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Manejo dos resíduos sólidos produzidos na cidade de Araporã-MG após a
instalação do aterro controlado
Kelly Rosa Silva Rafael a*, Cyntia Goulart Corrêa Bruno b
a Bióloga, pós-graduada em Gestão Ambiental pela Faculdade Católica de Uberlândia. [email protected]
b Bióloga, pós-graduada em Gestão Ambiental pela Faculdade Católica de Uberlândia. [email protected].
*Autora para correspondência: +55 34 3226-3264. [email protected]
Palavras-chave: lixo, poluição, legislação ambiental.
Título abreviado: Manejo de resíduos sólidos.
Abstract: Solid waste has been a major environmental concern in the modern world.
The capitalist societies are moving in order to destroy the natural resources and the
manufactured products have in general limited useful life, turning up early or late in
garbage, where increasing amounts do not have a final destination. This study aims to
examine the solid waste treatment from Araporã-MG since the installation of the
controlled landfill. And one more goal is to identify the population degree of
environmental perception on this issue. The research was developed through literature
review, work in person on the controlled landfill and an application of questionnaires. It
could be concluded that despite the installation of controlled landfill in the city, the
solid waste treatment does not fit the law, and that the population feels the need for
greater information and government authority’s involvement.
Resumo: Os resíduos sólidos constituem hoje uma das grandes preocupações
ambientais do mundo moderno. As sociedades de consumo avançam de forma a destruir
os recursos naturais, e os bens, em geral, têm vida útil limitada, transformando-se cedo
ou tarde em lixo, cujas quantidades crescentes não se sabe a destinação final. Este
trabalho tem como objetivos analisar como está sendo feito o manejo dos resíduos
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sólidos produzidos na cidade de Araporã-MG, após a instalação do aterro controlado, e
identificar o grau de percepção ambiental que a população local tem em relação a essa
problemática. A pesquisa foi desenvolvida através de levantamento bibliográfico,
trabalhos de campo na área do aterro controlado da cidade e aplicação de questionários.
Foi possível concluir que, apesar da instalação do aterro controlado na cidade, o manejo
dos resíduos não se ajusta à legislação, e que a população sente necessidade de uma
maior informação e comprometimento do poder público.
INTRODUÇÃO
Lixo é todo e qualquer tipo de resíduo sólido produzido e descartado pela atividade
humana doméstica, social e industrial. Tendo composição bem variada, o lixo pode
conter agentes biológicos patogênicos ou resíduos químicos tóxicos, os quais podem
alcançar o homem, por via direta ou indireta, prejudicando-lhe a saúde (CALIJURI,
2007).
Os resíduos sólidos, líquidos ou gasosos são produtos inevitáveis dos processos
econômico-sociais de que dependemos. Assim como no metabolismo dos seres vivos,
nossas sociedades transformam insumos em bens, em serviços e em alguns subprodutos
que precisamos eliminar. Os resíduos sólidos constituem hoje uma das grandes
preocupações ambientais do mundo moderno. As sociedades de consumo avançam de
forma a destruir os recursos naturais e os bens, em geral, têm vida útil limitada,
transformando-se cedo ou tarde em lixo, com cujas quantidades crescentes não se sabe o
que fazer.
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Os municípios brasileiros, em sua maioria, possuem grande demanda por sistemas
urbanos de saneamento de resíduos sólidos urbanos. Dados recentes do Instituo
Brasileiro de Geografia e Estatística (2000) demonstram que no Brasil ainda persiste a
deposição em “lixões” como a forma mais comum de destinação final dos resíduos
sólidos coletados, o que implica a ocorrência de problemas sociais, econômicos,
sanitários, de poluição e de contaminação do meio.
Do ponto de vista sanitário e ambiental, a adoção de soluções inadequadas para o
problema do lixo faz com que seus efeitos indesejáveis se agravem: o risco de
contaminação do solo, do ar e da água, a proliferação de vetores, doenças, dentre outros.
Com a maior concentração de pessoas nas cidades e o aumento da produção individual
de lixo, os locais de tratamento e destinação final devem inspirar maiores cuidados, de
modo a não tornar irreversíveis os danos ambientais daí decorrentes.
Atualmente, a existência de lixões, que são locais onde há lançamento de resíduos sem
quaisquer cuidados, representa uma grave ameaça à saúde pública e ao meio
ambiente. A disposição inadequada de lixo como é o caso dos lixões é perigosa devido
aos enormes problemas que podem causar, como poluição do solo, do ar e da água;
atração de vetores (insetos e roedores); risco de fogo, deslizamento e explosões;
espalhamento de lixo pelo vento e animais, dentre outros.
Outra forma de destinação do lixo também existente e mais adequada é o aterro.
Segundo ABNT (1984), aterro sanitário é "uma técnica de disposição de resíduos
sólidos urbanos no solo sem causar danos à saúde pública e à sua segurança,
minimizando os impactos ambientais. Este método utiliza princípios de engenharia para
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confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume
permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de
trabalho, ou a intervalos menores, se for necessário".
Há uma variação desta forma de disposição chamada aterro controlado, com menores
exigências para proteção ambiental, e cujas recomendações técnicas da ABNT (1985),
são mais simplificadas comparativamente ao aterro sanitário. Não é prevista a
implantação de sistema de coleta e tratamento de líquidos percolados e de sistema de
drenagem de gases. Este método não deve ser considerado como solução definitiva para
o correto equacionamento da disposição final de resíduos sólidos, uma vez que é grande
seu potencial de impacto ambiental, notadamente no que se refere à poluição das águas
superficiais e subterrâneas e do solo.
Diante disso, nos propomos a analisar como está sendo feito o manejo dos resíduos
sólidos produzidos na cidade de Araporã-MG depois da instalação do aterro controlado
e identificar o grau de percepção ambiental que a população local tem em relação a essa
problemática.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do trabalho, foram feitas pesquisas a respeito das temáticas
meio ambiente e resíduos sólidos e também de dados secundários referentes ao
município de Araporã. Os procedimentos operacionais constaram de visita de campo ao
Aterro Controlado, aplicação de questionários à população residente do município, além
da elaboração de gráficos, mapas, esquemas e registros fotográficos para a
espacialização dos locais estudados.
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A legislação ambiental sobre o tratamento dos resíduos sólidos
Em Minas Gerais tem-se como metas até 2011 o fim de 80% dos lixões e disposição
final adequada de 60% dos resíduos sólidos urbanos gerados no estado em sistemas
tecnicamente adequados e devidamente licenciados pelo Conselho Estadual de Política
Ambiental (COPAM). Os municípios que possuem depósitos de lixo a céu aberto estão
descumprindo a legislação ambiental. No estado de Minas Gerais, a política de
disposição adequada de resíduos sólidos urbanos tem como principal diretriz a
Deliberação Normativa COPAM 118/2008, e esta pesquisa se baseará nesta deliberação
para analisar a disposição dos resíduos sólidos no município de Araporã.
O município de Araporã
Araporã encontra-se na região norte do Triângulo Mineiro, a 125 km de Uberlândia e
700 km da capital Belo Horizonte (Figura 1). Suas coordenadas geográficas são 18° 26’
13” S e 49° 11’ 13” W. Possui uma área de 298,490 km², população estimada de 6.414
habitantes e densidade populacional de 20,1 habitantes/km² (IBGE, 2008).
Figura 1. Localização do município de Araporã-MG.
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A totalidade do território de Araporã está ocupada por lavouras e pastagens, restando
reduzidas áreas onde a vegetação nativa ainda permanece com exemplares da flora
original da floresta subcaducifólia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A disposição dos resíduos sólidos na cidade de Araporã
Em março de 2006, a prefeitura de Araporã iniciou o processo de regularização do
aterro controlado a partir do protocolo do Formulário Integrado de Caracterização de
Empreendimento – FCEI, junto à SUPRAM , solicitando autorização ambiental de
funcionamento para destinação de resíduos sólidos urbanos e resíduos de serviços de
saúde. Somente em maio de 2007 o funcionamento do Aterro Controlado foi autorizado.
Até então, os resíduos sólidos da área urbana e rural da cidade de Araporã eram
depositados no lixão à beira da rodovia BR-452.
A partir da observação em campo e da análise da DN COPAM 118, foi verificado que o
aterro controlado de Araporã possui algumas deficiências, como:
- na disposição do lixo não havia nenhum critério e o funcionário responsável não usava
equipamento de segurança e higiene;
- apesar de a área ser cercada e possuir portão de entrada, este portão se encontrava
aberto, facilitando a entrada de pessoas (Figura 2);
- não há nenhum controle dos resíduos que entram no aterro;
- não há sistema de drenagem pluvial que possa minimizar o contato da água da chuva
com a massa de lixo;
- de acordo com a DN COPAM 118, para cidades com população entre 5.000 e 10.000
habitantes como é o caso de Araporã, é necessário fazer o recobrimento do lixo com
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terra no mínimo duas vezes por semana. Porém, de acordo com um funcionário do
aterro, não houve nenhum recobrimento desde a instalação do mesmo. Isto ocasiona um
intenso mau-cheiro no local, além de atrair vetores de doenças, como insetos (moscas,
mosquitos) e algumas aves (urubus) (Figura 3);
- foi verificada disposição irregular de pneumáticos (Figura 4) e de resíduos
hospitalares (Figura 5).
Figura 2. Portão de acesso ao aterro aberto.
Figura 3. Presença de animais (urubus) na área do aterro.
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Figura 4. Disposição irregular de pneus no aterro.
Figura 5. Disposição irregular de resíduos hospitalares no aterro
Aplicação de questionários à população - percepção quanto à importância de um
aterro controlado
Com o objetivo de identificar a percepção que os moradores de Araporã têm a respeito
da instalação do novo aterro controlado na cidade e qual sua visão a respeito dos
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resíduos sólidos, aplicou-se, de forma aleatória, um questionário com questões abertas e
de múltipla escolha a 60 residentes da área urbana.
A população selecionada era composta por 42% pessoas do sexo masculino e 58% do
sexo feminino, sendo que 59% pertenciam à faixa etária entre 15 e 30 anos e 41% acima
de 30 anos. Com relação ao nível de escolaridade, a maioria possuía o ensino
fundamental completo (55%), seguidos por 28% com ensino fundamental incompleto,
13% com ensino superior e 4% com pós-graduação.
A presente pesquisa demonstrou que 70% da população entrevistada ainda não conhecia
exatamente o local do novo aterro controlado, desconhecendo, portanto, se os resíduos
sólidos são destinados de forma adequada (Figura 6).
70%
30%
Sim
Não
Figura 6. Gráfico referente à pergunta do questionário ‘Você conhece o aterro da
cidade?’
Quando foi questionado aos entrevistados se estes sabiam as diferenças entre um
tratamento de resíduos de um aterro e de um lixão, 81% das pessoas não souberam
explicar as diferenças básicas (Figura 7). Este resultado é preocupante, pois, quando
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não se conhece as diferenças básicas entre um aterro e um lixão, torna-se complicado
para a população entender e cobrar um tratamento mais adequado dos resíduos sólidos.
No entanto, foi verificado em alguns depoimentos que há pessoas que sabem as
diferenças entre aterro e lixão: “O aterro é uma forma mais adequada para tratar do
lixo da cidade, pois apresenta técnicas adequadas de monitoramento para evitar a
poluição das águas, do solo e do ar. Já o lixão é um depósito irregular, onde se joga o
lixo aleatoriamente sem tratá-lo.” (Depoimento de um morador).
19%
81%
Sim
Não
Figura 7. Gráfico referente à pergunta do questionário ‘Você sabe a diferença entre um
aterro e um lixão?’
Já quando indagados sobre se os lixões provocam algum dano ao meio ambiente, 86%
dos entrevistados disseram que sim, e que os lixões provocam impactos ambientais
como poluição do solo e do lençol freático, sendo locais de proliferação de animais
nocivos e que transmitem doenças (Figura 8). Assim, apesar de não saberem diferenças
técnicas entre um aterro controlado e um lixão, as pessoas conseguem perceber que os
lixões provocam impactos no meio ambiente.
10
86%
14%
Sim
Não
Figura 8. Gráfico referente à pergunta do questionário ‘Os lixões provocam algum dano
ao meio ambiente?’
Para verificar se a população possuía conhecimento sobre a instalação do novo aterro,
perguntamos aos entrevistados se estes sabiam que a cidade havia desativado o lixão e
instalado um aterro controlado. Para esta pergunta, 64% das pessoas responderam que
ficaram sabendo por meio de jornais locais e por comentários da população, e 36%
disseram não saber do novo aterro (Figura 9). Assim, verifica-se que as políticas
públicas ainda são pouco voltadas à informação da população a respeito dos projetos
relacionados ao meio ambiente. O comentário de um entrevistado confirma tal situação:
“Questões de meio ambiente ainda dão muito poucos votos em relação às questões de
saúde, moradia, emprego e alimentação”.
64%
36%
Sim
Não
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Figura 9. Gráfico referente à pergunta do questionário ‘Você sabia que a
cidade desativou o lixão e agora instalou um aterro controlado?’
Questionamos também aos entrevistados a quem cabia a responsabilidade do lixo
produzido na cidade, e 80% disseram que cabe ao poder público (prefeitura e estado),
manter a cidade limpa, fazer a coleta desse lixo e dispô-lo de forma adequada. Somente
20% acha que a população é que tem que ser a responsável pelo lixo gerado e cobrar por
uma melhoria no tratamento do mesmo (Figura 10).
47%
33%
20%Prefeitura
Estado
população
Figura 10. Gráfico referente à pergunta do questionário ‘Na sua opinião, a quem cabe
a responsabilidade do lixo produzido na cidade?’
Os serviços de saneamento básico, nos quais se incluem os serviços de limpeza pública,
estão a cargo das prefeituras e dos estados (esgoto/água). De acordo com a legislação
federal, sob o Decreto n° 49.974-A de 21/01/61, cabe aos governos municipais a coleta,
o transporte, o tratamento e a disposição final dos resíduos sólidos urbanos (entendidos
como lixo domiciliar, comercial e público) produzidos na cidade, em condições que não
tragam malefícios ou inconvenientes à saúde, ao bem estar público e à estética.
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CONCLUSÕES
A implantação do aterro controlado no município de Araporã demonstra que há
preocupação com a melhoria da questão dos resíduos sólidos gerados. No entanto, foi
observado neste trabalho que ainda falta muito para que o tratamento de resíduos
sólidos da cidade se torne o mais adequado às necessidades do município. Não basta
apenas encontrar uma área, cercá-la e obter a autorização de funcionamento do órgão
ambiental; é preciso também haver comprometimento do poder público tanto com
relação às medidas de adequação do aterro, quanto com relação a melhorias do mesmo.
Além disso, é importante que sejam realizados trabalhos de conscientização ambiental e
informação da população quanto à importância deste tipo de destinação de resíduos
sólidos.
Assim, é por meio do tratamento de resíduos sólidos de forma adequada e da
participação efetiva da sociedade que serão vislumbradas mudanças de comportamento,
as quais levarão a melhorias na qualidade do meio ambiente e, consequentemente, da
população.
A minimização do impacto ambiental gerada pela criteriosa coleta, tratamento e
disposição dos resíduos urbanos, utilizando-se dos instrumentos jurídicos,
administrativos, operacionais e sociais praticados na regulação e organização dessa
atividade, melhora a qualidade de vida local e dá um passo positivo para o
desenvolvimento sustentável da região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Apresentação de
projetos de aterros de resíduos sanitários sólidos urbanos. Procedimento - NBR 8419,
1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Apresentação de
projetos de aterros de resíduos sanitários sólidos urbanos. Procedimento - NBR 8419,
maio de 1985.
CALIJURI, ML et al. Identificação de áreas alternativas para disposição de resíduos
sólidos na região do Baixo Ribeira do Iguape - SP. Engenharia Sanitária e Ambiental.
[online]. 2007, vol. 12, no. 3, pp. 335-342. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
41522007000300013&script=sci_arttext.
DECRETO Nº 49.974, de 21 de janeiro de 1961. Regulamenta, sob a denominação de
Código Nacional de Saúde, a Lei nº 2.312, de 3 de setembro de 1954, de "Normas
Gerais Sobre Defesa e Proteção da Saúde".http://www.lei.adv.br.
Deliberação Normativa Nº118, de 27 de junho de 2007. Altera os artigos 2º, 3º e 4º da
Deliberação Normativa 52/2001, estabelece novas diretrizes para adequação da
disposição final de resíduos sólidos urbanos no Estado, e dá outras providências.
http://www.semad.com.br.
GUIMARÃES, LT. Utilização do Sistema de Informação Geográfica (SIG) para
identificação de áreas potenciais para disposição de resíduos na Bacia do Paquequer,
município de Teresópolis - RJ. Rio de Janeiro, 2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional
de Saneamento Básico 2000. http://www.ibge.gov.br/ibge/presidencia/noticias.
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