1413-8123-csc-20-02-0607

10
TEMAS LIVRES FREE THEMES 607 1 Laboratório de Inovações Terapêuticas, Ensino e Bioprodutos, Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz. R. Leopoldo Bulhões 1480, Manguinhos. 21041-210 Rio de Janeiro RJ Brasil. bioeticaunirio@ yahoo.com.br A sociedade de risco midiatizada, o movimento antivacinação e o risco do autismo The media-driven risk society, the anti-vaccination movement and risk of autismo Resumo Observam-se modificações epidemio- lógicas de doenças infecciosas entre famílias de classe média de países industrializados por força de crenças ligadas aos riscos da vacinação. Estas se expandem globalmente por conta de redes de sites, blogs e celebridades de ampla influência. Em vista da complexidade de tal fenômeno cultural, em sua analítica são articulados conceitos contemporâne- os alinhados à ideia de reflexividade na sociedade de risco, assim como o da sociedade midiatizada receptora de enunciações de perigos e proteções em mútua referência e contradição. Discute-se a fre- quente emergência de tensões derivadas de ciclos de enunciações e incompletudes constituídas como “biovalores” simbólicos. Enfatiza-se o efeito persis- tente de enunciações ameaçadoras e fraudulentas a abastecer redes sociais virtuais que, há quase três décadas, ampliam o debate acerca da ligação do autismo com as vacinas. Conclui-se que os proces- sos de produção de sentidos interligam-se em di- versos níveis nos quais circulam representações que sustentam a comunicação e a identidade dos gru- pos com base em referenciais histórico-culturais. Palavras-chave Comunicação em saúde, Socieda- de de risco, Sociedade midiatizada, Programas de vacinação, Mídias e saúde Abstract Marked changes have been seen in the epidemiological profile of infectious diseas- es among middle-class families in industrialized countries due to beliefs related to the risks of vaccination. These beliefs are proliferating glob- ally due to internet sites, blogs and the influence of celebrities in the mass communication media. Due to the complexity of a cultural phenomenon of this nature, contemporary concepts aligned to the idea of reflexivity in the risk society are an- alyzed. The concept of a receptive media-driven society in which the announcement of danger and protection in mutual reference and contradiction are also assessed. The frequent emergence of ten- sions derived from cycles of utterances and base- less comments construed as symbolic “biovalues” are discussed. The persistent effect of threatening biotechnological and fraudulent utterances has influenced virtual networks for almost three de- cades, supporting the debate about the connection between autism and vaccines. The conclusion reached is that the processes of production of sig- nificance interconnect at various levels in which representations circulate that support communi- cation and group identity based on historical and cultural references. Key words Health communication, Risk society, Media-driven society, Vaccination programs, Me- dia and health Paulo Roberto Vasconcellos-Silva 1 Luis David Castiel 1 Rosane Härter Griep 1 DOI: 10.1590/1413-81232015202.10172014

description

autismo e vacinação

Transcript of 1413-8123-csc-20-02-0607

  • te

    ma

    s livr

    es fr

    ee

    th

    em

    es

    607

    1 Laboratrio de Inovaes Teraputicas, Ensino e Bioprodutos, Escola Nacional de Sade Pblica, Fiocruz. R. Leopoldo Bulhes 1480, Manguinhos. 21041-210 Rio de Janeiro RJ Brasil. [email protected]

    a sociedade de risco midiatizada, o movimento antivacinao e o risco do autismo

    The media-driven risk society, the anti-vaccination movement and risk of autismo

    resumo Observam-se modificaes epidemio-lgicas de doenas infecciosas entre famlias de classe mdia de pases industrializados por fora de crenas ligadas aos riscos da vacinao. Estas se expandem globalmente por conta de redes de sites, blogs e celebridades de ampla influncia. Em vista da complexidade de tal fenmeno cultural, em sua analtica so articulados conceitos contemporne-os alinhados ideia de reflexividade na sociedade de risco, assim como o da sociedade midiatizada receptora de enunciaes de perigos e protees em mtua referncia e contradio. Discute-se a fre-quente emergncia de tenses derivadas de ciclos de enunciaes e incompletudes constitudas como biovalores simblicos. Enfatiza-se o efeito persis-tente de enunciaes ameaadoras e fraudulentas a abastecer redes sociais virtuais que, h quase trs dcadas, ampliam o debate acerca da ligao do autismo com as vacinas. Conclui-se que os proces-sos de produo de sentidos interligam-se em di-versos nveis nos quais circulam representaes que sustentam a comunicao e a identidade dos gru-pos com base em referenciais histrico-culturais.Palavras-chave Comunicao em sade, Socieda-de de risco, Sociedade midiatizada, Programas de vacinao, Mdias e sade

    abstract Marked changes have been seen in the epidemiological profile of infectious diseas-es among middle-class families in industrialized countries due to beliefs related to the risks of vaccination. These beliefs are proliferating glob-ally due to internet sites, blogs and the influence of celebrities in the mass communication media. Due to the complexity of a cultural phenomenon of this nature, contemporary concepts aligned to the idea of reflexivity in the risk society are an-alyzed. The concept of a receptive media-driven society in which the announcement of danger and protection in mutual reference and contradiction are also assessed. The frequent emergence of ten-sions derived from cycles of utterances and base-less comments construed as symbolic biovalues are discussed. The persistent effect of threatening biotechnological and fraudulent utterances has influenced virtual networks for almost three de-cades, supporting the debate about the connection between autism and vaccines. The conclusion reached is that the processes of production of sig-nificance interconnect at various levels in which representations circulate that support communi-cation and group identity based on historical and cultural references. Key words Health communication, Risk society, Media-driven society, Vaccination programs, Me-dia and health

    Paulo Roberto Vasconcellos-Silva 1

    Luis David Castiel 1

    Rosane Hrter Griep 1

    DOI: 10.1590/1413-81232015202.10172014

  • 608V

    asco

    nce

    llos-

    Silv

    a P

    R e

    t al.

    introduo

    Observa-se recentemente que as atenes das m-dias e do imaginrio popular dos pases indus-trializados modificaram seus focos para novas ameaas. Na medida em que os riscos oferecidos por doenas controladas pela imunizao cole-tiva, como a coqueluche, o sarampo e a difteria desapareceram de seus horizontes (supostamen-te confinadas s populaes do terceiro mundo), voltam-se agora aos potenciais efeitos deletrios associados a novos riscos e males1. Quase sem-pre mal compreendidos pelo senso comum e, no raro, mal esclarecidos em suas origens pela cincia, h novos perigos nos horizontes contem-porneos.

    Os inquritos nacionais americanos descre-vem algumas modificaes no que se refere re-cente e crescente desconfiana ligada a supostos efeitos colaterais advindos dos processos de imu-nizao. As estatsticas oficiais tm identificado e descrito um padro inaudito pais que no va-cinam seus filhos por conta das chamadas cren-as filosficas ligadas associao de vacinas ao autismo2. Gust et al.3 identificaram tais atitudes e crenas em 14,8% dos pais de crianas no adequadamente imunizadas, o que contribuiria significativamente, segundo o autor, para uma peculiar condio de vulnerabilidade de natureza cultural a criar nichos de incubao.

    Em nvel de detalhamento mais profundo, Smith et al.4 examinaram os registros de 151.720 crianas procura de padres que distinguissem os que no imunizaram plenamente seus filhos, ou subimunizadores, dos no imunizadores que rejeitam qualquer tipo de interveno com-pulsria dessa natureza por fora de sua crena em riscos (principalmente queles ligados ao au-tismo).

    Segundo tais padres, as crianas subimuni-zadas vivem sob condies scio-econmico-e-ducacionais adversas: filhos de mes mais jovens e solteiras com baixa escolaridade e residentes em vizinhanas pobres de grandes centros. Em con-traste, as crianas absolutamente no imunizadas eram filhos (o sexo masculino predomina, por motivos explicitados adiante) de mes casadas, com alto nvel de escolaridade, que residem em vizinhanas com renda acima da mdia nacional e contam com amplo acesso aos meios de comu-nicao de massa. Grande parte dos casais no vacinadores expressou enfticas preocupaes acerca dos efeitos ocultos das vacinas, sobretudo concernentes condio neurolgica do autismo. Tambm admitiram que seus pediatras exerciam

    pouca ou nenhuma influncia sobre as decises familiares nesse campo. Sabe-se que, entre as 17.000 crianas no vacinadas anualmente, uma significativa maioria reside em estados america-nos que no obrigam os pais vacinao desde que estes aleguem motivos filosficos4.

    inegvel que o impacto emocional que in-cide sobre pais responsveis por crianas porta-doras de autismo no desprezvel. Tal desgaste torna parentes e conhecidos prximos especial-mente vulnerveis a qualquer tipo de discurso que atribua sentido de causalidade ao autismo condio ainda mal esclarecida perante o ima-ginrio social. Nesse ponto a proximidade fsica entre os solidrios aliada ao sentido de causali-dade das vacinas em relao ao autismo passa a configurar situaes de riscos secundrios sob o olhar epidemiolgico. A distribuio geoecon-mica dessas famlias usualmente se configura em clusters de vizinhanas prximas o que tenderia a potencializar a contaminao e a transmisso, tanto para os subimunizados como para os no vacinados4,5, objeto de discusso que no ser de-senvolvido no presente texto.

    No obstante percepo de tantos riscos, uma objeo atvica vacinao est historica-mente registrada em frequentes momentos de embate entre intervenes pblicas imunizadoras e discursos de evocao s liberdades individuais. Na Inglaterra de 1853, a vacinao obrigatria por fora de um ato governamental compulsory vaccination act6 suscitou enfticas manifestaes de desaprovao da classe mdia alta. Tido como atitude de fora inadmissvel em um estado li-beral, pais ingleses se organizaram em defesa da liberdade de arbitrar sobre o estado imunolgico de seus filhos, do que decorreu alta mortalidade por infeces no observadas nos territrios que aderiram vacinao.

    Desde ento, tanto na Europa quanto nas Amricas (exceo ao episdio da revolta da va-cina no Rio de Janeiro do incio do sculo XX), a interveno do poder pblico justifica-se plena-mente sob perspectivas tico-sanitrias7-9 funda-mentadas por princpios epidemiolgicos. Estes consideram que a dinmica das infeces se apoia na expanso de clusters de infectados, mesmo os situados em regies nos quais tais doenas j te-nham sido consideradas erradicadas10. As condi-es de propagao de um surto, assim como a velocidade de sua transmisso, esto vinculadas aglutinao desses clusters em uma massa cr-tica de suscetveis e contaminados que, quando alcanada, cria grandes obstculos plena imu-nizao coletiva. Em termos epidemiolgicos,

  • 609C

    incia &

    Sade C

    oletiva, 20(2):607-616, 2015

    os no imunizados estaro mais seguros em um ambiente de vacinados do que o contrrio os imunizados so mais vulnerveis nos bolses nos quais no houve cobertura vacinal suficiente10.

    Nos Estados Unidos, embora as leis de obriga-toriedade de imunizao escolar tenham desem-penhado papel decisivo no controle de doenas11, h excluses de ilicitude que liberam as crenas religiosas em 47 estados, assim tambm como abstenes admitidas como filosficas (em 15 estados). Contando todas as excluses, h menos de 1% de crianas em idade escolar no cober-tas na maioria dos estados11, o que considerada uma faixa epidemiolgica segura. No obstante, h um nmero crescente de crianas em idade pr-escolar, usualmente na faixa dos 2 anos de idade, cujos pais se mostram insensveis aos pro-gramas educativos de vacinao e inalcanveis pelas leis de imunizao escolar5. Essas famlias no poderiam ser classificadas como injustamen-te excludas do sistema americano de sade no h iniquidades a desafiar o Estado nesse caso, nem injustias sanitrias a confrontar. O presente texto se ocupa de um recente fenmeno cultural, materializado por famlias que deliberadamente se excluram das campanhas de vacinao por fora de assumidas crenas filosficas5 de natu-reza e meio de reproduo peculiares.

    O fenmeno das redes antivacinao inal-canvel pelas campanhas de esclarecimento e de difcil conteno pelas intervenes sanitrias parece ser produto da sociedade de risco em confluncia ampliada pelos ciclos de enunciao autorreferenciadora da sociedade midiatizada contempornea. Os discursos acerca dos perigos da vacinao, enunciados e reproduzidos pelas mdias de maior influncia cultural, no sero aqui tratados como assertivas de poder ilocucio-nrio prprio, pontual, mas como fenmenos culturais nascidos e reproduzidos em tessitura social especialmente afeita s mensagens desse feitio. Sua energia de plausibilidade e fora de ex-panso parecem se nuclear em terrenos contem-porneos de conformao complexa e, por isso mesmo, dignos de serem devidamente estudados e analisados luz do caso que se apresenta. Enfa-tiza-se a compreenso da centralidade estratgica das mdias, sobretudo a internet2, quando arti-culada a outras prticas sociais, cujas dinmicas instalam e estruturam os contextos e a tempora-lidade de instituies e indivduos7.

    Nesse cenrio, pergunta-se, a analtica des-ses novos espaos virtuais deveria incluir sua observao como dispositivos de leitura e orga-nizao de novos sentidos? Estes, nas lacunas ou

    inacessibilidade de outros, organizaria novas ra-cionalidades? No caso das redes virtuais de pais reflexivos, o estatuto cientfico deveria dar lugar fora das narrativas e teorizaes paralelas? Tais subsistemas virtuais como novas matrizes de racionalidades produtoras e organizadoras de sentido se prestariam base racionalizadora para as decises, mesmo sem sentidos de suficiente concretude para opes inequvocas? Teriam os novos patamares de simetria e proximidade entre emissores e receptores viabilizada pela Internet elevado as narrativas comuns altura das ver-dades cientficas? Estas narrativas devidamente enunciadas em sua incompletude e autorrefern-cia pelas mdias estariam a abastecer as redes de blogs e websites em suas teorias de causalidade dbia, mas que mesmo assim ofertam sentidos organizadores, como modelos para ao? Des-creve-se um processo de desencantamento e li-bertao de certezas tradicionais (embora no no sentido weberiano, que aponta para a sociedade industrial), sobretudo no que concerne Cincia, para as turbulncias da sociedade de risco, na qual deve-se conviver com ameaas globais e pessoais, emergentes e recorrentes, de crescente variedade, embora, no raro, contraditrias.

    vacinao e autismo nas mdias

    H quase trs dcadas j se percebem desta-ques na mdia sobre eventos adversos12 ligados imunizao contra a Difteria/ttano/coqueluche, a hepatite B13,14 e, principalmente, a vacina tr-plice (MMR em pases de lngua inglesa)15, que talvez tenham influenciado a averso filosfica dos pais que aderiram ao movimento antivaci-nao. Talvez o tema mais polmico e de maior repercusso16, embora suficientemente estudado h mais de uma dcada17, envolva a associao entre a vacina trplice contra sarampo, caxumba e rubola (MMR) e o autismo12.

    Desde os trabalhos pioneiros de Kanner e Eisenberg18 publicados h mais de meio sculo, as manifestaes relacionadas sndrome cres-cem em prevalncia, graas aos instrumentos de diagnstico e identificao precoce. Os sinais usualmente aparecem no primeiro ano de vida e sempre antes dos trs anos, poca na qual admi-nistrada a maioria das vacinas. A condio duas a quatro vezes mais prevalente em meninos18, o que explicaria a j referida insuficiente imuniza-o destes, assim como a teoria que suporta os inibidores da testosterona4. Sua etiognese es-pecfica est ainda por ser determinada, embora alguns estudos indiquem fatores genticos19. In-

  • 610V

    asco

    nce

    llos-

    Silv

    a P

    R e

    t al.

    dcios mais incisivos foram publicados no Lan-cet (peridico mdico ingls), em 1998, pelo Dr. Andrew Wakefield et al.20, que descreveram uma condio inflamatria intestinal que exporia crianas vacinadas s toxinas mercuriais causa-doras do autismo. Seu artigo originou reaes enfticas em vista das excessivas extrapolaes e a questionvel metodologia empregada21-23.

    O General Medical Council ingls, aps minu-ciosa anlise do trabalho, publicou um relatrio de 143 pginas no qual afirmava que os autores agiram de forma irresponsvel e antitica21. Wa-kefield teve seu registro profissional cassado na Inglaterra tambm por conta de evidncias do conflito de interesses na sua associao com advogados que incitavam as famlias s indeni-zaes e da descoberta de uma patente de vacina antissarampo supostamente mais segura regis-trada em seu nome22, alm de procedimentos invasivos, lesivos e desnecessrios impostos s crianas examinadas. As evidncias de quebra de decoro tico levaram o Lancet a publicar uma retratao23. Apesar de todas as evidncias refuta-doras24,25, dvidas ainda se alimentam nos ciclos de ateno gerados por debates frequentemente divulgados pelas mdias americanas e, sobretudo, por websites em mtua referncia a fruns de comunidades virtuais26-30. As redes virtuais anti-vacinao tm ampliado seus espaos, sobretudo pela fora das celebridades que abraaram a cau-sa em debates veiculadas pela TV28,31, o que pare-ce ter comprometido a cobertura dos programas de imunizao ingleses e americanos32-35, apesar das evidncias epidemiolgicas que se opuseram s teses anti MMR36-38.

    a transio para a sociedade midiatizada e o autismo

    A posio de autoridade que a cincia um dia desfrutou s perduraria na persistncia de um isolante dividindo a especializao cientfica das diversas formas de possibilidade de conheci-mento leigo, o que s se verifica nos campos nas quais aquela ainda consegue demarcar pela posse de algum conhecimento esotrico, no sentido fle-ckiano39,40. plausvel imaginar que a debilidade desses sentidos esotricos (assim como a emer-gncia e a popularizao de outros, interpreta-dos, traduzidos e enunciados pelas mdias) na perspectiva histrica das mutaes dos processos miditicos a partir da segunda metade do sculo XX, tenha criado condies para a amplificao de novos riscos, medos e ameaas nas dinmicas simblicas sociais41. No contexto da sociedade

    de risco e na transio da sociedade dos meios para a sociedade midiatizada a antiga funo representacional do fato jornalstico, ligada ideia de verdade, passou a enunciar e a traduzir aos consumidores reflexivos conceitos de com-plexidade to crescente quanto irrefrevel e es-sencial experincia da vida cotidiana42.

    Como observara Giddens, bem antes da era das redes virtuais, poca das prensas mecaniza-das, as mdias se nos apresentam como portas de acesso a fornecer condies de consolidao de vnculos simblicos com sistemas abstratos que tendem a se expandir e complexificar. Desde cedo as primeiras tecnologias de comunicao meca-nizadas influenciaram dramaticamente todos os aspectos da globalizao, configurando-se como elemento essencial da reflexividade e das descon-tinuidades que compeliram ruptura com o tra-dicional43.

    Ironicamente, algumas das doenas tpicas dos bolses de misria e ausncia de intervenes sanitrias, agora se expandem entre os consumi-dores com maior acesso s fontes de informaes sobre sade dos pases industrializados. Para uma parcela crescente desses consumidores, a opo parece suficientemente clara: por um lado, o risco de doenas infecciosas que acreditam ads-tritas aos trpicos de pases subdesenvolidos. Por outro, o risco de autismo uma condio neu-rolgica incurvel, emocionalmente desestrutu-rante entre as famlias e que parece se expandir aceleradamente nas ltimas dcadas por impulso de fatores ainda obscuros. A cacofonia de desin-formaes cresce no ritmo da expanso do rol de prescries e proscries nos sites dedicados polmica. Um website de contagem de corpos recebeu o nome de uma das mais influentes e ativas opositoras vacinao a modelo e atriz americana Jennifer McCarthy44 (Jenny McCar-thy Body Count).

    Ao incio de 2013 o stio contabilizava mais de 112.000 casos de doenas evitveis pela imu-nizao das quais decorreram 1094 mortes (e ne-nhum caso de autismo comprovadamente ligado MMR). A mensagem pblica de McCarthy sempre clara e direta: a MMR est relacionada ao aumento dos casos de autismo, demonstran-do como evidncia urea o caso do prprio filho. Em geral, os ativistas antiMMR tambm se valem de retrica confessional e denunciam os riscos aos quais so expostos sob a sobrecarga txica de elementos venenosos combinados a com-ponentes subreptcios nas imunizaes excessi-vas45 preconizadas pelo CDC americano46. Esse o caso de Barbara Loe Fisher (presidente do

  • 611C

    incia &

    Sade C

    oletiva, 20(2):607-616, 2015

    National Vaccine Information Center)28 e Curt Lindman apresentador de programa de rdio de expressiva audincia em seu site autismto-dayonline.com. No cenrio poltico americano, o dogma republicano criacionista parece ter seu equivalente no terreno dos democratas na defesa da tese da antivacinao47.

    O democrata Robert F. Kennedy Jr, tambm se valendo da rede antivacinao, publicou em 2005 o texto Deadly Immunity48 para dar su-porte s suas causas49, o que lhe custou muitas retificaes em virtude de informaes incorre-tas28. Kennedy Jr. denunciara elevadas concentra-es de thimerosal (um conservante usado desde 1930) como fator de exposio ao risco do autis-mo, apesar de j se saber que este no se acumula no organismo, ao contrrio de sua forma nociva o metil mercrio. O Thimerosal havia sido re-tirado das preparaes em 2001 e, apesar disso, a identificao de novos casos de autismo se man-teve em crescimento50.

    Os efeitos de sentido e seu efeito regulatrio

    Na contemporaneidade as tecnologias de comunicao e seus protocolos circunscrevem a experincia, o que confere a esses meios de aces-so uma funo definidora, no raro de emprego regulatrio51. O texto enunciador de Kennedy Jr., assim como os debates incitados pelas cele-bridades antivacinao investem em efeitos de sentido empregados, como se refere Flahault, na complementao simblica do sujeito52. A fiabilidade nas instituies so permeadas, ou mediadas, por essas operaes organizadoras tec-no-simblicas a gerar inmeros novos elementos de risco assim como seus produtos vicrios: o autismo; o thimerosal; os inibidores da testoste-rona; a deficincia de vitaminas na gestao; e as condies inflamatrias intestinais .

    Uma relao de dependncia de acesso a tais complexidades se nutriu de inumerveis proble-mticas derivadas a demandar novas operaes de enunciao-traduo. Tais mediaes tm se prestado dupla funo de abrigo e tormenta simblica, na medida em que enunciam novos transtornos to prolferos nos noticirios atuais como as novas doenas genticas, a ameaa da doena da vaca louca53 e a recente pandemia miditica de influenza54,55. Partindo de seus ciclos expansivos de enunciao de riscos, autorrefe-rencialidade de funo tradutora e incompletude (inerente ao formato, processo e ritmo de pro-duo de novidades) os meios de comunicao de massa consolidam sua posio e influncia

    acenando com a segurana provisria pela via de suas operaes de reduo de complexidades e riscos56,57. No entanto, a persistente incerteza quanto s origens perante o pleno reconheci-mento das temveis consequncias do autismo pelo intermdio desses processos tambm com-pelem busca do apoio das redes de suporte so-cial que vicejam na Internet. Nessas redes de su-porte, muitos outros rostos e relatos se misturam a novas enunciaes e incompletudes a ampliar o abrigo-tormento das certezas provisrias58,59.

    Uma vez estabelecidos os vnculos de fiabili-dade de pais-consumidores reflexivos com redes de websites e comunidades virtuais to amplas, alguns questionamentos se colocariam. Tal din-mica de construo, alimentao e validao dos sentidos anti-imunizao estaria se tornando, no interior desses espaos, um crculo autossu-ficiente de abrigo/tormenta simblica? No que se refere sociedade de risco em sua conflun-cia com a sociedade midiatizada que ora se ex-pressa na Internet (sobretudo no que concerne a tais crculos de ateno e referncia), percebe-se que a expanso de amplitude e relevncia desses stios assume uma nova centralidade na anlise cultural no mais em funo de sua natureza representacional, transportadora de sentidos, mas como marca, modelo, matriz, racionalidade produtora e organizadora de sentido60.

    Sob tais perspectivas, a analtica desses no-vos espaos implicaria sua observao como dis-positivo de leitura e organizao de sentidos que, nas lacunas ou inacessibilidade de outros, orga-nizaria racionalidades. No caso das redes virtuais de pais reflexivos, o primado das evidncias ce-deria lugar fora das experincias e narrativas. A base racional para decises que precisam ser certeiras ao tratar do futuro da prole por vezes sem sentidos de suficiente concretude para deci-ses inequvocas pautam-se nesses subsistemas virtuais, que se configuram como as novas matri-zes de racionalidades produtoras e organizadoras de sentido60. A internet possibilita patamares de simetria inauditos entre emissores e receptores de contedos61 da qual deriva a publicizao de narrativas comuns em convivncia estreita com aquelas potencializadas pelos casos mais visto-sos. Todos se ligam s redes de websites enfatica-mente assertivos acerca das vacinas e seus efeitos colaterais de causalidade dbia, mas que ofertam sentidos, de alguma forma, organizadores como modelos. Muitos consumidores de sade tam-bm frequentam o mercado livre das terapias complementares, assim como das panaceias mo-dernas, erigido a partir da incompletude de sen-

  • 612V

    asco

    nce

    llos-

    Silv

    a P

    R e

    t al.

    tidos e resduos de fatos cientficos reorganizados em novos sentidos58-62. Neste, proliferam as dietas sem glten63,64, as megadoses de vitamina D65, o tratamento em cmaras hiperbricas66, o neuro-feedback67, os enemas68, as saunas de infraverme-lho e os bloqueadores da sntese da testosterona69.

    medos atvicos, risco e vacinao

    A ampliao dos espaos de veiculao e consumo de informaes em sade, no contexto de autorreferencialidades impulsionadas pelos tantos vetores acima descritos, pode colocar de-safios inadiveis ao indivduo, no raro situado em uma encruzilhada de verses conflituosas de muitas realidades a lhe exigir com urgncia as decises certeiras. A popularizao da internet e das redes sociais virtuais como fonte de con-sumo de informaes sobre sade, segue em paralelo sua expanso como recurso para pu-blicao de discursos e verdades de mltiplas e, no raro, dissonantes verses e origens. Para uma sociedade culturalmente estruturada sob a som-bra de riscos que se multiplicam, sobretudo pela exposio dos canais miditicos, a exigncia por decises reflexivas de todos a todo momento e acerca de todos os pormenores da vida cotidiana se d sob condies nas quais descrdito e crena se alternam ao sabor dos apelos mais enfticos, reflexivos ou no. Sob a ameaa da vitalidade de seus entes queridos, alguns pais so pressionados constantemente pela ansiedade que se expressa na busca incessante por informaes e protetores contra males que se multiplicam ubiquamente.

    Tal grau de ansiedade favorece a construo de uma realidade que passa a se construir sob o peso da administrao do cotidiano e pelo anseio por certezas racionalizadas que reduzam ou eli-minem a complexidade do decidir. A partir da consagrao cultural de um risco, cuja notorie-dade se amplia pela fora do drama real de pais clebres, mesmo entre grupos inicialmente redu-zidos, origina-se um biovalor que passa a impul-sionar tambm um mercado no simblico de artefatos teraputicos alternativos, to vincula-dos economia da vitalidade70 como as dietas de emagrecimento, os suplementos energticos e os produtos anticelulite.

    Segundo Beck71, Estado, Cincia e Economia pilares da segurana perante riscos globais desgastaram-se, por vezes apresentando-se como uma espcie de irresponsabilidade organizada e intitucionalizada. Da o cidado consciente de si se torna, solitariamente, seu prprio expert72,73 selecionando informaes (ou suas verses) e de-

    cidindo no exerccio de tal condio sob as pro-liferaes imaginrias disponveis que lhe incide nos formatos simblicos mais aceitveis ou me-nos insuportveis. No mbito da sade, os dis-cursos formais diluem seu antigo e indefectvel vigor na polifonia de mensagens, abrindo terre-nos espaosos e frteis s redes de expertise como a aqui descrita. Novas tenses vicrias, perante riscos mal identificados, embora vividamente pressentidos, geram buscas por informaes na proporo da relevncia atribuda ao tema nos crculos de sua autorreferencialidade. Perde-se, assim, o sentido e o propsito da linearidade, da univocidade e da unidirecionalidade de con-ceitos clssicos no campo da comunicao. Esta, assim formatada, tenderia a situar todo o peso das verdades sobre os ombros dos emissores qua-lificados, que lutam por direcion-las como pa-cotes de evidncias queles receptores que, em-bora sempre alertas, mostram-se mais sensveis segurana dos rostos conhecidos e seus relatos pungentes.

    Talvez as opes reflexivas radicadas na infor-mao, como aqui descrito, no nos esclaream suficientemente sobre a origem de algumas das buscas e interesses. Talvez as narrativas de cele-bridades gerem impulso s novas buscas, por sua vez radicadas em medos atvicos que acabam por conduzir a fontes mais assertivas (ou plausveis) que outras. As biocincias so limitadas na iden-tificao de novos malefcios de toxinas no com-portamento de seres humanos por suas bvias implicaes ticas.

    Por outro lado, o impacto de casos reais de autismo que se aproximam pela TV ou pela in-ternet so mais eloquentes como evidncia de qualquer coisa que se queira a eles associar. Apro-fundando o caminho analtico que aqui se apre-senta, as opes dos consumidores de vitalidade em seus subsistemas de referncia podem se nor-tear no apenas por informaes, mas tambm por representaes da realidade que, por fora de vetores que no caberia analisar em detalhe no presente formato de exposio, aparentam maior fiabilidade que outras74. De forma geral, transcendendo ao caso em tela, h assertividades ocultas nos textos miditicos que nos conduzem a tais valoraes medida que tambm por elas se deixam influenciar na dialtica de sentidos a qual os semilogos se referem como marcadores de modalidade75.

    Sobre as atitudes que o produtor de um dis-curso adota, incidem elementos coincidentes ou no com uma determinada realidade descrita. Esta conquistar fora de plausibilidade, con-

  • 613C

    incia &

    Sade C

    oletiva, 20(2):607-616, 2015

    fiabilidade, credibilidade, preciso e factualida-de dentro de um sistema de representaes que orienta, seleciona e estratifica as informaes que definem os panoramas reconhecveis.

    Em sntese, o artigo do Dr. Wakefield no foi a irresistvel fora geradora do movimento anti-vacinao, mas potencializou crenas pr-exis-tentes h mais de um sculo que se apoiaram em um peridico tcnico de renome no meio biom-dico e agora contam com redes virtuais para es-clarecimento e mtua interlocuo. A partir da, tal representao passou a ser percebida como mais tangvel e perigosamente contgua na medi-da do envolvimento emocional, da empatia com casos prximos de conhecidos (ou clebres) e da interligao no mundo virtual dos consumidores em sade.

    Em sntese, Wakefield, entre outros, deu for-ma factual e verdica a representaes pr-exis-tentes que impulsionaram (mas no originaram) reprodues de uma representao sobre a qual se constituiu e se ampliou em subsistemas de sentidos uma realidade cientificamente validada. Na perspectiva fleckiana, um sistema de refern-cia se presta a apoiar esse pseudofato cientfico atravs do qual mltiplas conexes passivas e conexes ativas passaram a se equilibrar e a se desenvolver gerando um tipo de conhecimento (e subprodutos derivados) emergente da ativi-dade cultural humana em suas interaes com o social e o natural39.

    Os sentidos enunciados, autorreferentes e incompletos nesse mercado tm a oferecer ex-pectativas de salvao ou soluo de problemas, o que lhes garante impacto cultural (alm de su-cesso comercial) entre os desesperanados76. O movimento antivacinao passou a se ancorar na biotecnologia77, ganhando um sentido concreto e um biovalor essencial que, na contnua produ-o de realidades, constituiu-se como mais uma pea de um universo complexo de representaes que transcende ao universo da reflexividade mais um subsistema desse todo cultural78. Per-cebe-se, portanto, que os processos de produo de sentidos, de modo diverso lgica frankfur-tiana primordial, interligam-se a diversos nveis nos quais circulam as ideias, as representaes que sustentam a comunicao e a identidade dos grupos, o nvel histrico cultural do imaginrio como produo cumulativa das ideias que cir-culam como referenciais sempre susceptveis de ressignificao79.

    Concluso

    A nfase latente nos discursos leigos, sociol-gicos e polticos refere-se a uma nova forma de relacionamento com os profissionais da sade. O novo consumidor, instrudo por uma reflexivi-dade ligada a valores radicados no consumerism, presume, no caso, a perspectiva de nica opo racional frente s alternativas de um mercado dilemtico que ao mesmo tempo saudvel e letal. As consequncias das opes irrevers-veis nesse campo podem se converter em culpa insuportvel quando se conta com pleno acesso s informaes do PubMed e do Google. Resta-riam poucos atenuantes para absolver decises incogitadas dos pais reflexivos. As aes racionais do consumidor em sade se do em condies de crescente credibilidade da internet nas ques-tes de proteo e manuteno da vida saudvel perante novas e inmeras bioameaas que se apresentam. Na perspectiva de consumidores de informao em sade, no vcuo das certezas, mais prudente se unir aos rostos clebres e bio-grafias que soam familiares do que, ao contrrio, se orientar s mdias das estatsticas oficiais, in-determinadoras e intangveis por natureza.

    O retrato que se deseja descrever se refere colonizao das mdias por fontes de sentidos que se autovalidam, no raro sobre biovalores o que um seu atributo comunicacional lacunar. As microfonias dos rudos e rumores de riscos amplificados pelo efeito celebridade no raro promovem debates, gerando um ciclo de enun-ciaes, autorreferencialidades e incompletudes que elegem contedos que ocuparo os espaos reservados s verdades de mais vigoroso apelo. A ttulo de exemplificao, este foi o caminho per-corrido pelo ciclo de enunciaes que envolveu a doena de Kreutzfeld-Jacob, inicialmente um circuito de informaes de exclusivo interesse de especialistas.

    Convertida em Mal da vaca louca pela enunciao jornalstica de peridicos leigos, ascendeu aos ciclos viciosos dos contedos au-torreferentes em paralelo epidemia cuja reper-cusso econmica e poltica de alcance mundial ainda relembrada. No caso especfico da imuni-zao coletiva, esses crculos de ateno parecem se ampliar no tempo e no espao desde suas origens no sculo XIX at o cenrio atual globa-lizado. Transcendendo ao conceito de sociedade da informao, na perspectiva da sociedade mi-diatizada e da sociedade de risco, conclui-se que a ameaa ligada sade ou integridade fsica das crianas sobrecarrega de dvidas os pais que no

  • 614V

    asco

    nce

    llos-

    Silv

    a P

    R e

    t al.

    mais se permitem t-las. Estes, reflexivamente, no se permitem errar perante as indetermina-es que os conduzem aos recursos de informa-o amplamente acessveis, plurais e, por vezes, mutuamente dissonantes. Urgem as decises sob o imperativo autoimposto das certezas unvocas e categricas entre opes que, talvez conduzam tomada de posies aceitveis e responsveis frente a riscos iminentes, ou a outras que talvez ocasionem consequncias irreversveis.

    Colaboradores

    PR Vasconcellos-Silva, LD Castiel e RH Griep participaram igualmente de todas as etapas de elaborao do artigo.

    agradecimentos

    Ao CNPq pelo suporte material a projeto sub-vencionado.

    Jefferson T, Heijbel H. Demyelinating disease and he-patitis B vaccination: is there a link? Drug Saf 2001; 24(4):249-254. Zaas A, Scheel P, Venbrux A, Hellmann DB. Large ar-tery vasculitis following recombinant hepatitis B vac-cination: 2 cases. J Rheumatol 2001; 28(5):1116-1120. Gangarosa EJ, Galazka AM, Wolfe CR, Phillips LM, Gangarosa RE, Miller E, Chen RT. Impact of anti-vac-cine movements on pertussis control: the untold story. Lancet 1998; 351(9099):356-361. Gross L. A broken trust: lessons from the vaccine--au-tism wars. PLoS Biol 2009; 7(5):e1000114. Taylor B, Miller E, Farrington CP, Petropoulos MC, Favot-Mayaud I, Li J, Waight PA. Autism and me-asles, mumps, and rubella vaccine: no epidemiolo-gical evidence for a causal association. Lancet 1999; 353(9196):2026-2029. Kanner L, Eisenberg L. Early infantile autism, 1943-1955. Psychiatr Res Rep Am Psychiatr Assoc 1957; (7):55-65. Rosenberg RE, Law JK, Yenokyan G, McGready J, Kau-fmann WE, Law PA. Characteristics and concordance of autism spectrum disorders among 277 twin pairs. Arch Pediatr Adolesc Med 2009; 163(10):907-914. Wakefield AJ, Murch SH, Anthony A, Linnell J, Casson DM, Malik M, Berelowitz M, Dhillon AP, Thomson MA, Harvey P, Valentine A, Davies SE, Walker-Smith JA. Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive developmental disorder in chil-dren. Lancet 1998; 351(9103):637-641. Dobson R. Media misled the public over the MMR vac-cine, study says. BMJ 2003; 326:1107.Dyer C. Wakefield was dishonest and irresponsible over MMR research, says GMC. BMJ 2010; 340:593. Dyer O. Wakefield tells GMC he was motivated by con-cern for autistic children. BMJ 2008; 336:738. General Medical Council. The determinations on se-rious professional misconduct and sanction in the ca-ses of Dr. Wakefield, Professor Walker-Smith and Pro-fessor Murch. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.gmc-uk.org/news/7115.asp

    13.

    14.

    15.

    16.

    17.

    18.

    19.

    20.

    21.

    22.

    23.

    24.

    referncias

    Chen RT. Vaccine risks: real, perceived and unknown. Vaccine 1999; 17(Supl. 3):S41-S46. Zimmerman RK, Wolfe RM, Fox DE, Fox JR, Nowalk MP, Troy JA, Sharp LK. Vaccine criticism on the World Wide Web. J Med Internet Res 2005; 7(2):e17. Gust DA, Strine TW, Maurice E, Smith P, Yusuf H, Wilkinson M, Battaglia M, Wright R, Schwartz B. Un-derimmunization among children_effects of vaccine safety concerns on immunization status. Pediatrics 2004; 114(1):e16-e22. Smith PJ, Chu SY, Barker LE. Children Who Have Re-ceived No Vaccines: Who Are They and Where Do They Live? Pediatrics 2004; 114(1):187-195. Salmon DA, Haber M, Gangarosa EJ, Phillips L, Smi-th NJ, Chen RT. Health consequences of religious and philosophical exemptions from immunization laws: individual and societal risk of measles. JAMA 1999; 282(1):47-53. Durbach N. They Might As Well Brand Us: Working-Class Resistance to Vaccination in Victorian England. Soc Hist Med 2000; 13(1):45-62. Wood-Harper J. Informing education policy on MMR: balancing individual freedoms and collective responsi-bilities for the promotion of public health. Nurs Ethics 2005; 12(1):43-58. Di Liscia MS. Marcados en la piel: vacunacin y virue-la en Argentina (1870-1910). Cien Saude Colet 2011; 16(2):409-422.Brimnes N. Another vaccine, another story: BCG vacci-nation against tuberculosis in India, 1948 to 1960. Cien Saude Colet 2011;16(2):397-407.Van den Hof S, Smit C, Van Steenbergen JE, De Melker HE. Hospitalizations during a measles epidemic in the Netherlands, 1999 to 2000. Pediatr Infect Dis J 2002; 21(12):1146-1150. Orenstein WA, Hinman AR. The immunization system in the United States - The role of school immunization laws. Vaccine 1999; 17(Supl. 3):S19-S24. Olowokure B, Clark L, Elliot AJ, Harding D, Fleming A. Mumps and the media changes in the reporting of mumps in response to newspaper coverage. J Epidemiol Community Health 2007; 61(5):385-388.

    1.

    2.

    3.

    4.

    5.

    6.

    7.

    8.

    9.

    10.

    11.

    12.

  • 615C

    incia &

    Sade C

    oletiva, 20(2):607-616, 2015

    General Medical Council. Determination on Serious Professional Misconduct (SPM) and sanction: Dr An-drew Jeremy Wakefield. [acessado 2013 fev 25]. Dis-ponvel em: http://www.gmc-uk.org/Wakefield_SPM_and_SANCTION.pdf_32595267.pdfKalb LG, Cohen C, Lehmann H, Law P. Survey non-res-ponse in an internet-mediated, longitudinal autism research study. J Am Med Inform Assoc 2012; 19(4):668-673.Jordan CJ, Caldwell-Harris CL.Understanding diffe-rences in neurotypical and autism spectrum special interests through internet forums. Intellect Dev Disabil 2012; 50(5):391-402. Wallace A. An Epidemic of Fear: How Panicked Parents Skipping Shots Endangers Us All. Wired Magazine. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.wired.com/magazine/2009/10/ff_waronscience/all/1 Stephem A. New fears over MMR link to autism. The telegraph. [online]. [acessado 2013 fev 25]. Dispo-nvel em: http://www.telegraph.co.uk/news/uknews /1556766/New-fears-over-MMR-link-to-autism. html Murray-West R. MMR scare may cause epidemics abroad. The telegraph. [online]. [acessado 2013 fev 25]. http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/1523505/MMR-scare-may-cause-epidemics-abroad.htmlGuillaume L, Bath PA. A content analysis of mass me-dia sources in relation to the MMR vaccine scare. Heal-th Informatics J 2008; 14(4):323-334. Smith MJ, Ellenberg SS, Bell LM, Rubin DM. Media co-verage of the measles-mumps-rubella vaccine and au-tism controversy and its relationship to MMR immu-nization rates in the United States. Pediatrics 2008; 121(4):e836-e843.Speers T, Lewis J. Journalists and jabs: media coverage of the MMR vaccine. Commun Med 2004; 1(2):171-181. Mayor S. Researcher from study alleging link between MMR and autism warns of measles epidemic. BMJ 2003; 327:1069. Offit PA, Coffin SE. Communicating science to the pu-blic: MMR vaccine and autism. Vaccine 2003; 22(1):1-6.Mrozek-Budzyn D, Kietyka A. The relationship be-tween MMR vaccination level and the number of new cases of autism in children in Polish. Przegl Epidemiol 2008; 62(3):597- 604. Mrozek-Budzyn D, Kietyka A, Majewska R. Lack of as-sociation between measles-mumps-rubella vaccination and autism in children: a case-control study. Pediatr Infect Dis J 2010; 29(5):397-400. Honda H, Shimizu Y, Rutter M. No effect of MMR wi-thdrawal on the incidence of autism: a total population study. J Child Psychol Psychiatry 2005; 46(6):572-579. Fleck L. Gnese e desenvolvimento de um fato cientfico. Belo Horizonte: Fabrefactum; 2010.Giddens A. Risco, confiana, reflexividade. In: Giggens A, Beck U, Lash S, organizadores. Modernizao reflexi-va. Poltica, tradio e esttica na ordem social moderna. So Paulo: Unesp; 1997. p. 221. Luiz OC. Jornalismo cientfico e risco epidemiolgico. Cien Saude Colet 2007; 12(3):717-726.Sodr M. Eticidade, campo comunicacional e midiati-zao. In: Moraes D, organizador. Sociedade Midiatiza-da. Rio de Janeiro: Mauad; 2006. Giddens A. The consequences of modernity. Cambridge: Polity Press; 1990. p. 77.

    Jenny Mccarthy body count. [Online]. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.jennymccarthybo-dycount.com/Jenny_McCarthy_Body_Count/Home.html National Vaccine Information Center. Forty nine doses of 14 vaccines before age 6? Before you take the risk, find out what it is. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.nvic.org/Downloads/49-Doses-Poster B.aspxCenters for Disease Control and Prevention. Recom-mended childhood and adolescent immunization schedule: United States January-June 2004. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2004; 53(1):Q1-Q4. Statistical Assessment Service STATS. Anti-vaccina-tion - a left wing disease? STATS.org. [Online]. George Mason University. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://thestatsblog.wordpress.com/2009/10/20/anti -vaccination-a-left-wing-disease/Kennedy-JR R. Deadly Immunity. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.webcitation.org/5glaWmdym Kennedy-Junior R. Tobacco Science and the Thime-rosal Scandal. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.robertfkennedyjr.com/docs/ThimerosalS-candalFINAL.PDF World Health Organization (WHO). Global Advisory Committee on Vaccine Safety. Thiomerosal and vacci-nes: questions and answers. [Online]. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://who.int/vaccine_safety/topics/thiomersal/questions/en/. Acessado 25 de feve-reiro de 2013.Spink MJP, Gimenes MGG. Prticas discursivas e pro-duo de sentido: apontamentos metodolgicos para a anlise de discursos sobre a sade e a doena. Saude soc 1994; 3(2):149-171. Flahault F. La parole intermdiaire. Paris: ditions du Seuil; 1978. Kitzinger J, Reilly J. The rise and fall of risk reporting: media coverage of human genetics research, false me-mory syndrome and mad cow disease. Eur J Commu-nication 1997; 12(3):319-350. Bults M, Beaujean DJ, de Zwart O, Kok G, van Empelen P, van Steenbergen JE, Richardus JH, Voeten HA. Per-ceived risk, anxiety, and behavioural responses of the general public during the early phase of the Influenza A (H1N1) pandemic in the Netherlands: results of three consecutive online surveys. BMC Public Health 2011; 11:2. Tchuenche JM, Dube N, Bhunu CP, Smith RJ, Bauch CT. The impact of media coverage on the transmis-sion dynamics of human influenza. BMC Public Health 2011; 11(Supl 1):S5. Neto AF. Fragmentos de uma analtica da midiatizao. Rev Matrizes 2008; 1(2):89-105. Neto AF. Enunciao, auto-referencialidade e incom-pletude. Rev FAMECOS 2007; 34:78-85. Senel HG. Parents views and experiences about com-plementary and alternative medicine treatments for their children with autistic spectrum disorder. J Autism Dev Disord 2010; 40(4):494-503. Harrington JW, Rosen L, Garnecho A, Patrick PA. Pa-rental perceptions and use of complementary and al-ternative medicine practices for children with autistic spectrum disorders in private practice. J Dev Behav Pediatr 2006; 27(Supl. 2):S156-S161.

    25.

    26.

    27.

    28.

    29.

    30.

    31.

    32.

    33.

    34.

    35.

    36.

    37.

    38.

    39.

    40.

    41.

    42.

    43.

    44.

    45.

    46.

    47.

    48.

    49.

    50.

    51.

    52.

    53.

    54.

    55.

    56.

    57.

    58.

    59.

  • 616V

    asco

    nce

    llos-

    Silv

    a P

    R e

    t al.

    Mata MC. De la cultura masiva a la cultura miditica. Dilogos de la comunicacin 1999; 56:80-91. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Bagrichevsky M, Griep RH. New information technologies and health consumerism. Cad Saude Publica 2010; 26(8):1473-1482. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Bagrichevsky, M, Griep RH. Panacias disseminadas pela Internet e pa-cientes vulnerveis: como conter um mercado de ilu-ses? Rev Panam Salud Publica 2011; 29(6):469-474. Autism Spectrum Disorders Health Center. Gluten-Free/Casein-Free Diets for Autism. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.webmd.com/brain/au-tism/gluten-free-casein-free-diets-for-autismAutism web. The GFCF (Gluten-Free, Casein-Free) Diet for Autism and PDD. Autism web. [online]. [aces-sado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://www.autis-mweb.com/diet.htmHerbert V. Vitamin pushers and food quacks. In Barrett S, Jarvis WT, editors. The health robbers: A close look at quackery in America. Buffalo: Prometheus Books; 1993. p. 23-44.Brownstein J. Hyperbaric Autism Treatment Shows Possible Promise. ABC News. 2009. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://abcnews.go.com/Health/AutismNews/story?id=7070353&page=1Rothman S. Understanding Autistic Spectrum Disorder and Aspergers Syndrome. Biofeedback Solutions. [on-line]. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://biofeedbacksolutions.com/autism-aspergers-syndro-me-article.htmHydrotherapy, Enema/Enima: Colon. Cure Zone. [on-line]. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://curezone.com/cleanse/enema/Hincha-Ownby M. The Lupron Protocol and IV Che-lation are Two Extreme Options. Autismo/Aspergers Syndrome. [online]. [acessado 2013 fev 25]. Disponvel em: http://autism-therapy.suite101.com/article.cfm/controversial_autism_treatments

    60.

    61.

    62.

    63.

    64.

    65.

    66.

    67.

    68.

    69.

    Rose N. The politics of life itself. Biomedicine, power, and subjectivity in the Twenty-first Century. Princeton: Prin-ceton University Press; 2007. Beck U. La sociedad del riesgo mundial. En busca de la seguridad perdida. Buenos Aires: Paids; 2008. Gortzis LG. e-Health: are there expert patients out the-re? Health Soc Rev 2009; 18(2):173-181.Lindsay S, Vrijhoef HJM. Introduction - A sociolo-gical focus on expert patients. Health Soc Rev 2009; 18(2):139-144. Lupton D. Consumerism, reflexivity and the medical encounter. Soc Sci Med 1997; 45(3):373-381. Chandler D. The basics semiotic. Londres: Routledge; 2007. Holton A, Weberling B, Clarke CE, Smith MJ. The bla-me frame: media attribution of culpability about the MMR-autism vaccination scare. Health Commun 2012; 27(7):690-701. Martins RM, Maia MLS. Vaccine adverse events and social response. Hist Cienc Saude Manguinhos 2003; 10(Supl. 2):807-825.Beck U. A reinveno da poltica: rumo a uma teoria da modernizao reflexiva. In: Giddens A, Beck U, Lash S. Modernizao reflexiva. Poltica, tradio e esttica na ordem social moderna. So Paulo: UNESP; 1997. p. 18.Spink MJP, Medrado B, Mello RP. Perigo, probabilidade e oportunidade: a linguagem dos riscos na mdia. Psi-col. Reflex. Crit. 2002; 15(1):151-164.

    Artigo apresentado em 17/07/2014Aprovado em 11/08/2014Verso final apresentada em 13/08/2014

    70.

    71.

    72.

    73.

    74.

    75.

    76.

    77.

    78.

    79.