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    186 C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011

    O SERVIO SOCIAL EM EQUIPEINTERDISCIPLINAR NO MBITO POLICIAL:NFASE NO ATENDIMENTO S VTIMAS DE

    VIOLNCIA DOMSTICA

    12

    Michael Hermann Garcia *

    RESUMO Este trabalho foi desenvolvido durante uma experincia profissional dentrode uma delegacia de polcia instituio esta que, no final da dcada de90, passou por vrias reformas no s dentro do seu aparatoadministrativo, mas na sua concepo de como a mesma v a violncia esuas causas. Com esta mudana ocorreu incluso dos profissionais nopoliciais, constitudos em sua maioria por assistentes sociais, queprimeiramente no so incorporados nos quadros da polcia estadual, masfazem parte de um projeto Programa Delegacia Legal, que gerou tais

    modificaes dentro do aparato da segurana pblica no Estado do Rio deJaneiro. Dentro da delegacia legal h a constituio de uma equipe deprofissionais policiais ou no prontos para atender a populao quenecessita de demandas que ultrapassam a natureza criminal. Estetrabalho expe as formas de insero dos assistentes sociais comoprofissionais no-policiais nas delegacias de polcia, constituindo emequipes de trabalho coletivo ou no, antes no Rio de Janeiro, e atualmentenos estados da Bahia e de Minas Gerais; fazendo-se comparaes eanlises sob a perspectiva crtica deste espao scio-ocupacionalinstigante e cheio de conflitos. A metodologia utilizada para a coleta dosdados e sua posterior anlise foi de natureza qualitativa com abordagemcrtica. Observao participante, dirio de campo, anlise de documentos,entrevistas e grupos focais foram os procedimentos utilizados nesta

    pesquisa que ocorreu em 3(trs) etapas entre os anos de 2004 a 2010.Quanto aos resultados: pode-se dizer que h um conservadorismomarcante de abordagem estrutural-funcionalista acompanhada de umimperialismo epistemolgico dominado pelo campo do Direito positivo.Porm, h relatos de experincias interdisciplinares, crticas e pluralistasnestes espaos de mbito policial, consolidando o atendimentoespecializado s vtimas de violncia domstica, unindo as partessociocriminolgica e socioassistencial. O trabalho em equipeinterdisciplinar no espao policial dar a visibilidade profissional e tcnica imagem do assistente social, bem como formata um produto material eimaterial de toda a equipe que poderia ser mais efetivo devido inoperncia da rede socioassistencial local.

    Palavras-chave: Servio Social. Interdisciplinaridade. Violncia Domstica .Segurana Pblica.

    1 Tal artigo foi resultado de um estudo monogrfico para a obteno de ttulo da Especializao emAtendimento a Criana e Adolescente Vtima de Violncia Domstica pela PUC Rio de Janeiro, em 2004. Otrabalho foi desenvolvido durante a insero do autor, como profissional no policial, no Programa DelegaciaLegal, lotado em uma das DPs situadas na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, no perodocompreendido entre 2004 a 2005.2Tal estudo est tendo continuidade em um projeto de pesquisa e extenso coordenado pelo NEPSSI Ncleo de Estudos e Pesquisas em Servio Social e Interdisciplinaridade sob a chancela da UNIMESalvador. O projeto se intitula Servio Social e Interdisciplinaridade presentes no Campo Scio-Jurdico noEstado da BA, que tem por objetivo no s levantar e analisar o processo de trabalho dos assistentessociais inseridos neste campo scio-ocupacional, mas de tentar visualizar a concepo de trabalhos denatureza interdisciplinar na resoluo das demandas materializadas pelos usurios que recorrem a esteespao j mencionado.

    relatos

    de

    pesquisa

    * AS/RJ-MG-BA.Experincia emEducao,Segurana Pblicae Campo Scio-Jurdico.Assistente Social-UFJF. Conselheiroem DependnciaQumica/DST-AIDSEspecialista emViolncia Domstica

    e Urbana (PUC-Rio); Mestrando emPolticas Sociais(UniversidadeCatlica doSalvador) eCoordenadoracadmico doCurso de ServioSocial - FacSul-UNIME Itabuna.http://fhtmss.blogspot.com.

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    GARCIA, M. H.

    C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011 187

    1 VIOLNCIA DOMSTICA COMO

    OBJETO DO SERVIO SOCIAL NOCOTIDIANO NO MBITO POLICIAL

    A violncia em si como objeto,

    deve-se entender como uma refrao da

    questo social cuja ao do Servio

    Social potencializado por seus meios e

    instrumentos gere como produto (em

    termos de polticas pblicas) um contexto

    de no-violncia. Parte do trabalho a ser

    descrito foi feito durante entre os anos de

    2004 a 2005, onde foram observadas

    vrias experincias multi e

    interdisciplinares no atendimento s

    vtimas de violncia domstica no mbito

    policial. A insero deste breve estudonas delegacias de polcia (DPs) foi feita

    pelo Programa Delegacia Legal3, com a

    incluso de profissionais no-policiais4,

    que veio em um momento poltico vertical

    e pontual para dar maior qualidade

    operacional e organizacional dentro dos

    3O Programa em questo foi colocado na gesto do Governode Anthony Garotinho no ano de 1999, que modificou aestrutura administrativa das antigas delegacias com umsistema moderno de informatizao, interligando as DelegaciasPoliciais, fornecendo maiores informaes para elaborao deum Registro de Ocorrncia RO, mudando o meio, o modo e aprtica diria de um planto policial, interligando com a rede deatendimento scio-assistencial presente em todo Estado do Riode Janeiro.4Compostos por assistentes sociais e psiclogos, contratadospor tempo determinado pelo grupo gestor do ProgramaDelegacia Legal, no fazendo parte do organograma oficial daSESP-RJ (Secretria de Estado de Segurana Pblica do Riode Janeiro).

    quadros da Polcia Civil do Estado do Rio

    de Janeiro. A pesquisa atual est alocadanos estados da Bahia e de Minas Gerais,

    analisando a insero de assistentes

    sociais em equipes primrias locadas em

    delegacias de polcia. O tema sobre

    violncia domstica, corrente em estudos

    e intervenes dos assistentes sociais em

    diversos espaos de trabalho, durante a

    preparao do corpo policial, dentro da

    Academia de Polcia5, visto como um

    fato atpico, diferente dos processos e

    flagrantes mais corriqueiros que envolvem

    homicdios, seqestros, crimes contra o

    patrimnio e trfico de entorpecentes.

    Embora h a existncia de

    delegacias especializadas ao atendimento mulher e de proteo criana e ado

    adolescente, existem resolues

    presentes em portarias expedidas pelas

    secretrias de segurana pblica na

    maioria das unidades federativas que a

    violncia perpetrada contra a mulher, ou a

    criana e o adolescente poder serdenunciada em qualquer delegacia de

    polcia mais prxima da residncia da

    vtima. Nos casos em que a vtima de

    violncia domstica seja a mulher, a

    5ACADEPOL.

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    O Servio social em equipe interdisciplinar no mbito policial: nfase no atendimento s vtimas deviolncia domstica

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    mesma bicada6 para a delegacia

    especializada, que na maioria das vezesfica mais distante de sua residncia, sem

    contar com a dificuldade do transporte

    coletivo, que uma das carncias em

    algumas regies metropolitanas.7Quando

    esta queixa chega at triagem, onde se

    alocam os profissionais no policiais (em

    sua maioria assistentes sociais), as

    mulheres abusadas manifestam no seu

    discurso uma srie de conflitos familiares

    que traduzem um ambiente de alto risco

    para a mesma e a para sua prole. Muitas

    vezes so encaminhadas para os policiais

    responsveis que, no tendo formao

    especfica, desqualificam o seu discurso,

    encaminhando a mesma ou para umadelegacia expecializada8ou de volta para

    a sua residncia. Tal ocorrncia resultava

    na no formatao do Registro de

    Ocorrncia (RO), que iniciaria em uma

    Verificao Investigativa Preliminar (VIP),

    que no final resultar-se-ia em um inqurito

    de fato. Subseqentemente, isto acarreta6 A usuria mulher vtima de violncia domstica tem o seudiscurso ou queixa negada pelo policial, que sugere que a mesma sedesloque (com seus prprios recursos) para a delegacia especializada

    mais prxima.7 Durante o perodo da pesquisa dentro do Programa DelegaciaLegal, observou-se que o to famoso bico- jargo utilizado pelos

    profissionais policiais possui como vtimas preferenciais asmulheres vtimas de violncia domstica. Muitas at desistiram defazer a denncia depois de passaram por esse descrdito.

    8 Geralmente DEAMs Delegacia Especializada ao Atendimento Mulher.

    at hoje na existncia do subregistro,

    que compromete a base para aformulao de novas polticas de aes

    na rea de Segurana Pblica no s no

    Estado do Rio de Janeiro, mas nas

    demais unidades federativas, ou seja, no

    demonstram a realidade de fato,

    acarretando na ineficcia destas aes de

    enfrentamento e combate violncia

    domstica.

    A violncia contra a mulher a

    expresso clara e cruel de discriminao

    que vem sofrendo ao longo dos tempos.

    Discriminao essa que se traduz em tudo

    aquilo que visto pela sociedade como

    menor. o fenmeno da Sndrome do

    Pequeno Poder, que atua sobre aspessoas que no se enquadram no

    modelo de poder: a mulher, o negro, a

    criana e o pobre. E, ao contrrio, o

    detentor do poder branco, macho, rico e

    adulto. Assim, a menina pobre e negra

    considerada como a criatura menor da

    sociedade, e assim, a de todas a maisdiscriminada.

    A violncia contra a mulher, neste

    sentido, muito ampla, e vai alm das

    paredes de sua casa. Ela comea a ser

    discriminada como cidad por prticas

    institucionais presentes em nossa

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    GARCIA, M. H.

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    sociedade. Ao longo do tempo isso vem

    sendo disseminado, passando de serconsiderado comum, para se perceber

    como problema social. No Brasil, no final

    dos anos 70, a partir de movimentos

    feministas contra assassinatos cometidos

    contra a mulher em nome da defesa da

    honra, vieram tona questes como a

    opresso da mulher na sociedade

    brasileira, em vrios aspectos, alm da

    violncia conjugal, como a discriminao

    no trabalho e o desrespeito ao corpo da

    mulher.

    A violncia conjugal um hbito no

    cotidiano do casal, que garante ao

    homem, a cada passo, a cada atitude, um

    pouco mais de poder sobre a sua mulher.E tal fato legitimado mesmo que

    nebulosamente pelo corpo que constitui

    a instituio policial quando se

    desqualifica a queixa da mulher vtima de

    violncia dentro do espao policial. H a

    necessidade de se mudar a banalizao

    de tal violncia do cotidiano dos lares.Alm disso, h alguns fatores

    importantes que so relevantes como a

    finalidade e a disponibilidade dos

    assistentes sociais dentro do espao

    conflituoso da delegacia de polcia: (a)

    como profissionais do acolhimento no

    espao policial, sendo os primeiros a

    atenderem tais vtimas, buscando a nocontinuidade do processo de re-

    vitimizao, subsidiando no resgate de

    seus direitos mais fundamentais, para

    depois procurar a subsequente

    resoluo da parte criminolgica de fato,

    cujo a responsabilidade so dos

    profissionais policiais, terminando com os

    posteriores encaminhamentos para a rede

    scio-assistencial existente; (b) Dentro do

    fluxograma do atendimento tais vtimas,

    em comparao com os outros Estados

    da federao analisados neste breve

    estudo Minas Gerais e Bahia os

    profissionais no policiais ficam no final

    do processo, ou seja, no fazem o papelno acolhimento, deixando tal funo

    cargo de um profissional de nvel mdio;

    logo aps feito o registro de ocorrncia,

    as vtimas so encaminhadas para tais

    profissionais com a finalidade

    essencialmente teraputica

    (SECRETRIA..., 2011). Fato este querefora uma viso conservadora das

    protoformas da profisso quando se via

    a violncia domstica como algo

    privado, alm de uma disfuno

    presente dentro da famlia, em que o

    elemento que apresentasse a situao

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    social-problema fosse no s

    responsabilizado pela caracterizao danatureza do problema, mas que o mesmo

    fosse o responsvel pela sua soluo;

    cabendo ao Servio Social da orientao

    para que o indivduo, metamorfoseado de

    cliente chegasse a ser funcional e

    ajustado socialmente (CALVACANTE,

    1977).

    2 O SERVIO SOCIAL E

    INTERDISCIPLINARIDADE NO MBITO

    POLICIAL.

    A interdisciplinaridade tem sido

    considerada como componente-chave na

    constituio de muitos campos queenvolvem profissionais de diferentes

    reas frente a temas e problemticas

    pluridimensionais. A crtica

    fragmentao das cincias

    contemporneas, da pulverizao e

    verticalizao dos saberes especializados

    e de suas implicaes, vem sendoconstruda por vrias perspectivas.

    Sendo a Delegacia de Polcia um

    campo de atuao onde o Direito positivo

    est muito impregnado desde a primeira

    formao do aparato pblico de vigilncia

    e de segurana vale lembrar Foucault

    (2003, p.68) quando o mesmo expe

    sobre a concepo do inqurito, quetornam as especialidades subalternas e

    auxiliares diante do conhecimento e

    interpretaes das leis, sob o poder

    magno do Direito. Algumas publicaes

    como Saraleque (1977, p.14) que tratam

    da segurana pblica dizem que tal

    campo de atuao e interveno no

    caso da Delegacia de Polcia um dos

    aparelhos executores, repressores e

    ideolgicos do Estado, e que faz parte da

    estrutura do mesmo (vertentes

    contemporneas mais mecanicistas do

    marxismo dentro do campo do Direito).9

    O campo policial percebe-se uma

    espcie de imperialismo epistemolgico,pois historicamente tal espao scio-

    ocupacional fez parte de um dos projetos

    institucionais no democrticos, que

    interpelam as identidades sociais

    compactas e no pluralistas. visto o

    conflito entre os que denotam o poder no

    pice desta hierarquia os Delegados dePolcia e os demais policiais subalternos

    e colaboradores. Nota-se que com a

    renovao dos quadros dentro da Polcia

    Civil, tal conflito tem diminudo, mas ainda

    9 Podemos dizer da herana dada por Althusser entre sdcadas de 60 a 70, e que influenciou e muito s cinciassociais no Brasil na autocracia burguesa que imperou de 1964a 1985.

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    muito presente.10 Esta renovao

    materializada por insero de policiaisque possuem formaes e experincias

    anteriores de trabalhos em equipes de

    diversas naturezas, principalmente nas

    reas de sade e educao.

    Mediante a presena marcante do

    conservadorismo e do imperialismo

    epistemolgico descritos acima, h um

    mosaico de prticas e de formatao de

    equipes presentes e inseridas nas

    delegacias de polcia. Antes de

    visualizarmos as equipes e suas prticas

    dentro do mbito policial, fez-se uma

    reviso na literatura especializada sobre

    os nveis de cooperao e coordenao

    possveis em diferentes espaos scio-ocupacionais. Em seguida, algumas

    dessas relaes observadas no campo

    emprico (as delegacias de polcia) sero

    comparadas com outros dados coletados

    em entrevistas e grupos focais, cujos

    sujeitos da pesquisa profissionais

    policiais e no policiais

    11

    inseridos emcontextos de delegacias de polcia nos

    estados do Rio de Janeiro, Bahia e Minas

    Gerais.

    10Isto visto na PCERJ Polcia Civil do Estado do Rio de Janeiro;

    tal fenmeno nas demais como nos estados de So Paulo, MinasGerais, Paran e Bahia.11 No caso deste estudo e por causa da centralidade do tema osprofissionais no-policiais entrevistados so assistentes sociais.

    Na literatura especializada

    (JAPIASSU, 1976; S, 1995; SEIBLITZ,1995; VASCONCELOS, 2001) no que

    acerca sobre os nveis de coordenao e

    cooperao h algumas definies gerais,

    em que se tm: (a) As prticas

    multidisciplinares podem ser

    caracterizadas por uma gama de campos

    do saber que propem-se

    simultaneamente, mas sem fazer

    aparecer as relaes existentes entre

    eles. Pode-se dizer que h apenas um s

    nvel, mltiplos objetivos e nenhuma

    cooperao (SEIBLITZ, 1995, p.36);

    Fonte: Seiblitz (1995)

    (b) As prticas pluridisciplinares podem

    ser caracterizadas por uma justaposio

    de diversos campos do saber situados

    geralmente em um mesmo nvel

    hierrquico e agrupados em um modo em

    que existam relaes entre elas. um

    sistema de um s nvel e de mltiplos

    objetivos. H cooperao, porm

    nenhuma coordenao (SEIBLITZ, 1995,

    p. 37);

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    Fonte: Seiblitz (1995)

    (c) As prticas pluri-auxiliares que podem

    ter sua configurao descrita como a

    utilizao de contribuies de um ou mais

    campos de saber para o domnio de um

    deles j existente, que se posiciona como

    campo receptor e coordenador dos

    demais. Neste caso h uma tendncia ao

    imperialismo epistemolgico. Descrito a

    grosso modo como um sistema de dois

    nveis cuja a coordenao e objetivos so

    hegemonizados pelo campo de saber

    encampador (VASCONCELOS, 2001, p.

    60);

    Fonte: Elaborao do prprio autor inspiradosegundo a concepo descrita por Vasconcelos(2001).

    (d) As prticas interdisciplinares podem

    ser descritas como interaes

    participativas que inclui a construo e

    pactao de uma axiomtica comum a um

    grupo de campos de saber conexos,

    definida no nvel hierarquicamente

    superior, introduzindo a noo definalidade maior que redefine os

    elementos internos dos campos originais.

    Pode-se dizer que tais prticas podem ser

    configuradas em um sistema de dois

    nveis e objetivos mltiplos, onde a

    coordenao procede-se de um nvel

    superior, mas a tendncia de

    horizontalizao das relaes de poder

    (SEIBLITZ, 1995, p. 38);

    Fonte: Seiblitz (1995)

    (e) Os campos transdisciplinares podem

    ser descritos como campos de interao

    de mdio e longo prazo que pactuam uma

    coordenao de todos os campos de

    saberes individuais e interdisciplinares de

    um campo mais amplo, sobre a base de

    uma axiomtica geral compartilhada. H a

    tendncia a uma estabilizao e criao

    de um campo de saber com autonomia

    terico-operativa prpria. So descritos

    como sistemas de nveis e mltiplos

    objetivos, coordenados com vistas a uma

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    finalidade comum dos sistemas com

    tendncias horizontalizao dasrelaes de poder (SEIBLITZ, 1995, p.

    38). Este axioma materializado quando

    h uma interao de vrias equipes

    interdisciplinares de vrias instituies

    que constituem uma rede

    socioassistencial de um territrio,

    configurando com isso a

    intersetorializao e a integrao das

    polticas pblicas existentes (GARCIA,

    2010).

    Fonte: Seiblitz (1995)

    Tal olhar-fazer interdisciplinar

    (S, 1995; GARCIA, 2010) vem da

    tentativa de um grupo de profissionais

    comprometidos em solucionar, dinamizar

    e compartilhar conhecimentos dos mais

    diversos campos do saber, com a

    finalidade de alcanar um objetivo em

    comum. No caso em questo, o objetivo

    no mbito policial, a configurao final

    do inqurito ou flagrante fechado, ou

    seja, o processo do atendimento conter

    dados da trade: vtima(s), acusado(s,as)

    e evidncias materiais12

    .As evidncias materiais so

    aquelas que do a concretude e o carter

    positivo do Direito Criminal, ou seja, a

    configurao do objeto penal. Se tais

    evidncias fecham o inqurito policial, isto

    pode determinar se preciso ou no de

    outras verificaes investigativas

    preliminares13, e que resulta no auto de

    priso em flagrante14 e seu subseqente

    encaminhamento ao Ministrio Pblico e

    Vara Criminal correspondente.

    Analisando a bibliografia que

    acerca sobre o tema

    interdisciplinaridade descrita por

    Vasconcelos (2001, p. 66), S (1995, p.45) e Seiblitz (1995, p.32), observam-se

    que as prticas mais correntes dentro de

    uma DP so as prticas pluri-auxiliares.

    Tais prticas so as configuraes

    construdas dentro de um espao scio-

    ocupacional onde a investigao

    12As evidncias materiais so aquelas que do a concretude eo carter positivo do Direito Criminal, ou seja, a configuraodo objeto penal. Se tais evidncias fecham o inqurito policial,isto pode determinar se preciso ou no de outras verificaesinvestigativas preliminares, e que resulta no auto de priso emflagrante12 e seu subseqente encaminhamento ao MinistrioPblico e Vara Criminal correspondente.13 Tais procedimentos sem as evidncias materiais sodenominados como VIP Verificao Investigativa Preliminar,neste caso o inqurito no est fechado ou concludo, para seuposterior encaminhamento para o MP e para a autoridade

    judiciria do foro competente.14No auto de priso em flagrante, o acusado fica na sala decustdia na Delegacia Legal correspondente a circunscrio dodelito penal em poucas horas at a sua conduo Casa deCustdia intermediria ou Unidade Penitenciria.

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    inquisidora, a vigilncia e o poder esto

    muito bem articulados, e que setransformam de acordo com as

    conjunturas apresentadas no cotidiano.

    As prticas multi e interdisciplinares

    surgiram neste contexto, quando o

    sistema de segurana pblica foi

    colocado em xeque pela sociedade que

    passou a exigir resultados rpidos e

    objetivos. Nessa conjuntura o sistema

    abre as portas para novas metodologias

    de organizao do trabalho.15

    Tais prticas pluri-auxiliares so as

    mais corriqueiras, pois toda a confeco e

    configurao do inqurito policial esto

    centradas na figura do Delegado que

    detm a palavra final do dueto saber-poder do qual mandatrio no qual o

    mesmo delega as atribuies e poderes

    aos seus subalternos hierrquicos. O

    imperialismo epistemolgico j dito

    anteriormente to somente a

    subordinao de outros campos do saber

    diante de um campo hegemnico que seapropria de suas contribuies. Neste

    caso, o Delegado se apropria dos outros

    saberes de seus subalternos inclusive

    15 Com o descrdito do sistema de segurana pblica noEstado do RJ, com altas taxas de criminalidade e de poucaresolutividade dos crimes, o Programa Delegacia Legal foi umadas respostas para reverter tal quadro que est ainda muitolonge de ser solucionado.

    dos supervisores de atendimento social16

    - para fechar o inqurito policial em umpacote j pr-fabricado e pr-

    determinado, encaminhado para os

    canais superiores da justia.17 A relao

    de poder existe nesta prtica, e no

    existir uma co-responsabilidade, e sim

    toda a supremacia e total

    responsabilidade do saber encampador,

    ou seja, do Delegado, sem compartilhar

    com demais saberes abaixo do campo

    hegemnico j institudo.

    3 UM MOSAICO DE PRTICAS E O

    CONSERVADORISMO IMPERIALISTA

    PRESENTE.

    Como j foi descrito anteriormente

    as experincias do olhar-fazer

    interdisciplinar de uma determinada

    equipe de planto em uma delegacia de

    polcia, provocou alguns questionamentos

    na direo de saber qual o entendimento

    das outras equipes sobre a16H delegados os que recorrem a tal prtica pluri-auxiliar que desconhecem a atuao dos Supervisores de AtendimentoSocial. Para os mesmos tal profissional s tem a sua atuaono atendimento ao pblico apenas. E muitos (nogeneralizando) depreciam o trabalho deste profissional nopolicial.17 Segundo o MP, o inqurito em pacote aquele que nocontm ligao dos fatos com o delito propriamente dito,fazendo com que o mesmo seja questionado e que a lavraturaseja refeita na DP de origem. Passando desapercebido peloMP e pelo Poder Judicirio, pode ser questionada pela defesado(a) acusado(a) em questo prtica que ocorre bastante.

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    GARCIA, M. H.

    C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011 195

    interdisciplinaridade neste campo uma

    vez que tudo deve ser pensado e feito demodo a no haver erros. A meticulosidade

    e a preciso dos dados colhidos so

    fatores essenciais para se chegar ao

    sucesso de uma investigao, o objetivo

    comum que todos esperam: o inqurito

    fechado, com as vtimas socorridas e com

    a imputao penal ou no dos possveis

    culpados. Ser que estavam tendo o

    olhar e o fazer, considerando a

    interdisciplinaridade.

    Para alcanar tal intento seguimos

    alguns procedimentos metodolgicos

    utilizados: observao no participante;

    observao participante; grupo focal; e

    entrevistas semi-estruturadas.Parafraseando Silva e Milito (1995), em

    primeira mo, fez-se uma observao

    no-participante. Ir ao campo de atuao

    na DP, despojar-se do olhar viciado nas

    mesmas direes e do olhar no vazio;

    despojar-se da pretenso de j saber

    tudo, j conhecer tudo ou da ansiedadeem objetivar aes sem procurar antes

    entender melhor a realidade. Foi um

    primeiro mapeamento exploratrio do

    trabalho de campo. Apreender os conflitos

    visveis e a correlao de foras no

    espao de trabalho. estar presente em

    cada passo, saber descobrir os cdigos

    que o campo nos apresenta, a semiticado espao. Ter

    (...) pescoo de coruja, olhar aoredor, para todas as direes. Nodeixar que o acaso nos peguetotalmente de surpresa. Estranharo que nos familiar e familiarizar-se com o estranho sem nosconfundirmos com ele (SILVA;MILITO, 1995, p. 35).

    A observao participante deu-se

    com abordagens e contatos mais

    prximos. a etapa em que

    normalmente se abordado antes de

    abordar. quando se responde s

    perguntas dos sujeitos sobre o que se

    vai querer saber o que se faz ali

    naquele que o seu territrio. Quer

    saber o que significa esse olhar que se

    lana sobre ele(s). o primeiro

    momento da fala e da escuta, do

    dilogo por excelncia. Da

    dialogicidade dos sons e no apenas

    dos olhares e dos corpos movendo-se

    no espao comum. Geralmente tais

    encontros foram no espao do trabalho

    na DP ou no espao fora do mbito

    policial como bares, restaurantes ou

    palestras e curso na Academia de

    Polcia.

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    O Servio social em equipe interdisciplinar no mbito policial: nfase no atendimento s vtimas deviolncia domstica

    196 C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011

    A abordagem segundo Monteiro

    (1999) significa tocar, chegar em, intervirem uma situao determinada, com

    objetivos claros e definidos

    aprioristicamente. As abordagens, em

    geral, foram planejadas e discutidas. Vai-

    se para o campo com o intuito de intervir

    em determinada situao, com

    determinado grupo e local de trabalho. A

    abordagem pode ser realizada com

    atividades, com encaminhamentos para a

    entrada na DP, ou pode ser um dilogo

    para conhecer mais profundamente

    aquela realidade e vir melhor preparado

    da prxima vez.

    Depois da percepo do espao do

    campo dentro da DP, e de vriasexperincias de prticas inter no trato da

    violncia domstica, para prosseguir com

    o estudo pretendido fez-se grupos focais

    com equipes de planto constitudas de

    profissionais policiais e no policiais e

    as entrevistas semi-estruturadas com os

    profissionais no policiais (assistentessociais e estagirios de Servio Social)

    inseridos em delegacias especializadas

    nos Estados de Minas Gerais e Bahia. O

    grupo focal, segundo Rizzini, Castro e

    Sartor (1999) utilizado tanto na pesquisa

    qualitativa, quanto na quantitativa, para

    elucidar questes do pesquisador, antes

    da escolha, formulao e aplicao deoutras tcnicas de coleta de dados. A

    organizao de um grupo de trabalho

    focal til para que se levante os

    interesses junto aos sujeitos, acerca de

    suas expectativas e necessidades em

    relao ao tema a ser estudado. Os

    grupos focais realizados em 02 (duas)

    delegacias de polcia do estado do Rio de

    Janeiro18, enquanto as entrevistas foram

    feitas em 02 (duas) delegacias no estado

    da Bahia19 e uma no estado de Minas

    Gerais20.

    Na elaborao dos grupos focais,

    foram feitas quatro reunies nos

    horrios de planto na DP com o gruposconstitudos por 8 pessoas (sendo 7

    policiais civis e o profissional no policial,

    autor deste trabalho21) em cada delegacia

    de polcia. Quatro questes foram

    propostas no grupo focal composto e nas

    entrevistas semi-estruturadas. So elas:

    (1)O QUE VOC SABE SOBRE

    18 Das duas delegacias de polcia, apenas uma eraespecializada: DEAM (Delegacia Especializada ao atendimento Mulher) dados coletados em trs grupos focais eentrevistas individuais entre 2004 e 2005.19 As duas delegacias so especializadas ao atendimento mulher (DEAM), situadas na cidade de Salvador-BA (dadoscoletados em entrevistas entre 2008 e 2010)20 Delegacia especializada no atendimento mulher (DEAMJuiz de Fora/MG); dados coletados em entrevistas em 2005)21No caso deste estudo e de sua centralidade um assistentesocial.

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    C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011 197

    INTERDISCIPLINARIDADE?; (2) VOC

    J TEVE EXPERINCIAS OUTRABALHOS E/OU INVESTIGAES

    COM OUTROS PROFISSIONAIS DE

    OUTROS SABERES E

    CONTEDOS?COMENTE; (3)O QUE

    VOC SABE SOBRE VIOLNCIA

    DOMSTICA?VOC J ATENDEU

    MUITOS CASOS/OCORRNCIAS?

    VOC J TRABALHOU COM OUTROS

    PROFISSIONAIS POLICIAIS OU NO?;

    (4)QUAL A IMPORTNCIA QUE VOC

    ACHA OU NO DE TRABALHAR COM

    OUTROS PROFISSIONAIS (SENDO

    ELES POLICIAIS OU NO) NA

    ELUCIDAO DE CASOS E

    OCORRNCIAS DE VIOLNCIADOMSTICA?

    No grupo focal, a qualidade das

    respostas e dos debates foi acima das

    expectativas, principalmente entre os

    profissionais policiais, pelo menos dos

    mais novos ingressantes dos quadros da

    Polcia Civil do Rio de Janeiro. Nasentrevistas entre os profissionais no

    policiais (das trs unidades federativas:

    RJ, MG e BA), o que chamou ateno foi

    o desconhecimento das estagirias sobre

    o tema central proposto, enquanto as

    profissionais j graduadas sendo duas

    delas atuantes nas DEAMs - j ouviram

    sobre o tema proposto e possuem certaexperincia de prticas interdisciplinares.

    Na 1 pergunta no grupo focal

    onde foi questionado se os mesmos j

    ouviram sobre o tema central, objeto

    deste estudo, as respostas chegaram a

    uma axiomtica em comum, como por

    exemplo, consenso entre disciplinas,

    espao onde profissionais de diversas

    reas se interagem, ou unio de

    conhecimentos em torno de um objetivo

    em comum. Os policiais civis mais novos

    do corpo da Polcia Civil esto muito mais

    familiarizados com o tema que os mais

    antigos. Alguns policiais inseridos neste

    estudo (entre 4 a 5 integrantes queparticiparam no grupo focal) so

    graduados em cursos de ensino superior

    ou na rea de humanas ou na de sade, e

    j tiveram experincias de prticas inter

    em outros espaos scio-ocupacionais

    antes de ingressarem Polcia Civil.

    Porm, houve certas confuses entreprticas multi e inter, alm de todos

    colocarem que a prtica pluri-auxiliar

    como a mais usada nos procedimentos

    que antecedem o fechamento do

    inqurito.

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    O Servio social em equipe interdisciplinar no mbito policial: nfase no atendimento s vtimas deviolncia domstica

    198 C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011

    Na 2 pergunta foi questionado

    sobre a oportunidade de terem tido outrasexperincias de trabalhos

    multiprofissionais em investigaes

    policiais que no precisava ser somente

    no trato de violncia domstica. Entre os

    mais novos no corpo da Polcia Civil foi

    colocado que o campo do Direito no

    responde s questes mais delicadas

    como o da violncia intrafamiliar, e que

    precisa da complementaridade de outros

    campos do saber. A maioria teve

    experincias anteriores em estgios

    probatrios nas DEAMs integradas ao

    programa. Entre os mais antigos (com

    mais de 15 anos na polcia), somente h o

    reconhecimento de outros policiaisdenominados peritos como o mdico

    legista e o perito criminal22 propriamente

    dito. Porm, todos foram unnimes em

    dizer que a incluso do Balco de

    Atendimento juntamente com o seu

    corpo de profissionais no policiais

    (assistentes sociais em sua maioria) foio ponto de inflexo na mudana, no s

    da estrutura dentro de uma delegacia de

    polcia, como tambm na metodologia e

    22 Para ser perito criminal preciso ter o ensinosuperior. A maioria deles so farmacuticos, contadoresou engenheiros.

    configurao dos servios prestados no

    mbito da segurana pblica.No 3 questionamento ainda no

    grupo focal houve vrios debates sobre

    o tema violncia domstica, mas

    tambm de experincias anteriores com o

    tema e, se j haviam trabalhado com

    profissionais no policiais. Neste

    momento, todos sem exceo, ou seja,

    os sete policiais civis colocaram a

    necessidade de ter um profissional no

    policial que possua conhecimento

    aprofundado e especializado sobre o

    tema, no para ajudar na resoluo

    apenas, mas para somar e complementar

    com outros campos do saber necessrios

    para a boa elucidao destes casos. Apresena de profissionais policiais

    formados em reas diferentes ao do

    Direito, tambm importante na

    constituio das equipes, segundo todos

    os policiais presentes neste grupo de

    discusso. Porm, no trabalho com o

    tema violncia domstica, muitosconcordaram que h diferena no

    tratamento dependendo da vtima. Cinco

    dos policiais participantes do grupo focal

    responderam que tendem a depreciar o

    discurso da vtima quando mulher

    principalmente quando envolve as

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    C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011 199

    chamadas fubazadas ou feijoadas

    em que h apenas violncia fsica depequenas propores ou de natureza

    psicolgica. O tratamento e o discurso da

    vtima mulher possui valor medida que a

    violncia perpetrada do agressor aumenta

    a sua magnitude, e principalmente

    quando respinga na prole. Quando o

    abuso sofrido por crianas ou

    adolescentes, quanto menor a faixa

    etria, maior o despreparo e a

    incapacidade de lidar com o tema,

    principalmente quando a violncia detm

    alto nvel de crueldade e quando tanto o

    possvel autor(a) e a vtima so do mesmo

    sexo. Na fala de um dos policiais mais

    veteranos da Polcia Civil foi colocadauma preocupao que comum entre os

    membros da equipe: necessrio

    reciclarmos, mas a academia est

    fazendo isto de forma errada,

    privilegiando apenas a rea criminolgica.

    Nos sentimos em desafagem perante

    outros profissionais que tiveramoportunidades e experincias com outras

    reas do conhecimento(...). Temos que

    correr por fora, para no ficarmos

    atrs.(...) Estamos fazendo isto agora,

    neste grupo.

    A mudana na cultura destes

    profissionais tambm foi um fatorlevantado. Muitos, devido a conversas,

    reciclagens, debates e vivncia

    profissional na elucidao de casos de

    violncia intrafamiliar, mudaram o olhar

    quanto a concepo do tema e modo de

    trat-lo, porm admitem que a cultura

    arcaica que perpassa no meio policial

    ainda bastante forte para ser mudada

    de uma hora para outra leva tempo e

    pacincia.

    Na 4 pergunta foi questionada a

    importncia de se trabalhar juntamente

    com outros profissionais policiais ou no

    oriundos de vrios campos do saber.

    Alm de terem colocado a supremaciaimperialista do Direito sobre outras reas

    do conhecimento, todos da equipe

    colocaram que a renovao nos quadros

    da Polcia Civil no s profissionalizou o

    policial civil, como quebrou o paradigma

    do modus operandi de fazer uma

    conduo investigatria contando apenascom o direito penal. Tambm foi colocado

    que a presena do profissional no

    policial, alm de ter modificado no s o

    espao, a correlao de foras23 dentro

    de uma DP; ajudou a humanizar a relao

    23Tornar o meio policialesco menos autoritrio.

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    O Servio social em equipe interdisciplinar no mbito policial: nfase no atendimento s vtimas deviolncia domstica

    200 C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011

    cliente/usurio policial. Eles colocaram a

    importncia dos profissionais do Balcode serem considerados uma ponte um

    elo de aproximao entre os usurios

    dos servios de uma DP e o policial. A

    fala de um dos policiais significativa:

    Antes um no suportava a presena do

    outro. A infra-estrutura tambm no

    ajudava. A entrada do pessoal do Balco

    e a mudana espacial feita pelo Grupo

    Executivo dentro das DPs no s

    humanizou como tambm nos aproximou

    do cidado, que vem em busca de auxlio

    e direitos. E alm disso, isto ajudou a

    melhorar a nossa imagem, j to

    manchada, com a populao.

    Nas entrevistas com osprofissionais no policiais (assistentes

    sociais e estagirios). Na 1 pergunta

    sobre o tema interdisciplinaridade, a

    perspectiva de um trabalho

    multiprofissional foi bastante evidenciada.

    Os estagirios como j mencionado

    anteriormente desconheciam o temaproposto neste questionamento, e as

    graduadas reforam dizendo que s

    comearam a discutir sobre a prtica

    interdisciplinar em cursos de extenso e

    especializaes. A graduao, muitas das

    vezes, no aderiu as discusses sobre a

    interdisciplinaridade, e isto comum nos

    cursos na rea de humanas, inclusive noServio Social. As graduadas

    assistentes sociais que atuam nas

    DEAMs demonstraram domnio sobre o

    tema, alm da militncia colocada no

    combate violncia contra a mulher, isto

    exposto na fala de uma delas: Bastante

    necessrio para o trabalho social em

    geral. A troca e complementaridade de

    conhecimentos e saberes fundamental

    para o melhor desenvolvimento do

    trabalho que est sendo desenvolvido.

    Porm, mesmo com a nossa militncia

    contra tal violncia contra a populao

    alvo que esta DP atende, h o assdio

    moral presente nas DPs, inclusive nasDEAMs. Aos poucos e a cada dia

    vencemos uma batalha contra isto, que

    a violncia de gnero dentro do campo do

    trabalho. A profissional, neste caso, deve

    est preparada para isso e buscar, no s

    a superao de tal prtica, como a sua

    identidade.Tambm informaram que a

    centralidade da violncia domstica nas

    DEAMs exige, e muito, a prtica

    interdisciplinar nos procedimentos de

    atendimento dentro da DP, mas as

    experincias ainda so pontuais.

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    GARCIA, M. H.

    C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011 201

    No 2 questionamento colocaram

    experincias de trabalhosmultiprofissionais na elucidao de casos

    na DP sem que houvesse propriamente

    casos de violncia domstica. A que atua

    em uma DP no especializada colocou

    que nunca teve tal experincia nem em

    casos de violncia intrafamiliar. As trs

    que atuam nas DEAMs disseram que nem

    sempre essa "troca" ocorre da maneira

    mais enriquecedora, pois os conflitos so

    constantes. Por mais que estejam lidando

    com profissionais que tem algum preparo

    para esse atendimento especfico, alm

    da experincia profissional com este perfil

    de vtima, muitas vezes, as situaes so

    consideradas como de pouco ou menorimportncia ou se culpabiliza a vtima por

    estar e manter a relao conflituosa, no

    levando em considerao os diversos

    fatores pr-existentes, como por exemplo

    a dependncia, a falta de auto-estima e

    de auto-confiana, que fazem com que a

    vtima tenha essa postura. Com isso, nopode considerar o trabalho investigativo,

    pois para que seja realizado um registro

    de ocorrncia (RO) em uma DEAM,

    solicitado da vtima todos os dados

    necessrios para que seja dado

    prosseguimento ao processo. E muitas

    vezes a vtima bicada, ou

    desestimulada a buscar aresponsabilizao pela agresso

    cometida, pelos prprios profissionais

    policiais, que depreciam o seu discurso.

    Embora, o autor deste trabalho tivesse

    mais de uma experincia em entrevistas

    de revelao de abusos inclusive de

    natureza sexual mesmo as profissionais

    que atuam nas DEAMs colocaram que

    nunca tiveram tal oportunidade.

    Na 3 pergunta que questiona

    sobre conhecimentos na rea de violncia

    domstica e sobre experincias no trato

    do tema tanto as estagirias como as

    profissionais no-policiais colocaram que

    o conhecimento sobre o tema no abrangente e que necessitam de

    reciclagens e aperfeioamento para se

    sentirem mais seguras na sua

    interveno. E, alm disso, elas s no

    atuaram no programa de fato no trato da

    violncia intrafamiliar por causa da recusa

    de muitos policiais civis desqualificarem asua atuao j dito anteriormente

    ficando apenas nos encaminhamentos

    para a rede de referncia, sem um

    acompanhamento em conjunto dos

    inquritos. Algumas colocaram que se

    sentem como recepcionistas de luxo, e

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    O Servio social em equipe interdisciplinar no mbito policial: nfase no atendimento s vtimas deviolncia domstica

    202 C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011

    colocam que o gnero fator

    determinante para a boa ou m entradano meio policial. O autor foi muitas vezes

    questionado sobre a sua atuao na DP

    onde estava lotado, e para a surpresa das

    assistentes sociais, como das estagirias,

    vem a Polcia Civil, como o meio a sua

    volta, como um clube do Bolinha, aluso

    aos personagens de uma histria em

    quadrinhos, onde um grupo de meninos

    no deixavam as meninas freqentarem o

    seu espao. O autor deste estudo

    informou que embora tivesse as suas

    dificuldades no seu ingresso nas equipes

    de planto, outros fatores, como a

    capacitao, ajudaram-no e propiciaram

    um trabalho feito de maneirainterdisciplinar. Quando foi questionado

    se a equipe de assistentes sociais e

    estagirios fosse do sexo feminino; as

    mesmas foram unnimes em dizer que

    apesar de toda sensibilidade feminina no

    trato de certos assuntos mais delicados, o

    profissional do sexo masculino detentordos mesmos atributos da profissional,

    alm de ser capacitado perante o tema

    possui a preferncia por ser mais seguro

    e meticuloso (segundo os profissionais

    policiais, caractersticas masculinas

    imprescindveis) para complementar na

    elucidao de tais casos.J na 4 e ltima pergunta que

    questiona a importncia ou no de

    trabalhos e experincias multiprofissionais

    nos casos de violncia domstica todas

    sem exceo colocaram que apesar das

    dificuldades impostas pelos policiais civis

    h tentativas de implementar uma prtica

    interdisciplinar aos poucos, mas o

    trabalho multidisciplinar foi, ainda a nica

    perspectiva alcanada por enquanto.

    Colocaram tambm a importncia do

    atendimento e do acolhimento (e sua

    subseqente triagem) como responsvel

    pela humanizao na comunicao com o

    cliente/usurio, e tambm na facilidade doacesso a servios pblicos existentes na

    rede de referncia. Porm, uma fala de

    uma das assistentes sociais do estado

    da Bahia, que atua em uma da DEAM e

    confirmada pelas outras profissionais

    no-policiais, importante destacar: No

    posso dizer que todas as parceriasrealizadas tenham sido experincias

    positivas, mas se levar em considerao

    que toda experincia traz um

    enriquecimento profissional e

    conseqente amadurecimento, foi

    possvel vislumbrar diversas modalidade

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    GARCIA, M. H.

    C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011 203

    de bons e maus atendimentos.

    Expressando-me melhor, no nosso caso,bons ou maus encaminhamentos, o que

    podemos fazer por enquanto.

    Mediante tais relatos e respostas

    s entrevistas e aos grupos focais, v-se

    que h o conservadorismo de abordagem

    estrutural-funcionalista que potencializa o

    imperialismo epistemolgico do Direito

    positivo, bem como a estrutura repressora

    e inquisidora da Polcia Civil (e em

    estrutura maior - as polticas de

    segurana pblica) esto presentes na

    formatao do processo de trabalho das

    equipes de planto inseridas nas

    delegacias de polcia pesquisadas. As

    prticas multidisciplinares e pluri-auxiliares so correntes e comumentes

    visualizadas, deixando de lado demais

    profissionais policiais ou no que

    poderiam fazer a ponte interdisciplinar

    necessria para a construo de uma

    rede socioassistencial transdisciplinar,

    que consolide de fato a intersetorialidadedas polticas pblicas (S, 1995;

    CASANOVA, 2006; GARCIA, 2010).

    4 CONCLUSO: O OLHAR FAZER

    INTERDISCIPLINAR - UMA

    REALIDADE PONTUAL E A

    PRODUO MATERIAL E IMATERIAL

    DOS ASSISTENTES SOCIAIS

    Embora a presena do campo

    hegemnico do Direito positivo j descrito,

    h casos pontuais vivenciados dentro de

    uma DP, em que pode-se visualizar o

    olhar interdisciplinar, retirado de

    S(1995), e apropriado nas discusses

    entre o profissional no policial24 e os

    demais policiais de uma determinada

    equipe de planto, constituda pelo

    Delegado de Planto, dois Inspetores de

    Polcia, dois Oficiais de Cartrio e um

    Investigador de Polcia. Nos casos

    crescentes e corriqueiros de violncia

    intrafamiliar na regio chegada DP,foram feitas vrias reunies, que foram

    frutos de conversas ocasionais do

    delegado com o supervisor de

    atendimento social (assistentes sociais

    em sua maioria), depois socializadas com

    os demais profissionais policiais. O

    objetivo em comum era como lidar, ecomo fechar os inquritos de forma mais

    completa possvel e concisa, para que

    no houvesse impunidade, e que a(s)

    vtima(s) fosse(m) bem encaminhada(s)

    aos servios de referncia.

    24 O profissional no policial em questo o autor destetrabalho que ocupava o cargo de Supervisor de AtendimentoSocial dentro do Programa Delegacia Legal.

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    A coordenao do planto tendo a

    centralidade na figura do delegado,definia apenas os procedimentos e no o

    resultado, pois o mesmo deveria ser

    construdo por todos, alm de buscar

    possveis resolues ou ramificaes. A

    horizontalizao das relaes de poder

    era notrio durante tais intervenes, cujo

    objetivo primordial era a identificao de

    um axioma em comum, ou seja, o

    inqurito fechado e sem falhas, com

    desdobramentos que no ficassem

    apenas nas muralhas do Direito Penal. A

    questo da punio legal e a obteno

    inquisidora da verdade tornam-se

    importantes, mas no centrais. A vtima, o

    seu contexto scio-familiar, oconhecimento da legislao especfica e o

    sistema de proteo social tornaram-se

    parte dos saberes construdos por esta

    equipe. A no re-vitimizao destas

    vtimas tambm tornou-se ponto central,

    embora houvesse dificuldades, mas a

    preocupao era eminente. No caso devtimas abaixo dos 12 anos de idade, o

    papel do assistente social era de suma

    importncia na confirmao e na coleta

    dos dados sobre o fato ocorrido.

    Este saber construdo rendeu

    resultados expressivos para esta equipe,

    onde no s o delegado, coordenador

    desta edificao, o responsvel peloinqurito, mas os profissionais policiais e

    o profissional no-policial responsvel

    pelo Atendimento Social25 assinam o

    corpo do documento final que era

    encaminhado (sem retorno) para o

    Ministrio Pblico (MP) e Vara Criminal

    correspondente.

    A experincia interdisciplinar nesta

    DP era mais recorrente nos casos

    extremados de violncia cometida contra

    crianas e adolescentes. Nos casos de

    violncia contra a mulher, em sua maioria,

    no eram resolvidas de forma

    interdisciplinar j descrita, excetuando

    nos casos onde a violncia era extendida prole.

    A produo material dos

    assistentes sociais neste contexto fica na

    redistribuio da mais valia produzida e

    agregada socialmente via salrios

    indiretos conformadas em servios

    pblicos prestados populao tanto naspolticas de segurana pblica,

    intersetorizando-se com as demais

    polticas de sade e da assistncia social

    (S, 1995; IAMAMOTO, 2005; GARCIA,

    2010). Com o conservadorismo

    25Geralmente ocupados por assistentes sociais.

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    GARCIA, M. H.

    C&D-Revista Eletrnica da Fainor, Vitria da Conquista, v.4, n.1, p. 186-208, jan./dez. 2011 205

    imperialista presente, tal materialidade

    entra em colapso e a visibilidadeprofissional do Servio Social dentro do

    mbito policial se torna desqualificada e

    subalterna, potencializada pela

    discriminao de gnero.

    Subsequentemente, a imaterialidade

    comprometida, mesmo com o

    conhecimento da maioria da categoria de

    assistentes sociais do projeto

    eticopoltico-profissional, o produto de seu

    trabalho ideolgico fica cada vez mais a

    favor de uma hegemonia que

    desqualifica o discurso de gnero

    corporificada de uma prtica que ainda

    perdura conservadora e sincrtica

    ideologicamente (Netto, 1998; Garcia,2010). Nos estados da BA e MG, esta

    prtica profissional supracitada mais

    evidente.

    Fecha-se este trabalho aps a

    exposio sobre as experincias relatadas

    no s pelo autor, mas pelos profissionais

    envolvidos nos casos relatados. Tratou-seda atuao dentro do mbito policial, que

    neste estudo um espao em

    microescala do que o Estado e o meio

    societrio concebem sobre o tema

    Violncia Domstica. Mesmo notando-se

    que os profissionais envolvidos possuam

    conhecimentos especficos dessa

    temtica dentro dos campos de saber osquais pertencem, o olhar e o fazer

    interdisciplinar, no seguiu o seu

    percurso integral; no se conseguiu

    construir e resultar um saber novo e

    autntico, pois mesmo com todo o apoio

    do grupo de profissionais policiais e no-

    policiais e dos grupos gestores dos

    servios e programas das polticas de

    segurana pblica (no caso do estado do

    RJ O Programa Delegacia Legal) , a

    organizao e a prtica adotadas ainda

    impedem que os novos caminhos

    cheguem sua concluso. Em casos

    pontuais e focais no h a ponte

    necessria e nem tempo necessrio parase fazer o elo para se chegar a este saber

    novo, embora as experincias, na escala

    micro, resultaram em avanos

    importantes, que no podem ser

    desprezados. O que se pode colocar

    como principal fator que obstrui o caminho

    a presena da velha estrutura arcaicada Polcia Civil ainda presente nos trs

    estados da federao citados (RJ,MG e

    BA), demonstrada que ainda perdura a

    cultura do estado de exceo bem

    presente em nosso pas: at que se

    prove o contrrio, voc culpado!.

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    SOCIAL WORK IN INTERDISCIPLINARY TEAM IN POLICE STATION: FOCUS ONSERVICE FOR DOMESTIC VIOLENCE VICTIMS

    ABSTRACT This study was conducted during a professional experience within apolice station - institution that, in the late 90s, went through manyreforms not only within its the administrative apparatus, but in hisconception of how it views violence and causes. With this changecame the inclusion of non-police professionals, consisting largely ofsocial workers who are not embedded in the first frame of the state

    police, but are part of a project "Programa Delegacia Legal" whichspawned such modifications within the apparatus of public safety inthe State of Rio de Janeiro. Inside the "delegacia legal " (legal policestation) for the constitution of a team of professionals - police or not

    - ready to meet the demands of the population that needs that gobeyond the criminal. This paper presents the forms of inclusion ofsocial workers - practitioners non-policemen, constituting collectivework in teams or not, before the Rio de Janeiro, and currently in thestates of Bahia and Minas Gerais; making comparisons and analysisunder the critical perspective of the occupational spaces-worksaccompanied of challenges and conflicts. The methodology used forcollect data and its later analysis were qualitative with a criticalapproach. Participant observation, field diary, document analysis,interviews and focus group interviews were the procedures used inthis study occurred in 3 (three) steps between the years 2004 to

    2010. Obtained results: it can be said that there is an presentconservatism of accompanied structural-functional approach of animperialistic knowledge dominated by the field of the positive Right.However, there are reports of interdisciplinary experiences, criticaland pluralistic context of police in these areas, consolidating thespecialized attendance to domestic violence victims, uniting the

    parties criminological and assistance services. The interdisciplinaryteamwork within the police to give visibility to the technical and

    professional image of social workers as well formatting a materialand immaterial product - of all team - what could be more effectivedue to the ineffectiveness local social assistance network.

    Keywords: Social Work. Interdisciplinary. Domestic Violence. Public Security.

    Artigo recebido em 10/11/2010 e aceito para publicao em 18/04/2011

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