131 - OUT - 2018 · O PAPEL DO ARTISTA Há um malabarismo no ato da sobrevivência do artista. Ele...

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O PAPEL DO ARTISTA Há um malabarismo no ato da sobrevivência do artista. Ele vive de aplausos, porém não pode se envaidecer apenas com isso e sim valorizar as críticas e deixar de argumentar e ouvir mais. Entender que esteja ele num palco de teatro, no chão da comuni- dade ou no picadeiro, haja gente influente na plateia ou não, deixa- rá um pouco de si mesmo ali e essa responsabilidade poderá resul- tar na sua ascensão ou praticamente seu velório... Leia mais > Página 2 Votar com consciência Acredito que votar seja um direito nosso e que não deveríamos ser obrigados a isso. Votar é um exercício de cidadania. Um dos direi- tos básicos e fundamentais do ser humano é o direito à liberdade, e, esse direito é também um dos princípios básicos que se encon- tram em nossa constituição e que fazem parte da democracia. Se não temos o direito de escolha, se somos obrigados a algo, esse princípio e direito fundamental estão sendo violados. Leia mais > Página 4 Ano XI - Edição 131 - Outubro 2018 Distribuição Gratuita CULTURAonline BRASIL - Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Palestras Baixe o aplicativo no site www.culturaonlinebr.org LIBERDADE DE EXPRESSÃO Bom seria viver num país onde pudéssemos to- mar decisões e fazer nossas escolhas de ma- neira saudável, ter o direito de discursar sobre o que gostamos ou não e entender bem o que significa essa liberdade sem ter que pagar o preço da punição... Leia mais > Página 6 O futuro que já não conheceremos Juntamente com o Museu Nacional ardeu muita da nossa memória, nosso presente ficou mutilado e nos roubaram um futuro que agora nunca conheceremos. Todos intuímos que algo muito importante se perdeu para a humanidade... Leia mais > Página 9 O Golpe trazido por Te- mer e sua ‘Ponte para o futuro’ periga nos levar de volta ao mapa da fome da ONU e, o congelamento das verbas sociais por 20 anos, agravará sobrema- neira as desigualdades além de aumentar consi- deravelmente a distância para nos tornarmos um País desenvolvido. Nes- tas eleições devemos co- brar de quem quer o nos- so voto mudanças na política econômica, almejando um novo modelo de cresci- mento sustentável, sem a penalização dos mais pobres. Lembro no entanto, que as mudanças somente poderão vir através do Congres- so, sendo então importante focarmos na mudança daqueles que contribuíram pa- ra a atual situação do Brasil. Não adianta elegermos um Executivo progressista e concomitantemente lhe dar- mos um Congresso composto em sua grande maioria por famílias tradicionais da política que ao longo dá nossa República têm feito deste País um feudo para be- nefício deles e de mais uns poucos. Esses mesmos que aprovaram o golpe e aprovaram a PEC da morte. Depois não adianta reclamar. Cuide e valorize seu voto. A mudança está na sua mão. A oportunidade é agora! Aquieta! Aquieta, homem. Aquieta! Aquie- ta que a fome é cão falando na orelha e não deixa a gente pensar direito. Aquieta que a fome quando grita, faz um barulho tão grande que derruba as paredes da nossa própria alma. Leia mais > Página 5 O impacto das fake news nas eleições 2018 O combate às fake news deve ser re- alizado por todos, tanto pelas empre- sas de tecnologia, como pelos órgãos governamentais, e até mesmo por ca- da um de nós. Leia mais > Página 7 Sociedade de grupos No Brasil, a desigualdade é tamanha que lembra o sistema de castas da Índia, cuja estrutura social é dividida em brâmanes (sacerdotes), os xátrias (guerreiros), os vaixás (comerciantes), os sudras (servos, trabalhadores bra- çais), e os sem casta... Leia mais > Página 8

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O PAPEL DO ARTISTA Há um malabarismo no ato da sobrevivência do artista. Ele vive de aplausos, porém não pode se envaidecer apenas com isso e sim valorizar as críticas e deixar de argumentar e ouvir mais. Entender que esteja ele num palco de teatro, no chão da comuni-dade ou no picadeiro, haja gente influente na plateia ou não, deixa-rá um pouco de si mesmo ali e essa responsabilidade poderá resul-tar na sua ascensão ou praticamente seu velório...

Leia mais > Página 2

Votar com consciência Acredito que votar seja um direito nosso e que não deveríamos ser obrigados a isso. Votar é um exercício de cidadania. Um dos direi-tos básicos e fundamentais do ser humano é o direito à liberdade, e, esse direito é também um dos princípios básicos que se encon-tram em nossa constituição e que fazem parte da democracia. Se não temos o direito de escolha, se somos obrigados a algo, esse princípio e direito fundamental estão sendo violados.

Leia mais > Página 4

Ano XI - Edição 131 - Outubro 2018 Distribuição Gratuita

CULTURAonline BRASIL

- Boa música Brasileira

- Cultura

- Educação

- Cidadania

- Palestras

Baixe o aplicativo no site

www.culturaonlinebr.org

LIBERDADE DE EXPRESSÃO Bom seria viver num país onde pudéssemos to-

mar decisões e fazer nossas escolhas de ma-

neira saudável, ter o direito de discursar sobre o

que gostamos ou não e entender bem o que

significa essa liberdade sem ter que pagar o

preço da punição...

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O futuro que já não conheceremos Juntamente com o Museu Nacional ardeu muita da nossa memória, nosso presente ficou mutilado e nos roubaram um futuro que agora nunca conheceremos. Todos intuímos que algo muito importante se perdeu para a humanidade...

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O Golpe trazido por Te-mer e sua ‘Ponte para o futuro’ periga nos levar de volta ao mapa da fome da ONU e, o congelamento das verbas sociais por 20 anos, agravará sobrema-neira as desigualdades além de aumentar consi-deravelmente a distância para nos tornarmos um País desenvolvido. Nes-tas eleições devemos co-brar de quem quer o nos-

so voto mudanças na política econômica, almejando um novo modelo de cresci-mento sustentável, sem a penalização dos mais pobres.

Lembro no entanto, que as mudanças somente poderão vir através do Congres-so, sendo então importante focarmos na mudança daqueles que contribuíram pa-ra a atual situação do Brasil.

Não adianta elegermos um Executivo progressista e concomitantemente lhe dar-mos um Congresso composto em sua grande maioria por famílias tradicionais da política que ao longo dá nossa República têm feito deste País um feudo para be-nefício deles e de mais uns poucos. Esses mesmos que aprovaram o golpe e aprovaram a PEC da morte. Depois não adianta reclamar. Cuide e valorize seu voto. A mudança está na sua mão. A oportunidade é agora!

Aquieta! Aquieta, homem. Aquieta! Aquie-ta que a fome é cão falando na orelha e não deixa a gente pensar direito. Aquieta que a fome quando grita, faz um barulho tão grande que derruba as paredes da nossa própria alma.

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O impacto das fake news nas eleições 2018

O combate às fake news deve ser re-alizado por todos, tanto pelas empre-sas de tecnologia, como pelos órgãos governamentais, e até mesmo por ca-da um de nós.

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Sociedade de grupos

No Brasil, a desigualdade é tamanha que lembra o sistema de castas da Índia, cuja estrutura social é dividida em brâmanes (sacerdotes), os xátrias (guerreiros), os vaixás (comerciantes), os sudras (servos, trabalhadores bra-çais), e os sem casta...

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Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 2

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS

01 - Dia Internacional da Música 01 - Dia Internacional das Pessoas Idosas

02 - Dia Internacional da Não-Violência 03 - Dia das Abelhas 04 - Dia da Natureza 07 - Eleições 2018 07 - Dia do Compositor Brasileiro

08 - Dia do Nordestino 12 - Dia das Crianças 12 - Dia Nacional da Leitura 12 - Descobrimento da América

15 - Dia do Professor 17 - Dia Internacional da Erradicação da Pobreza 17 - Dia da Música Popular Brasileira

20 - Dia do Poeta 21 - Dia Nacional da Alimentação na Escola 23 - Dia da Força Aérea Brasileira 29 - Dia Nacional do Livro 29 - Dia Mundial do AVC

31 - Dia Nacional da Poesia 31 - Dia do Saci

O PAPEL DO ARTISTA

Há um malabarismo no ato da sobrevivência do artista.

Ele vive de aplausos, porém não pode se envaidecer apenas com isso e sim valorizar as críticas e deixar de argumentar e ouvir mais.

Entender que esteja ele num palco de teatro, no chão da comunidade ou no pi-cadeiro, haja gente influente na plateia ou não, deixará um pouco de si mesmo ali e essa responsabilidade poderá resultar na sua ascensão ou praticamente seu velório dependendo muito do seu dom e empenho, do seu poder encantador de passar emoções e sentimentos, da fala mágica e certa deixada em forma de mensagem ou nas entrelinhas.

O artista com alegria, tristeza ou hipocrisia está “na pista” não só para brilhar e acalentar seu ego e sim para levar e mostrar aos lugares em que irá atuar o ve-neno da vida, a fantasia do amor, o encanto dos figurinos seja de farrapos ou bri-lhantes. Mesmo que a farsa do artista é representar, vem com a essência da ver-dade de um circo onde a tristeza estampada na cara do palhaço, mesmo assim te faz rir, mas também pensar e chorar.

A arte é uma labuta constante pela verdade, pendurados na imaginação, cheios de sentimentos traduzem sua fala com a alma cheia de intenções, como ginasta ou acrobata, doma sua fera interior e humana e hipnotiza num golpe de magia com a mente inquieta e idealista tirando da cartola o espetáculo surrealista arre-messado ao público, mas num ato de amor espera deles a reflexão tornando-se assim um instrumento que liberta a mente.

O que é um artista? Em forma de ator, poeta, músico, pintor é sempre um apai-xonado, tem uma câmera no coração, ciente das paixões, é um instrumento paci-ficador ou de guerra, interessado pelos seres, separa-se de sua própria vida para moldar-se a um personagem e apaixonadamente despertar as pessoas e, ro-mântico ou contundente, é também um ser político.

Ele é um criador, e sua própria relação com o mundo é a recuperação da visão em relação ao amor e ódio, as mazelas da vida e à natureza reinventando, atra-vés da arte, o que por muitas vezes é deixado de lado e fica esquecido.

O verdadeiro artista precisa ter a consciência e o dever de ter definido consigo sua responsabilidade social e saber que através de sua criação e dos tempos é sempre importante respeitar o público e ter claro que seu papel além de entreter, também é o de estimular a reflexão e instigar as pessoas a buscarem respostas e mudanças com a responsabilidade de auxiliar na evolução humana.

O artista é um formador de opiniões através da arte!

Autora: Genha Auga

SALVEM AS CRIANÇAS

Criança tem que sentar na cadeira da escola Hoje se vê as crianças sentadas na calçada.

E seguem assustadas pela vida Com olhares que vislumbram nela

Um futuro de bandida.

Pequeninos que mal tem nome Que dormem em qualquer lugar,

Algumas ainda têm pais Outras saem de seus lares

Por conta do descaso

Crianças têm brilho no olhar Sorrisos pra boca enfeitar

Só perdem isso tudo Na tristeza do abandono

E a barriga doer quando a fome chegar

Criança precisa de um presente Com bons exemplos e aprender amar

Corrigi-la enquanto há tempo Fazê-la sorrir hoje, para no futuro,

Ela não te fazer chorar.

A criança de hoje será A Pátria de amanhã!

Autora: Genha Auga

O Dia do Nordestino é comemorado a-nualmente em 8 de outubro, no Brasil.

Esta data homenageia toda a diversida-de cultural e folclórica típica da região Nordeste do Brasil.

O Nordeste brasileiro é conhecido pela sua musicalidade, culinária, danças, superstições, artesanatos, belíssimas paisagens naturais e muito mais.

O povo nordestino é um grande tesouro da cultura nacional, um dos maiores traços da identidade do Brasil.

O Nordeste brasileiro é composto pelos seguintes estados: Maranhão, Alagoas, Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba, Pernam-buco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Mensagem para o Dia do Nordestino

Povo alegre, que vive com um sorriso no rosto! Obrigado por compartilhar co-

nosco toda a riqueza e beleza da sua cultura!

O Nordeste não é feito apenas de prai-as paradisíacas, belezas naturais, co-midas deliciosas, festas animadas e ar-tesanatos lindíssimo… O Nordeste tem tudo isso e muito mais: os nordestinos, povo mais hospitaleiro do país! Que sa-be abraçar e receber os turistas com todo o carinho e dedicação!

Origem do Dia do Nordestino

A criação desta data é uma homena-gem ao centenário do poeta popular, compositor e cantor cearence Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré (1909 - 2002).

O Dia do Nordestino foi oficializado com

a lei nº 14.952, de 13 de julho de 2009, na cidade de São Paulo, região com a maior concentração de nordestino em todo o país (com exceção do próprio Nordeste, obviamente).

Dia 8 - Dia do Nordestino

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O incêndio do Museu Nacional e o epistemicídio como projeto político de esquecimento

No último domingo, dois de setembro, um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu Nacional. Das 19h30 até cerca de 3h da ma-nhã do dia seguinte, quando o incêndio foi contido, um acervo estimado em 20 milhões de itens era consumido rapidamente pelas cha-mas. Os bombeiros, enquanto isso, enfrentavam problemas na captação de água, dada a falta de carga nos hidrantes. O palácio onde funcionava o Museu não tinha sistema de prevenção de incêndio e as instalações eram antigas e precárias.

O diretor no Museu, Alexander Kellner, explicou em entrevista veiculada por alguns jornais, que há anos o espaço sofre com a falta de verbas. Exposições fechadas, prédio em más condições e, certamente, problemas de manutenção e restauração de peças. 300 milhões de reais, investidos ao longo de um década, seriam necessários para executar seu Plano Diretor, ainda segundo Kellner. A verba anual, de R$ 520 mil, que custeava a sua manutenção, também não era repassada integralmente desde 2014.

Há uma frase genérica que pode ser ouvida de muitas bocas, em muitas ocasiões. Uma frase sobre um país Brasil que não conhece a si mesmo e à sua história. O arquivo do Museu Nacional, perdido para sempre, reunia fósseis, objetos etnográficos e arqueológicos, docu-mentos antigos e raros. Todo esse material carregava consigo uma dimensão de vida, na possibilidade que encerrava de transmissão e produção constantes de conhecimento. As pesquisas sobre esse acervo nos deixam órfãs/ãos, porque certamente diriam respeito a quem somos.

Os valores que poderiam ter impedido o assassinato de nosso maior museu, um museu de 200 anos de história, são de todo modestos. R$ 520 mil anuais: soma próxima, não raro inferior, àquela gasta com boa parte de nossas aristocráticas carreiras jurídicas e cargos po-líticos. Mas a história, como nos ensina o governo através, por exemplo, da reforma da educação, é apenas um penduricalho que pode-mos dispensar, no ensino básico, nas pesquisas das universidades, em nossa vida, enfim.

Aliás, o atual governo vai além: nos empurra, através da emenda constitucional 95, um congelamento de gastos sociais de 20 anos, co-mo se congelar o tempo e a sucessão dos acontecimentos fosse possível. No entanto, ninguém, do lado de cá ou do lado de lá, acredita nisso. Tanto é assim que somas vultuosas – um orçamento total de R$ 1,2 bilhão, segundo dados constantes do próprio Portal da Transparência – têm sido despendidas na guerra que o Brasil hoje trava com parte de seu povo no Rio de Janeiro sob intervenção mili-tar, como lembra minha amiga Laura Gonçalves.

Nossa política de memória é um imenso espaço em branco. O Museu Nacional é o maior e mais trágico exemplo do desprezo pela me-mória, mas não é o único. Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a situação do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (APEJE), de Pernambuco – cujo acervo, friso, é infinitamente menor do que aquele perdido na noite do domingo. Alojado num galpão sem acondicionamento adequado, o acervo do APEJE sobrevive driblando calor, umidade, pragas e falta de manutenção. Sobrevive, certamente, nas mesmas condições que os demais arquivos do país.

O desprezo pela memória pode, com toda adequação, ser chamado epistemicídio. Sabemos, por exemplo, que Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas, foi perdido. Também foi perdida extensa documentação sobre línguas indígenas, objetos de diferentes povos e culturas. Com isso, perdemos inúmeras oportunidades de rediscussão e releitura sobre história e passado. E as maiores vítimas, para variar, são negras/os e indígenas.

Quem, afinal, foi mais empurrado para a não-existência, não-pertença, não-história que esses grupos?

A história é uma arma política poderosa. No período de tráfico atlântico de africanas/os escravizadas/os, o Porto de Ouidá, onde hoje se ergue o Portal do Não Retorno, era a última visão de África para muitas mulheres e homens levadas/os aos tumbeiros. Conta-se que, no trajeto do mercado da cidade até o porto, havia uma árvore mágica, a Árvore do Esquecimento. Em torno dela, os colonizadores obriga-vam as/os aprisionadas/os a dar voltas. O cativeiro deveria ser, ele mesmo, uma política de não retorno, não retorno sobretudo a quem se era. Séculos depois, descendentes das/os cativas/os lutavam pela inclusão de sua história no currículo escolar do Brasil, o mesmo currículo desmontado pela reforma da educação.

Agora se fala em repasse de verbas para a restauração do Museu Nacional. É preciso, nesse jogo de memória, não esquecer o que nos trouxe até aqui, nem desprezar os múltiplos significados do incêndio do último domingo. De minha parte, espero que alguns nomes fi-quem marcados, de modo impiedoso, nos rumores e escritos da posteridade. Sei que, em qualquer caso, seguiremos vivas/os e ativas/os, escrevendo, fiando e desfiando cotidianamente a história.

Autora: Fernanda Lima da Silva

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 3

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A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download na web

Diretor, Editor e Jornalista responsável Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

Genha Auga

Mariene Hildebrando

Loryel Rocha

João Paulo E. Barros

Filipe de Sousa

Guigo Ribeiro

Luiz Augusto Filizzola D'Urso

Luiz Felipe de Seixas Corrêa

Santiago Castroviejo-Fisher

Fernanda Lima da Silva

Elissandro Santana

Gustavo Justino de Oliveira

Márcia C. M. Marques

Daniel Mello

Hiago Rodrigues

Amir Khair

Cláudio Fernandes

Augusto Küttner de Magalhães

IMPORTANTE

Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de inteira responsa-bilidade dos colaboradores que assinam as

matérias, podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste Jornal.

Colaboraram nesta edição

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Votar com consciência

Acredito que votar seja um direito nosso e que não deveríamos ser obri-gados a isso. Votar é um exercício de cidadania.

Um dos direitos básicos e fundamentais do ser humano é o direito à liberdade, e, esse direito é também um dos princípios básicos que se encontram em nossa constituição e que fazem parte da de-mocracia. Se não temos o direito de escolha, se somos obrigados a algo, esse princípio e direito fundamental estão sendo violados. Mas como por aqui o voto ainda é obrigatório, vamos fazer a parte que nos cabe. Votar vai muito além de depositarmos nosso voto na urna simplesmente. Começa antes, com a escolha do candidato. Com o voto consciente

Esse ano teremos 569 candidatos concorrendo as eleições majori-tárias no Brasil. Precisamos entender que nossa escolha é impor-tante. Votar consciente é importante. A quem diga que é melhor não votar em ninguém. Como assim? Não queremos mudanças? Quem pode fazer isso acontecer somos nós. São as nossas esco-lhas que irão dar o rumo do nosso país para os próximos 4 anos. Estamos sem fé. Decepcionados com a nossa política, com nossos políticos, com a falta de honestidade e lisura. Será que temos medo de expor nossas opiniões? Porque quando o fazemos somos en-quadrados em “Direita” ou “esquerda”? Precisamos falar com as pessoas, trocar ideias, debater com aqueles que pensam diferente. Não podermos achar sempre que quando alguém discorda de nós, está sendo preconceituoso, intolerante, estúpido.

Tenho medo de pensar que podemos nos iludir com alguém que apresente inovações e vamos todos atrás desse novo “salvador” apenas porque estamos querendo algo novo. Esse novo tem que vir baseado em propostas concretas, se não, corremos o risco de votar em alguém que pode apresentar mudanças horríveis, mas que é uma mudança, tão carentes que estamos de bons governan-tes, de boas propostas,que nos deixamos levar pela crença de que pior que está não pode ficar, aí corremos o risco de não pensar no

nosso voto. O voto no Brasil é obrigatório, (artº 14, parágrafo 1º, I) Segundo a Constituição Federal o voto é facultativo ( artº14,II) para os analfabetos, eleitores com 16 ou 17 anos e 70 anos ou mais. A liberdade que possuímos é a de escolher entre os candidatos exis-tentes, se vamos votar em alguém, se vamos votar em branco ou anular nosso voto.

O voto facultativo combina com democracia, com o Estado de Direi-to, é utilizado nos países desenvolvidos, vai contar com pessoas que realmente estão querendo eleger agentes políticos que os re-presente, pessoas mais conscientes da importância que seu voto tem. Com certeza os candidatos terão que se esforçar mais, mos-trarem serviço, cumprirem com suas propostas se quiserem o voto do eleitor. O voto facultativo apresenta um eleitor mais consciente e politizado. O voto obrigatório apresenta todo o tipo de eleitor, o que quer mudanças e o que não ta nem aí. Não vejo outra maneira das pessoas terem essa consciência da sua importância num pleito, que não seja através da educação. Vivemos um momento de des-crédito na política, e a ignorância que há anos nos persegue, nos fazendo de marionetes que podem ser manobrados da maneira que quiserem é algo concreto que só faz aumentar o privilégio das minorias. Ta na hora de deixar de ser massa de manobra dos políti-cos e não permitir mais que roubem nosso dinheiro, que nos enga-nem com falsas promessas, não aceitar benefícios em troca de vo-tos, deixar de seguir sem rumo, sem se importar com o futuro do nosso país.

Temos que refletir para agir, e não seguir a boiada simplesmente. Se chegamos a esse ponto, de estarmos num cenário político em-pobrecido, que não é o ideal para nosso país, foi por escolha nos-sa. Escolhemos mal quem nos representa. O significado de voto pelo dicionário Priberam é: Sufrágio ou manifestação da opinião individual a respeito de alguma pessoa ou de alguma coisa que queremos ou que não queremos que seja eleita ou posta em vigor.

Quem é que não quer eleger o melhor para si e para seu país? Co-mo fazemos isso? Com Consciência política. Elegendo pessoas que pensem e trabalhem pele coletividade. Descartando político que só faz algo em época de campanha eleitoral.

Autora: Mariene Hildebrando

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 4

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Primeira Presidente homenageia primeira maestrina do Brasil: 17 de outubro de 1847, nascimento de Chiquinha Gonzaga 17 de outubro de 2012, Dia Nacional da Música Popular Brasileira

LEI Nº 12.624, DE 9 DE MAIO DE 2012 DOU de 10/05/2012 (nº 90, Seção 1, pág. 1) Institui o dia 17 de outubro como o Dia Na-

cional da Música Popular Brasileira.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º – Fica instituído, no calendário das efemérides nacionais, o Dia Nacional da Música Popular Brasileira, a ser comemorado no dia 17 de outubro – data natalícia da compositora e maestrina Chi-quinha Gonzaga. Art. 2º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 9 de maio de 2012; 191º da Independência e 124º da República.

DILMA ROSSEFF Anna Maria Buarque de Hollanda

O projeto original, do deputado Fernando Ferro (PT-PE), é de 2003. “A música é, entre todas as manifestações artísticas brasileiras, a que mais acentuadamente revela a riqueza de nossa diversidade cultural e regional”, afirmou o parlamentar na apresentação da pro-posta. “A adoção desse dia é uma forma de homenagear a primeira maestrina do país, que, em pleno século XIX, quando predominava a música europeia nos salões da aristocracia brasileira, desafiou os costumes de sua época e ousou trazer os ritmos africanos para su-as composições musicais.”

Ferro acrescenta que Chiquinha Gonzaga era “um mulher antenada com as grandes questões de seu tempo” – lutou pela abolição da escravatura e pela causa republicana, além de ser precursora na luta por direitos autorais. A sua música mais célebre é a marcha-rancho “Ó Abre Alas”. Mas Chiquinha também é lembrada pela sua independência. Separou-se do marido imposto, um escândalo para a época. Teria dito que não conseguia ver a vida sem harmonia.

Fonte: Rede Brasil Atual

Dia 17 - Dia da Música Popular Brasileira

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Aquieta! Aquieta, homem. Aquieta! Aquieta que a fome é cão falando na orelha e não deixa a gente pensar direito. Aquieta que a fome quando grita, faz um barulho tão grande que derruba as paredes da nossa própria alma. Aquieta que a fome é troço ruim e foi feita pra deixar a gente assim. Andando de um lado pro outro. E de tanto andar sem rumo, a gen-te se perde. É como andar no mato, sem sen-tido ou direção. Acaba dando em lugar ne-nhum. Então aquieta! Deita um pouco e es-quece, vai. Faz uma oração forte. Dá um gole na cachaça. Vai te ajudar dormir. Dorme e tenta sonhar. Pensa num lugar bom. Sem me-do ou solidão. Pensa num lugar que o sol é pra animar e não rachar a cabeça num chão batido. Se tiver muito difícil, come mais um pouco de farofa. Pega um passarinho, depe-na bem e põe na panela. Fazer o quê? Enga-na bem e não faz pensar besteira. Cê acha? Se isso fosse de agora, até daria pra enten-der essa agitação toda. Mas não. Cê sabe que não. É coisa que vem de longe. Coisa que as pessoas fazem pra deixar a gente as-sim, com os pés agitados pela sala. Deus me livre! Aquieta e pensa que vai melhorar. Não dá esse gosto pra eles não. Não dá porque eles ficam felizes. A nossa fome é tira-gosto pra eles, sabia? Pois é! É sim! Primeiro é a mesa farta com coisa de gente que visita mui-to outros países. Depois vem a nossa fome. Percebe não? A refeição dessa gente é fome

e gula. A nossa fome é a gula deles. Senta um pouco! Toma uma água. Dia 5 tem dinhei-ro e a gente se vira até lá. Cê tá aí rodando, pensando tanta besteira que Deus me livre. Falando coisas que nem são de você. Nem parece que é você falando, sabe? Nem pare-ce! Até a voz muda! Eu hein! Volta pra cá e fica. Essa linha que cê tá vendo mostra um caminho sem volta. A gente vê todo dia gente cruzando essa linha e não voltando mais. A pessoa fica igual você, se mete a andar sem rumo e vai indo. Vai indo, indo e quando vê, ficou longe de casa. Aí não volta. Não se per-de não! Cê não fez isso criança, lembra? Se perder, ué. Disso que tô falando! Não se per-deu quando menino, vai se danar por aí com a cabeça ruim agora velho? Não, né? Porque quando menino se metia até a pedir em bar-racas por aí. A barriga falava, cê ia até algu-ma pessoa que tivesse com a barriga quieta e pedia alguma coisa. Se virava. Lembra? E vai se virar agora também. Sem dar gostinho pra ninguém de perder o que é de seu caráter. Aquieta, homem! Olha no espelho e lembra de você. Tá ruim? Tá ruim! Mas tem que me-lhorar. Porque daqui pra lá não tem mais na-da. Só o fim, né. Vai saber! Então aquieta! Faz a oração forte que te falei e deita! Deita que vou deitar também. É que deu uma baita fraqueza.

Autor: Guigo Ribeiro é ator, músico, poeta, compositor e escritor.

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 5

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VIOLÊNCIA URBANA; CAUSA, CONSEQUÊNCIAS E SOLUÇÕES

A violência urbana é um grande e antigo problema nacional. Os altos níveis de criminalidade constitui-se em um cenário preocupante para o Brasil, uma vez que coloca a população em perigo constante e contribui para que seja internacionalmente conhecido pela violência. As raízes desse mal da sociedade brasileira estão na concentração de renda e pela marginali-zação das classes de menor poder aquisitivo.

A negligência do Estado brasileiro em relação aos anseios da população é uma das causas da violência urbana. Não sendo a população atendida por serviços públicos de qualidade e não havendo perspectivas de melhoria de vida, o crime se torna uma alternativa para viabili-zar qualidade de vida à essas pessoas.

Além disso, o precário sistema prisional brasileiro não oferece condições para a reeducação e reinserção social dos presidiários. Prova disso é o fato de que a violência e o crime tam-bém são características marcantes nos presídios. Muitos detentos, quando em liberdade, voltam a cometer crimes ou, ainda, comandam facções criminosas ainda sob tutela do Esta-do.

Entre as diversas consequências dessa situação alarmante estão crimes como assassina-tos, latrocínios, roubos a mão armada, que assolam a sociedade brasileira. É relevante des-tacar, também, o impacto negativo, causado pela violência, na imagem internacional do país. Assim, além de ser um problema social, a violência urbana constitui-se em um empecilho ao desenvolvimento econômico, uma vez que afeta o turismo e inibe possíveis investimentos externos no país.

A violência urbana é um grande desafio nacional originado, em parte, pela concentração de renda e desatenção, por parte do governo, com os mais pobres. Caso medidas urgentes não sejam tomadas, tais como serviços públicos que atendam satisfatoriamente a população me-nos favorecida e um projeto que vise melhorias no sistema prisional, o cenário futuro pode ser ainda mais preocupante.

Da redação

02 - Dia Internacional da não violência

A poesia de hoje em dia A poesia de hoje está degenerada. Não há liricidade simples, como se o poeta falasse de si (pois fala de outra coisa: sempre de sua... alma). Há uma secura nos poemas, muitos pontos onde entram vírgulas. Há sujeira e palavrões nos ver-sos, pouca filosofia, muita “simplicidade”, nenhuma sofisticação, pouca opinião, iro-nia ou genialidade de contestação.

Os poetas de hoje são os que versam falando de como foram seu dia, ou ver-sam seu perfil no Orkut, seu diálogo no trânsito, no elevador, na praça – nada contra, desde que seja a poesia a ques-tão da situação, e não a normalidade.

Não se fala mais de amor com aquela inocência que nos fazia querer amar a ser amado, e nem da liberdade que fingi-mos hoje ter... com nossa recém funda-da: democracia. Os problemas do país estão negligenciados ou são feitos de demagogia versante por seres que só querem vender livros. Crônicas e contos estão em versos; receitas de bolo estão em verso, bulas de remédio estão em verso; manuais de instrução estão em verso, diários, cartas de amor, cartas de dor-de-cotovelo, cartas de despedida, cartas de apresentação, de pedidos de namoro... tudo está em verso, ou seja: todo texto corrido teve suas frases que-bradas e divididas em mais linhas do que deveriam – sem rimas nem métrica. Te-mos tudo em verso... menos a poesia, que passa longe, caminhando sorridente, assistindo a decadência da genialidade poética desta geração.

Posso estar extremamente enganado e dizer que “nossa” genialidade de hoje não é escrever Autos da Barca do Infer-no, ou As Rosas do Povo ou As Cinzas das Horas... mas sim escrever Autos dos Ônibus Lotados, As Enchentes do Povo ou As Cinzas dos Barracos... mas talvez, com isso, todo o significado do que é po-esia (que, no fundo, não é o que diz, mas o que quer o discurso dizer) está defasa-do, precisando ser ou reformado ou es-quecido de vez.

Sei lá, sei não: melhor perguntar para quem entende de discutir poesia. Só sei do que eu faço.

Autor: Hiago Rodrigues

20 - Dia do Poeta

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LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Bom seria viver num país onde pu-déssemos tomar decisões e fazer nossas escolhas de maneira saudá-vel, ter o direito de discursar sobre o que gostamos ou não e entender

bem o que significa essa liberdade sem ter que pagar o preço da punição.

Acordamos todos os dias presos em nossas gaiolas e em nossos pensamentos porque somos discriminados, julgados e subjugados nas redes sociais que limita nossa liberdade de expressão porque nem todos sabem tolerar aquilo que às vezes não gostam.

A população dividiu-se pela intolerância esquecendo-se que é direi-to de cada um manifestar-se sem sentir-se desconfortável, quer nas próprias ideias como cidadão ou artisticamente, pois essa de-veria ser a base da sociedade pela qual tanto lutamos para tornar nosso país democrático e plural.

Atualmente vivemos um período delicado onde a cada esquina ve-mos um grupo manifestar-se contra o direito de pensar de outros grupos cerceando quem pensa diferente e nem percebem que a-gem da mesma forma quando repudiam o Estado, se ameaçados por cassetetes para impor a “ordem”, essa atitude é o mesmo que colocar grades na janela do outro e isto não é ser livre e nem tão pouco o jeito de defender a democracia.

Se todos são iguais perante a lei, quem somos nós para impedir isso? A função de julgar aquele que infringe leis é da justiça e que deveria ser “cega” para defender tanto os fracos e oprimidos, mas, também punir os fortes e poderosos de acordo com a nossa consti-tuição.

Verdade que não é bem o que acontece e apesar do conceito estar certo nem sempre as leis são aplicadas como deveriam, por falha de caráter do ser humano que por vezes utilizam o poder nem sem-pre de maneira justa, pois todos deveriam ter assegurado o direito de manifestar opinião mesmo que contrária aos demais, afinal a diferença entre ditadura e democracia é discordar e poder dizer não ou, o que quiser e como quiser. Entender que ter opinião não signi-fica ofender, discriminar pessoas pela cor, raça, sexo e nem agir contra a moral e os bons costumes. Isso é contra lei e passível de punição.

Não precisamos concordar com tudo e com todos mas aceitar e conviver respeitosamente com quem pensa diferente, mesmo que seja a minoria.

Vivemos hoje em dia o massacre das mídias e das Fake News, ge-

ralmente provocando discórdias e denegrindo imagens de pessoas

disfarçadas na proposta de defender a verdade só que de forma

pejorativa. E qual autoridade irá julgar isso tudo? Podemos cair em

uma armadilha ou na censura e aí o perigo dos desavisados darem

suporte a essa nova modalidade de invasão e divergência irrespon-

sável esquecendo até onde vai a liberdade de cada um e de forma

civilizada e, para uma sociedade ser verdadeiramente democrática, os cidadãos devem ter o direito de falar e de ouvir as ideias que possam ser livremente expressadas mesmo que as que odiamos.

Enfim, temos o direito de nos expressar ou não e essa liberdade ninguém pode ceifar.

Estamos à beira das eleições e vem aí uma enxurrada de imposi-ções e informações nem sempre precisas ou que tentam nos impor como se fossemos marionetes.

A ideia que vem rondando é a de votar nulo dando a ideia de que se a maioria o fizer, anula a eleição. Falso! Votar nulo apenas mos-tra que você não concorda e que está indignado.

O voto em branco mostra que você não sabe em quem votar e está em dúvida.

Não comparecer mostra seu desprezo e para não votar no menos pior, prefere passear.

Uma eleição só é anulada pela justiça e não pelos eleitores e, de qualquer forma, aqueles candidatos que receberam votos dos que compareceram às urnas, serão eleitos.

Portanto, os votos registrados serão validados e embora todos te-nham direito de não querer votar depois irão dizer que não tiveram nada com os resultados. Afinal, em nosso país o voto não é faculta-tivo e sim obrigatório, portanto, constitui-se num dever de cidadão.

Hoje temos sites mostrando a ficha corrida dos candidatos e da-

queles que nunca se candidataram proporcionando a possibilidade

de pesquisar e pensarmos bem em quem escolher e nos represen-

tar.

A população não costuma analisar o voto para prefeito, vereadores, deputados, senadores e acabam, de última hora, decidindo por qualquer um ou em alguém que lhe indicaram sem saber do seu histórico, mas pensem bem, afinal, eles é que aprovarão nossas leis e decidirão nossas vidas.

Simples mas o brasileiro ainda não aprendeu.

Autora: Genha Auga

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 6

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A importância da leitura para a sua vida profissional e pessoal.

Livro, leitor digital, gibis, jornais ou revistas, não importa em qual ferramenta, somente o simples ato da leitura é uma das oportunida-des mais democráticas e acessíveis de desenvolvimento pessoal e profissional. É por meio dela que a pessoa se desliga do mundo real, quebra as fronteiras da imaginação e descobre novos univer-sos sem ao menos sair do lugar.

Encontrar um tempo para ler é um processo que permite a expan-são de si mesmo, criando a abertura para infinitas possibilidades e trilhando o caminho para o despertar do potencial pleno. Um leitor assíduo tem mais chance de absorver mais conhecimento incenti-vando a evolução pessoal e profissional.

Benefícios da leitura para a vida pessoal e profissional:

- Senso crítico mais apurado;

- Evolução do pensamento sistêmico;

- Conhecimento de novas palavras e termos, tornando o vocabulá-rio amplo e rico;

- Desenvoltura na oratória e expressão;

- Escrita mais coerente;

- Maior capacidade de persuasão;

- Estímulo à abertura de novas opiniões e pontos de vista;

- Expansão do repertório cultural;

- Maior qualidade nas relações interpessoais;

- Autodesenvolvimento contínuo.

O hábito de leitura dos brasileiros

De acordo com a quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Ibope e encomendada pelo Instituto Pró-Livro em 2015, o hábito da leitura não faz parte do dia a dia dos brasileiros. Segundo os dados, a população brasileira lê 4,96 livros por ano, sendo que 2,43 são completos e 2,53 em partes.Quem é estudante ainda lê 9,38 livros ao ano, enquanto os outros leem 3,35.

Em uma análise para entender o gosto pela leitura, o item “gosta um pouco” ocupa o primeiro lugar, seguido de pessoas que “gostam muito”, seguidos de quem “não gosta” e por último daque-les que “não sabem ler”.

A falta de tempo, preferência por outras atividades e a falta de paci-ência são alguns dos itens apontados como desanimadores do há-bito de leitura.

Lei muito e sobre tudo leia!

Da redação

Dia 12 - Dia nacional da Leitura

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O impacto das fake news nas eleições 2018

O combate às fake news deve ser realizado por todos, tanto pelas empresas de tecnologia, como pelos órgãos governamentais, e até mesmo por cada um de nós.

O vídeo que circulou nas redes sociais, com o título: “Denúncia: De-putado marca presença de colegas ausentes”, que retratava um su-posto deputado relacionando a presença dos colegas faltosos em uma sessão na Câmara Federal, é verdadeiro? A notícia que circu-lou na internet de que o STF autorizou o monitoramento do What-sapp de todos os brasileiros é real? A publicação da informação de que quem não votou nas últimas eleições, não poderá votar no plei-to desse ano, está correta?

A resposta para as três perguntas acima é NÃO! No entanto, por que tais notícias parecem ser verdadeiras e temos a impressão de que já as vimos em algum lugar? Isto se dá, pois estes boatos tra-tam-se de Fake News (notícias falsas) e circularam nas redes soci-ais, criando intensos debates na internet.

A fúria que se verifica nos comentários sobre o vídeo do suposto deputado flagrado, demonstra o poder de influência das Fake News, especialmente junto aos eleitores. Ironicamente, o vídeo vi-ralizado não era de um político brasileiro, na verdade tratava-se de um vídeo gravado e publicado na Ucrânia, em 2017.

Entretanto, tal denúncia mentirosa teve grande repercussão na in-ternet, fazendo com que os internautas publicassem seus posts, destilando sua indignação nas redes sociais (podendo atingir milha-res ou até milhões de pessoas), estimulando ataques genéricos aos políticos brasileiros e a quaisquer parlamentares supostamente a-pontados como flagrados ou beneficiários daquele ato ilícito, pre-sente no vídeo.

As Fake News ganharam notoriedade após a campanha para elei-ção de Donald Trump, nos Estados Unidos, em 2016, quando as pesquisas apontaram que realmente houve uma influência direta das Fake News nas eleições norte-americanas e que, inclusive, 2-7% do eleitorado teriam acessado, pelo menos, uma das Fake News nas semanas que antecederam a eleição presidencial.

Na Inglaterra, o termo “Fake News” foi classificado como a palavra do ano de 2017, pela editora Collins, e receberá menção em um dicionário britânico. Já na Alemanha, em um campo de 27 milhões

de tweets publicados, relacionados à campanha eleitoral, 14% e-ram Fake News, ou seja, mais de 3 milhões e 700 mil tweets trata-vam de informações falsas. Aliás, existem bots (robôs) que podem publicar mais de mil tweets por segundo, provando, assim, a facili-dade de se viralizar algo inverídico nas redes.

Este tema tem trazido muita preocupação, a ponto de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se mobilizar para combater e inibir as Fake News nas campanhas eleitorais deste ano. Também já existem di-versos projetos de lei apresentados na Câmara e no Senado para criminalizar as Fake News no Brasil.

O grande problema é que tais notícias falsas têm se utilizado do compartilhamento irresponsável de muitas pessoas na rede, que estão disseminando notícias mentirosas, sem verificar previamente sua veracidade. Inclusive, há casos que o compartilhamento é reali-zado após o indivíduo ler apenas a manchete, desconhecendo por completo o conteúdo compartilhado.

Nota-se, também, que o Facebook não tem obtido pleno sucesso no combate às Fake News disseminadas em sua plataforma. Devi-do a estas dificuldades de controle, algumas empresas, que inves-tem milhões em anúncios digitais, já informaram que cortarão seus anúncios do Facebook e do Google, caso não se note uma mobili-zação das duas corporações em um combate eficaz às Fake News.

Revela-se, assim, que a preocupação com o tema é mundial. Toda-via, a apreensão tem surtido efeito na mobilização de órgãos públi-cos e privados para o combate das Fake News. Estas iniciativas são muito importantes para as próximas eleições, principalmente porque já há no mercado empresas que vendem serviços de cria-ção e viralização de Fake News para campanhas políticas.

Portanto, o combate às Fake News deve ser realizado por todos, tanto pelas empresas de tecnologia, como pelos órgãos governa-mentais, e até mesmo por cada um de nós, que hoje temos voz e vez nas redes sociais, modificando nosso papel social e nossa res-ponsabilidade, obrigando-nos a conferir a informação antes de pu-blicá-la ou compartilhá-la. Quem sabe, assim, um amadurecimento efetivo no combate às notícias falsas se materializará, e o impacto das Fake News nas eleições será menor do que o esperado, preva-lecendo a verdade e a própria Democracia.

Autor: Luiz Augusto Filizzola D'Urso

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 7

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

O Saci-pererê, ou simplesmen-te saci, é uma figura presente no fol-clore brasileiro.

Ele é um menino negro e travesso que fuma cachimbo e carrega uma carapuça vermelha que lhe concede poderes mágicos.

Uma das importantes características desse personagem é que ele possui apenas uma perna.

Origem da Lenda do Saci

Originária nas tribos indígenas do sul do Brasil, a lenda do Saci-pererê existe desde fins dos tempos coloniais.

É contada em todas as regiões brasileiras e, por isso, a estória mo-difica-se conforme o local.

Inicialmente, o Saci era retratado como um personagem negro e endiabrado, que possuía duas pernas e um rabo.

A partir da influência africana, ele perde a perna lutando capoeira e adquire o hábito de fumar o pito, ou seja, o cachimbo.

O gorrinho vermelho do Saci-pererê, por sua vez, advém do folclore do norte de Portugal. Era utilizado pelo lendário Trasgo que possuí-a poderes sobrenaturais.

História do Saci-pererê

O Saci-pererê é considerado um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro. Ele se diverte fazendo brincadeiras com os

animais e com as pessoas.

As principais travessuras são trançar os cabelos dos animais, fazer sumir objetos (como os dedais das costureiras), e ainda, assobiar para assustar os viajantes.

Reza a lenda que costuma atrapalhar o trabalho das cozinheiras, trocando os recipientes de sal e açúcar ou fazendo-as queimar a comida.

Além de suas travessuras, é importante notar que o Saci tem o do-mínio das matas e, por isso, possui outra função denominada “farmacopeia”.

Assim, o Saci é o guardião das ervas e das plantas medicinais. Ele conhece suas técnicas de manuseio e de preparo, bem como de sua utilização acerca dos medicamentos feitos a partir de plantas.

A partir disso, em muitas regiões o Saci é considerado um personagem maléfico. Ele guarda e cuida das ervas sagradas presentes na mata e costuma atrapalhar e confundir as pessoas que as coletam sem pedido de autorização.

A lenda garante que para capturar o Saci-pererê, a pessoa deve arremessar uma peneira dentro dos redemoinhos de vento.

Dessa maneira, após capturá-lo, é necessário retirar-lhe o gorro para prendê-lo em uma garrafa.

Acredita-se que o Saci nasceu do broto de bambu, permanecendo ali até os sete anos e, após esse período, vive mais setenta e sete praticando suas travessuras entre os humanos e os animais. Por fim, ao morrer, o Saci torna-se um cogumelo venenoso.

Da redação

31 - Dia do Saci

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Sociedade de grupos

No Brasil, a desigualdade é tamanha que lembra o sistema de cas-tas da Índia, cuja estrutura social é dividida em brâmanes (sacerdotes), os xátrias (guerreiros), os vaixás (comerciantes), os sudras (servos, trabalhadores braçais), e os sem casta, excluídos, os “impuros”, os intocáveis.

Mas as sociedades agrárias pré-modernas eram, também de jure ou apenas de facto, dividas em castas ou em clãs (grupos de pes-soas unidas por parentesco e linhagem). Normalmente, eram dividi-das em quatro grupos sociais, os sábios ou doutos (inclui o clero), os guerreiros (inclui aristocracia), os mercadores e os camponeses.

Na sociedade hodierna, esses mesmos grupos ainda existem em formatos diferentes e disputam o poder de regular as relações soci-ais. Nos dias atuais, a “casta” dos sábios ou doutos está no formato de técnicos e acadêmicos, cientistas, pessoas que atuam na área do conhecimento, a “casta” dos guerreiros está no formato dos mili-tares e das polícias, a “casta” dos mercadores está no formato de empresários, comerciantes, industriais, banqueiros, acionistas, ren-tistas, o pessoal do dinheiro, do capital. E a “casta” dos antigos camponeses está no formato dos operários no chão de fábrica, dos trabalhadores assalariados, do proletariado, e também dos traba-lhadores rurais. Esses grupos da sociedade são representados poli-ticamente na forma de partidos. Os partidos de esquerda represen-tam majoritariamente o grupo dos operários e camponeses. Os de centro representam o grupo dos “mercadores”, o grupo do capital, e os partidos da direita conservadora representam os militares, pro-prietários de terras de grande extensão e religiosos.

Prós e contras, a “casta” dos guerreiros é disciplinada, muito bem regrada. Mas, tem a tendência a ser agressiva e inflexível, porque é especializada em batalhas, em lutas, em medir forças. A “casta”

dos mercadores é muito especializada em economia, em assuntos financeiros, monetários, etc. Mas, tem a tendência de ser mesqui-nha, interesseira e oportunista, é pouco sensível ao grupo dos tra-balhadores assalariados principalmente. O grupo dos doutos é, a-parentemente, o melhor adequado para liderar a sociedade, mas tem a tendência de desdenhar os outros grupos quanto a se ter in-formações e conhecimento, de se achar proprietário da razão e da verdade. O grupo dos trabalhadores assalariados é fundamental para a sociedade, é o que faz tudo funcionar, mas tem a tendência a se inclinar ao rancor e ao vitimismo, ao coitadismo de classe, na-turalmente.

E, se olharmos com atenção ao meio político hodierno, no contexto do Brasil e de vários países também, e nos esforçarmos para ser-mos imparciais, poderemos perceber um conflito desses grupos da sociedade pelo direito de regular o país, em vez de negociações para conciliações de interesses diversos. Uma polarização na soci-edade. E o conflito está cada vez mais acirrado. Os grupos da soci-edade estão intolerantes, não querem ceder a outro grupo que te-nha ideais divergentes dos seus. E entre os vários candidatos à presidência, não encontramos um líder capaz de mediar o conflito entre os grupos oponentes entre si, só indivíduos que querem ga-rantir a imposição das vontades do seu próprio grupo aos outros grupos. Ninguém está conseguindo proporcionar “ferramentas” para solucionar o conflito de ideais e de interesses na sociedade. Os in-teresses de cada grupo oposto ao outro estão “pesando mais” do que se ressaltar a enorme importância do senso diplomático social e comunitário. O perigo que a falta de bom senso e de noção sobre se recusar a fazer concessões é o possível desdobramento em di-reção a uma luta armada entre facções que disputam o poder, a violência, a guerra. O pleito eleitoral de 2018 no Brasil é um eviden-te sintoma de grande imaturidade política, indivíduos políticos são notoriamente idolatrados devido ao que propõem ou ao que já fize-ram, a confiança cega dos eleitores e militantes partidários. Pergun-tas retóricas: até que ponto se deve lutar por qualquer uma das ide-ologias políticas? Qual é o limite para se abraçar causas políticas? Não é preferível ceder os anéis para não perder os dedos? A de-mocracia representativa é realmente o modelo ideal de democraci-a? Terá o modelo de Estado proposto por Montesquieu, se esgota-do? Até que ponto a conciliação de interesses é possível?

Assim como a Revolução Gloriosa inglesa no século XVII, a Revo-lução Francesa no século XVIII, a Revolução dos Cravos portugue-sa no século XX... também o Brasil necessita de uma Revolução Brasileira, que mude completamente a sua realidade. Não é um in-divíduo específico ocupando a presidência da República que vai trazer as mudanças tão necessárias.

Autor: João Paulo E. Barros

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 8

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Família patriarcal no Brasil

O modelo da família patriarcal esteve na ba-se de formação social do Brasil. Muitos as-pectos de nossa sociedade podem ser com-preendidos a partir dele.

O modelo de família patriarcal foi determinante para a constituição do Brasil Colonial

A família, como quaisquer outras instituições humanas, transformou-se ao longo do tempo. E em cada continente do planeta, em cada civilização e cultura específica, a estrutura da organização familiar assumiu formatos que se ajustaram às condições econômicas e sociais ou mesmo influenciou tais condições. Na história da forma-ção da sociedade brasileira, especialmente no período da coloniza-ção do Brasil, o modelo de família que se formou foi o modelo patri-arcal.

O modelo patriarcal, como o próprio nome indica, caracteriza-se por ter como figura central o patriarca, ou seja, o “pai”, que é simul-taneamente chefe do clã (dos parentes com laços de sangue) e ad-ministrador de toda a extensão econômica e de toda influência so-cial que a família exerce. A extensão

No Brasil, esse modelo de família começou a formar-se logo no pri-

meiro século da colonização, século XVI, a partir da herança cultu-ral portuguesa, cujas raízes ibéricas estavam, nessa época, forte-mente vinculadas com o passado medieval europeu – sem contar a forte influência do modelo de patriarcado muçulmano, de quem os portugueses absorveram muitas características.

As diversas regiões brasileiras, inicialmente divididas em capitanias hereditárias, foram controladas por poucas famílias que se apode-raram dos mecanismos de desenvolvimento econômico dessas re-giões. O exemplo mais notório foi o das fazendas de engenho de açúcar no Nordeste brasileiro, especialmente em Pernambuco. Es-se modelo atravessou séculos e, até os dias de hoje, pode-se per-ceber no Brasil traços desse tipo de dominação familiar regional.

O modelo da família patriarcal no Brasil gerou, assim, uma forma específica de organização social, que teve grande implicação em nossa organização política. Trata-se do “patronato político”. Você já deve ter ouvido falar nas aulas sobre República Velha da prática do “apadrinhamento” e do “clientelismo” por parte dos chamados “coronéis” — líderes políticos locais. Pois bem, essas práticas que consistem em “estender os domínios privados”, o âmbito familiar, para a esfera pública, para os domínios da atividade política, têm suas raízes no patriarcalismo.

Autor: Cláudio Fernandes

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O futuro que já não conheceremos

Juntamente com o Museu Nacional ar-deu muita da nossa memória, nosso presente ficou mutilado e nos rouba-ram um futuro que agora nunca co-nheceremos.

Todos intuímos que algo muito impor-tante se perdeu para a humanidade com o incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Sendo bió-logo e conhecendo as coleções científi-cas que abrigava, também compartilho uma raiva e uma tristeza monumental com todas as pessoas com quem falei sobre o assunto, do eletricista que está trabalhando na minha casa em Porto Alegre até meus colegas professores da universidade onde pesquiso e ensi-no Biologia. Todos concordamos que a perda do museu representa um exem-plo muito claro e tangível de uma dinâ-mica tristemente cotidiana para os que vivemos no Brasil: somos traídos vil-mente pelas instituições públicas res-ponsáveis por cuidar do patrimônio da nação. No entanto, poucos conseguem entender todas as dimensões daquilo que perdemos.

Um museu atua em três frentes. Ofe-rece um olhar para o passado, ou seja, um parâmetro para medir mudanças, uma escala de tempo. Também educa, no presente, sobre o mundo que nos rodeia, tanto o físico como o das idei-

as. E, principalmente, cria oportunida-des para resolver problemas que ainda não somos capazes nem de imaginar. Ou seja: abre portas para o futuro desconhecido. E esse potencial, como é imprevisível, é sem dúvida a mais tremenda das perdas que sofremos no domingo passado.

Nos séculos XVIII e XIX, ninguém ima-ginava que a mudança climática causa-da pelos humanos seria um dos maio-res desafios da humanidade no século XXI. No entanto, foram os dados cole-tados sobre a distribuição em altitude da vegetação entre 1773 e 1858 por Alexander von Humboldt e Aimé Bon-pland nas montanhas do Equador − cuidadosamente preservados em cole-ções científicas − que, em 2015, per-mitiram que a humanidade entenda o efeito do aquecimento global na distri-buição da vegetação. Quem diria aos milhares de paleontologistas que dedi-caram suas vidas a coletar e preservar fósseis em todo mundo durante sécu-los, e aos cidadãos que com seus im-postos e doações permitiram que estes cheguem até nossos dias, que esses restos orgânicos mineralizados acaba-riam sendo a evidência empírica defini-tiva de um problema que nem sabía-mos que poderíamos ter: um evento de extinção em massa de espécies, e-quiparável em magnitude à dos dinos-sauros.

Ou, mais perto de casa, o crânio de Homo sapiens conhecido como Luzia esteve 20 anos nas coleções do Museu Nacional até que um pesquisador des-cobriu sua importância. Conhecer a da-ta da colonização da América não é al-go sem importância. Permite, entre outras coisas, entender a capacidade dos humanos de povoar e conquistar um continente.

Fechou-se repentinamente a porta pa-ra futuras descobertas desse tipo, que poderiam ter saído do incalculável pa-trimônio científico do museu. As políti-cas mesquinhas dos sucessivos Gover-nos − cada um agravando uma situa-ção que já era insustentável − em re-lação ao patrimônio só podem ser fruto de uma ignorância superlativa combi-nada com interesses legalmente tur-vos. Mas, na verdade, isso não está muito distante de outros episódios co-mo a recente anistia aos destruidores da selva, a impunidade diante da ca-tástrofe ambiental no Rio Doce e o a-bandono de museus e edifícios históri-cos, que já causou o incêndio que des-truiu em 2010 a coleção do Instituto Butantan, que é responsável pela mai-or parte dos antídotos contra veneno usados no Brasil.

Em um museu de ciências podemos a-prender as semelhanças e diferenças entre os humanos e outras espécies de primatas, ou que nosso corpo contém tanta quantidade de microrganismos (principalmente bactérias, sem muitas das quais morreríamos), que eles equi-valem em número às nossas próprias células. É o lugar onde nossos filhos podem aprender que o ovo evoluiu mi-lhões de anos antes que a galinha. On-de os descendentes do povo Wari’ po-dem ir para entender como viviam seus parentes poucas gerações atrás. É onde aprendemos de forma intuitiva nossa insignificância no universo. No domingo, entretanto, aprendemos nos-sa insignificância no Brasil. Juntamente com o Museu Nacional ardeu muita da nossa memória, nosso presente ficou mutilado e nos roubaram um futuro que agora nunca conheceremos.

Autor: Santiago Castroviejo-Fisher

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 9

Povo que não tem história não tem futuro.

Talvez, o Daesh e a destruição de tudo o que tenha História, nos faça repensar a nos-sa forma colectiva de hoje estar vivos, sem individualismos exacerbados como vem a acontecer.

Não tenhamos dúvidas que “sem História não há Memória, e sem esta, não há Cons-ciência”. Consciência de Civilizações que nos antecederam e às quais – Civilizações – vamos, ou não, acrescentando as nossas existências, as nossas necessárias evolu-ções, as nossas modernidades, os nos-sos conhecimentos, mas sempre fazendo pontes entre o “passado, o presente e o fu-turo”. Se, como o Daesh desfizermos tudo, parecerá que “aparecemos” hoje, sem passado, mas por certo sem futuro, e com um presente demasiado imediato. O

Daesh assume-se como o centro que vai anular a massa cinzenta que são todos os muçulmanos, que não alinham com eles, passando-se a extremistas, Jihadistas, para depois aniquilar, desfazer toda a restante população da Terra, ou convertê-la à sua loucura. Isto é destruir, desfazer. Sem nada reconstruir, sem nada refazer. Hoje, o Dae-sh, tem espaço e tempo para fazer “isto” fa-ce ao mediatismo e ao imediatismo em que estamos, todos, a viver.

Os Refugiados são notícia, depois são os murros na Hungria, depois uns doidos que nos EUA andam aos tiros a matar outros, depois um imoderado de um candidato pre-sidencial republicando a dizer insanidades, que só tem um penteado original, depois a Madame Le Pen que vence pela extrema-direita, e de repente tudo o que se passou ontem, só tem 24 horas, vale muito, mas mesmo muito, uma vez que tudo o que ocor-reu “antes”, esqueceu! E isto é repetitivo e

actual. E, temos que ter Memória, para não largar de vez a História, para não esquecer as Civilizações que nos fizeram chegar ao que “ainda” somos hoje, e ao que talvez de-vamos querer ser amanhã. Se assim o não quisermos fazer, recordando séculos e sé-culos –milénios – de presenças humanas, até hoje, e por exemplo, juntar quem nasceu há 65 anos, há 35 e há 5 e cru-zar experiências, conhecimentos, vivências, vai tudo correr pior, do que o que está hoje a acontecer. E vai vencer o Daesh, não por si, mas pela apatia de todos em queremos não saber ter objetivos de Vida, em não querere-mos construir sem desfazer, passando a Memória e a História para o futuro e vivendo com a qualidade necessária mas não exage-rada e individualista, o hoje, não esvaziando tudo para nada se saber amanhã lá colocar. Ou não, e ficaremos – ficarão – no Vazio! a nem saber estar e Viver!

Autor: Augusto Küttner de Magalhães

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Revolta ou Revolução?

Faltam vozes de sensatez capazes de atrair as convicções da sociedade

As grandes Revoluções não ocorrem por a-caso, nem de um dia para outro. Levam tem-po. Passam por diferentes fases. Seus diri-gentes às vezes se alternam. Umas fracas-sam. Outras são bem sucedidas. Estas últi-mas se prolongam em estado latente. As classes dirigentes não se preocupam em fa-zer as transformações demandadas pela so-ciedade. Confiam na força do aparato esta-tal de segurança e repressão. Com o tempo, o desgaste se agrava e um pequeno inci-dente deflagra a luta decisiva. O Poder Exe-cutivo está impotente, o Congresso disper-so, tomado por interesses pessoais e setori-ais e o Judiciário começa a dar sinais de partidarismos. Às vezes me pergunto se não será isto que estamos presenciando no Bra-sil: o caos que precede grandes transforma-ções.

Faltam vozes de sensatez capazes de atrair as convicções da sociedade. Política depen-de essencialmente da capacidade dos que se acham preparados para mandar e con-vencer a população de suas ideias e sobre-tudo de sua capacidade de pô-las em práti-ca. A recente eleição do jovem Emmanuel Macron na França bem revela a sua capaci-dade de prometer com credibilidade.

Mas não é só no plano interno que estas se-mentes revolucionárias estão verdejando. Atenuado ou superado o conflito ideológico, o mundo voltou de certa forma ao modo anti-go da interação internacional: o jogo de po-der.

Em seu magistral livro “Sobre a Revolução”, a grande pensadora Hannah Arendt comen-ta que “os que acreditam na política de po-der e, portanto, na guerra como o último re-curso da política externa estão fadados a descobrir num futuro não muito distante que

terão se tornado mestres numa interação inútil e obsoleta”.

Arendt escreveu esse texto em 1963. Hoje certamente ficaria surpresa em dar-se conta de que esse futuro ainda está muito distante e que o conceito ainda está longe de se tor-nar inútil e obsoleto. Os últimos desenvolvi-mentos ligados à situação na península co-reana, assim com ao perene conflito médio-oriental, recordam-nos a cada dia a fragilida-de do sistema de segurança expresso pela Carta da ONU. O uso da força ou da amea-ça de força continua a orientar os aconteci-mentos em escala mundial. A política prati-cada por Donald Trump e a política imperial levada a cabo pela Rússia de Putin para conter e, se possível, destruir a força da Uni-ão Europeia são exemplos de um jogo em que eventuais acordos só serão alcançados pelo uso do poder.

A Europa terá exagerado ao levar a exten-são da União Europeia até as fronteiras físi-cas da Rússia. Essa última terá exagerado ao intervir na Ucrânia e anexar a Crimeia. A China – que hoje pratica uma política muito mais cautelosa do que a que levava a cabo até os anos 80 – terá também exagerado ao avançar suas posições supostamente defen-sivas pelo Mar da China afora, afetando a segurança do Japão e os interesses norte-americanos no Pacífico.

O arco político-estratégico que domina o mundo desde a queda de Napoleão Bona-parte em 1815 – Reino Unido, EUA, Cana-dá, Austrália e Nova Zelândia –, assume po-sições defensivas. O Brexit, porém, sem dú-vida debilitou o papel estratégico global da União Europeia.

O equilíbrio mundial dá sinais de que voltou a depender de um equilíbrio de forças milita-res. E as Nações Unidas continuam a atuar de forma engessada, e quase irrelevante nos grandes conflitos internacionais. Vai pouco a pouco se transformando numa or-ganização de assistência humanitária, mas pouco relevante no gerenciamento das ame-aças à segurança global.

As regiões periféricas continuam periféricas. Na África e na América Latina, o que se vê é pouco ou nada relevante. Vê-se corrupção ativa e passiva, vê-se perda de controle de recursos naturais estratégicos. Vê-se sobre-tudo falta do que fazer no mundo. Mesmo os

discursos “moralizantes” ou “idealistas”, co-mo os que o Brasil costumava fazer na O-NU, tornaram-se praticamente inócuos em um contexto internacional completamente conduzido pelos detentores de poder real, voltado para regiões estratégicas de seus interesses diretos e estratégicos.

Arendt comenta que a questão social come-çou a desempenhar um papel revolucionário na era moderna e que os homens começa-ram a duvidar que a pobreza é inerente à condição humana, inevitável e eterna.

Essas divagações assaltam meu espírito no momento em que se tornam agudas as con-frontações nas cidades e no campo brasilei-ro. As imagens recentes, principalmente do Rio de Janeiro, são extremamente preocu-pantes, ao retratar gangues que controlam os entorpecentes em boa parte consumidos pela alta classe média e pela classe alta, os ataques às forças da ordem, em muitos ca-sos corrompidas, e também as lutas pelo controle do tráfico que são a expressão cla-ra – e hoje em dia instantânea – dos graves problemas a que somos submetidos.

Lembro do célebre diálogo ocorrido na noite de 14 de julho de 1789 em Paris quando o Rei Luís XVI ouviu o relato de um cortesão sobre a Queda da Bastilha, dos ataques po-pulares a guardas que já então se bandea-vam para o lado popular e perguntou: “É u-ma revolta?” e ouviu então de seu interlocu-tor : “Não, Majestade! É uma revolução!”

Será que isso é o que nos aguarda? Há uma grande distância entre o debate político e institucional em curso no Congresso e a rea-lidade das ruas. A operação Lava Jato trans-corre com lentidão e talvez isso seja apropri-ado para não acirrar demasiadamente os ânimos. Mas os presos são soltos e os cul-pados resistem. E a sociedade fica ainda mais insegura e desesperançada com o fu-turo. Isso é muito grave, tanto mais porque a confiança no futuro foi sempre o principal elemento que manteve o Brasil unido e con-fiante.

Não chego, porém, a pensar, como Hannah Arendt, que o conceito de liberdade possa estar-se desvanecendo. Prefiro refugiar-me em Guimarães Rosa, para quem “na vida tudo termina bem; se as coisas não estão bem é porque ainda não terminaram!"

Autor: Luiz Felipe de Seixas Corrêa

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 10

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AS ABELHAS E A

POLINIZAÇÃO

As abelhas formam um gru-po diverso e numeroso, compreendendo mais de 20 mil espécies no mundo. No Brasil, estima-se a existên-cia de mais de 3.000 espé-

cies diferentes de abelhas, mas apenas pouco mais de 400 estão catalogadas. As espécies nativas são os meliponíneos, ou abelhas nativas sem ferrão, que compõem a grande maioria das espécies de abelhas de nosso país.

Mas também existem as Apis Mellifera, conhecidas como as abe-

lhas do mel ou africanizadas. Estas são abelhas exóticas, híbridos do cruzamento de abelhas trazidas da Europa e da África, e as mais utilizadas na apicultura: são abelhas com ferrão.

Existem também o grupo das abelhas solitárias e ainda as abelhas do gênero Bombus, popularmente conhecidas como mamangabas.

Ao contrário de outros grupos de insetos, tanto as abelhas adultas, quanto suas larvas e pupas, alimentam-se exclusivamente de re-cursos florais. Por isso, para suprir sua necessidade alimentar, as abelhas visitam uma grande variedade de flores, colhendo o pólen (fonte de proteína) e o néctar (para a produção do mel). A atividade de polinização é, portanto, uma ação involuntária dos polinizado-res, mas essencial à vida das plantas, que se utilizam de cheiros, cores e sabores para atraí-los.

Da redação

Page 11: 131 - OUT - 2018 · O PAPEL DO ARTISTA Há um malabarismo no ato da sobrevivência do artista. Ele vive de aplausos, porém não pode se envaidecer apenas com isso e sim valorizar

A florada do ipê e a rede social secreta da natureza

Em setembro, em várias regiões do Brasil, floresce o ipê, uma árvo-re de flores grandes e vistosas que embelezam as matas e cerra-dos, praças e ruas das cidades. Os galhos sem folhas contrastam com as inflorescências densas, nas quais milhares de flores se es-premem para expor a beleza de seus estames e estigmas e, assim, atrair aves, abelhas, borboletas e outros insetos polinizadores que auxiliarão a produzir as sementes que serão dispersas pelo vento em alguns meses. É impossível não notar essa florada que desper-ta interesse e curiosidade em muita gente.

O botânico americano Alwyn Gentry foi um dos primeiros cientistas a estudar as plantas tropicais da família das bignoniáceas e suas interessantes estratégias para sinalizar aos animais a presença de néctar e pólen. Ele observou que uma florada colorida, massiva e curta atrai uma gama grande de animais que aprenderam, ao longo da evolução, que a visita a uma árvore chamativa como esta é a certeza de encontrar alimento.

Nas mais de 20 espécies de ipê que ocorrem no Brasil, as flores são amarelas, brancas, roxas e rosadas e, cada uma ao seu tempo, disputam a atenção dos polinizadores. O zum-zum dos animais é especialmente evidente nas plantas que estão nas suas áreas natu-rais – ou seja, nas matas dos parques e demais áreas protegidas –, mas pode ainda ser ouvido nas árvores usadas na arborização de inúmeras cidades brasileiras.

Por ser bem marcada temporalmente, é comum que a florada do ipê estimule nas pessoas um espírito observador, o mesmo que moveu o botânico Gentry a começar a associar os períodos de flo-rada com suas próprias atividades do dia a dia. Lembrar “o que eu estava fazendo na florada do ano passado?” ou “será que a florada está acontecendo sempre na mesma época?” são indagações co-muns de um bom observador da natureza e do mundo que o cerca.

Uma associação recorrente envolve a observação de que o clima tem se tornado cada vez mais quente, as chuvas seguindo ritmos imprevisíveis – de tempestades torrenciais a secas severas – e a

natureza supostamente se adaptando a essas mudanças. A ciência tem mostrado milhares de evidências de alterações nos ritmos de plantas e animais devido às anomalias climáticas. E por que não pensar que, seguindo este ritmo alucinante de emissões de carbo-no na atmosfera e de elevações de temperaturas que a Terra está sofrendo, o próprio ipê poderá modificar sua florada, adiantando, atrasando ou mesmo dessincronizando seu relógio biológico... será, então, que no futuro teremos uma florada descompassada?

É triste pensar que o homem seja capaz de descaracterizar um rit-mo que a história evolutiva das plantas moldou ao longo de milhões de anos. No entanto, essa pegada gigante que o homem moderno está deixando no planeta, especialmente nos últimos 100 anos, le-va a crer que perderemos ainda muito mais das espécies e das su-as relações ecológicas.

Enquanto a florada do ipê não muda de forma mais perceptível, te-mos a chance de observá-la e admirá-la. Somos milhões de pesso-as que, ao mesmo tempo, observamos, fotografamos e publicamos as flores da estação. Os mecanismos evolutivos que levaram as plantas a florescerem massivamente foram determinados pelos po-linizadores e o clima, não pelo homem. No entanto, a conexão en-tre indivíduos da espécie humana devido a um bem oferecido pela natureza – no caso, a beleza das flores - é algo recente e real e que nos faz refletir sobre o passado e o futuro de nossa espécie.

A natureza é - e sempre foi - capaz de criar laços estreitos entre nós, pois dependemos dela para sobreviver. Seja na produção de água para o nosso consumo, na renovação do ar atmosférico, na reciclagem do solo que utilizamos na agricultura, na polinização de espécies alimentícias ou no bem-estar promovido pela contempla-ção da natureza, não é possível o homem existir sem as áreas na-turais. A natureza promove uma “rede social secreta” de pessoas que se sentem humanas e pertencentes a um mesmo planeta. Se dermos maior valor a essas conexões únicas, seremos capazes em pensar num futuro sustentável e possível.

Autora: Márcia C. M. Marques

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 11

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O acidente Vascular Cerebral (AVC), popular-mente conhecido como derrame, é uma das principais causas de morte e de sequelas no mundo e no Brasil. A doença cerebrovascular atinge 16 milhões de pessoas ao redor do globo a cada ano. Dessas, seis milhões morrem. Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a adoção de medidas urgentes para a prevenção e tratamento da doença.

O risco de AVC aumenta com a idade, sobretu-do após os 55 anos. O aparecimento da doença em pessoas mais jovens está mais associado a alterações genéticas. Pessoas da raça negra e com histórico familiar de doenças cardiovascula-res também têm mais chances de ter um derra-me.

No Brasil, são registradas cerca de 68 mil mor-tes por AVC anualmente. Um número ligeira-mente inferior ao registrado no ano anterior: 68,9 mil. A doença representa a primeira causa de morte e incapacidade no País, o que gera grande impacto econômico e social.

Por isso, o governo federal prioriza o combate à doença com foco na prevenção, uma vez que 90% dos casos podem ser evitados. E, caso o-corra, o paciente pode ser tratado, se chegar rápido a um hospital preparado para dar o aten-dimento imediato.

Como consequência, foi elaborada “A Linha de Cuidado do AVC” na Rede de Atenção às Ur-gências. Ela deve incluir a rede básica de saú-

de, SAMU, unidades hospitalares de emergên-cia e leitos de retaguarda, reabilitação ambulato-rial, programas de atenção domiciliar, entre ou-tros aspectos.

O Ministério da Saúde deve investir, até 2014, R$ 437 milhões para ampliar a assistência a víti-mas de Acidente Vascular Cerebral. Boa parte deste montante (R$ 370 milhões) será destinado ao financiamento de leitos hospitalares em 151 cidades. O restante vai ser aplicado no trata-mento trombolítico (uso de medicação para des-fazer o coágulo e normalizar o fluxo sanguíneo que chega ao cérebro).

O AVC decorre da insuficiência no fluxo sanguí-neo em uma determinada área do cérebro e tem diferentes causas: malformação arterial cerebral (aneurisma), hipertensão arterial, cardiopatia, tromboembolia (bloqueio da artéria pulmonar).

Segundo o Ministério da Saúde, o fumo é res-ponsável por cerca de 25% das doenças vascu-lares, entre elas, o derrame cerebral.

O mais comum é o paciente que sofreu um AVC apresentar sequelas. Entre as mais frequentes estão dificuldade na fala e paralisação de parte do corpo.

O diagnóstico é feito por meio de exames de imagem, que permitem identificar a área do cé-rebro afetada e o tipo do derrame cerebral. Há dois principais tipos de AVC: o isquêmico (85% dos casos), quando há parada do sangue que chega ao cérebro, provocado pela obstrução dos vasos sanguíneos; e o hemorrágico, ligado a quadros de hipertensão arterial que causa he-

morragia dentro do tecido cerebral.

Os sintomas do AVC isquêmico são fraqueza de um lado do corpo, dificuldade para falar, perda de visão e perda da sensibilidade de um lado do corpo. Normalmente, o tipo hemorrágico traz avisos, como alteração motora, paralisia de um lado do corpo, distúrbio de linguagem, distúrbio sensitivo, alteração no nível de consciência. Mas todos os sinais dependem do local do cérebro que foi acometido. É o mais grave e tem altos índices de mortalidade.

O neurologista Fábio Porto alerta que é muito comum o idoso apresentar o AVC mais de uma vez. Nesse caso, a somatória de lesões no cére-bro pode dar problemas de memória. “Hoje as isquemias cerebrais têm grande contribuição para os casos de demência no País”, afirma.

A médica Sonia Brucki, do Departamento Cientí-fico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimen-to da Academia Brasileira de Neurologia, explica que muitas vezes o derrame traz alguns sinais, mas na maior parte dos casos não vem com avi-sos. “O importante é manter a saúde em ordem, fazer sempre um acompanhamento – uma vez por ano, para quem não tem nenhum problema”, orienta.

O tratamento preventivo engloba o controle de vários fatores de risco vasculares como a pres-são arterial, diabetes, colesterol, triglicérides, doenças cardíacas, além da necessidade de não fumar, ter uma alimentação saudável e pra-ticar exercícios físicos.

Da redação

29 - Dia Mundial do AVC

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Brasil tem dificuldade de atrair jovens para a carreira de professor

Segundo estudo do BID, 5% dos jovens de 15 anos querem dar au-las.

O Brasil, assim como outros países da América Latina, tem dificul-dade em atrair jovens talentosos para a carreira de professor. Essa é uma das conclusões do estudo Profissão Professor na América Latina - Por que a docência perdeu prestígio e como recuperá-lo?, divulgado em 27 de Julho de 2018 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

No Brasil, apenas 5% dos jovens de 15 anos pretendem ser profes-sores da educação básica, enquanto 21% pensam em cursar enge-nharia. No Peru, o índice dos que pretendem optar pela docência é de menos de 3%, contra 32% que querem se tornar engenheiros. Por outro lado, em países onde a profissão é mais valorizada, o in-teresse tende a ser maior, como na Coreia do Sul, onde 25% dos jovens têm a intenção de lecionar, e na Espanha, onde o índice chega a quase 20%.

Entre as razões para o desinteresse para atuar na educação básica estão, segundo a pesquisa, os baixos salários. “Mesmo nos últimos anos, após uma década de incrementos nos salários dos professo-res, eles continuam a ganhar consideravelmente menos do que ou-tros profissionais”, enfatiza o texto.

A partir dos dados das pesquisas domiciliares no Brasil, Chile e Peru, o estudo do BID mostra que os educadores ganham cerca da metade da remuneração de profissionais com formação equivalen-

te. No Equador, a diferença é menor, mas os professores ainda re-cebem 77% da remuneração de outras áreas. No México, os venci-mentos dos trabalhadores da educação é de 83% dos de outros ramos.

Falta de infraestrutura

Além da questão financeira, o estudo aponta para as condições de trabalho como razão do desinteresse dos jovens pela docência. “Muitas vezes a infraestrutura das escolas latino-americanas é defi-ciente em relação a equipamentos e laboratórios e até mesmo em termos de serviços básicos”, ressalta o documento.

O estudo menciona as informações levantadas pelo Laboratório La-tino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação em 2013 sobre escolas de 15 países latino-americanos, incluindo o Brasil. Na ocasião, foi constatado que 20% dos estabelecimentos de ensi-no não tinham banheiros adequados, 54% não tinham sala para os professores e 74% não contavam com laboratório de ciências.

Desinteresse

O estudo aponta ainda que muitos jovens acabam seguindo a car-reira docente “por eliminação, não por vocação”. Recuperando da-dos do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2008, a pesquisa destaca que, à época, 20% dos estudantes de ensino superior com foco no magistério haviam feito a opção para ter uma alternativa caso não conseguissem outro emprego e 9% por ser a única possibilidade de estudo perto de casa.

“Ser professor na América Latina não é uma carreira atraente para jovens talentosos do ponto de vista acadêmico. Não se pode igno-rar o fato de que muitos futuros professores decidem frequentar um curso de carreira docente exatamente por ser uma carreira mais acessível no aspecto acadêmico, e não necessariamente por terem uma vocação pedagógica”, analisa o estudo.

Reflexos

Esse problema tem, junto com outros fatores, reflexos no desempe-nho dos estudantes. Os dados do Programa Internacional de Avali-ação de Alunos (PISA), citados pela pesquisa, mostram, por exem-plo, que os conhecimentos em leitura, matemática e ciências dos jovens de 15 anos da região está dentro dos 40% dos com pior re-sultado entre os países da Organização para a Cooperação e De-senvolvimento Econômico (OCDE). O percentual dos estudantes que não atingem o nível básico das competências é mais do que o dobro da média da OCDE.

Autor: Daniel Mello Repórter da Agência Brasil São Paulo

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 12

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Dia 15 - Dia do Professor

A Educação como revolução social

Partindo do princípio que a educação é fundamen-tal para a construção de uma sociedade democrá-tica em suas dimensões

social, ética e política escola vem buscando construir mudanças no paradigma da educação através de seus colaboradores. O homem é um ser inacabado, por essa razão está em constante busca e es-sa busca se dá por meio da educação que deve ser essencialmen-te um ato de conhecimento e conscientização e que, por si só não leva a sociedade a se libertar da opressão. A escola deve servir co-mo instrumento de conscientização do cidadão, extrapolando as-sim, sua função de mera transmissora de conhecimento e lançando-se numa ação social diretamente relacionada à formação do senso crítico, direcionada para a intervenção e mudança da realidade so-cial.

A educação escolar sempre foi fator de dominação colaborando na construção de um homem obediente e submisso. A acelerada revo-lução tecnológica indica transformações radicais em todo o sistema

econômico mundial como às mudanças na organização do trabalho que estão a exigir um trabalhador com competência para atuar na sua área e habilidades gerais de abstração, comunicação e integra-ção. Assim, a educação como processo de mudança social, tem seu papel cada vez mais relevante, são muitos os avanços tecnoló-gicos e de comunicação, logo, não basta ao homem receber infor-mações, aprender tecnologias, se nele não forem despertadas mo-tivações para vencer os obstáculos do mundo em vertiginosa mu-dança e que lhe dêem sentido à vida em todas as dimensões.

Desta forma, a educação deve estar intrínseca ao amor e a espe-rança, deve ser autêntica, autônoma e coletiva. A responsabilidade social da escola e dos profissionais de educação para o processo de aprendizagem se desenvolve através do relacionamento inter-pessoal entre escola, professores e comunidade que pensam o cur-rículo de forma a fortalecer a escola como unidade do sistema es-colar e consequentemente promover uma mudança social no senti-do de reconstruir uma sociedade mais justa e igualitária para todos, ou seja, as mudanças se fazem a partir da nossa ação cotidiana na realidade concreta de forma que se possa aprofundar a democracia como princípio para uma boa convivência.

Da redação

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A data foi instituída em 1975 pelo International Music Council, uma instituição fundada em 1949 pela UNESCO, que agrega vários organismo

Objetivos do Dia Mundial da Música:

Promover a arte musical em todos os setores da sociedade;

Divulgar a diversidade musical;

Aplicação dos ideais da UNESCO como a paz e amizade entre as pessoas, a evolução das culturas e a troca de experiências.

Neste dia decorrem vários concertos em todo o país, de forma a celebrar o Dia Mundial da Música. Muitos destes concertos são de entrada livre. Este é também o dia ideal para comprar discos e ins-trumentos musicais, uma vez que várias lojas apresentam descon-tos em artigos de música.

A música é uma forma de arte adorada por milhões de pessoas es-palhadas pelo mundo, fazendo parte do quotidiano. A música é até uma forma de unir as pessoas do mundo e é considerada como um alimento para a alma.s e individualidades do mundo da música.

Este dia foi instituído em 1991 pela (ONU) Organização das Na-ções Unidas e tem como objetivo sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa. A mensagem do dia do idoso é passar mais carinho aos idosos, muitas vezes esquecidos pela sociedade e pela família.

No Dia Internacional do Idoso decorrem várias iniciativas para a po-pulação idosa, nomeadamente palestras, sessões de atividade físi-ca e workshops de artes manuais.

Esta é uma data que homenageia e celebra o dom e a arte dos compositores, ou seja, aquelas pessoas criam música, seja a sua letra ou a sua melodia.

O Dia Mundial do Compositor é comemorado em 15 de Janeiro, no entanto, o Brasil é o berço de grandes compositores, merecendo uma data especialmente dedicada para esses nomes.

Compositores brasileiros famosos

Heitor Villa-Lobos, Chico Buarque, Gilberto Gil, Cazuza, João Gil-berto, Tom Jobim, Cartola, Raul Seixas, Caetano Veloso, Noel Ro-sa, Vinícius de Moraes e muitos outros marcaram a história da Mú-sica Popular Brasileira com as suas composições.

O Dia das crianças é uma data comemorativa celebrada anualmen-te em homenagem às crianças, cujo dia efetivo varia de acordo com o país. Países como Angola, Portugal e Moçambique adota-ram o dia 1 de junho. No Brasil é celebrado em 12 de outubro.

Neste dia devemos nos lembrar não só dos presentes das nossas crianças, nascidas e criadas em um mundo muito diferente daque-les 22 milhões que passam fome no Brasil e, dos 300 milhões delas que passam fome no mundo.

Cristóvão de Colombo nascido em Génova, entre 22 de agosto e 31 de outubro de 1451 e faleceu na cidade Valladolid, 20 de Maio de 1506.

Foi um navegador e explorador italiano, responsável por liderar a frota que alcançou o continente americano em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha.

A data foi comemorada oficialmente pela primeira vez em 1992, com o objetivo de alertar a população para a necessidade de de-

fender um direito básico do ser humano.

Antes, a 17 de outubro de 1987, Joseph Wresinski, o fundador do Movimento Internacional ATD Quarto Mundo, convidou as pessoas a se reunirem em honra das vítimas da fome e da pobreza em Pa-ris, no local onde tinha sido assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ao seu apelo responderam cem mil pessoas.

A erradicação da pobreza e da fome é um dos oito objetivos de de-senvolvimento do milénio, definidos no ano de 2000 por 193 países membros das Nações Unidas e por várias organizações internacio-nais.

Neste dia se dá voz aos pobres e se unem esforços para acabar com a pobreza. O tema de 2016 é "Passando da humilhação e da exclusão para a participação: acabando com a pobreza em todas as suas formas".

Esta data tem o objetivo de chamar a atenção de toda a comunida-de sobre a importância de pensar e manter bons hábitos alimenta-res para as crianças, jovens e adultos estudantes.

Uma boa alimentação é fundamental para o desenvolvimento da capacidade cognitiva dos alunos, ajudando no rendimento escolar e proporcionando outras melhorias, como: aumento da qualidade do sono, da capacidade respiratória e a prevenção do aparecimen-to de doenças cardiovasculares, por exemplo.

É essencial a introdução de bons hábitos alimentares desde os pri-meiros anos de vida do indivíduo.

Para ajudar nesta tarefa (que também deve ser acompanhada de perto pelos pais ou responsáveis), foi criado o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que desde 1955 contribui para a construção e fortalecimento de hábitos alimentares saudáveis para os alunos de educação básica das redes públicas de ensino.

Nesta data, as escolas também costumam realizar palestras ou workshops direcionados aos responsáveis dos alunos, explican-do e dando dicas de como manter a alimentação saudável para ca-da faixa etária.

Fundado oficialmente em 20 de janeiro 1941, o Ministério da Aero-náutica foi criado espelhando outros modelos de organização das forças aéreas, principalmente a Força Aérea Real (Reino Unido, 1918), a Regia Aeronáutica (Itália) e a Força Aérea da França, am-bos na década de 1920.

A data homenageia o Saci-Pererê, figura mitológica do imaginário folclórico brasileiro. O Dia do Saci foi criado com o intuito de ajudar a valorizar o folclore nacional, ao invés do Dia das Bru-xas (Halloween), que é celebrado no mesmo dia e que nada tem a ver com a cultura do Brasil.

Origem do Dia do Saci

Com o objetivo de fazer resistência à cultura norte-americana, a Comissão de Educação e Cultura elaborou o Projeto de Lei Federal nº 2.479, de 2013, que institui o31 de Outubro como sendo o Dia do Saci.

No entanto, em São Paulo, a Lei nº 11.669, de 13 de Janeiro de 2004, já oficializa o dia 31 de Outubro como Dia do Saci no estado. Várias outras cidades também já decretaram leis que oficializam a data, com o mesmo intuito de reforçar a cultura e folclore nacional.

“Entendemos que a comemoração anual do “Dia do Saci” permitirá um contato sistemático com a variedade e a beleza das tradições do País, de modo a fortalecer o processo de consolidação da iden-tidade nacional bem como a auto-estima do povo brasileiro".

Outra data que também celebra o Saci-Pererê, assim como todos os outros personagens míticos da cultura brasileira é o Dia do Fol-clore.

Fonte: Callendar

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana - Data Comemorativas Página 13

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21 - Dia Nacional da Alimentação na Escola

01 - Dia Internacional das Pessoas Idosas

01 - Dia Internacional da Música

17 - Dia Intern. da Erradicação da Pobreza

07 - Dia do Compositor Brasileiro

12 - Dia das Crianças

12 - Descobrimento da América

23 - Dia da Força Aérea Brasileira

31 - Dia do Saci

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210 milhões de sonhos na Locomotiva chamada Brasil Somos, aproximadamente, 210 milhões de brasileiros/as, e, consequentemente, 210 milhões de desejos e de anseios na locomotiva cha-mada Brasil que segue, há mais de quinhentos anos, tentando arrancar alegria e esperança no e do futuro[1].

A esperança, nos últimos anos, a partir dos golpes disfarçados de éticos e de legais, “com o judiciário e com tudo[2]”, amplamente a-poiados pela mídia tradicional, se abalou, mas não desvaneceu ou morreu nos corações mais ávidos por um país justo, isonômico e equânime, em que a felicidade sempre foi o cerne e principal proje-to de vida. Ela segue, de alguma forma, e, até certo ponto, acesa e vivaz nos corações de muitos/as brasileiros/as, tanto que nestas eleições de outubro de 2018, mesmo diante de tantas fragilidades, desesperanças e insustentabilidades gestadas por estruturas políti-co-jurídico-midiáticas da dependência, seguem acreditando que ou-tro Brasil ainda é viável, ainda que com evidências corroborantes de que os votos dos atores sociais mais frágeis sócio-político-economicamente nem sempre são respeitados no país. A esperança continua tão ardente na mente e no coração de uma gama gigante de brasileiros/as que, mesmo cônscios/as de que há uma metrificação bem diferente entre o voto das elites e o do sufrá-gio dos pobres, e, por isso mesmo, balizado como inferior, não pen-sado, alienado, esse povo (composto pela classe trabalhadora, o-perária, de chão de fábrica ou até mesmo dos escritórios da ilusão) segue firme na luta, acreditando que a revolução é possível e ne-cessária. A tal métrica hierarquizante de valorização ou não do vo-to, dependendo do ator social, escancara-se, pornograficamente e por meio de uma maldade banalizada, diria, através de materialida-des discursivas nos lócus mais desenvolvidos economicamente no Brasil atual, quando, ao final dos últimos pleitos, podemos citar e-xemplos a partir das redes sociais e em outras virtualidades do e-xistir, novas territorialidades de disputa e de opressão, terrenos fér-teis para a conexão entre povos e saberes, mas, também, para co-vardias, verdadeiras arenas que (se não forem usadas de forma consciente e sustentável) servem para a promoção do ódio contra os nordestinos e/ou outros povos historicamente sofridos com la-tências do tipo “ajude o Brasil, mate um nordestino afogado”. Na história recente, e não quero me estender e nem convencer nin-guém acerca da teoria do golpe, pois, sigo a linha Saramago de que toda tentativa de convencimento do outro é um ato de violên-cia, bastando, para mim, as expertises de cientistas políticos/as re-speitados/as e dos/as cidadãos/ãs comprometidos/as com análises não simplistas, entenda quem quiser e tiver capacidade para tal, presenciamos a violência simbólico-concreta do menoscabo aos votos de mais de 54 milhões de brasileiros/as com o estupro (indultem-me o termo substantivo, pois não encontro outro mais a-propriado e não sou dado a eufemismos) da democracia com a destituição da Presidenta Dilma, eleita democraticamente e conde-nada pela maioria dos Deputados e dos Senadores em nome da hipocrisia em um ato cênico bizarro, depois homologado pelo judici-ário. Em relação à referida hipocrisia dos parlamentares, ela se concreti-za no fato de que parcela considerável dos atores que condenaram a primeira mulher a ocupar a cadeira da Presidência da República Federativa do Brasil estava, na época (e está), envolvida em es-quemas históricos de corrupção e em outras ilegalidades, mas que, mesmo assim, valendo-se do ódio fomentado pela mídia tradicional irresponsável, a serviço das elites (peço aos de classe média que não tomem as dores com minhas críticas e, principalmente, não se sintam de elites, pois não o são e estão distantes de sê-lo) conse-guiu, em nome de crenças, da família, para o sustento do esboço do ódio, confundir e instaurar a desunião de todo o país transfor-mando a nação em um campo de embates e combates político-

ideológicos entremortadelas e coxinhas, ou outros que não se en-caixam nem em uma nem em outra dessas nomenclaturas. Manter viva a esperança é importante, aliás, é imprescindível, mas o/a brasileiro/a precisa sair do campo onírico para a práxis política. Acreditar, por exemplo, que o resultado presidencial das eleições de 2018 é a solução é um tanto quanto ingênuo e imaturo. Nesse sentido, é preciso mencionar que necessitamos, com urgência, de maturidade político-intelectual e de outra arquitetura-design mental que nos possibilite novas rotas e, principalmente, o desenvolvimen-to da capacidade para novas reflexões e críticas. Diante de saberes e consciências nesta vertente, perceberemos que se não renovar-mos as Casas do Legislativo – o Senado e a Câmara dos Deputa-dos – pensando que o/a presidente/a, sozinho/a, mudará os rumos da nação, teremos o de sempre, ou seja, os mesmos ingredientes para o cozimento das pizzas e dos bolos para os banquetes da cor-rupção com o envolvimento de membros de quase todos os setores e instituições, pois a corrupção parece haver atingido um caráter institucionalizado. Será a partir da sabedoria e da maturidade cida-dã que daremos início a uma pequena revolução e, desta forma, não seguiremos fornecendo o capital nutricional para a horrenda festa das pizzas. Ademais, menciono que nesse trem nação, com uma nacionalidade forjada em dor, a ferro e fogo, em escravidão e em injustiças, na exploração da vida em todos os limites semântico-semiológico-sociológico-econômico-políticos, nos vagões que em pleno século XXI, para os desvalidos e atores sociais frágeis, os explorados, vio-lentados e marginalizados, lembram os navios negreiros do poeta condoreiro que se fundem com as pernas drummondianas, bran-cas, pretas e amarelas, do Poema de sete faces, para pensar es-ses seres em movimento que constroem a nação, para, de alguma forma, construir uma intersecção semântica de crítica ao modus o-perandi histórico da elite colonial brasileira de capitalismo depen-dente de exploração dos verdadeiros seres que movimentam e constroem – cotidianamente e rotineiramente – o gigante adormeci-do – negros, negras, indígenas, quilombolas, sem-terra, sem-teto, artistas de rua em busca do pão de cada dia, nordestinos no aban-dono, pobres nas fronteiras do Sul e do Norte que se tornam vira-latas em relação aos gringos ianques ou eurocêntricos, mas xenó-fobos no cenário latino-americano com violência contra os venezue-lanos e outros povos na diáspora forçada em busca somente do direito à existência e trânsito pelo mundo, moradores de favelas do Rio e de São Paulo, os marginalizados ambientais do Rio Doce e de tantos outros rincões do Brasil, ribeirinhos e povos das florestas do norte, aqueles/as com algum tipo de necessidade física, LGBTS, pobres em geral e pessoas que sofrem algum tipo de estigma, seja pela fé que professam ou por qualquer outra questão ideológica. E como no Poema de sete faces do saudoso poeta mineiro, a espe-rança, nesta eleição, procura novas direções, não somente à es-querda, ao centro ou à direita, mesmo sendo difícil acreditar nesse processo como revolução, pois um ato revolucionário cabe mais que em uma urna, agora não apenas pernas de três cores se deslo-cam, mas um infinito de pernas multicores movidas a sonhos, mes-mo que em movimentos incertos em direção ao controle da cabine comandada pela elite há séculos, mostrando a estas categorias so-ciais privilegiadas historicamente ao sabor do caviar de terras do mar além, que pobre também pode e deve decidir qual o ponto final a que o país deve chegar. Por último, destaco que mesmo diante de todas as intempéries polí-ticas a partir deste sistema hipoteticamente democrático de escolha de nossos representantes pelo voto, ao longo de anos, não passa-mos de iludidos, de alienados sendo conduzidos pelos interesses da elite econômico-financeira e que este jogo precisa virar a partir da renovação da esperança. Que com a esperança derrotemos os horrores em forma de mito que se avolumam e a esperança atinja a dimensão de uma fênix imortal! [1] Expressão que tomo emprestado do MAIS. [2] Expressão que cunho a partir de áudios vazados de Jucá.

Autor: Elissandro Santana

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 14

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

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ESTADO X GOVERNO, POLÍTICA X POLÍ-TICA PARTIDÁRIA; SISTEMA ELEITORAL

X ELEIÇÕES

No Brasil, se confunde Estado com Gover-no, Política com Política Partidária. O Estado é permanente e contém as instituições, a burocracia, constituição federal, o povo. Go-verno é aquilo que se elege de 4 em quatro anos cuja governação NÃO pode alterar o Estado através da sua política de governo. Política é relativa ao Estado; Política Parti-dária é relativa ao Governo, aplicada pela legenda partidária que ganhou as eleições.

Exemplo básico. A Monarquia Portuguesa tinha Estado e Política, mas, não tinha parti-do político, que, aliás, é uma invenção bem nefasta do século XX. O Governo da Coroa era exercido SIMULTANEAMENTE pelas Côrtes compostas pela: Nobreza (civil, ecle-siástica e militar) e o Povo. O Rei REINAVA, mas, não ADMINISTRAVA.

Quais são os tipos de Estado? Via de regra:

Estado Unitário ou Simples – formado por um todo unificado. Exemplo, todas as mo-narquias até o século XIX, Vaticano, algu-mas Ditaduras.

Estado Federado ou Composto – formado por um todo heterogêneo, com divisão do exercício do poder entre diversos “entes” (Executivo, Legislativo e Judiciário). Exemplo: EUA, Argentina, Brasil atual. O Brasil, embora seja uma República Federati-va do Brasil (formada TEORICAMENTE pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal) é uma federação FAL-SA, pois, TODO o poder está concentrado

nas mãos do Executivo e os Municípios não tem praticamente NENHUM poder. Tudo que é produzido e arrecadado no Município vai para o Executivo que "distribui" e "barganha/corrompe" com quem e como qui-ser. É o chamado "presidencialismo de coa-lisão". Ou seja, o Estado brasileiro foi mon-tado para CORROMPER e ser CORRUPTO. É uma monarquia ditatorial mambembe dis-farçada de república. O "modelo" de Repú-blica do Brasil foi extraído da ARGENTINA e não dos EUA como se é levado a pensar. E esse modelo é BOLIVARIANO e está enqua-drado dentro do desenho inicial, faseado da REPÚBLICA MAÇÔNICA UNIVERSAL.

O Sistema Eleitoral é um SERVIÇO que o Estado pode, ou não, prestar ao povo. De-pendendo da forma como esse SERVIÇO foi "desenhado/concebido" as ELEIÇÕES são um serviço que é uma FRAUDE controlada pelo Estado. Cuba, Venezuela e Brasil são exemplos disso. Ou seja, o povo "vota e ele-ge" o candidato previamente escolhido pelos partidos. No caso da eleição do "presidente" o partido que está no Governo decide quem será o "novo" presidente. As decisões são de bastidores e o povo é uma massa de ma-nobra para manter a FRAUDE de uma de-mocracia dentro da República que na verda-de é um regime totalitário disfarçado.

Qual é o caso atual do Brasil nestas elei-ções de 2018? De saída, é preciso entender que: o Sistema Eleitoral é um SERVIÇO prestado pelo Estado e NÃO pelo Judiciário. Esse serviço tem uma LEI PRÓPRIA que NÃO foi criada pelo Judiciário. Portanto, JA-MAIS, EM TEMPO ALGUM, de MODO NE-

NHUM, o TSE pode dizer que NÃO VAI CUMPRIR A LEI do Estado que regula o Sistema Eleitoral. Isso não é mais FRAUDE, configura GOLPE INSTITUCIONAL.

Assim, SE estas eleições acontecerem em 2018, o Judiciário terá aplicado um GOLPE DE ESTADO. O judiciário, no caso o TSE, sairá deste golpe com poderes de ESTADO. Ele, o TSE é que passará a LEGISLAR con-trolando o Sistema Eleitoral, que passa a não ser mais um serviço de Estado e sim do Judiciário. Foi precisamente esse o caminho seguido na Venezuela, onde o Judiciário é o novo Executivo que governa junto com o Presidente. Ditadura cínica com nome de democracia.

Diante disso, TODOS os candidatos políti-cos- sem exceção de nenhum- nestas elei-ções de 2018 estão não só CONIVENTES com o GOLPE DE ESTADO, bem como são CÚMPLICES na FARSA.

O que vem acontecendo com o Brasil? Os sucessivos governos- independentemente da legenda partidária- vem transformando política de Governo em política de Estado. A quantidade de alterações na CF visa preci-samente atingir esse objetivo: fazer que um GOVERNO seja um ESTADO, e tudo dentro da mais absoluta "legalidade", pois, os ratos eleitos via eleições fraudadas executam im-pecavelmente o papel de adulterar o Estado para criar uma DITADURA SOCIALISTA dentro da "lei".

O Brasil é uma fraude silenciosa, e exata-mente por isso, extremamente perigosa.

Autor: Loryel Rocha

Outubro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 15

A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ E A ELEIÇÃO

As vésperas de completar 30 anos, no próxi-mo dia 5 de outubro, a Constituição de 88, mesmo que de forma subjacente, é a ques-tão fundamental nestas eleições.

O Artigo Terceiro sintetiza os objetivos da Constituição de 1988:

art. 3º: define os objetivos fundamentais do Brasil, que são a construção de uma socie-dade livre, justa e solidária; desenvolvimento nacional, eliminação da pobreza, diminuição das desigualdades sociais e promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discri-minação.

No cumprimento desses objetivos, a Consti-tuição de 1988 estabeleceu a educação, a saúde e a seguridade social, na qual está incluída a Previdência Social, como direitos universais, ou seja, que todos os cidadãos devem ter acesso.

As candidaturas identificadas com o Refor-mismo, o receituário expresso no documen-to “Ponte para o Futuro”, seguido pelo go-verno Temer, pregam a continuidade de re-formas constitucionais focadas nos direitos estabelecidos na carta magna.

O Reformismo aponta nos direitos estabele-cidos na Constituição a origem do problema fiscal, no qual decorrem todos os outros pro-blemas da economia.

Argumenta que um País de renda média co-mo o Brasil incorporou direitos e obrigações

para o Estado típicas de países desenvolvi-dos. Assim, a “A Constituição não cabe no orçamento”, ao gerar despesas incompatí-veis com o grau de desenvolvimento da eco-nomia brasileira.

Em seu diagnóstico, o caminho é o enges-sar as despesas por meio teto ao longo pra-zo, o que foi estabelecido na PEC 55. Como a Constituição de 88 buscou garantir recur-sos para educação e a saúde, ao estabele-cer os mínimos de gastos nessas duas á-reas, o Reformismo tem como proposta a desvinculação dos gastos.

Em relação à Previdência Social, o discurso reformista a isola da Seguridade Social para destacar o déficit, o que não ocorre no con-junto do sistema da Seguridade. Desta for-ma, o Reformismo projeta a partir da mu-dança do perfil demográfico, o envelheci-mento da população, o caos futuro da Previ-dência.

Como já dito em artigos anteriores, ao focar apenas nas despesas na conta primária (Receitas – Despesas, excluso juros), negli-gencia os elementos da receita e da gestão, fundamentais para o equilíbrio fiscal. Neste sentido, o Brasil apresentou de 1997 até 2014 sucessivos superávits primários, ape-nas passou a apresentar déficits quando a atividade econômica deprimiu.

Mas, a questão central está na conta nomi-nal, que inclui os juros pagos na dívida. No acumulado dos últimos doze meses, até ju-

lho, o déficit primário foi de 77,1 bilhões (1,4 % do PIB). No mesmo período, o pagamen-to com juros nominais foi de 394,5 bilhões (5,86% do PIB), representando 83,7% (!) do déficit fiscal do País.

O que não cabe mais no orçamento é a des-pesa de mais de 5% do PIB em juros. Uma brutal transferência de recursos públicos pa-ra o setor financeiro.

Se a resposta aos graves problemas da eco-nomia brasileira não está no Reformismo, tão pouco está em sua forma caricata, ex-pressa pelo candidato de extrema direita, identificado nas redes sociais no #elenão.

A candidatura, de forma distorcida, não ape-nas faz uma oposição simplista entre Estado e Iniciativa Privada, entre Estado e Socieda-de, mas entre os denominados direitos de primeira geração, aqueles que buscaram proteger o individuo em relação ao poder de governos, e os coletivos e de promoção so-cial. Na realidade, são complementares e historicamente constituídos. A simples elimi-nação desses direitos apenas conduzirá a barbárie social e econômica.

São os direitos sociais, os de universaliza-ção de acesso, os da seguridade social, os de combate as discriminações de qualquer espécie, que ao olhar para o coletivo de for-ma mais solidária e igualitária, mantém a coesão social.

Autor: Amir Khair

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OUTUBRO 2018

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A pós-democracia brasileira e as eleições de 2018.

O que esperar do eleitor? Antes de tentar apresentar algumas sinaliza-ções, é importante procurar entender o contexto no qual estamos vivendo.

Na semana passada, mais precisamente no dia da prisão do presidente da Assembleia Legislati-va do Estado do Rio de Janeiro e correligioná-rios, eu trabalhei durante o dia todo no Rio de Janeiro. Como meu dia começou cedíssimo, a-cabei notando parte da movimentação na cidade com carros e camburões da Polícia Federal, le-vando os presos, para lá e para cá.

O trânsito no centro estava infernal, e fiz algum comentário sobre os fatos correntes com o taxis-ta que me conduzia, quando passávamos em frente ao prédio da Assembleia. Foi o que bas-tou para ele "delatar" um "primo". Com conheci-mento de causa, disse-me que o tal primo - hoje Vereador em uma cidade fluminense - tinha sido eleito recentemente graças a um comportamen-to similar àquele alegadamente imputado ao de-putado Picciani. Primeiro, que o vereador, com o intuito de se eleger, teria distribuído dinheiro ar-recadado pelo seu Partido a diversas comunida-des carentes, e que os eleitores "teriam se ven-dido" por alguns reais. O taxista disse-me que achava absurdo o comportamento do primo, mas como era notório, não era diferente dos de-mais políticos brasileiros, e isso ele nem estra-nhava mais. Mas o que ele realmente repudiava era o comportamento dos eleitores, que se ven-diam "por uma cerveja". Depois, o taxista me disse que o tal primo vereador loteava cargos na Câmara de Vereadores, já estava muito bem de vida, pois acaba ficando com a totalidade ou boa parte dos vencimentos daqueles que passavam a ocupar tais cargos, alguns deles funcionários-fantasmas.

Se essa estória é verdadeira ou não, eu não posso afirmar. Mas que a indignação do taxista me pareceu real, isso pude comprovar. E o fim da conversa foi similar a tudo o que eu ando es-cutando nos diversos espaços em que frequen-to: "se eu pudesse, ia embora desse país".

Esta sensação generalizada de desconfiança, descrédito e desolação parece ter contaminado a população brasileira. Nem a suposta constata-ção de que "a economia está melhorando e en-trando nos trilhos novamente" é suficiente para afastar a percepção de terra arrasada e de múl-tipla falência de órgãos do Estado brasileiro. Não que esta sensação seja nova, pois de tem-pos em tempos ela emerge com mais ou menos força em nosso país. Mas o que parece ser pre-ocupante é que esta onda de desesperança ten-de a contaminar as próximas eleições de 2018, e de modo muito negativo.

O cenário realmente não é bom, mas parece ser sintomático de uma nova era, no Brasil e no mundo. Por isso nos cabe indagar, não somente sobre qual será o comportamento do eleitor bra-sileiro nas próximas eleições gerais, mas se e-xiste um comportamento desejado ou esperado capaz de mudar os rumos atuais, que não pare-cem nada animadores. Antes de tentar apresen-tar algumas sinalizações, é importante procurar

entender o contexto no qual estamos vivendo.

O momento atual no Brasil parece-me ser o que a Ciência Política e o Direito contemporanea-mente vêm denominando de "pós-democracia" (Crouch, 2005; Dardot e Laval, 2010; Casara, 2017). A sociedade pós-democrática é representada por uma "democracia de aparência", pois embora as ins-tituições democráticas continuem a existir e apa-rentemente estejam em regular funcionamento, em verdade o espaço democrático acabou por ser sequestrado e cooptado por uma elite políti-co-econômica, e os interesses da sociedade não mais são representados a partir das regras da democracia. Igualdade e efetivação de direitos passam ao largo dos interesses de grandes cor-porações, bancos e oligarquias políticas, que acabam dominando as instituições públicas em geral, ditando as novas regras a serem seguidas a partir de uma racionalidade baseada no predo-mínio do capital sobre a política, asfixiando os diversos grupos sociais que antes representa-vam maiorias e minorias em uma democracia.

Inúmeros fatos recentes conferem força a esta constatação de que vivemos atualmente em u-ma pós-democracia: a escalada da corrupção política e administrativa em todas as esferas fe-derativas; o aumento da violência urbana que migra em velocidade assustadora para os cen-tros menores, sem que existam medidas efeti-vas para a sua contenção; altos índices de de-semprego; a falta de limites éticos e jurídicos do Poder Legislativo, Executivo e do Judiciário na condução de suas atividades; a ausência de ra-zoabilidade decisória e o desinteresse do Supre-mo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Elei-toral em conter as ilegalidades e os abusos dos demais Poderes, e mesmo aqueles de seus membros, e o que é pior: a apatia generalizada da população brasileira que parece ter cansado de se expressar contrariamente aos desmandos que insistem em permanecer nas instâncias po-líticas oficiais do país.

Em princípio, a mudança e a melhoria deste es-tado de coisas podem encontrar algum alento nas eleições de 2018. Entretanto, os entraves para que consigamos virar o jogo esbarram por ora em dois obstáculos principais.

De um lado, as opções de candidaturas que te-mos até o presente momento parecem ser de-masiadamente extremistas para a direita ou pa-ra a esquerda, e por isso mesmo nada compro-metidas em promover um real processo de paci-ficação social e um projeto nacional de desen-volvimento capazes de transformar esta triste realidade de ineficiência e de radicalismos que assola nossas instituições políticas e sociais.

Mesmo os candidatos da linha "gestor que não é político", que atraíram boa atenção de parcela do eleitorado nas últimas eleições municipais, parecem não estar convencendo muito a popu-lação, que já dá sinais de afastamento desse tipo de candidatura. Sobram representantes de "famosos que não são políticos", e que em um ambiente de redes sociais e de predomínio das fake news encontram eco na população menos exigente e desinteressada no pleito eleitoral, que parece ser uma esmagadora maioria até aqui.

Por outro lado, a população revela sinais de cansaço excessivo e letargia em relação ao jogo político, não participando ativamente das discus-sões atuais sobre Reformas Política, Previdenci-ária, Trabalhista ou Tributária, até porque, não sendo devidamente informada pelo Governo das pautas e agendas em discussão, não se consi-dera preparada para opinar. Esta população es-tá alheia à arena democrática, e no contexto de pós-democracia acima referido, não tem mais sua entrada franqueada para dela participar.

Talvez surjam candidaturas independentes, e que de alguma maneira representem novas lide-ranças que convençam a população de que A-gendas de Pacificação Social e de Desenvolvi-mentismo Social e Econômico são sim possíveis em nosso país. Mas se isso acontecer, a popu-lação brasileira precisará fazer sua parte, dei-xando de lado posturas individualistas e interes-seiras, mais voltadas a atender a necessidades egoísticas, o que no atual estado de desatino ético em que estamos mergulhados parece ser difícil de assumir.

Ocorre que para superar os obstáculos aqui si-nalizados e caminhar rumo à promoção de uma pauta contrária aos desígnios desta pós-democracia que ora se instala no país, a sinergi-a deve ser nacional, envolvendo população, opi-nião pública e instituições oficiais e constitucio-nais incumbidas da proteção do Estado de Direi-to Democrático, como são o Ministério Público, a OAB e os meios de comunicação, por exemplo. Mas a percepção é a de que todos estão atôni-tos diante dos acontecimentos atuais, e não conseguem estabelecer consensos mínimos pa-ra ao menos empreender um debate sobre uma Agenda de Desenvolvimento Nacional que deva ser encampada por candidatos e partidos real-mente comprometidos com mudanças significati-vas e duradouras nas áreas econômica, social e política do nosso país. O trauma do impeach-ment ainda ecoa na sociedade brasileira, e o que se seguiu a ele também não parece ser muito edificante.

Sem prejuízo disso, devemos permanecer espe-rançosos de que novas rotas e percursos volta-dos a reestabelecer os fins e objetivos constitu-cionais do Estado de Direito Democrático podem de fato ser traçados, porém desde que a socie-dade brasileira assuma o comando desta cruza-da, sobretudo por meio de um forte pacto das instituições de defesa da democracia, em que os interesses isolados sucumbam ao interesse ge-ral, viabilizando assim buscarmos por uma soci-edade verdadeiramente fraterna, justa e solidá-ria.

As nefastas consequências da pós-democracia batem à nossa porta. Posturas como a dos elei-tores que vendem seus votos, devem ser abso-lutamente combatidas e abandonadas. Talvez possamos começar as mudanças nas esferas mais íntimas da nossa cidadania, deixando de eleger aqueles que sabemos não irão nos repre-sentar. Não existe pena maior para um político do que a sua não eleição. Dar às costas para o país e dele partir em nada apoiará a nossa cau-sa de transformação ética, política e social.

Autor: Gustavo Justino de Oliveira