1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980)...

90
1 1. INTRODUÇÃO A bacia do rio Piracicaba abrange 55 municípios do Estado de São Paulo com população aproximada de 3.000.000 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2002). Recentemente tem recebido atenção especial, pois apresenta grandes problemas no aproveitamento de suas águas (BALLESTER, 1997). Integrante da bacia do rio Piracicaba, a bacia do rio Corumbataí é uma alternativa de abastecimento de água para vários municípios, mostrando-se importante regionalmente, não só porque ainda possui águas de boa qualidade, mas também por apresentar ecossistemas pertencentes a fragmentos situados na topografia acidentada da cuesta do arenito Botucatu, com elementos raros na paisagem do interior do Estado (MERLI, 1997; VIANA; MENDES, 1997). Esta bacia tem sofrido crescente deterioração na qualidade e quantidade de água ofertada para o abastecimento público, além de um empobrecimento da sua diversidade biológica (BALLESTER, 1997). Existem na literatura muitos trabalhos propondo técnicas de reabilitação de rios europeus e norte americanos, já que estes sofreram grandes alterações devido ao processo de desenvolvimento urbano. A complexidade biológica dos ambientes tropicais impede a aplicação direta de protocolos de diagnóstico ambiental para determinar o grau de alteração do ambiente, exigindo uma adaptação ou mesmo a criação de novas metodologias. A melhor opção é evitar que os ambientes naturais tropicais cheguem ao estado em que se encontram os ambientes temperados. Para isto, torna-se necessário um melhor conhecimento da área e proposição de estratégias de conservação e reabilitação nos sistemas que já se encontram degradados. O conhecimento de uma determinada área deve levar em consideração o conceito de integridade biológica ou ecológica que pode ser definido como a capacidade do ecossistema em manter sua organização mesmo com mudanças em suas condições ambientais (WOODLEY, 1993) ou ainda como a capacidade de um ambiente suportar e manter um conjunto de seres vivos da mesma forma que um habitat natural da região (KARR, 1993). 

Transcript of 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980)...

Page 1: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

1

1. INTRODUÇÃO

A   bacia   do   rio   Piracicaba   abrange   55   municípios   do   Estado   de   São   Paulo   com   população

aproximada de 3.000.000 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA ­

IBGE,   2002).   Recentemente   tem   recebido   atenção   especial,   pois   apresenta   grandes   problemas   no

aproveitamento de suas águas (BALLESTER, 1997). 

Integrante da bacia do rio Piracicaba, a bacia do rio Corumbataí é uma alternativa de abastecimento

de água para vários municípios, mostrando­se importante regionalmente, não só porque ainda possui águas

de   boa   qualidade,   mas   também   por   apresentar   ecossistemas   pertencentes   a   fragmentos   situados   na

topografia acidentada da cuesta do arenito Botucatu, com elementos raros na paisagem do interior do Estado

(MERLI, 1997; VIANA; MENDES, 1997). Esta bacia tem sofrido crescente deterioração na qualidade e

quantidade de água ofertada para o abastecimento público, além de um empobrecimento da sua diversidade

biológica (BALLESTER, 1997). 

Existem na literatura muitos trabalhos propondo técnicas de reabilitação de rios europeus e norte

americanos, já  que estes sofreram grandes alterações devido ao processo de desenvolvimento urbano. A

complexidade biológica dos ambientes  tropicais  impede a aplicação direta  de protocolos  de diagnóstico

ambiental para determinar o grau de alteração do ambiente, exigindo uma adaptação ou mesmo a criação de

novas metodologias. A melhor opção é evitar que os ambientes naturais tropicais cheguem ao estado em que

se encontram os ambientes temperados. Para isto, torna­se necessário um melhor conhecimento da área e

proposição de estratégias de conservação e reabilitação nos sistemas que já se encontram degradados.

O conhecimento de uma determinada área deve levar em consideração o conceito de integridade

biológica ou ecológica que pode ser definido como a capacidade do ecossistema em manter sua organização

mesmo com mudanças em suas condições ambientais (WOODLEY, 1993) ou ainda como a capacidade de

um ambiente suportar e manter um conjunto de seres vivos da mesma forma que um  habitat  natural da

região (KARR, 1993). 

Page 2: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

2

A  integridade  biológica  de  um  ecossistema  aquático  pode   ser   vista   como  um   reflexo  de   seus

componentes:

• Qualidade da água: temperatura, turbidez, oxigênio dissolvido, química orgânica e inorgânica, metais

pesados e substâncias tóxicas;

• Estrutura   do  habitat:   tipo   de   substrato,   profundidade   da   coluna   d’água,   velocidade   da   corrente,

complexidade estrutural e temporal do habitat físico;

• Regime do fluxo: volume de água, distribuição temporal do fluxo;

• Fonte de energia: tipo, quantidade e tamanho da partícula da matéria orgânica que entra no sistema,

padrão sazonal da disponibilidade de energia;

• Interações biológicas: competição, predação, doenças, parasitismo.

Qualquer atividade humana que degrade um ou mais destes componentes, interfere na qualidade do

recurso aquático. Durante muito tempo os esforços para a manutenção da qualidade dos recursos hídricos

ficaram restritos à manutenção da qualidade da água sem considerar a estrutura do habitat e os organismos

que ali vivem que são tão importantes quanto a qualidade da água. O termo habitat define o local onde uma

espécie vive, fornecendo uma variedade de condições, mas sem especificar a quantidade, disponibilidade ou

utilização dos recursos que satisfazem as necessidades da espécie, ou seja, seu nicho ecológico (BEGON;

HARPER; TOWNSEND, 1996). 

Os   recursos   de   um   organismo   vivo   correspondem   à   matéria   prima   da   qual   seus   corpos   são

formados, à energia que está envolvida em suas atividades e o espaço no qual ele atua ou passa todo seu

ciclo de vida ou parte dele (BEGON; HARPER; TOWNSEND, 1996). 

A quantidade e variedade de  habitats  nos rios fornecem extensa gama de alimentos e substratos

possíveis e podem ser utilizados para caracterizar as condições ambientais. O alimento surge a partir do

próprio   sistema  aquático   (autóctone)  ou  de   sistemas  externos   (alóctone).  No  entanto,   são  basicamente

dependentes de material externo originado a partir  de sedimento aluvial,  nutrientes dissolvidos, material

trazido de sistemas com fluxo superficial ou produtos decompostos em zonas de inundação (WELCOMME,

1985).

Page 3: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

3

Diagnósticos  ambientais   baseados  em estudos  de   assembléias  de  peixes  apresentam  numerosas

vantagens devido à disponibilidade de informações sobre o ciclo de vida de grande número de espécies e

por   incluírem   uma   variedade   de   hábitos   alimentares   (onívoros,   herbívoros,   insetívoros,   planctófagos,

carnívoros)   compreendendo   alimentos   tanto   de   origem   aquática   como   terrestre.   Outra   vantagem   é   a

possibilidade de encontrar este grupo animal no topo da cadeia alimentar, diferente de outros indicadores de

qualidade de água, como diatomáceas e invertebrados, o que favorece uma visão integrada do ambiente

aquático (HARRIS, 1995). 

Durante   seu  ciclo  de  vida,  os  peixes   requerem  diferentes  habitats  ou  unidades   funcionais  que

fornecem condições de microhabitat para cada estágio específico de sua vida como: período de crescimento

ou residência em lagoas marginais isoladas do canal principal; período de reprodução e desova; períodos

larval e juvenil (COWX; WELCOMME, 1998).

O  microhabitat  é  o local  onde o peixe é  encontrado em um determinado instante de tempo e é

diretamente   influenciado   pela   complexidade   estrutural   do   riacho,   intensidade   luminosa,   variáveis

hidráulicas,   variáveis   físico­químicas   (WHITESIDE;  McNATT,   1972),   substrato   e   variáveis   bióticas

(ZARET; RAND, 1971; FAUSCH; WHITE, 1981; SCHLOSSER; EBEL, 1989).

Para completar seu ciclo de vida muitos peixes necessitam desovar em ambientes com características

muito diferentes das quais os adultos vivem, necessitando subir o rio ou encontrar um ambiente mais calmo,

muitas   vezes   distante   dos   locais   onde   passam   a   maior   parte   de   sua   vida   se   alimentando   (COWX;

WELCOMME, 1998). 

Em sistemas de rios com planície de inundação a alta diversidade biológica está vinculada à presença

de  ambientes   lênticos   situados  em vales  aluviais  que  ocorrem ao   longo  de   seus  cursos.  Estas  áreas  de

inundação estão  sujeitas  a  pulsos  sazonais  do  nível  do  rio,  cuja  variação  tem sido  considerada  como o

principal  fator  determinante  na dinâmica  destes  sistemas  (JUNK; BAYLEY; SPARKS, 1989;  BAYLEY,

1995;  McCONNELL, 1999).  As planícies  de  inundação  se  constituem em locais  de  desova para  muitos

peixes fluviais e são reconhecidamente criadouros naturais, devido a sua diversidade de habitat, fornecendo

grande quantidade de alimento particulado e abrigo contra predadores (GOULDING, 1979; PAIVA, 1983;

Page 4: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

4

McCONNELL, 1999).

Vannote, Minshall,  Cummins, Sedell e Cushing  (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo

(“the river continuum concept”), estabelecendo que os rios são gradientes físicos onde os diversos  habitats

estão   ligados   ao   longo   de   um   contínuo   e   a   distribuição   dos   organismos   é   estabelecida   de   maneira   a

conformar­se às condições físicas do canal, que por sua vez são previsíveis a partir de sua posição na rede de

drenagem. Portanto, ambiente e processos biológicos devem estar integrados de maneira previsível.

Para Matthews (1998), a variedade de habitats ocupados pelos peixes é tão grande quanto o próprio

grupo taxonômico. O ambiente físico por eles selecionado depende de processos geológicos, morfológicos e

hidrológicos que influenciam a vegetação marginal que forma um mosaico ao longo do canal.  Este canal

pode   ser   concebido  como  uma  estrutura  de  quatro  dimensões:   longitudinal,   lateral,  vertical   e   temporal

(WARD, 1989; COWX; WELCOMME, 1998). 

A dimensão lateral relaciona a mata de galeria com o canal do rio (COWX e WELCOMME, 1998).

Esta interação fornece diferentes habitats, não só como locais para alimentação e refúgio como também para

desova. Em riachos de cabeceira, ou seja, de baixa ordem, a diversidade de habitats aquáticos depende muito

dos troncos de madeira caídos, que passam a funcionar como ecótonos, modeladores da geomorfologia do

canal fornecendo mais fontes de recursos para os peixes. 

A dimensão vertical  refere­se a  interação entre  o canal  e sua profundidade.  Esta dimensão tem

muita importância para aquelas espécies que põem seus ovos em depressões rochosas, conhecidas como

poções (DIDIER; KESTEMONT, 1996).

A característica mais marcante de sistemas lóticos é a existência de um eixo longitudinal, devido ao

fluxo   unidirecional,   que   impõe   diferentes   processos   em   sua   organização   (BELLIARD;   THOMAS;

MONNIER, 1999).  O nível  de organização ecológica reflete  a heterogeneidade ambiental,  destacando a

importância  das  dimensões   temporais   e  espaciais   (POFF;  WARD,  1990),  onde,  boa  parte  dos   estudos

temporais   trabalha   com   estabilidade   e/ou   persistência   das   comunidades   (CONNEL;   SOUZA,   1983),

enquanto que estudos longitudinais enfocam o quanto as características bióticas e abióticas se alteram ao

Page 5: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

5

longo do canal (ANGERMEIER; SCHLOSSER, 1989; OSBORNE; WILEY, 1992).

Tendo em vista a alta complexidade de um sistema natural e sua multidimensionalidade, utilizar

apenas  um simples atributo,  como  índice de diversidade ou medidas  de qualidade da água,  no caso de

sistemas aquáticos, é limitado na avaliação de todas as formas de degradação desses ambientes.

Embora  a  diversidade  biológica  e  as  características  naturais  das  assembléias  de peixes  estejam

diretamente   relacionadas   com  a  variedade   e  extensão  dos  habitats  naturais  de  uma  bacia  hidrográfica

(COWX e WELCOMME, 1998) os índices de diversidade ou eqüabilidade de espécies incorporam poucas

informações   biológicas   ignorando   a   função   das   espécies   nas   assembléias.   Eles   não   consideram   a

identificação   da   espécie   e   sua   abundância   absoluta,   seus   valores   podem   variar   muito,   mesmo   sem   a

ocorrência de distúrbios, são sensíveis quanto ao nível taxonômico e, alguns índices são difíceis de serem

interpretados   (FAUSH;   LYONS;   KARR;   ANGERMEIER,   1990).   Neste   sentido,   uma   avaliação   mais

integrada do ambiente, torna­se necessária.

Page 6: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

6

2. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi apresentar uma caracterização das assembléias de peixes na

bacia do rio Corumbataí e fornecer ferramentas para a avaliação de seu  status  ambiental. Diante

disto, foram levantados argumentos que possibilitem responder as seguintes questões:

1. A   análise   linear   de   covariância   (ANCOVA),   utilizando   a   riqueza   de   espécies   e   variáveis

ambientais, é capaz de revelar a variação espaço­temporal das assembléias de peixes?

2. Alterações na relação espécie­área refletem as ações do processo de urbanização e uso da terra

sobre as assembléias de peixes?

3. Existe algum padrão de associação entre a riqueza de espécies e o estado de conservação da

mata ciliar?

4. As espécies de peixes podem ser  utilizadas  como indicadoras do estado de conservação do

ambiente?

Page 7: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

7

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Área de estudo

A bacia  do rio  Corumbataí   abrange os municípios  de Rio Claro,  Corumbataí,  Analândia,  Santa

Gertrudes,   Ipeúna   e   Charqueada  com   168.218,   3.794,  3.582,   15.906,   4.340   e   13.037   habitantes,

respectivamente (IBGE, 2000).

Esta bacia faz parte da  primeira  zona hidrográfica do Estado de São Paulo que abrange a parte

superior do rio Tietê desde suas cabeceiras até a barragem de Barra Bonita num percurso de 592 km. Esta

zona é  responsável pela drenagem de 32.710 km2  e compreende dez bacias hidrográficas,  dentre elas,  a

bacia do rio Piracicaba que é composta pelas bacias dos rios Jaguari com 4.339 km2, Corumbataí com 1.710

km2 e Atibaia com 1.030 km2 (CETESB, 1984).

A   bacia   do   rio   Corumbataí   situa­se   na   porção   nordeste   da   Bacia   Sedimentar   do   Paraná,   na

Depressão Periférica Paulista entre as coordenadas geográficas 22º05’S a 22º30’S e os meridianos 47º30’W

e 47º50’W (Figura 1). 

Page 8: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

8

Figura 1: Bacia hidrográfica do Corumbataí (VIADANA, 1992).

As   informações   que   se   seguem   são   referentes   à   geologia,   geomorfologia,   pedologia,   clima,

precipitação, balanço hídrico da bacia, ocupação e uso da terra encontradas no ATLAS ambiental da bacia

do rio Corumbataí (2002).

No fundo dos vales  dos rios  Corumbataí  e  Passa  Cinco ocorrem afloramentos  de várias  rochas

sedimentares de origem no Carbonífero (grupo Itararé)  e em diversas partes dos leitos desses rios e do

Cabeça   e   Ribeirão   Claro   existem   muitas   ocorrências   de   diques   e   soleiras   de   diabásio,   geneticamente

relacionados aos  basaltos da Formação Serra Geral  de origem no Cretáceo inferior (rochas magmáticas

intrusivas) (Figura 2).

O   cenário   de   formação   da   bacia   remonta   situações   fluviais,   litorâneas,   marinhas   e   desérticas,

ocorrência de clima frio e quente, avanços e recuos de geleiras, retração e expansão da vegetação e sugere a

ligação entre o nosso continente e o africano. 

Page 9: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

9

A   ocorrência   de   folhelhos   acinzentados   e   intercalações   de   calcários   dolomíticos   e   folhelhos

pirobetuminosos sustenta a extração de calcário dolomítico, que serve de corretor da acidez de solos, nas

pedreiras de Assistência, Ipeúna e Piracicaba. Esta formação (Irati) ocorreu no Permiano e seus sedimentos

são a matriz  de fósseis  de répteis  mesossaurídeos que ocorrem também em sedimentos semelhantes  na

África, sugerindo que as regiões eram próximas na época em que estes animais nadavam nas águas de um

corpo marinho fechado, à semelhança de um golfo. 

A ocorrência de siltitos e argilitos cinza­avermelhados e arroxeados fornece matéria­prima para as

indústrias do pólo cerâmico da região. Esta formação (Corumbataí) ocorreu também no Permiano e nela

podem ser  encontrados   fósseis  de  conchas  bivalves  e  dentes  e  escamas  de  peixes   apontando  para  um

ambiente marinho costeiro, pantanoso e eventualmente lacustre. O clima desta época devia ser mais quente

e seco.

A região também foi palco de situações flúvio­desérticas, com migração de dunas de areia e regiões

interdunas mais úmidas, que foram responsáveis pela formação Pirambóia que ocorreu no Triássico.

A origem de rochas magmáticas intrusivas estão relacionadas ao extenso fenômeno de magmatismo

de   fissura  ocorrido  no   início  do  período  Cretáceo,   como  uma   resposta   intra­placa   frente   aos   esforços

referentes à separação da América do Sul da África, fenômeno este que foi um dos maiores de seu gênero

em toda a história da Terra.

A formação mais recente ocorreu no Cenozóico (Terciário e/ou Quaternário) e fornece areia, muito

utilizada na construção civil e na indústria de vidro e de moldes de fundição. Esta unidade deve ter sido

depositada em condições continentais fluviais em clima semi­árido.

Page 10: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

10

Figura 2: Mapa geológico da bacia do rio Corumbataí (ATLAS..., 2002).

A   bacia   do   rio   Corumbataí   pertence   à   Depressão   Periférica   Paulista   do   Médio   Tietê   com

comportamento interplanáltico, suavemente ondulado. As cabeceiras do rio Corumbataí  e seus afluentes:

Passa Cinco, Cabeça e Ribeirão Claro, localizam­se nas encostas da cuesta, cujo ponto mais alto está na

Page 11: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

11

Serra do Cuscuzeiro com 1058 m e se deslocam para o sul indo alimentar o rio Piracicaba que se apresenta

com 470 m de altitude (KOFFLER, 1994) (Figura 3).

Figura 3: Modelo tridimensional do relevo da bacia do rio Corumbataí (ATLAS..., 2002).

Na maior parte da bacia do rio Corumbataí ocorre solo podzólico vermelho­amarelo que, segundo

Vieira (1975) são solos bem desenvolvidos, bem drenados, ácidos e na sua maioria de fertilidade natural

baixa/média. Nas cabeceiras dos rios Corumbataí  e Passa Cinco ocorre areia quartzosa as quais formam

solos que apresentam um perfil em evolução, com baixa atividade de argila, permeáveis, de textura leve e,

geralmente,  são solos profundos. Na Floresta Estadual  Navarro de Andrade, antigo horto florestal,  e na

cidade de Santa Gertrudez encontram­se solo do tipo latossolo roxo que é um dos solos mais importantes do

ponto de vista agrícola pela fertilidade natural apresentadas, caracterizando­se principalmente por possuir

coloração dominante vermelho fosco (Figura 4).

Page 12: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

12

Figura 4: Mapa pedológico da bacia do rio Corumbataí (ATLAS..., 2002).

O clima na região da bacia do rio Corumbataí, na classificação de Köppen, é do tipo Cwa, ou seja,

subtropical, seco no inverno e chuvoso no verão, com temperatura média anual variando no mês de janeiro

entre 20 e 23.7ºC e em julho entre 14.9 e 17.1ºC (ATLAS..., 2002).

Page 13: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

13

Segundo Troppmair (1975) o regime de chuvas, quanto à distribuição anual, é tropical, com duas

estações definidas: período seco que se estende pelos meses de março a setembro, com menos de 20% das

precipitações totais, correspondendo às médias próximas de 250 mm em 20 dias e período chuvoso que se

prolonga   de   outubro   a   fevereiro,   sofrendo   a   influência   da   massa   tropical,   com   mais   de   80%   das

precipitações anuais, que atingem a média de 1100 mm de 60 a 70 dias.

Zavatini e Cano (1993) estudaram as variações do ritmo pluvial na área da bacia e arredores durante

o período de 1962 a 1991,  segundo estes  autores,  os maiores   índices  de pluviosidade  se  encontram na

porção noroeste, cujos níveis de altitude estão entre 800 e 1000m. Isso demonstra a existência de um certo

“efeito orográfico”, principalmente nos períodos de verão e primavera. Este efeito quase se extingue durante

o inverno e outono tornando a porção central da bacia mais chuvosa, nesse período. 

O balanço hídrico estudado por Koffler e Moretti (1991) mostrou que na região a evapotranspiração

real (1100 mm) é muito próxima da potencial (1193 mm). Os déficits concentram­se no período de abril a

agosto e,  considerando­se apenas o balanço hídrico,  estão disponíveis cerca de 9 meses de precipitação

satisfatória para o desenvolvimento de grande parte das culturas agrícolas.

A história sobre a ocupação e desenvolvimento da bacia do Corumbataí tem seus primeiros registros

no início do século XVIII por ser uma das rotas de exploração de ouro em Mato Grosso. A efetiva ocupação

e   colonização  da   região  ocorreram  no  século  XIX com a   expansão  das   fazendas  de   criação  de  gado,

desenvolvimento da lavoura canavieira e do café. No início do XX a cultura de café entrou em declínio e

como conseqüência a região entrou em decadência econômica.  Até  a década de 70 pode­se dizer que a

região ficou estagnada.  Nesta  época,  na região de Rio Claro existiam algumas destilarias  e fábricas de

cerveja. Merece destaque a indústria mecânica representada pela Companhia Paulista de Estrada de Ferro

que nas décadas de 40 e 50 chegaram a empregar cerca de 3.000 pessoas. Juntamente com esta indústria

mecânica, visando suprir  a produção de dormentes para a Ferrovia Paulista,   implantou­se na região um

núcleo pioneiro de reflorestamento com eucaliptos, o Horto Florestal da Companhia Paulista. Atualmente, a

maior concentração das atividades industriais da região ocorre em relação à extração e transformação de

minerais não metálicos, principalmente cerâmicas, calcários e olarias (ATLAS..., 2002).

Page 14: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

14

Apesar  da crise  econômica,  a partir  da década de 80, acarretar  diminuição no desenvolvimento

econômico e populacional, a região da bacia do rio Piracicaba apresentou crescimento populacional acima

da média estadual. Houve decréscimos absolutos da população rural que migrou para a bacia do Piracicaba

aumentando em 92% a sua taxa de urbanização (ATLAS..., 2002).

Quanto ao uso da terra, na bacia ocorre o predomínio de áreas ocupadas por pastagem e cana­de­

açúcar. As áreas de reflorestamento e silvicultura (Eucaliptus e Pinus) superam a de vegetação natural: mata

e cerrado. As duas áreas de reflorestamento de eucalipto mais extensas são a Floresta Estadual Navarro de

Andrade e o Horto de Camacuã, entre Rio Claro e lpeúna. A cultura de laranja está presente nas regiões de

cabeceira do rio Corumbataí.  Koffler (1993) constatou a invasão das culturas de ciclo longo, como a da

cana­de­açúcar, em áreas adequadas para culturas de ciclo curto e observou a ocupação por pastagem em

áreas recomendadas para silvicultura e em grande parte das áreas onde a vegetação natural deveria ter sido

mantida (Figura 5).

Zaine e Perinotto (1996) argumentam que as áreas de mata da bacia se concentram nas cuestas, nos

morros testemunhos e na Fazenda São José, a nordeste da cidade de Rio Claro. Manchas de cerrado ainda

ocorrem nas  proximidades  de  Corumbataí,  Analândia  e   Itirapina.  Alguns   remanescentes  da  mata  ciliar

podem ser encontrados ao longo dos rios Cabeça e Passa Cinco e no alto curso dos rios Corumbataí  e

Ribeirão Claro.

Page 15: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

15

Figura 5: Uso e ocupação do solo na bacia do rio Corumbataí em 2000 (ATLAS..., 2002). 

Através de levantamento dos trabalhos realizados na região percebe­se que a caracterização abiótica

é  bastante  detalhada e o nível  de conhecimento é  acentuado.  A caracterização biótica  da flora   torna­se

incipiente devido à existência de pequenas manchas que restaram, e conseqüentemente, a fauna, que está

sempre   associada   à   vegetação   local,   apresenta   pouco   detalhamento.   Alguns   levantamentos   merecem

Page 16: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

16

destaque   como   o   de   Viadana   (1992)   que   estudou   os   perfis   ictiobiogeográficos,   Leonel   (1992)   que

apresentou estudos relacionados com anfíbios e Rozelli e Abe (1994) que apresentaram dados da fauna de

mamíferos não voadores.

3.2. Locais de coleta

As coletas foram realizadas em 4 rios principais da bacia: Passa Cinco, Corumbataí, Ribeirão Claro

e Cabeça, sendo amostrados trechos de cerca de 150m em três diferentes altitudes em cada riacho. Foram

realizadas duas expedições em cada ponto, uma durante o período de março a junho e outra entre setembro e

dezembro de 2001, totalizando 24 coletas (Figura 6). 

Os pontos foram classificados hierarquicamente quanto ao seu posicionamento ao longo do canal

segundo a sua ordem. 

Page 17: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

17

Figura 6: Mapa hidrográfico da bacia do rio Corumbataí com localização dos pontos de coleta. Modificadoa partir do ATLAS ambiental da bacia do rio Corumbataí (2002).

Page 18: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

18

3.2.1. Rio Passa Cinco

O rio Passa Cinco apresenta uma área de drenagem com 525 km2 e percorre cerca de 60 km desde a

sua nascente, com altitude de 1000 m, até sua foz no rio Corumbataí, com altitude de 480 m (Figura 7).

O primeiro ponto de coleta 22º22’S 47º46’W apresenta um relevo característico de “cuesta” com

afloramento rochoso e barrancos bem estáveis. A vegetação marginal é responsável por um sombreamento

entre 51 e 75% e apresenta­se parcialmente desmatada com estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo com áreas

cobertas por capim. Seu leito é pedregoso com cascalhos e pouca quantidade de areia. Este ponto apresentou

uma variação grande de mesohabitats, dentre eles se destacaram poças, rio corrente e corredeiras. Devido à

existência  de  poças,   este  ponto  é  muito   freqüentado  por  pescadores   esportivos  à   procura  de   lambaris

(Astyanax spp.). 

O segundo ponto 22º25’S 47º43’W possui um relevo composto por áreas suavemente onduladas. A

vegetação marginal proporciona um sobreamento de 0 a 25%, apresentando­se desmatada. A vegetação é

composta por capim, cana­de­açúcar e eucalipto. O leito é constiuído por areia e cascalho. Neste ponto foi

possível encontrar os três  mesohabitats: poça, rio corrente e corredeira.  À cerca de 100 m abaixo deste

ponto observou­se pescadores à procura de lambaris. 

O terceiro ponto 22º31’S 47º39’W localiza­se na região de confluência entre os rios Passa Cinco e

Corumbataí. O relevo apresenta áreas de planície totalmente cultivadas com cana­de­açúcar. A vegetação

marginal contribui com um sombreamento entre 26 e 50%, apresentando­se parcialmente desmatada. Seu

leito  é   formado por  areia  e cascalho.  No trecho do rio  Corumbataí,  que antecede  a confluência,  foram

visualizados cardumes de tilápias, o que atrai pescadores.

Page 19: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

19

Figura 7: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no rio Passa Cinco.

3.2.2. Rio Corumbataí

O rio Corumbataí apresenta uma área de drenagem com 1710 km2 e percorre cerca de 110 km desde

a sua nascente, com altitude de 1058 m, até sua foz no rio Piracicaba, com altitude de 470 m (Figura 8).

O primeiro  ponto  de coleta  22º10’S  47º39’W localiza­se  à  cerca  de 3 km abaixo  da cidade  de

Analândia.  Para  chegar  a  este  ponto  existe  um declive  acentuado no relevo.  Na margem encontram­se

barrancos estáveis sem afloramento rochoso.  A vegetação marginal  apresenta brejo, pastagem, capoeira,

bambu e eucalipto sem a vegetação natural preservada, fornecendo um sombreamento de 0 a 25%. O leito

apresenta­se arenoso com exceção da área onde há uma corredeira, com fundo pedregoso. 

O segundo ponto de coleta neste rio 22º17’S 47º34’W localiza­se à cerca de 3 km acima da ponte da

estrada que liga Rio Claro a Ipeúna. Abaixo da ponte há um local muito visitado por pescadores. O relevo é

ondulado  e  a  margem  do   rio  apresenta  áreas  de  planície  alagável.  A  vegetação  marginal   apresenta­se

parcialmente desmatada com pastagem, eucalipto e mata galeria,  fornecendo um sombreamento de 26 a

50%. O fundo é arenoso com restos de troncos, principalmente eucalipto, ao longo do seu curso. 

Page 20: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

20

O terceiro ponto 22º38’S 47º40’W está localizado cerca de 40 km acima da região de confluência

dos rios Corumbataí e Piracicaba. Apresentou os mesohabitats rio corrente e corredeira. O trecho apresenta

um   leito  pedregoso   com  cascalho   e   areia.  A  vegetação  marginal  é   composta  por  pastagem,   capoeira,

agricultura e mata ciliar que se encontra desmatada. A cobertura vegetal fornece um sombreamento de 0 a

25%. Neste local verifica­se uma intensa atividade de pescadores à procura de tilápias.

Figura 8: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no rio Corumbataí.

No primeiro período de coleta (março a junho) o rio Corumbataí  apresentou vazão média muito

próxima do segundo período (setembro a dezembro) (Figura 9).  Isto pode ser confirmado pela pequena

flutuação que ocorreu na profundidade dos diferentes rios nos dois períodos.

Figura   9:  Vazão  mensal   média  do   rio   Corumbataí   em   2001.  Fonte:   estação   4D­021/Recreio   (22º34’S

47º41’W).

Page 21: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

21

3.2.3. Ribeirão Claro

O Ribeirão Claro apresenta uma área de drenagem com 291 km2 e percorre cerca de 43 km desde a

sua nascente, com altitude de 720 m, até sua foz no rio Corumbataí, com altitude de 520 m (Figura 10).

O primeiro ponto 22º21’S 47º30’W localiza­se à cerca de 2 km acima da ponte que liga Rio Claro a

Araras. O relevo é levemente ondulado com visíveis áreas de planície. Neste ponto, a margem direita do rio

apresenta um barranco estável com vegetação natural. A vegetação marginal é caracterizada por mata de

galeria   em   bom   estado   de   conservação   com   estrato   arbóreo,   arbustivo   e   herbáceo   fornecendo   um

sobreamento acima de 75%. O leito do rio é formado por areia e cascalho. 

O segundo ponto 22º23’S 47º32’W está localizado atrás do câmpus da Bela Vista da UNESP/Rio

Claro. As características deste ponto são muito semelhantes à descrita anteriormente, ou seja, o relevo é

levemente  ondulado com visíveis  áreas  de planície.  A vegetação marginal  é  caracterizada por  mata  de

galeria em bom estado de conservação com estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo, fornecendo sobreamento

acima de 75%. Seu leito é formado por areia e cascalho. Neste local foram encontradas várias trilhas feitas

por pescadores dos bairros vizinhos.

O terceiro ponto 22º28’S 47º35’W está localizado acima da região de confluência do Ribeirão Claro

com o Corumbataí,  próximo  ao  Museu da Energia  Usina­Parque  do  Corumbataí.  Ele  é   completamente

diferente de todos os outros, pois está localizado após o despejo de esgoto in natura da cidade de Rio Claro

e logo acima do represamento do Ribeirão Claro. Seu relevo é levemente ondulado. A vegetação marginal é

composta por pastagem, cipó e eucalipto fornecendo um sombreamento de 0 a 25%. O trecho apresenta um

leito composto por grande quantidade de matéria orgânica proveniente do esgoto. Neste trecho encontra­se

uma vegetação aquática representada por macrófitas flutuantes e gramíneas.

Page 22: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

22

Figura 10: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no Ribeirão Claro.

3.2.4. Rio Cabeça

O rio Cabeça apresenta uma área de drenagem com 211 km2 e percorre cerca de 28 km desde a sua

nascente, com altitude de 740 m, até sua foz no rio Passa Cinco, com altitude de 520 m (Figura 11).

O primeiro ponto 22º18’S 47º42’W possui um relevo composto por áreas suavemente onduladas. A

vegetação marginal apresenta­se parcialmente desmatada, composta por mata de galeria, capim e eucalipto,

fornecendo   um   sombreamento   de   26   a   50%.   Este   ponto   está   localizado   entre   dois   portos   de   areia

evidenciando que seu leito é arenoso. Esta atividade comercial faz com que este trecho não apresente áreas

de refúgio para os peixes. 

O segundo ponto 22º22’S 47º39’W está situado em um vale com grande declividade. A vegetação

marginal apresenta­se parcialmente desmatada composta por mata de galeria e pastagem, fornecendo um

sombreamento  de  26  a  50%.  Neste  ponto  há   uma  corredeira  com  cerca  de  100  m.  Acima  dela  o   rio

apresenta­se  com pouca  velocidade  permitindo  a  colonização por  algas  macroscópicas  e  decomposição

anaeróbica da matéria orgânica do fundo do rio, verificada pela liberação de gases sulfurosos quando se

movimentava o fundo. 

Page 23: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

23

O terceiro ponto 22º26’S 47º39’W está localizado à cerca de 300 m da confluência entre os rios

Cabeça e Passa Cinco. A vegetação marginal é formada por pastagem, agricultura e mata ciliar parcialmente

desmatada, com estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo, fornecendo um sombreamento de 26 a 50%. Neste

ponto não foi possível encontrar o mesohabitat poça. O seu leito é pedregoso com areia e cascalho. Neste

trecho há uma grande corredeira com cerca de 150 m a qual termina na junção dos dois rios formando um

lago muito visitado por pescadores e com uma bonita paisagem. 

Figura 11: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no rio Cabeça.

3.3. Variáveis ambientais

Foram anotadas 13 variáveis ambientais:

• Variáveis físicas: profundidade média, comprimento e largura média do canal, velocidade superficial

média e temperatura da água.

• Estrutura   do  habitat:   porcentagem   de   cobertura   no   ambiente,   estado   de  preservação   da   vegetação

marginal, tipo de substrato e tipo de mesohabitat encontrado.

• Variáveis químicas: turbidez, oxigênio dissolvido, pH e condutividade da água. 

  Para   medir   a   profundidade   do   canal   utilizou­se   uma   haste   de   madeira   com   graduação   em

Page 24: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

24

centímetros.    O comprimento  e  a   largura  do  canal   foram  medidos  com   trena  de  30  m.  A velocidade

superficial de correnteza foi registrada através de bóias. Para a porcentagem da cobertura vegetal da mata

ciliar utilizou­se uma escala arbitrária com 4 classes: 0­25%, 26­50%, 51­75% e acima de 76%.  O estado

de preservação seguiu a mesma estratégia da porcentagem da cobertura vegetal sendo agrupada em três

classes:   mata   preservada,   parcialmente   desmatada   e   totalmente   desmatada.   O   tipo   de   substrato   foi

classificado   em:   areia,   pedras,   cascalho,   lodo   e   suas   possíveis   combinações.   Os  mesohabitats  foram

divididos em corredeira, poça, rio corrente e lagoa marginal. Os parâmetros físico­químicos da água como

temperatura,   turbidez,  oxigênio  dissolvido,  pH e  condutividade  foram medidos  com analisador  de água

eletrônico.

3.4. Coleta da ictiofauna

Foram realizadas coletas com redes de espera variando de 3 a 9 cm entre nós opostos e três pares de

covos. As redes e armadilhas foram colocadas no meio da tarde (entre 15h e 18h), permanecendo até  a

manhã  seguinte (entre 7h e 9h). A seqüência de redes em cada local foi determinada após um sorteio e

foram distribuídas ao longo das margens. Os covos foram distribuídos aos pares (pequeno e médio) nos

seguintes mesohabitats: corredeira, rio corrente e poça, quando ocorriam. 

Após as coletas os peixes foram colocados em sacos plásticos separados por rio, trecho, aparelho

utilizado, época de coleta e  mesohabitat  no caso dos covos. Esses sacos foram estocados em camburões

contendo solução de formol  10%.   No laboratório,  eles  foram lavados  em água corrente,   identificados,

medidos no seu comprimento total,  pesados,  e posteriormente,  alguns  indivíduos foram preservados em

solução de álcool 70% para confirmação da identificação. A identificação dos peixes foi feita de acordo

com a literatura corrente em ictiologia para espécies de águas interiores com auxílio do Prof. MSc. Leandro

Muller  Gomiero do Departamento de Zoologia  da UNESP­Rio Claro.  Posteriormente,  algumas espécies

foram confirmadas pelo Prof. Dr. Oswaldo Takeshi Oyakawa do MZUSP. Elas foram classificadas quanto

aos  seus  hábitos  alimentares  de acordo  com Gomiero   (comunicação pessoal)  em:  herbívoro  bentônico,

insetívoro bentônico, insetívoro generalista, onívoro, piscívoro e detritívoro.

Page 25: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

25

3.5. Análises dos dados

3.5.1. Ocorrência das espécies

3.5.1.1. Constância

Visando identificar qualitativamente as espécies residentes foi aplicado o método de constância de

ocorrência (Dajoz, 1973).

c=ci

C∗100

onde:  c = valor de constância da espécie;

ci = número de coletas com a espécie;

C = número total de coletas.

As espécies com c ≥ 50 foram consideradas constantes, com 25 ≤ c < 50, acessórias e com c < 25,

ocasionais.

3.5.1.2. Tabela de contingência

Através da freqüência observada das espécies  numericamente  mais abundantes:  Bryconamericus

stramineus,  Astyanax sp., Hypostomus strigaticeps,  Astyanax altiparanae, Astyanax fasciatus,  Serrapinnus

notomelas,  Astyanax scabripinis e  Pimelodella gracilis; e das mais importantes quanto ao peso:  Rhamdia

quelen,  Hoplosternum littorale,  Hoplias  malabaricus,  Leporinus   friderici,  Salminus  hilarii  e  Schizodon

nasutus foi possível testar a hipótese de independência entre a ordem do rio e a época de coleta utilizando­

se a estatística χ2.

3.5.2. Estimativa da riqueza da bacia ( S )

A estimativa “jackknife” para a riqueza da bacia é dada por (KREBS, 1989):

Page 26: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

26

S=s n−1n k

onde: S = estimativa “jackknife” para a riqueza;

s = número total de espécies observadas em cada amostra;

n = número total de amostras;

k = número de espécies únicas.

A variância desta estimativa é dada por:

var S = n−1n [∑j=1

s

j2 f J − k2

n ]onde:  var( S ) = variância da estimativa “jackknife”;

fJ = número de amostras contendo a espécie única j (j = 1, 2, 3, ..., s);

k = número de espécies únicas;

n = número total de amostras.

3.5.3. Curva de rarefação

Para comparar a riqueza das assembléias dos diferentes rios foi aplicado o método da rarefação

(KREBS, 1989).

3.5.4. Medidas de diversidade de peixes

As medidas de diversidade de espécies podem ser divididas em três categorias:

I. Índices de riqueza de espécies: medem o número de espécies em uma determinada amostra;

II. Índices baseados na abundância proporcional das espécies: trabalham com riqueza e eqüabilidade;

III.Modelos de espécie­abundância: descrevem a distribuição da abundância das espécies.

Page 27: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

27

3.5.4.1. Índice de Margalef (DMg)

Esta medida simples utiliza a combinação do número de espécies amostradas e a abundância total

encontrada:

DMg = (S­1)/ln N

onde:  S = número total de espécies encontradas;

N = número total de indivíduos.

3.5.4.2. Índice de Shannon (H’)

O índice de Shannon (H’) é baseado na teoria da informação e mede o grau de incerteza em predizer

qual a espécie do indivíduo, tomado ao acaso, de uma coleção de S espécies e N indivíduos. A incerteza

aumenta conforme aumenta o número de espécies e a distribuição dos indivíduos entre as espécies torna­se

igual, portanto, H’ = 0 quando existe uma única espécie na amostra e H’ é máximo quando todas as espécies

são representadas  pelo  mesmo número  de   indivíduos.  Este   índice  é  bastante   sensitivo  a  alterações  nas

espécies raras amostradas. Apesar deste índice ser bastante utilizado é difícil de ser interpretado.

H '=∑i=1

s

pi log2 pi onde: H’ = informação contida na amostra (bits/indivíduo);

S = número total de espécies;

pi = proporção da iésima espécie na amostra.

3.5.4.3. Índice de Simpson (1/D)

Este índice fornece a probabilidade de dois indivíduos, tomados ao acaso, serem da mesma espécie.

Portanto, se a probabilidade é alta (próximo a 1), a diversidade da comunidade amostrada é baixa. Ele é

bastante sensitivo a alterações nas espécies mais abundantes.

Page 28: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

28

D=1

∑ni ni−1N N−1

onde: D = índice de dominância de Simpson;

ni = número de indivíduos na iésima espécie;

N = número total de indivíduos na amostra;

1/D = índice de diversidade de Simpson.

3.5.4.4. Índice de eqüabilidade de Simpson (E1/D)

Esta   medida   relaciona   o   índice   de   diversidade   de   Simpson   (1/D)   com   o   número   de   espécies

amostradas.

E1/ D=1/ D

s

onde: E1/ D  = eqüabilidade de Simpson;

D = diversidade de Simpson;

s = número de espécies na amostra.

3.5.4.5. Índice de Berger­Parker (1/d)

Esta é uma medida simples de dominância, muito simples de ser calculado e de fácil interpretação.

d = Nmáx/N

onde:  d = índice de dominância de Berger­Parker;

Nmáx = número de indivíduos da espécie mais abundante;

N = número total de indivíduos;

1/d = índice de diversidade de Berger­Parker

Page 29: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

29

3.5.4.6. Método “jackknife”

Este método foi aplicado nos índices anteriormente citados para reduzir o efeito amostral.

3.5.4.7. Modelos espécie­abundância

Além   da   visualização   gráfica   das   espécies   em   ordem   de   importância   (“Whittaker   plot”),   foi

examinado  o  ajuste  dos  4 modelos  da   relação  espécie  abundância:   série  geométrica,   série   logarítmica,

modelo lognormal e modelo “broken stick”. Para avaliar o ajuste dos modelos foi utilizado o teste de  2

com nível de significância   = 0.05. 

3.5.5. Coeficiente de similaridade de Morisita­Horn (CH):

Antes da aplicação do coeficiente de similaridade de Morisita­Horn excluiu­se da matriz de dados

as espécies raras ou pouco freqüentes para diminuir os efeitos provocados pela pouca consistência destas

informações ou pela grande quantidade de zeros na matriz (BEAUMORD, 1991).

ID=N i∗Pi ∑ N i∗Pi

∗100

onde:  ID = índice ponderal de dominância (%);

Ni = número de indivíduos na iésima espécie;

Pi = peso da íésima espécie

Para  este   trabalho  foi  adotado  um critério  duplo,  baseado no ID e na proporção do número de

indivíduos (pi = Ni/N), onde N é o número total de indivíduos. Entraram na análise as espécies com:

(i) ID > 0.05%;

(ii) pi > 0.5%. 

Após o procedimento acima, aplicou­se o índice de similaridade de Morisita­Horn:

Page 30: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

30

CH=2∑ X ij X ik

[∑ X ij2 /N j

2∑ X ik2 /N k

2]N j N k

onde:  CH = índice de similaridade de Morisita­Horn;

Xij, Xik = número de indivíduos da espécie i na amostra j e k;

Nj =   Xij = número total de indivíduos na amostra j;

Nk = número total de indivíduos na amostra k.

3.5.6. Teste de linearidade

Para determinar a relação entre ordem do rio e riqueza de espécies aplicou­se uma regressão linear,

porém, se  trata  de uma situação especial,  pois,  para  uma determinada ordem do rio  foram encontradas

diferentes riquezas.  Para verificar se existe linearidade nesta regressão,  foi   testada a hipótese para uma

regressão onde existem múltiplos valores de Y para um dado valor de X (ZAR, 1999).

3.5.7. Análise de covariância

Para   testar   a   hipótese   da   existência   de   padrões   espaciais   e   temporais,   bem   como   para   testar

diferenças na estrutura das assembléias nos diferentes rios e ordens, foi ajustado o seguinte modelo:

Yij = µ + αi + γj + βij + ∑ βij (Xij ­  X  ) + εij 

onde: Yij = número de espécies (variável dependente);

µ = grande média;

αi = efeito do i­ésimo nível do fator rio (i = 1, 2, 3, 4);

γj = efeito do j­ésimo nível do fator ordem do rio (j = 1, 2, 3);

βij = efeito linear das covariáveis;

Xij = covariáveis ambientais;

X  = média das covariáveis ambientais;

εij = erro aleatório.

Page 31: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

31

O fator rio possui quatro níveis: rios Passa Cinco, Corumbataí,  Ribeirão Claro e Cabeça; o fator

ordem do rio possui 3 níveis: 4, 5 e 6. As covariáveis utilizadas foram temperatura e logaritmo natural do

número de indivíduos.

 

3.5.8. Análises multivariadas

3.5.8.1. Análise de variância multivariada (MANOVA)

Quando mais de uma variável é medida em um experimento, elas podem ser analisadas através de

uma MANOVA. Este caso ocorreu quando as variáveis ambientais foram coletadas, pois,  em um único

ponto coletou­se 4 variáveis físicas: profundidade e largura do canal, velocidade superficial e temperatura

da água; e 4 variáveis químicas: turbidez, oxigênio dissolvido, pH e condutividade da água. 

A hipótese nula é:

H0 :  µ1 =  µ2 = ... =  µk

onde:  µk (k = 1, 2, ..., K) é o centróide da késima população, ou seja:

µ’k = [ µ1k,  µ2k, ...,  µpk], onde p é o número de variáveis dependentes.

Através de operações matriciais, que seguem os princípios de uma ANOVA, computa­se um valor

de  probabilidade  de  Wilks  que   será   transformado  num valor  R de  Rao  que  segue  uma  distribuição  F

(NESSELROADE e CATTELL, 1988).

3.5.8.2. Análise de correspondência (DCA)

Para   analisar   a   estrutura   primária   das   assembléias   de   peixes   foi   aplicada   a   análise   de

correspondência “detrended” (DCA) (GAUCH, 1982). Como esta técnica reduz a multidimensionalidade da

matriz analisada, os dois primeiros eixos da DCA, com os “scores” da abundância das 35 espécies nos 12

pontos de coletas, foram utilizados para visualizar os dados em duas dimensões. Todas as espécies entraram

na análise e foi diminuído o peso das espécies raras (“downweight”).

Page 32: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

32

3.5.8.3. Análise de componentes principais (PCA)

Foi aplicada a análise de componentes principais (PCA) visando diminuir a multidimensionalidade

dos dados da paisagem dos pontos  de coleta.  Estes  dados foram:  ordem dos rios  (4,  5 e  6);  estado  de

preservação da mata ciliar: preservada, parcialmente desmatada e totalmente desmatada; sombreamento: 0­

25%, 26­50%, 51­75%, acima de 76%; presença ou não de eucalipto; presença ou não de cana­de­açúcar;

presença ou não de pasto; presença ou não de esgoto; estabilidade do barranco ao redor: baixa ou alta.

3.5.8.4. Análise espécie­ambiente

A análise espécie­ambiente foi através de um método indireto, ou seja, aplicou­se uma análise de

variância não paramétrica (teste de Kruskal­Wallis) para os eixos 1 e 2 da DCA considerando os diferentes

rios como fonte de variação e foram aplicadas análises de regressão paramétrica visando verificar a relação

linear  entre  os diferentes  eixos da PCA e os eixos  1 e 2 da DCA,  índices  de diversidade e riqueza de

espécies.   Esta   metodologia   foi   adaptada   de   Marsh­Matthews   (2000).   As   análises   multivariadas   foram

realizadas no pacote PC­ORD para “Windows”, versão 3.15.

Page 33: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

33

4. RESULTADOS

4.1. Ictiofauna capturada

Foram coletados em toda a bacia do rio Corumbataí cerca de 56 kg de peixes com 2474 indivíduos

pertencentes   a   35   espécies.   Destas,   22   (63%)   são   Characiformes   e   9   (26%)   são   Siluriformes.

Cyprinodontiformes  (2 espécies, 6%),  Perciformes  (1 espécie, 2.5%)  e  Gymnotiformes  (1 espécie, 2.5%)

também estão representadas. A família com o maior número de espécies é Characidae (12 espécies, 34%),

seguida por Loricariidae (4 espécies, 11%) e Anastomidae (3 espécies, 8.5%).

A lista taxionômica abaixo foi elaborada com base em Buckup e Menezes (2002).

Classe ACTINOPTERYGIIOrdem CHARACIFORMES

Família CHARACIDAEOligosarcus paranensis Menezes & Géry, 1983Astyanax altiparanae Garutti & Britski, 2000Astyanax sp.Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819)Astyanax scabripinnis Eigenmann, 1914Bryconamericus stramineus Eigenmann, 1908Hyphessobrycon eques (Steindachner, 1882)Salminus hilarii Valenciennes, 1850Serrapinnus heterodon (Eigenmann, 1915)Serrapinnus notomelas Eigenmann, 1915Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829)Serrasalmus spilopleura Kner, 1858

Família CRENUCHIDAECharacidium aff. zebra Eigenmann, 1909

Família CURIMATIDAECyphocharax modestus (Fernandez­Yepes, 1948)Cyphocharax nagelii (Steindachner, 1881)

Família PROCHILODONTIDAEProchilodus lineatus (Valenciennes, 1836)

Família ANASTOMIDAELeporinus friderici (Bloch, 1794)Leporinus octofasciatus Steindachner, 1915Schizodon nasutus Kner, 1858

Page 34: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

34

Família PARODONTIDAEApareiodon piracicabae (Eigenmann, 1907)Parodon tortuosus Eigenmann & Norris, 1900

Família ERYTHRINIDAEHoplias malabaricus (Bloch, 1794)

Ordem GYMNOTIFORMESFamília GYMNOTIDAE

Gymnotus carapo Linnaeus, 1758

Ordem SILURIFORMESFamília LORICARIIDAE

Hypostomus ancistroides (Ihering, 1911)Hypostomus strigaticeps (Regan, 1908)Hypostomus regani (Ihering, 1905)Rineloricaria latirostris (Boulenger, 1900)

Família CALLICHTHYIDAECorydoras paleatus (Jenys, 1842)Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)

Família PIMELODIDAEPimelodus maculatus Lacèpede, 1803

Família HEPTAPTERIDAEPimelodella gracilis (Valenciennes, 1836)Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824)

Ordem CYPRINODONTIFORMESFamília POECILIIDAE

Phalloceros caudimaculatus (Hensel, 1868)

Poecilia vivipara Bloch & Schneider, 1801

Ordem PERCIFORMESFamília CICHLIDAE

Geophagus brasiliensis Kner, 1865

Com   relação   às   espécies   dominantes,   destacam­se:  Bryconamericus   stramineus,  Astyanax  sp.,

Hypostomus   strigaticeps,  Astyanax   altiparanae,  Astyanax   fasciatus,  Serrapinnus   notomelas,  Astyanax

scabripinnis  e  Pimelodella gracilis  que corresponderam a 83% do número total de indivíduos coletados.

Foram   registradas   seis   espécies   raras   representadas   por   apenas   um   indivíduo:  Pimelodus   maculatus,

Hypostomus   regani,  Oligosarcus   paranensis,  Corydoras   paleatus,  Poecilia   vivipara  e  Phalloceros

caudimaculatus (Tabela 1).

Page 35: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

35

Ao se   levar   em consideração  o  peso  capturado  Hypostomus   strigaticeps,  Hoplias  malabaricus,

Salminus   hilarii,  Rhamdia   quelen,  Astyanax   altiparanae,  Leporinus   friderici,  Hoplosternum   littorale,

Prochilodus lineatus e Schizodon nasutus contribuem com mais de 80% das capturas. 

Dezoito espécies de pequeno porte (L < 15 cm) dominaram numericamente as coletas (cerca de

75%). Corydoras paleatus, Phalloceros caudimaculatus, Oligosarcus paranensis e Poecilia vivipara, além

de raras são menores que 5 cm. Espécies de médio porte (L > 30 cm) foram representadas por Leporinus

friderici, Prochilodus lineatus, Salminus hilarii e Hoplias malabaricus as quais respondem por 30% do peso

capturado. O maior indivíduo capturado foi uma traíra Hoplias malabaricus com 40.9 cm e o menor foi um

espécime de Corydoras paleatus com 3.7 cm.

A curva espécie­abundância ("Whittaker plot") evidencia uma baixa dominância com um grande

número de espécies intermediárias e algumas poucas espécies raras (Figura 12). Os modelos de distribuição

de abundância de espécies que se ajustaram foram: série logarítmica (p < 0.01) e lognormal (p < 0.01). A

estimativa “jackknife” para a riqueza da bacia é de 43 espécies (IC0.05; 4 = 31.3 < 43.3 < 55.2).

Page 36: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

36

Tabela 1: Espécies capturadas, número de indivíduos (N) e contribuição (N(%)), peso (Wt), contribuição (W

(%)) e amplitude do peso (W(g)) e comprimento (L(cm)).

Espécie N N(%) Wt W(%) W(g) L(cm)Bryconamericus stramineus 484 19.60 571.75 1.038 0.14­3.37 2.7­6.8Astyanax sp. 437 17.66 906.11 1.631 0.27­6.82 3.0­8.8Hypostomus strigaticeps 350 14.14 18977.4 34.167 0.24­371.04 3.5­31.0Astyanax altiparanae 291 11.76 4144.11 7.461 1.03­39.95 4.2­14.0Astyanax fasciatus 181 7.31 1538.03 2.769 1.46­35.49 5.2­13.2Serrapinnus notomelas 142 5.74 126.54 0.228 0.22­2.77 2.8­6.6Astyanax scabripinnis 103 4.16 121.47 0.219 0.09­7.26 2.5­8.4Pimelodella gracilis 76 3.07 489.32 0.881 1.27­17.66 2.4­13.2Cyphocharax modesta 46 1.86 556.67 1.002 0.43­37.20 3.2­13.7Serrapinnus heterodon 46 1.86 56.46 0.102 0.52­1.92 4.3­5.7Cyphocharax nagelii 43 1.74 1008.68 1.816 12.10­42.66 9.7­14.6Rhamdia  quelen 40 1.62 3590.79 6.465 0.88­264.26 4.9­29.9Hypostomus ancistroides 39 1.58 1367.47 2.462 10.45­81.84 9.5­19.2Hoplosternum littorale 37 1.49 2442.14 4.397 17.94­185.28 10.3­29.5Hoplias malabaricus 27 1.09 6123.27 11.024 18.32­926.40 11.4­40.9Geophagus brasiliensis 20 0.81 521.05 0.938 2.02­162.4 5.2­23.8Leporinus friderici 16 0.65 2542.06 4.577 37.6­434.75 14.6­32.7Hyphessobrycon eques 16 0.65 7.2 0.013 0.28­0.77 2.9­3.8Salminus hilarii 13 0.53 4264.88 7.679 63.45­650.20 18.3­37.2Characidium aff. zebra 13 0.53 29.84 0.054 0.9­6.1 4.7­8.3Triportheus angulatus 12 0.48 1322.74 2.381 92.94­140.54 18.8­21.8Schizodon nasutus 9 0.36 1643.25 2.959 63.2­368.30 18.9­29.2Leporinus octofasciatus 7 0.28 592.31 1.066 18.67­158.00 11.9­22.6Rineloricaria latirostris 6 0.24 75.98 0.137 8.15­16.97 12.0­19.2Prochilodus lineatus 5 0.20 1837.54 3.308 157.54­675.00 23.0­36.2Gymnotus carapo 3 0.12 201.09 0.362 31.2­104.91 19.8­29.4Serrasalmus spilopleura 2 0.08 185.61 0.334 92.47­93.14 14.8­15.6Parodon tortuosus 2 0.08 47.52 0.086 20.93­26.59 12.1­12.3Apareiodon piracicabae 2 0.08 42.89 0.077 18.62­24.27 11.3­12.6Pimelodus maculatus 1 0.04 151.82 0.273 21.6Hypostomus regani 1 0.04 49.59 0.089 16.2Oligosarcus paranensis 1 0.04 0.81 0.001 4.6Corydoras paleatus 1 0.04 0.76 0.001 3.7Poecilia vivipara 1 0.04 0.71 0.001 4.7Phalloceros caudimaculatus 1 0.04 0.39 0.001 4.5

Total 2474 100 55538.25 100    

Page 37: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

37

Figura 12: Distribuição das espécies em ordem de importância para a bacia do Corumbataí.

4.2. Ocorrência das espécies

O rio Passa Cinco apresentou maior riqueza, 27 espécies, sendo 6 capturadas exclusivamente neste

rio:  Characidium  aff.  zebra,   classificada   como   constante;  Corydoras   paleatus,   Pimelodus   maculatus,

Poecilia   vivipara,   Serrapinus   heterodon  e  Serrasalmus   spilopleura  ocasionais.   No   Corumbataí   foram

capturadas  24 espécies  e 3 capturadas  somente  neste  rio:  Hyphessobrycon eques,  Hypostomus regani  e

Parodon tortuosus todas ocasionais. No Ribeirão Claro foram capturadas 21 espécies e no Cabeça a riqueza

foi  de 18 espécies  com 2 ocorrendo somente  neste  rio;  as  ocasionais  foram:  Oligosarcus  paranensis  e

Phalloceros caudimaculatus.  Onze espécies ocorreram em todos os rios:  Astyanax altiparanae,  Hoplias

malabaricus e Hypostomus strigaticeps classificadas como constantes, Leporinus octofasciatus ocasional e

Astyanax fasciatus, Astyanax scabripinnis, Bryconamericus stramineus, Cyphocharax modesta, Hypostomus

ancistroides, Rhamdia quelen e Serrapinnus notomelas (Tabela 2).

Page 38: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

38

Tabela 2: Relação das espécies capturadas nos diferentes rios e sua classificação baseada na persistência dasespécies nas coletas: constante (C), acessória (A) e ocasional (O).

Nome científico Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro CabeçaApareiodon piracicabae O OAstyanax altiparanae C C C CAstyanax sp. C O CAstyanax fasciatus O C C OAstyanax scabripinnis C A A OBryconamericus stramineus C O O ACharacidium aff. zebra CCorydoras paleatus OCyphocharax modesta A A A CCyphocharax nagelii A C OGeophagus brasiliensis C O CGymnotus carapo O O OHoplias malabaricus C C C CHoplosternum littorale A C CHyphessobrycon eques OHypostomus ancistroides C O A AHypostomus strigaticeps C C C CHypostomus regani OLeporinus friderici C A OLeporinus octofasciatus O O O OOligosarcus paranensis OParodon tortuosus OPhalloceros caudimaculatus OPimelodella gracilis O A APimelodus maculatus OPoecilia vivipara OProchilodus lineatus O O ORhamdia quelen C C C ARineloricaria latirostris A OSalminus hilarii C CSchizodon nasutus O O OSerrapinnus heterodon OSerrapinnus notomelas C O O CSerrasalmus spilopleura OTriportheus angulatus O A

Page 39: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

39

4.2.1. Bryconamericus stramineus

O   piquira  Bryconamericus   stramineus,   a   espécie   mais   abundante   nas   coletas,   apresentou

comprimento máximo L = 6.8 cm e peso máximo W = 3.4 g. Ocorreu em todos os rios: de forma constante

no Passa Cinco; acessória no Cabeça; e ocasional no Ribeirão Claro e Corumbataí (Tabela 2). Este peixe foi

muito   abundante   na   junção   do   Cabeça   com   o   Passa   Cinco   durante   a   primeira   coleta   e   no   trecho

intermediário do Passa Cinco na segunda coleta. O número de indivíduos capturados está estatisticamente

relacionado com a ordem do rio, ambiente e período de coleta (X2 = 265.9; gl = 12; p < 0.01). O piquira foi

muito   abundante  nos   trechos  de  ordem  5   (97%),   no   segundo  período  de   coleta   (78%)   e   com  grande

ocorrência em ambientes de corredeira (44%) (Tabela 3). 

Tabela 3: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Bryconamericus stramineusde acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Ambientes Ambientes1 2 3 1 2 3

4 0 (1) 0 (0.47) 10 (0.73) 0 (3.49) 0 (1.7) 0 (2.66)5 93 (45.1) 0 (22) 1 (34.37) 122 (164.62) 103 (80.39) 153 (125.57)6 0 (0.19) 0 (0.09) 0 (0.15) 0 (0.7) 2 (0.34) 0 (0.53)

Total 93 (46.29) 0 (22.56) 11 (35.25) 122 (168.81) 105 (82.43) 153 (128.76)

4.2.2. Astyanax sp.

O lambari  Astyanax  sp. apresentou comprimento máximo L = 8.8 cm e peso máximo W = 6.8 g.

Não ocorreu no Corumbataí. No Passa Cinco e Cabeça ocorreu de forma constante e no Ribeirão Claro foi

ocasional (Tabela 2). Este lambari ocorreu nos três trechos e nos dois períodos de coleta no Passa Cinco. O

número de indivíduos capturados está  estatisticamente relacionado com a ordem do rio e ambiente (X2 =

95.0; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (90%) e em ambientes de rio corrente

(60%), porém, não apresentou diferenças significativas na abundância capturada nos diferentes períodos de

coleta  (Tabela 4). 

Page 40: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

40

Tabela 4: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Astyanax sp. de acordo com aordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Ambientes Ambientes1 2 3 1 2 3

4 0 (0.1) 3 (0.49) 0 (0.87) 0 (0.1) 0 (0.51) 0 (0.91)5 28 (13.38) 43 (65.56) 138 (115.96) 2 (13.94) 86 (68.32) 101 (120.84)6 0 (1.32) 0 (5.93) 2 (10.49) 0 (1.26) 15 (6.18) 19 (10.93)

Total 28 (14.8) 46 (71.98) 140 (127.32) 2 (15.3) 101 (75.01) 120 (132.68)

4.2.3. Hypostomus strigaticeps

O cascudo Hypostomus strigaticeps, apresentou comprimento máximo L = 31 cm e peso máximo W

= 371.0 g. Ocorreu em todos os rios de forma constante (Tabela 2). Este cascudo foi muito abundante no

ponto 1 do Passa Cinco que apresenta cobertura vegetal entre 51 e 75% e no ponto 3 do Corumbataí que

apresenta  de  0   a  25% de   cobertura  vegetal.  O   número  de   indivíduos   capturados   está   estatisticamente

relacionado com a ordem do rio e cobertura vegetal (X2 = 263.3; gl = 17; p < 0.01). Foi muito abundante

nos trechos de ordem 5 (56%) e em locais onde a cobertura vegetal estava entre 0 a 25% (71%), porém, não

apresentou diferenças significativas na abundância capturada nos diferentes períodos de coleta  (Tabela 5).

Tabela 5: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Hypostomus strigaticeps deacordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e cobertura vegetal (1: 0­25%, 2: 26­50%, 3:51­75% e 4:acima de 76%).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Cobertura Cobertura1 2 3 4 1 2 3 4

4 17 (11.63) 0 (0.38) 0 (3.99) 2 (0.42) 8 (12.46) 0 (0.4) 0 (4.27) 7 (0.45)5 52 (67.4) 3 (2.17) 60 (23.1) 0 (2.45) 52 (72.19) 5 (2.33) 25 (24.74) 0 (2.62)6 35 (40.72) 0 (1.31) 0 (13.96) 0 (1.48) 84 (43.61) 0 (1.41) 0 (14.95) 0 (1.58)

Total 104 (119.75) 3 (3.86) 60 (44.91) 2 (4.35) 144 (128.26) 5 (4.14) 25 (48.1) 7 (4.65)

Page 41: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

41

4.2.4. Astyanax altiparanae

O lambari de rabo amarelo  Astyanax altiparanae  apresentou comprimento máximo L = 14 cm e

peso máximo W = 40 g. Esta espécie ocorreu em todos os rios de forma constante (Tabela 2). O lambari de

rabo amarelo foi  muito  abundante  no ponto 1 durante  a primeira  coleta  no Passa  Cinco.  O número de

indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio, ambiente e período de coleta

(X2 = 163.9; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (65%), no primeiro período de

coleta (57%) e com grande ocorrência em ambientes de rio corrente (63%) (Tabela 6).

Tabela  6:  Número de  indivíduos  observados  e esperados  (entre  parêntesis)  de  Astyanax altiparanae  deacordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Ambientes Ambientes1 2 3 1 2 3

4 0 (2.5) 7 (13.23) 11 (27.1) 0 (1.88) 2 (9.96) 55 (20.37)5 11 (6.27) 73 (33.17) 57 (67.81) 0 (4.72) 8 (25) 39 (51.06)6 2 (0.93) 0 (4.94) 5 (10.1) 4 (0.7) 0 (3.72) 17 (7.61)

Total 13 (9.7) 80 (51.34) 73 (105.01) 4 (22.6) 10 (38.68) 111 (117.62)

4.2.5. Astyanax fasciatus

O lambari  Astyanax fasciatus apresentou comprimento máximo L = 13.2 cm e peso máximo W =

35.5 g. Ocorreu em todos os rios: de forma constante no Corumbataí e Ribeirão Claro e ocasional no Passa

Cinco e Cabeça (Tabela 2). Este lambari foi muito abundante no ponto 2 durante o segundo período de

coleta no Corumbataí. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem

do rio, ambiente e período de coleta (X2 = 504.6; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de

ordem 5 (86%), no segundo período de coleta (87%) e com grande ocorrência em ambientes do tipo poça

(79%) (Tabela 7).

Page 42: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

42

Tabela 7: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Astyanax fasciatus de acordocom a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Ambientes Ambientes1 2 3 1 2 3

4 0 (0.03) 1 (1.93) 12 (0.47) 0 (0.19) 2 (13.98) 5 (3.4)5 1 (0.21) 5 (15.09) 0 (3.67) 0 (1.51) 136 (109.03) 14 (26.5)6 1 (0.01) 0 (0.48) 2 (0.12) 0 (0.05) 0 (3.49) 2 (0.85)

Total 2 (0.25) 6 (17.5) 14 (4.26) 0 (1.75) 138 (128.25) 21 (30.75)

4.2.6. Serrapinnus notomelas

O Serrapinnus notomelas apresentou comprimento máximo L = 6.6 cm e peso máximo W = 2.8 g.

Ocorreu  em todos  os  rios:  de  forma  constante  no Passa  Cinco  e  Cabeça  e  ocasional  no Corumbataí   e

Ribeirão Claro (Tabela 2). O  Serrapinnus notomelas  foi muito abundante no ponto 1 durante o segundo

período de coleta nos rios Passa Cinco e Cabeça. O número de indivíduos capturados está estatisticamente

relacionado com a ordem do rio e período de coleta (X2 = 44.8; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos

trechos   de   ordem   5   (93%),   no   segundo   período   de   coleta   (85%),   porém,   não   apresentou   diferenças

significativas na abundância capturada nos diferentes tipos de ambiente (Tabela 8).

Tabela 8: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de  Serrapinnus notomelas  deacordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Ambientes Ambientes1 2 3 1 2 3

4 0 (0.12) 2 (0.19) 1 (0.16) 0 (0.63) 0 (1.04) 0 (0.88)5 1 (5.04) 12 (8.35) 5 (7.06) 34 (27.5) 44 (45.56) 36 (38.49)6 0 (0.27) 0 (0.44) 1 (0.37) 0 (1.46) 0 (2.42) 6 (2.04)

Total 1 (5.43) 14 (8.98) 7 (7.59) 34 (29.59) 44 (49.02) 42 (41.41)

Page 43: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

43

4.2.7. Astyanax scabripinnis

O lambari Astyanax scabripinnis apresentou comprimento máximo L = 8.4 cm e peso máximo W =

7.3 g. Ocorreu em todos os rios: de forma constante no Passa Cinco, acessória no Cabeça e ocasional no

Corumbataí e Ribeirão Claro (Tabela 2). Este lambari foi muito abundante no ponto 2 durante o primeiro

período de coleta no Ribeirão Claro e no ponto 1 durante o segundo período no Passa Cinco. O número de

indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com o ambiente (X2 = 121.2; gl = 7; p < 0.01). Foi

muito abundante em ambientes de rio corrente (63%), porém, não apresentou diferenças significativas na

abundância capturada nas diferentes ordens do rio e períodos de coleta (Tabela 9).

Tabela 9: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis)  de  Astyanax scabripinnis  deacordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Ambientes Ambientes1 2 3 1 2 3

4 5 (1.84) 0 (8.14) 39 (17.06) 1 (1.43) 0 (6.31) 3 (13.23)5 1 (2.11) 4 (9.32) 9 (19.55) 0 (1.63) 27 (7.23) 14 (15.16)

Total 6 (3.95) 4 (21.41) 48 (36.61) 1 (3.06) 27 (13.54) 17 (28.39)

4.2.8. Pimelodella gracilis

O   pequeno   bagre  Pimelodella   gracilis  apresentou   comprimento   máximo   L   =   13.2   cm   e   peso

máximo W = 17.7 g. Não ocorreu no Cabeça. No Corumbataí e Ribeirão Claro foi acessória e no Passa

Cinco ocorreu de forma ocasional (Tabela 2). Este bagre foi muito abundante no ponto 2 durante o primeiro

e segundo período de coleta no rio Corumbataí. O número de indivíduos capturados está estatisticamente

relacionado com a ordem do rio, ambiente e período de coleta (X2  = 36.8; gl = 4; p < 0.01). Foi muito

abundante nos trechos de ordem 5 (92%), no segundo período de coleta (76%) e com grande ocorrência em

ambientes do tipo poça (68%) (Tabela 10).

Page 44: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

44

Tabela  10:  Número de  indivíduos observados  e esperados (entre  parêntesis)  de  Pimelodella  gracilis  deacordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça).

Ordem

Número de indivíduosColeta 1 Coleta 2

Ambientes Ambientes1 2 1 2

4 5 (0.97) 1 (0.45) 0 (3.13) 0 (1.45)5 2 (11.34) 10 (5.24) 45 (36.55) 13 (16.87)

Total 7 (12.31) 11 (5.69) 45 (39.68) 13 (18.32)

4.2.9. Rhamdia quelen

O bagre Rhamdia quelen apresentou comprimento máximo L = 29.9 cm e peso máximo W = 264.3

g. Ocorreu em todos dos rios. No Passa Cinco, Corumbataí e Ribeirão Claro ocorreu de forma constante e

no Cabeça foi acessória (Tabela 2). A maior contribuição em peso ocorreu no ponto 3 do Corumbataí no

segundo   período   com   1367.8   g   proveniente   de   11   indivíduos   capturados.   O   número   de   indivíduos

capturados em um determinado período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 3.4;

gl = 2; p = 0.18), é evidente que a captura foi maior no segundo período (87.5%) (Tabela 11).

Tabela 11: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Rhamdia quelen de acordocom a ordem dos rios e períodos de coleta.

OrdemNúmero de indivíduos

Coleta 1 Coleta 2 Total4 2 (1.63) 11 (11.37) 135 3 (1.62) 10 (11.37) 136 0 (1.75) 14 (12.26) 15

Total 5 35 40

Page 45: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

45

4.2.10. Hoplosternum littorale

O caborja Hoplosternum littorale apresentou comprimento máximo L = 29.5 cm e um peso máximo

W = 185.3 g. Não ocorreu no Passa Cinco. No Ribeirão Claro e Cabeça ocorreu de forma constante e no

Corumbataí foi espécie acessória (Tabela 2). O caborja foi mais abundante no ponto 3 do Ribeirão Claro

onde   foram capturados  19   indivíduos.  A maior  contribuição  em peso  ocorreu  no  ponto  3  no   segundo

período de coleta tanto no Corumbataí, com 812.4 g e 8 indivíduos quanto no Ribeirão Claro, com 726.7 g e

18 indivíduos. Estes locais apresentaram baixos valores de oxigênio dissolvido. O número de indivíduos

capturados em um determinado período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 3.3;

gl = 2; p = 0.19), é evidente que a captura foi maior no segundo período (81%) (Tabela 12).

Tabela 12: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de  Hoplosternum littorale deacordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

OrdemNúmero de indivíduos

Coleta 1 Coleta 2 Total4 3 (3.98) 18 (17.02) 215 3 (1.32) 4 (5.68) 76 1 (1.7) 8 (7.3) 9

Total 7 30 37

4.2.11. Hoplias malabaricus

A traíra Hoplias malabaricus, apresentou comprimento máximo L = 40.9 cm e peso máximo W =

926.4 g este foi o maior e mais pesado indivíduo de todas as coletas. Ocorreu em todos os rios de forma

constante  (Tabela  2).  A maior  contribuição em peso ocorreu no ponto 1 do Cabeça durante  o segundo

período de coleta  com 2453.6 g com apenas  4  indivíduos.  O número de  indivíduos capturados  em um

determinado período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 0.8; gl = 2; p = 0.661), é

evidente que a captura foi maior nos trechos de ordem 5 (63%) (Tabela 13).

Page 46: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

46

Tabela 13:  Número de indivíduos observados e esperados (entre  parêntesis)  de  Hoplias  malabaricus  de

acordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

OrdemNúmero de indivíduos

Coleta 1 Coleta 2 Total4 1 (1.63) 3 (2.38) 45 8 (6.93) 9 (10.07) 176 2 (2.44) 4 (3.55) 6

Total 11 16 27

4.2.12. Leporinus friderici

A piava Leporinus friderici, apresentou um comprimento máximo L = 32.7 cm e um peso máximo

W = 434.8 g. Não ocorreu no Cabeça. A piava foi constante no Passa Cinco, ocasional no Ribeirão Claro e

acessória no Corumbataí (Tabela 2). A maior contribuição em peso ocorreu no ponto 1 do Ribeirão Claro

durante o primeiro período de coleta com 873.2 g e 9 indivíduos, e no ponto 2 do Passa Cinco durante os

dois períodos de coleta com 936.9 g e 4 indivíduos. O número de indivíduos capturados em um determinado

período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 6.7; gl = 2; p = 0.035). Foi muito

abundante nos trechos de ordem 4 (56%), no primeiro período de coleta (81%) (Tabela 14).

Tabela  14:  Número  de   indivíduos  observados  e  esperados   (entre  parêntesis)  de  Leporinus   friderici  deacordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

OrdemNúmero de indivíduos

Coleta 1 Coleta 2 Total4 9 (7.31) 0 (1.69) 95 3 (3.25) 1 (0.75) 46 1 (2.44) 2 (0.56) 3

Total 13 3 16

Page 47: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

47

4.2.13. Salminus hilarii

A tabarana  Salminus hilarii, apresentou comprimento máximo L = 37.2 cm e peso máximo W =

650.2 g. Ocorreu de forma constante nos rios Corumbataí e Ribeirão Claro (Tabela 2). A maior contribuição

em peso ocorreu no ponto 2 do Corumbataí  com 1958 g e 4 indivíduos, e no ponto 1 do Ribeirão Claro

durante o segundo período de coleta com 1067.2 g e 4 indivíduos. O número de indivíduos capturados em

um determinado período de coleta é estatisticamente independente da ordem do rio (X2 = 1.04; gl = 2; p =

0.308) (Tabela 15).

Tabela 15: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Salminus hilarii de acordo

com a ordem dos rios e períodos de coleta.

OrdemNúmero de indivíduos

Coleta 1 Coleta 2 Total4 5 (4.15) 4 (4.85) 95 1 (1.85) 3 (2.15) 4

Total 6 7 13

4.2.14. Schizodon nasutus

O ximborê Schizodon nasutus, apresentou comprimento máximo L = 29.2 cm e peso máximo W =

368.3 g. Ocorreu de forma ocasional nos rios Passa Cinco, Corumbataí e Ribeirão Claro (Tabela 2). No rio

Cabeça o ximborê não ocorreu. Só ocorreu no segundo período de coleta e a maior contribuição em peso

ocorreu no ponto 2 do Ribeirão Claro com 3 indivíduos pesando 705 g e no ponto 3 do Passa Cinco com 5

indivíduos pesando 705 g. O ximborê  foi mais abundante nos trechos de ordem 6 (X2  = 2.7; gl = 2; p =

2.267) (Tabela 16).

Page 48: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

48

Tabela  16:  Número  de   indivíduos  observados   e  porcentagem  do   total   (entre  parêntesis)  de  Schizodonnasutus de acordo com a ordem dos rios.

OrdemNúmero de indivíduos

Coleta 2456

3 (33.33)1 (11.11)5 (55.56)

Total 9 (100)

4.2.15. Prochilodus lineatus

O curimbatá Prochilodus lineatus, apresentou comprimento máximo L = 36.2 cm e peso máximo W

= 675 g. O curimbatá ocorreu de forma ocasional nos rios Corumbataí, Ribeirão Claro e Cabeça (Tabela 2).

Só ocorreu no primeiro período de coleta e em rios de ordem 5 e a maior contribuição em peso ocorreu no

ponto 2 do Corumbataí com 2 indivíduos pesando 843g.

4.3. Curvas de rarefação

O número de espécies encontradas depende do tamanho da amostra onde as espécies mais comuns

estão provavelmente representadas nas amostras iniciais e à  medida que novas coletas são realizadas as

espécies   raras  passam  a   ser   adicionadas  à   lista.  As   amostras  devem  ser   tomadas   até   que   as   espécies

encontradas atinjam um platô. Através das curvas de rarefação observa­se que aumentando o tamanho da

amostra (N = número de indivíduos) o número de espécies aumenta e a dispersão dos valores estimados de

riqueza diminui (Figura 13).

Page 49: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

49

Figura 13: Curvas de rarefação para os diferentes rios da bacia do Corumbataí.

Para utilizar a riqueza como uma medida de diversidade fixou­se o tamanho da amostra em 2, 10,

50,  100 e  150  indivíduos   (Tabela  17 e  Figura  14).  Pelo  método  da  rarefação  estimou­se  que para  um

tamanho amostral de 150 indivíduos o Ribeirão Claro possui maior riqueza (19 espécies), seguido pelo rio

Corumbataí (17), Cabeça (15) e finalmente o rio Passa Cinco com 14 espécies.

Tabela 17: Número esperado de espécies (desvio padrão) por rio para amostras com N indivíduos.N Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça2 1.80 (0.40) 1.82 (0.38) 1.86 (0.35) 1.84 (0.37)

10 5.05 (1.12) 5.45 (1.19) 6.23 (1.24) 5.67 (1.19)50 9.92 (1.60) 11.73 (1.71) 14.06 (1.58) 11.72 (1.40)

100 12.85 (1.73) 15.37 (1.69) 17.50 (1.35) 14.14 (1.23)150 14.78 (1.77) 17.50 (1.62) 19.25 (1.08) 15.31 (1.13)

Page 50: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

50

Figura 14: Curva de rarefação com N = 150 indivíduos.

4.4. Medidas de diversidade

O trecho 3 durante o segundo período de coleta do rio Passa Cinco apresentou os menores valores

de riqueza e número de indivíduos. O ponto 1 no segundo período de coleta do Ribeirão Claro apresentou o

maior valor de diversidade expresso pelo índice de Berger­Parker. O trecho 1 no segundo período de coleta

do rio Cabeça apresentou os menores valores em quase todas as medidas de diversidade (Tabela 18).

Page 51: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

51

Tabela 18: Riqueza de espécies (S),  abundância (N),  índice de Margalef  (DMg),  índice de Berger­Parker(1/d),  índice de Simpson (1/D), índice de Shannon para abundância (H’N), índice de Shannon para peso(H’P) e eqüabilidade de Simpson (E1/D) para os diferentes trechos (1, 2 e 3) e épocas de coleta (1: março­junho e 2: setembro­dezembro) na bacia do rio Corumbataí. 

Rio Trecho Época S N DMg 1/d 1/D H’N H’P E1/D

      

 Cab

eça

1 1 5 6 2.23 3.03 14.29 2.25 0.94 0.902 4 53 0.76 1.20 1.45 0.92 0.55 0.36

2 1 9 63 1.93 3.45 5.88 2.68 1.91 0.592 7 53 1.51 2.13 3.70 2.22 2.16 0.50

3 1 7 130 1.23 1.39 1.87 1.49 2.46 0.272 13 89 2.67 4.00 7.69 3.19 2.75 0.57

Coru

mba

taí

1 1 6 34 1,42 2.00 3.33 1.98 1.53 0.522 4 16 1.08 2.00 2.78 1.53 1.11 0.63

2 1 9 33 2.29 3.33 6.67 2.79 1.87 0.272 10 247 1.63 1.64 2.33 1.67 2.57 0.40

3 1 11 62 2.42 1.82 3.12 2.33 2.21 0.632 12 105 2.36 2.56 5.00 2.76 2.56 0.23

Pass

a Ci

nco

1 1 12 385 1.85 2.38 3.70 2.19 1.63 0.312 13 375 2.02 2.33 4.00 2.58 2.51 0.31

2 1 8 106 1.50 2.38 4.00 2.34 2.03 0.492 12 354 1.87 1.27 1.59 1.28 1.76 0.13

3 1 4 6 1.67 3.03 7.69 1.92 1.59 0.902 17 122 3.33 2.86 4.76 2.84 2.59 0.27

Ribe

irão 

Clar

o

1 1 9 39 2.18 4.35 4.14 2.87 2.34 0.702 10 32 2.60 5.26 11.11 3.16 2.30 0.83

2 1 7 60 1.47 1.61 2.44 1.83 1.07 0.342 6 13 1.95 3.23 6.67 2.35 1.32 0.76

3 1 6 21 1.64 1.32 1.75 1.34 2.31 0.282 5 70 0.94 1.43 1.82 1.13 1.55 0.36

Todas as medidas, após a aplicação do método “jackknife”, revelaram que o Ribeirão Claro possui

uma  assembléia  de  peixes  com  baixa  dominância,   ao  passo  que,   o   rio  Passa  Cinco  apresentou  maior

dominância   e   conseqüentemente   menor   diversidade   de   espécies.   O   valor   do   índice   de   eqüabilidade

diferenciou estatisticamente (p > 0.05) a diversidade de espécies de peixes encontrada no Ribeirão Claro

daquela encontrada no rio Passa Cinco (Tabela 19).

Page 52: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

52

Tabela 19: Riqueza de espécies (S), abundância (N) e índices com intervalo de confiança obtido através dométodo “jackknife” (  = 0.05 e n = 6) dos quatro rios: índice de riqueza de espécies de Margalef (DMg),índice de Berger­Parker (d), índice de Simpson (D), índice de Shannon (H’), eqüabilidade de Simpson (E1/D)e índice da série logarítmica ( ). 

Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro CabeçaDiversidadeS 27 24 21 18N 1348 497 235 395DMg 4.54

(3.00 a 6.08)4.61

(3.78 a 5.43)4.62

(3.56 a 5.67)3.41

(2.68 a 4.14)d 0.20

(0.01 a 0.38)0.10

(0.00 a 0.27)0.10

(0.00 a 0.22)0.13

(0.05 a 0.21)D 0.14

(0.08 a 0.20)0.09

(0.01 a 0.17)0.05

(0.00 a 0.11)0.11

(0.04 a 0.18)H' 3.17

(2.84 a 3.51)3.52

(2.80 a 4.24)4.22

(3.57 a 4.87)3.46

(2.79 a 4.13)E1/D 0.59

(0.51 a 0.67)0.68

(0.52 a 084)0.85

(0.74 a 0.96)0.74

(0.62 a 0.86)4.80

(4.02 a 5.57)5.34

(4.27 a 6.42)5.69

(4.23 a 7.15)4.26

(3.29 a 5.22)

Quanto   à   visualização   gráfica   das   espécies   em   ordem   de   importância,   pode­se   dizer   que   a

comunidade de peixes do Ribeirão Claro possui menos espécies dominantes que os outros rios e tanto o

Passa Cinco quanto o Corumbataí apresentam um número maior de espécies dominantes e raras (Figura 15).

Page 53: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

53

Figura 15: Distribuição das espécies em ordem de importância.

A baixa dominância  que ocorreu  no Ribeirão Claro está  refletida  no ajuste  do modelo  “broken

stick”. Os dados do rio Cabeça se ajustaram aos modelos série logarítmica, lognormal e “broken stick”. As

assembléias dos rios Passa Cinco e Corumbataí mostraram um padrão lognormal (Tabela 20).

Tabela 20: Ajuste dos modelos de distribuição espécie­abundância, através do teste de X2 com P > 0.05.Modelos Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça

Série logarítmica sim sim sim simLog normal sim sim sim simBroken stick não não sim simSérie geométrica não não sim não

As assembléias de peixes dos rios Passa Cinco e Cabeça apresentaram maior similaridade quanto a

composição das espécies que àquelas encontradas nos rios Corumbataí  e Ribeirão Claro (Tabela 21).  O

mesmo aconteceu com relação à  classificação trófica,  porém, a assembléia  de peixes do Ribeirão Claro

apresentou­se dissimilar a qualquer outro levantamento (Tabelas 22 e 23).

Tabela   21:  Matriz   de   similaridade   entre   a   composição   de   espécies  dos   rios   da   bacia   do  Corumbataí,utilizando­se o índice de Morisita­Horn.

Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro CabeçaPassa Cinco 1.0000Corumbataí 0.0103 1.0000Ribeirão Claro ­0.0654 0.1618 1.0000Cabeça 0.5654 0.0240 0.06664 1.0000

Page 54: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

54

Tabela 22: Classificação trófica das espécies,  número total  de indivíduos após a aplicação do  índice dedominância e porcentagem de piscívoros para a bacia do rio Corumbataí.

Classificação tróficaPassaCinco

Corumbataí

RibeirãoClaro

Cabeça

Detritívoros 0 0 13 2Herbívoros Bentônicos 203 121 14 64Insetívoros Bentônicos 476 87 33 231Insetívoros Generalistas 598 51 102 39Onívoros  0 167 38 19Piscívoros 0 14 12 10

Total 1277 426 200 355Porcentagem depiscívoros 0,00 3,29 6,00 2,82

Tabela 23: Matriz de similaridade entre a composição por grupo trófico dos rios da bacia do Corumbataí,utilizando­se o índice de Morisita­Horn.

Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro CabeçaPassa Cinco 1.0000Corumbataí 0.0329 1.0000Ribeirão Claro ­0.2782 ­0.0223 1.0000Cabeça 0.5517 0.2030 ­0.0167 1.0000

4.5. Variáveis físico­químicas

O   Ribeirão   Claro   apresentou   maior   dispersão   nos   dados   de   profundidade   do   canal,   devido

principalmente ao ponto 3, que é uma área de reservatório. O rio Passa Cinco caracterizou­se por apresentar

o menor valor médio de profundidade e o maior de velocidade superficial.  Como o Corumbataí  é  o rio

principal  da bacia e possui  maior comprimento os pontos de coleta foram mais distantes entre si  o que

justifica a grande amplitude de variação na largura do canal (Tabela 24 e Figura 16).

Page 55: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

55

Tabela 24: Trecho do rio, classificação hierárquica (Ordem), altitude (m) e comprimento (C) em (m) emdiferentes épocas (1: março­junho e 2: setembro­dezembro). Variáveis físicas: profundidade (Prof) e largura(Larg) em (m); velocidade (Veloc) em (m/s) e temperatura (T) em (ºC). Rio Trecho Ordem Altitude C Época Prof Larg Veloc T

Cabe

ça

1 5 613 84 1 1.03 4.10 0.93 26.402 0.87 4.10 0.54 24.13

2 5 563 127 1 1.35 17.00 0.61 23.002 0.97 17.00 0.37 22.70

3 5 537 200 1 1.25 13.33 0.52 19.772 1.25 13.33 0.39 26.23

Coru

mba

taí

1 4 636 88 1 1.07 9.00 0.78 24.572 0.80 8.90 0.57 21.20

2 5 574 180 1 1.53 11.90 0.78 23.832 1.53 13.30 0.75 22.60

3 6 466 155 1 1.15 35.00 0.47 20.832 1.28 35.00 0.42 26.63

Pass

a Ci

nco

1 5 627 150 1 1.07 6.25 0.74 24.002 0.76 5.50 0.40 18.10

2 5 565 138 1 0.77 11.60 1.00 24.772 0.67 11.60 0.85 25.23

3 6 523 200 1 0.88 15.30 1.02 18.132 0.88 10.00 0.67 29.70

Ribe

irão 

Clar

o

1 4 600 102 1 1.40 7.20 0.72 24.572 1.17 3.00 0.84 20.50

2 4 571 150 1 1.00 6.90 0.22 18.332 0.75 6.90 0.27 21.73

3 4 563 160 1 2.00 15.33 0.15 19.872 2.30 17.67 0.32 24.43

Page 56: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

56

Figura  16:  Amplitude  (E.P.:  erro  padrão)  e média  das  variáveis  físicas  nos diferentes   rios  da bacia  doCorumbataí (CA: Cabeça, CO: Corumbataí, PC: Passa Cinco e RC: Ribeirão Claro).

O   Ribeirão   Claro   apresentou   maior   dispersão   nos   valores   de   turbidez,   baixo   valor   médio   de

oxigênio   dissolvido   e   grande   condutividade   média,   isto   pode   ser   devido   ao   ponto   3   que   apresenta

características muito distintas dos outros dois pontos de coleta. O Passa Cinco apresentou o menor valor

médio de turbidez evidenciando que suas águas são bastante límpidas (Tabela 25 e Figura 17).

Page 57: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

57

Tabela   25:   Trecho   do   rio   em   diferentes   épocas   (1:   março­junho   e   2:   setembro­dezembro).   Variáveisquímicas:   turbidez   (Turb),  oxigênio  dissolvido   (O2)   em  (mg/ml),  grau  de  acidez   (pH)  e  condutividade(Cond) em (S/s).

Rio Trecho Época Turb O2 pH CondCa

beça

1 1 56.87 10.30 6.06 0.0292 90.67 7.99 7.35 0.018

2 1 126.67 11.20 6.60 0.0302 78.00 10.86 6.43 0.040

3 1 90.33 9.17 6.68 0.0172 233.00 7.74 7.87 0.025

Coru

mba

taí

1 1 54.43 10.29 6.67 0.0282 54.67 8.69 7.62 0.017

2 1 49.33 10.13 6.73 0.0302 161.00 8.37 7.55 0.021

3 1 24.00 6.95 5.82 0.0802 165.67 7.66 6.53 0.011

Pass

a Ci

nco

1 1 15.33 7.81 7.20 0.0472 5.33 9.17 8.16 0.035

2 1 28.67 10.45 6.88 0.0392 8.33 9.85 7.23 0.060

3 1 22.00 9.41 6.89 0.0282 28.00 7.31 8.05 0.047

Ribe

irão 

Clar

o

1 1 46.73 10.17 7.29 0.0582 35.33 8.25 7.69 0.037

2 1 26.00 9.31 5.89 0.0232 54.00 7.67 7.49 0.035

3 1 19.33 5.17 6.30 0.0762 445.00 6.27 7.33 0.049

Page 58: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

58

Figura 17: Amplitude (E.P.: erro padrão) e média das variáveis químicas nos diferentes rios da bacia doCorumbataí (CA: Cabeça, CO: Corumbataí, PC: Passa Cinco e RC: Ribeirão Claro).

Os diferentes rios da bacia não apresentaram diferenças significativas quanto às variáveis físicas e

químicas (Tabela 26).

Tabela  26:  Análise  de  variância  multivariada   (MANOVA).  Variável  dependente:   físicas   (profundidade,largura,   velocidade   superficial   e   temperatura)   e   químicas   (turbidez,   oxigênio   dissolvido,   pH   econdutividade); variável independente: rios Passa Cinco, Corumbataí, Ribeirão Claro e Cabeça.

Variável dependente n R de Rao pFísicas 24 1.927 0.056Químicas 24 1.369 0.216

Page 59: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

59

4.6. Análise de covariância

O número de espécies aumentou significativamente conforme a ordem do rio (n = 24; r = 0.456; r2 =

0.208; p = 0.025) (Figura 18). Esta regressão apresentou linearidade Fcalc = 0.07 < F.05;1,21 = 4.3248 (Tabela

27).

y = ­2.221 + 2.235x

Figura 18: Ordem do rio versus riqueza (S).

Tabela  27:  Análise  de  variância  para  verificar   a   linearidade  dos  pontos  da  regressão  entre  número  deespécies e ordem dos rios: SQ (soma de quadrados), gl (graus de liberdade), QM (quadrado médio) e testeF.

Fonte de variação SQ gl QM FTotal 271.83 23Entre grupos 57.04 2Regressão linear 56.63 1Desvio da linearidade 0.41 1 0.41 0.04Dentro dos grupos 214.79 21 10.23

O número de espécies capturadas aumentou conforme a temperatura da água (n = 24; r = 0.389; r2 =

0.151; p = 0.061) (Figura 19). 

Page 60: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

60

y = ­1.717 + 0.448x

Figura 19: Temperatura da água versus riqueza (S).

A   temperatura  da  água   assumiu   dois   tipos   de   informação,   um  deles  que  é   a   atuação   sobre   o

metabolismo dos peixes e um outro que mostra o efeito temporal.  Como as coletas foram realizadas ao

longo do tempo, conforme as doze primeiras aconteceram a temperatura diminuiu (n = 12; r = 0.815; r2 =

0.663; p = 0.001), ao passo que, ao longo das doze últimas a temperatura aumentou (n = 12; r = 0.796; r2 =

0.634; p = 0.002) (Figura 20).

y = 26.458 – 0.634x y = 10.379 + 0.709x

Figura 20: Efeito temporal da temperatura.

Page 61: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

61

Existe uma relação linear entre o logaritmo natural do número de indivíduos e o número de espécies

capturadas (n = 24; r = 0.667; r2 = 0.465; p = 0.0002) (Figura 21).

y = 0.376 + 2.022x

Figura 21: Logaritmo natural do número de indivíduos (ln N) versus riqueza (S).

Ao se plotar o logaritmo natural  do número de indivíduos contra  a riqueza de espécies para  os

diferentes rios da bacia, observou­se que o Ribeirão Claro apresentou um padrão muito distinto (Figura 22).

Figura 22: Logaritmo natural do número de indivíduos (ln N) versus riqueza (S) para os diferentes rios dabacia do Corumbataí.

Page 62: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

62

Retirando­se as coletas do Ribeirão Claro, ficou evidente que os diferentes rios não apresentam

riquezas distintas, portanto a cerca de 78% da variabilidade do número de espécies na bacia pode ser

explicada em função da variação no espaço, representado pela ordem dos rios; tempo e fisiologia,

representados pela temperatura; e tamanho da amostra, representado pelo logaritmo natural do número de

indivíduos (Tabelas 28 e 29) (Figuras 23, 24 e 25).

Tabela 28: Análise de variância para a riqueza (S), considerando os diferentes rios, ordem, temperatura enúmero de indivíduos (ln N) sem o Ribeirão Claro. Variável dependente: S (n = 18; r = 0.881; r2 = 0.776).

Fonte devariação

SQ gl QM F p

Rio 0.950 2 0.475 0.099 0.907Ordem 27.893 2 13.947 2.896 0.098Temperatura 22.079 1 22.079 4.584 0.056ln(N) 68.180 1 68.180 14.156 0.003Erro 52.981 11 4.816

Tabela 29: Análise de variância para a riqueza (S) considerando ordem do rio, temperatura e número deindivíduos (ln N) sem o Ribeirão Claro. Variável dependente: S (n = 18; r = 0.879;   r2 = 0.772).

Fonte devariação

SQ gl QM F p

Ordem 36.849 2 18.425 4.441 0.034Temperatura 21.267 1 21.267 5.126 0.041R2N 103.851 1 103.851 25.033 0.000Erro 53.931 13 4.149

Page 63: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

63

Figura 23: Valor médio e amplitude do número de espécies por ordem dos rios após o ajuste do modelo decovariância.

Figura 24: Resíduo estimado versus resíduo “student” para o número de espécies.

Page 64: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

64

Figura 25: Histograma dos resíduos calculados a partir do modelo de covariância com número de espécies.Coeficiente de assimetria (g1 = ­0.202; ns) e coeficiente de curtose (g2 = 0.455; ns).

4.7. Análises multivariadas

4.7.1. Análise de correspondência

Nas Figuras  26 e 27 estão os “scores”  obtidos  após  a  aplicação da análise  de correspondência

“detrended” (DCA) utilizando a abundância das 35 espécies nos 12 pontos de coletas. Esta análise permitiu

verificar que Astyanax fasciatus,  Pimelodella gracilis e  Hypostomus regani estão associados com ponto 2

do   Corumbataí,   assim  como  Triportheus   angulatus,  Parodon   tortuosus  e  Hyphessobrycon   eques  estão

associados com o ponto 3 do mesmo rio. O  Hoplosternum littorale  se mostrou associado ao ponto 3 do

Ribeirão   Claro,   assim   como  Salminus   hilarii,  Prochilodus   lineatus  e  Leporinus   octofasciauts  estão

associados com os pontos 1 e 2 do mesmo rio. A grande concentração dos pontos de coleta e das espécies

indicou uma baixa heterogeneidade ambiental na bacia. 

Page 65: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

65

Figura 26: Projeção dos “scores” dos 12 pontos de coleta obtidos através da análise de correspondência“detrended” (DCA). Autovalor do eixo 1 = 0,713 e eixo 2 = 0,319.

Figura 27: Projeção dos “scores” das 35 espécies obtidos através da análise de correspondência “detrended”(DCA). Autovalor do eixo 1 = 0,713 e eixo 2 = 0,319.

Page 66: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

66

4.7.2. Análise de componentes principais

A análise de componentes principais das variáveis ambientais da paisagem no entorno do ponto de

coleta indica uma associação entre o primeiro eixo com a ordem do rio, segundo eixo com cobertura vegetal

e estado de preservação da mata ciliar e terceiro eixo com a presença de pasto (Tabela 30).

Tabela 30: Análise de componentes principais das variáveis ambientais da paisagem do ponto de coleta. Osvalores maiores que 0.5 estão representados em negrito.

Autovetores1 2 3

Autovalor 2.858 2.237 1.003% de explicação 35.722 27.962 12.541% acumulada 35.722 63.684 76.225VariáveisOrdem do rio 0.523 0.045 ­0.275Cobertura vegetal ­0.238 0.544 ­0.197Preservação da mata ciliar ­0.336 0.507 ­0.115Presença de eucalipto ­0.277 ­0.356 ­0.052Presença de cana­de­açúcar 0.345 0.416 0.262Presença de pasto ­0.272 ­0.141 ­0.746Esgoto ­0.286 ­0.294 0.388Estabilidade do barranco ­0.453 0.194 0.305

4.7.3. Análise espécie­ambiente

A estrutura primária das assembléias de peixes dos diferentes rios da bacia, resumidas nos eixos 1 e

2 da análise de correspondência (DCA), mostraram­se estatisticamente semelhantes (Tabela 31).

Tabela 31: Análise de variância não­paramétrica (Kruskal­Wallis) para os eixos 1 e 2 da DCA considerandoos diferentes rios.

Eixo X2 Graus deliberdade

p

DCA1 7.308 3 0.063DCA2 5.519 3 0.137

Page 67: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

67

Existe   uma   relação   linear   entre   o   eixo   2   da   análise   de   componentes   principais   (PCA2),   que

representou a cobertura vegetal e estado de preservação da mata ciliar e o número de espécies coletadas (n =

12; r = 0.661; r2 = 0.437; p = 0.019) (Figura 28).

Figura 28: Cobertura vegetal e estado de preservação da mata ciliar (PCA2) versus número de espécies.

Page 68: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

68

5. DISCUSSÃO

5.1. Diversidade de espécies

A América do Sul  possui a ictiofauna continental  mais rica e diversificada do planeta contendo

aproximadamente 8000 espécies (SCHAEFER,  1998). Este número representa cerca de 24% de todas as

espécies de peixes do mundo e contribui com 12,5% de toda a biodiversidade de vertebrados, tudo isto

contido em somente 0,003% da água do mundo (VARI; MALABARBA, 1998).

Esta fauna é predominantemente composta por espécies da superordem Ostariophysi e as famílias

Characidae da ordem Characiformes e Loricariidae da ordem Siluriformes representam, respectivamente,

22% e 10% do número total de espécies descritas da fauna ictiológica Neotropical (SCHAEFER, 1998).

A bacia do Paraná, em seu trecho brasileiro, é composta por mais de 250 espécies, das quais cerca

de 40% são Characiformes e 36% Siluriformes (AGOSTINHO; JÚLIO JR., 1999). No Estado de São Paulo,

segundo Castro e Menezes (1998), o sistema do alto Paraná  contém 22 famílias e aproximadamente 170

espécies de peixes descritas. Riachos e cabeceiras são habitados por espécies de pequeno porte (SL < 12

cm), respondendo por aproximadamente 50% do total de espécies.  Estes padrões foram encontrados nas

coletas realizadas no sistema Corumbataí, pois apresentou maior contribuição de caraciformes seguida por

siluriformes e das 35 espécies capturadas 18 são de peixes pequenos (L < 15 cm), representando cerca de

75% dos indivíduos coletados (Tabela 1). 

O ajuste dos dados ao modelo lognormal sugeriu a existência de uma grande assembléia, madura e

com   grande   variabilidade.   Este   padrão   também   foi   encontrado   por   Barrela   (1997)   nos   rios   Tietê   e

Paranapanema e Smith (1999) no rio Sorocaba. Pode­se afirmar que existem muitos processos atuando de

forma aleatória e independente na dinâmica das populações (MAY, 1975; VANDERMEER, 1981). Isto não

quer  dizer  que esta  assembléia  de  peixes  segue  um padrão  determinístico  ou aleatório  no processo  de

colonização, e sim, confirma a necessidade de se levar em consideração uma grande quantidade de variáveis

controlando a estrutura das assembléias de peixes do sistema. 

Page 69: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

69

As  medidas  de  diversidade   (Tabela  19),   a   estimativa   do   número   de   espécies  pelo   método   da

rarefação (Tabela 17 e Figuras  13 e 14),  a visualização gráfica  das espécies  em ordem de importância

(Figura 15) e o ajuste  aos  modelos de espécie­abundância  (Tabela  20) indicaram que o Ribeirão Claro

possui maior diversidade de espécies que os rios Corumbataí, Passa Cinco e Cabeça.

5.2. Variação espaço­temporal

Os ecossistemas de rios são redes de conexão de águas superficiais que drenam uma determinada

área. Eles são compostos por uma estrutura hierárquica de canais fluviais, indo de pequenos riachos nas

áreas de cabeceira até grandes porções de água corrente que chegam nos oceanos (LIMBURG; SWANEY;

STRAYER, 2001; ALLAN, 1995).

Estes   sistemas   possuem   características   próprias,   dentre   elas   podemos   citar:   a   relação

erosão/deposição e o tamanho médio das partículas que diminui rio abaixo, ao passo que o número de tipos

de substratos e gradiente de profundidade aumentam conforme o rio desce em seu fluxo unidirecional e

horizontal.   O   efeito   do   sombreamento   sobre   o   controle   da   temperatura   da   água   possui   um   valor

considerável. A energia primária e nutrientes dependem sobremaneira de material alóctone que diminui no

sentido cabeceira­foz (WELCOMME, 1985). 

Assim   como   estes   sistemas   físicos   possuem   dinâmica   espaço­temporal   e   estão   intimamente

relacionados   com   o   entorno,   as   assembléias   de   peixes,   que   neles   estão   inseridas,   acompanham   estas

mudanças ambientais.

As variáveis que controlam a estrutura das assembléias de peixes em ambientes de água doce têm

ficado   mais   evidentes   com   a   utilização   de   modelos   conceitualmente   simples   (ANGERMEIER;

SCHLOSSER, 1989; OSBORNE; WILEY, 1992).

Estas variáveis podem ser representadas por fatores intrínsecos das assembléias como competição

interespecífica   (ANGERMEIER,  1982;  ROSS,  1986),   competição   intraespecífica   (BRIDCUT;  GILLER,

1993) ou predação (SCHLOSSER, 1987), ou então, por fatores extrínsecos representados pelas variáveis

Page 70: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

70

ambientais, que podem ser aquelas medidas no próprio curso d’água ou ao redor, compondo a paisagem.

O presente estudo teve um enfoque nos fatores extrínsecos e sua importância na organização da

estrutura primária  da assembléia,  ou seja,  quais  as espécies encontradas e suas respectivas abundâncias,

assim como em estruturas  emergentes,  como por exemplo,  número de espécies,   índices  de diversidade,

curvas de relação espécie­abundância. 

Para Toepfer, Williams, Martinez e Fisher (1998) a assembléia de peixes em rios da região central

dos   EUA   estão   estruturadas   pelo   tipo   de   fundo,   condutividade,   velocidade   da   corrente,   largura   e

profundidade  do   canal.  Rodríguez   e  Lewis   (1997),   estudando   lagoas  de  planície  de   inundação  no   rio

Orinoco, constataram que os fatores estruturadores são transparência, condutividade, profundidade e área. A

profundidade,   largura,   velocidade   da   água,   abrigo   e   influência   da   vegetação   ciliar   foram   os   fatores

responsáveis pela estrutura das assembléias em rios da bacia do Paraná  (SUZUKI; PAVANELLI; FUGI;

BINI; AGOSTINHO, 1997). 

Marsh­Matthews   e   Matthews   (2000)   levaram   em   consideração   o   efeito   de   escala,   aspecto

fundamental em Ecologia, quando compararam bacias de drenagem no meio Oeste dos EUA e evidenciaram

o efeito da latitude e longitude sobre a estrutura primária e o efeito da longitude sobre a riqueza de espécies.

Quando analisaram o efeito de fatores terrestre locais, ou seja, o entorno do ponto de coleta, constataram

que temperatura ambiente, estabilidade dos barrancos e vegetação herbácea foram agentes reguladores da

estrutura primária. No próprio canal, troncos caídos, tipo de substrato, seqüência poção­corredeira foram

importantes na determinação da estrutura primária, ao passo que, a velocidade da água e a profundidade

estruturaram as propriedades emergentes, no caso, a riqueza de espécies. 

Uma outra abordagem da influência da paisagem foi dada por Punsey, Kennard e Arthington (2000)

que modelaram o efeito da vazão, a qual está  relacionada com clima, escoamento superficial e forma da

bacia hidrográfica (CALASANS; LEVY; MOREAU, 2002), sobre as estruturas primárias e emergentes das

assembléias de peixes de rios do nordeste da Austrália. Sugerem que a ocorrência ou não das espécies que

colonizam   um   determinado   ambiente   estão   relacionadas   com   a   vazão,   ao   passo   que,   os   fatores   de

microhabitat influenciam a estrutura primária, ou seja, a abundância destas espécies.

Page 71: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

71

O  isolamento  de  algumas  variáveis  ambientais  permitiu   simplificar   a   visualização  da   estrutura

multidimensional responsável pela variação espaço­temporal na riqueza de espécies de peixes da bacia do

Corumbataí.  

A área  transversal  do ponto de coleta,  representada pela ordem do canal,  revelou uma variação

significativa e positiva na riqueza de espécies em função da posição longitudinal (Figura 18 e Tabela 27).

Este   padrão   foi   encontrado   em   vários   outros   rios   (ANGERMEIER;   SCHLOSSER,   1989;   OSBORNE;

WILEY, 1992)  evidenciando uma das idéias principais dentro da Ecologia que é  a relação espécie­área,

assim como, o Conceito de Rio Contínuo (VANNOTE; MINSHALL; CUMMINS; SEDELL; CUSHING,

1980).

Desde 1980, discute­se a utilização da relação espécie­área em biologia da conservação visando

determinar o tamanho ótimo de reservas naturais e para projetar o número esperado de espécies perdidas em

uma determinada região que sofre uma redução em sua área (CONNOR; MCCOY, 2001). MacArthur e

Wilson (1967) propuseram a teoria da biogeografia de ilhas para explicar padrões observados de riqueza de

espécies em ilhas. Eles propunham que o número de espécies em uma ilha está relacionado com a área e a

distância da ilha ao continente, os quais atuam como fonte de imigração em potencial. A partir desta teoria

surgiram   conceitos   como   dinâmica   das   metapopulações   (PULLIAM,   1988)   e   relação   espécie­área

(ANGERMEIER; SCHLOSSER, 1989). A riqueza de espécies em sistemas aquáticos tem sido predita muito

satisfatoriamente pelo volume, que representa muito bem o tamanho da mancha (“patch”) (ANGERMEIER;

SCHLOSSER, 1989; TAYLOR, 1997). 

Existem algumas hipóteses para explicar esta relação: a) grandes áreas possuem maior variedade de 

habitats;  b)  mais  espécies  deverão persistir  e  não ocorrerá  a extinção local  em grandes  áreas;  c)  é  um

fenômeno amostral onde grandes áreas geralmente suportam mais indivíduos; d) manchas de habitats com

grande quantidade de recursos suportam maior número de espécies; e) efeito de borda (ANGERMEIER;

SCHLOSSER, 1989; OSBORNE; WILEY, 1992; CONNOR; MCCOY, 2001). 

A temperatura  da água  foi  uma das  variáveis  que  teve   influência  sobre  o   número de espécies

capturadas (Figura 19). Vale ressaltar que, devido à natureza dos dados ser observacional, isto não implica

Page 72: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

72

uma   situação   de   causa   e   efeito,   mas   sim   um   indício   de   que   estas   variáveis   estão   relacionadas

estatisticamente.   Outras   variáveis   ambientais   também   são   responsáveis   pela   flutuação   no   número   de

espécies capturadas e não foi possível verificar o efeito causal desta única variável por não se tratar de um

experimento, onde seria possível manter todas as outras variáveis constantes.

A temperatura atua diretamente sobre os organismos, principalmente nos ectotérmicos, como é o

caso dos peixes, regulando a velocidade de seu metabolismo. Um aumento nesta velocidade significa um

aumento na necessidade energética, a qual, em última instância, está refletida na quantidade de alimento

necessária para fazer o organismo funcionar. Assim como ocorre uma atuação na fisiologia do indivíduo, a

assembléia também é influenciada por variações na temperatura como mostrado por Magnuson, Crowder e

Medvick (1979).

  A   temperatura   da   água,   além   de   representar   a   atuação   sobre   as   propriedades   emergentes   da

assembléia  de peixes,   representou  a dinâmica  ao   longo do  tempo.  No primeiro  período (março­junho),

conforme  as   coletas  ocorreram,   a   temperatura  diminuiu   significativamente,   ao  passo  que,   no   segundo

período (setembro­dezembro) ocorreu um aumento significativo da temperatura (Figura 20).

Observou­se que a variação na ordem e na temperatura explicou, isoladamente, somente 20% e 15%

daquela ocorrida nas espécies capturadas (Figuras 18 e 19); isto porque ocorreu um confundimento entre

estas variáveis, pois, pode ser verificado que no primeiro período de coletas ocorreu uma baixa captura de

espécies no trecho de ordem 6 do rio Passa Cinco (Tabela 18) e a temperatura foi uma das menores (Tabela

24). 

O logaritmo do número de indivíduos foi a melhor variável para predizer o número de espécies

(Figura 21). Isto pode ser interpretado como uma conseqüência do efeito do tamanho da amostra ou então o

chamado “ruído de movimento” (“turnover noise”), onde a flutuação na riqueza de espécies esperada em um

ambiente constante, pode ser devido às taxas de imigração e extinção local, devido a grande mobilidade dos

peixes (Angermeier; Schlosser, 1989).  

O diagrama de dispersão entre a riqueza e o logaritmo da abundância das espécies revelou que o

Page 73: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

73

Ribeirão Claro apresenta uma característica muito distinta e trata­se de um caso especial, pois, ao aumentar

o tamanho da amostra o número de espécies não se alterou (Figura 22), e, além disso, a composição em

abundância e por grupo trófico das espécies deste rio mostrou­se dissimilar ou com baixa similaridade em

relação aos outros (Tabelas 21 e 23). 

Portanto, o melhor modelo que explica a variação no número de espécies ao longo do tempo e no

espaço para a bacia do Corumbataí é aquele que contém informações da ordem, temperatura e número de

indivíduos, retirando­se o Ribeirão Claro que possui um sistema muito distinto dos outros.

Numa primeira análise, não se detectou diferença significativa no número de espécies nos diferentes

rios e ordens, e somente a temperatura e o número de indivíduos contribuíram significativamente (Tabela

28).   Juntando­se   a   este   resultado,   os   quatro   rios   apresentaram   um   padrão   comum   quanto   ao   perfil

longitudinal (Figuras 7, 8, 10 e 11) e não apresentaram diferença significativa quanto às variáveis físicas e

químicas   (Tabela   26),   nem   nas   medidas   de   diversidade   (Tabela   19)   nem   na   estrutura   primária   das

assembléias (Tabela 31).

Estes  resultados  estão de acordo  com Toepfer;  Williams;  Martinez;  Fisher  (1998)  que afirmam

existir menor gradiente na assembléia de peixes em ecorregiões que em regiões distantes, principalmente

pela grande mobilidade destes seres. Esta situação dificulta avaliar a heterogeneidade espacial do ambiente

em estudo. Apesar disso, as ecorregiões, ou no caso, a bacia hidrográfica possui uma série de vantagens em

ser   adotada   como   unidade   de   estudo   de   processos   ecológicos   ou   manejo   de   seus   recursos   (PIRES;

SANTOS; DEL PRETTE, 2002; RIBEIRO, 1994).

O modelo de análise de covariância, sem o efeito dos rios, explica cerca de 77% da variabilidade do

número de espécies na bacia em função da variação no espaço, representado pela ordem dos rios; tempo e

fisiologia, representados pela temperatura; e número de indivíduos (Tabela 29 e Figuras 23, 24 e 25). Como

dito anteriormente, os sistemas de rios possuem muitas variáveis controlando a assembléia de peixes e este

modelo   simplificado  permitiu  uma boa  explicação  de  quais  as  variáveis  ambientais  que  estruturam  as

assembléias da bacia do Corumbataí.

Page 74: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

74

5.3. A assembléia de peixes do Ribeirão Claro

O fato dos dados do Ribeirão Claro não terem se ajustado ao modelo de variação espaço­temporal,

apresentado anteriormente, se deve a este modelo ser extremamente simples para incorporar a complexa

paisagem na qual este rio está inserido. Este modelo está de acordo com a teoria do rio contínuo e, no caso,

não satisfaz  as condições impostas pelo ser humano na paisagem natural.  Torna­se necessário levar  em

consideração as relações do rio com o entorno, pois, a paisagem se apresenta como um mosaico composto

por manchas (“patch”) conectadas por corredores que permitem o contato entre estes ambientes. 

Fisher, Grimm, Marti, Holmes e Jones (1998) apresentaram um caminho alternativo para observar o

funcionamento dos sistemas de rios e as suas relações com a paisagem. Em contraponto com a teoria do rio

contínuo   (RCC),   estes   autores   enfatizam   a   heterogeneidade   ambiental   na   escala   espaço­temporal   e

consideram que o rio é a interação entre os subsistemas: superfície d’água, solo interno, solo ao redor do

canal e mata ciliar, que atua como zona tampão. Quando o rio sofre impacto, os diferentes subsistemas irão

atuar,   porém,   de   forma   diferenciada.   Para   estes   autores,   a   resistência   do   sistema   é   inversamente

proporcional  à   intensidade  do  impacto.  Em pequenos  impactos,  a  própria  superfície  é   responsável  pela

absorção. Já em impactos maiores, os outros subsistemas interagem e permitem o retorno do sistema ao seu

estado   natural   (resiliência).   Este   modelo   coloca   os   subsistemas   em   uma   estrutura   hierárquica,   com   a

superfície d’água envolvida pelo solo interior ao canal, que por sua vez estão envolvidos pelo solo ao redor

do canal e, no seu último nível está a mata ciliar. Ao sofrer um impacto, os subsistemas funcionam como

uma luneta retrátil, o que dá o nome ao modelo (Telescoping Ecosystem Model – TEM). 

A assembléia  de  peixes  dos  pontos  1  e  2  do  Ribeirão  Claro  encontram­se   isoladas  das  outras.

Existem duas barragens, uma no ponto 3, relacionada com a geração de energia em tempos passados e outra

a cerca de 1 km abaixo do ponto 2, onde ocorre a captação de água para a cidade. Soma­se a isto o despejo

de esgotos da cidade de Rio Claro, ao longo de um trecho de cerca de 3 km, percorrendo uma distância

aproximada de 10 km até desaguar no Corumbataí. 

Devido   às   atividades   humanas   fragmentarem  habitats  naturais   ocorreu   a   formação   de

metapopulações que podem ser definidas como uma coleção de populações locais em uma região com fluxo

Page 75: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

75

gênico (CHESSON, 2001). Esta população local de organismos na natureza freqüentemente se extingue e se

restabelece posteriormente após a imigração de áreas adjacentes. Fica evidente que a situação encontrada no

Ribeirão Claro se enquadra na definição acima. 

Neste contexto, duas situações podem dar seqüência ao atual cenário: a) os pontos 1 e 2 do Ribeirão

Claro podem funcionar como fontes de dispersão para recolonização dos ambientes ao longo dos canais da

bacia após medidas de tratamento de esgoto, principalmente da cidade de Rio Claro; b) a não observação de

medidas  de reabilitação dos rios da bacia,  principalmente  a bacia do Ribeirão Claro,  podem diminuir  a

densidade das  populações   locais  dentro  das  metapopulações  colocando em risco a  sobrevivência  destas

populações.

Esta  situação  evidencia  como o processo  de  fragmentação de  habitats  aquáticos  pode  alterar  a

relação espécie­área (SCHLOSSER, 1995) e está de acordo com as idéias de Punsey; Kennard; Arthington

(2000),   pois,   as   espécies   já   estavam   distribuídas   pela   bacia,   que   é   pequena   e   apresenta   baixa

heterogeneidade. Porém, fatores de microhabitat influenciaram a estrutura primária, ou seja, a abundância

destas   espécies   (Figuras  26  e  27),  que  é   o   caso  do  ponto  1  do  Ribeirão  Claro  o  qual   apresenta  uma

abundância relativa e altos  valores de diversidade (Tabela  18),  além de uma relação trófica muito bem

estabelecida (Tabela 22). 

5.4. Efeito da mata ciliar

As áreas  de mata  ciliar  apresentam importantes  funções  hidrológicas,  ecológicas  e  limnológicas

para a integridade biótica e abiótica dos sistemas de rios (BARRELLA; PETRERE; SMITH; MONTAG,

2000). Segundo estes autores, nos trechos onde o volume d’água é relativamente pequeno a influência da

vegetação   é   grande,   pois,   protegem   estruturalmente   os  habitats,   regulam   o   fluxo   e   a   vazão  de  água,

proporcionam abrigo e sombra, são responsáveis pela manutenção da qualidade da água através da filtragem

de substâncias da área ao redor e fornecem matéria orgânica e substrato de fixação de algas e perifíton.

Para VIANA (1997) atualmente há apenas 9% da cobertura vegetal original, onde 6% correspondem

a remanescentes de mata ciliar na bacia do rio Corumbataí. Estes fragmentos florestais assumem um papel

Page 76: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

76

chave como “ilhas de biodiversidade”.

Não foi possível realizar uma análise de covariância para entender o efeito dos fatores ordem do

canal   e   estrutura   ambiental   da   paisagem   devido   ao   número   insuficiente   de   amostras   que   continham

diferentes  ordens  e   tipos  de  paisagem.  Utilizando  uma  técnica  de  análise  multivariada,   relacionando  o

número de espécies com o eixo que representa o grau de cobertura e o estado de conservação da mata ciliar,

foi possível quantificar a relação estatística entre estas variáveis e a riqueza (Tabela 30 e Figura 28).  

Os resultados do presente trabalho estão de acordo com as idéias que relacionam mata ciliar e fauna

de  peixes,   pois,   os  pontos  1  do  Ribeirão  Claro   e  do  Passa  Cinco   são  os  que   apresentaram  melhores

condições quanto à presença e estado de conservação da mata ciliar e, nestes locais, foram capturadas mais

espécies. 

Pelo modelo de variação espaço­temporal apresentado anteriormente, esperava­se que áreas mais

altas apresentassem menor número de espécies como os pontos 1 do rio Cabeça e Corumbataí.  Deve­se

observar que além destes pontos estarem em regiões mais altas, encontram a mata ciliar em baixo grau de

preservação. 

O ponto 3 do Ribeirão Claro destacou­se, pois apesar de estar em um ponto mais baixo e possuir

características lênticas, apresentou­se com a mata ciliar totalmente modificada e a situação no próprio canal

é deplorável, o que levou a baixa captura de espécies.

5.5. Espécies de peixes indicadoras

Segundo Lawton e  Gaston   (2001)  existem  três   formas  distintas  de se  utilizar  o   termo “espécie

indicadora”: a) refletem o estado biótico ou abiótico de um determinado ambiente; b) revelam evidências de

impacto ambiental;  c) indicam a diversidade de outras espécies ou mesmo da comunidade toda de uma

determinada área.

Independente da forma que se usa, esta prática tem uma proposta de gerenciamento ambiental, pois

Page 77: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

77

como a riqueza e a abundância das espécies mudam conforme o ambiente pode­se utilizar as espécies como

indicadoras do estado do ambiente. 

A   remoção   da   vegetação   marginal   ocasiona   muitas   mudanças   nos   sistemas   lóticos,   incluindo

aumento   da   temperatura   da   água,   substituição   de   um   sistema   heterótrofo   para   autótrofo,   redução   da

estabilidade   do   sistema,   perda   da   capacidade   natural   de   retenção   de   sedimentos   e   nutrientes

(ANGERMEIER; KARR, 1983; ALLAN, 1995). Assim como Power (1984) os dados do presente trabalho

sugerem uma associação entre grau de sombreamento, que reflete a presença ou não da vegetação marginal,

e cascudos Hypostomus strigaticeps (Tabela 5).  

O   comportamento   alimentar   de   cascudos   é   favorecido   por   adaptações   morfológicas   do   trato

digestivo,  como boca ventral  e em forma de ventosa,   intestino longo,  entre  outras.  São conhecidas  por

construírem ninhos escavados na margem onde os machos protegem a prole. O consumo de detrito, como

fonte principal de alimento, tem sido registrado para várias espécies de loricarídeos em diversas localidades

(HAHN; FUGI; ALMEIDA; RUSSO; LOUREIRO, 1997). Estes autores estudando uma outra espécie de

cascudo H. myersi no reservatório de Segredo, classificaram­na como detritívora sendo registrados vários

gêneros de diatomáceas, algas filamentosas, tecamebas, larvas de insetos (Chironomidae) e Nematoda, o

que confirma a  idéia  de  que estes  peixes  são importantes  controladores  das  populações  de algas  e  que

devido   ao  baixo   sombreamento,   estes  pontos   tornaram­se   autotróficos   (ANGERMEIER;  KARR,  1983;

ALLAN, 1995), propiciando maior oferta de alimento a esta espécie. Os aspectos alimentar e reprodutivo

explicam porque os cascudos no sistema Corumbataí ocorreram de forma constante e foram importantes

tanto no número de indivíduos quanto no peso (Tabelas 1, 2 e 5) indicando o estado biótico e abiótico da

bacia.

Segundo Signorini (1999), que estudou a alimentação do caborja  Hoplosternum littorale  nos rios

Piracicaba e Corumbataí, esta espécie apresenta cuidado com a prole, reprodução nos períodos de agosto a

fevereiro, desova parcelada e hábito noturno, alimentando­se de microcrustáceos, larvas de inseto e detritos.

Esta   espécie   esteve   muito   associada   com   o  ponto  3   do  Ribeirão  Claro   (Figuras  26,   27),   onde   foram

encontrados 18 indivíduos no período de setembro a dezembro, período no qual Signorini (1999) capturou

exemplares desta espécie com estômago vazio e argumentou que nestes períodos o caborja cessa a atividade

Page 78: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

78

alimentar e passa a utilizar o intestino exclusivamente para respiração aérea. Pedro Neto (1996) estudando o

impacto do despejo de esgoto sobre a comunidade de peixes do Ribeirão Claro, capturou somente o  H.

littorale  na época de estiagem em um ponto logo abaixo da emissão de esgoto. Barrella (1997) capturou

indivíduos de uma outra espécie de caborja Callichthys callichthys em ambientes altamente poluídos no rio

Tietê. Para Signorini (1999) outros aspectos deveriam ser utilizados para a utilização desta espécie como

indicadora de poluição, porém, os resultados encontrados no presente trabalho, assim como em Pedro Neto

(1996) e Barrella (1997), mostram a associação entre esta espécie e ambientes poluídos mostrando­se um

bom indicador de locais com poluição orgânica, evidenciando impacto ambiental.

Por outro lado, o  Astyanax altiparanae  não seria um bom indicador ambiental,  pois ocorreu em

todos os pontos de coleta (Tabela 6). Esta espécie realiza pequenas migrações, e segundo o graduando em

biologia   Alberto   L.   Carmassi   que   está   estudando   aspectos   reprodutivos   e   alimentares   desta   espécie

(Processo FAPESP 2001/14324­5), apresentou período reprodutivo durante a segunda etapa, nos meses de

setembro a dezembro,  alimentou­se principalmente de anelídeos,  material  autóctone,  durante o primeiro

período   de   coletas   e   insetos,   sementes   e   aracnídeos,   material   alóctone,   durante   o   segundo   período,

mostrando­se pouco seletiva quanto ao alimento e conseqüentemente, ao ambiente em que ela habita.

A tabarana Salminus hilarii é uma espécie que apresenta desova total, fecundação externa, realiza

migrações e não cuida da prole, vivendo em regiões de correnteza. Esta espécie esteve associada ao ponto 1

do Ribeirão Claro (Figuras 26 e 27), portanto, encontra­se isolada do restante da bacia. É uma espécie muito

próxima do dourado, mas tem menor porte e sua nadadeira  caudal é  avermelhada.  É  um piscívoro e se

desloca em cardumes pelos rios.  Em Minas Gerais,  no rio das Velhas, em sua porção próxima à  região

metropolitana de Belo Horizonte, não é mais capturado (ARAÚJO; MANTOVANI, 2003). 

No rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, foi implementado o projeto Dourado, seguindo o conceito

de  uma  espécie  bandeira  para   envolver   a   população  nas   atividades  de   restauração  do   rio.  O   dourado

Salminus maxillosus  tem um ciclo de vida semelhante aos salmonídeos do hemisfério norte: migra longas

distâncias, desova nas cabeceiras dos rios e se alimenta e cresce nas partes baixas. Para fechar o ciclo de

vida  ele  depende  que   todas  as  partes  do   rio  estejam  em boas  condições.  Dessa   forma  ele  é   um bom

bioindicador para o estado do ecossistema (COMITESINOS, 2003).

Page 79: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

79

 

Seguindo este exemplo, na bacia do Corumbataí a tabarana Salminus hilarii poderia funcionar como

espécie bandeira, visando angariar fundos para pesquisa desta espécie, envolvendo a população local através

da implementação de projetos de educação ambiental para conscientizar os estudantes do impacto humano

sobre o ciclo de vida da tabarana e, conseqüentemente, sobre o ecossistema. Portanto, esta espécie indica a

diversidade de outras espécies ou mesmo da comunidade toda de uma determinada área devido ao seu grau

de seletividade ambiental e por ser topo de cadeia alimentar.

Page 80: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

80

6. CONCLUSÕES

A utilização da análise  de covariância  se  mostrou como um eficiente  instrumento  para  detectar

variações espaço­temporais de assembléias de peixes, visto que explicou cerca de 77% da variabilidade do

número de espécies de peixes na bacia em função da variação no espaço,  tempo,  fisiologia e efeito  do

tamanho da amostra. Esta ferramenta simplificou um sistema complexo e permitiu uma boa explicação de

como  a  posição  ao   longo  do  canal,   temperatura  e  número  de   indivíduos  estruturaram  as  propriedades

emergentes das assembléias de peixes da bacia do Corumbataí em locais onde o processo de urbanização

não é tão acentuado.

A aplicação  da  relação espécie­área  nas  assembléias  de  peixes   refletiu  com certa  segurança  os

efeitos do processo de urbanização, tais como barragens e despejo de esgoto in natura, sobre a dinâmica dos

peixes, levando a crer que as assembléias localizadas acima destas ações humanas encontram­se isoladas,

formando metapopulações. Estes pontos juntamente com aqueles fortemente modificados não respondem a

um dos mais conhecidos conceitos dentro da Ecologia. Neste contexto, duas situações podem dar seqüência

ao atual cenário:  a) os pontos 1 e 2 do Ribeirão Claro podem funcionar como fontes de dispersão para

recolonização   dos   ambientes   ao   longo   dos   canais   da   bacia   após   medidas   de   tratamento   de   esgoto,

principalmente da cidade de Rio Claro; b) a não observação de medidas de reabilitação dos rios da bacia,

principalmente a bacia do Ribeirão Claro, podem diminuir a densidade das populações locais dentro das

metapopulações colocando em risco a sobrevivência destas populações.

Padrões de associação entre o estado de conservação da mata ciliar e a riqueza de espécies de peixes

foram verificados, pois, os pontos mais altos do Ribeirão Claro e do Passa Cinco apresentaram melhores

condições quanto à presença e estado de conservação da mata ciliar e, nestes locais, foram capturadas mais

espécies, apesar de possuírem menor volume de água. 

Algumas   espécies   de   peixes   podem   ser   utilizadas   como   indicadores   ambientais:  Hypostomus

strigaticeps se mostrou associada a ambientes mais abertos onde há a possibilidade de colonização por parte

de algas, Hoplosternum littorale esteve associado a ambientes com baixos valores de oxigênio e Salminus

hilarii foi bastante capturado nos locais em que a estrutura ambiental do ponto de coleta estava em melhores

Page 81: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

81

condições; por outro lado o Astyanax altiparanae não foi um bom indicador, pois se mostrou uma espécie

pouco seletiva quanto ao alimento e conseqüentemente, ao ambiente em que ela habita.

A importância destes resultados não se restringe apenas ao âmbito acadêmico da compreensão da

variação espacial  e temporal  da assembléia  de peixes da bacia  do rio Corumbataí,  mas possui  seu lado

prático que foi a possibilidade de detectar um comportamento distinto dos dados provenientes do Ribeirão

Claro, o rio mais impactado quanto ao despejo de esgotos em seu trecho ao longo da cidade de Rio Claro e o

grau de isolamento que se encontra a sua fauna de peixes nos pontos acima do local de captação de água

para a cidade, confirmando, através de análises estatísticas, as idéias apresentadas em Viadana (1992). 

Partindo   do   princípio   que   a   água   não   é   um   recurso   inesgotável   capaz   de   receber   e   absorver

alterações na paisagem ao redor, quantidades ilimitadas de rejeitos provenientes da atividade humana e que

esta situação é resultado de uma utilização descuidada e sem planejamento, torna­se necessária a utilização

deste recurso com o estabelecimento de parâmetros de otimização considerando os aspectos técnicos, os

interesses políticos, sociais e econômicos, além dos aspectos da legislação. 

Para tanto se torna urgente a adoção de um modelo de planejamento e gestão dos usos das águas,

tomando como exemplo o caso das bacias do rio das Velhas (Minas Gerais) e do rio dos Sinos (Rio Grande

do Sul). Neste sentido, os municípios que compõem a bacia do Corumbataí e o município de Piracicaba, que

capta  do sistema Corumbataí  100% da água para  abastecer  a  cidade,   juntamente  com a comunidade  e

contando com o apoio   técnico  da Universidade  de São Paulo  (USP/ESALQ/Piracicaba)  e  Universidade

Estadual   Paulista   (UNESP/Rio   Claro)   têm  condições   plenas  de   estabelecer  um   modelo   de   gestão  dos

recursos hídricos da bacia. Ainda não sabemos qual a intensidade dos impactos e tampouco o tempo que os

peixes irão suportar estas alterações ambientais. 

Page 82: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

82

7. REFERÊNCIAS 

AGOSTINHO, A.A.; JÚLIO JR, H.F. Peixes da bacia do alto Paraná.  In: McCONNELL, R.H.L.,  (Ed.).Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. São Paulo: Edusp, 1999.

ALLAN, J.D. Stream Ecology: structure and function of running water. New York: Chapman & Hall, 1995.

ANGERMEIER, P.L. Resource seasonality and fish diets in an Illinois stream. Environmental Biology ofFishes, p. 251­264, 1982.

ANGERMEIER P.L.; KARR, J.R. Fish communities along environmental gradients in a system of tropicalstream. Environmental Biology of Fishes, p. 117­35, 1983.

ANGERMEIER, P.L.; SCHLOSSER, I.J. Species­area relationships for stream fishes.  Ecology,  p. 1450­1462, 1989.

ARAÚJO,   S.;   MANTOVANI,   F.  Conheça   os   peixes   do   rio   das   Velhas.   Disponível   em:<http://www.manuelzao.ufmg.br/jornal/jorn­ulted16/peixes.htm>. Acesso em 02 fev. 2003.

ATLAS ambiental da bacia do rio Corumbataí. Disponível em: <http:// www.rc.unesp.br/igce/ ceapla/atlas>.Acesso em 15 mai. 2002.

BALLESTER,   M.V.R.   Projeto   Piracena:   Estudos   na   Bacia   do   Rio   Corumbataí.   In:   NASSIF,   A.M.A.;SILVA,   E.R.;   MERLI,   G.L.;   MENDES,   J.C.;   FREIXEDAS,   V.;   VIANA,   V.M.   (Eds.).  RecuperaçãoFlorestal e Desenvolvimento Sustentável na Bacia do Rio Corumbataí. Piracicaba: SEMAE, 1997.

BARRELLA, W.  Alterações  das comunidades de peixes nas bacias  dos rios Tietê  e Paranapanema(SP),   devido   à   poluição   e   ao   represamento,   1997.   Tese   (Doutorado   em   Zoologia)   –   Instituto   deBiociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1997.

BARRELLA, W.; PETRERE, M.; SMITH, W.S.; MONTAG, L.F.A. As relações entre as matas ciliares, osrios  e  os  peixes.   In:  RODRIGUES,  R.R.;  LEITÃO FILHO, H.F,  (Eds.).  Matas ciliares:  conservação e

Page 83: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

83

recuperação. São Paulo: Edusp, 2000.

BAYLEY, P.B. Understanding large river­floodplain ecosystems. BioScience, p: 153­158, 1995.

BEAUMORD,  A.C.  As comunidades  de  peixes  do  rio  Manso,  Chapada  dos  Guimarães,  MT:  umaabordagem   ecológica   numérica.    1991.   Dissertação   (Mestrado   em   Ciências   Biológicas)   –   Instituto   deBiofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1991. 

BEGON, M.; HARPER, J.L.;  TOWNSEND, C.L. Ecology. Oxford: Blackwell Science, 1996.

BELLIARD J.; THOMAS, R.B.D.; MONNIER, D. Fish communities and river alteration in the Seine Basinand nearby coastal streams. Hydrobiologia, 155­166, 1999.

BRIDCUT, E.E.; GILLER, P.S. Diet variability in relation to season and habitat utilization in brown trout,Salmo trutta L., in a southern Irish stream. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 17­24,1993.

BUCKUP, P.A.; MENEZES, N.A. Catálogo dos peixes marinhos e de água doce do Brasil. Disponível em:<http://www.mnrj.ufrj.br/catalogo/>. Acesso em 10 jul. 2002.

CALASANS, N.A.R.; LEVY, M.C.T.; MOREAU, M. Interrelações entre clima e  vazão. In: SCHIAVETTI,A; CAMARGO, A.F.M., (Eds.).  Conceitos de Bacias Hidrográficas: teorias e aplicações. Ilhéus: Editus –Editora da UESC, 2002.  

CASTRO, R.M.C; MENEZES, N.A. Estudo diagnóstico da diversidade de peixes do Estado de São Paulo.In: CASTRO, R.M.C., (ed.). Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento aofinal do século XX, vol. 6 Vertebrados. São Paulo, WinnerGraph – FAPESP, 71 pp., 1998.

CETESB. Qualidade das águas interiores do Estado de São Paulo. CETESB, 134p., 1984.

CHESSON, P. Metapopulations. Encyclopedia of Biodiversity. California: Academic Press., 2001.

COMITESINOS.  Comitê  de  Gerenciamento da bacia  hidrográfica  do rio  dos Sinos.  Disponível  em:<http://www.comitesinos.com.br.> Acesso em: 02 fev. 2003.

Page 84: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

84

CONNELL,   J.H.;  SOUSA,   W.P.  On   the   evidence   needed   to   judge   ecological   stability   or   persistence.American Naturalist, p. 789­824, 1983.

CONNOR,   E.F.;   McCOY,   E.D.   Species­area   relationships.  Encyclopedia   of   Biodiversity.   California:Academic Press, 2001.COWX, I.G.; WELCOMME, R.L.  Rehabilitation of rivers for fish. FAO, Fishing News Books, 260pp.1998.

DIDIER, J.;  KESTEMONT, P. Relationships between mesohabitats,  ichthyological  communities and IBImetrics adapted to an European river basin (The Meuse, Belgium). Hydrobiologia, p. 133­144, 1996.

FAUSCH, K.D.;  WHITE,  R.J.  Competition between brook trout  (Salvelinus   fontinalis)  and brown trout(Salmo trout) for position in Michigan stream.  Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Science, p.1220­1227, 1981.

FAUSCH,   K.D.;   LYONS,   J;   KARR,   J.R.;   ANGERMEIER,   P.L.   Fish   communities   as   indicators   ofenvironmental degradation. American Fisheries Society Symposium, p. 123­144, 1990.

FISHER, S.G.;  GRIMM, N.B.;  MARTI, E.;  HOLMES, R.M.;  JONES, J.B.  Material  spiraling  in streamcorridors: a telescoping ecosystem model. Ecosystems, p. 19­34, 1998.

GORMAN, O.T; KARR, J.R. Habitat structure and stream fish communities. Ecology, p. 507­515, 1978.

GAUCH, H.G. Multivariate analysis in community ecology. Cambridge University Press. 1982.

GOULDING, M. Ecologia da pesca do rio Madeira. CNPq/INPA. 1979.

HAHN, N.S.; FUGI, R.; ALMEIDA, V.L.L.; RUSSO, M.R.; LOUREIRO, V.E. Dieta e atividade alimentarde peixes  do reservatório  de Segredo.  In: AGOSTINHO, A.A.;  GOMES, L.C.,  (Eds.).  Reservatório deSegredo: bases ecológicas para o manejo. Maringá: EDUEM, 1997.

Page 85: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

85

HARRIS, J.H. The use of fish in ecological assessments. Australian Journal of Ecology, p. 65­80, 1995.

HUITEMA, B.E. The analysis of covariance and alternatives. New York: Wiley­Interscience Publication,1980.

IBGE. Disponível em: <http: www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 jul. 2002.

JUNK,   W.J.;   BAYLEY,   P.B.;   SPARKS,   R.E.   The   flood   pulse   concept   in   river­floodplain   systems.Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 110­127, 1989.

KARR, J.R. Measuring biological integrity: lessons from streams. In: WOODLEY, S.; KAY, J.; FANCIS,G. (Eds.). Ecological integrity and the management of ecosystems. St. Lucie Press, 1993. 

KOFFLER, N.F.; MORETTI, E. Diagnóstico do uso agrícola das terras do município de Rio Claro – SP.Geografia, p. 1­76, 1991.

KOFFLER, N.F.  Diagnóstico do uso agrícola das terras da bacia do Rio Corumbataí, SP. Rio Claro:IGCE/UNESP. Relatório, 102p., 1993.

KOFFLER, N.F. Carta de declividade da bacia do Rio Corumbataí para análise digital (SIG).  Geografia,p.167­82, 1994.

KREBS, C.J. Ecological Methodology. New York: Harper & Row, 1989.

LAWTON, J.H.;  GASTON, K.J. Indicator species.  Encyclopedia of Biodiversity.  California:  AcademicPress, 2001.

LEONEL,   E.  Distribuição   espacial   e   temporal   de   anfíbios   em   poça   temporária   na   região   deCorumbataí  – SP (Amphibia, Anura).  Dissertação (Mestrado em Zoologia) – Instituto de Biociências,Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1992.LIMBURG,  K.E.;  SWANEY, D.P.;  STRAYER,  D.L.  River  ecosystems.  Encyclopedia  of  Biodiversity.California: Academic Press, 2001.

Page 86: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

86

Mac   ARTHUR,   R.H.;   WILSON,   E.O.  The   Theory   of   Island   Biogeography.   Princeton:   PrincetonUniversity Press, 1967.

MAGNUSON, J.J.; CROWDER, L.B.; MEDVICK. P.A. Temperature as an ecological resource. AmericanZoologist, p. 331­43, 1979.

MAGURRAN, A. E. Ecological Diversity and Its Measurement. Australia: Croom Helm. 179 pp., 1988.

MARSH­MATTHEWS, E.;  MATTHEWS, W.J.  Geographic,   terrestrial  and aquatic  factors:  which mostinfluence the structure of stream fish assemblages in the Midwestern United States? Ecology of FreshwaterFish, 9­21, 2000.

MATTHEWS, W.J. Patterns in Freshwater Fish Ecology. New York: Chapman & Hall,  756 pp., 1998.

MAY, R.M. Paterns  of   species   abundance  and  diversity.   In: CODY, M.L.; DIAMOND, J.M., (Eds.).Ecology and  evolution of communities. Cambridge: University Press,  p.81­120, 1975.

McCONNELL,  L.R.H.  Estudos  Ecológicos  de  Comunidades  de  Peixes  Tropicais.  São Paulo:  Edusp,534pp., 1999.

MERLI,  G.L.  Situação e Perspectivas  do Abastecimento  de Água em Piracicaba.  In:  NASSIF,  A.M.A.;SILVA,   E.R.;   MERLI,   G.L.;   MENDES,   J.C.;   FREIXEDAS,   V.;   VIANA,   V.M.   (Eds.).  RecuperaçãoFlorestal e Desenvolvimento Sustentável na Bacia do Rio Corumbataí. Piracicaba: SEMAE, 1997.

NESSELROADE,   J.R.;  CATTELL,  R.B.  Handbook  of  Multivariate  Experimental  Psychology.  NewYork, Plenum Press, 1988.

OSBORNE, L.L.; WILEY, M.J. Influence of tributary spatial position on the structure of warmwater fishcommunities. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, p. 671­681, 1992.

PAIVA, M.P. Peixes e Pescas de Águas Interiores do Brasil. Brasília: Editerra, 158pp., 1983.

Page 87: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

87

PEDRO NETO, M.P. Efeito da descarga de esgoto doméstico sobre a estrutura da comunidade de peixesdo Ribeirão Claro – Rio Claro – São Paulo, 1996. Trabalho de Conclusão de Curso em Ecologia – Institutode Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1996. 

PIRES, J.S.R.; SANTOS, J.E.; DEL PRETTE, M.E. A Utilização do Conceito de Bacia Hidrográfica para aConservação   dos   Recursos   Naturais.   In:   SCHIAVETTI,   A;   CAMARGO,   A.F.M.,   (Eds.).  Conceitos   deBacias Hidrográficas: teorias e aplicações. Ilhéus: Editus – Editora da UESC, 2002.  

POFF, N.L.; WARD, J.V. Physical habitat template of lotic systems: Recovery in the context of historicalpattern of spatiotemporal heterogeneity. Environmental Management, p. 629­645, 1990.POWER,   M.E.   Habitat   quality   and   the   distribution   of   algae­grazing   catfish   in   a   Panamanian   stream.Journal of Animal Ecology, p. 357­374, 1984.

PULLIAM, H.R. Sources, sinks, and population regulation. American Naturalist, p. 652­661, 1988.

PUNSEY, B.J.;  KENNARD, M.J.;  ARTHINGTON, A.H.  Discharge  variability  and  the development  ofpredictive models relating stream fish assemblage structure to habitat in northeastern Australia. Ecology ofFreshwater Fish, p. 30­50, 2000.

RIBEIRO, M.C.L.B.  Conservação da Integridade Biótica das Comunidades de Peixes do Ribeirão doGama:   Área   de   Proteção   Ambiental   (APA)   Gama/Cabeça   do   Veado,   Brasília,   D.F.,   1994.   Tese(Doutorado em Zoologia) – Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1994.

RODRÍGUEZ,   M.A.;   LEWIS,   W.M.   Structure   of   fish   assemblages   along   environmental   gradients   infloodplain lakes of the Orinoco river. Ecological Monographs, p. 109­128, 1997.

ROSS, S.T. Resource portioning in fish assemblages: a review of field studies. Copeia, p. 352­388, 1986.

ROZELLI, K.L.; ABE, A.S. Composição da fauna de mamíferos não voadores da região de Analândia, SP.XX Congresso Brasileiro de Zoologia. Rio de Janeiro, 1994.SCHAEFER, S.A. Conflict and Resolution: Impact of New Taxa on Phylogenetic Studies of the NeotropicalCascudinhos   (Siluroidei:   Loricariidae).  In:   MALABARBA,   L.R.;   REIS,   R.E.;   VARI,   R.P.;   LUCENA,Z.M.S.;  LUCENA, C.A.S.,   (Eds.).  Phylogeny and Classification of  Neotropical  Fishes.  Porto  Alegre:EDIPUCRS, 1998.

Page 88: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

88

SCHLOSSER, I.J. The role of predation in age­ and size­related habitat use by stream fishes.  Ecology, p.651­659, 1987.

SCHLOSSER,   I.J.   Critical   landscape   attributes   that   influence   fish   population   dynamics   in   headwaterstreams. Hydrobiologia, p. 71­81, 1995.

SCHLOSSER,  I.J.;  EBEL,  K.K. Effects  of  flow regime and cyprinid  predation  on a headwater  stream.Ecological Monographs, p. 41­57, 1989.

SIGNORINI, C.E. Alimentação de H. litoralle Hancock (Callichthyidae, osteichthyes) do rio Piracicabae   rio  Corumbataí,  Estado  de  São  Paulo.  Tese   (Doutorado   em Zoologia)   –   Instituto  de  Biociências,Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1999.SMITH, W.S. A estrutura da comunidade de peixes da bacia do rio Sorocaba em diferentes situaçõesambientais, 1999. Dissertação (Mestrado em Ciências da Engenharia Ambiental) – Escola de Engenharia,Universidade de São Paulo, São Carlos. 1999.

SUZUKI,   H.I.;   PAVANELLI,   C.S.;   FUGI;   R.;   BINI,   L.M.;   AGOSTINHO,   A.A.   Ictiofauna   de   quatrotributários do reservatório  de Segredo.  In:  AGOSTINHO, A.A.;  GOMES, L.C. (Eds.).  Reservatório deSegredo: bases ecológicas para o manejo. Maringá: EDUEM, 1997.

TAYLOR, C.M. Fish species richness and incidence patterns in isolated and connected stream pools effectsof pool volume and spatial position. Oecology, p. 560­566, 1997. 

TOEPFER, C.S.; WILLIAMS, L.R.; MARTINEZ A.D.; FISHER, W.L. Fish and habitat heterogeneity infour streams in the central Oklahoma/Texas plains ecoregion.  Proceeding of the Oklahoma Academy ofScience, p. 41­48, 1998.

TROPPMAIR, H. Regiões ecológicas do Estado de São Paulo. Biogeografia, n. 10, 24p. 1975.

VANDERMEER, J. Elementary mathematical ecology. New York: Wiley, 1981.VANNOTE,   R.L.;   MINSHALL,   G.W.;   CUMMINS,   K.W.;   SEDELL,   J.R.;   CUSHING,   C.E.   The   river

Page 89: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

89

continuum concept. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, p. 130­137, 1980.

VARI, R.P.; MALABARBA, L.R. Neotropical Ichthyology: An Overview. In: MALABARBA, L.R.; REIS,R.E.;   VARI,   R.P.;   LUCENA,   Z.M.S.;   LUCENA,   C.A.S.,   (Eds.).  Phylogeny   and   Classification   ofNeotropical Fishes. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.

VIADANA, A.G. Perfis ictiobiogeográficos da bacia do rio Corumbataí, SP, 1992. Tese (Doutorado emGeografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo,1992.

VIANA, V.M.;  MENDES, J.C.T. Recuperação da Cobertura  Florestal  da Bacia do Rio Corumbataí.  In:NASSIF, A.M.A.; SILVA, E.R.; MERLI, G.L.; MENDES, J.C.; FREIXEDAS, V.; VIANA, V.M. (Eds.).Recuperação   Florestal   e   Desenvolvimento   Sustentável   na   Bacia   do   Rio   Corumbataí.   Piracicaba:SEMAE, 1997.

VIEIRA, L.S. Manual da Ciência do Solo: com ênfase aos solos tropicais. São Paulo: Editora Agronômica“CERES” Ltda, 1975. 

WARD,   J.V.   The   four­dimensional   nature   of   lotic   ecosystems.  Journal   of   the   North   AmericanBenthological Society, p. 2­8, 1989.WARD,   J.V.   A  montain   river.   In:  CALOW,  P.;  PETSS,   G.E.   (Eds.).  The  River   Handbook,   Vol.   1:Hidrobiological and Ecological Principles. Oxford: Blackwell, 1992.

WELCOMME, R.L. River Fisheries. FAO Fisheries Technical Papers, 330pp., 1985.

WHITESIDE,  B.G.;  McNATT.  Fish   species  diversity   in   relation   to   stream  order  and  physicochemicalcondition in Plum Creek Drainage Basin. American Midland Naturalist, p. 90­101, 1972.

WOODLEY,   S.   Monitoring   and   mesuring   ecosystems   integrity   in   Canadian   National   Parks.   In:WOODLEY, S.; KAY, J.; FANCIS, G. (Eds.). Ecological integrity and the management of ecosystems.St. Lucie Press, 1993. 

ZAINE, M.F.; PERINOTTO, J.A. Patrimônios naturais e história geológica da região de Rio Claro ­ SP.Rio Claro: Câmara Municipal de Rio Claro; Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro, 1996.

Page 90: 1. INTRODUÇÃO - USP · 4 McCONNELL, 1999). Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo (“the river continuum concept”), estabelecendo

90

ZARET, T.M.; RAND, A.S. Competition in tropical stream fishes: support for the competitive exclusionprinciple. Ecology, p. 336­342, 1971.

ZAVATINI, J.A.; CANO, H. Variações do ritmo pluvial na bacia do rio Corumbataí  – SP.  Boletim deGeografia Teorética, p. 215­240, 1993.

ZAR, J.H. Biostatistical Analysis. New Jersey, Prentice­Hall, 1999.