11.11 - A Ultima Castanha

2
7/30/2019 11.11 - A Ultima Castanha http://slidepdf.com/reader/full/1111-a-ultima-castanha 1/2 ra uma castanha que estava como as outras,  pendurada de um castanheiro. Chegando o tempo, as castanhas amadurecem e caem  por si. Só que esta não caiu.  – Estou bem onde estou e não quero aventuras – dizia. Uma a uma, as outras dos ramos iam caindo e rebolando  pelo chão, protegidas pelo cobertor ouriçado que as cobria até ao nariz. Nariz é modo de dizer… Vinham os garotos, estalavam-lhe os ouriços e metiam-nos nos bolsos. A tímida e teimosa castanha desta história a tudo assistia do seu mirante e não gostava.  – A mim não me levam eles – dizia. Era a única que sobrava em todo o castanheiro. As folhas a fugirem da árvore, sopradas pelo vento, e ela a afincar-se ao ramo, com unhas e dentes. Unhas e dentes é um modo de dizer… 1 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros A ÚLTIMA CASTANHA António Torrado escreveu e Cristina Malaquias ilustrou 11 de Novembro  Dia de São Martinho E

Transcript of 11.11 - A Ultima Castanha

Page 1: 11.11 - A Ultima Castanha

7/30/2019 11.11 - A Ultima Castanha

http://slidepdf.com/reader/full/1111-a-ultima-castanha 1/2

ra uma castanha que estava como as outras, pendurada de um castanheiro.

Chegando o tempo, as castanhas amadurecem e caem por si. Só que esta não caiu. – Estou bem onde estou e não quero aventuras – dizia.Uma a uma, as outras dos ramos iam caindo e rebolando

 pelo chão, protegidas pelo cobertor ouriçado que as cobriaaté ao nariz. Nariz é modo de dizer…

Vinham os garotos, estalavam-lhe os ouriços e

metiam-nos nos bolsos. A tímida e teimosa castanha destahistória a tudo assistia do seu mirante e não gostava. – A mim não me levam eles – dizia.Era a única que sobrava em todo o castanheiro. As

folhas a fugirem da árvore, sopradas pelo vento, e ela aafincar-se ao ramo, com unhas e dentes. Unhas e dentes éum modo de dizer…

1© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros

A ÚLTIMA

CASTANHAAntónio Torradoescreveu e

Cristina Malaquias ilustrou

11 de Novembro

 Dia de São Martinho

E

Page 2: 11.11 - A Ultima Castanha

7/30/2019 11.11 - A Ultima Castanha

http://slidepdf.com/reader/full/1111-a-ultima-castanha 2/2

Sozinha, desabrigada, não estava feliz. Nem infeliz.Sentia até uma ponta de orgulho por ter conseguido resistir tanto tempo. Um sabor de vitória que a ouriçou toda.

 – Ai que vou cair – gritou.Mas, no último instante, conseguiu agarrar-se. Ainda não

era daquela.Entardecia. Um grupo de gente acendera uma fogueira,

 junto ao castanheiro. Os garotos, que tinham andado àscastanhas, e os pais dos garotos e os amigos dos garotosriam e cantavam. Estavam a preparar o magusto da noite de

São Martinho.A castanha solitária, no alto do castanheiro nu, estranhoua vizinhança. E intrigou-se. Que estaria a passar-se.

Debruçou-se do ramo mais e mais. A madeira a arder estalava, mesmo por baixo da castanha, a última. O fumoentontecia-a. E se fosse ver de perto o que se passava?

Foi. Caiu. E a história acaba aqui. Paciência. É o destino

das castanhas. Destino é um modo de dizer…

FIM

2© APENA – APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros