11º portugues

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I Lê atentamente o excerto retirado do Sermão de Santo António aos Peixes. Mas ainda que o Céu, e o Inferno se não fez para vós, irmãos peixes, acabo, e dou fim a vossos louvores, com vos dar as graças do muito que ajudais a ir ao Céu, e não ao Inferno, os que se sustentam de vós. Vós sois os que sustentais as Cartuxas (1), e os Buçacos (2), e todas as santas famílias, que professam mais rigorosa austeridade: vós os que a todos os verdadeiros Cristãos ajudais a levar a penitência das Quaresmas: vós aqueles com que o mesmo Cristo festejou a sua Páscoa, as duas vezes que comeu com seus Discípulos depois de ressuscitado. Prezem-se as aves, e os animais terrestes de fazer esplêndidos, e custosos os banquetes dos ricos, e vós gloriai-vos de ser companheiros do jejum, e da abstinência dos justos. Tendes todos quantos sois tanto parentesco, e simpatia com a virtude, que proibindo Deus no jejum a peor, e mais grosseira carne, concede o melhor, e mais delicado peixe. E posto que na semana só dous se chamam vossos (3) nenhum dia vos é vedado. Um só lugar vos deram os Astrólogos entre os Signos celestres (4), mas os que só de vós se mantêm na terra, são os que têm mais seguros os lugares do Céu. Enfim sois criaturas daquele elemento, cuja fecundidade entre todos é própria do Espírito Santo: Spiritus Dominifae- cundabat aquas (5). Deitou-vos Deus a bênção, que crescêsseis, e multiplicásseis: e para que o Senhor vos confirme essa bênção, lembrai-vos de não falar aos pobres com o seu remédio. Entendei, que no sustento dos pobres, tendes seguros os vossos aumentos. Tomai o exemplo nas irmãs sardinhas. Porque cuidais que as multiplica o Criador em número tão inumerável? Porque são sustento de pobres. Os Solhos (6), e os Salmões, são muito contados, porque servem à mesa dos Reis, e dos poderosos: mas o peixe, que sustenta a fome dos pobres de Cristo, o mesmo Cristo o multiplica, e aumenta. Aqueles dois peixes companheiros dos cinco pães do Deserto, multiplicaram tanto,

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ficha de português sermão de santo antonio aos peixes

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I

Lê atentamente o excerto retirado do Sermão de Santo António aos Peixes.

Mas ainda que o Céu, e o Inferno se não fez para vós, irmãos peixes, acabo, e dou fim a vossos louvores, com vos dar as graças do muito que ajudais a ir ao Céu, e não ao Inferno, os que se sustentam de vós. Vós sois os que sustentais as Cartuxas (1), e os Buçacos (2), e todas as santas famílias, que professam mais rigorosa austeridade: vós os que a todos os verdadeiros Cristãos ajudais a levar a penitência das Quaresmas: vós aqueles com que o mesmo Cristo festejou a sua Páscoa, as duas vezes que comeu com seus Discípulos depois de ressuscitado. Prezem-se as aves, e os animais terrestes de fazer esplêndidos, e custosos os banquetes dos ricos, e vós gloriai-vos de ser companheiros do jejum, e da abstinência dos justos. Tendes todos quantos sois tanto parentesco, e simpatia com a virtude, que proibindo Deus no jejum a peor, e mais grosseira carne, concede o melhor, e mais delicado peixe. E posto que na semana só dous se chamam vossos (3) nenhum dia vos é vedado. Um só lugar vos deram os Astrólogos entre os Signos celestres (4), mas os que só de vós se mantêm na terra, são os que têm mais seguros os lugares do Céu. Enfim sois criaturas daquele elemento, cuja fecundidade entre todos é própria do Espírito Santo: Spiritus Dominifae-cundabat aquas (5).

Deitou-vos Deus a bênção, que crescêsseis, e multiplicásseis: e para que o Senhor vos confirme essa bênção, lembrai-vos de não falar aos pobres com o seu remédio. Entendei, que no sustento dos pobres, tendes seguros os vossos aumentos. Tomai o exemplo nas irmãs sardinhas. Porque cuidais que as multiplica o Criador em número tão inumerável? Porque são sustento de pobres. Os Solhos (6), e os Salmões, são muito contados, porque servem à mesa dos Reis, e dos poderosos: mas o peixe, que sustenta a fome dos pobres de Cristo, o mesmo Cristo o multiplica, e aumenta. Aqueles dois peixes companheiros dos cinco pães do Deserto, multiplicaram tanto, que deram de comer a cinco mil homens(7). Pois se peixes mortos, que sustentam a pobres, multiplicam tanto, quanto mais, e melhor o farão os vivos. Crescei peixes, crescei, e multiplicai, e Deus vos confirme a sua bênção.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes

Notas:

1. Nome dado aos mosteiros dos religiosos de São Bruno.

2. Nome de serra portuguesa onde se encontrava o mosteiro da Ordem de Santa Cruz.

3. A sexta-feira e o sábado, dias de abstinência em que não se podia comer carne.

4. Signos do zodíaco.

5. Tradução: O espírito do Senhor fecundava as águas (Génesis, 1.5).

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6. O mesmo que solhas.

7. Referência ao milagre da multiplicação dos pães.

I

Responde ao questionário de modo estruturado e conciso.

1. Situa o excerto acima transcrito na estrutura externa e interna da obra a que pertence.

2. Interpreta a frase: «Prezem-se as aves, e os animais terrestes de fazer esplêndidos, e

custosos os banquetes dos ricos, e vós gloriai-vos de ser companheiros do jejum, e da

abstinência dos justos.»

3. Identifica a figura de estilo presente em «daquele elemento, cuja fecundidade entre todos

é própria do Espírito Santo» e esclarece o seu valor expressivo.

4. De acordo com a argumentação do autor, apresenta o motivo pelo qual existem sardinhas

em maior número do que solhos e salmões.

4.1 Aprecia criticamente a lógica deste raciocínio.

DISCURSO DE SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO, MARQUÊS DE POMBAL

A Benignidade e Magnanimidade d'El-Rei meu Senhor nunca se manifestaram mais

poderosas do que se fizeram ver, quando se servira de um instrumento tão débil como eu

para consumarem a magnífica Obra da fundação desta Ilustre Universidade. (...). E ela

constituirá agora um dos maiores e mais dignos motivos, com que, no Régio espírito de Sua

Majestade, se pode fazer completa a satisfação que tem de seus fiéis Vassalos, vendo

autenticamente justificado pelas contas da minha honrosa Comissão, que neste louvável

Corpo Académico se haviam já principiado a fundar os bons, e depurados Estudos, desde a

promulgação das Sacrossantas Leis que dissiparam as trevas, com que os inimigos da luz

tinham insuperavelmente coberto os felizes génios dos Portugueses.

Este fiel testemunho, de que em Coimbra achei muito que louvar e nada que advertir, será

na Alta Mente de Sua Majestade uma segura caução das bem fundadas esperanças, que há

de conceber, dos progressos literários de uns dignos Académicos, que de tal sorte

preveniram as novas Leis dos Estatutos com o fervor, e aproveitamento dos seus bem

logrados estudos; depois de se acharem socorridos, desde a iminência do Trono, com as

sábias direções, e com os regulares métodos, que em Portugal jaziam sepultados debaixo

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das ruínas de dois séculos de funestíssimos estragos. No meu particular tenho por certo hão

de corresponder em tudo à Expetativa Régia. Esta plausível certeza é a que só pode suavizar

de algum modo o justo sentimento, com que a urgência das minhas obrigações na Corte faz

indispensável que eu me despeça desta preclara Academia, augurando-lhes felicidades

iguais aos consumados adiantamentos literários, pelos quais tenho previsto, que há de

ressuscitar, em toda a sua anterior integridade, o esplendor da Igreja Lusitana, a glória da

Coroa d'El-Rei meu Senhor, e a fama dos mais assinalados Varões, que honraram com as

suas memórias os fastos Portugueses.

Com estes faustíssimos fins deu o dito Senhor à Universidade o digno Prelado, que até ao

presente a governa como Reitor, com tão feliz sucesso.

Seleciona a alínea que completa, de forma correta, cada um dos seguintes itens.

1. O locutor revela, na primeira frase do texto, o sentimento de:

a) arrogância

b) modéstia

c) insegurança

d) frustração

2. Na expressão «as Sacrossantas Leis que dissiparam as trevas», o vocábulo «trevas» é sinónimo de:

a) escuridão

b)morte

c) ignorância

d) inferno

3. «Sua Majestade» é uma forma de tratamento de tipo:

a) honorífico

b) eclesiástico

c) académico

d) nobiliárquico

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4. A figura de estilo presente na expressão «que em Portugal jaziam sepultados debaixo das ruínas^ de dois séculos de funestíssimos estragos.» é a:

a) metáfora

b) personificação

c) aliteração

d) enumeração

5. A expressão «No meu particular tenho por certo» tem a função de:

a) ordenação

b) explicação

c) reforço argumentativo

d) conetor discursivo

6. O discurso de Marquês de Pombal encontra-se estruturado de forma:

a) indutiva

b) dedutiva

c) antitética

d) engenhosa

7. O tema do texto é:

a) a ignorância do povo português

b) a fundação da Universidade em Coimbra

c) a bondade e a generosidade do rei

d) o enaltecimento dos mais destacados varões Portugueses

8. O discurso apresentado pertence à oratória:

a) forense

b) sagrada

c) política

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d) divulgativa

III

Funcionamento da língua

1. Completa as afirmações que se seguem com a hipótese correta.

a) Na frase «Chegámos agora a casa.», o sujeito classifica-se como...

1. sujeito simples.

2. sujeito composto.

3. sujeito nulo subentendido.

4. sujeito nulo indeterminado.

b) Na frase «A Maria e o João são irmãos siameses.», o predicado é...

1. «são».

2. «A Maria e o João».

3. «são irmãos».

4. «são irmãos siameses».

c) Na frase «Queres um sumo, Paulo?», o constituinte sublinhado desempenha a função sintática de

1. sujeito simples.

2. complemento direto.

3. aposto.

4. vocativo.

d) Na frase «Na escola, eles encontraram a amiga da sua irmã.», o complemento direto é...

1. «a amiga».

2. «a amiga da sua irmã».

3. «Na escola».

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4. «encontraram a amiga da sua irmã».

e) Na frase «Eles entraram no cinema pela porta principal.», o constituinte sublinhado desempenha a função sintética de...

1. modificador do grupo verbal.

2. complemento oblíquo.

3. complemento indireto.

4. complemento direto.

f) Na frase «Eles achavam-no ingénuo.», o constituinte sublinhado desempenha a função sintética de...

1. complemento direto.

2. predicativo do sujeito.

3. predicativo do complemento direto.

4. complemento oblíquo.

g) Na frase «Os meus amigos chegaram de Paris ontem.», o modificador do grupo verbal é...

1. «de Paris». ,

2. «ontem».

3. «de Paris ontem».

4. «chegaram de Paris ontem».

h) Na frase «Eles permaneceram tranquilos.», o constituinte destacado tem a função sintética de...

1. complemento direto.

2. complemento indireto.

3. predicativo do sujeito.

4. predicativo do complemento direto.

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2. Faz corresponder cada afirmação da coluna A à hipótese da coluna B que a completa.

A Ba) O sujeito da frase «Fala-se na entrada no mercado de carros mais ecológicos.» classifica-se como...

b) Na frase «Naquela noite, chegámos cansadíssimos a casa.», o constituinte sublinhado desempenha a função sintática de...

c) Na frase «A casa parecia muito sossegada.», o

constituinte sublinhado desempenha a função sintática de...

d) Na frase «Ele encaixou a peça no puzzle.», o

constituinte sublinhado desempenha a função sintática de...

e) Na frase «Eles deram-nos informações muito úteis.», o constituinte sublinhado desempenha a função sintática de...

f) O sujeito da frase «Há quadros muito interessantes

neste museu.» classifica-se como...

g) Na frase «Eles entraram na casa amarela.», o constituinte sublinhado desempenha a função sintática de...

h) Na frase «A Susana, a melhor aluna da turma , teve

uma nota excelente.», o constituinte sublinhado desempenha a função sintática de…

1.predicativo do sujeito.

2. modificador restritivo do nome.

3. sujeito nulo indeterminado.

4. sujeito nulo expletivo.

5. complemento oblíquo.

6. modificador do grupo verbal.

7. complemento indireto.

8. modificador apositivo do nome.

9. predicado.

IV

“A defesa dos direitos humanos, nomeadamente dos índios do Brasil escravizados pelos

colonos, bem como dos cristãos-novos perseguidos pela Inquisição, é uma preocupação a

que Vieira se manteve sempre fiel até ao fim da sua vida.”

Maria das Graças Moreira de Sá (1999). «Introdução»,

in PADRE ANTÓNIO VIEIRA, Sermões Escolhidos. Lisboa: Ulisseia

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Redige um texto expositivo-argumentativo bem estruturado, com 200 a 250 palavras, em

que dês conta da importância dos direitos humanos nos nossos dias.