10-43-2-PB

11

Click here to load reader

description

geo

Transcript of 10-43-2-PB

  • 39Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    A GEOGRAFIA FSICA NO BRASIL: UM PANORAMA QUANTITATIVO A PARTIR DE PERIDICOS NACIONAIS (1928-2006)1

    Antnio Carlos VittePrograma de Ps-Graduao em Geografi a, Unicamp, Campinas (SP), Brasil.

    Pesquisador CNPq [email protected].

    INTRODUOA geografi a fsica um campo (BORDIEU, 1992) temtico que procura problematizar a natureza e

    sua relao com a sociedade pelo vis da Cincia Geogrfi ca. O objetivo deste trabalho foi o de realizar o estudo sobre a produo da geografi a fsica no Brasil, de 1928 2006, a partir de artigos publicados em peridicos nacionais de Geografi a.

    Para Gregory (1992) a geografi a fsica caracteriza-se por apresentar mudanas em seu campo temtico e metodolgico provocadas principalmente por transformaes internas aos seus postulados, em que, devido

    Resumo

    A geografi a fsica um campo (cf. Bourdieu, 1992) tem-

    tico que procura problematizar a natureza e sua relao

    com a sociedade pelo vis da Cincia Geogrfi ca. O

    objetivo deste trabalho foi o de realizar um estudo sobre

    a produo da geografi a fsica no Brasil a partir de artigos

    publicados em peridicos nacionais, correlacionando esta

    produo s transformaes internas da cincia geogrfi -

    ca (Gregory, 1992). Foram realizados levantamentos em

    22 peridicos nacionais, em um perodo temporal de 78

    anos (1928-2006). Em termos absolutos foram produzidos

    6.189 artigos, sendo que destes, 2.298 (37,1%) artigos

    tinham como temtica a geografi a fsica e 3.891(62,9%)

    abordavam a geografi a humana. A mdia geral de artigos

    para o perodo foi de 221,0 artigos/ano, sendo que a m-

    dia de artigos de geografi a fsica foi de 82,1 artigos/ano,

    enquanto que 138,9 foi a mdia de produo de artigos

    que no tratavam de geografi a fsica. Enquanto na dcada

    de 1920 os artigos de geografi a fsica correspondiam

    0,1% do total de artigos, nas dcadas de 1940, 1950,

    1960 e 1970; este percentual alcanou 19,1%, 19,8%,

    20,6% e 15,7% respectivamente. Quanto produo de

    geografi a humana, foram publicados 3180 artigos, que

    percentualmente representa 51,3% dos artigos produ-

    zidos no perodo de 1928 2006. A anlise dos dados

    demonstrou que o aumento na produo da geografi a

    fsica est relacionado tanto a processos que envolvem

    a especializao de seus subcampos e a incorporao de

    novas tecnologias, que permitiram a institucionalizao

    do saber geogrfi co a servio do Estado planejador e

    interventor do perodo Keynesiano.

    Palavras-chave: Geografi a Fsica. Epistemologia. Brasil.

    Resumen

    La geografa fsica es una rea (cf. Bourdieu, 1992) te-

    mtica que pretende estudiar la naturaleza y su relacin

    con la sociedad en una visin de la Ciencia Geogrfi ca.

    El objetivo de este trabajo fue de realizar un estudio

    sobre la produccin de la geografa fsica en el Brasil a

    partir de artculos publicados en peridicos nacionales,

    correlacionando esta produccin a las transformaciones

    internas de la ciencia geogrfi ca (Gregory, 1992). Las in-

    formaciones fueron retiradas de 22 peridicos nacionales,

    en un periodo temporal de 78 aos (1928-2006). En dados

    absolutos fueron producidos 6,189 artculos, siendo que,

    2,298 (37.1%) artculos tenan como tema la geografa

    fsica y 3,891 (62,9%) abarcaban la geografa humana.

    La media general de los artculos para el periodo fue de

    221.0 artculos/ao, siendo que la media de artculos de

    geografa fsica fue de 82.1 artculos/ao, en cuanto que

    138.9 fue la media de produccin de artculos que no

    trataban de geografa fsica. En cuanto que en la dcada

    de 1920, los artculos de geografa fsica correspondan

    a 0.1% del total de artculos, en las dcadas de 1940,

    1950, 1960 y 1970; este porcentaje alcanz 19.1%,

    19.8%, 20.6% y 15.7% respectivamente. El anlisis de las

    informaciones demostr que el aumento en la produccin

    de geografa fsica est relacionada tanto a los procesos

    que abordan la especializacin de sus sub-reas y a la

    incorporacin de nuevas tecnologas, que permitieron la

    institucionalizacin del saber geogrfi co al servicio del

    Estado planeador e interventor de la revista Keynesiano.

    Palabras-clave: Geografa Fisica. Epistemologa. Brasil.

  • 40 Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    ao pragmatismo e ao uso constante e cada vez maior de tcnicas analticas promovem mudanas em seus referencias analticos. No entanto, apesar de reconhecermos a importncia da abordagem internalista na Cincia, no podemos de considerar que a mesma o produto de transformaes sociais e culturais que acontecem ao longo do tempo histrico e aos poucos reconstri as vises de mundo (KHUN, 1992). Ou seja, no podemos deixar de considerar que existe tambm uma sociologia da cincia e uma poltica das corporaes que promovem discusses e embates, mais ou menos intensos, a depender do poder poltico das corporaes, mas que imprimem uma marca importante nas mudanas de perspectiva das pesquisas e na redefi nio de seus objetos particulares frente as exigncias sociais e polticas.

    Neste trabalho explicitamente no trataremos das relaes entre o internalismo e o externalismo no processo de desenvolvimento e consolidao da geografi a fsica no Brasil, apenas faremos uma anlise fundamentada em dados quantitativos que foram levantados em 22 peridicos de Geografi a e que se constituram ou se constituem ainda, referncias importantes para o fazer geografi a no Brasil.

    Interpretaes sobre a Histria da Geografi a Fsica no BrasilCamargo (1998) realizou uma refl exo terica e metodolgica sobre a biogeografi a no Brasil, preocu-

    pando-se com seu objeto de estudo, campo e mtodos de anlise, bem como procurando verifi car quais as relaes com a Geografi a Fsica e com a Geografi a de modo geral. O principal objetivo foi o de levantar, analisar e refl etir sobre a evoluo, a produo e as tendncias futuras da biogeografi a, no mbito da Geografi a, atravs da anlise de trabalhos oriundos das mais variadas fontes e dos mais variados autores, sendo, contudo, diretamente relacionados com a temtica biogeogrfi ca.

    O autor discutiu questes relevantes sobre as naturezas do pensamento biogeogrfi co brasileiro, do ponto de vista do gegrafo, assim como verifi cou como os gegrafos nacionais tm encarado esse ramo do saber. Sobre a evoluo do pensamento biogeogrfi co, no mbito da cincia geogrfi ca, o autor apresenta amplo relato histrico desde o perodo do descobrimento do Brasil (1500) at a ltima dcada do sculo XX. Sobre a anlise dos trabalhos biogeogrfi cos no mbito das revistas geogrfi cas e outras publicaes levantadas o autor apresenta dados relevantes que demonstram os inmeros enfoques resul-tantes da cincia complexa que a biogeografi a.

    Viadana (2004) relata que entre os gegrafos fsicos, os biogegrafos foram os primeiros a perceber a dinmica integrada dos componentes paisagsticos, como a estrutura geolgica, clima, solo, relevo, vegetao e hidrografi a, sem incidir para a avaliao isolada e individualizante do espao geogrfi co. Assim, os biogegrafos deram incio a novas tendncias no seu campo especfi co de estudo, fundamen-tados numa viso holstica ou de conjunto, proporcionando grande progresso na produo biogeogrfi ca e na prpria Geografi a.

    Suertegaray & Nunes (2001) discutem a natureza e a produo da Geografi a Fsica atual no mbito da cincia geogrfi ca, a partir do levantamento feito nos Anais do XII Encontro Nacional de Gegrafos, realizado em Florianpolis (SC) em julho de 2000 e do 8 Encontro de Gegrafos da Amrica Latina, realizado em Santiago (Chile), em maro de 2001. Os autores relatam que a inteno foi pensar sobre a produo geogrfi ca referente ao conhecimento que se denominou Geografi a Fsica, ou seja, o conhe-cimento referente natureza.

    Cidade (2001) realizou um amplo levantamento bibliogrfi co e histrico com o objetivo de explorar formas de abordagem da relao sociedade-natureza em diferentes fases da longa constituio dos fun-damentos do pensamento geogrfi co(p.101). Ainda, segundo Cidade (2001, p.116), no longo percurso em busca de uma identidade aglutinadora e do estabelecimento de bases epistemolgicas convincentes, a

  • 41Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    geografi a tem sido objeto de inmeras crticas. Enquanto parte dessas crticas provm de reas externas disciplina, a maior fonte de cobranas tem sido interna. A expresso das difi culdades encontradas pela geografi a, s quais se atribui a impossibilidade de constituir-se como sntese, est em uma espcie de dualidade que, de resto, no atinge apenas essa disciplina. Essa dualidade expressa-se particularmente no tratamento das relaes sociedade-natureza.

    Com relao separao entre sociedade e natureza, freqentemente considerada caracterstica essen-cial do capitalismo, com refl exos nos sistemas de pensamento que acompanharam Cidade (2001) relata que mostrou-se mais antiga, aparecendo desde os povos primitivos e que o desenvolvimento social e econmico acompanhou-se de uma transformao progressiva da natureza. Em sntese, torna-se cada vez mais claro que, enquanto a separao entre sociedade e natureza bastante antiga, o capitalismo, juntamente com os sistemas de conhecimento associados sua emergncia, tornou-se mais aguda essa separao, estabelecendo tendncias a uma ruptura(p. 117).

    Monteiro (2002, p.4) traou o panorama da Geografi a que se faz no Brasil, usando como estratgia as seguintes normas:

    a) Assentar as bases da avaliao atravs dos vetores bsicos da produo geogerfi ca, a saber: a Universidade como centro de produo; a Fundao IBGE como aplicao ofi cial e a Associao dos Gegrafos Brasileiros como refl etor das tendncias e confl itos na comunidade de gegrafos do Brasil;

    b) Observar, ao longo do sculo, os eventos bsicos no desenvolvimento cronolgico linear, de modo a possibilitar uma articulao sincrnica capaz de sugerir defi nio de momentos ou fases caractersticos nesta evoluo;

    c) Integrar essa possvel periodizao em face de uma projeo intrageogrfi ca na produo brasi-leira, com a considerao dos insumos advindos dos eventos mundiais e as respectivas repercusses na Geografi a nos centros hegemnicos de saber, do poder econmico e poltico mundial. Em suma, avaliar as mutaes no mundo e em suas geografi as ao longo do tempo em que se avaliam as ligaes emana-das dos centros polarizadores e recebidas nas grandes periferias nesta perspectiva global caracterizada, sobretudo, por grandes diferenas nos graus de desenvolvimento.

    d) Finalmente, procurar, nesta periodizao, articular as relaes entre as direes e tendncias da Geografi a, com os projetos polticos vigentes no pas ao longo do sculo.

    O panorama elaborado por Monteiro (2002) foi dividido em duas partes. Na primeira foram descritas as grandes etapas evolutivas; incio do sculo XX (1900-1935), chamada de preparao para a Geografi a Cientfi ca; alvorecer da Geografi a Cientfi ca (1935-1968). Na segunda parte foi descrita a travessia da grande crise histrica: soleira do ps-moderno e as grandes mutaes (1968-1973); entrada no ps-mo-derno (1973-1984); e fi nal do sculo XX e as mltiplas incertezas no incio do sculo XXI (1984-2001).

    Conti (1996) relata que o papel dos gegrafos brasileiros tem sido mais destacado na realizao de trabalhos climatolgicos na Amrica do Sul, principalmente devido, em grande parte, criao dos cur-sos de Geografi a em nvel superior, no quadro das antigas Faculdades de Filosofi a, Cincias e Letras, surgidas, pioneriamente, em So Paulo, em 1934, e no Rio de Janeiro em 1935. Relata que o modelo de formao geogrfi ca que foi caracterizada pela grande abrangncia e ampla integrao imprimiu uma diretriz especial aos estudos climatolgicos, que passaram a ser feitos dentro de uma perspectiva espacial, constituindo parte integrante dos estudos regionais como uma caracterstica antropocntrica, por ser uma cincia que estuda, ao mesmo tempo, a natureza e a sociedade.

    SantAnna Neto (2001) prope uma Geografi a do clima, contrapondo-se noo de uma climatologia geogrfi ca. Para tanto, recorrendo aos primrdios da climatologia no Brasil, buscou estabelecer as bases

  • 42 Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    conceituais da incorporao do fenmeno climtico `a cincia geogrfi ca. Discutiu a revoluo paradig-mtica iniciada por Sorre (1951) e a proposta por Monteiro (1991), a partir da incorporao da noo de ritmo como novo paradigma para a anlise geogrfi ca do clima e relata a necessidade de se produzir uma readequao destes conceitos luz do processo de globalizao e mundializao, assumindo os conceitos de apropriao da natureza por uma sociedade estabelecida em classes sociais. Ao fi nal prope uma discusso que considere uma nova razo para um novo conhecimento do fenmeno climtico numa perspectiva social e de valorizao dos recursos naturais.

    Zavattini (2003) realizou estudo sobre a abrangncia temporal e espacial dos estudos do ritmo do clima no Brasil, tendo por base as teses e as dissertaes produzidas nos programas paulistas de ps-graduaao entre 1971 e 2000 e, tambm, o Inventrio de Obras com Anlsie Ritmica, elaborado por Zavattini (2001)(p.65). o autor relata, ainda, que neste estudo foram resgatadas algumas obras clssicas de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, semeador do ritmo climtico no pas. (p.65). a abrangncia temporal foi realizada entre o perodo, de 1941 a 2000, demonstando que, neste perodo, na abrangncia espacial o Estado de So Paulo o mais estudado pelo paradigma da anlise rtmica, assim como a costa brasileira foi bastante estudada pelo paradigma da anlise rtmica, assim como a costa brasileira foi bas-tante estudada. Em todo Brasil foram realizados inmeros estudos com base em comparaes rtmicas e estudos do ritmo do clima urbano, sendo que estes se encontram concentrados nas regies Sudeste e Sul. Entretanto, so tambm evidentes os enormes vazios rtmicos em nosso pas, desde o Sul, passando pelo Sudeste e Centro-Oeste, at serem alcanadas as baixas latitudes do Norte e do Nordeste(p.82).

    Guerra (2004) faz um resgate dos livros que abordam a Geomorfologia, no Brasil e no mundo, sob os seus mais variados aspectos, com uma infi nidade de caractersticas. Aborda conceitos sobre a Geomorfo-logia, bem como sua evoluo ao longo do tempo e de que forma atualmente a Geomorfologia Aplicada vem ganhando fora no mundo e no Brasil, como um ramo importante dentro da Geomorfologia, apesar de que muitos dos trabalhos que abordam essa rea de conhecimento ainda estarem contidos em obras cujo ttulo refere-se Geologia. O autor discute, ainda, os principais temas que a Geomorfologia tem abordado nos seus estudos, tendo sido de grande signifi cado a compreenso dos processos geomorfol-gicos, como tambm no desenvolvimento desse ramo de conhecimento (p.151), como: Geomorfologia Urbana, Geomorfogia das reas Rurais e Geomorfologia e Planejamento.

    Tomasoni (2004) discute o carter transfronteirio do objeto da Geografi a e a difi culdade que isso representa na identidade cientfi ca da disciplina. Discute, em seguida, a crise ambiental como produto das relaes sociedade/natureza e o conceito de ambiente e sua aplicabilidade. Concluindo, o autor aborda o papel da Geografi a Fsica no contexto do objeto geogrfi co.

    O UNIVERSO EMPRICO DE TRABALHO: A PRODUO DA GEOGRAFIA FSICA NO BRASIL

    O universo emprico dessa pesquisa constituiu-se por 22 peridicos (quadro 01)de geografi a e 5 Peri-dicos e cadernos temticos de geografi a fsica (quadro 02). O levantamento foi realizado nas bibliotecas da UNESP de Rio Claro, na biblioteca da FFLCH-USP e, fi nalmente, na biblioteca da AGB-SP. Tambm realizamos o levantamento em 5 cadernos temticos esto associados aos trabalhos desenvolvidos nos laboratrios do antigo Instituto de Geografi a da USP e foram considerados na pesquisa dada a importncia temtica, metodolgica e epistemolgica que os mesmos representaram para a produo da geografi a fsica no Brasil.

  • 43Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    Quadro 1 - Peridicos Considerados para o Levantamento de Artigos

    Fonte: levantamento realizado por Antonio Carlos Vitte (2006-2007) na biblioteca de Geografi a da Unesp-Rio Claro, FFLCH-USP e AGB-SP.

  • 44 Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    Quadro 2 - Peridicos de Geografi a Fsica (temticos) levantados na biblioteca da UNESP de Rio Claro.

    Fonte: levantamento realizado por Antonio Carlos Vitte (2006-2007) na biblioteca de Geografi a da FFLCH-USP.

    Consideraes sobre a Produo da Geografi a Fsica no Brasil.

    Considerando que o espao geogrfi co uma representao cultural produzida pela hegemonia poltica de uma certa parcela da sociedade, que lhe atribuem signifi cados e valores tanto natureza quanto socie-dade. Para o desenvolvimento deste trabalho, foram pesquisados 22 peridicos nacionais especializados na temtica geogrfi ca, para um perodo de 78 anos (1928-2006). O quadro 03 representa a participao absoluta e relativa dos artigos de geografi a fsica produzidos entre as dcadas de 1920 e 1990.

    Em termos absolutos, para um perodo de 78 anos (1928-2006) foram produzidos 6.189 artigos, sendo que destes, 2.298 (37,1%) artigos tinham como temtica a geografi a fsica e 3.891(62,9%) abordavam a geografi a humana. A mdia geral de artigos para o perodo foi de 221,0 artigos/ano, sendo que a mdia de artigos de geografi a fsica foi de 82,1 artigos/ano, enquanto que 138,9 foi a mdia de produo de artigos que no tratavam de geografi a fsica.

    Em relao o nmero de peridicos pesquisados, 26 no total, a mdia geral para os 78 anos foi de 238 artigos. Enquanto que a mdia de artigos de geografi a fsica foi 88,3 artigos/peridico, a de geografi a humana foi de 149,6 artigos/peridico.

    Enquanto na dcada de 1920 os artigos de geografi a fsica correspondiam 0,1% do total de artigos, nas dcadas de 1940, 1950, 1960 e 1970; este percentual alcanou 19,1%, 19,8%, 20,6% e 15,7% res-pectivamente. Sendo que os peridicos como o Boletim Geogrfi co (1943-1978), a Revista Brasileira de Geografi a (1939-2005), o Boletim Paulista de Geografi a (1945-2005) e o Boletim de Geografi a Teortica (1971-1995) concentraram o maior volume de artigos de geografi a fsica, assim como os de geografi a humana. Somados estes quatro peridicos, os mesmos publicaram 1538 artigos de geografi a fsica, re-presentando 49,4% dos artigos de geografi a fsica produzidos no perodo de 1970 e 24,8% do total geral de artigos. Quanto produo de geografi a humana, foram publicados 3180 artigos, que percentualmente representa 51,3% dos artigos produzidos no perodo de 1928 2006 e, em relao ao total de artigos de geografi a humana, estes quatro peridicos concentraram 81,7% dos artigos.

    Uma anlise preliminar, o que fi ca evidente que o aumento da produo da geografi a fsica est relacionado tanto a processos que envolvem a especializao dos campos da geografi a e sua renovao conceitual quanto incorporao de novas tecnologias, que permitiram a institucionalizao do saber geogrfi co a servio do Estado.

    As dcadas em que percentualmente ocorreram as maiores freqncias de artigos de geografi a fsica coincidem com os momentos de incorporao de novas fronteiras, como o Centro-Oeste e a Amaznia, e a conseqente integrao o territrio brasileiro, fatos que esto relacionados com a construo da iden-

  • 45Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    tidade nacional na qual a participao da geografi a fsica ocorre por meio da qualifi cao dos atributos naturais do territrio brasileiro.

    Quadro 3 Participao Absoluta E Percentual Dos Artigos De Geografi a Fsica Em Relao Aos De Geografi a Humana Produzidos Entre As Dcadas De 1920 E 1990, Em Peridicos Nacionais.

    Fonte: Levantamento realizado por Antonio C. Vitte (2006-2007) na biblioteca de Geografi a da Unesp de Rio Claro. Legenda: 1 artigos de geografi a fsica, 2 artigos de geografi a humana, 3 total geral de artigos.

    Uma vez que o momento poltico por qual o pas passava era o da construo de um corpo poltico moderno e que tinha como misso modernizar sociedade civil, a economia e a poltica. Para tanto, uma das estratgias possveis era a conquista territorial. Dessa forma, dentro da diversidade fi siogrfi ca em que est inserido o territrio brasileiro, a geografi a fsica foi chamada para qualifi c-lo , ao mesmo tempo em que reforava a construo de uma imagem positivista da nao a partir das propriedades e exuberncia da natureza no Brasil (VITTE, 1999).

    Outra observao relevante que enquanto na dcada de 40 as preocupaes temticas estavam voltadas para uma qualifi cao do espao brasileiro, na tentativa de se construir uma viso simblico-cientfi ca da natureza no Brasil, onde os grandes temas tratados pelos artigos diziam respeito a uma apresentao geral e primeiras impresses das viagens de campo para reconhecimento das regies, na dcada de 50 os trabalhos passam a ser mais especializados e percebe-se j claramente a tendncia de especializao nas pesquisas de geografi a fsica (MENDONA, 1999).

    assim que a meteorologia e a climatologia passam a cada vez com maior fora a delimitarem o seu objeto no sentido de defi nio de critrios metodolgicos e tcnicos, bem como defi nindo os principais eventos empricos do clima (precipitao, temperatura, frentes, ritmos, tipos de tempo) que deveriam ser estudados no Brasil e que poderiam ser utilizados nos processos de correlao com o desenvolvimento econmico e social do Brasil (SANTANNA NETO, 2001).

  • 46 Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    O mesmo acontecer com a geologia, que j estar produzindo importantes e modernos mapas sobre o Brasil e j discutindo a tectnica no territrio brasileiro e sua infl uncia na compartimentao do re-levo brasileiro. Como so os clssicos trabalhos de Ruy Osrio de Freitas sobre a tectnica no escudo brasileiro e o relevo policclico (FREITAS, 1951), que tanto infl uenciaram a geomorfologia de AbSaber e Fernando Flvio Marques de Almeida.

    A geomorfologia por sua vez, estar sofrendo pequenas mudanas metodolgicas, proporcionadas pela realidade do espao natural brasileiro,que direta ou indiretamente colocam questionamentos sobre o fazer geomorfologia, fato que est bem marcado na obra da primeira gerao da USP, como Joo Dias da Silveira e Aziz AbSaber. E, justamente AbSaber, que proporcionar a partir de seus trabalhos sobre o stio urbano de So Paulo (ABSABER, 2007) o incio das mudanas metodolgicas e futuramente epistemolgicas na geomorfologia brasileira. Infl uenciado diretamente por Pierre Monbeig (ABSABER, 2007a) procurar associar o mtodo regional a compartimentao topogrfi ca que por sua vez condi-cionada pela litologia e estrutura, com os processos de aplainamento do relevo (ainda peneplanos em 1957), mas j denotando o descontentamento e a necessidade de um modelo paradigmtico que melhor desse conta da realidade brasileira, que seria em breve a pediplanao. assim, que em 1969 em sua livre docncia (ABSABER, 1969) realiza o grande salto qualitativo na geomorfologia brasileira com a pediplanao, mas incorporando o papel da tectnica e sua relao com os aplainamentos na comparti-mentao do territrio brasileiro.

    Segundo Abreu (1982) as refl exes de Aziz representam o salto qualitativo no somente em termos de uso de tcnicas na geomorfologia, como por exemplo, o uso de fotografi as areas, mas tambm sob o ponto de vista epistemolgico, medida que o rompimento com o paradigma davisiano e a incorpo-rao da pediplanao, no passou distante da crtica e da renovao conceitual e metodolgica, da qual participaram tambm o professor Joo Jos Bigarella e a professora Maria Regina Mousinho Meis.

    Estes constituem-se nos grandes difusores e ao mesmo tempo as principais estruturas do novo paradig-ma o climtico, onde ser fundamental a refl exo de Aziz AbSaber sobre os domnios morfoclimticos e os redutos fl orestais do Brasil (ABSABER, 1967).

    Os anos 70 so marcados pela consolidao do paradigma climtico desenvolvidos por Aziz AbSaber, Bigarella e Mousinho; ao mesmo tempo em que assistimos a uma intensa tecnifi cao do territrio e o processo de se conhecer detalhadamente as potencialdidades naturais do territrio nacional.

    O que se observa atualmente, que apesar desta nova quantifi cao que vivemos com as geotecnologias e o sensoriamento remoto, as problemticas sociais e ambientais, atreladas crise da Cincia Moderna inviabilizaram aquela maneira de se conceber metodolgica e epistemologicamente a matematizao do espao geogrfi co, assim como a velha Teoria Geral dos Sistemas, que havia caminhado pari passu com a geografi a quantitativa. A revoluo einsteniana sobre o espao e o tempo, a globalizao da economia e o renascimento da geografi a cultural colocaram para a discusso no meio acadmico da geografi a a necessidade de repensarmos a complexidade do real e neste, o sentido de espao geogrfi co, sendo im-possvel agora, pensarmos a geografi a e o espao separado do tempo. Isto exige um novo dilogo entre a geografi a humana e a geografi a fsica sobre o objeto, e que objeto este agora requalifi cado.

    A crise ambiental no outra seno uma crise existencial, portanto, que no pode ser resolvida por meio de milagres tecnolgicos e solues imediatistas e reducionistas (MENDONA, 2002). uma crise que exige uma posio fenomenolgica e ontolgica sobre o ser e o fazer na geografi a contempornea, com graves implicaes inclusive em nossa ps-graduao.

  • 47Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    Ao mesmo tempo em que a crise ambiental exige um repensar ontolgico e um dilogo cada vez mais intenso entre a geografi a fsica e a geografi a humana, e da geografi a com a metafsica, assistimos a uma enorme pulverizao de peridicos de geografi a, em sua grande maioria, vinculados aos programas de ps-graduao. Ao mesmo tempo, assistimos a um relativo esfacelamento dos departamentos de geo-grafi a, fragmentados em grupos de pesquisa e laboratrios, onde se vinculam pesquisadores experientes e pesquisadores iniciantes, alunos de graduao e ps-graduao, perdendo-se assim a viso do prprio departamento e do curso de geografi a, enquanto instncias formadoras e veiculadoras da cincia e de sua prtica cidad.

    CONSIDERAES FINAISUma anlise sobre a produo da geografi a fsica brasileira em vinte e dois peridicos de Geografi a,

    permite-nos tecer as seguintes consideraes:a) A maior produo percentual de artigos de geografi a fsica no Brasil, ocorreu nas dcadas de 40,

    50, 60 e 70, que historicamente esto associadas ao processo de desenvolvimento territorial, onde houve forte participao do Estado-Nao;

    b) A geografi a fsica no Brasil foi produzida essencialmente a partir de uma razo de Estado, cujo objetivo era a apropriao da natureza e com isto instrumentalizar o processo de acumulao capitalista;

    c) A partir do fi nal dos anos 40 e com maior intensidade nos anos 50, as vrias disciplinas da geografi a fsica, como a climatologia, a geomorfologia, a biogeografi a, dentre outras, se especializam, cada qual com a defi nio epistemolgica e metodolgica de seu objeto, de suas tcnicas e principalmente na construo das causalidades que infl uenciam o desenvolvimento de seus respectivos objetos regionais;

    d) Das disciplinas da geografi a fsica, a geomorfologia e a climatologia so aquelas que se especializam mais rapidamente e com muita intensidade, tanto assim, que a partir dos anos setenta, elas so capturadas pela geologia e pela meteorologia, respectivamente;

    e) O surgimento da questo ambiental e a considerao sobre os limites do desenvolvimento capitalista no que diz respeito as relaes homem-natureza; associadas as revolues na fsica quntica, acabam por esfacelar os corolrios positivistas que sustentavam as pesquisas em geografi a e geografi a fsica em particular. Havendo assim um repensar sobre o objeto de pesquisa, com muitas incertezas metodolgicas. Fato que cada vez mais empurra a discusso sobre as bases fi losfi cas da geografi a e da geografi a fsica em particular e suas relaes com as cincias humanas e cognitivas.

    f) O que se observa atualmente uma forte especializao nas disciplinas core da geografi a fsica e isto, leva-nos a questionar, por exemplo, se haveria uma geomorfologia geogrfi ca, ou se, ao contrrio, dada a crise da Cincia Moderna e a aproximao da geomorfologia da geologia estrutural de do qua-ternrio, a mesma j no se confi guraria uma nova cincia, com uma lgica explicativa e argumentativa prpria e um objeto prprio.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICASABREU, Adilson A de. Anlise Geomorfolgica: refl exo e aplicao. SP, Tese de Livre-Docncia, Departamento de Geografi a, FFLCH-USP, 1982.

    ABREU, Maurcio de Almeida. O estudo geogrfi co da cidade no Brasil: evoluo e avaliao. In: CARLOS, Ana Fani A. (org.) Os Caminhos da refl exo sobre Cidade /Urbano. SP, Edusp, 1994. p.199-322.

    ANDRADE, Manuel Correia de. O pensamento geogrfi co e a realidade brasileira. Boletim Paulista de Geografi a, SP, n. 54, p.5-28, 1977.

  • 48 Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    ABSABER, Aziz N. Meditaes em torno da notcia e da crtica na geomorfologia brasileira. Notcia Geomorfo-lgica, ano 1, 1958, p.1-6.

    _______. Superfcies aplainadas do primeiro planalto do Paran. Boletim Paran de Geografi a, n. 4/5, 1961, p.116-125.

    _________. Reviso dos conhecimentos sobre o horizonte subsuperfi cial de cascalhos inhumanos no Brasil Oriental. Boletim Univ. Paran, Geografi a Fsica, n. 2, 1962, 32p.

    _______. Domnios morfolclimticos e provncias fi togeogrfi cas do Brasil. Orientao, 3, 1967.

    _______. Um conceito de geomorfologia a servio das pesquisas sobre o quaternrio. Geomorfologia, n.18, 1969.

    _______. Provncias geolgicas e domnios morfoclimticos no Brasil. Geomorfologia, n. 20, 1970.

    _______. O que ser Gegrafo. RJ: Bertrand Brasil, 2007.

    _______. Geomorfologia do stio urbano de So Paulo. SP: Atelie Editorial, 2007a.

    BECKER, Bertha; EGLER, Cludio. BRASIL- Uma Nova Potncia Regional na Economia-Mundo. RJ, Bertrand Brasil, 1993.

    CAMARGO, Jos Carlos G. Evoluo e tendncias do pensamento geogrfi co no Brasil: a biogeografi a. Rio Claro, Departamento de Geografi a, Tese de Livre-Docncia, 1998.

    CIDADE, Lcia C.F. Vises de mundo, vises de natureza e a formao de paradigmas geogrfi cos. Terra Livre, SP, n. 17, p.99-118, 2001.

    CONTI, Jos B. A climatologia e a defesa da natureza. Boletim Climatolgico, Presidente Prudente, n. 2, p.5-9, 1996.

    _______. Depoimento sobre a produo em geografi a fsica realizada na Universidade de So Paulo. Boletim de Geografi a Teortica, Rio Claro, v.15, n.29-30, p.253-256.

    GREGORY, K.J. A natureza da geografi a fsica. RJ, Bertrand Brasil, 1992.

    GUERRA, Antonio Jos T. Geomorfologia aplicada: algumas refl exes. In: SANTOS, Jemison Mattos dos. (org.) Refl exes e construes geogrfi cas. Salvador, [s.n.], 2004,p.144-161.

    MENDONA, Francisco de Assis. Geografi a Fsica: cincia humana? SP: contexto, 1989, 72p.

    ______. Geografi a socioambiental. In: _____. KOZEL, Salete (org.) Elementos de Epistemologia da Geografi a Contempornea. Curitiba, UFPR, 2002, p.121-144.

    MONTEIRO, Carlos Augusto de F. Geossistemas. SP, IG/USP, Srie Biogeografi a, 1978.

    ______. A Geografi a no Brasil (1934-1977): Avaliao e Tendncias. Srie Teses e Monografi as, n.37, IG/USP, 1980.

    ______. A questo ambiental no Brasil: 1960-1980. SP: Instituto de Geografi a, USP, 1981, 133p.

    SANTANNA NETO, Joo Lima. Por uma geografi a do clima: antecedentes histricos, paradigmas copntemporneos e uma nova razo para um novo conhecimento. Terra Livre, SP, n. 17, p.49-62, 2001.

    SUERTEGARAY, Dirce e NUNES, Joo Osvaldo. A natureza da Geografi a Fsica na Geografi a. Terra Livre, SP, n. 17, p.11-24, 2001.

    TOMASONI, Marco Antonio. Consideraes sobre a abordagem da natureza na Geografi a. In: SANTOS, Jemison Mattos (org) Refl exes e Construes Geogrfi cas Contemporneas. Salvador [Sn], 2004, p.11-35.

    VIADANA, Adler Guilherme. Biogeografi a: natureza, propsitos e tendncias. In; VITTE, Antonio Carlos e

  • 49Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    GUERRA, Antonio Jos T. Refl exes sobre a Geografi a Fsica no Brasil. RJ: Bertrand Brasil, 2004, p.111-128.

    VITTE, Antonio Carlos. O texto no contexto. A tese de doutoramento de Joo Dias da Silveira Estudo Geomorfo-lgico dos Contrafortes Ocidentais da Mantiqueira. I Seminrio Nacional de Histria do Pensamento Geogrfi co, Rio Claro: Anais..., Unesp, 1999.

    ZAVATINI, Joo Afonso. Estudos do clima no Brasil. Campinas, Editora Alnea, 2005.

    Recebido em abril de 2008Aceito em agosto de 2008