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PEDAGOGIA VIVENCIAL HUMANESCENTE: COMPLEXIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE PARA REENCANTAR A EDUCAÇÃO
Ana Tânia Lopes Sampaio
FACEX-RN/BACOR-PPGED/UFRN
RESUMO: O mini-curso Pedagogia Vivencial Humanescente: complexidade e transdisciplinaridade para reencantar a educação pretende oportunizar aos educadores conexões epistemológicas e metodológicas com uma pedagogia que associa a educação à vida dos sujeitos cognoscentes, que traz a vida e as vivências para o processo educativo. Metodologia que articula os princípios educacionais freirianos ao pensamento complexo transdisciplinar, voltada para a formação integral do ser, para o desenvolvimento da sua inteligência, de seu pensamento, de sua consciência e de seu espírito. Serão desenvolvidas experiencialidades vivenciais que oportunizarão processos autoecopoiéticos. Esperamos possibilitar, aos educadores, o fluir de saberes humanescentes, os quais emergem do interior do ser, da essência do humano. É o vivenciar a Condição Humana. Palavras-chave: Educação transdisciplinar; corporeidade, complexidade; humanescência .
1. JUSTIFICATIVA
Historicamente, a maioria dos professores foi acostumada a pensar e agir de
acordo com o paradigma cartesiano, baseado nos raciocínios lógico, linear, seqüencial,
deixando de lado suas emoções, a intuição, a criatividade, a capacidade de ousar
soluções diferentes. Destarte, essa concepção fez do professor um mero transmissor de
informações e habilidades em seus territórios de conhecimento.
A rotina acadêmica de forma mecanizada e repetitiva, sem criatividade, torna a
prática educativa tediosa e exaustiva. Enfrenta-se, atualmente, um quadro social que tem
gerado baixa autoestima dos educadores, parecendo uma crise ética social existencial
influenciada por diferentes aspectos do modelo hegemônico vigente. Esse sistema tem
afetado as estruturas dos educadores, sua corporeidade, portanto, suas posturas
pedagógicas. Sem o envolvimento total do educador, ou seja, sem sua implicabilidade
energética, o processo de aprendizagem é prejudicado.
Esse quadro se caracteriza pelo desencantamento contemporâneo do educador
pelo ato de educar. Parece uma crise coletiva; falta luminescência nos educadores,
vivencia-se um cenário de escassez de educadores e alunos felizes ( SNYDERS, 2001).
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A prática pedagógica, que nega a importância da cognição afetiva, reforça a
razão universal apática, distante dos sentimentos e dos afetos, desconhece a importância
de ligar-se a contextos e seres singulares, o que limita a escola para compreender a
existência de modelos divergentes de conhecimento. Restrepo (2001, p. 49) lembra:
Sem matriz afetiva, o cérebro não pode alcançar seus mais altos picos na aventura do
conhecimento.
As estatísticas nacionais em relação ao desempenho escolar têm sido
preocupantes. A aprendizagem está em baixa. Desde 1998, o governo brasileiro
considerou como importante referência na construção das novas políticas públicas na
área da educação, o Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o
século XXI da UNESCO (1998), conhecido como Relatório Jacques Delors, o qual
apresenta quatro pilares para a educação: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver junto e aprender a ser. Esse relatório sugere novas práticas
pedagógicas que promovam um repensar sobre a vida, enquanto componentes de uma
educação de valores.
Morin (2005), aprofunda as conclusões deste relatório, afirmando a necessidade
de novas bases teóricas e de novas práticas pedagógicas que favoreçam não apenas o
desenvolvimento da inteligência humana, mas, sobretudo, que colaborem com a reforma
do pensamento humano, pensamento este que nos ajude a não mais dissolver o ser, a
existência, a sociedade e a vida, mas a compreender o ser, a existência, a sociedade e a
vida. Para ele, é indispensável sete saberes a essa transição paradigmática sonhada para
educação: As cegueiras do conhecimento; o erro e a ilusão; Os princípios do
conhecimento pertinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena;
Enfrentar as incertezas; Ensinar a compreensão; A ética do gênero humano.
Articular saberes disciplinares e saberes da vida, proporcionar alegria,
sensibilidade, criatividade e beleza na formação, é certamente uma nova forma de
compreensão da dimensão formativa, uma estratégia que exige um ressignificar da
prática educativa docente. Seria o vivenciar os sete saberes necessários a educação do
presente apresentados por Morin (2005).
Todos os processos educativos, assim como suas respectivas metodologias e
meios, têm por base uma determinada pedagogia, isto é, uma concepção de como se
consegue que as pessoas aprendam alguma coisa e, a partir daí, modifiquem seu
comportamento. A pedagogia escolhida, por sua vez, fundamenta-se em uma
determinada epistemologia ou teoria do conhecimento (BORDENAVE, 2005).
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Diante da necessidade dessa mudança paradigmática e coerente com uma
proposta educativa transdisciplinar, ousamos, a partir da herança primordial de Paulo
Freire, incorporar os pressupostos da formação humana, apontados por Maturana, à
visão complexa do humano e a moderna cosmologia a uma Pedagogia Vivencial, a qual
passou a chamar-se Pedagogia Vivencial Humanescente-PVH (CAVALCANTI, 2006).
2. VIVENCIANDO A CONDIÇÃO HUMANA
O objetivo da Pedagogia Vivencial Humanescente é desenvolver os pensamentos
ecossistêmicos, sensíveis, criativos e transformadores, possibilitando aos sujeitos
cognoscentes e ao educador, através de atividades vivenciais, o despertar para o
cotidiano da vida. Questionamentos, reflexões e idéias surgem e evocam hipóteses e
ações que permitem clarear significados, reconstruir conceitos, desvelar ocultos,
interpretar situações e, bem freqüentemente, inspirar e despertar os sentidos e o
intelecto.
Objetivo Geral do Mini-curso: Posicionar a Pedagogia Vivencial Humanescente-
PVH como uma estratégia metodológica para o reencantar no âmbito educacional,
evidenciando a sua condição transdisciplinar.
Objetivos específicos:
• Apresentar as conexões epistemológicas e metodológicas que embasam a PVH
• Oportunizar o fluir de saberes humanescentes
• Possibilitar a compreensão das conexões metodológicas da PVH
• Oportunizar experiencialidades vivenciais que compõem a PVH
• Apresentar os fundamentos teóricos e vivencias para organização de ambientes
de aprendizagem humanescentes
3. DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS
Seguindo o pensamento de Freire (2006), Cavalcanti (2005), Moraes (2008) e La
Torre (2008), a Pedagogia Vivencial Humanescente é adotada como uma pedagogia
que prepara para a vida, através de metodologias ativas que envolvem a corporeidade e
o contexto vivencial das pessoas.
O processo ensino-aprendizagem proposto pela PVH busca promover uma
aprendizagem significativa para o aprendente. Na organização dos conteúdos de ensino,
em lugar de esquematizá-los previamente, a proposta é trabalhar com uma lógica do
imaginário e das significações, respeitando os conhecimentos prévios, as diferentes
maneiras e os ritmos de cada ser cognoscente na construção do conhecimento,
permitindo o desenvolvimento da capacidade criativa, reflexiva, de investigação e de
intervenção.
Na PVH a aprendizagem
conceitos de aprendizagem são associados ao ato autop
VARELA, 1997) e de percepção, considerada fenômeno de duas vias, de fora para
dentro e de dentro para fora e não somente de fora para dentro, caracterizando a
dualidade transmissor/receptor (ASSMANN, 2001
A seguir, um esquema expõe, de forma sistemática, as conexões processuais do
percurso pedagógico da prática vivencial humanescente.
fundamentado e vivenciado pelos educadores durante o Mini
4. FASES E ETAPAS
Os educadores, para
aprendizagem humanescente
metodologias ativas da PVH
maneiras e os ritmos de cada ser cognoscente na construção do conhecimento,
permitindo o desenvolvimento da capacidade criativa, reflexiva, de investigação e de
aprendizagem é de dentro para fora e não de fora para dentr
conceitos de aprendizagem são associados ao ato autopoiético (MATURANA &
) e de percepção, considerada fenômeno de duas vias, de fora para
dentro e de dentro para fora e não somente de fora para dentro, caracterizando a
nsmissor/receptor (ASSMANN, 2001).
A seguir, um esquema expõe, de forma sistemática, as conexões processuais do
percurso pedagógico da prática vivencial humanescente. Esse processo será
fundamentado e vivenciado pelos educadores durante o Mini-curso:
FASES E ETAPAS
Os educadores, para compreender as diferentes fases do processo de
aprendizagem humanescente, vivenciarão algumas etapas que compõem as
metodologias ativas da PVH, o Mini-curso será ministrado em dois momentos
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maneiras e os ritmos de cada ser cognoscente na construção do conhecimento,
permitindo o desenvolvimento da capacidade criativa, reflexiva, de investigação e de
e não de fora para dentro. Os
oiético (MATURANA &
) e de percepção, considerada fenômeno de duas vias, de fora para
dentro e de dentro para fora e não somente de fora para dentro, caracterizando a
A seguir, um esquema expõe, de forma sistemática, as conexões processuais do
Esse processo será
as diferentes fases do processo de
etapas que compõem as
curso será ministrado em dois momentos:
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1º DIA- Acolhimento: Os educadores serão acolhidos em ambiente de boas vibrações
energéticas, silencioso com uma música tranqüila, com uma essência de perfume suave,
local bonito, harmonioso, aconchegante e agradável. O encontro será montado de forma
criativa e sugestiva para a temática a ser trabalhada.
Experiencialidade sensorial corporal: A vivência vai permitir os educadores
vivenciarem seus corpos e suas sensações de uma maneira nova e integradora consigo
mesmo e com o grupo.
Experiencialidade Imaginativa Emocional- Após vivenciarem o acolhimento, os
educadores são convidados a se recolherem em um lugar aconchegante e serão
conduzidos pela facilitadora a um momento de individuação reflexivo. A vivência
possibilitará os educadores identificarem os paradigmas dominantes na sua prática
pedagógica. Cada um fará seu arquivo existencial do Ser Educador.
Representação simbólica lúdica (preenchimento de arquivo existencial): Os
educadores, ainda movidos pela memória imaginativa da vivência, serão lentamente
convocados a sentarem e expressarem de forma projetiva, nos formulários
humanescentes o cenário vivenciado no momento de individuação. É um momento de
fluxo da criatividade e ludicidade vivencial.
Mandala Humanopoiética: Em círculo, os educadores sentarão e colocarão seus
cenários à sua frente, socializando sua produção lúdica, seus sentimentos, suas emoções
e percepções relacionadas às experiências vivenciadas. Serão questionados para o
contexto educativo os riscos do isolamento disciplinar e das grades curriculares que
aprisionam o conhecimento e limitam a ação docente.
Encerramento: Os cenários dos educadores serão fotografados e utilizados no dia
seguinte para servir de âncora metodológica na elaboração das discussões, ontológicas,
metodológicas e epistemológicas que norteiam a PVH no ensinar a condição humana.
2º DIA- Acolhimento: O ambiente de aprendizagem humanescente será organizado
com diferentes ferramentas da PVH. Os educadores serão acolhidos, receberão seus
arquivos existenciais e um texto que servirá de âncora para a exposição dialogada a se
iniciar.
Experiencialidade existencial: Os educadores de posse dos seus arquivos existenciais
receberão uma maletinha e serão conduzidos a uma reflexividade vivencial, onde
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identificarão que ferramentas colocarão dentro da maletinha para utilizar nas suas
práticas educativas para ensinar a condição humana.
Exposição dialogada: Será apresentada de forma dialógica e interativa toda
fundamentação epistemológica e metodológica da Pedagogia Vivencial Humanescente.
Os cenários dos educadores serão projetados e utilizados durante toda exposição
dialogada, de forma a instrumentalizar o entendimento das diferentes etapas
metodológicas da PVH.
OBS: Para as vivências utilizaremos os seguintes materiais: tapetes coloridos, lápis
coloridos, formulários vivencias lúdicos, TNT, máquina fotográfica para os registros
vivenciais; Recursos audiovisuais: Data Show, Som Portátil para CD
5. AVALIAÇÃO
A avaliação do Mini-curso será feita de forma interativa e vivencial através de uma
Mandala Humanopoiética vivenciada no ultimo dia onde os participantes poderão
evidenciar suas reações a respeito do curso.
REFERÊNCIAS:
ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação. 3 ed. Piracicaba, SP: UNIMEP, 2001.
BORDENAVE, Juan Diaz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de Ensino-aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. CAVALCANTI, Katia Brandão. Corporeidade e a ética do sentido da vida na educação: para florescer as sementes da pedagogia vivencial. Revista Nova Atenas. Volume 07, Número 02, 2004. (Disponibilizado em dezembro de 2006). _________. Pedagogia vivencial humanescente. In: mímeo. Natal, RN: UFRN, 2005
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 33 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006. LA TORRE, Saturnino de la; PUJOL, Maria Antonia Pujol; MORAES, Maria Cândida. Transdisciplinaridade e ecoformação: um novo olhar sobre a educação. São Paulo: Triom, 2008. MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco J. De máquinas e seres vivos. Autopoise: A organização do vivo. 3 ed. Tradução: Juan Acuña Llorens. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. MORAES, Cândida. Ecologia dos saberes: complexidade, transdisciplinaridade e educação: Novos fundamentos para iluminar novas práticas educacionais. São Paulo: Antakarana/WHH, 2008. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 10. Ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF; UNESCO, 2005.
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SNYDERS, Georges. Alunos felizes: Reflexão sobre a alegria na escola a partir de textos literários. Tradução: Cátia Aida Pereira da Silva. 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. RESTREPO, Luis Carlos. O direito à ternura. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
UNESCO. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 8 ed. Tradução: José Carlos Eufrásio. São Paulo: Cortez: Brasília, DF: MEC: UNESCO. 2003. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI.