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14 PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E BOLSISTAS DO PIBID: O APRENDIZADO DA DOCÊNCIA POR MEIO DA TROCA DE SABERES RESUMO Este trabalho se originou de duas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), realizadas em 2011 por duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Essas pesquisas foram: (01) “Trocas de saberes proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência: contribuições para a formação das bolsistas”; (02) “O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e a sua contribuição para uma escola pública: análise do desenvolvimento profissional e da aprendizagem docente”. Para o presente trabalho, foi realizado um recorte das pesquisas a fim de apresentar e analisar a aprendizagem da docência adquirida por meio da troca de saberes entre as professoras da educação básica e as bolsistas do programa. O PIBID é um programa do Ministério da Educação que visa incentivar a formação de professores para a educação básica, estreitar a relação universidade-escola pública e valorizar este espaço como campo de experiência para a construção do conhecimento na formação de professores, entre outras questões. O estudo foi desenvolvido à luz de uma abordagem qualitativa de pesquisa, compreendendo pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com análise dos fenômenos considerados relevantes. Os autores utilizados para embasar o trabalho foram: Minayo (1993), Mizukami (1996), Mizukami et al. (2002), Tardif (2002), Carvalho (2007) Pimenta (2007), Pimenta e Lima (2008), Hernández (s.d). O acesso aos dados ocorreu por meio de questionários contendo questões abertas e fechadas e entrevistas semiestruturadas. De acordo com as respostas evidenciadas pelas participantes das pesquisas, o PIBID oportunizou as bolsistas e as professoras atuantes na educação básica que se relacionassem, observassem as práticas realizadas e trocassem experiências umas com as outras, o que propiciou aprendizagens recíprocas para ambas, principalmente no que tange aos modos de lidar com os conteúdos e o relacionamento com os alunos. Palavras-chave: PIBID; Aprendizagem Docente; Troca de saberes; Professoras da Educação Básica e bolsistas do PIBID. PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E BOLSISTAS DO PIBID: O APRENDIZADO DA DOCÊNCIA POR MEIO DA TROCA DE SABERES Este trabalho apresenta e analisa a aprendizagem da docência adquirida por meio da troca de saberes entre as professoras da educação básica e as bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Para sua realização, as autoras, que também foram bolsistas do referido programa, utilizaram os resultados de suas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia da Universidade XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004081 Edilaine Do Rosário Neves Vanessa Lopes Eufrásio Heloísa Raimunda Herneck

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PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E BOLSISTAS DO PIBID: O

APRENDIZADO DA DOCÊNCIA POR MEIO DA TROCA DE SABERES

RESUMO

Este trabalho se originou de duas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), realizadas em 2011 por duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Essas pesquisas foram: (01) “Trocas de saberes proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsa de

Iniciação à Docência: contribuições para a formação das bolsistas”; (02) “O Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e a sua contribuição para uma escola pública: análise do desenvolvimento profissional e da aprendizagem docente”. Para o

presente trabalho, foi realizado um recorte das pesquisas a fim de apresentar e analisar a aprendizagem da docência adquirida por meio da troca de saberes entre as professoras da educação básica e as bolsistas do programa. O PIBID é um programa do Ministério da Educação que visa incentivar a formação de professores para a educação básica, estreitar a relação universidade-escola pública e valorizar este espaço como campo de experiência para a construção do conhecimento na formação de professores, entre outras questões. O estudo foi desenvolvido à luz de uma abordagem qualitativa de pesquisa, compreendendo pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com análise dos fenômenos considerados relevantes. Os autores utilizados para embasar o trabalho foram: Minayo (1993), Mizukami (1996), Mizukami et al. (2002), Tardif (2002), Carvalho (2007) Pimenta (2007), Pimenta e Lima (2008), Hernández (s.d). O acesso aos dados ocorreu por meio de questionários contendo questões abertas e fechadas e entrevistas semiestruturadas. De acordo com as respostas evidenciadas pelas participantes das pesquisas, o PIBID oportunizou as bolsistas e as professoras atuantes na educação básica que se relacionassem, observassem as práticas realizadas e trocassem experiências umas com as outras, o que propiciou aprendizagens recíprocas para ambas, principalmente no que tange aos modos de lidar com os conteúdos e o relacionamento com os alunos.

Palavras-chave: PIBID; Aprendizagem Docente; Troca de saberes; Professoras da Educação Básica e bolsistas do PIBID.

PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E BOLSISTAS DO PIBID: O

APRENDIZADO DA DOCÊNCIA POR MEIO DA TROCA DE SABERES

Este trabalho apresenta e analisa a aprendizagem da docência adquirida por

meio da troca de saberes entre as professoras da educação básica e as bolsistas do

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Para sua

realização, as autoras, que também foram bolsistas do referido programa, utilizaram

os resultados de suas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia da Universidade

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Federal de Viçosa (UFV). No entanto, cabe ressaltar que para este trabalho foi

realizado um recorte das duas pesquisas, considerando os pontos em comum de

ambas.

A pesquisa (01) intitulada “Trocas de saberes proporcionadas pelo Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência: contribuições para a formação das

bolsistas” abordou as aprendizagens da docência possibilitadas pela rede de

relações estabelecidas entre bolsistas e professoras regentes na ótica das bolsistas; já

a pesquisa (02) “O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e a sua

contribuição para uma escola pública: análise do desenvolvimento profissional e da

aprendizagem docente” evidenciou a mesma temática na ótica das professoras

regentes.

Ambos os trabalhos foram realizados no ano de 2011 a partir de uma

abordagem qualitativa de pesquisa, compreendendo pesquisa bibliográfica e pesquisa

de campo com análise de fenômenos considerados relevantes. A pesquisa (01) teve

como instrumento de coleta de dados questionários contendo questões abertas e

fechadas, aplicados a onze estudantes dos cursos de licenciatura da UFV, que foram

participantes do PIBID de 2009 e possíveis formandas de janeiro de 2012.

Entretanto, para o presente trabalho, utilizamos apenas as respostas dos

questionários de quatro bolsistas do PIBID/Pedagogia, visto a pesquisa (02) ter sido

realizada com entrevista semiestruturada com duas professoras, (P1) e (P2), que eram

regentes nas classes em que essas bolsistas atuaram, e com a supervisora do

PIBID/Pedagogia, que também é professora da escola. Ressalva-se que os sujeitos

delimitados para o presente trabalho acompanharam o desenvolvimento do

PIBID/Pedagogia no ano de 2010 e 2011.

Após a coleta dos dados, foram realizadas as análises com base em Minayo

(1993), Mizukami (1996), Mizukami et al. (2002), Tardif (2002), Carvalho (2007)

Pimenta (2007), Pimenta e Lima (2008) e Hernández (s.d). Cabe ressalvar que nas

análises dos dados houve também implicações da ótica das pesquisadoras que

atuaram como bolsistas do PIBID na escola. Segundo Minayo (1993, p.21), “A visão

de mundo do pesquisador e dos atores sociais estão implicadas em todo processo de

conhecimento, desde a concepção do objeto, até o resultado do trabalho.” Nesta

perspectiva, a realidade traz para as análises o subjetivo e o objetivo, os sujeitos e os

próprios sistemas de valores do pesquisador.

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Diante do exposto, o presente trabalho explicita com base nas pesquisas (01) e

(02) a aprendizagem da docência advinda da troca de saberes entre bolsistas e

professoras atuantes na educação básica durante o desenvolvimento do

PIBID/Pedagogia 2009.

O estudo foi estruturado em três partes no intuito de possibilitar a melhor

compreensão do artigo: 1) O PIBID/Pedagogia 2009; 2) Aprendizagens advindas da

troca de saberes entre professoras da educação básica e bolsistas do PIBID; e 3)

Considerações finais.

O PIBID Pedagogia 2009

O PIBID é um programa institucional do Ministério da Educação (MEC),

gerenciado pela CAPES (Fundação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior), possui vários subprojetos (das licenciaturas) a ele vinculados, que têm a

duração prevista para 24 meses, podendo ser renovado.

De acordo com o explicitado no edital 02 - PIBID 2009, os objetivos do

programa são: incentivar a formação de professores para a educação básica; inserir

os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação; promover a

integração entre educação superior e educação básica; proporcionar aos futuros

professores participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas

docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de

problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem; e valorizar o espaço

da escola pública como campo de experiência para a construção do conhecimento na

formação de professores para a educação básica, mobilizando seus professores como

co-formadores dos futuros professores.

Neste artigo, descrevemos a pesquisa realizada com participantes do subprojeto

de licenciatura em Pedagogia vinculado ao PIBID/UFV. O PIBID-Pedagogia foi

desenvolvido em 2010 e 2011 em duas escolas municipais da cidade de Viçosa-MG.

Fizeram parte dele uma coordenadora, professora do curso de Pedagogia, vinte

bolsistas licenciandas deste curso e duas supervisoras que são professoras efetivas

nas escolas onde o programa foi desenvolvido. Ressalva-se que em cada escola

atuaram 10 bolsistas e uma professora supervisora.

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A primeira fase do trabalho das bolsistas envolveu a observação dos aspectos:

espaço físico da escola; materiais didáticos; os métodos de ensino da professora

regente; e a ação dos alunos e suas interações com a professora e os colegas de

classe. Posteriormente, com base nos Indicadores de Qualidade na Educação do

MEC, as integrantes do programa elaboraram e aplicaram aos alunos da escola uma

avaliação diagnóstica referente à leitura, escrita e a matemática. Assim, a partir do

conhecimento da realidade da escola, foram traçados planos de trabalho com o

objetivo de atender às demandas das crianças em relação à aprendizagem.

Dentre as ações desenvolvidas, as bolsistas planejaram e realizaram aulas

com metodologias diferenciadas das normalmente usadas pelas professoras regentes,

confeccionaram materiais pedagógicos e acompanharam o desenvolvimento da

aprendizagem de algumas crianças que manifestaram dificuldades para entender o

conteúdo. Ressalva-se que cada bolsista de Iniciação à Docência acompanhou uma

turma e um grupo de crianças com dificuldades de aprendizagem.

No que se refere às atividades desenvolvidas, a maioria tinha o lúdico como

princípio norteador, visto que ao iniciar o trabalho foi observado pelas bolsistas que a

escola não contava com aulas de Educação Física e nem com outros tipos de

atividades corporais e lúdicas. Diante disso, as integrantes do PIBID planejaram e

desenvolveram com os alunos atividades voltadas para o lúdico, algumas vezes o

lúdico foi trabalhado como atividades recreativas e outras articuladas aos conteúdos

de modo a favorecer sua compreensão.

Com o objetivo de oferecer subsídios para a ação das bolsistas e estimular a

reflexão sobre as situações que ocorriam nas salas de aula, foram organizados os

ciclos de estudos do PIBID. Neste espaço, ocorreram discussões sobre várias

temáticas e situações inusitadas ocorridas no cotidiano escolar, as quais requeriam

discussão e tratamento.

Assim, a vivência na escola, aliada aos estudos e discussões realizadas nos

ciclos de estudos e nas aulas do curso de Pedagogia, nos proporcionou reflexões

referentes às aprendizagens docentes por meio da participação no programa.

Aprendemos na escola com as demais profissionais, trocamos experiência sobre

determinadas situações, principalmente no que se refere à condução das aulas e ao

relacionamento com os alunos, entre outras questões. Esta experiência nos instigou a

pesquisar as aprendizagens adquiridas pelas bolsistas do programa e as

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aprendizagens proporcionadas aos profissionais da escola.

Aprendizagens advindas da troca de saberes entre professoras da

educação básica e bolsistas do PIBID

Fundamentando nas análises dos dados das pesquisas (01) “Trocas de saberes

proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência:

contribuições para a formação das bolsistas” e (02) “O Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação à Docência e a sua contribuição para uma escola pública: análise

do desenvolvimento profissional e da aprendizagem docente”, tomamos como

referência os pontos em comum no que tange à aprendizagem docente advinda da

troca de saberes entre professoras regentes e bolsistas do PIBID, evidenciadas em

ambas as pesquisas.

O número total de participantes da pesquisa (01) foram quatro bolsistas do

PIBID/Pedagogia, todas do sexo feminino: (B1) com 22 anos de idade, (B2) com 24,

(B3) com 27 e (B4) com 45 anos. Todas elas participaram do PIBID desde março de

2010, tendo um ano e sete meses de participação até a data em que responderam ao

questionário.

Na pesquisa (02) foram entrevistadas duas professoras (P1) e (P2) e a

supervisora do PIBID/Pedagogia, que também é professora na escola. A idade das

entrevistadas variava de 40 a 50 anos até a data da entrevista, sendo que (P1) tinha 50

anos, (P2) tinha 40 e a supervisora do PIBID tinha 43. O tempo em que as

entrevistadas atuavam como docente variava de 16 a 21 anos. Em relação à

formação, duas têm curso superior em Pedagogia, sendo que (P2) tem especialização

em supervisão escolar e à supervisora tem normal superior.

Referente à pesquisa (01), as bolsistas foram indagadas sobre quais situações

consideravam mais desafiadoras no que se refere à participação no PIBID; onde

buscaram suporte para enfrentá-las; se solicitavam o apoio do professor regente e em

quais momentos; quais aprendizagens da docência o PIBID possibilitou; se houve

troca de experiências entre as bolsistas e os professores regentes; e se o contato com

o contexto de prática, especificamente com o professor regente, lhe permitiu

examinar os conhecimentos adquiridos na graduação.

Em relação à pesquisa (02), as participantes foram questionadas sobre: como

foi o desenvolvimento do PIBID na escola; como foi desenvolver o trabalho

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pedagógico em uma turma em interação com o trabalho da bolsista; se esta vivência

alterou de algum modo a sua prática e/ou a forma de compreender o ensino-

aprendizagem; e se consideravam ter aprendido e/ou ensinado as bolsistas.

Voltando à pesquisa (01), as bolsistas foram indagadas sobre quais situações

consideravam mais desafiadoras no que se referia à sua participação no PIBID, sendo

que poderiam marcar até duas opções, dentre as estas: número de alunos por sala;

problemas com indisciplina dos alunos; diversidade na sala de aula; ensinar crianças

com níveis de aprendizagem diferentes; condições de trabalho; baixos salários dos

professores; dominar os conteúdos; material didático inadequado; e insegurança;

medo. Nas respostas, as bolsistas evidenciaram como questões mais desafiadoras:

(B3) e (B1) citaram problemas com indisciplina dos alunos; (B1) e (B2), ensinar

crianças com níveis de aprendizagem diferentes; (B4), o número de alunos por sala; e

(B3) citou as condições de trabalho.

No que se refere às condições de trabalho docente, levantamos a hipótese de que

a escolha de (B3) por esta resposta esteja relacionada com as precárias condições de

trabalho existentes na escola onde as bolsistas atuam. O espaço físico desta escola é

limitado, levando-se em conta o número de alunos matriculados, as salas de aula são

pequenas e com pouca ventilação. Além disso, não há quadra de esporte, biblioteca,

laboratório de informática e espaço adequado para os professores planejarem e

discutirem questões pedagógicas etc. O mobiliário da escola está em bom estado de

conservação, porém faltam equipamentos e materiais pedagógicos que tornariam mais

ágeis e organizadas as atividades pedagógicas desenvolvidas. Neste contexto, ainda que

a inserção das licenciandas na escola contribua para a qualidade da sua formação

acadêmica, pode também desmotivá-las.

Segundo Gatti e Barreto (2009), as condições reais de profissionalização

docente afetam a atratividade das novas gerações pela profissão. Segundo as autoras,

políticas na direção de qualificar melhor a educação básica passam também pela

renovação constante da motivação para o trabalho do ensino, pela satisfação com a

remuneração e a carreira.

Observa-se ainda, pelas respostas evidenciadas, que ensinar crianças com

níveis de aprendizagem diferentes foi uma das respostas mais escolhidas pelas

bolsistas. Inclusive, quando foram questionadas se solicitavam o apoio do professor

regente e em quais momentos, (B4) mencionou fazer solicitações para “sugerir as

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atividades a serem trabalhadas com a turma e avaliar os alunos que carecem mais

de sua presença e acompanhamento”.

Assim como as bolsistas ressaltaram solicitar o apoio das professoras regentes,

estas também salientaram necessitar do apoio das bolsistas, principalmente, para

acompanhar as crianças com maiores dificuldades de aprendizagem em detrimento

das demais crianças da turma em que estavam inseridas. As professoras ao

ressaltarem a importância deste acompanhamento, argumentaram que as condições

em que o seu trabalho é realizado não favorece o atendimento às demandas dessas

crianças.

Os problemas com a indisciplina dos alunos foi também uma das respostas

mais explicitadas pelas bolsistas como questão desafiadora. Neste sentido, (B1) e

(B3) evidenciaram solicitar apoio das professoras “para ajudar na disciplina dos

alunos”. A questão da indisciplina foi também mencionada pelas professoras durante

as entrevistas, quando elas relembraram momentos de instabilidade e dificuldade que

as bolsistas tiveram no início do trabalho ao se depararem principalmente com a

indisciplina dos alunos. Elas ressaltaram que nestas situações o apoio delas às

bolsistas foi imprescindível para que não desistissem de continuar o trabalho.

Neste sentido, as quatro bolsistas responderam, ao longo do questionário, ser

nas trocas de experiências com as professoras da educação básica que buscavam

meios para enfrentar as situações problema encontradas/vivenciadas na sala de aula

com os alunos.

A este respeito, Pimenta e Lima (2008, p. 115), ao abordarem o estágio,

afirmam considerar “[...] a importância da participação dos professores das escolas

que recebem os estagiários nesse processo formativo, no qual esses assumem

também a função de ´supervisores` (ou orientadores) do estágio.”

Neste sentido, podemos refletir sobre o PIBID como um espaço que pode

propiciar às licenciandas adquirir aprendizagens na relação com profissionais

experientes. Nesta direção, Pimenta (2007) ressalta que o retorno autêntico da

Pedagogia ocorrerá se as ciências da educação começarem a tomar a prática dos

formados como ponto de partida e de chegada.

Fundamentando na análise dos conteúdos, é possível constatar que as bolsistas

e as professoras regentes aprenderam com as trocas de experiências. Nesta direção,

Mizukami et al. (2002, p.72) explicitam que para que os professores aprendam

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novas formas de ensinar, eles precisam, dentre outras coisas “[...] trabalhar com os

pares - dentro e fora da escola -, de forma a aprender com os sucessos, os fracassos,

os erros e as falhas e a partilhar idéias e conhecimentos.” Neste sentido, (B4), ao

explicitar considerar os professores da educação básica como formadores de

professores, salienta que:

[...] há práticas de sala de aula que são bem relevantes e devem ser

consideradas como referências para a nossa formação: a pontualidade da

professora e as manifestações de carinhos em determinados momentos;

outras que são referências para analisarmos e não repetirmos: gritos o

tempo todo; exposição e desmotivação dos alunos, castigos repetidos no

momento do recreio, manter as carteiras enfileiradas, não cantar, não

trabalhar poesias, poemas, e, não ter o hábito de pesquisar com intuito de

avaliar sua prática.

O relato acima explicitado corrobora com a reflexão de (B1), que mencionou

também considerar os professores da educação básica como formadores de

professores. Segundo ela “[...] aprendemos nas conversas com os professores

regentes e vendo sua forma de ensinar, de agir e como resolvem os problemas. A

partir da ação do outro, podemos refletir sobre nossa forma de ser professor.”

Observa-se, nestas respostas, que as bolsistas manifestaram repensar suas posturas ao

observarem os comportamentos das professoras, ou seja, elas fazem uma reflexão

sobre o ser professor. (B4), inclusive, explicita de uma forma mais detalhada,

abordando, por meio de exemplos, o que considera ou não como comportamentos

adequados a um professor.

Ancoradas em Carvalho (2007), vemos sob esta perspectiva que o experienciar

comportamentos e estratégias de ensino possibilitou às futuras professoras pensar nas

próprias posturas e nas atitudes que irão tomar frente a situações reais. Assim como

as bolsistas explicitaram aprender com as professoras regentes, estas apontaram nas

entrevistas para as ações das bolsistas do PIBID como uma oportunidade para a

reflexão sobre o seu próprio trabalho. As professoras colocam a experiência de

trabalhar junto com uma bolsista como oportunidade para a troca de saberes,

explicitando a importância que atribuem às relações humanas no contexto escolar.

Neste sentido, Tardif (2002) explana a importância da troca de saberes entre

os pares, explicitando que os saberes a serem ensinados e o saber-ensinar são

construções sociais, culturais e históricas, sendo construídos e (re)construídos nas

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relações cotidianas do trabalho pedagógico. Portanto, sofrem mudanças e, em um

contexto de socialização profissional, são incorporados, modificados e adaptados em

função dos momentos e fases de uma carreira. Ainda de acordo com tal autor:

[...] o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com sua experiência de vida e com sua história profissional, com suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola etc. Por isso, é necessário estudá-lo, relacionando-os com esses elementos constitutivos do trabalho docente. (TARDIF, 2002, p. 11)

Tendo em vista o exposto acima sobre a troca de saberes, ressaltamos que ao

longo das entrevistas as participantes citaram ter aprendido novas maneiras de

ensinar a partir da ação das bolsistas do PIBID. Elas salientaram a questão do

trabalho das bolsistas com metodologias diferenciadas das usadas pelas professoras

regentes, destacaram principalmente o trabalho com o lúdico: arte, jogos e

brincadeiras. A este respeito, (P1) salientou “[...] agora, aprender, eu aprendi assim,

que elas trouxeram muitas coisas que a gente não tem esse costume. A gente tira um

dia para trabalhar o lúdico. E o trabalho delas era sempre voltados para o lúdico.”

Tal ponderação remete ao processo de aprendizagem do professor, neste

sentido, Mizukami et al. (2002) nos ajudam a refletir que as aprendizagens docente

vão além de habilidades técnicas, requerem o repensar velhas ideias, os objetivos de

aprendizagem e a autoavaliação reflexiva. Nesta direção, em estudo sobre a

aprendizagem docente, Hernández esclarece o significado de aprendizagem:

[...] alguém aprende quando está em condições de transferir a uma nova situação (por exemplo, á prática docente) o que conheceu em uma situação de formação, seja de maneira institucionalizada, nas trocas com os colegas, em situações não formais e em experiências da vida diária. (HERNÁNDEZ, s.d, p. 1)

Nesse sentido, têm-se elementos para analisar que as professoras regentes,

observando o trabalho das bolsistas, tiveram a oportunidade de refletir sobre a

própria prática. Segundo a supervisora do PIBID, foi possível constatar que dá certo

trabalhar de outras maneiras, e não somente com base no livro didático. “[...] Nesses

dois anos, houve muitas mudanças boas: no comportamento das crianças; na

aprendizagem e em muitos casos em despertar no menino ter mais interesse; e, além

disso, em despertar em nós as professoras trabalhar de maneira diferenciada feito

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vocês.” (Supervisora do PIBID, 2011) Nesta direção, a mesma professora explicita o

interesse em mudar a sua prática pedagógica:

[...] vocês me fizeram ver muito mais coisas que, às vezes, a gente deixa

esquecido, não desenvolve. Aí, vendo o trabalho de vocês, isso dá certo, eu

vou fazer isso com minha turma, como, por exemplo, trabalhar mais com o

lúdico, fazer mais assim pesquisa, tentar entender o aluno porque não

aprende, porque a indisciplina; nesse sentido assim, tentar investigar mais

o aluno. (Supervisora do PIBID, 2011)

A fala da supervisora do PIBID aponta que ela pretende buscar compreender

a forma de aprender das crianças e os aspectos que afligem a escola. Ela demonstra

ter incorporado a premissa do PIBID, que parte da tendência investigativa sobre

formação de professores que valoriza o denominado professor reflexivo. O PIBID

apoia-se na concepção do professor pesquisador, que busca compreender a própria

prática.

A supervisora do PIBID relatou a contribuição da vivência no programa

também para o seu desenvolvimento pessoal. Segundo ela, sempre teve dificuldade

de comunicar-se perante muitas pessoas, e a partir dos ciclos de estudos do PIBID,

desenvolveu esta questão, pois este espaço propiciava momentos em que as bolsistas

e a supervisora expunham suas posições, dialogando sobre diversas temáticas e

questões advindas da prática cotidiana.

Enfim, as análises dos dados das pesquisas apontam que o PIBID promoveu

aprendizagens recíprocas tanto para as professoras regentes quanto para as bolsistas.

As bolsistas buscaram solucionar os problemas vivenciados no cotidiano escolar por

meio do apoio e do diálogo com as professoras, e estas ressaltaram que aprenderam

novas maneiras de ensinar por meio das práticas das bolsistas. A supervisora ainda

demonstrou na entrevista que a experiência no PIBID oportunizou uma postura

investigativa frente aos problemas da escola.

Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo apresentar e analisar a aprendizagem da

docência adquirida por meio da troca de saberes entre as professoras da educação

básica e as bolsistas do PIBID. Para sua realização, as autoras utilizaram os

resultados de suas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia da (UFV).

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Entretanto, como já mencionado, foi realizado um recorte das duas pesquisas,

considerando os pontos em comum de ambas. Estas pesquisas foram: (01) “Trocas de

saberes proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a

Docência: contribuições para a formação das bolsistas” e (02) “O Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e a sua contribuição para uma escola

pública: análise do desenvolvimento profissional e da aprendizagem docente.”

Os autores estudados para analisar os dados do presente trabalho apontam que

o professor aprende a sua profissão ao longo da vida e, neste contexto, os pares são

evidenciados como sujeitos que exercem influências na aprendizagem docente. Sob

este aspecto, de acordo com as respostas evidenciadas pelas participantes das

pesquisas (01) e (02), o PIBID oportunizou às licenciandas bolsistas e às professoras

atuantes na educação básica que se relacionassem, observassem as práticas realizadas

e que trocassem experiências umas com as outras. Tais oportunidades propiciaram

aprendizagens recíprocas para ambas, principalmente no que tange aos modos de

lidar com os conteúdos e ao relacionamento com os alunos.

Entretanto, a vivência na escola nos permitiu verificar a ausência de

momentos específicos para que os professores e as bolsistas dialogassem, visto que

estes momentos ocorriam, quase que exclusivamente, durante as aulas e no recreio.

Sob este aspecto, levantamos a hipótese de que se houvesse uma organização do

espaço-tempo escolar que favorecesse ainda mais o diálogo entre estes sujeitos, o

aprendizado poderia ser mais significativo para ambas.

Diante disso, é imprescindível que haja espaço e tempo destinados a

favorecer a interlocução entre as professoras regentes e as bolsistas do PIBID no

contexto de trabalho, uma interlocução que gere parceria, troca de saberes e

colaboração, visto que somos todos membros de um grupo que está em formação,

sendo aprendentes e ensinantes.

Referências bibliográficas

CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Edital do

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Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004092