10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

download 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

of 6

Transcript of 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

  • 8/16/2019 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

    1/6

    Riscos ocupacionais do enfermeiro na ESF

    Recebido em: 24/06/09 – Aprovado em: 21/09/10

    Artigo de RevisãoReview Article

    Artículo de Revisión

    p.644 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):644-9.

    RESUMO: O enfermeiro, em sua atividade laboral, está sujeito a riscos ocupacionais. Este estudo objetivou discutir os riscosa que os enfermeiros da Estratégia Saúde da Família estão expostos, segundo a literatura. Pesquisa bibliográfica realizada na

    base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde sobre a temática. Foram identificados e

    analisados 29 artigos publicados de 1998 a 2008. Os enfermeiros estão expostos a riscos físicos (temperatura elevada e

    ambiente pouco iluminado); químicos, biológicos (secreções oral, vaginal e de feridas), ergonômicos (mobiliário inadequadopara a realização das atividades) e acidentes. Percebe-se que os riscos químicos, biológicos e os acidentes típicos são os temas

    mais evidenciados na literatura, entretanto, os riscos ergonômicos e os físicos são pouco explorados. Urge, portanto, a

    realização de estudos mais aprofundados sobre essa temática, a fim de que este profissional possa utilizar de maneira mais

    adequada as medidas de biossegurança e promover o autocuidado.

    Pa l av r a s Chave :

     Enfermagem; risco ocupacional; saúde do trabalhador; programa saúde da família.

    ABSTRACT: N urses are exposed to a variety of occupational risks at work. This study discusses the occupational hazards facing

    nurses who work in Brazil’s Family Health Strategy (Estrategia de Saúde da Família , ESF) as reported in the literature. A searchon occupational hazards in nursing in the Caribbean and Latin-American Literature in Health Science (LILACS) database

    returned 29 articles published between 1998 and 2008. The risks facing such nurses are physical (high temperatures and poorlighting); chemical; biological (oral, vaginal and wound secretions); ergonomic (furniture unsuited to their work), and to accidents.

    It was observed that, while chemical and biological risks and typical accidents are the topics most highlighted in the literature,physical and ergonomic risks are less explored. Further studies on this issue are thus urgently needed so that nurses can use bio-

    safety measures more properly and promote their self-care.

    Keywor ds

      Nursing; occupational risks; occupational health; family health program.

    RESUMEN: El enfermero, en sus actividades de trabajo, se queda sujeto a riesgos laborales. Este estudio objetivó discutir los

    riesgos a que los enfermeros que trabajan en la Estrategia Salud de la Familia están expuestos. Estudio de la literatura realizado

    en la base de datos de América Latina y de Caribe en Ciencias de la Salud acerca de la temática. Fueron identificados y

    analizados 29 artículosA publicados de 1998 a 2008. Los enfermeros están sujetos a riesgos físicos (temperatura alta y

    ambiente con poca luz), químicos, biológicos (secreciones orales, vaginales y de heridas), ergonómicos (mobiliario inadecuado

    para llevar a cabo las actividades) y accidentes. Se observa que los riesgos químicos, biológicos y los accidentes típicos sonlos temas más evidentes en la literatura, pero los riesgos ergonómicos y físicos son poco explotados. Por lo tanto, es necesario

    llevar a cabo más estudios sobre este tema, de manera que este profesional pueda utilizar una serie de medidas de bioseguridad

    más adecuadas y promover el autocuidado.

    Palabras Clave:  Enfermería; riesgo laboral; salud del trabajador; programa salud de la familia.

    RISCOS OCUPACIONAIS DO ENFERMEIRO ATUANTE NA

     ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIAOCCUPATIONAL RISKS OF NURSES WORKING IN THE FAMILY H EALTHSTRATEGY

    RIESGOS LABORALES DEL ENFERMERO ACTUANTE  EN LA ESTRATEGIASALUD DE LA FAMÍLIA

    Maria Eliana Peixoto BessaI Maria Irismar de AlmeidaII

    Maria Fátima Maciel AraújoIII

    Maria Josefina da SilvaIV 

    IEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Especia lista em Enfermagem do Trabalho. Professora Substituta do Departamento de Enfermagem da UniversidadeFederal do Ceará. Fortaleza, Ceará, Brasil E-mail: [email protected] em Enfermagem. Professora adjunta da Universidade Estadual do Ceará. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem do Trabalho.Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: [email protected] em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail:

    [email protected] em Enfermagem. Professora Associada da Universidade Federal do Ceará do Departamento de Enfermagem. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail:[email protected].

    Recebido em: 24/06/09 – Aprovado em: 21/09/10

    A r t i g o s

    de Revisão

  • 8/16/2019 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

    2/6

    Bessa MEP,  Almeida MI,  Araújo MFM,  Silva MJ

    Recebido em: 24/06/09 – Aprovado em: 21/09/10

    Artigo de RevisãoReview ArticleArtículo de Revisión

    Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):644-9. • p.645

    teção individual e coletiva, condições e local deestocagem e procedimentos de emergência3.

     Já o grupo 3 está representado pela cor marrom,correspondendo aos riscos biológicos, isto é, à probabi-lidade da exposição ocupacional a agentes biológicos3,4.

    Agentes biológicos correspondem aos microor-ganismos, geneticamente modificados ou não; às cultu-ras de células, aos parasitas, às toxinas e aos príons3.

    Os riscos ergonômicos estão representados pelacor amarela e estão englobados no grupo 4, sendocaracterizados pelo levantamento e transporte ma-nual de cargas e peso, repetitividade, ritmo excessivode trabalho, posturas inadequadas de trabalho e tra-balho em turnos3,4.

    E por fim, o grupo 5, que são os riscos de aciden-tes, representados pela cor azul, e que correspondemao arranjo físico inadequado, quedas, equipamentos

    sem proteção e acidentes perfurocortantes3,4.Assim, como em qualquer outra profissão, os

    trabalhadores de enfermagem também estão subme-tidos a esses riscos. No entanto, o que se percebe éuma negligência tanto por parte dos trabalhadoresquanto por parte do empregador, no que diz respeitoà saúde ocupacional dos enfermeiros.

    Nesse contexto, é necessário que o enfermeiroconheça o processo de trabalho e os riscos potenciaisa que está sujeito, para, assim, garantir a sua seguran-ça e a da equipe, durante o atendimento5.

    M ETODOLOGIA

    O presente estudo é uma pesquisa bibliográfi-co-documental que traz à luz da literatura conheci-mentos acerca da problemática de riscos ocupacionaisdos profissionais da enfermagem.

    A busca bibliográfica, realizada no mês de ja-neiro de 2009, compreendeu as bases de dadosLILACS, inclusas na Biblioteca Virtual de Saúde(BVS), utilizando os descritores: riscos ocupacionaise enfermagem. Considerou-se essa base de dados, poiso Scientific Eletronic Library on Line (SCIELO) e Basede dados de Enfermagem (BDENF) já estão incluídosna mesma.

    O estudo abrangeu os últimos 11 anos (1998 a2008). Foram encontradas inicialmente 163 referên-cias bibliográficas. Considerou-se como critério deinclusão artigos na integra disponível na base de da-dos pesquisada com um total de 29 artigos2,4-31.

    No período da pesquisa, não foram encontradosartigos sobre riscos ocupacionais na enfermagem atu-ante na atenção básica. Após a análise dos artigosencontrados, foi localizado um artigo32sobre atenção

    básica, produzido no Rio de Janeiro, que contribuiupara a discussão dos achados.

    INTRODUÇÃOAs doenças profissionais constituem um graveproblema de saúde pública. Historicamente, porém, osprofissionais de saúde só foram considerados uma cate-

    goria de alto risco para acidentes de trabalho a partir doséculo XX, quando então a ocorrência dos riscos bioló-gicos foi relacionada com as doenças que atingiam espe-cificamente os trabalhadores da área da saúde1.

    Riscos ocupacionais são todas as situações de tra-balho que podem romper o equilíbrio físico, mental esocial dos trabalhadores e não somente as situaçõesque originem acidentes e doenças2. Dessa forma, en-tende-se por condições de risco as que, devidas à natu-reza das próprias funções e em resultado de ações oufatores externos, aumentem a probabilidade de ocor-rência de lesão física, psíquica ou patrimonial3, sendo

    necessário que o enfermeiro conheça o processo detrabalho e os riscos potenciais a que está exposto.O exercício profissional da enfermagem na aten-

    ção básica, mais especificamente na Estratégia Saúdeda Família (ESF), muitas vezes ocorre em cidadesinterioranas, necessitando, portanto, de deslocamen-tos diários para atendimento em distritos, com riscode vida para cada um dos que estão nesse mister. Mui-tos profissionais da saúde trabalham sem vínculo detrabalho com base na Consolidação das Leis Traba-lhistas (CLT), não podendo usufruir dos direitos pro-fissionais. Além disso, estão sujeitos a pressões psico-lógicas decorrentes das inúmeras atribuições da ESF.

    Sabemos que a enfermagem é a profissão do cui-dar, mas quem cuida desses profissionais que muitasvezes negligenciam o seu próprio autocuidado? Dessemodo, este artigo teve como objetivo discutir os ris-cos ocupacionais a que os enfermeiros atuantes naESF estão expostos, segundo a literatura.

    R EFERENCIAL T EÓRICO

    A Norma Regulamentadora no 5 (NR5) do Mi-nistério do Trabalho e Emprego (MTE) classifica osriscos

     ambientais em cinco grupos: físicos, químicos,

    biológicos, ergonômicos e de acidentes2;3.O grupo 1 engloba os riscos físicos que estão

    representados pela cor verde e que correspondem aoruído, calor, frio, radiações ionizantes e nãoionizantes, vibrações, umidade, pressões ambientais3;4.

    O grupo 2 são os riscos químicos, representa-dos pela cor vermelha, constituídos pelas poeiras,gases e vapores3,4.

    A Norma Regulamentadora no 32/MTE (NR32)recomenda uma ficha descritiva que contenha, nomínimo, as informações sobre as características e a

    forma de utilização do produto, os riscos à segurançae saúde do trabalhador, bem como as medidas de pro-

  • 8/16/2019 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

    3/6

    Riscos ocupacionais do enfermeiro na ESF

    Recebido em: 24/06/09 – Aprovado em: 21/09/10

    Artigo de RevisãoReview Article

    Artículo de Revisión

    p.646 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):644-9.

    Após a seleção, os artigos foram impressos e li-dos em sua íntegra. O primeiro passo foi registrar, eminstrumento elaborado para esse fim, o nome do au-tor, o título do artigo, o ano de publicação, o tipo demetodologia e o local do estudo. A seguir, os artigos

    foram organizados em riscos ocupacionais – conformea NR5/MTE: físicos, químicos, biológicos e ergonômicos– e riscos de acidentes, dando-se ênfase aos riscosocupacionais dos enfermeiros que atuam na área desaúde da família, valendo-se, portanto, da experiênciavivenciada por uma das autoras.

    Os dados foram analisados à luz da literaturaespecífica e dos documentos legais que legislam sobrea temática.

    R ESULTADOS  E DISCUSSÃO

    O enfermeiro tem o direito de desenvolver suasatividades profissionais em condições de trabalho quepromovam a própria segurança e dispor de material eequipamentos de proteção individual e coletiva, se-gundo as normas vigentes, cabendo a ele recusar-se adesenvolver atividades profissionais na falta de ma-terial ou equipamentos de proteção individual e co-letiva definidos na legislação específica33.

    As atividades de saúde são classificadas com graude risco 3, sejam elas hospitalares ou ambulatoriais3.Desse modo, considerando que a maioria das ativida-des dos enfermeiros atuantes em ESF é de nível

    ambulatorial, também esses estariam expostos a ris-cos em suas atividades laborais e não apenas os quetrabalham em hospital, como apontam os artigos li-dos para a elaboração deste estudo.

    Riscos FísicosAs cargas físicas a que os trabalhadores de en-

    fermagem estão expostos na ESF são: exposição à ilu-minação precária, o que dificulta a realização de pro-cedimentos; a falta de arejamento nos consultóriosde enfermagem, tornando o ambiente impróprio parao trabalho, e as instalações elétricas inadequadas, pro-

    piciando o risco de choque elétrico, especialmentedurante a realização do exame papanicolau, já que énecessário o foco de luz elétrica.

    Apesar da relevância da temática para a enfer-magem, os riscos físicos são pouco discutidos na lite-ratura2,5,14,15,21,19,32.

    Riscos QuímicosOs riscos químicos, aos quais os enfermeiros

    estão submetidos, “são os gerados pelo manuseio deuma variedade grande de substâncias químicas e tam-bém pela administração de medicamentos que po-

    dem provocar desde simples alergias até importantesneoplasias” 7:351.

    As principais cargas químicas às quais estão ex-postos são: medicamentos, soluções, desinfetantes,desencrostantes ou esterilizantes, antissépticos,quimioterápicos, gases analgésicos, ácidos para trata-mentos dermatológicos, látex (do contato com ma-

    teriais de borracha) e a fumaça do cigarro7, com ma-nifestações físicas como tontura, dispneia, urticária eirritação da mucosa nasal6,8.

    Alguns riscos químicos que podemos encontrarnas UBS são: uso de luvas, obrigatória nos procedi-mentos; uso do hipoclorito de sódio, no ato de reali-zar educação em saúde para a população; o iodo e oéter, substâncias presentes na realização dos curati-vos. Além disso, a própria administração de medica-mento pode gerar risco de sensibilidade alérgica32.

    A falta de rotulagem adequada das substânciasquímicas comercializadas leva à deficiência de infor-

    mações sobre os riscos a que os trabalhadores estãoexpostos, contribuindo para que doençasocupacionais e acidentes do trabalho com elas relaci-onados fiquem muitas vezes fora das estatísti-cas10,11,20,21,22,26  por desconhecimento das causas.

    Riscos BiológicosOs riscos ocupacionais estão amplamente dis-

    tribuídos nas unidades de saúde, sofrendo variaçõesproporcionais aos contatos mais intensos e diretoscom os pacientes. Podem ser transmitidos pelas mãosou pela utilização de materiais não limpos, não

    desinfetados ou esterilizados, e pelo contágio indire-to, por objetos contaminados do paciente ou por in-termédio do ar9-11,34,35.

    Os agentes mais importantes de transmissãoparenteral são os vírus da hepatite B (HBV), da hepa-tite C (HCV) e da imunodeficiência adquirida hu-mana (HIV)14,36. É certo que o enfermeiro da ESF nãotem oportunidade frequente de aplicar uma injeçãoendovenosa. Entretanto ele corre o risco de conta-minação parenteral ao administrar vacinas e medi-camentos por via intramuscular32.

    Ao executar atividades que envolvem o cuida-

    do direto e indireto com os pacientes, os enfermeirosestão frequentemente expostos às infecções trans-mitidas por microorganismos presentes no sangue ououtros fluidos orgânicos11,14. Cabe lembrar que essesprofissionais devem estar imunizados contra tétano,difteria e hepatite36,37.

    Enfermeiros da ESF realizam o examepapanicolau, entrando em contato com secreção va-ginal da paciente. Também entram em contato comdoenças infectocontagiosas, tais como tuberculose(TB), viroses, além das parasitoses. Podem ainda en-trar em contato com a secreção de feridas, ao reali-

    zar procedimentos invasivos, como sondagemvesical de demora.

  • 8/16/2019 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

    4/6

    Bessa MEP,  Almeida MI,  Araújo MFM,  Silva MJ

    Recebido em: 24/06/09 – Aprovado em: 21/09/10

    Artigo de RevisãoReview ArticleArtículo de Revisión

    Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):644-9. • p.647

    Esses profissionais estão expostos a parasitas ao cui-dar de clientes portadores de pediculose e/ou escabiose,com grande possibilidade de infestação11. E isso é fre-quente, pois geralmente as mães procuram o ambulatóriode enfermagem para o tratamento dessas afecções.

    Percebe-se uma vasta literatura sobre estatemática9-11,14,16,18-20,24,27-30,32,34-36.

    Riscos ErgonômicosA ergonomia focaliza um sistema formado por

    um complexo relacionamento de componentes queinteragem entre si12.

    Na atenção básica, um dos principais proble-mas ergonômicos está relacionado com o mobiliário:as mesas e cadeiras para o atendimento ambulatorialsão inadequadas para utilização por um período lon-go. Apesar de os enfermeiros se dedicarem a outrasatividades, tais como atendimento em grupos e visi-tas domiciliárias, esses profissionais passam boa par-te do tempo realizando atividades ambulatoriais32.

    Como essa análise tem base na vivência profis-sional de uma das autoras, descrevemos um local deatendimento típico de unidades de atenção básicaem um município do interior do Ceará, com vistas ailustrar neste estudo as más condições de trabalho doenfermeiro em UBF: em atendimentos realizados emescolas, as prescrições feitas em cadeiras escolares,que, em razão do desgaste, são instáveis; realização depré-natal em camas comuns ou em macas improvisa-

    das no solo; o papanicolau realizado em macasinapropriadas, precisando de um auxiliar para evitaracidentes como quedas. Em tais situações, frequen-temente o enfermeiro faz o exame em pé.

    A essa situação, descrita e vivenciada por mui-tos enfermeiros que labutam nos locais mais distan-tes das sedes municipais, os gestores não estão sensí-veis, nem dispostos a promover melhorias. Conside-ram, apenas, o atendimento de qualidade para o paci-ente e não se preocupam com as condições de traba-lho do profissional38. Daí a necessidade de realizarestudos sobre os aspectos ergonômicos não só em

    hospitais, mas também em UBF, pois nesse contextosó foram encontrados dois artigos32,38.Entre os riscos ergonômicos destacam-se os riscos

    psicossociais que são desencadeados pelo contato com osofrimento do paciente15. Alguns agentes estressores são:o rígido controle do tempo; forma como o setor é organi-zado; falta de materiais e equipamentos adequados; con-flitos nos relacionamentos entre os membros da equipe;estado crítico de saúde do paciente; dupla jornada de tra-balho (decorrência também da má remuneração), a quetanto homens como mulheres estão expostos, e trabalhonos finais de semana e feriados13,15-19,39.

    Além disso, os trabalhadores de enfermagemapresentam sentimentos de desvalorização por parte

    das chefias, o que os leva ao desânimo, desinteresse,fadiga e a uma relação desumanizada com o pacien-te16,29,31,32,40,41.

    Os profissionais de enfermagem vivenciam si-tuações de risco cotidianamente, deixando de se pro-teger, deixando de se cuidar, como se isso fosse umaatitude natural, essencial para o exercício de uma pro-fissão cujo objeto é a prática do cuidar40. Observa-seque, muitas vezes, a atenção da equipe no ambientede trabalho concentra-se no cuidar, mas no cuidarapenas dos outros.

    Na ESF encontram-se também riscos psicossociais.Muitos que trabalham nesse tipo de atendimento passama semana no local de trabalho, ficando distante da famíliae do seu ciclo social. As pressões sofridas pelos profissio-nais não advêm apenas das chefias, mas da própria clien-tela, que não entende essa nova proposta de assistência à

    saúde e ainda prefere os modelos curativos ao enfoquepreventivo. A natureza do fator psicossocial é complexae envolve questões relativas ao indivíduo (personalida-de), ao ambiente de trabalho (demandas e controle sobrea tarefa) e ao ambiente social (fatores culturais)41.

    Riscos de AcidentesAcidente de trabalho é aquele que ocorre em fun-

    ção do exercício do trabalho a serviço da instituiçãoempregadora, provocando lesão corporal ou perturba-ção funcional que cause a morte, ou perda ou reduçãopermanente ou temporária da capacidade para o traba-

    lho; sendo acidente típico aquele que ocorre no local detrabalho e durante o exercício do mesmo3.Dos acidentes com trabalhadores de enferma-

    gem pode-se enumerar os gerados por más condiçõesde trabalho, cargas no desenvolvimento do processode trabalho, desconhecimento de medidas preventi-vas, em especial os acidentes provocados pelos mate-riais perfurocortantes, expondo a riscos biológicoscomo relatado7,9,11,14;23-28,30,34,39.

    Os trabalhadores da ESF estão sujeitos a riscosde acidente, tanto típico quanto de trajeto. Esses pro-fissionais podem sofrer acidentes com material

    perfurocortante, ao realizar procedimentos como va-cinas, injeções e retirada de pontos; ao acidente detrajeto, ao se deslocarem diariamente para o distritoem que trabalham, viajando por veredas e estradassem sinalização e estrutura viária. Deslocam-se emveículos velhos, enferrujados, com pneus gastos pelouso, bancos soltos, sem cintos de segurança e, fre-quentemente, com excesso de lotação.

    É importante destacar, ainda, que muitos pro-fissionais têm contrato temporário, isto é, não têmvínculo empregatício de acordo com a CLT, não ten-do os direitos reconhecidos em casos de acidentes de

    trabalho, sendo esse um grande fator estressor paraos enfermeiros atuantes na ESF42.

  • 8/16/2019 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

    5/6

    Riscos ocupacionais do enfermeiro na ESF

    Recebido em: 24/06/09 – Aprovado em: 21/09/10

    Artigo de RevisãoReview Article

    Artículo de Revisión

    p.648 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):644-9.

    CONCLUSÃO

    Diante da magnitude dos problemas decorren-tes da falta de biossegurança no campo de trabalhodo enfermeiro, ainda são poucos os estudos que bus-

    cam conhecer com maior profundidade a temática.E, embora tenham sido identificados estudos abran-gendo os tipos de riscos a que estão sujeitos os profis-sionais de enfermagem, mesmo esses trabalhos aindadesenvolvem o tema de forma incipiente,direcionando os objetivos na perspectiva de explorare descrever os cenários onde os problemas ocorrem.

    Para avançar no conhecimento sobre riscosocupacionais no trabalho de enfermagem e ter condi-ções de apresentar evidências sobre estes riscos, deve-mos aprofundar estudos com bases estatísticas sólidas,de modo a oferecer aos enfermeiros e demais membros

    da equipe de saúde informações que levem aoautocuidado e à capacidade de reivindicar melhorescondições de trabalho e qualidade de vida profissional.

    R EFERÊNCIAS

    1.Mastroeni MF. Biossegurança aplicada a laboratórios e ser-viços de saúde. São Paulo: Atheneu; 2004.2.Miranda EJP, Stancato K. Riscos à saúde de equipe de enfer-magem em unidade de terapia intensiva: proposta de aborda-gem integral da saúde. Rev Bras Ter Intensiva. 2008; 20:68-76.3.Reis RS. Segurança e medicina do trabalho: normasregulamentadoras. 2a ed. São Caetano do Sul (SP): Yendes; 2007.4.Silva LD, Zeitoune RCG. Determinando os riscos na enferma-gem intensivista. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2002; 6:81-7.5.Castro MR, Farias SNP. A produção científica sobre riscosocupacionais a que estão expostos os trabalhadores de enfer-magem. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2008; 12:364-9.6.Xelegati R, Robazzi MLCC. Riscos químicos a que estãosubmetidos os trabalhadores de enfermagem: uma revisãode literatura. Rev Latino-am Enfermagem. 2003; 11:350-6.7.Ribeiro EJG, Shimizu HE. Acidentes de trabalho com traba-lhadores de enfermagem. Rev Bras Enferm. 2007; 60:535-40.8.Rocha FLR, Marziale MHP, Robazzi MLCC. Perigos potenciaisa que estão expostos os trabalhadores de enfermagem na mani-pulação de quimioterápicos antineoplásicos: conhecê-los para

    preveni-los. Rev Latino-am Enfermagem. 2004; 12:511-7.9.Damasceno AP, Pereira MS, Souza ACS, Tipple AFV, Pra-do MA. Acidentes ocupacionais com material biológico: apercepção do profissional acidentado.  Rev BrasEnferm. 2006; 59:72-7.10.Mafra DAL, Santana JCB, Fonseca IC, Silva MP, Viana JX. Percepção dos enfermeiros sobre a importância do uso dosequipamentos de proteção individual para riscos biológicosem um serviço de atendimento móvel de urgência. MundoSaúde. 2008; 32:31-8.11.Carvalho MB, Felli VE. A. O trabalho de enfermagempsiquiátrica e os problemas de saúde dos trabalhadores. RevLatino-am Enfermagem. 2006; 14:61-9.12.Alexandre NMC. Aspectos ergonômicos relacionados com

    o ambiente e equipamentos hospitalares. Rev Latino-amEnfermagem. 1998; 6:103-9.

    13.Leite PC, Merighi MAB, Silva A. A vivência de umatrabalhadora de enfermagem portadora de lesão “DeQuervain”. Rev Latino-am Enfermagem. 2007; 15:253-8.14.Balsamo AC, Felli VEA. Estudo sobre os acidentes detrabalho com exposição aos líquidos corporais humanos em

    trabalhadores da saúde de um hospital universitário. RevLatino-am Enferm. 2006; 14:346-53.15.Santos JM, Oliveira EB, Moreira AC. Estresse, fator derisco para a saúde do enfermeiro em centro de terapia inten-siva. Rev enferm UERJ. 2006; 14:580-5.16.Cavalcante CAA, Enders BC, Menezes RMP, MedeirosSM. Riscos ocupacionais do trabalho em enfermagem: umaanálise contextual. Ciênc Cuid Saúde. 2006; 5:88-97.17.Correa CF, Donato M. Biossegurança em uma unidadede terapia intensiva: a percepção da equipe de enfermagem.Esc Anna Nery Rev Enferm. 2007; 11:197-204.18.Lima FA, Pinheiro PNC, Vieira NFC. Acidentes commaterial perfurocortante: conhecendo os sentimentos e asemoções dos profissionais de enfermagem. Esc Anna Nery

    Rev Enferm. 2007; 11:205-11.19.Marziale MHP, Nishimura KYN. Programa preventivo paraa ocorrência de acidentes com material pérfuro-cortante entretrabalhadores de enfermagem de um hospital do Estado deSão Paulo. Acta Paul Enf. 2003; 16:59-68.20.Contrera-Moreno L, Monteiro MS. Resgate da produçãocientífica sobre riscos à saúde no trabalho em enfermagemna década de 90. Acta Paul Enf. 2003; 16:81-7.21.Tuesca-Molina R, Iguarán-Urdaneta M, Suárez-LafaurieM, Vargas-Torres G, Vergara-Serpa D. Síndrome de desgasteprofesional en enfermeras(os) del área metropolitana deBarranquilla. Salud UNINORTE. 2006; 22:84-91.22.Costa TF, Felli VEA. Exposição dos trabalhadores de en-fermagem às cargas químicas em um hospital público univer-

    sitário da cidade de São Paulo. Rev Latino-am Enfermagem.2005; 13:501-8.23.Nishide VM, Benatti MCC, Alexandre NMC. Ocorrên-cia de acidente do trabalho em uma unidade de terapiaintensiva. Rev Latino-am Enfermagem. 2004; 12:204-11.24.Marziale MHP, Nishimura KYN, Ferreira MM. Riscos decontaminação ocasionados por acidentes de trabalho commaterial pérfuro-cortante entre trabalhadores de enferma-gem. Rev Latino-am Enfermagem. 2004; 12:36-42.25.Sêcco IAO, Gutierrez PR, Matsuo T. Acidentes de trabalhoem ambiente hospitalar e riscos ocupacionais para os profissionaisde enfermagem. Semina cienc. biol. saude. 2002; 23:19-24.26.Almeida CB, Pagliuca LMF, Leite ALAS. Acidentes de

    trabalho envolvendo os olhos: avaliação de riscos ocupacionaiscom trabalhadores de enfermagem. Rev Latino-am Enfer-magem. 2005; 13:708-16.27.Sêcco IAO, Gutierrez PR, Matsuo T, Robazzi MLCC. Aequipe de enfermagem de hospital escola público e os aci-dentes de trabalho com material biológico. Semina CiencBiol Saude. 2003; 24:21-36.28.Canini SRMS, Gir E, Hayashida M, Machado AA. Aci-dentes perfurocortantes entre trabalhadores de enfermagemde um hospital universitário do interior paulista. Rev Latino-am. Enfermagem. 2002; 10:172-8.29.Silva DMPP, Marziale MHP. O adoecimento da equipe deenfermagem e o absenteísmo-doença. Ciênc Cuid Saúde.2002; 1:139-42.

    30.Brevidelli MM, Cianciarullo TI. Análise dos acidentescom agulhas em um hospital universitário: situações de ocor-

  • 8/16/2019 10 Riscos Ocupacionais Do Enfermeiro Atuante Na Estratégia Saúde Da Família

    6/6

    Bessa MEP,  Almeida MI,  Araújo MFM,  Silva MJ

    Recebido em: 24/06/09 – Aprovado em: 21/09/10

    Artigo de RevisãoReview ArticleArtículo de Revisión

    Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):644-9. • p.649

    rência e tendências. Rev Latino-am Enfermagem. 2002;10:780-6.31.Carvalho DV, Lima FCA, Costa TMPF, Lima EDRP. En-fermagem em setor fechado: estresse ocupacional. REMErev min enferm. 2004; 8:290-4.

    32.Farias SNP, Zeitoune RCG. Riscos no trabalho de enfer-magem em um centro municipal de saúde. Rev enferm UERJ.2006; 13:167-74.33.Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN-311/2007. Aprova a reformulação do Código de Ética dosProfissionais de Enfermagem. Rio de Janeiro: COFEN; 2007.34.Gomes AC, Agy LL, Malaguti SE, Canini SRMS, CruzEDA, Gir E. Acidentes ocupacionais com material biológicoe equipe de enfermagem de um hospital-escola. Rev enfermUERJ. 2009; 17:220-3.35.Ministério da Saúde (Br). Recomendações para atendi-mento e acompanhamento de exposição ocupacional a ma-terial biológico: HIV e hepatites B e C. Brasília(DF): Minis-tério da Saúde; 2004.

    36.Pinheiro J, Zeitoune RCG. O profissional de enfermageme a realização do teste sorológico para hepatite B. Rev enferm

    UERJ. 2009; 17:30-4.37.Silva MKD, Zeitoune RCG. Riscos ocupacionais na pers-pectiva da enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2009;13:279-86.38.Silva ACB, Athayde, M. O Programa de Saúde da Famí-

    lia sob o ponto de vista da atividade: uma análise das relaçõesentre os processos de trabalho, saúde e subjetivação. RevBras Saúde Ocup. 2008; 33:23-35.39.Mauro MYC, Veiga AR. Problemas de saúde e riscosocupacionais: percepções dos trabalhadores de enfermagem deunidade materna infantil. Rev enferm UERJ. 2008; 16:64-9.40.Molinier P. A dimensão do cuidar no trabalho hospitalar:abordagem psicodinâmica do trabalho de enfermagem e dosserviços de manutenção.Rev Bras Saúde Ocup. 2008; 33:6-16.41.Magnago TSBS, Lisboa MTL, Griep RH. Estresse, aspec-tos psicossociais do trabalho e distúrbios musculoesqueléticosem trabalhadores de enfermagem. Rev enferm UERJ. 2009;17:118-23.42.Silva SM, Robazzi MLCC, Marziale MHP, Haas VJ. Los

    trabajadores de enfermería y las informaciones sobre susderechos laborales. Rev enferm UERJ. 2008; 16:357-63.