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    O PINTOR, O MDICO E A MULHER:CDIGOS VISUAIS E DE GNERONA PINTURA DE TEMA MDICO

    Ana Paula Vosne MartinsE-mail: [email protected]

    Resumo: Este artigo trata das relaes en-tre imagens pictricas e o conhecimento

    mdico-cientfico entre o sculo XIX e inciosdo XX, tomando como referncia pinturas

    sobre temas mdicos nas quais o corpofeminino representado. Mais do quehomenagem ao conhecimento mdico e destreza dos cirurgies, essas imagens soreveladoras de um campo entrecruzado dediferentes e contrastantes representaesdo gnero para as quais o corpo femininodeu sentido e significado simblico.

    Palavras-chave:corpo; medicina; pintura

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    Quando tomo o corpo do Outro como objeto de arte ainda que no o coloque a par

    no o condeno morte;delibero sobre sua morte e o imobilizo.

    Jean-Pierre Jeudy (2002)

    A histria da medicina uma especialidade muito respeitada e conta comvrias publicaes e eventos internacionais arregimentando profissionais dahistria e tambm mdicos que atuam como historiadores amadores. Em v-rios pases, encontram-se associaes e museus que visam preservar a memriada prtica e do conhecimento mdicos, num esforo no s de preservao,mas de construo da memria e de um sentido para o passado articulando-o

    coerentemente com o presente. Talvez nenhuma outra profisso tenha tama-nha reverncia pela histria e pela memria, pois parece ser consensual que amedicina um exemplo notvel do esforo humano na superao da dor, dosofrimento e da ignorncia, superao esta que resulta, por sua vez, da ao,da inteligncia e do humanismo dos homens que no passado no se furtarama superar as adversidades e os obstculos para salvar vidas, para curar doenase amenizar os sofrimentos humanos.

    Essa imagem herica e salvadora da medicina e de seus praticantes os m-dicos encontrou no sculo XIX a sua melhor elaborao, tendo em vista que datadessa poca a construo de museus ou de espaos de preservao da memriada medicina em diferentes pases europeus e americanos. Tambm importantesalientar que o sculo XIX foi palco da constituio da disciplina histrica, estrutu-rada como um saber especializado, com metodologia e discurso prprios, exercida,da mesma forma que a medicina, por homens sbios e respeitveis. (SMITH, 2003).

    Neste artigo, vamos tratar de imagens associadas ao trabalho da memria,em particular da imagem herica e salvadora dos mdicos, bem como de outrasimagens de forte simbolismo de gnero, a ela articuladas. Mais do que analisaras pinturas de temas mdicos como indcios daquele esforo de preservao damemria, pretendemos compreender como a categoria gnero operou simbolica-mente nesse processo. Ao mirar na memria, encontramos produes imagticasque se configuram como um campo entrecruzado de diferentes e contrastantes

    representaes objetivadas, e ao mesmo tempo ancoradas no binarismo dognero, para as quais o corpo feminino deu sentido e significado simblico.

    Arte e medicina

    Na Academia Nacional de Medicina e no Memorial da Faculdade de Medi-cina da Bahia, ambos lugares da memria, existem duas reprodues da figuraherica e salvadora do mdico. Estas representaes so, respectivamente,

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    uma escultura de bronze, de autor desconhecido, intitulada A luta do mdicocontra a mortee um desenho colorido que ilustra um quadro de formandos daFaculdade de Medicina da Bahia. Trata-se do mesmo motivo, apenas as tcnicasso diferentes. Dominando a cena, vemos um mdico vestido com jaleco, emp, com uma das mos afastando a morte, representada tradicionalmente peloesqueleto. Este, por sua vez, insidiosamente agarra-se ao corpo de uma jovemmulher, semidesfalecida, mas com foras ainda para procurar a proteo domdico que a ampara com a outra mo.

    Essa imagem opera com um toposmuito bem consolidado na culturaocidental, que a dicotomia. Tanto na escultura, quanto no desenho h uma

    ntida polarizao entre a natureza e a cultura, a vida e a morte, o masculino eo feminino. Como a imagem foi produzida a partir de um esquema binrio dopensamento, somente a representao do corpo feminino podia simbolizar aomesmo tempo a natureza, a vida ameaada e o objeto do conhecimento mdico.H tambm outro aspecto importante a se ressaltar nessa imagem: a relao entreo mdico e a mulher. O tema do mdico, como protetor e conhecedor da mulher,expressa o crescente interesse mdico-cientfico pela natureza feminina e pelasdoenas de mulheres, que resultou na constituio de especialidades mdicasvoltadas para a especificidade do sexo feminino (ROHDEN, 2001; MARTINS, 2004).

    Tanto a escultura encontrada na Academia Nacional de Medicina, quanto osingelo desenho produzido para o quadro dos doutorandos da Bahia inserem-senuma tradio representacional da medicina que foi produzida por artistas pelomenos desde o Renascimento, mas que teve seu apogeu no sculo XIX, com apintura de temas mdicos (JORDANOVA, 2003). So bem conhecidas e famosasas gravuras renascentistas e as pinturas a leo de cirurgies dissecando cadveresem aulas de anatomia, comoA lio de anatomia do Dr. van der Meer, de vanMierevelt, de 1617, eA lio de anatomia do Dr. Tulp, de Rembrandt, de 1632(HANSEN & PORTER, 1999). Estas gravuras e pinturas so representaes de umconhecimento sobre o corpo humano que comeava a dar seus primeiros passosmais audaciosos, porm ainda inseguros e imprecisos, mas que demonstram demaneira inequvoca as relaes entre artistas, anatomistas e cirurgies a partir deum territrio comum e desafiador para ambos: o corpo humano. Cabe ressaltar

    que as gravuras e pinturas dos sculos XVII e XVIII representam o cirurgio ana-tomista e a produo do conhecimento anatmico que se deu pela observaode cadveres (PETHERBRIDGE & JORDANOVA, 1997).

    No sculo XIX, as relaes entre arte e medicina so mais estreitas e maiscomplexas. Por um lado, reconhece-se que as imagens tm um inegvel valorheurstico, especialmente as imagens hiper-realistas que abundam nos livros demedicina, verdadeiros signos visuais do empirismo e dos progressos dos novos

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    mtodos clnicos (FOUCAULT, 1980). Em seu belo tratado de obstetrcia, publicadoem 1912, o mdico alemo Ernest Bumm, professor na Universidade de Berlim,explicava que o ensino mdico se beneficiou do uso das imagens porque o es-prito compreendia melhor pelos olhos e tambm a memria retinha por maistempo. Seu livro contm um nmero expressivo de desenhos 606 ao todo empreto e branco e coloridos, articulando a preciso cientfica dos fenmenos e dasestruturas observadas daprs naturecom o tratamento artstico.

    Mas as relaes entre a arte e a medicina no so somente de naturezaheurstica. medida que a profisso mdica conquistou legitimidade e prestgioao longo do sculo XIX, um gnero de pintura comeou a surgir e a ganhar visi-

    bilidade nos espaos oficiais, como os sales, e nas pginas de crtica de arte empublicaes especializadas, sendo abrigado preferencialmente naqueles lugaresda memria aos quais nos referimos anteriormente. Trata-se das pinturas detemas mdicos, embora a historiadora Ludmilla Jordanova tenha mostrado quedesde o sculo XVIII a pintura dos retratos de mdicos e cirurgies desempenhouum importante papel na construo das identidades profissionais (JORDANOVA,2003). este gnero de pintura que nos interessa.

    A anlise das fontes que selecionamos para este artigo tributria de trsdiferentes abordagens que, por meio de caminhos distintos, palmilham o campodos estudos culturais. A primeira e mais antiga foi desenvolvida pelos estudosliterrios e visa compreender o processo pelo qual se constituem comunidades detextos mediante citaes, apropriaes e transformaes de textos pelos autores.A partir dos conceitos de dialogismo, conforme proposto por Mikhail Bakhtin,e de intertextualidade, desenvolvido por Julia Kristeva, esta abordagem visaentender como os textos so construdos a partir do(s) dilogo(s) com outro(s)texto(s) e mesmo com os leitores e/ou espectadores (ZANI, 2003). Este conceitooriginrio dos estudos literrios fez fortuna crtica e migrou para outros terrenosnos quais o dialogismo ou a intertextualidade articula linguagens e discursosde naturezas diferentes, como a literatura e o cinema, a propaganda e a culturavisual de massas como os quadrinhos.

    Outra abordagem qual recorremos diz respeito aos estudos de histria

    cultural e de histria social que objetivam compreender a cultura como um campono qual tenses, conflitos, solidariedades e alianas se formam e se reorganizamno interior de redes de sociabilidade mais ou menos estveis. Interessam-nos,particularmente, os estudos a respeito das inter-relaes profissionais e dos es-paos de homossociabilidade no sculo XIX, a partir dos quais artistas e mdicoscompartilharam valores e principalmente representaes de gnero (CHARTIER,2004; DARNTON, 1996; DEJEAN, 2005; JORDANOVA, 2003; LILTI, 2005; BYNUN& PORTER, 1985).

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    A terceira abordagem talvez a que mais tenha suscitado as reflexes efornecido o ponto de vista crtico para a construo dos argumentos que aquisero defendidos. Os estudos e a crtica feminista sobre a produo cultural vmcontribuindo significativamente para a compreenso dos elementos simblicos epolticos presentes na construo de narrativas escritas e visuais. Trabalhos produ-zidos desde a dcada de 1970 apontaram para a necessidade de compreender oefeito ideolgico e simblico das diferenas entre homens e mulheres na produ-o cultural, bem como seu impacto (social e subjetivo) no que diz respeito tantos representaes das mulheres, quanto insero/excluso delas nos espaosculturais e nas suas redes de sociabilidade (KNOT & TAYLOR, 2007; DIJKSTRA,1988; SHOWALTER, 1993; DOTTIN-ORSINI, 1996; BERGER, 1987; SMITH, 1998).

    Embora os trabalhos citados e muitos outros tenham uma inegvel con-tribuio no campo dos estudos culturais, cada qual com suas singularidadestericas e metodolgicas, ao nos aproximarmos do objeto de nosso estudoverificamos na bibliografia uma dificuldade conceitual para representar teori-camente as sobreposies, articulaes, interferncias, intersees e influnciasrecprocas entre a medicina e a cultura visual, particularmente a pintura. Serianecessrio um conceito semelhante ao conceito de intertextualidade para abor-dar os encontros entre as imagens e os textos que analisamos. Ento, por queno recorrer a ele? Consideramos que o conceito de intertextualidade maisadequado para tratar do dilogo entre cinema e literatura, mesmo tratando-se

    de linguagens distintas. No entanto, possvel pensar nas citaes, aluses eestilizaes literrias operadas pela imagem flmica, e os exemplos so abundan-tes na filmografia (ZANI, 2003). No que diz respeito s relaes entre a pinturae a medicina, a questo no pode ser tratada somente pelo vis da refernciaimediata a pintura de tema mdico mas requer um olhar analtico que sejapluridirecional, que consiga articular os diferentes cdigos visuais, cientficos,culturais, sociais e simblicos que se misturam de forma mais ou menos com-plexa, variando conforme as referncias culturais dos artistas e seus objetivos.

    Para tentar responder a essa dificuldade conceitual em representar teori-camente as sobreposies, articulaes, interferncias, intersees e influncias

    recprocas entre a medicina e a cultura visual, propomos uma apropriao do

    conceito de intertextualidade, dando-lhe um outro sentido e uma outra grafia:intertexto-visualidade.

    Com esse conceito, procuramos estudar as relaes entre os textos mdicose as imagens pictricas sobre temas mdicos, tomando como referncia algunstrabalhos que empreenderam anlise semelhante para um conjunto maior e maisdiversificado de fontes imagticas e textuais, no qual recorrente a problematiza-o do corpo feminino (BROOKS, 1989; DIJKSTRA, 1988; DOTTIN-ORSINI, 1996).

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    Compartilhamos com estes trabalhos a ideia de que os dilogos entre a medicina,a pintura e a literatura oitocentistas so expresses da intertexto-visualidade e queno ocorrem em terreno neutro ou imparcial, mas a partir de convenes e decdigos culturais compartilhados por mdicos, pintores, escritores e tambm pelopblico. Nesse sentido, a intertextovisualidade no mero reflexo do progressocientfico e do interesse que este despertou entre artistas e literatos, visto que re-quer uma representao mais realista. Aproximando-nos das reflexes de LudmillaJordanova, a arte e a medicina compartilhavam de um amplo conjunto de fontese de referncias culturais que nunca foram exclusivamente do domnio mdico; eeste compartilhamento encontra no corpo humano o seu vrtice e a sua fonte demltiplos significados epistemolgicos, estticos, emocionais e tambm erticos.

    Todavia, esse corpo tambm no neutro, pelo contrrio; como pretende-mos demonstrar neste artigo, a intertexto-visualidade se produz a partir de umcorpo bem definido pela diferena sexual.1Defendemos que estes dois gruposprofissionais mdicos e pintores bem como o pblico que viu os quadros detemas mdicos nos sales ou leu as crticas sobre eles compartilhavam valores,ideias e representaes sobre a feminilidade, de modo essa definio do femininofoi construda a partir de cdigos culturais de gnero.

    Grande parte das pinturas de temas mdicos foi executada para homena-gear os mdicos reconhecidos por seu saber, habilidade, destreza e preciso etambm construir uma memria visual para reverenciar no s as habilidadesdos homenageados, mas a prpria medicina e a sua evoluo cientfica. Geral-mente, os pintores eram contratados por admiradores dos mdicos retratados,ou mesmo por alunos e colegas que desejavam prestar uma homenagem atravsdesta forma cultural to prestigiada como a pintura. Contudo, neste artigo, noestamos tratando dos retratos dos mdicos, mas de uma mise-en-scnecomefeito de realidade. Para criar tal efeito, os artistas colocaram em cena o corpofeminino ressaltando sua condio de objeto (do saber e do desejo) ao mesmotempo que reafirmaram o lugar e o domnio do saber mdico.

    preciso tambm discutir os limites do realismo, pois as pinturas de temasmdicos compartilham de elementos formais e estticos que se ancoram no ideal

    da representao da realidade. Diferentemente das imagens hiper-realistas doslivros de medicina, na pintura percebemos que o realismo se apresenta de for-ma problemtica, atravessado por outros cdigos simblicos, pois num mesmo

    1 Este corpo documental heterogneo composto por textos mdicos, cientficos e de divulgaopopular, bem como as imagens pictricas a eles relacionadas, tambm se voltou para outrasdiferenas, como as de classe social e as diferenas raciais. Sobre a problematizao cultural dasalteridades sociais e raciais ver SAID, 1996; JORDANOVA, 1989; SCHIEBINGER, 1994; BANCELet.alii, 2004.

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    quadro veremos que o tratamento dado representao do corpo femininoest sobrecarregado por outros valores e idealizaes que saturam o realismopretendido pelo artista (AUMONT, 1993).

    Para alm do real: o corpo feminino em cena

    Entender como as pinturas de temas mdicos construram suas narrativasvisuais requer um breve comentrio sobre esta escolha em representar corposfemininos sendo operados ou autopsiados. Mdicos, artistas e escritores com-partilhavam uma curiosidade ansiosa que est presente em diferentes contextose formas de produo cultural no sculo XIX. Explicar o que era a mulher passoua ser um desejo comum de homens cultos. Alguns sucumbiram diante do quechamavam de mistrio feminino e partiram para o ataque (ou a defesa) vendono feminino a expresso da inferioridade, da ameaa ordem e integridademasculinas. Outros, menos misginos, mas no menos ansiosos, defendiamque conhecer a mulher era fundamental para que as relaes de gnero fossemharmoniosas, ou seja, que cada um exercesse sua funo de acordo com a suanatureza de maneira complementar. De qualquer forma, importante ressaltarque nesse contexto cultural que os mdicos paulatinamente passaram a serreconhecidos como os especialistas em mulheres porque conheciam os mistriose segredos de seus corpos. Como as mulheres eram definidas pela corporalidade/sexualidade, a concluso a que muitos daqueles homens cultos chegaram que

    os mdicos tinham as informaes pelos quais tanto ansiavam. Segundo Dottin--Orsini, os mdicos brilhavam nos jantares, mas talvez devessem ser considera-dos refns dos homens de letras, que torciam o discurso mdico em proveitoprprio (1996: 225). Alguns no escondiam sua admirao pelos mdicos epelo que eles viam e sabiam, como o escritor Paul Adam:

    Um cirurgio... Esse vai muito mais longe que um amante! Penetra mais intimamenteem nosso ser. O que um ato de amor perto do ato operatrio? Coisa pouca. S nosentregamos realmente ao cirurgio... Veja, se eu fosse capaz de ter algum sentimentoseria voltado para um desses homens que sabem despir-nos at a nossa carne, quesabem violar-nos mais profundamente...(DOTTIN-ORSINI, 1996: 230).

    So bem conhecidas as demonstraes de admirao de escritores comoJules Michelet e mile Zola pelos mdicos. Michelet, em particular, que afirmouserem as mulheres doentes por sua prpria constituio mais frgil, consideravaser papel da cincia e dos mdicos salvar as mulheres e corrigir sua naturezaenferma (MICHELET, 1859/1995).

    As representaes ambguas sobre a natureza feminina e de sua definiopela profisso mdica encontraram na literatura e na pintura suas formas de

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    expresso privilegiadas. O realismo literrio e pictrico compartilhava com amedicina e a cincia oitocentistas a crena de que o olhar desimpedido e as des-cries do que era submetido ao olhar resultavam no conhecimento da realidade.

    No que diz respeito s pinturas dos temas mdicos, podemos perguntaro que a pintura representa ou qual realidade o realismo representa. Para res-ponder estas perguntas, vamos comear com uma comparao entre imagensfotogrficas obsttricas e uma pintura de tema mdico bastante famosa. Asfotografias foram selecionadas de um manual de obstetrcia publicado em1910 pelo obstetra francs Fabre, ilustrado com 466 figuras (entre desenhos efotografias). Este o tipo de imagem que denominamos em outro momento de

    imagens secretas, ou seja, elas so representaes do conhecimento, realida-des figuradas e expresses de uma relao triangular entre o olhar daquele querepresenta, o objeto representado e o conhecimento produzido. So secretasporque no foram produzidas para ser exibidas, pelo contrrio, o inusitado daperspectiva e o hiper-realismo s tinham sentido dentro dos livros de obstetrcia ede ginecologia. No visavam a fruio, mas o conhecimento; da alguns mdicosdemonstrarem a preocupao de que aqueles livros no cassem em mo leigase despreparadas para ver (MARTINS, 2005).

    FABRE. Prcis dObsttrique.Paris: Librairie J.B. Baillire et Fils, 1910. p. 398

    Em imagens descritivas como essas, dificilmente vemos o corpo na sua tota-lidade. Na maioria delas, o corpo resumido ao detalhe de estruturas anatmicas

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    ou antomo-patolgicas. Quando ele aparece na totalidade, como nas imagensque ilustram o manual obsttrico, o objetivo salientar a disfuno caso dessasduas fotografias que mostram mulheres grvidas com estreitamento grave debacia. notvel o realismo dessas fotografias: podemos inferir que so mulherespobres porque dificilmente mulheres das classes mais privilegiadas eram aten-didas em hospitais na poca; uma tem 42 anos e a outra 34; seus corpos foramfotografados em pose natural e sem nenhum tipo de retoque; enfim, no haqui nenhum tipo de idealizao, mas sim de desvelamento de corpos de pessoascomuns que chegaram ao especialista e concordaram em ser fotografadas paraajudar a cincia. Podemos afirmar que aqui o realismo da fotografia visa explicar,tem carter descritivo e no h nenhum outro elemento visual que distraia a

    ateno do objetivo didtico da cena.

    Vejamos agora uma pintura de tema mdico muito famosa do artista fran-cs Henri Gervex, intitulada Dr. Pan antes da operao, de 1887. Este cirurgio,Jules Pan, alcanou renome e suas publicaes foram referncias na segundametade do sculo XIX. A histria oficial da medicina o coloca na galeria dosclssicos da cirurgia. Era ginecologista e conquistou a fama por desenvolvertcnicas cirrgicas de remoo de tumores uterinos, ovarianos e de mamas,como tambm pelos instrumentos cirrgicos que inventou.

    Dr. Pan antes da operao, 1887. www.musee-orsay.fr

    Gervex foi um pintor realista, embora frequentasse o crculo impressionista,conforme ficamos sabendo por Zola, um crtico do artista (BROOKS, 1989). O

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    quadro mostra Pan fazendo uma preleo aos outros mdicos presentes na salade cirurgia a respeito da tcnica que iria utilizar para fazer uma mastectomia napaciente que j est anestesiada e deitada na mesa. Numa das mos ele segurauma pina, certamente a pina de Pan; a outra mo indica que ele est expli-cando. a representao da autoridade do saber mdico; suas roupas indicamostatuse a sobriedade de sua posio. Os outros mdicos ouvem atentamenteo cirurgio. No entanto, Gervex coloca um dos mdicos na cena pictrica deforma a atrair a ateno dos observadores para a mulher que ser operada.Esse mdico no olha para Pan, nem parece estar prestando ateno fala domestre. Toda a sua ateno e, ousaramos dizer, seus sentimentos, esto voltadospara a jovem mulher que est deitada inconsciente. Ele olha diretamente para

    ela e algo totalmente estranho a uma situao pr-cirrgica segura seu braosobre o trax. Por que segur-la se ela j est anestesiada? E o que significa essadiviso entre a cena realista e encomistica da preleo e a cena de admiraovoyeurstica desse mdico assistente?

    A pintura de tema mdico que representa o corpo feminino produz umconflito entre o ideal esttico do realismo e a definio cultural da feminilidade.Aqui, o gnero embaralha no s o realismo, mas o olhar do pintor e dos obser-vadores. A intertexto-visualidade resulta em algo diferente da descrio do real.Para defender esta hiptese explicativa preciso compreender alguns elementosque compem o quadro. Se procurarmos os textos mdicos da poca, que tra-

    taram do cncer de mama, saberemos que a mdia de idade das mulheres quedesenvolviam esta doena estava entre 40 e 48 anos. Dificilmente, portanto, umajovem como a do quadro seria operada por esse motivo, embora pudssemosfazer uma concesso a este respeito.

    Outra questo que os livros de medicina informam sobre a preparaopara este tipo de cirurgia e sobre a prpria cirurgia. Geralmente, uma mastec-tomia no tinha bom resultado no final do sculo XIX. As cifras de mortalidadeeram muito altas. Algo entre 1/10 a 1/6 das pacientes morria nas cirurgias porcausa da hemorragia. As que sobreviviam ficavam com graves sequelas devido radicalidade da tcnica cirrgica, que removia a mama afetada, parte da axila,do msculo peitoral e algumas vezes at parte da clavcula, o que causava defor-

    midade fsica notvel. Uma ltima questo diz respeito preparao da pacientepara a cirurgia. Os livros do final do sculo XIX explicam que somente a partea ser operada ficava descoberta, constituindo o campo cirrgico, enquanto orestante do corpo seria coberto com um leve tecido, ficando o rosto descobertopara a aplicao do anestsico. Ou seja, nas mastectomias somente o seio a seroperado ficava visvel, sendo o outro coberto (GOODBODY, 1994).

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    Essas informaes sobre a mastectomia so necessrias porque todas aspinturas que homenageiam cirurgies o fazem trazendo para o quadro uma cenacirrgica. O objetivo dar ao observador a iluso de que o pintor esteve presentenaquela cena e que conseguiu retratar de forma realista tudo que se passou,descrevendo e no interpretando, pois a descrio um procedimento mdico ecientfico. O resultado deveria ser uma descrio da realidade: o mdico-cirurgioe seu notrio saber; os seus colegas e os alunos; o instrumental cirrgico; assubordinadas enfermeiras; e no centro o corpo da bela paciente.

    O objetivo principal, descrever, o mesmo das fotografias do manualobsttrico, contudo a pintura vai muito alm da descrio realista de um corpo

    doente ou com srias limitaes fsicas, pois corrige e idealiza o corpo feminino.Vamos nos deter um pouco sobre este corpo. Nos livros de medicina, dificilmenteo elemento esttico est presente na representao do corpo feminino, emborano se possa afirmar que as interpretaes e idealizaes estejam totalmenteausentes. Contudo, quando o assunto abordado so as cirurgias, os detalhessobressaem na representao. So, portanto, imagens hiper-realistas. Nas pintu-ras, esse detalhamento suprimido em favor da idealizao do corpo feminino.

    A paciente do quadro de Gervex no parece uma doente. Ela jovem, belae seus seios so firmes e parecem bem saudveis para algum que ia se submetera uma mastectomia. Os desenhos e as fotografias das pacientes com adenocar-cinoma na mama mostram mulheres mais velhas, seios flcidos e geralmente naimagem sobressai o tumor, alm do que elas esto conscientes e posando parao fotgrafo ou desenhista (GOODBODY, 1994).

    Na pintura de Gervex e outras semelhantes, produzidas na mesma poca,as pacientes atendidas pelos mdicos nos hospitais no entram na cena realista.O realismo aqui de outra natureza, romntico e com forte elemento simblico,revelando a dinmica da intertexto-visualidade. O ideal da feminilidade produzi-do pela cultura oitocentista e pela ideologia de gnero criou uma mulher frgil,sensvel, amorosa, moralmente superior ao homem e naturalmente destinada reproduo e maternidade. Contudo, como a bibliografia extensa sobre oassunto j tratou, h variaes neste ideal, elaboradas pelo romantismo e depois

    pelo naturalismo. Da a proliferao nos textos e nas pinturas de figuras comomonjas, da mulher-flor, das virgens inacessveis, da mulher-criana e das mulheresmortas ou desmaiadas. Em todas estas imagens, se combinam elementos comoa passividade, a inconscincia (seja porque a mulher dorme, porque est emxtase ou porque est morta) e a beleza.

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    Onze anos antes de pintar esse quadro em homenagem ao famoso cirur-gio ginecologista, Gervex havia pintado outro quadro que fora rejeitado parao Salo, porque foi considerado muito indecente. Este quadro, intitulado Rolla,de 1878, foi inspirado num poema de Alfred Musset que descreve o encontroentre um homem e uma prostituta. O realismo da cena um quarto de hotel, osexo j consumado, as roupas dela jogadas no cho e seu corpo adormecido enu sobre a cama sendo observado pelo amante causou escndalo, assim comoa Olympia,de Manet, havia ofendido a moralidade burguesa em 1865.

    Rolla, 1878. http://jssgallery.org

    importante lembrar que foi por volta da metade do sculo XIX que sedeu o debate em torno do nu, numa aberta reao crtica ao tratamento quea arte acadmica havia dado ao tema. H vrios registros desse debate quePeter Brooks chamou de crise da representao do nu, entre os quais estoos textos de Zola e de artistas e crticos contemporneos. A questo girava emtorno da necessidade de romper com a estilizao do nu na pintura acadmicae de suas bacantes, baigneuses,ninfas, Vnus ou escravas orientais em defesada representao do nu moderno, o nu realista. S que esta representaorealista esbarrava nas convenes colocadas pelo pudor e principalmente pelodistanciamento cultural ou histrico que devia presidir a representao do nu a

    fim de evitar que o nudese tornasse naked. Basta lembrarmos do hiper-realismomdico de Courbet no quadroA Origem do Mundo, de 1866, que no foi feitopara ser exibido ao pblico (GAY,1988; BROOKS, 1989).

    Se compararmos os dois quadros de Gervex, veremos como o artista trazpara a pintura de tema mdico a mesma representao do corpo feminino quecausou escndalo 11 anos antes. D quase para dizer que a modelo a mesmae a sua descrio pictrica tambm: a beleza, a juventude, os mesmos cabelos

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    em desalinho arrumado, a inconscincia, a passividade e a nudez. Voltandopara o quadro sobre o Dr. Pan, possvel afirmar que aqui o realismo da cenacirrgica atravessado pelo realismo idealizado do corpo feminino. Este corpo um ideal de feminilidade e a sua presena nesse quadro opera com dois sentidos:primeiro, refora seu carter de objeto do saber mdico, pois a cena anunciaque logo o cirurgio vai abri-lo e extirpar seu mal; segundo, ele um objeto dodesejo masculino, bem reforado pelo olhar do mdico-assistente que olha etoca aquele corpo. Gervex leva o observador a se identificar com esse mdico,a ficar no seu lugar, numa triangulao de olhares e de lugares de subjetivao:o mdico, o pintor e o observador da bela mulher.

    Vejamos como a representao do corpo feminino pode ainda revelar umacomplexidade maior da intertexto-visualidade e, para tanto, vamos tratar de maisduas pinturas. Em 1869, o pintor alemo Gabriel Max havia terminado um quadroque suscitou muitos comentrios elogiosos. Trata-se da tela intitulada O anatomista.A outra pintura foi produzida pelo pintor espanhol Enrique Simonet, em 1890, como sugestivo ttulo Y tenia corazn.

    O Anatomista, 1869. www.artrenewal.org

    Y tenia corazn, 1890. www.fisterra.com

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    Temos aqui a representao da mulher morta, um tema bastante repetidona arte pictrica da segunda metade do sculo XIX. O realismo dessas pinturasparece ser indiscutvel, afinal trata-se de jovens mulheres encontradas mortas (a deGabriel Max morreu afogada; a de Simonet parece ter morrido de tuberculose emconsequncia dos excesos de una mala vida) e submetidas autpsia. Contudo,o que vemos aqui novamente a dinmica da intertexto-visualidade. O ideal defeminilidade se sobrepe ao realismo ao exaltar os mesmos signos que Gervexexaltou em suas pinturas realistas: a beleza, a juventude, os cabelos longos, ainconscincia, a passividade e a nudez. A triangulao de olhares dos sujeitosmasculinos tambm est presente, especialmente no quadro de Max, atravs doolhar melanclico do anatomista que com uma das mos desvela o jovem corpo a

    ser autopsiado e se perde em pensamentos. A pintura de Simonet tambm articulaoutro tema muito recorrente na produo cultural oitocentista sobre o feminino:a ausncia de sentimentos morais nas mulheres desregradas, ou seja, aquelasde mala vida, jovens trabalhadoras sem controle masculino direto, prostitutasou jovens de classe mdia recalcitrantes ao modelo da boa e obediente moa defamlia. Ao abrir o trax e retirar seu corao o mdico representado por Simonetfaz uma descoberta aparentemente inslita. O velho sbio descobre a verdade quesomente o olhar treinado consegue alcanar. O mistrio cede frente morte e aosaber mdico. Como bem colocou Ludmila Jordanova (1989), o desvelamento um procedimento cultural e cientfico que s tem sentido quando seu objeto o corpo feminino. Basta fazermos um esforo de imaginao e substituirmos os

    corpos que esto nestes quadros por corpos masculinos. A representao cientficae encomistica se transformaria em pardia.

    Uma comparao dessas pinturas com a fotogravura Dr. Ernest Bumm ope-rando um homemilumina melhor o lugar do gnero nessas imagens. Trata-se damesma cena cirrgica, mas as diferenas so notveis. A luz incide na figura docirurgio; seu jaleco totalmente branco diante do acinzentado de seus assisten-tes que esto na sombra. O paciente um homem, mas dele vemos somente orosto. Ningum segura seu corpo e o anestesista est com a mscara de aplicaodo anestsico, mas sem enfatizar seu olhar sobre o paciente. O corpo deste estcoberto e o cirurgio tem acesso somente ao campo cirrgico, assim como oobservador. No h nenhum elemento exterior ou alegrico aqui. A enfermeira

    que olha para o observador o faz para reforar o realismo da cena, pois estagravura foi realizada a partir de uma fotografia, da seu carter descritivo, direto.O corpo masculino no suscitava interesse, curiosidade ou mesmo ansiedade nacultura oitocentista e do comeo do sculo XX. Como disse Jordanova (1989),seria ridculo ou imoral desvelar o corpo masculino da mesma forma como foio corpo feminino nas pinturas aqui analisadas.

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    Dr. Bumm operando um homem, 1920. http://images.wellcome.ac.uk

    Compreender os mltiplos significados dessas imagens pictricas nos levapara a dinmica da intertexto-visualidade; para este terreno de encontros e so-breposies de textos e imagens, mas tambm para os conflitos e as incoernciasde uma cultura que por um lado exigia a preciso e enaltecia a representaodescritiva de uma realidade a ser conhecida e dominada. Por outro lado, lanavasobre esta mesma realidade um olhar armado pela idealizao e pelas fantasiassobre as diferenas sexuais. Acreditamos que essas pinturas so fontes privile-giadas para entendermos essa dinmica cultural.

    As narrativas visuais produzidas pelos artistas que pintaram quadros parahomenagear algum mdico, ou mesmo para abordar genericamente temasassociados intrepidez dos mdicos na luta nem sempre bem sucedida contraa morte, so tambm indicativas de como o gnero no necessariamenteassociado s mulheres ou s relaes entre homens e mulheres. Quadros comoesses que foram aqui analisados utilizam o simbolismo de gnero incorporadona figura feminina como forma de enaltecer as qualidades do homenageadoou da cincia mdica, mas ao faz-lo trazem cena outros elementos como adicotomia, o binarismo e os significados associados vida, morte e ao desejoque vo alm do objetivo inicial de representar de maneira realista o mundo da

    medicina clnica. A construo imagtica da memria dos mdicos e do sabermdico presente em pinturas como essas reveladora dos limites da objetivi-dade realista e tambm do olhar entrecruzado dos pintores, dos mdicos e dosobservadores que confluem no corpo passivo da mulher dada ao olhar.

    Abstract: This paper focus on two differenttypes of discourses in which the femalebody is understood: the pictorial images

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    and physicians text produced during theend of 19th century and beginning of

    20th. The images do not only celebratethe physicians skills, they help us to un-derstand different ways the female bodywas constructed and simbolic understoodin this period.

    Keywords:body; medicine; paintings

    Recebido para publicao em abril de 2009.

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