10. o Congresso Int'ernacional de Numismática · Este sistema vig.or.ou até 90 a. C, quando foi...

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10. o Congresso Int ' ernacional de Numismática

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10. o Congresso Int'ernacional de Numismática

MOEDAS DE CETOVION NOVAS OBSERV ACÕES

~

por M. T. ANTUNES e J. L. CARDOSO

'1 - IN.TRODUÇÃO

Divulgamos, nesta nota, no'Vas observações sobre cunhagens de 'Cetovion. Esta importante po- , voaç'ão, pré-romana e romana, situava-se no curso inferior dO' Sado, em local" ainda não inequivoca­mente definido. !Deixando para ·estudo ulterior análise mais pormenorizada d.os numism'as atribuídos a esta localidade, tr>ataremos apenas da série esoassamente referenciada na 'bibliografia, ·em cujo anverso fi,gura o hiJpocampo. A atribuiçãQ a CetO'vion é indiscutível, desde que GÓ'M'EZ.-MORE'NO (1962), IP . 39, in «'Navascués» 1966, p. 31, nota) decifrou a legenda bástulo-turdetana do anverso de asses semi-unciais, semelhante à de alguns dos numismas ora estudados. V AlSCO'NOEluOIS (1896, pp. 280 e 281), descreveu-os pela primeira vez. ID~pois ('1901, pp. 83 e 84), cl3Jssitfkou-o,s nos se­guintes ti~s: a) sem legenda; b) sem legenda, mas 'com contramarca S no anverso; c) com le­gemia indígena no anverso.

Não sabemos qual a metrologia que o autor lhes atribuía, v:isto não distinguir asses e semisses dentre as emi,ssões desta origem. VrvlEIS (1924, p . 124) incluiu-as nas moedas incertas. O exerfl'­piar figurado Lam. CXX n.O 3), classifi~ado como semis tem contramarca 'S no anverso. F ARRÉ (1966, p. 360), descreve um exernrplar tipo C de Vasconcelos, consi'derando-o 'as~ sitUa-o entre 47 e 44 a. C. O mesmo tipo ê l1eferidoem BURGOS (1982, p. 143), que segue a mesma opinião. ~E,RRErRA et alo (19713, 'Pp. 13 e 15) atribuem aos quatro exemplares inventar.iados o valor de semis.

Recentemente analisámos doze destes numismas, dez dos quais provenientes de Alcá~er do Sal, e os restantes de proveniên'cia desconhecida. As nossas observações apresentam-se de seguida.

2 - NOV A,S OBSERVAÇõES

2.1-Cunhos

Anverso - Hilpocampo à esquerda; por baixo, legenda bástulo-turdetane (visível só nalguns exemrplares), as Vlezes (~bliterada) por contramaroa S. Orla granulada, nem sempre visível.

Reverso - Duas e!'ipigas; de ambos os lados, letra bástulo-tul'detana (E, com ou sem ponto central. Orla granulada).

Foram observadas duas variantes, A e H, para o anverso; e outras duas, A e B, para o reverso, correspondentes a difer·entes estilizações dos mesmos motivos. O tipo B é o de estilização mais pronunciada, sobretudo nos reversos (figs. 1 a 4), 'como ,se pode reconhecer nas figuras de VAS­C'Ü'NCE'LOS (1901, figs. 3 e 5); cO'ntudo, este autor não lhes atribuiu significaJdo, .pois fundam.:m­tou a sua cla5\'3itfitcação na presença ou ausência de legenda no anverso. Este caráJCter tem limitado valor descriminante, por depender da conservação, da centragem do dis'co, da existênda ou falta de contramarca S (que, como notou Vasconcelos, acorre em geral na zona da legenda - Fig. 5), bem como de vicissitudes acidentais, .p. ·exp. raspagemct'a zona da legenda (fig. 1). Deste modo, pelo menos algumas das moedas tirlas por anepígrafas 'por Vascon:oelos poderiam não o ser; há vestí~ gios de legen:da no anVlerso de ambas as variantes por nós consideradas. De qualquer forma, nunca

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3 Fig. 4 Fig. b

Fig. 1 Anverso - vanante A. Triens (n .o 7). Fig . 2 -- Reverso· variante A. Mesmo ex. da Fig. 1. Fig. 3 - Anverso - B. Quadrans (n.o 8). Fig. 4 - Reverso - variante B. Mesmo ex . da Fig. 3. Fig. 5 - Anverso com contramarca S variante A .

Quadrans (n .o 9) .

deveriam ser considerados anepígraiÍos, visto os símholos considerados 'Por V AS CO'NOE LOS (1896) comO' crescentes, com ou sem rponto, ou coono meias-luas do reverso de válrios exemplares (1908, IP. 38) são, na realidade, a letra inicial de Ce tovion, = Ce.

OutrO' facto reforça o critério que adoptámos: nunca a variante menos estilizada do anverso se ·encontra associada à mais estilizaoo do reverso, ou vice-versa.

A contramarca ,S ocorre no anverso de ambas as variantes.

2.2. - Metrologia

No >concernente à metrologia, as oplmo...>S não coilliCidem. Vasconcelos ·não é claro a esse res­'peito. O mesmO' não sll~de com Vives e Fairês, que as consideraram como semisses e asses. Fp.r­re ira et al., seguiram Vives. Para tentar esclarecer esta dúvida - tarefa agora poss~vel pelo estudo de núm~ro signid:icaUvo de exernrplares - procedemos à :pesagem e toma de medillils (Quadro I ).

Três eXJeIIllplares, 100m 8,5, 8,9' e 9,3 g (1, 7 e 10) def inem um conjunto se,prarado d e ouro, com os demais, cO'm pesos entre 5,2 oe 6,8 g, ldistrib uídos de modo a'Parentementealeatório. Verifilca-se, igualmente, que os exernrplares de maior peso corresPO'ndem exclusivamente à variante A do anverso e reverso, embora tais cunhos também estejam representaidos nos de menor peso.

A Fig. 6 ilustra a lCorre1ação entre módulos e pesos. lEv.idenciam-se dois grupos bem diferen­dados. Um só eXelllllp'lar (6) não cai em nenhum daqueles domínios, devido a deformação ,por cha~ tamento e consequente aumento do módulo, devido à aposição da contramarca S.Porém, o peso leva-nos a incluí-lo, sem dúvida, no grupo de menor tamanho.

3 - DlISlOlJlSiSÁO

Os pesos teóricos aquando da irnrplantação em Roma do sistema ponderaI uncial, em 155 a. C., são (em gramas):

as -27,25 semis - 12,62 triens- 9,08

quarl,rans - 6,811 sex'bans - 4,54 uncia -2,27

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Este sistema vig.or.ou até 90 a. C, quando foi substituído pelo semi-uncial. Os 'pesos teóricos são, no inrcio deste períod.o (em gramas):

as -13.,625 semis - 6,812 triens - 4,541

N. · COLECÇÃO

SÉRIE

1

TELLES 2 ANTUNES

3

4

5

6

J . CARDOSO 7

S

9

CARVALHO \O

FERNANDES

NUNO GONÇALVES II '

NUMISMA 12

quadrans - 3,406 sextans - 2,270 uncia - 1,las

QUAIDRO 1 - CARAOrE,RtSiTIOAS DOS NUMISMAiS

VA RIANTES DlMENSOES (mm) PESO

OBSERV AÇOt.'S

Anv. Rev. o máx, o m Ín . o méd . (g)

A A 23 .0 20.9 22 .0 9.3 Leg. no anv.

21,2 19,0 20,1 6,6 S incuso DO anv. sobre possíveis

B B vesUgios de legenda

B B 20,7 19,5 20, 1 6,7 S incuso no anv.

B B 20.0 18,8 19,4 6, 1 S incuso no anv.

B B 19,9 18,8 19,4 5,2 Muito gasta; S in CU50 no aQv.

A A 25,0 23,2 24, 1 6,8 Contramarca S no anv.

A A 24,5 21,2 22,8 8,5 Raspada DO anv. na zona da leg.

. B B 19,6 18,0 18,8 5,2 Leg. no anv .

A A 19,2 18,0 18,6 5,9 Coo tramarca S no an v.

A A 24,0 22,0 23,0 8,9 Anv. mui to descen Irado

6,0 Z sulcos em «L» abaixo do hipo-

A A 21,8 20,0 20,9 campo

A A 20,0 18,5 19,2 5,2 Vest. leg . no .anverso

• Este exemptar pertenc.eu à colecção Júdice dos Santos, leiloada pela casa Schulman. Não constava do respectivo catá­logo, datado de 1906. Foi descrita por VASCONCELOS (190 8), que declara ignorar-lhe o paradeiro.

Comparand.o os pesos das m.oedas estudad as com os de ambos os sistemas mOOl.etários, é lícito 3lProxirmá-Ios dos d.o sistema un'cial. O cOOl.junto de peso mais elevad.o correSponderia ao trien's, e o de peso menor ao quadr,ans. Estará aoSSim eXipli.eada a clara diferentiação evidente na Fig. 5. Deste mOIdo, as mai·s antigas moeda's de Cetov iOOl. seriam representadas pela série do hipdcampo. Datariam da 2.' metade do séc. FI a, G. sendo, portanto, bastante mais antigas d.o que tem sido admitido.

Não p8lrece haver Icorrelação entre as vaI iantes de cunhos e os módulos ·e metrolog.ia. No en­tanto, o possfvel triens apenas está representa do pela v-ariante A.

A contramarca 'S poderia ter a; :função de conferir, na época de circulação semi-unda'), o valor

3

de semis ao quadrans uncial, que tinha, aproximadamente, o peso daquele. Com efeito, a:penas conhecemos esta contramarca em moedas que, de acordo com o nosso ICrirtlério, conside1"llmos qua­drans. A dúvida de V ASICONlCEILOS (1901, p. 83, nota 1), quanto ao s;gnificado da contram.arca parece, nesta hipótlese, ter resposta adequada .

Módulo

"' é dia (", ml

23.0

22.5

22.0

21.5

21.0

20.5

20.0 " /

I 5 19.5 •

11 I'" ii:- ....

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1B~ ----~--~----~--~--~----~--~--------~--~--5.5 6D 65 7.0 7.5 BD 8..5 9.0 9~ Peso (9)

Fig. 6 - Corre lação entre módulos e pesos dos numismas estudados

4 -OONlOLUSÕBS

Este estudo é uma contribuição lpara o 'conhecimento das €!IlllSSoes de Cetovion, através de estudo de doze 'exemplares inéditios, figurando no anverso a figura do hipocampo. :Dez provêm de AlcáJCer do 183.'1; d09 demais d~onhe'Ce-se a 'Proveniência.

Podemos concluir :

1 - Há Ipelo menos duas variantes para o anverso e duas para o reverso, correspondentes a estilizações mais ou menos acentuadas. Não consideramos signifilcativns os ca~teres definidos por V ASGO'N10ELOS ('1800, 11091) para a distinção que então propôs. Não se observaram exem­plares híbridos.

21 --< Quanto à metrologia: há dois grupos bem dj.ferendJaXi08, homogéneos, com pesos correstpon­ipOudentesao triens e ao qu:akl:rans do sistema uncial. IA aposição da contramarca ,s mostra que ('Pelo menos) o quadram foi realprO'Vfeitado como semis no período semi-uncial já que os pesos eram semelhantes.

'3 - Não confirmamos, 'Portanto, a atribuição destes numismas a semi'Sses ('VI'VBS 192'4) ou a asses (!F AIRlRÉIS 1006). O representado por Vi ves -é- de difícil identificação; o dellOrito por Farrés, poderia ser um triens . A emissão de Iquadrans e triens tem paralelos em Balsa, 'para só citarmos e.xem<plo da Lusitânia, embora já da. época sem i-undal (GóME:Z et alo 1981/83).

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4 - Os elementos lllpresentados em 2 fazem l'ecua.r para o fi na l da segunda metad€ do s'éc. IiJ a. C. as 'cunhagens kie Cetovion, até ago ra consider adas dos mea~os do séc. I a . C.

5 - Os numismas agora estudados 'podem ser considerados os mais 'antigos prod uzidos em ter­ritório hoje rportuguês .

AGRADECIMENTOS:

Ao Coronel .T. A. de Carvalho Fernand ~s, ao Sr. Nuno Gonçalves e à Numisma pela ajuda

em pesquisas bibliográficas, e ,pela cedência, pa t"a estudo, I{\os numismas das suas colecções.

BIBLIOGRAFIA

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GOMES, M. VARELA e GOMES, R, VARELA (l981-R3) - .Novas moedas de Balsa e Ossónoba» , NUMMVS. 2." sé ri e ·­

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GÓMEZ-MORENO, M (1962) - La escritura hás/ulo-lurd,'lalla . Madrid .

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VIVES Y ESCUDERO, A. (1924) - La moneda hispá,,;cn . T. m . Madrid . Reimpressão . J Cayoo , 1980. Madrid.

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