1 JAPIASSU
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• A organização acadêmica das universidades brasileiras favorece o conhecimento fragmentado e compartimentado.• Muitos dos professores ou pesquisadores estão
aprisionados pela categorização do pensamento em departamentos sem portas e janelas.• Estes intelectuais se esquecem de pensar e
tendem a perder a liberdade de pensamento.• Rendem-se à pesquisite e projetite, como forma
de prestar contas às agências financiadoras.
• A estrutura departamental, com linhas de pesquisa e campos de estudo leva a um diálogo apenas com os pares mais próximos, únicos que entendem sua terminologia (jargão).• Os pares também ajudam no policiamento
mútuo contra desvios, erros e heresias dos intrusos.• Formam-se bolhas disciplinares que impedem o
contato e o diálogo com outras disciplinas.• Os programas de pós-graduação, com rígidas
áreas de concentração e linhas de pesquisa impedem o livre exercício do debate e do pensamento.
• O sistema de recrutamento dos alunos, muitas vezes, impede a seleção dos mais abertos, criativos e com potencialidade para a pesquisa.• De modo geral, elegem-se os que mais se
conformam aos modelos de pesquisa impostos pela instituição.• Os pesquisadores mais inovadores são
violentamente combatidos por sua própria instituição, pois as inovações científicas só surgem rompendo com os pressupostos vigentes.
• A universidade deveria constituir o símbolo da união, pois deveria ser um espaço privilegiado de encontro entre estudantes, docentes e pesquisadores pertencentes a culturas e línguas diferentes, que trabalham em domínios diversificados, mas complementares e convergentes.• O que ocorre é a divisão do espaço do
conhecimento em áreas afins e interdependentes (sociologia e economia, antropologia e psicologia social, linguística e linguística aplicada).• Consequência: divisão de saberes por causa da
divisão de poderes.• O pensamento e o debate passam a ser substituídos
por teses e teorias.
• As universidades transformam-se em locais de subordinação da criatividade e do pensamento intelectual e domesticação do pensamento, contribuindo para formar profissionais que reafirmam a eficiência do poder dominante.• Por outro lado...• A abordagem interdisciplinar interroga o saber a
partir de um confronto de várias disciplinas. • O especialista reconhece que sua disciplina se
constitui em apenas um modo particular de refletir sobre um objeto previamente selecionado, e que existem outras abordagens possíveis.
A prática interdisciplinar permite uma justa apreciação da disciplina sob dois aspectos:- Tomada de consciência quanto à sua relatividade- Descoberta de sua radical especificidade
• O interdisciplinar descortina o estado de desagregação do sistema educativo, que sofre uma crise relativa aos conteúdos e programas de ensino.
Crise na relação educativa:• Desmoronou o modelo da autoridade indiscutida,
mas não se definiram outros modelos para substituí-la.• Alunos e professores não conseguem mais se
interessar pela escola.• A educação, para os professores, deixa de ser
processo de formação, para se tornar um penoso ganha-pão.• Para os alunos, é uma obrigação enfadonha mas
indispensável para a obtenção de um diploma que torna possível um emprego futuro.
• A universidade possui uma dimensão transsecular e transnacional por ser a transmissora de um legado cultural da humanidade através dos tempos.• Se já é transsecular e transnacional, só falta ser
transdisciplinar.• A reflexão interdisciplinar contribui
decisivamente para modelar a fisionomia do homem de amanhã, que estará vivendo num mundo de incertezas, pois não acredita mais no mito do progresso como necessidade histórica nem possui qualquer veículo que possa transportá-lo para um futuro radioso e feliz.
DISTINÇÕES CONCEITUAISDisciplina: • Ramo autodeterminado do saber que coincide
com uma ciência ensinada.• Conjunto específico de conhecimentos com
características próprias no campo do ensino, da formação, dos métodos e dos materiais.• Institui a divisão e a especialização do trabalho.• Sua linguagem, seus conceitos próprios e suas
fronteiras tendem a isolá-la das demais disciplinas.
DISTINÇÕES CONCEITUAISPesquisa interdisciplinar:• Realiza-se nas fronteiras e pontos de contato
entre as diversas ciências. • Geralmente culmina na produção, por fusão, de
uma nova disciplina interdisciplinar (biofísica, psicolinguística).• Não se contenta em promover a convergência e a
complementaridade entre as várias disciplinas para atingir um objetivo. • Busca utilizar esta convergência para tentar obter
uma síntese entre os métodos utilizados, as leis formuladas e as aplicações propostas.
DISTINÇÕES CONCEITUAISPesquisa multidisciplinar• É praticada por uma equipe de pesquisadores
pertencentes a diferentes especialidades.• Destaca os diferentes aspectos que podem
revestir a divisão do trabalho para estudar o mesmo objeto. • A cooperação permite descobertas que o
pesquisador solitário não consegue atingir.• Pode ser interdisciplinar ou não.
DISTINÇÕES CONCEITUAISPesquisa transdisciplinar• É a que se afirma no nível dos esquemas
cognitivos, atravessando as disciplinas e visando à criação de um campo de conhecimentos onde seja possível a existência de um novo paradigma.• Pretende proporcionar um novo modo de
coexistência e diálogo entre os filósofos e os cientistas, de modo que os esquemas nocionais circulem da filosofia às ciências naturais e humanas, sem que haja nenhuma hierarquia entre os diversos modos de problematização e experimentação.
DISTINÇÕES CONCEITUAISPesquisa transdisciplinar• Envolve a noção de cooperação, articulação
objeto e projeto comuns. • Surge como uma necessidade histórica de se
promover uma reconciliação entre o sujeito e o objeto, entre o homem exterior e o interior, com vistas a uma recomposição dos diferentes fragmentos do conhecimento.• Não é uma disciplina, mas passa pelo
conhecimento disciplinar e dele se alimenta.
• O conhecimento transdisciplinar é fundado em três pilares• Os níveis de realidade• A complexidade• A lógica do terceiro excluído(proposições contraditórias não podem ser simultaneamente verdadeiras) p. 40
• Trata-se de um novo paradigma, ainda por ser criado, cujo objetivo utópico é a compreensão do mundo presente.• Reconhece a independência das disciplinas mas
promove a sua comunicação sem ter que recorrer a nenhuma forma de redução.• Trata-se de um paradigma mais atento à
legitimação epistemológica dos conhecimentos, permitindo produzir, ensinar e praticar.• Define-se pela concepção de representações ricas
dos contextos considerados, procurando lançar mão do principal instrumento útil para representar e raciocinar: a conjunção, a capacidade de religar, contextualizar e globalizar.
A abordagem interdisciplinar não cria uma superciência mais objetiva que as outras ou superior a elas.• É necessário abandonar a ideia do interdisciplinar
como uma espécie de super ou meta ciência• Uma superciência criaria uma nova abordagem,
um novo paradigma disciplinar: conjunto dos pressupostos, normas, valores, crenças. • Uma nova disciplina.
A abordagem interdisciplinar deve ser considerada como uma prática específica cujo objetivo é encontrar soluções para os problemas reais que nos afetam diretamente.
As práticas interdisciplinares devem ser consideradas negociações entre pontos de vista, projetos e interesses diferentes, mas convergentes.
• Estas práticas quebram o isolamento disciplinar- pela circulação dos conceitos e esquemas cognitivos- pela emergência de novos esquemas cognitivos e hipóteses explicativas- pelas interferências, interfecundações e fusões- pela constituição de concepções organizativas que permitem a articulação de domínios disciplinares num sistema teórico comum.
• Nesta perspectiva, o interdisciplinar é concebido e levado a efeito como uma prática eminentemente política, como uma negociação entre diferentes pontos de vista, com o objetivo de decidir uma representação adequada a partir de uma ação feita em comum acordo.
• Não se trata da simples transferência de uma noção, conceito ou metodologia de uma disciplina para outra. Isso é transversalidade.
• A transdisciplinaridade só ocorre quando uma disciplina conseguir fecundar as abordagens da outra, privilegiando sua dependência do contexto e assumindo o primado da inteligibilidade sistêmica sobre a possibilidade analítica.• O encontro entre disciplinas deve ser concebido
mais como um confronto ou intercâmbio do que simplesmente fusão ou mera complementaridade.• O projeto interdisciplinar pressupõe uma
interação de disciplinas, indo desde a comunicação das ideias à integração mútua dos conceitos, da epistemologia, dos dados e da organização da pesquisa.
• Pressupõe a imprescindível complementaridade dos métodos, dos axiomas, e das estruturas que fundamentam as diversas disciplinas.• Seu objetivo utópico só pode ser a universalidade
do saber por abordagens transdisciplinares que tornariam possível a criação de uma inteligibilidade das múltiplas interações entre conhecimentos diversos.• Infelizmente, o interdisciplinar é um ideal muito
difícil de ser atingido.• Em nosso sistema educacional, é praticamente
balbuciante ou inexistente a prática interdisciplinar, não só no campo do ensino, mas também no da pesquisa.