1. A população da Europa nos séculos XVII e XVIII

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1 A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e crescimento 1.1. Economia e População 1.1. Economia e População 1.2. Evolução Demográfica 1.2. Evolução Demográfica 1.2.1. O Modelo Demográfico Antigo 1.2.1. O Modelo Demográfico Antigo 1.2.2. O Século XVII 1.2.2. O Século XVII Balanço Demográfico Balanço Demográfico 1.2.3. O Século XVIII 1.2.3. O Século XVIII Uma nova demografia em meados do século XVIII Uma nova demografia em meados do século XVIII O Professor – Alberto Telmo Araújo O Professor – Alberto Telmo Araújo

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A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e crescimento1.1. Economia e População1.1. Economia e População

1.2. Evolução Demográfica1.2. Evolução Demográfica

1.2.1. O Modelo Demográfico Antigo1.2.1. O Modelo Demográfico Antigo

1.2.2. O Século XVII1.2.2. O Século XVII

• Balanço DemográficoBalanço Demográfico

1.2.3. O Século XVIII1.2.3. O Século XVIII

• Uma nova demografia em meados do século XVIIIUma nova demografia em meados do século XVIII O Professor – Alberto Telmo AraújoO Professor – Alberto Telmo Araújo

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1.2 Evolução Demográfica1.2 Evolução Demográfica

1.2.1 O Modelo Demográfico Antigo

© Economia pré-industrial => Sistema económico que se caracteriza essencialmente pela base agrícola e pela debilidade tecnológica.

• A evolução demográfica da Época Moderna reflecte um grande crescimento no século XVI, um abrandamento ou retrocesso no século XVII e um novo período de expansão a partir dos anos 40 do século XVIII.

A população no período anterior à Revolução Industrial oscilava constantemente num processo a que o historiador Fernand Braudel chamou “o sistema das marés”.

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• A economia pré-industrial caracteriza-se essencialmente por uma larga base agrícola e uma evolução tecnológica lenta. O cultivo da terra ocupava, então, cerca de 80% da mão-de-obra disponível que vivia pobremente, no limiar da subsistência. Com utensílios rudimentares, sem fertilizantes químicos, sem meios de combater as pragas, camponês encontrava-se totalmente à mercê da fertilidade natural dos solos e das condições climáticas.

• O equilíbrio entre os recursos alimentares e o contingente populacional rompia-se com frequência. Os mais desfavorecidos morriam, sendo estes picos súbitos de mortalidade uma das características principais do modelo demográfico antigo.

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1.2 Evolução Demográfica1.2 Evolução Demográfica• O que em primeiro lugar distingue a demografia da Europa pré-

industrial é uma elevada mortalidade, a rondar os 35%. A morte atingia sobretudo os mais jovens: morria-se ao nascer ou de tenra idade. Segundo Pierre Goubert , seriam necessários dois nascimentos para produzir um adulto.

Como forma de compensar, a natalidade era igualmente alta (cerca de 40%), prevalecendo sobre a taxa de mortalidade. Deste modo nos anos que não eram afectados por calamidades, a população crescia ligeiramente.

Os efeitos de uma crise demográfica * eram sempre devastadores: ceifavam em média, 10 a 15% da população, nos piores casos 20 ou mesmo 25%. Seguia-se um período de acalmia que podia durar

* Crise demográfica – quebra demográfica brusca provocada por uma elevação violenta da taxa de mortalidade acompanhada do recuo da taxa de natalidade. É geralmente de curta duração (meses) e devido a surtos de fome e/ou epidemias.

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Continuação…Continuação…

… uma década ou mesmo mais e que correspondia a uma fase de recuperação: intensificava-se a nupcialidade e crescia a diferença entre o número de nascimentos e o de óbitos.

Estas crises de mortalidade são uma característica permanente do modelo demográfico antigo. Num século como é o caso do século XVII (trágico), estas elevações brutais do número de óbitos assumiram um carácter intenso e continuado.

1.2.2. O século XVII O século XVII ficou para a História como um tempo de

desgraças e dificuldades. A fome, a peste e a guerra conjugaram-se mais uma vez e voltaram a assolar a Europa. Começou sob o signo da fome. Todos os estudos indicam que esta época correspondeu a um …

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Continuação …Continuação …… arrefecimento climático, a uma “pequena era glaciária” segundo

o historiador Le Roy Ladurie: invernos rigorosos alternam com verões particularmente frescos e húmidos que fazem apodrecer as colheitas. Desta forma, o preço dos cereais eleva-se e as crises de subsistência sucedem-se algumas particularmente graves: em 1695-97, depois de dois invernos excepcionalmente frios, a fome dizimou, na Finlândia, a quarta ou a terça parte da população.

A fome arrastava consigo a doença. Nos corpos debilitados a infecção instala-se mais facilmente. O contágio era mais rápido e os bandos de esfomeados que percorriam os caminhos ajudavam a disseminar o mal. Por isso, raramente uma crise se ficava pela falta de alimento. As epidemias completavam a catástrofe: difteria, febre tifóide, varíola, tosse convulsa, escarlatina e tantas outras passavam de região para região, de cidade para cidade.

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Continuação … As epidemias, ao contrário das fomes, atingiam todos, mesmo os

mais ricos. O único remédio era fugir: Quem podia fugia para o campo onde o ar era mais “limpo”. Só os pobres ficavam na cidade. De todas a mais temida era a peste. A peste voltou a atormentar a Europa, originando, entre 1590 e 1670, o ciclo de epidemias mais virulento desde o século XIV.

O século XVII conheceu também um clima de guerra permanente. Guerras de religião, guerras entre estados, guerras civis, revoltas e sublevações (revoltas) dilaceraram a Europa. Poucas regiões foram poupadas. De todas as guerras deste tempo merece destaque a Guerra dos Trinta Anos. De 1618 a 1648 devastou regiões inteiras da Alemanha. No conjunto, a população das cidades alemãs terá decrescido cerca de 33% e a dos campos 40%. As regiões mais afectadas registaram perdas superiores a dois terços dos seus habitantes, tendo sido considerada a maior catástrofe do séc. XVII.

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* Balanço Demográfico* Balanço Demográfico• Apesar de ser considerado pelos historiadores como

um “século sombrio” e de “tempos difíceis”, hoje aceita-se que no século XVII, o número de europeus não diminuiu. Quando muito, terá estagnado, admitindo-se até um ligeiro crescimento. No entanto temos de ter em consideração as grandes disparidades regionais: enquanto em algumas regiões, poupadas pelos flagelos, a população cresceu a um bom ritmo, noutras registou-se uma quebra significativa.

Nas áreas onde a “trilogia negra” se completou (fomes, pestes e guerras), como as da Alemanha, por exemplo, foram precisos mais de cem anos para repor os contingentes populacionais do século anterior.

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1.2.3. O Século XVIII1.2.3. O Século XVIII• A conjuntura depressiva do século XVII prolonga-se pelas primeiras

décadas do século seguinte. Porém, a partir de 1730-40, a situação modifica-se : a população inicia um período de crescimento.

• * Uma nova demografia em meados do século XVIII

• => Todos os dados indicam que este crescimento, inicialmente lento mas ininterrupto, se ficou a dever a uma acentuada diminuição da mortalidade.. O recuo da morte tem sido explicado pelos mais diversos factores. Tem-se referido as inovações da agricultura, os progressos da indústria, o desenvolvimento dos transportes, as conquistas da medicina. No entanto nenhum destes aspectos fornece uma explicação convincente, uma vez que não se aplica às regiões mais desfavorecidas, onde igualmente se registou um notável aumento populacional.

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Continuação …Continuação …

A verdade é que a fome e a doença diminuíram na Europa, provocando um acentuado crescimento demográfico. Talvez o clima seja a explicação para este fenómeno. O século XVIII correspondeu a um período favorável, farto em anos de boas colheitas e adverso à propagação de epidemias.

A terrível peste negra desaparece da Europa Ocidental depois de 1720.

O seu recuo também se pode ficar a dever à intervenção do Homem: as quarentenas, até aí isoladas, generalizam-se, ao mesmo tempo que aumentam os cuidados higiénico-sanitários.

Também a varíola está em regressão, tendência que se acentuará com a descoberta da sua vacina por Jenner. As práticas de vacinação apaixonaram a opinião pública, no último terço do séc. XVIII.

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Continuação … Mais acarinhada pelos poderes públicos, melhor organizada (criação

de academias ou de sociedades reais), mais divulgada por escritos simples, a prática médica ganha terreno, nomeadamante no campo da obstetrícia: criam-se as primeiras cátedras desta disciplina nas universidades e inicia-se a sensibilização e formação de parteiras.

Toda esta evolução reflecte o advento de uma nova mentalidade relativamente à infância e ao seu valor (ver Docº 10 – pág. 21). A criança está prestes a tornar-se o centro de atenções da família e a sua morte deixa de ser encarada como coisa corrente e inevitável.

O recuo da mortalidade (sem diminuição corresponde no número de nascimentos) rejuvenesceu a população da Europa e prolongou-lhe a vida: no final do século XVIII, mais de 35% dos Europeus tinha menos de 20 anos e a esperança de viver mais que os seus avós.

Os sinais de crescimento eram tão evidentes que preocupavam os …

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Continuação …

contemporâneos, habituados ainda às tradicionais rupturas de subsistências. Thomas Malthus, economista e pastor protestante, traçou no seu Ensaio Sobre o Princípio da Ensaio Sobre o Princípio da PopulaçãoPopulação (1798), uma visão quase apocalíptica do futuro da Humanidade, caso o seu crescimento não fosse, a tempo, contido. Na sua obra ele preconiza a limitação voluntária dos nascimentos, como o único meio de evitar as catástrofes alimentares.

Malthus ignorava, então, que o progresso técnico forneceria à Humanidade os recursos necessários a um crescimento demográfico continuado e bem mais rápido do que o do seu tempo.

No entanto, as práticas antinatalistas estavam prestes a difundir-se, conferindo á demografia dos séculos XIX e XX um carácter verdadeiramente novo.