalhes posteriormente.

A Fábrica

A fábrica Santa Cruz era a maior da região, em 1922 tinha 300 teares importados funcionando e contava com 530 operários.Os galpões, inaugurados em 1891, eram típicos da arquitetura indus-trial utilizada pelo País. Sua fachada é simétrica, as portas e janelas são emolduradas, a platibanda é composta de volutas, cimalhas, decoração em alto e baixo relevo com estuques produzidos em série, balaustrada em ferro e coluna marcando o ritmo da edificação.

Localização da Fábrica Santa Cruz, dentro do Bairro Operário.

Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

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Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

Os galpões são semelhantes aos demais analisados até en-tão, com grandes vãos para comportar o maquinário de produção têxtil. Eles têm dimensões idênticas, são modulados e possuem ritmo. As portas e janelas têm acabamento em arco pleno e pos-suem moldura. As torres que expulsavam a fumaça quando o carvão era queimado para gerar energia são feitas de tijolos de barro vermelho.

Como foi visto, o edifício é utilizado pela SULGIPE, onde funcionava a sede da Fábrica Santa Cruz, situada próxima às margens do rio Piauitinga, onde foi construída a ponte de acesso à fábrica e mais tarde à represa que deu sustentação energética a atual concessionária de energia elétrica que abastece a região sul do estado de Sergipe.

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Casas da Fábrica

Depois da conclusão das instalações da Fábrica, com os galpões e escritórios, em 1891, foram construídas as primeiras moradias para os operários, na rua Santa Cruz. A empresa foi edificando, gradativamente com seu crescimento, mais habi-tações até a meados de 1950. Assim, a Vila é formada por diver-sas tipologias arquitetônicas, desde a casa do proprietário até os diferentes tipos de habitação para operários de diferentes níveis hierárquicos.

Casas Para Operários Sem Especialização - Casas da Rua Santa Cruz A Rua Santa Cruz foi a primeira construída no Bairro Santa Cruz, pois ligava a praça principal com a Casa do Proprie-tário aos escritórios e Galpões da Fábrica. Localização das primeiras casas da Rua

Santa Cruz. Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz,

Suzete Bomfim, julho/2002.

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As casas são geminadas, não possuem recuo, ficam no alinhamento da rua e têm um passeio (calçada) de 1,0m. As 72 unidades existentes dessa tipologia, estão distribuídas em 12 blo-cos contendo 6 casas. Ou seja, a cada bloco de 6 casas, existe uma área livre de 5m entre eles. Ao todo são 72 unidades. As unidades têm fachadas separadas por colunas, que dão o ritmo às edificações, possuem portas e janelas emoldura-das, com detalhe de acabamento nos peitoris, platibanda com detalhes característicos do ecletismo, como frisos e cimalha. No interior de uma das casas operárias, que pôde ser visi-tada, e segundo a moradora estava no seu estado original, o piso era cimentado, seus cômodos dividiam-se em: sala, circulação lateral, 03 quartos sem iluminação natural, cozinha e banheiro separado da edificação no final do terreno. A estrutura do te-lhado era em madeira, duas águas, e cobertura em telha cerâmi-ca, sem forro. Alguns moradores já fizeram reformas , trazendo, por exemplo, o banheiro para dentro da morada.

Fachada do bloco de 06 unidades habitacionais, todas as unidades dessa rua são idênticas.

Desenho: Suzete Bomfim.

Planta padrão das habitações operárias, da Rua Santa Cruz.

Desenho: Suzete Bomfim.

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Casas Para Operários Sem Especialização - Casas da Rua Santa Luzia A Rua Santa Luzia, paralela à Rua Santa Cruz, começou a ser construída em meados da década de 1920. Foi a formação da segunda rua da vila operária, para atender a demanda do au-mento da quantidade de operários. Contava com 88 unidades habitacionais. As casas continuam geminadas, porém sem decoração nas fachadas típicas do ecletismo. A tipologia apresentava uma porta centralizada e duas janelas dispostas simetricamente ten-do a porta como eixo. Os detalhes na fachada eram discretos, como marcações de colunas em alto relevo que delimitam cada edificação. Na primeira fase da rua Santa Luzia, o telhado era aparente. Com o crescimento da Rua, outros tipos de habitação foram desenvolvidos.

Tipo 01

Seu interior era típico das casas populares da época, como vimos na planta baixa da tipologia da Rua Santa Cruz. Pos-suía uma sala na frente, quartos sem iluminação natural, paredes baixas, um grande corredor lateral desde a sala até a cozinha, telhado aparente, ou seja, a casa não possuía forro, o piso em cimentado, sem cerâmica. Posteriormente, a partir da década de 1930, as fachadas foram alteradas em algumas unidades. Quando o estilo “Art Dèco” se tornou mais popular, as casas mantiveram suas carac-terísticas anteriores, porém, surgiu a platibanda para esconder o telhado aparente. A platibanda é recortada geometricamente, mantendo as linhas retas e sua simetria. Abolição dos elementos decorativos típicos do ecletismo, como floral, frutas, etc. Porém a cobertura continuou em estrutura de madeira, duas águas, e cobertura em telha cerâmica, sem forro. Atualmente, parte das unidades ainda é usada como moradia, para os que são empregados da SULGIPE. Percebe-se

Fachadas do tipo 01, com telhado aparente, década de 1920. Fonte: Acervo da Fábrica.

Fachadas do tipo 01 com alteração, surgimento da platibanda recortada, década de 1930. Fonte: Acervo da Fábrica.

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que não existe o respeito ao padrão original, transformando as antigas janelas em portas e assim por diante, as fachadas estão em mal estado de conservação, porém ainda passíveis de recupe-ração.

Levantamento das fachadas, desenhadas de acordo com as alterações da década de 1930. Desenho: Suzete Bomfim.

Planta padrão das habitações operárias, da Rua Santa Luzia. Desenho: Suzete Bomfim.

Localização da Rua Santa Luzia. Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz,

Suzete Bomfim, julho/2002.

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Tipo 02

Em meados de 1940, com o crescimento da rua Santa Luzia, algumas unidades foram construídas com características diferentes das iniciais, como veremos a seguir. Existe apenas uma unidade dessa tipologia, localizada em outra quadra da mesma rua Santa Luzia. Sua platibanda é mais recortada e detalhada que a tipologia anterior. Seu estado atual é de total abandono. A entrada da casa não é central e as janelas dispostas uma a cada lado. Como nos outros exemplos da rua Santa Luzia, a porta na lateral já fica em frente para o corre-dor lateral da casa. Percebemos que a casa ao lado já perdeu sua caracterização original, com fachada atual revestida de cerâmica. A cobertura é inexistente, porém percebemos que poderia ser telhado de madeira e com cobertura em telha cerâmica, como as demais casas do período.

Tipo 03

Construídas em meados de 1950, quando o crescimento do bairro já está bem próximo da cidade, as ultimas casas já não possuem o mesmo rigor formal, são construções bem simples, próximas à atual Avenida Getúlio Vargas.

Fachadas do tipo 03. Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Fachada do tipo 02. Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

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Casas para Operários Especializados

Tipo 01

Casa residencial utilizada pelos operários mais espe-cializados, de meados da década de 1930. Eram residências com varandas, recuos laterais, platibandas elaboradas e detalhes geo-métricos em alto relevo. Telhado tipo chalé, com duas águas, va-randa coberta com telhado aparente, recuo lateral com jardins. Sua cobertura tinha estrutura de madeira e revestido com telha cerâmica. Seu interior tinha piso de ladrilho hidráulico. Seus compartimentos eram divididos em sala, circulação, quartos, cozinha e banheiro interno.

Tipo 02 Tipo de casa utilizada por engenheiros da fábrica, cons-truída em meados da década de 1940. Essa tipologia tem recuo frontal e lateral. Seu telhado totalmente aparente, sem platiban-das, varanda com telhado específico sustentado por colunas de-talhadas, sua cobertura em telha cerâmica.

Tipo 03

Também foi uma das casas utilizada por engenheiros da fábrica. Construída em meados da década de 1940, tem recuo frontal e lateral, com varanda coberta. Telhado em parte escon-dido pela platibanda com poucos adornos, e em parte aparente para encobrir a varanda.

Tipo 04

Tipo de casa utilizada por operários mais especializados, no entanto, inferior ao padrão das casas dos engenheiros da fá-brica. Construída em meados da década de 1930, essa tipologia não possui recuo frontal e lateral, estão no alinhamento da rua,

Fachadas do tipo 01, para operários especializados. Fonte: Suzete Bomfim, 2002.

Fachada do tipo 02, para operários especializados. Fonte: Suzete Bomfim, 2002.

Fachada do tipo 03, para operários especializados. Fonte: Suzete Bomfim, 2002.

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porém com fachadas mais elaboradas que das casas dos operá-rios sem especialização. Seu telhado é coberto pelas plati-bandas, estrutura do telhado em madeira e cobertura é em telha cerâmica.

Biblioteca

A Biblioteca União Têxtil, localizada no largo existente no meio da Rua Santa Cruz, em frente ao Centro de Recreação Operária, foi construída em meados de 1900, mesma época da construção das primeiras casas da vila da Rua Santa Cruz.

Localização da Biblioteca União Têxtil. Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

A fachada é simétrica, as janelas são emolduradas, a pla-tibanda é composta de volutas, cimalhas e decoração em alto e baixo relevo com estuques produzidos em série, com caracterís-ticas do estilo eclético. A Biblioteca União Têxtil era usada como ponto de apoio para os estudantes, com venda de material esco-lar a baixo custo, livros do ensino fundamental para pesquisa e sobre Estância e a história do Bairro Santa cruz. Atualmente o acervo é pequeno e a biblioteca é utilizada como posto de atendi-mento da SULGIPE.

Fachadas do tipo 04, para operários especializados. Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Fachada Frontal da Biblioteca União Têxtil. Desenho: Suzete Bomfim.

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Centro de Recreação Operária

Característica muito interessante no Bairro é a disposição do Centro de Recreação Operária, a Biblioteca e a entrada para o campo de futebol. Eles estão localizados entre o segundo e o terceiro bloco de casas da vila, bem centralizados, formando um largo para circulação dos operários. Verifica-se que essas áreas de convívio social já estão no núcleo do bairro, essa configuração espacial intuitivamente faz com que o operário não saia do bairro nas suas horas de lazer para outras partes da cidade.

Fachada Frontal do Centro de Recreação Operária.

Desenho: Suzete Bomfim.

Localização do Centro de Re-creação Operária.

Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim,

julho/2002.

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O edifício foi construído em 1939. Percebe-se a simetria, a preferência geométrica pelas linhas retas, detalhes apenas em alto e baixo relevo com motivos geométricos, ausência de ele-mentos decorativos. Essa edificação foi construída para proporcionar aos ope-rários momentos de lazer. Possuía muitas mesas de jogos e, em épocas de comemoração, como festas de final de ano e carnaval, era usada para os bailes. A estrutura do telhado é de tesoura em madeira e cobertura em telha cerâmica, escondida pela platiban-da escalonada. No seu interior, um grande compartimento, sem paredes divisórias, revestido em ladrilho hidráulico.

Escola para filhos dos operários

A Escola Dom Antonio Cabral , foi construída em 1930. Era a antiga escola de ensino fundamental, para atender os filhos dos operários.

Localização da Escola Primária para filhos de ope-rários. Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

Segundo antigos moradores, a escola possuía três salas de aula, foi construída no mesmo período das casas da Rua Santa Luzia, apesar de não estar localizada nas suas imediações. Possui fachada situada no alinhamento da rua, com três janelas emol-

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duradas e uma porta lateral. Na platibanda os elementos decora-tivos têm alguns motivos geométricos, e, é interessante perceber o detalhe da fonte utilizada nas letras que indicam o nome da escola, bem característico do seu período de construção. Sua co-bertura, como a maioria das construções da época, tinha telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica. Apesar do seu interior não poder ser acessado, notamos que a unidade está fechada, sem utilização, piorando a casa dia seu estado de conservação.

Centro Educativo – Cine -Teatro

A implantação do Centro Educativo Gonçalo Prado, em Estância, foi importante, pois funcionava como um cine teatro, no qual se apresentavam quase todas as companhias artísticas que iam a Aracaju.

A edificação foi construída em 1944 e passou por algu-mas mudanças ao longo das décadas. Inicialmente, sua fachada lembrava o estilo arquitetônico influenciado pelos chalés, pois na fachada se destacam os telhados de uma e duas águas. Os detalhes da fachada, em alto relevo e molduras das portas e jane-las, são retilíneos. Óculos aparecem na fachada com o intuito de

Localização do Centro Educativo no Bairro

Operário. Fonte: Levantamento do

Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

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iluminar e ventilar, apresentando características do estilo Neoco-lonial. Todos os elementos de composição são dispostos simetri-camente. O edifício foi construído com o intuito de ser um espaço cultural, o teatro possui lugar para 600 pessoas. Houve, na dé-cada de 1970, alterações na fachada: o telhado original foi remo-vido, dando lugar às platibandas; e o telhado de madeira e telhas cerâmicas deu lugar às telhas de fibrocimento. Tais alterações descaracterizaram o projeto original que possuía uma fachada de composição mais interessante que a atual.

Igreja Santa Cruz

Na primeira década do século XX, havia uma capela de pequeno porte para atender aos anseios re-ligiosos dos operários, porém o operariado foi crescendo e na década de 1940 foi construída a Igreja Santa Cruz.

Fachada Frontal do Centro Educativo Gonçalo Prado. Desenho: Suzete Bomfim.

Localização da Igreja Santa Cruz no Bairro Operário.

Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

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A igreja tem fachada simétrica, com uma torre central para abrigar o sino, há poucos detalhes nas fachadas frontal e lateral. A entrada principal e demais janelas possuem vergas em arco pleno.

Campo de Futebol

Construído em meados de 1940, tinha campo gramado, medindo aproximadamente 8.500m². Sua arquibancada em cinco níveis, feita de concreto aparente, tendo a área de aproximada-mente 1700m². Localização do Campo de Futebol no Bairro Operário.

Fato curioso com relação ao Bairro Operário Santa Cruz, é que seu segundo proprietário, Júlio César Leite era um amante dos esportes, e fundou o clube Santa Cruz de Estância, construin-do um campo de Futebol, com arquibancadas. Os operários, e posteriormente demais pessoas da cidade, treinavam aos do-mingos. Atualmente o campo é usado para treinar os times da região.

Fachada Frontal da Igreja. Desenho: Suzete Bomfim.

Localização do Campo de Futebol no Bairro

Operário. Fonte: Levantamento do

Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

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Praças e Espaços Públicos

As três praças são distribuídas ao longo do Bairro Ope-rário. A primeira delas, localizada em frente à Igreja Santa Cruz, a Praça Coronel Gonçalo Prado. A segunda praça, a Praça Princesa Isabel, está localizada em frente ao antigo teatro, o atual Centro Educativo Gonçalo Prado, essa praça tem a característica se estar no início das primeiras casas da Rua Santa Cruz. A terceira, a Praça Leão XII, localizada próxima à estrada de acesso a ponte que leva ao escritório e aos galpões da Fábrica Santa Cruz. Além das praças, o Bairro Operário contava com um Lar-go, localizado entre os blocos de casas da Rua Santa Cruz, espaço delimitado pelos prédios da Biblioteca e do Centro de Recreação Operária, onde aconteciam festas e feiras aos domingos.

Plano Diretor Atual

De acordo com informações obtidas na Prefeitura Mu-nicipal, com base no Plano Diretor de 1992, vimos o mapa de zoneamento da cidade de Estância, e notamos que o bairro Santa Cruz foi a primeira expansão da sua malha urbana. O Plano Diretor resgatou o traçado original da cidade e o

Localização dos Espaços Públicos. Fonte: Levantamento do Bairro Santa Cruz, Suzete Bomfim, julho/2002.

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definiu como Centro Histórico, e a primeira expansão da cidade, datada do fim do século XIX e início do séc. XX, o bairro Santa Cruz, foi definido como “Área Especial de Preservação”.

Mapa de Zoneamento da Cidade de EstânciaFonte: Plano Diretor de Estância. Prefeitura Municipal, 1992.

Porém, apesar do nosso ob-jeto de estudo ser encarado pelo Plano Diretor da Prefeitura Mu-nicipal como “Área Especial de Preservação” não existe nenhu-ma proposta de tombamento ou preservação, o que permite que o proprietário tenha liberdade para descaracterizar qualquer parte do conjunto, podendo danificar a uni-dade histórica e cultural do bairro.

Área Do Centro Histórico

Área Residencial (06PAV)

Área mista (residência e comércio) (06PAV)

Área Residencial (02PAV)

Área Industrial

Área Expansão Industrial

Área Especial de Preservação

Área de Proteção ambiental

Mapa de vias e acessos. Fonte: Plano Diretor de Estância. Prefeitura Municipal, 1992.

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Também observando outro mapa do Plano Diretor atual, de vias e acessos, percebemos que o bairro operário Santa Cruz fica muito próximo à BR 101 e que o eixo longitudinal principal da cidade passa por dentro dele. Ou seja, o Bairro Operário é facilmente interligado à malha urbana. Seria interessante inserir alguma comunicação visual na cidade, na entrada e na saída, e que indique sua visitação, pois todos os turistas que estão em Ser-gipe e seguem para a Bahia, passam ao lado dessa área histórica e nem se dão conta da sua existência. Tal iniciativa seria importante para que futuros visitantes compreendam que a área delimitada pode ser considerada um marco histórico e cultural da cidade de Estância e do Estado de Sergipe. Pois, o acesso à cidade, atualmente, pode ser feito pelas Rodovias Federais, BR 101 – sentido Sul/Norte e pela Linha Verde – estrada ecológica litorânea protegida pelo Ibama, que liga Aracaju à Salvador.

O Bairro Operário Hoje

Na atualidade, a fábrica têxtil está desativada, porém, no mesmo local funciona a Sulgipe, companhia que fornece energia elétrica para o sul do estado de Sergipe e norte do Estado da Ba-hia. Alguns funcionários ainda utilizam as casas da vila operária para moradia, no entanto, a maioria prefere morar nas proximi-dades do centro da cidade, fazendo com que boa parte das uni-dades habitacionais da vila esteja desocupada, algumas delas já em estado de deterioração. Segundo informação dada pela senhora Marly em 2002, moradora da vila operária Santa Cruz, cujo esposo trabalha na Sulgipe, os funcionários pagavam um terço do valor do alu-guel, seus parentes pagavam metade do valor, e se uma pessoa não ligada à Fábrica quisesse alugar uma casa na Vila pagava, naquele ano, o valor de R$ 215,00. Provavelmente esse fato seja um dos indícios que explique a desocupação das casas, pois era um valor superior aos aluguéis cobrados em outras partes da ci-dade.

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A expressão dita por um morador da cidade, em uma conversa informal, sobre o que os estancianos pensam sobre o bairro, nos faz entender muitas coisas. O senhor José Roberto, 50 anos, disse: “ o bairro Santa Cruz parece uma pequena cidade dentro da nossa cidade, nós que moramos fora dele e não trabalhamos na Sul-gipe, não costumamos freqüentar.” Assim, notamos que o Bairro Operário ainda é visto pelos demais cidadãos da cidade de Estância como uma propriedade particular. A maioria da população não faz uso dos seus espaços públicos, as pessoas que o utilizam são seus atuais moradores.

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5.2 - História e Arquitetura como documentos - Acervo

O cidadão que forma a sociedade atual, ávido por várias transformações, principalmente as sócio-econômicas, não é ca-paz de perceber que a incorporação de novos elementos cultu-rais não substitui os valores adquiridos anteriormente ao longo do tempo.

“Nem sempre se consegue vislumbrar que a adaptação e a interação com o meio são lugar a um complexo cultural criativo, jamais igualado; e que o acervo de tudo aquilo que pode revelar os traços característicos dessa diferenciação e testemunhar o processo da evolução histórica constitui o seu patrimônio cultural e, portanto, precisa ser preser-vado.” ⁴

A história de uma cidade ou nação não se constitui ape-nas de fatos, nomes heróicos e datas marcantes. A história está manifestada, é percebida e entendida, nos rituais folclóricos, nos conjuntos e edificações arquitetônicos, enfim, em tudo que revela a cultura e a memória de um povo ou uma comunidade. A arquitetura pode e deve ser encarada como um docu-mento histórico, porque através dela pode-se resgatar, analisar e compreender uma infinidade de coisas, tais como técnicas cons-trutivas, estilos arquitetônicos, as necessidades sociais e culturais de um povo, as influências de outros povos, etc. Ou seja, através do estudo das edificações e dos conjuntos urbanos de uma de-terminada época, consegue-se entender a evolução de uma so-ciedade. Porém, ao desprezar esses conjuntos arquitetônicos, e deixá-los desaparecer, sem a preocupação com sua preservação, em pouco tempo, informações valiosas podem ser perdidas. O caso abordado em nosso estudo refere-se à região do litoral sul do Estado de Sergipe, a cidade de Estância, cujo sítio arquitetônico merece cuidados e imediata proteção e preservação. Como já foi visto, no Nordeste a predominância econômica tradicional era a agricultura ou a agroindústria açu-

⁴ ALMEIDA, Antonio Augusto de. Brejo Paraibano: Contribuição para o Inventário do Patrimônio Cultural. João Pessoa: Secre-taria de Educação e Cultura, Departamento de Produção Gráfica, UFPB, 1994. pg 11.

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careira. No entanto, a cidade de Estância destacou-se pelo seu complexo industrial, em especial a fábrica têxtil Santa Cruz, com seu conjunto urbano de vilas operárias e espaços semipúblicos de convívio social. As edificações desse conjunto nos revelam como a arquitetura produzida nesse momento contribuiu para entendermos o avanço do desenvolvimento industrial e do capi-talismo. Percebemos que a configuração espacial e a filosofia das Fábricas e Vilas Operárias, na disposição do casario e dos espaços semipúblicos, são semelhantes em todos os estudos de caso, le-vando a acreditar que o Bairro Santa Cruz tem valor histórico como documentação desse tipo de arquitetura e urbanismo dis-ciplinador. A intenção desse estudo, é inventariar o patrimônio ar-quitetônico construído do conjunto urbano do bairro Santa Cruz, datado do fim do século XIX e início do século XX, citando suas principais características, alertando para a necessidade de preservação e proteção, enquanto há tempo.

Acervo

Apresentam-se, a seguir, imagens e características das edi-ficações e espaços do Bairro Operário Santa Cruz, que possuem valor histórico e arquitetônico, desde os galpões da Fábrica Têxtil até as variadas tipologias residenciais. Todas eram utilizadas por operários de diferenciados níveis hierárquicos de especialização. Mostraremos também os espaços semipúblicos e de convívio so-cial. Veremos a seguir, as fichas que resumem as principiais características do Bairro Operário estudado:

Ficha nº 01 – Galpões da Fábrica Santa Cruz Ficha nº 02 – Fachada Principal da Fábrica Santa CruzFicha nº 03 – Anexo da Sede da Fábrica Santa CruzFicha nº 04 - Vila Operária – Rua Santa CruzFicha nº 05 - Vila Operária – Rua Santa Cruz – Tipo 01 – Casas de

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operários sem especializaçãoFicha nº 06- Vila Operária – Rua Santa Luzia - década de 1920Ficha nº 07- Vila Operária – Rua Santa Luzia – década 1930-40Ficha nº 08 – Vila Operária – Rua Santa Luzia – 2007Ficha nº 09 – Rua Santa Luzia - Tipo 01 – Casas de operários sem especializaçãoFicha nº 10 – Rua Santa Luzia - Tipo 02 – Casas de operários sem especializaçãoFicha nº 11 – Rua Santa Luzia - Tipo 03 – Casas de operários sem especializaçãoFicha nº 12 - Tipo 01 – Casas de Operários EspecializadosFicha nº 13 – Tipo 02 – Casas de Operários EspecializadosFicha nº 14 – Tipo 03 – Casas de Operários EspecializadosFicha nº 15 – Tipos 04 e 05 – Casas de Operários EspecializadosFicha nº 16 – Residência Unifamiliar do IndustrialFicha nº 17 – Biblioteca União TêxtilFicha nº 18 – Centro de Recreação OperáriaFicha nº 19 – Centro de Recreação Operária – InteriorFicha nº 20 – Escola Dom Antônio CabralFicha nº 21 – Centro Educativo Gonçalo Prado – Década de 1950Ficha nº 22– Centro Educativo Gonçalo Prado – Parte InteriorFicha nº 23 – Centro Educativo Gonçalo Prado – 2007Ficha nº 24 – ArmazémFicha nº 25 – Igreja Santa CruzFicha n° 26 – Praça Princesa Isabel – década de 1950Ficha nº 27- Praça Princesa Isabel – Em 2006Ficha nº 28- Praça Leão XIIFicha nº 29 -Praça Coronel Gonçalo Prado – 2006Ficha nº 30- Campo de Futebol

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CONJUNTO URBANO DA VILA OPERÁRIA SANTA CRUZ – Estância – SERegião: Litoral Sul de Sergipe - Acervo da Fábrica Santa Cruz

Ficha nº 01 – Galpões da Fábrica Santa Cruz

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Galpões de produção têxtil da Fábrica Santa Cruz.

Data de construção: 1891.

Características gerais: Galpões de caráter industrial do final do século XIX testemunham o início da industrialização no Estado. Os galpões são semelhantes aos das indústrias do restante do país com grandes vãos para comportar o maquinário de produção têxtil. Eles têm dimensões idênticas, são modulados e possuem ritmo. As portas e janelas têm acabamento em arco pleno e possuem moldura. As torres que expulsavam a fumaça quando a carvão era queimado para gerar energia são feitas de tijolos de barro vermelho. Nesse espaço funcionava a Fábrica Santa Cruz, situada próxima às margens do rio Piauitinga, onde foi construída a ponte de acesso à fábrica e mais tarde à represa que deu sustentação energética a atual concessionária de energia elétrica que abastece a região sul do estado de Sergipe.

Estado de conservação: Ruim, apresentando eflorescência e infiltrações em grande quantidade.

Tipo de cobertura: Telhado com tesoura em madeira, cobertura em telha de chapa de ferro e plati-nada sem muitos detalhes, apenas uma moldura em volta do frontão de cada galpão.

Interior: Espaço típico de edificação de caráter industrial, ainda possui parte do maquinário em desuso.

Proteção existente: Sem conservação e investimento por parte do proprietário.

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Colunas de con-creto sustentam a ponte de Madeira, por onde passa o rio Piauitinga. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Ponte de Acesso à Sede da Fábrica. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista dos Galpões e Torres em tijolo aparente. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista aproximada dos Galpões. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhe da Cobertura dos Galpões. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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CONJUNTO URBANO DA VILA OPERÁRIA SANTA CRUZ – Estância – SERegião: Litoral Sul de Sergipe - Acervo da Fábrica Santa Cruz

Ficha nº 02 – Fachada Principal da Fábrica Santa Cruz

Fonte: Suzete Bomfim, junho de 2002.

Observações

Identificação: Fábrica Santa Cruz.

Data de construção: 1891.

Características gerais: Fachada em estilo eclético, simétrica, com as portas e janelas emolduradas. A platibanda é composta de volutas, cimalhas, decoração em alto e baixo relevo com estuques produ-zidos em série, balaustrada em ferro e coluna marcando o ritmo da edificação. O edifício pode ser considerado de interesse histórico, pois testemunha o inicio da industrialização no Estado. Atual-mente é utilizado pela SULGIPE.

Estado de conservação: Em 2002 seu estado era regular, apresentando algumas eflorescências e infil-trações. Veremos em anexo que em 2006 houve reforma no prédio.

Tipo de cobertura: Telhado com tesoura em madeira, com cobertura em telha metálica e platinada trabalhada com volutas.

Interior: Espaço típico de edificação de caráter industrial, escritórios e acesso aos galpões.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Vista Aérea da Fábrica Santa Cruz. Vemos a fachada principal de acesso à Sede e Galpões, e prédios anexos da Fábrica. Foto: Acervo deimagem da Fábrica.

Fachada Principal. Foto: Suzete Bomfim, 2002.

Fachada Principal da Sede, reformada em 2006, porém sem consultoria de

especialista na área de patrimônio. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Piso da Sede, ladrilho hidráulico. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Fachada Principal da Sede, reformada em 2006, porém sem consultoria de especialista na área de patrimônio. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 03 – Anexo da Sede da Fábrica Santa Cruz

Fonte: Suzete Bomfim, agosto de 2002.

Observações

Identificação: Anexo da Sede da Fábrica Santa Cruz.

Data de construção: Meados da década de 1920.

Características gerais: Este prédio foi construído como anexo ao original prédio de escritórios da Fábrica Têxtil Santa Cruz, construída algumas décadas depois. Percebe-se, pela ausência de elementos decorativos, que não faz parte do acervo do conjunto arquitetônico. Tem caracterís-ticas do estilo Art Dèco, com recortes geométricos na platibanda e os detalhes de alto relevo também retilíneos. O edifício é utilizado pela SULGIPE.

Estado de conservação: Regular (observam-se infiltrações e problemas na pintura interna e externa).

Tipo de cobertura: Telhado com tesoura em madeira, com cobertura em telha cerâmica e plati-nada com motivos geométricos e simétricos.

Interior: Espaço livre, separado apenas com divisórias e balcões. O piso é um tabuado de ma-deira.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ponte de ligação construída para conectar os prédios anexos à Sede. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista dos dois prédios anexos 01 e 02. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhe da fachada do Anexo 01. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhe da reforma no segundo prédio anexo para escritório da Fábrica.

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 04 - Vila Operária – Rua Santa Cruz

Fonte: Suzete Bomfim, 2002.

Observações

Identificação: Rua Santa Cruz, a primeira construída para habitação operária pela Fábrica.

Data de construção: Entre 1900- 1910.

Características gerais: Primeira vila construída para abrigar os operários da Fábrica Santa Cruz. São casas geminadas, construídas no alinhamento da rua, possuem colunas que separam e dão o ritmo às edificações, têm portas e janelas emolduradas, com detalhe de acabamento nos peitoris e platibanda com detalhes característicos do ecletismo, com frisos e cimalha. A Rua tem um pas-seio – calçada – de 1,0m, que está mal conservado. As unidades existentes dessa tipologia estão distribuídas em 12 blocos contendo 06 casas. Ou seja, a cada bloco de 06 casas, existe uma área livre de em 5m entre eles.

Quantidade: Ao todo são 72 unidades.

Estado de conservação: Regular em algumas unidades, porém a maioria na maioria das casas é Ruim -ver detalhes em anexo.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira, duas águas, e cobertura em telha cerâmica sem forro.

Interior: Piso cimentado, com sala, circulação lateral, 03 quartos sem iluminação natural, co-zinha e banheiro separado da edificação no final do terreno. Alguns moradores já reformaram as casas, trazendo o banheiro para dentro da casa.

Proteção Existente: Conservação a critério do proprietário.

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Perspectiva da Rua Santa Cruz. Foto: Bruno Sellani, 2006.

Vista Parcial da Rua Santa Cruz. Vemos algumas unidades sendo reformadas.

Foto: Bruno Sellani, 2006.

Vista Parcial da Rua Santa Cruz. Foto: Bruno Sellani, 2006.

Vista Parcial da Rua Santa Cruz, bloco de

casas em péssimo estado,

abandonadas.Foto: Bruno

Sellani, 2006.

Vista Parcial da Rua Santa Cruz, casas utilizadas como sede do “Rotary Club”, percebemos a falta de respeito com a fachada original, como fechamento de uma das portas e retiradas da moldura das janelas. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista Parcial da Rua Santa Cruz, bloco de casas cedido para Posto de Saúde. Notamos novamente o fechamento de uma porta, sendo transformada em janela e mudança nas cores da fachada, além da

placa colocada entre as duas unidades. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 05 - Vila Operária – Rua Santa Cruz – Tipo 01 – Casas de operários sem especialização

Fonte: Suzete Bomfim, junho de 2002.

ObservaçõesIdentificação: Tipo da Rua Santa Cruz, a primeira construída para habitação operária pela Fá-brica.

Data de construção: Entre 1900-1910.

Características gerais: Unidades geminadas, cada fachada possui porta e janelas emolduradas, detalhe de acabamento nos peitoris, platibanda com detalhes característicos do ecletismo com frisos e cimalha. Alguns moradores já fizeram reformas, trazendo, por exemplo, o banheiro para dentro da casa.

Estado de conservação: Em algumas casas a conservação é Regular, porém a maioria con-servação é Ruim.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira, duas águas e cobertura em telha cerâmica sem forro.

Interior: Piso de cimentado vermelho, com sala, circulação lateral, 03 quartos sem iluminação, cozinha e banheiro separado da edificação, no final do terreno.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Vistas da Rua Santa Cruz, unidades reformadas em 2006. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhes da tubulação

hidráulica e fiação elétrica aparentes.

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhe da platibanda, idêntica em todas as unidades. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhe da boneca da

porta, parte inferior, em

unidades não reformadas,

mas em estado regular de

conservação. Foto: Suzete

Bomfim, 2006.

Detalhe da boneca da porta, parte superior, em unidades não reformadas, mas em estado regular de conservação. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhe do encontro entre a estrutura do telhado de madeira e a parede interna, que divide sala e quarto. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Estrutura do telhado. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista interna da janela. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 06- Vila Operária – Rua Santa Luzia - década de 1920

Fonte: Arquivo Pessoal Dr. Jorge Leite, década de 1940.

Observações

Identificação: Rua Santa Luzia, paralela à Rua Santa Cruz.

Data de construção: Meados da década de 1920.

Características gerais: Características próprias das habitações operárias do inicio do século XX. Foi na Rua de Santa Luzia que se formou a segunda rua da vila para atender a demanda do aumento da quantidade de operários. Já não possui características ecléticas; as casas continuam geminadas, porém sem decoração nas fachadas típicas do ecletismo. A tipologia apresenta uma porta centralizada e duas janelas dispostas simetricamente tendo a porta como eixo. Detalhes discretos como marcações de colunas em alto relevo delimitam cada edificação. O telhado é aparente nesse momento.

Estado de conservação: Essa imagem é do período da sua construção. Atualmente as casas pos-suem outras características, como veremos a seguir.

Quantidade: Ao todo são 88 unidades, porém algumas sofreram mudanças com o passar dos anos.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira, duas águas e cobertura em telha cerâmica, sem forro.

Interior: Típica das casas populares da época. Sala, quartos sem iluminação natural, paredes baixas, um grande corredor lateral desde a sala até a cozinha.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Ficha nº 07- Vila Operária – Rua Santa Luzia – década 1930-40

Fonte: Arquivo Pessoal Dr. Jorge Leite, 1950.

ObservaçõesIdentificação: Rua Santa Luzia na década de 1930.

Data de alteração: Alteração sofrida em meados da década de 1930.

Características gerais: As casas da Rua Santa Luzia sofreram alterações nas suas fachadas. Quando o estilo “Art Dèco” se tornou mais popular, as casas mantiveram suas características anteriores, porém, surgiu a platibanda para esconder o telhado aparente. A platibanda é recortada geometrica-mente, mantendo as linhas retas e sua simetria.

Estado de conservação: Em algumas unidades é Regular. Nas demais unidades a conservação é Ruim - ver detalhes em anexo.

Tipo de cobertura: O telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: Planta Baixa sem alterações, semelhante à década anterior.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ficha nº 08 – Vila Operária – Rua Santa Luzia – 2007

Fonte: Suzete Bomfim, 2007.

Observações

Identificação: Rua Santa Luzia em janeiro de 2007.

Características gerais: Atualmente, a rua santa Cruz dá acesso à BR-101, por isso foi asfaltada. Suas unidades estão quase inalteradas em relação à década de 1930. Porém, como veremos, ao longo da rua, algumas casas já foram descaracterizadas, com colocação de revestimento cerâmi-co da fachada, por exemplo.

Estado de conservação: Em algumas unidades está Regular, demais unidades a conservação é Ruim - ver detalhes.

Tipo de cobertura: O telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: Típico das habitações populares do período, planta idêntica à das unidades da rua Santa Cruz.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Rua Santa Luzia, primeiro bloco de casas, na primeira quadra ao longo da Rua. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Rua Santa Luzia, primeiro bloco de casas, outro ângulo. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Rua Santa Luzia, segundo bloco de casas. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Rua Santa Luzia, terceiro bloco de casas, o mais degradado. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Indicação da Rua Santa Luzia. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 09 – Rua Santa Luzia - Tipo 01 – Casas de operários sem especialização

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Rua Santa Luzia em janeiro de 2007.

Data de alteração: Alteração sofrida em meados da década de 1930.

Características gerais: Possui porta centralizada e duas janelas dispostas simetricamente. Esse é o estado atual das unidades da Rua Santa Luzia, desde 1930. Atualmente percebe-se que não existe o respeito ao padrão original, transformando as antigas janelas em portas e assim por diante. As fachadas estão em mal estado de conservação, porém ainda passíveis de recuperação. Alguns moradores que são empregados da SULGIPE, ainda ocupam algumas das casas, outras são alugadas à pessoas sem relação empregatícia com a Companhia, e outras unidades estão abandonadas.

Estado de conservação: Em algumas unidades está Regular, nas demais unidades a conservação é Ruim - ver detalhes.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: Típico das habitações populares do período.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Exemplo de uma das unidades da rua Santa Luzia. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Estado atual de muitas das unidades, portas e paredes necessitam recuperação.

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista do blocos de 06 unidades atualmente abandonadas. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Detalhe da boneca da porta, em unidades não reformadas, em péssimo estado de conservação. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Porta da fachada de uma das unidades abandonadas, onde só resta a ruína da

fachada, telhado e paredesinternas já destruídos.

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhe de uma platibanda, idêntica em todas as unidades da rua Santa Luzia.

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Vista parcial da rua Santa Luzia, onde vemos uma unidade abandonada e as demais foram reformadas e estão ocupadas. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista parcial da rua Santa Luzia, bloco de casas em pior estado de conversação.

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Unidade que se descaracterizou das demais pela retirada da platibanda recortada. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Estado do passeio e da porta, da unidade acima (ou ao lado).

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 10 – Rua Santa Luzia - Tipo 02 – Casas de operários sem especialização

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

ObservaçõesIdentificação: Fachada original, no final da Rua Santa Luzia.

Data de construção: Meados de 1930.

Características gerais: Última unidade dessa tipologia, localizada em outra quadra da mesma Rua Santa Luzia. Sua platibanda é mais recortada e detalhada que a tipologia anterior. Seu esta-do atual é de total abandono. A entrada da casa não é central e as janelas dispostas uma a cada lado. Como nos outros exemplos da Rua Santa Luzia, a porta na lateral já fica de frente para o corredor lateral da casa. Percebemos que a casa ao lado já perdeu sua caracterização original, com fachada atual revestida de cerâmica. Tais alterações são vistas em várias outras unidades.

Estado de conservação: Péssimo.

Tipo de cobertura: Inexistente, porém percebe-se que o telhado era de madeira e cobertura em telha cerâmica como nas demais casas do período.

Interior: Típico das habitações populares do período. Atualmente inexistente.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Ficha nº 11 – Rua Santa Luzia - Tipo 03 – Casas de operários sem especialização

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Casas para operários sem especialização.Data de construção: Meados de 1950.Características gerais: Provavelmente as últimas unidades construídas com o intuito de servir como moradia operária. Percebemos a falta de preocupação com a construção e a vinculação a algum estilo arquitetônico. São casas bem características no interior do Nordeste, produzidas de forma vernacular pelos próprios moradores.Estado de conservação: Regular.Quantidade: 10 unidades.Tipo de cobertura: Telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica, como as demais casas do período.Interior: Sem acesso.Proteção Existente: Conservação a critério do proprietário.

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Tipo de unidade mais recente e mais simples, sem seguir nenhuma tendência de estilo. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Idem. Foto: Suzete

Bomfim,2006.

Última parte a ser ocupada na Rua Santa luzia. Tipo das unidades mais simples, sem seguir

nenhuma tendência de estilo. Foto: Suzete Bomfim,2006.

Mudanças atuais na rua Santa Luzia, alguns moradores viram proprietários de algumas casas e reformam do seu próprio modo. Foto: Suzete Bomfim,2006.

Mudanças atuais na rua Santa Luzia, alguns moradores viram proprietários de algumas casas e reformam do seu próprio modo. Foto: Suzete Bomfim,2006.

Mudanças atuais na rua Santa Luzia, alguns moradores viram proprietários de algumas casas e

reformam do seu próprio modo. Foto: Suzete Bomfim,2006.

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Ficha nº 12 - Tipo 01 – Casas de Operários Especializados

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Residência utilizada pelos operários especializados, como engenheiros e os respon-sáveis pela manutenção das máquinas. Localizada perpendicularmente à Rua Santa Cruz. (Rua sem identificação).Data de construção: Meados da década de 1930.Características gerais: Destaca-se das demais casas das imediações por possuir varandas, recuos laterais, platibandas elaboradas e detalhes geométricos em alto relevo. Telhado tipo chalé com duas águas, varanda coberta com telhado aparente e recuo lateral com jardins.Estado de conservação: Regular.Tipo de cobertura: Telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica.Interior: Piso de ladrilho hidráulico, compartimentos divididos em sala, circulação, 03 quartos, cozinha e banheiro.Quantidade: 02 últimas unidades.Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ficha nº 13 – Tipo 02 – Casas de Operários Especializados

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

ObservaçõesIdentificação: Residência utilizada por engenheiros da fábrica. Localizada na “entrada” do bairro, em frente à Igreja.

Data de construção: Meados da década de 1940.

Características gerais: Tal unidade possui recuo frontal e lateral com jardins, não está no ali-nhamento da rua e tem um muro de proteção para separar a casa do passeio público. A fachada ainda possui alguns detalhes geométricos em alto-relevo. O Telhado em parte escondido pela platibanda com poucos adornos e depois aparente para proteger a varanda.

Estado de conservação: Bom.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: Sem acesso.

Quantidade: 01 unidade.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Vistas das fachadas em 2002. Foto: Suzete bomfim, 2002.

Vistas das fachadas em 2006. Foto: Suzete bomfim, 2006.

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Ficha nº 14 – Tipo 03 – Casas de Operários Especializados

Fonte: Suzete Bomfim, 2002.

ObservaçõesIdentificação: Residência utilizada por engenheiros da fábrica. Localizada na “entrada” do bairro, em frente à Praça Santa Isabel.

Data de construção: Final da década de 1940.

Características gerais: Também diferente do tipo 01, que tinha varanda coberta, mas estava no alinhamento da rua. Essa tipologia tem recuo frontal e lateral, possui muro de proteção para separar a casa do passeio público. A fachada ainda possui pouquíssimos detalhes geométricos em alto-relevo. O Telhado é totalmente aparente e mais elaborado, sem platibandas, varanda com telhado específico, sustentado por colunas detalhadas.

Estado de conservação: Bom.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: Sem acesso.

Quantidade: 01 unidade.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Detalhe da Fachada Frontal, platibanda. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Vista das Fachadas Frontal e Lateral. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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CONJUNTO URBANO DA VILA OPERÁRIA SANTA CRUZ – Estância – SERegião: Litoral Sul de Sergipe - Acervo da Fábrica Santa Cruz

Ficha nº 15 – Tipos 04 e 05 – Casas de Operários Especializados

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Residências usadas por operários especializados. Localizada nas imediações da Rua Santa Luzia.

Data de construção: Final da década de 1930.

Características gerais: Percebemos que as unidades ainda possuem em sua fachada característi-cas geométricas da apropriação popular do Art dèco. Na unidade tipo 03, cor laranja, a casa está totalmente no alinhamento da rua, com porta lateral dando acesso a um corredor lateral que leva aos compartimentos da casa. Na unidade tipo 04, de cor rosa, observamos a entrada lateral, com discreta varanda coberta por telhado aparente, porém dá a entender que ambas foram cons-truídas no mesmo período, pois há muita semelhança nas fachadas.

Estado de conservação: Bom.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica, como as demais casas do período.

Interior: Inacessível.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Ficha nº 16 – Residência Unifamiliar do Industrial

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Residência Unifamiliar do proprietário da Fabrica Santa Cruz.

Data de construção: Década de 1930.

Características gerais: Casa do industrial, situada em frente à Praça Princesa Isabel, no mesmo eixo da Igreja Santa Cruz. Está localizada na “entrada” do bairro, controlando a saída e a entrada dos seus operários. Sua fachada não possui muitos elementos decorativos, é de difícil compreensão, pois não há como identificar um estilo específico. A forma do telhado é tipo chalé com duas águas. A varanda coberta é marcada por uma arcada, os recuos frontais e laterais possuem jardins e muro baixo demarcando o lote.

Estado de conservação: Regular.

Tipo de cobertura: O telhado em tesoura de madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: A casa possui pé-direito de 5 metros, forro com rodateto trabalhado em madeira, piso tabuado de madeira, móveis antigos, portas internas com 3,20m de altura.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ficha nº 17 – Biblioteca União Têxtil

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

ObservaçõesIdentificação: Biblioteca União Têxtil, localizada no largo existente no meio da Rua Santa Cruz, em frente ao Centro de Recreação Operária.

Data de construção: Meados de 1900, mesma época da construção das primeiras casas da vila da Rua Santa Cruz.

Características gerais: Estilo eclético. A fachada é simétrica, as janelas são emolduradas, a platibanda é composta de volutas, cimalhas e decoração em alto e baixo relevo com estuques produzidos em série. A Biblioteca União Têxtil era usada como ponto de apoio para os estu-dantes, com venda de material escolar a baixo custo, livros do ensino fundamental para pesqui-sa e sobre Estância e a história do Bairro Santa cruz. Atualmente o acervo é pequeno e a biblio-teca é utilizada como posto de atendimento da SULGIPE.

Estado de conservação: Bom.

Tipo de cobertura: O telhado com tesoura em madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: Atualmente é um vão livre, com balcão e estantes para livros, sem paredes ou di-visórias, com forro de madeira e piso em ladrilho hidráulico. Sem informações sobre o estado anterior.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Fachada da Biblioteca união têxtil, usada hoje como posto de atendimento da Sulgipe. Foto: Suzete Bomifm, 2002.

Vista Lateral. Foto: Suzete Bomifm, 2006.

Vista do Largo existente entre a Biblioteca e o Centro de Recreação Operária, nesse espaço havia a feira que atendia os operários, aos domingos. Foto: Suzete Bomifm, 2006.

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Ficha nº 18 – Centro de Recreação Operária

Fonte: Arquivo Pessoal Dr. Jorge Leite, Década de 1960.

ObservaçõesIdentificação: Centro de Recreação Operária. Localizada no largo existente no meio da Rua Santa Cruz, em frente à Biblioteca União Têxtil.

Data de construção: 1939.

Características gerais: Percebe-se a simetria, a preferência geométrica pelas linhas retas, deta-lhes apenas em alto e baixo relevo com motivos geométricos, ausência de elementos deco-rativos. Essa edificação foi construída para proporcionar aos operários momentos de lazer. Possuía muitas mesas de jogos e em épocas de comemoração, como festas de final de ano e carnaval, era usada para os bailes.

Estado de conservação: Regular.

Tipo de cobertura: O telhado com tesoura em madeira e cobertura em telha cerâmica, escon-dida pela platibanda escalonada.

Interior: Um vão livre em ladrilho hidráulico. Ver ficha n° 19 com o seu interior.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Vista do Largo existente entre a Biblioteca e o Centro de Recreação Operária, nesse espaço havia a feira que atendia os operários, aos domingos. Foto: Suzete Bomifm, 2002.

Fachada atual, após reforma realizada novembro de 2005.

Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Fachada atual, após reforma realizada novembro de 2005. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Detalhes da Fachada atual, após reforma realizada

novembro de 2005. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 19 – Centro de Recreação Operária – Interior

Fonte: Arquivo Pessoal Dr. Jorge Leite, Década de 1960.

ObservaçõesIdentificação: Interior do Centro de Recreação Operária.

Data de construção: 1939.

Características gerais: Apresenta um hall de entrada antes do grande salão, com pé direito de 6 metros, com as janelas laterais dispostas simetricamente. Há colunas trabalhadas entre as janelas do grande salão, rodateto com uma faixa decorada, piso em ladrilho hidráulico, bancos laterais e de canto e cavaletes com quadros em exposição. Essa edificação foi construída para proporcionar aos operários momentos de lazer. Possuía muitas mesas de jogos e em épocas de comemoração, como festas de final de ano e carnaval, era usada para os bailes.

Estado de conservação: Regular, atualmente não existem os elementos decorativos, porém as paredes e o piso ainda estão em estado regular, passível de recuperação.

Tipo de cobertura: Telhado com tesoura em madeira e cobertura em telha cerâmica, forro de madeira.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Outro ângulo de visão do interior do Centro de Recreação Operária. Foto: Acervo da Fábrica Santa Cruz.

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Ficha nº 20 – Escola Dom Antônio Cabral

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Escola Dom Antonio Cabral.

Data de construção: Meados da década de 1930.

Características gerais: Antiga escola de ensino fundamental, para atender os filhos dos operá-rios. Segundo antigos moradores, a escola possuía três salas de aula. Sua fachada possui como elemento decorativo, alguns motivos geométricos. Foi construída no mesmo período das casas da Rua Santa Luzia, apesar de estar localizada nas imediações da Rua Santa Cruz. Possui facha-da situada no alinhamento da rua, com três janelas emolduradas e uma porta lateral. Detalhe interessante é a fonte utilizada nas letras que indicam o nome da escola, bem característico do seu período de construção.

Estado de conservação: Ruim.

Tipo de cobertura: Telhado de madeira e cobertura em telha cerâmica, como as demais casas do período.

Interior: Inacessível.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Fachada da escola dom antonio cabral, em 2002. Fachada da escola dom antonio cabral, em 2006.

Detalhe da fachada, em 2006. Foto: Suzete Bomfim. Detalhes da fachada, 2006.

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Ficha nº 21 – Centro Educativo Gonçalo Prado – Década de 1950

Fonte: Arquivo pessoal, Dr. Jorge Prado Leite, década de 1950.

Observações

Identificação: Centro Educativo Gonçalo Prado, utilizado como teatro e cinema.

Data de construção: 1944.

Características gerais: Os elementos de composição são dispostos simetricamente. É uma manifestação do estilo chalé, pois na fachada se destacam os telhados de uma e duas águas, que eram escondidos com platibandas anteriormente. Os detalhes da fachada, em alto relevo e molduras das portas e janelas, são retilíneos. Óculos aparecem na fachada com o intuito de iluminar e ventilar, apresentando características do estilo Neocolonial. O edifício foi construído na década de 1940, com o intuito de ter um espaço cultural na cidade de Estância para receber grandes artistas nacionais. O teatro possui lugar para 600 pessoas.

Estado de conservação: Atualmente, possui fachada alterada, como veremos a seguir, porém seu estado é Bom.

Tipo de cobertura: Telhado com tesoura em madeira, com cobertura em telha cerâmica.

Interior: Possui um palco e 600 cadeiras para a platéia, camarotes a meia altura.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ficha nº 22– Centro Educativo Gonçalo Prado – Parte Interior

Fonte: Arquivo Pessoal Dr. Jorge Leite, Década de 1950.

Observações

Identificação: Centro Educativo Gonçalo Prado – Foto do seu interior.

Data de construção: 1944.

Características gerais: Construído para o lazer tanto dos operários como dos demais cidadãos da cidade de Estância, o Centro Educativo era utilizado tanto como teatro quanto para cinema. Pos-sui até dos dias de hoje um palco, 600 cadeiras de madeira para a platéia, camarotes a meia altura, permitindo conversação entre eles, sem detalhes. As paredes laterais ao Palco eram decoradas com pinturas geométricas. O forro atual é de madeira, sem detalhamento como anteriormente. As peças e artistas que faziam apresentações na capital, muitas vezes iam à cidade fazer apresentações, pois Estância tinha um público rico culturalmente e influente na política do Estado.

Estado de conservação: Bom.

Tipo de cobertura: O telhado era em tesoura de madeira e cobertura em telha cerâmica. Porém, foi retirado, atualmente vigas pré-moldadas sustentam as telhas de fibrocimento.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ficha nº 23 – Centro Educativo Gonçalo Prado - 2007

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Centro Educativo Gonçalo Prado.

Data de construção: 1944.

Características gerais: Os elementos de composição são dispostos simetricamente. Houve, na década de 1970, alterações na fachada: o telhado original foi removido, dando lugar às platiban-das; e o telhado de madeira e telhas cerâmicas deram lugar às telhas de fibrocimento. Tais al-terações descaracterizaram o projeto original, que possuía uma fachada de composição melhor que a atual.

Estado de conservação: Bom.

Tipo de cobertura: Telhado com tesoura em madeira e cobertura em telha cerâmica foi retirado e atualmente vigas pré-moldadas sustentam as telhas de fibrocimento.

Interior: Possui um palco, 600 cadeiras para a platéia, camarotes a meia altura, permitindo conversação entre eles, sem detalhes. O forro atual é de madeira, sem detalhamento e desenhos como anteriormente.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Fachada em 2002.

Fachada em 2002.

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Ficha nº 24 – Armazém

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Armazém.

Data deconstrução: Meados de 1930, mesmo período da segunda fase da rua Santa Luzia.

Características gerais: Estilo semelhante às casas da rua Santa Luzia, com platibandas recor-tadas, características da apropriação popular do ArtDèco. Localizado entre a rua Santa Cruz e Santa Luzia, com produtos de primeira necessidade, o armazém atendia as necessidades básicas de consumo dos operários.

Estado de conservação: Ruim.

Tipo de cobertura: Telhado com tesoura em madeira e cobertura em telha cerâmica.

Interior: Inacessível.

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ficha nº 25 – Igreja Santa Cruz

Fonte: Arquivo Pessoal Dr. Jorge Leite, Década de 1960.

Observações

Identificação: Igreja Católica.

Data de construção: Década de 1940.

Características gerais: Na primeira década do século XX, havia uma capela de pequeno porte para atender aos anseios religiosos dos operários, porém o operariado foi crescendo e na década de 1940 foi construída a Igreja Santa Cruz. Essa imagem é da época da sua construção. A igreja tem facha-da simétrica, com uma torre central para abrigar o sino, há poucos detalhes nas fachadas frontal e lateral. A entrada principal e demais janelas possuem vergas em arco pleno.

Estado de conservação: Bom.

Tipo de cobertura: O telhado com tesoura em madeira e cobertura em telha cerâmica. O forro é liso em madeira com pinturas de motivos bíblicos.

Interior: Recentemente reformado.

Proteção existente: Conservação a critério do proprietário.

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Igreja Santa Cruz, após reformas. Foto: Suzete Bomfim,2006.

Igreja Santa Cruz, passando por reformas em 2004. Foto: Suzete Bomfim,2004.

Igreja Santa Cruz, passando por reformas em 2004. Foto: Suzete Bomfim,2004.

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Ficha n° 26 – Praça Princesa Isabel – década de 1950

Fonte: Arquivo Pessoal Dr. Jorge Leite.

Observações

Identificação: Praça Princesa Isabel.

Data de construção: Década de 1940.

Características gerais: A Praça Princesa Isabel fica no eixo central entre a igreja Santa Cruz e a casa do então proprietário Dr. Júlio César Leite. A imagem representa o período da sua criação. Possuía traçado simétrico, com motivos geométricos, vegetação rasteira, postes de iluminação distribuídos nos vértices e na área central da praça. Os passeios laterais circundavam a vegetação. Interessante perceber nessa foto que as ruas eram de terra e estavam sendo pavimentadas. Outro detalhe é a localização das casas dos operários especializados, tipo 03 e 04, à esquerda da foto.

Estado de conservação: Ver foto atual.

Tipo de cobertura: -

Interior: -

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Ficha nº 27- Praça Princesa Isabel – Em 2006

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Praça Princesa Isabel. Localizada em frente à Igreja Santa Cruz.

Data de construção: Década de 1940.

Características gerais: Atualmente não possui nenhum resquício do seu traçado original, sem pavimentação, piso em areia, falta de equipamentos urbanos básicos, como lixeiras e bancos apropriados. Existe apenas uma grande árvore, a sua copa cobre praticamente toda a praça.

Estado de conservação: Ruim.

Tipo de cobertura: -

Interior: -

Proteção existente: -

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Ficha nº 28 - Praça Leão XII

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Praça Leão XII. Localizada no final da rua Santa Cruz, à caminho da sede da Fábrica.

Data de construção: Espaço existente desde a implantação da fábrica – 1891 – porém sem preo-cupação com a utilização do espaço.

Características gerais: A Praça Leão XII, segundo moradores antigos, possuía um campo de areia onde as crianças brincavam. Atualmente possui algumas árvores e grama, não possui passeio e não conta com qualquer tipo de equipamento urbano.

Estado de conservação: Ruim.

Tipo de cobertura: -

Interior: -

Proteção existente: -

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Placa localizada na Praça Leão XII, indicando a direção da Fábrica e a Br-101.

Praça Leão XII, sem pavimentação e sem equipamentos urbanos. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

Praça Leão XII, sem pavimentação e sem equipamentos urbanos, do meio da praça vemos o início da rua Santa Luzia. Foto: Suzete Bomfim, 2006.

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Ficha nº 29 – Praça Coronel Gonçalo Prado - 2006

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Praça Coronel Gonçalo Prado.

Data de construção: Década de 1940, mesmo período da construção do centro educativo Gonçalo Prado.

Características gerais: A praça só possui duas árvores e uma ruína de um antigo Coreto, onde havia banda de música aos domingos. Sem pavimentação, piso em areia e faltam também equipa-mentos urbanos.

Estado de conservação: Ruim.

Tipo de cobertura: -

Interior: -

Proteção existente: Conservação está a critério do proprietário.

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Vista 04 da praça Gonçalo Prado. Foto: Suzete Bomfim, 2002.

Vista 03 da praça Gonçalo Prado. Foto: Suzete Bomfim, 2002.

Vista 02 da praça Gonçalo Prado – Base de um antigo coreto. Foto: Suzete Bomfim, 2002.

Vista 01 da praça Gonçalo Prado. Foto: Suzete Bomfim, 2002.

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Ficha nº 30 – Campo de Futebol

Fonte: Suzete Bomfim, 2006.

Observações

Identificação: Campo de Futebol.

Data de construção: Meados de 1940.

Características gerais: Campo gramado, medindo aproximadamente 8.500m². Arquibancada em cinco níveis, feita de concreto aparente, medindo 18x94m. A Fábrica possuía um time de futebol, composto por seus operários. Atualmente o campo é usado para treinar os times da região.

Estado de conservação: Regular.

Tipo de cobertura: -

Interior: -

Proteção existente: -

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Vista do campo gramado e da arquibancada. Foto: Suzete Bomfim, 2002.

Entrada de Acesso ao Campo de Futebol. Foto: Suzete Bomfim, 2002.

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O presente trabalho buscou estudar e analisar os bairros operários, ou seja, as habitações especialmente construídas para morada dos trabalhadores. Inicialmente, tratou da questão na Europa e nos Estados Unidos para, posteriormente, focá-la no Brasil. Finalmente, a dissertação concentrou-se na região Nor-deste, particularmente em Estância, Sergipe – desde o momen-to histórico da abolição da escravatura até o final da década de 1940. O objetivo da pesquisa foi examinar os conceitos de Vila Operária como um instrumento de dominação e controle do ca-pital sobre o trabalho. Partimos da idéia norteadora de que a vila operária, além de materializar relações de poder da ordem fabril, também possibilitou o aumento da qualidade das habi-tações para operários de forma geral. Para estudar as vilas operárias como objeto do campo da arquitetura, no entanto, fez-se necessário extrapolar uma leitura formal, inscrevendo-o numa perspectiva histórica. Vimos que a mensagem deixada nos bairros operários não se restringe à cons-trução de um catálogo dos aspectos formais e arquitetônicos ali existentes, mas foi possível observar uma correspondência entre tais aspectos e a expressão de um conjunto de idéias, como con-ceito sobre divisão do trabalho, diferenciação entre categorias funcionais, entre outros. O que orientou a busca da gênese da vila operaria foi encontrar na Vila Santa Cruz, no Estado de Sergipe, alguma in-fluência das precursoras européias implantadas no advento da Revolução Industrial. Confirmamos tal afirmação nos primeiros Capítulos da dissertação, onde foi possível estabelecer tais cor-respondências. Foi possível constatar, também, que a construção do com-plexo operário da Fábrica Santa Cruz, partiu das mesmas neces-sidades dos industriais europeus, no sentido de reter mão-de-obra nas proximidades da Fábrica. E, além disso, observamos algumas variantes na configuração espacial, que se apresentam semelhantes às manifestações européias estudadas, como:

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1- A associação linear de unidades de habitação, ordena-das pela repetição de um modelo, critério encontrado na Fuggeri alemã e no Co�age System inglês; 2- A organização de variantes arquitetônicas obedecendo a critérios de ocupação segundo a hierarquia funcional na empre-sa, critério também empregado nas Citès Ouvrières Francesas. 3- A incorporação de equipamentos de lazer e serviços comunitários na Fábrica Santa Cruz, também como uma exten-são das Citès Ouvrières Francesas. Para melhor comparar esses fatos, os dados históricos e tipo-morfológicos da arquitetura do Bairro Operário Santa Cruz, em Estância-SE, foram organizados para tentar comprovar a principal questão desse trabalho: que as formas de poder que or-ganizaram a ordem fabril se recriaram na materialidade da vila operária proporcionando de um lado, o controle do capital pelo trabalho e, de outro, uma qualificação da habitação operária. Tal pesquisa pode ser considerada como um exercício interdisciplinar, que procurou entender a vila operária como resultado de um processo histórico, um objeto de estudo com-plexo, que além de ser um exemplar de importância da história da arquitetura e do urbanismo, é alvo do olhar das ciências hu-manas. Por fim, cabe ainda discutir o papel patrimonial da Vila Santa Cruz. Em meados do século XX, mais precisamente em 1939, Cesare Brandi ¹, um crítico de arte italiano, criou o “Instituto Central de Restauro” em Roma, e ele produziu uma teoria que traduziu o momento contemporâneo, elaborou um pensamento coerente, uniu princípios e conceitos que serviram de instrumen-to para embasar as práticas do Restauro. Brandi afirma que a restauração está dirigida única e ex-clusivamente a objetos que possuem qualificação artística, ou seja, está relacionada ao conceito de obra de arte. A obra de arte, no conceito contemporâneo, é qualquer produto da atividade humana que se torna especial quanto é reconhecido pela cons-

¹ Teoria da Restauração. Cesare Brandi. Tradução de Beatriz Mugayar Kühl. São Paulo, Ateliê Editorial, Coleção Artes &

Ofícios, 2004, ISBN 85-7480-225-5. Fonte: h�p://www.vitruvius.com.br/resenhas/tex-

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ciência do indivíduo – a sua importância está no momento em que a mente humana a percebe.

“(...) Como produto da atividade humana, a obra de arte coloca uma dupla exigência: a instância estética que corres-ponde ao fato básico da qualidade artística pela qual a obra é de arte; a instância histórica, que coloca como produto humano realizado em um certo tempo e lugar, e que se encontra em um certo tempo e lugar.” ²

Para Brandi, a funcionalidade da obra de arte é se-cundária, a “instância estética”, como um meio de artisticidade da obra, tem prioridade sobre a instância histórica.

“No caso em que as condições da obra de arte se revelam tais que exijam o sacrifício de uma parte daquela consistên-cia material, tal sacrifício, ou em qual intervenção deverá ser levada a cabo segundo a exigência da instância estética. E será esta instância a primeira em todos os casos, porque a singularidade da obra de arte em respeito aos outros produ-tos humanos não se depende da sua consistência material, nem sequer da sua dupla historicidade, sim da sua condição artística, de onde, uma vez perdida, não resta mais que uma relíquia.” ³

Com isso, percebemos que Brandi defende que a matéria da obra de arte é única a passar por todo o processo histórico, desde a concepção do objeto até o momento presente de sua percepção, assim como pela sua bipolaridade estética, aspecto e estrutura, com a prioridade do aspecto, transmissor direto da imagem sobre a estrutura, mesmo que somente a estrutura seja restaurada. Mas como saber se uma obra de arte é possível ou não de restauro? A obra de arte possui uma natureza unitária, ela não pode ser constituída apenas por partes independentes, e sim pelo todo. Quando a obra está fragmentada, precisa recuperar

² Teoria da Restauração. Cesare Brandi. Tradução de Beatriz Mugayar Kühl. São Paulo, Ateliê Editorial, Coleção Artes & Ofícios, 2004, ISBN 85-7480-225-5. Fonte: h�p://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha098.asp.

³ Teoria da Restauração. Cesare Brandi. Tradução de Beatriz Mugayar Kühl. São Paulo, Ateliê Editorial, Coleção Artes & Ofícios, 2004, ISBN 85-7480-225-5. Fonte: h�p://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha098.asp.

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sua unidade original e retornar à sua condição artística, isto é, precisa ser restaurada. “As obras possíveis de restauração seriam aquelas em que existe uma unidade ´possível´ em seus fragmen-tos. Cesare Brandi nos diz: “A restauração deve conseguir o resta-belecimento da unidade potencial da obra de arte, enquanto seja possível alcançá-lo sem cometer uma falsificação artística nem uma falsificação histórica e sem apagar as marcas da passagem da obra através dos tempos.” ⁴ Assim, as obras que estão degradadas e ainda transmitem nos seus fragmentos uma unidade potencial, podem e devem ser restauradas. No entanto, o restauro não aceita cópias e recons-truções. A única maneira de não cair no falso histórico e estético é intervir de uma forma autêntica, com criatividade. Para a com-preensão da melhor forma de restaurar, Brandi explana sobre o conceito dos três tempos da obra de arte:

O Primeiro – tempo da concepção e formulação da obra pelo artista; O Segundo – tempo desde o término da execução da obra até o momento do contato da consciência do indivíduo com sua imagem; O Terceiro – tempo da absorção e aceitação da arte pelos indivíduos.

“(...) Era necessário estabelecer os momentos que caracteri-zam a inserção da obra de arte no tempo histórico, para po-der definir em qual destes momentos se podem produzir as condições necessárias para essa intervenção peculiar que se denomina restauro, e em quais destes momentos é lícita tal intervenção... A restauração, para ser uma operação legíti-ma, não deverá aceitar a abolição da história... Na atua-ção prática, esta exigência histórica deverá traduzir-se não só na diferenciação das zonas reintegradas, já explicitado em razão do restabelecimento da unidade potencial, mas também no respeito à pátria, que pode conceber-se como a própria sedimentação do tempo sobre a obra; na conservação ⁴ AGUILERA, José. Matéria e Memória,

Aracaju, IPHN,1999.

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de testemunhos do estado precedente ao restauro e mesmo na conservação de partes não contemporâneas, que repre-sentam o próprio transcorrer da obra no tempo...” ⁵

Baseando-se nos três tempos da obra de arte, podemos concluir que: se a intervenção a ser realizada é de propor novos elementos, estará interferindo no Primeiro tempo da obra, que é a criação, se a proposta for de modificar o espaço preexistente, sendo contemporâneo à época, não pode ser encarado como res-tauro, é justificável quando a intenção é modernizar a obra. No entanto, se a proposta for reconstruir a obra, refazendo a parte faltante e devolvê-la ao seu estado original, estará negando a his-toricidade e artisticidade da obra, pois se atua no segundo tempo artístico, saindo do momento contemporâneo e tentando “forçar” o processo para o primeiro tempo (a concepção do artista), isso é falsificação histórica e estética, também não podendo ser consi-derado como restauro. O restauro, portanto, só pode ser concebido como inter-venção dirigida de acordo com o terceiro tempo da obra de arte. A partir da recuperação da unidade potencial perdida da obra. É usar a crítica e a criatividade para devolver o monumento à sua integridade estética e histórica, sem competir com a concepção inicial do artista e sem cair na falsificação, requerem do restaura-dor conhecimentos teórico, técnico e talento criativo. Entre outros conceitos da sua teoria, Brandi encara a pátina como fundamental para a integridade artística e para a unidade da obra de arte, isso para que a matéria não se imponha sobre a imagem. Então se pode dizer que restaurar é resgatar e recuperar uma unidade plástica ou arquitetônica que esteja frag-mentada, em função de acréscimos e degradações de um tecido figurativo qualquer. Esse processo de restauração pode estar in-cluído ou não numa revitalização de um conjunto urbano. Se a proposta de Revitalização de um conjunto urbano for à reintegração plástica do espaço, resgatando sua percepção e unidade anterior, cabe, nesse processo de revitalizar, o ato do restauro. Porém, se a proposta for transformar o uso do conjunto,

⁵ Teoria da Restauração. Cesare Brandi. Tradução de Beatriz Mugayar Kühl. São Paulo, Ateliê Editorial, Coleção Artes & Ofícios, 2004, ISBN 85-7480-225-5. Fonte: h�p://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha098.asp.

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surgindo uma nova relação da comunidade com o espaço, reinte-grando-o a uma nova vida social positiva, através da introdução de novos elementos, o espaço está sendo recriado, modificado, e, nesse caso, o processo de revitalizar não inclui o restauro. Mesmo que se preserve e mantenha a unidade preexis-tente dos edifícios de um sítio histórico, quando acrescentamos elementos inovadores, estamos agindo no Primeiro tempo da obra de arte, no processo de criação, por isso, é encarado como revitalização e não como restauro. Em conjuntos urbanos históricos que ainda possuem uma integridade e unidade figurativa do espaço, pode-se propor uma nova integridade, uma recriação do espaço acrescentando elementos que o melhorem, porém que respeite a percepção an-terior. A integridade do bairro Santa Cruz nos revela que no período da sua construção, o momento histórico e cultural era importante, o conjunto tem um grande significado pelo fato de marcar o início das atividades industriais em Sergipe, esse tipo de arquitetura, relacionada às atividades industriais e ao estudo dos locais de trabalho, começou a ter espaço no meio acadêmico nas últimas duas décadas. Na Inglaterra, criou-se uma disciplina chamada Arqueo-logia Industrial. Aqui no Brasil, iniciou-se o estudo sobre as ins-talações de trabalho dos primeiros engenhos de açúcar das fa-zendas de café e das fábricas industriais. Daí a valorização do conjunto urbano dos bairros operários e a preocupação com a preservação desses espaços. Como visto, a Vila Santa Cruz não é um “resto” ar-quitetônico ou urbanístico desprovida de valor(es). É sim um tes-temunho vivo de um período histórico importante, marcado pelo início da industrialização do Nordeste do Brasil e, igualmente caracterizado pelas forças produtivas e relações de produção então vigentes. Preservar a Vila Santa Cruz é tarefa fundamen-tal. Definir a melhor maneira de fazê-lo não é fácil. A presente dissertação cumpre com seu papel. Contribuiu para revelar os “restos”. Mostrou que o patrimônio cultural da continua repleto

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de significados simbólicos e que, através dele, ainda podemos reconstruir vários momentos de nosso passado e reforçar nossas identidades. A partir de agora, cabe – a todos nós – lutar para preservar a Vila Santa Cruz!

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