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1. AS GRANDES MUDANÇAS GLOBAIS

A América Latina representa 7% da produçãoglobal de bens e serviços - comparados com 4%no ano de 1875. Prevê-se uma ampllaçAo para10%, pelo menos, no ano 2000, quando a pro-dução mundial chegará a unsUS$1 OtrilhOes, emvalores atuais. Isso implicaria um aumento anualdo produto bruto de uns 5,5%, o que parecerazoável, ainda que projetado para 25 anos. AAmérica Latina possui recursos estratégicos co-mo o petróleo, minerais, protelnas e matas emabundância, assim como uma crescente po-pulação e espaços livres. Sem dúvida, a futuraposição da América Latina no mundo ultrapassaconsideravelmente sua participação numérica naprodução de bens e serviços.

É através das grandes mudanças que se per-filam na cena global que poderemos compreen-der a América Latina da próxima década. Numaépoca em que o ser humano viaja com a velo-cidade do som (os astronautas) e se comunicacom a rapidez da luz (os computadores), os em-presários não podem limitar seus interesses asua vizinhança imediata e sim a sua mais amplavizinhança: o mundo.

Entre as grandes inovaçOes em escala global,figura a dependência reciproca entre os pro-dutores e consumidores de recursos escassos eestratégicos - um novo eixo que se forja atravésdos eixos existentes de norte-sul e leste-oeste.Haverá novas alianças que basicamente provirãoda propriedade e do consumo de tais recursos.Talvez o anunciado "sistema econOmico latino-americano" obedeça a perspectiva de uma mútuadependência. As alianças, por serem econo-micamente frágeis, necessitarão de um forte res-paldo polltico para se firmarem. A mútua depen-dência relaciona-se com outra grande mudançaque se pode descrever como a "troca" (traduçãoum tanto literal do trada off) entre, por exemplo,uma maior eficácia técnlco-econOmica e umamelhor distribuição da renda. Uma legislação.social justa requer uma forte expansão da pro-dução para financiar-se, enquanto que uma forteexpansão requer uma redistribuição da rendapara que favoreça a todos. Este tipo de "troca"terá um nlvel mundial; por exemplo, entre a maiorprodução e a menor contaminação ou entre a es-tabilidade monetária e o emprego total. Os exem-plos dramáticos são numerosos.

Algumas das grandes tendências econOmicasdos próximos 25 anos estarão, no prognósticonão convencional, sujeitas a reversão. Por exem-pio: a) haverá menor ênfase na superurbanlzaçãoem favor do desenvolvimento rural; b) haverámaior prioridade para poupança e investimentosàs expensas do consumo supérfluo; c) haverámaior preferência para a satisfação de requisitospúblicos às expensas de algumas demandasprivadas, sobretudo nos palses industriais; d)haverá uma maior exigência quanto ao mecanis-mo de mercado para computar aqueles custos

sociais e ambientais que implicam nas decisOeseconOmlcas assim como nas aplicaçOes técnicasem matéria de recursos vitais; e, por último; e)haverá um reconhecimento maior dos problemase das oportunidades do futuro às expensas dopresente.

A noção de "troca" e sua lúcida perspectivarepercutirão com a mesma força tanto sobre aAmérica Latina como sobre a empresa modernaque opera nela. Nem o empresário ousado, nem otécnico avançado, nem muito menos o polltlcomoderno poderão deixar de reconhecer estefenOmeno. A própria "troca" é, aqui, expressãomáxima da dependência reciproca - que semanifesta com tanta força na ecologia e que o Dr.Barry Commoner define assim em sua primeiralei ecológica: "Tudo está relacionado com tudo omais." Vale a pena examiná-Ia no contexto daAmérica Latina e o papel da empresa nela.

2. A MÚTUA DEPEND~NCIA-FENOMENO NOVO

Na próxima década, quando o mundo conhecerum maior grau de dependência, a América Latinajá não poderá sonhar com a tão desejada Inde-pendência nem tampouco precisará padecer maisda tão criticada dependência. Mas se emergeuma interdependência entre as naçOes e con-tinentes e, indiretamente, entre empresas egovernos, é posslvel não visualizar uma seme-lhante interdependência entre empresas latino-americanas? Aparentemente a própria compe-tição no mercado e o caráter exclusivo daspee-qulsas tecnológicas, assim como as chamadasleis antitruste, excluem toda cooperação entre asempresas. Cooperação que seria fruto da mútuadependência. Cooperação que requer consensopolítico e vontade polltica para se manifestar. Es-te é o eixo crucial em nosso racioclnio sobre ofuturo. Se se deseja inventar um futuro desejávele posslvel para a empresa latino-americana napróxima década, haverá algum sem mútua de-pendência e sem cooperação?

Para resolver este dilema crucial é preciso queo empresário perceba o mundo - ou "seu"mundo - como uma só entidade orgânica e In-tegrada, em vez de uma série de acontecimentosdesconexos. Freqaentemente se usa, para ilus-trar esta percepção um exemplo que aconteceuna chamada agroindústria e que envolve a depen-dência do fator meteorológico. Há três anoshouve uma excepclonal seca na Rússia queobrigou o governo a comprar 28 milhOes de to-neladas de cereais no exterior a fim de evitarracionamentos. Como as colheitas na Austrália eArgentina não foram propicias, a maior parte foiadquirida na América do Norte.

Mais ou menos ao mesmo tempo, aesapa-receram os enormes cardumes de anchovas aolongo das costas peruanas, fenOmeno quecausou uma excessiva demanda de soja emoutros palses, inclusive o Brasil. Foi então queocorreram vários tornados nas Filipinas, enquan-

Empresa latino- americana

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A empresa latino americana na próxima década André Van Dam

to que as monções foram excepcionalmentebaixas na Ásia Meridional. Em grande parte domundo se reduziram drasticamente as reservasde alimentos e os preços começaram a subir con-sideravelmente. Isto desencadeou uma onda decompras especulativas que chegou até a cana-de-açúcar e ao cacau. Tão brusca foi a subida depreços dos alimentos que originou mais inflaçãomundial do que a crise do petróleo em 1973:

Este exemplo indica a extrema complexidadedo contexto, que está sujeito a mudanças brus-cas e fortes, globalmente interconectadas. Detudo isto surge a convicção de que só uma açãode conjunto - a nível de pesquisa, planejamen-to, diàlogo com governos ou operaçOes - poderápermitir às empresas latino-americanas e geral,enfrentar a próxima década com serenidade. Nãobasta enfrentà-Ia, é preciso inventà-Ial

A próxima década promete ser benévola para aAmérica Latina. Tal prognóstico não toma emconta a possibilidade de um conflito nuclear - jàque não se pode planejar para o caso. O que seprevê é que a América Latina terá uma maior ex-pansão econOmica relativamente aos demaiscontinentes. Se devemos colocar números nesteprognóstico, pode-se supor que em termos dopoder aquisitivo de 1975, o produto continentalsubírá de US$ 270 bilhOes (hoje) para uma cifraque variará entre US$ 444 e 500 bilhOes em 1985,a um ritmo de expansão anual que vai de 5 a 6%.Sem dúvida, as médias costumam ser ilusórias,tanto através dos anos como através dos con-tinentes e dos ramos da indústria.

3. O CONTE:XTO EMPRESARIAL: TURVOOU CRISTALINO?

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Em fevereiro de 1972, sob os auspícios da CasaBranca reuniram-se em Was.hington D.C. 1 500dirigentes da empresa privada com dirigentes deoutras atividades privadas e públicas. Discutiramdurante três dias o tema "O mundo Industrialpela frente em 1990", isto é, o mundo industrial18 anos depois. Muitlssimo se pode aprenderdessa reunião, cujos debates se imprimiram numlivro de 330 pàginas. Ao Iê-Io 40 meses depois,pode-se perceber em que medida existia então atentação de extrapolar e quanta resistênciaprevalecia contra um modelo econOmico e Indus-trial diferente do conhecido.

Obviamente é fàcil criticar com o aux1lio daretrospecção. Sem dúvida,· acreditamos que émais útil analisar, para benefício dos empre-sártos da América Latina, quais foram os prog-nósticos que se deixaram de lado e porquê. Ob-serva-se, então, entre outras coisas, a notóriasíndrome da ópera chinesa, na qual o mensageiroque traz más notícias ao imperador é decapitadopor ele como se tivesse culpa da adversidade. Oresultado é que, ou o mensageiro não levavanoticias verdadeiras ao Imperador ou que este úl-timo deixou de ouvi-Ias. Aparentemente é muitodiflcil perceber o contexto tal como realmente é,

Revista de Admini&tração de Empre8Q&

e não como se gostaria que fosse. Não se re-conhecendo a tempo e com toda lucidez asmudanças no contexto, perde-se a oportunidadede se adiantar a elas e de tomar medidas paraevitar ou suavizar o seu impacto. Watergate, in-flação, desocupação, Indochina, crise do pe-tróleo, queda do dólar - são todos temas can-dentes de uma sociedade em profunda transição,mas que então aparentemente não comoveram amaioria dos empresárlos reunidos em Washing-ton D.C.

Alguns prognósticos sobre o contexto em-presarial na América Latina da próxima décadasão fàceis de se fazer. Até 1985 haverà 444 mi-IhOesde latino-americanos. Sua renda per caplta,em dólares de hoje, passará de US$1 000 - mascom quase a mesma desigualdade em sua dis-tribuição que a que existe atualmente. O "super"mercado latino-americano de 1985 estará for-temente influenciado pela posse do petróleo e deterras aràveis e férteis, assim como também poroutros fatores que analisaremos em seguida.

Até 1985 o mundo abrirà novas janelas sobre oOceano Pacifico - o futuro centro do mapa-mundi. Isto favorecerà os vizinhos do Pacifico, oque não impedirà que outros palses da AméricaLatina estabeleçam cabeças de pontes econO-micas ou comércio no Oceano Pacifico. Talvezpara essa época não esteja inaugurado o túnelsob a Cordilheira dos Andes que unirá Mendoza aValparaiso, nem tão pouco a auto-estrada entreSão Paulo e Lima ou o segundo canal do Panamà.Estas deficiências não Impedirão a existência denovas correntes de intercâmbio através daAmérica Latina, principalmente entre o Atlânticoe o Pacifico.

Com estes exemplos queremos demonstrarque, na observação do contexto empresarial épreciso distinguir entre os fatores que abrangemtoda a América Latina em geral e outros fatoresmalseepecltlcos de cada pais ou de um grupo depalses. Por exemplo, um dos fatores mais impor-tantes é a explosão demogràfica que se manifes-ta em toda América Latina com exceção doCono Sur. Onde acontece essa expansão de-mogràfica de maneira acentuada as conseqOên-elas para as empresas são múltiplas. Em taispalses, a metade do mercado é constitulda porpessoas de menos dá 18anos de idade, e, em cer-tos palses, a metade dos eleitores tem menos de28anos I Dentro de um futuro previsível, a metadedos dirigentes e técnicos das empresas terámenos de 38 anos de idade. Existem multasoutras conseqOênclas, como por exemplo, a dis-tribuição de demanda e a preferência juvenil deacordo com ela. Ao baixar a taxa de mortalidademuito mais rapidamente que a taxa de fertilidade,foram geradas tensões no ambiente social epolltico. Naqueles palses ou reglOes - a maioriada América Latina - onde a renda per caplta ésumamente baixa, a explosão demogràflca podecolocar-se contra o atual contexto empresarial.Este é, em minha opinião, o cerne do dilema.

4. O DRAMÁTICO CASO DO SETOR RURAL

Naquelas sociedades de grande expansão de-mográfica com uma economia que padece de umalto Indice de subemprego ou desemprego, é ób-vio que a criação de fontes de trabalho seja ameta primordial dos governos - uma meta queafetará intimamente as empresas. Ninguém podenegar que existe um conflito básico entre doisobjetivos opostos. Por um lado, é preciso que aindústria latino-americana se torne mais com-petitiva, mais eficaz e mais produtiva - o querequer maior densidade de capital de maquinariae tecnologia. Por outro lado, é necessário que aindústria absorva maior quantidade de pessoassem emprego ou padecendo subemprego. Esta"troca" (trade-ott) as indústrias não podem fazersenão em conjunto com seus respectivos gover-nos e dentro de um contexto setorial elou re-gional. É este o problema mais importante emque se defronta a América Latina, no que serefere á indústria. O acesso aos mercados mun-diais, a seleção de tecnologia adequada, acriação de mercados internos de massa e outrasprioridades giram em torno da "troca" entreprodutividade e a criação de emprego. Em minhaopinião pessoal, este dilema não poderá serresolvido de forma satisfatória a não ser no âm-bito do setor rural. Na maior parte da AméricaLatina não se aproveita plenamente a genero-sidade de Nosso Senhor para com a terra latino-americana. Nas décadas passadas, em muitospaíses, o setor agropecuário e até o setor flores-tal e de piscicultura, foram as vitimas de umprocesso acelerado de substituição de impor-tações e de forte industrialização. Em muitospaíses o aumento anual da produção do campotem sido inferior à taxa de expansão da economiaem sua totalidade. Na perspectiva não-conven-cional, a maior reversão de tendências nospróximos 10anos residirá precisamente neste as-pecto. Haverá forçosamente uma maior atençãoao setor rural, da qual a indústria não terá outroremédio senão participar - por estranho que is-so possa parecer à primeira vista. Quase todos osproblemas da América Latina convergem para osetor rural: a) explosão demográfica; b) dietainadequada; c) desemprego e subemprego; d) fal-ta de educação e entretenimento; e) baixlssimarenda per caplta; f) falta de produção alimentlciae sua má distribuição; g) formação de megaló-polis pelo êxodo rural, etc.

Não é fácil prognosticar um novo papel da em-presa latino-americana na reversão desta tendên-cia, com exceção da chamada agroindústria.Sem dúvida, é posslvel que uma excessivapreocupação do setor empresarial para urba-nização produza problemas que tal magnitude etal complexidade no setor rural que afetem adver-samente a própria indústria talvez de forma agorapouco previslvel. Dentro do conceito de Inventarum futuro posslvel e desejável para a empresalatino-americana na próxima década, sem dúvidauma maior preocupação em conjunto, com o

setor rural, é a primeirlssima prtorldade., I: evi-dente que tal preocupação requer a colaboraçãodos governos. Mas não é menos evidente que aprópria indústria está em condições de tomar ainiciativa em favor de sua futura prosperidade esobrevivência.

5. NACIONALISMO VERSUSINTERNACIONALlSMO

Como segunda prioridade vislumbra-se, a nlvelcontinental, uma antinomia entre nacionalismo einternacionalismo. Numa época em que muitosproblemas são globais, interligados e urgentes,torna-se diflcil captar as grandes ondas de na-cionalismo que se originam em muitos palsesdentro e fora da América Latina. Este conceito denaclcnallsmo se estende continentalmente e seexpressa em uma nascente solidariedade latino-americana, ou sub-regional, frente a grandesmudanças na era mundial. O nacionalismo e o in-ternacionalismo, apesar de suas aparências, nãose excluem mutuamente. O nacionalismo é con-siderado como uma válvula de escape freqüen-temente necessária para assegurar o equillbriointerno entre forças contrárias.

Neste dilema se jogarão as grandes forças cen-trífugas e centrípetas que açoitam o mundo, in-clusive a América Latina. E neste âmbito queconvém analisar cada um dos palses em sepa-rado, não em conjunto. Certos palses terão ten-dência a se projetar como futuros fatores impor-tantes na era mundial, de certa forma em aliançacom os palses plenamente industrializados.

Nesta opção entre uma projeção internacionale outra nacional, influenciará, sem dúvida, aseleção do modelo de consumo. Até aqui quasetodos os países têm adotado um modelo quereflete a chamada sociedade de consumo quetanto caracterizou a América do Norte, EuropaOcidental e Japão nas últimas décadas, e quetem tido um dramáti_coefeito de demonstraçãoem muitos países em vias de desenvolvimento.Emalguns palses nasce uma preferência para ummodelo alternativo, mas ele fica melhor em níveisconceptuais. Sem dúvida, é posslvel que napróxima década - sob influências estranhas -se delineie outro modelo em que se dará maior'ênfase à satisfação de certas necessidades doconsumo público à expensas, evidentemente, dealguns setores do consumo privado, principal-mente os chamados suntuários. Isto é parte domodelo de consumo que cada pais escolheráfrente às pressões demográficas e outras e queserão expressão imediata do nacionalismo.

Por outro lado, a integração regional tambémserá reflexo da luta entre nacionalismo e inter-nacionalismo. Um mercado comum, uma zonalivre de comércio e um pacto de programação in-dustrial são expressOes de certo desejo de inter-nacionalismo. Ao fracassar alguns dessesprogramas observa-se que o nacionalismo temprofundas raizes que se nutrem nos sacriflciosque inevitavelmente impõe todo acordo mul-

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tlnacional. Esta é outra ilustração dramàtica da"troca" que se forjarà no contexto empresarial.Os obstáculos atuais à programação andina nossetores automotriz, petroqulmico e metal-me-cânico exemplificam o cerne do dilema.

6. PARA UM "SCENÁRIO"l POSSíVELE DESEJÁVEL

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Na "prospectiva" (arte e ciência de inventar umfuturo) se usa como instrumento o chamadoscenário. Serà uma tarefa em conjunto das em-presas lati no-americanas planejar" sua" próximadécada dentro do posslvel e desejàvel no contex-to. 'Creio que os fios comuns através dos pos-slveis scenárlos podem ser definidos como: con-centração, cooperação e integração, os quais nãoincluem outros denominadores comuns.

Por concentração se compreende a reversão deum processo existente de fragmentação, isto é,um excessivo número de indústrias dentro domesmo ramo. Por exemplo, a quantidade de In-dústrias alimentlcias na América latina é cal-culada em mais de dois mil. A concentração sefará tanto em nlvel setorial como em nlvel re-gional ou sub-regional. Se existir em fortlssimoconceito de concentração como resposta da in-dústria latino-americana às pressões da próximadécada em seu contexto, sem dúvida a legislaçãopoderá amoldar-se a tão premente mudança oureversão de tendência.

A concentração é necessària não somente parapermitir a cooperação como também para pro-jetar a indústria latino-americana em escala mun-dial. A frota grancolombiana é um exemploaolltárlo. Na realidade, a concentração é umareação a uma atitude paroquial que os que par-ticipam das reuniões setoriais da AlAlC per-cebem freqOentemente e que, na opinião doautor, reflete o arraigamento das pessoas aosproblemas do momento e de seu contextoge9gràfico mais imediato.

Ede se esperar que a concentração (anàloga aoque na física se chama "a massa critica") leva àcooperação. É posslvel, por exemplo,' que em-presas bancánas se concentrem colaborando nocâmbio de tltulos de propriedade, salvo numnovo banco. A mesma idéia báslca pode serrealizada mediante um maior intercâmbio indus-trial de peças e acessórios - não em nlvel co-merciai, somente, mas também em nlvel indus-trial - em que certas indústrias se concentremconjuntamente na produção de suas indústriassecundàrias e até terciàrias.

Talvez o conceito mais diflcil de visualizar sejao da colaboração - uma vez que a empresaprivada se constituiu e prosperou graças à com-petição. Para imaginar um futuro em que a com-petição e a colaboração possam coexistir énecessárlo eliminar o maior obstàculo que não seencontra nem na topografia nem na inconver-sibilidade das moedas nem na constituição (ain-da que todas elas sejam barreiras reais), mas namente de todos aqueles ascéticos que costumam

Revista de Administração de Empresas

nostalgicamente olhar para trás. O "scenárlo"presente prevê a reunião de fundos e talentospara criar uma nova mentalidade empresariallatino-americana - através das universidades deadministração de empresa e também através deCOlóquios e seminàrios, de publicaç08s e con-cursos, de intercâmbio de pessoal e de técnicos- como para conscientizar todos os empresà-rios, de todos os nlveis gerenciais e técnicos,quanto ao fato de que a concentração e a cola-boração são instrumentos vitais para um futuropossível e desejàvel na América latina

A integração, como terceiro fio comum, derivada concentração e da colaboração. Num mundoem que todos os grandes problemas são globais,i nterligados e urgentes, não causa surpresa que aintegração vertical e horizontal faça parte doscenário. Quando estudamos a integraçãoeconOmica européia, percebemos que os fe-nOmenos de concentração, colaboração e in-tegração se tornaram no velho mundo a raiz dofamoso Iivro O desafio americano de Jean-Jac-ques Servan-Schreiber. Cada continente e cadasetbr necessita de um "desafio" para reagir.Dentro do desafio que introduzo, cabem medi-das, de nomenclatura de produtos e qualidades,e de elementos para expressar de forma prag-rnátlca a reversão das tendências atuais. O graude cooperação que se vislumbra estende-se aosinstitutos de pesquisa econOmica, tecnológica,agrícolas e até sociais. Existe dentro desses ins-titutos, na América latina, uma riqueza potencialpara o empresariado que facilmente pode serusada em beneficio de todos. Isto é um exemploda projeção para o contexto que a empresa latino-americana tanto necessitarà na próxima década.Como expressão máxima de tal scenárlo, an-tecipa-se uma colaboração mais estreita entreempresas e governos - fator decisivo no papelda empresa moderna na sociedade do futuro.Num continente no qual a metade de seus ha-bitantes terá menos que 18 anos, a metade doeleitorado menos de 28 e a metade dos dirigen-tes, técnicos e profissionais menos de 38 anos,caberão programas e conceitos jovens, capazesde não ter raizes na vizinhança mais imediatanem no tempo nem no espaço geogràfico. Talvezseja aquela explosão demogràfica que em suasÚltimas conseqOências constitua a maior opor-tunidade, assim como o maior perigo para os em-presàrios. Suas múltiplas Implicaç08s não po-dem ser esboçadas a não ser breve e incom-pletamente. A explosão demogràfica influi nacomposição da famllia, em seus hàbitos e gostoscom reflexos remotos em quase todos os ramosda indústria. O mesmo fenOmeno exiglrà umamaior prioridade governamental para habitação,educação e outras atividades que se traduzem emoportunldades empresariais. Do mesmo modo, ede forma mais indireta, crlará tensOes sociais queobrigarão os governantes a incentivar muito maiso setor rural em geral e o agro-pecuàrio em par-ticular, com profundas repercuesões no setorprivado.

Da mesma maneira, ampllar-se-à a base dapirâmide do mercado com taxas de expansãoraramente vistas na manufaturação de certosprodutos de primeira necessidade. Ao mesmotempo, as tensOes sociais exlglrAo beneficiossociais diretos e indiretos que talvez não tenhamrelação com a produtividade mais Imediata masqueserAo dlflcels de serem ignorados. Taisbeneficios afetarão, por sua vez, o padrão deconsumo, assim como a participação operária ecampeslana no produto nacional bruto. Todasessas mudanças constituirão desafios que osempresários poderão parcialmente prever pormeio do planejamento e ação em conjunto e deuma colaboração mais estreita com o setorpúblico. A urbanização, o transporte, as co-munlcaçOes, a educação - são todos segmentos

da economia que se convertem em oportunidadesempresariais, ainda que multas vezes, no final dacadeia de mudanças.

Tudo isso se traduz, por sua vez, em novoscanais de captação de poupanças e investimen-tos e de prioridades industriais. Através de todo oscenárlo corre o fio mais comum, mais frágil emais importante: o da mútua dependência e dacolaboração requerida se a união faz a força, elaserá um fio forte capaz de tecer o futuro para aempresa latino-americana na próxima década.•1 Não traduzido, aqui, do inglês e significa, literalmente,esboço de um filme dando sua hist6ria, cenas e direçOespara atores, etc.

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