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ORGANIZADORES Gláucia Moreira Drummond Cássio Soares Martins Angelo Barbosa Monteiro Machado Fabiane Almeida Sebaio Yasmine Antonini Fundação Biodiversitas Belo Horizonte 2005 Biodiversidade em Minas Gerais SEGUNDA EDIÇÃO

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  • ORGANIZADORES

    Glucia Moreira Drummond

    Cssio Soares Martins

    Angelo Barbosa Monteiro Machado

    Fabiane Almeida Sebaio

    Yasmine Antonini

    Fundao Biodiversitas

    Belo Horizonte

    2005

    Biodiversidadeem Minas Gerais

    S E G U N D A E D I O

  • FATORES ABITICOS

    A biodiversidade e a matriz abitica representada pelo relevo, clima, solo e gua possuem uma relao de forte interdependncia sistmica. O meio abitico causa e conseqn-cia da interrelao com o meio bitico. Assim, tais fatores devem ser protegidos, por exercerempapel essencial na conservao da diversidade biolgica.

    O estado de Minas Gerais ocupa uma posio privilegiada no territrio brasileiroquanto diversidade de ambientes biogeogrficos. Localizado em uma rea de transio muitocomplexa do quadro natural, essas transies se fazem em todos os componentes da paisagem,em suas mltiplas combinaes e arranjos (Barbosa, 1978), resultando em regies de alta biodi-versidade e, em especial, de ocorrncia de espcies endmicas ou de distribuio restrita.

    A organizao do relevo no territrio mineiro est intimamente associada s grandesbacias hidrogrficas, com seus divisores, e aos biomas nelas presentes. Segundo Moreira &Camelier (1977) e Barbosa (1978), em Minas Gerais ocorrem quatro grandes domnios mor-foestruturais: (i) as escarpas e macios modelados em rochas do Complexo Cristalino, constitu-dos por geossinclneos do Arqueozico (Pr-Cambriano Inferior e Pr-Cambriano Indiviso), ondese encontram as unidades Serra da Mantiqueira, Planalto Sul de Minas, Planaltos CristalinosRebaixados e Arco da Canastra; (ii) as altas superfcies modeladas em rochas do Proterozico(Pr-Cambriano Mdio e Superior), com as unidades Espinhao/Serra Geral e QuadrilteroFerrfero; (iii) os relevos modelados nas rochas da bacia sedimentar Bambu (Pr-CambrianoSuperior), onde se encontram as unidades Depresso do So Francisco e os Chapades daVertente Ocidental do So Francisco; (iv) os relevos modelados nas rochas sedimentares da baciado Paran, com coberturas Mesozicas sobre intrusivas bsicas e sedimentos Paleozicos, ondeocorre a unidade Superfcies Sedimentares do Tringulo Mineiro.

    De modo geral, as regies montanas encontram-se no domnio dos relevos modela-dos em rochas do Arqueozico e Proterozico, enquanto as vrzeas, veredas e reas crsticas ocor-rem nos relevos sedimentares das bacias do Bambu e Paran. O bioma da Mata Atlntica estassociado aos relevos das rochas do Arqueozico, e o bioma do Cerrado aos relevos em rochassedimentares, enquanto os campos rupestres ocorrem nas cotas mais elevadas da Serra doEspinhao, do Quadriltero Ferrfero, do Arco da Canastra e de algumas reas da Mantiqueira.Os altos relevos das Serras do Espinhao e do Quadriltero Ferrfero separam a bacia hidrogrfi-ca do So Francisco das bacias dos rios que correm para o Atlntico (Pardo, Jequitinhonha,Mucuri, Doce, etc.), e o Arco da Canastra separa as bacias hidrogrficas do So Francisco,Paranaba e Grande. no domnio dos relevos das rochas do Arqueozico que se encontra omaior nmero de reas protegidas.

    Na definio de reas prioritrias para conservao da biodiversidade de MinasGerais, buscou-se identificar, em escala regional, os ambientes geogrficos raros, propcios paraa ocorrncia de espcies endmicas, e aqueles relevantes para a conservao dos ecossistemas

    Canela de ema (Vellozia sp.)

    Fotografia: Robero Murta

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    aquticos. Consideraram-se tambm as regies montanas, as reas crsticas, as reas lacustres e asreas midas, as quais, segundo a Agenda 21, constituem ecossistemas frgeis.

    Quanto s reas montanas, consideram-se prioritrias para conservao aquelas comaltitudes superiores a 1.000 ms, onde ocorrem os campos rupestres, os quais, segundo Menezes& Giulietti (2000), apresentam uma alta incidncia de espcies endmicas, e, segundo Salino(2000), devem ser priorizadas com relao flora pteridfica. De modo geral, os ambientes mon-tanos so ambientes especiais devido a suas dimenses verticais. Eles apresentam gradientesclimticos, quanto temperatura, precipitao e insolao, que propiciam a ocorrncia de ecos-sistemas distintos ao longo das encostas, podendo ser considerados reservatrios de biodiversidadee espcies endmicas. Alm disso, so as principais fontes das guas superficiais. Apresentam,porm, grande fragilidade, j que so vulnerveis aos processos erosivos acelerados, que ocasio-nam a perda de solo, hbitats e espcies.

    No domnio dos relevos nas rochas do Arqueozico, foram consideradas como reasprioritrias a Serra da Mantiqueira e seus vrios prolongamentos a sudeste (Carrancas, Lumin-rias, Brigadeiro, Capara, etc.). No bioma Mata Atlntica, caracterstico dessas reas, ocorrem asflorestas ombrfilas densa e mista, alm das florestas semideciduais. Em algumas reas esto pre-sentes os campos rupestres conhecidos por campos alpinos (Menezes & Giulietti, 2000). As flo-restas de altitude possuem alta diversidade, com grande nmero de espcies restritas.

    Foram considerados ainda o domo de Poos de Caldas, incrustado no Planalto Sul deMinas, formado por rochas eruptivas alcalinas, e o Arco da Canastra, inserido no domnio do Cerra-do, que se destaca pela presena dos Campos e espcies da fauna e da flora ameaadas de extino.

    A Serra do Espinhao e seus prolongamentos destacam-se por apresentar grandevariao latitudinal na direo norte-sul, o que resulta em diversos tipos climticos e vegeta-cionais. A leste, juntamente com o Quadriltero Ferrfero, situam-se na transio entre o Cerradoe a Mata Atlntica; a oeste (na Serra do Cabral) no bioma Cerrado e, a norte (na Serra Geral),no contato entre os biomas Caatinga e Cerrado.

    No noroeste mineiro, as cristas de Una so um ambiente geogrfico nico, resul-tante de um sistema de falhas do relevo. Recobertas por vegetao de mata seca, constituem umenclave no bioma do Cerrado na regio.

    Quanto aos ambientes lacustres e midos, foram considerados, alm das lagoas asso-ciadas ao relevo crstico, os lagos, as lagoas marginais, as vrzeas e as veredas.

    O relevo crstico constitui um ecossistema singular. Nessas reas ocorrem grutas eabrigos rochosos propcios para a ocorrncia de espcies endmicas, alm de stios arqueolgi-cos, paleontolgicos e espeleolgicos cujos sedimentos abrigam vestgios da evoluo da flora,da fauna e dos ecossistemas no territrio mineiro. Freqentemente h conjuntos lacustrescujos regimes hidrolgicos dependem da dinmica do aqfero crstico, constituindo, assim,ecossistemas diferenciados. Os ambientes crsticos sofrem grandes ameaas devido mine-rao de calcrio, ao bombeamento do aqfero para abastecimento de gua e ao uso deagrotxicos, que poluem as guas subterrneas. Kohler (1998) chama a ateno para a necessi-dade de estudos interdisciplinares para o gerenciamento racional das reas crsticas, com espe-cial ateno dinmica dos aqferos, j que esses armazenam grandes quantidades de recursoshdricos.

    No domnio dos relevos modelados em rochas sedimentares da bacia do Bambudestacam-se, na Depresso do So Francisco, as lagoas marginais desse rio, as vrzeas do rioUrucuia, as vrzeas e lagoas do rio Paracatu, alm das regies crsticas (Arcos-Pains, Lagoa Santa,Paracatu, Lagamar, Curvelo, Montes Claros, Januria, Peruau, Montalvnia). Sobre os aflo-ramentos rochosos do relevo crstico se desenvolve a vegetao de mata seca, no domnio dobioma da Caatinga, e como enclaves no domnio do Cerrado. Ainda nos relevos modelados emrochas sedimentares encontram-se, nos Chapades da Vertente Ocidental do So Francisco, asVeredas do Arenito Urucuia e, nas Superfcies Sedimentares do Tringulo Mineiro, as veredas dosrios Tijuco e Uberabinha, reas seriamente impactadas pelas grandes plantaes de eucaliptos,sendo urgente sua efetiva recuperao e conservao.

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    O Brasil possui apenas trs sistemas lacustres formados por barramento de rios: oslagos de terra firme da Amaznia, os grandes lagos do Amap e os lagos da bacia do mdio rioDoce em Minas Gerais (Esteves, 1998). Esses ltimos, situados no domnio do ComplexoCristalino no bioma Mata Atlntica, ocorrem ao longo do rio Doce ou na bacia do SuauGrande, afluente da margem esquerda do rio Doce. A provncia lacustre do mdio rio Doce, com158 lagos, 43 dos quais protegidos (Parque Estadual do Rio Doce) e todos os demais sujeitos saes antrpicas das atividades de reflorestamento, pecuria e agricultura e poluio urbana(Castellanos-Sol & Barbosa, 2003), e a regio do Suau Grande, com menor nmero de lagos,ainda devero ser objeto de pesquisa.

    De acordo com os dados do IGAM de 2001, merecem destaque tambm os rios SoFrancisco, das Velhas, Par, Verde, a montante de Furnas, devido contaminao txica porpoluio qumica de suas guas, o que compromete seriamente a biodiversidade e a sade daspopulaes humanas associadas a esses ecossistemas.

  • REAS PRIORITRIAS PARA A CONSERVAO INDICADAS PELO GRUPO DE FATORES ABITICOS

  • Recomendaes

    Educao ambiental

    Fiscalizao

    Inventrios

    Monitoramento

    Plano de manejo

    Promover conectividade

    Recuperao

    Regularizao fundiria

    Unidades de Conservao

    Presses Antrpicas

    Agropecuria e Pecuria

    Agricultura

    Assoreamento

    Barramento

    Caa

    Desmatamento

    Espcies exticas invasoras

    Expanso urbana

    Extrao de madeira

    Extrao vegetal

    Isolamento

    Minerao

    Monocultura

    Pesca predatria

    Piscicultura

    Queimada

    Turismo desordenado

    LEGENDA DOS CONESDAS TABELAS