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BOLETIM
EPIDEMIOLÓGICO 15 SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE | DIRETORIA DE VIGILÂNCIA DA SAÚDE
13 DE JULHO DE 2020
Nº 15, JULHO DE 2020.
Nesta edição, será apresentada uma análise por di-
mensão racial dos óbitos de pessoas que residiam
em Salvador quanto a Raça/Cor e a sua distribuição
territorial, no período de 28 de março a 27 de junho
de 2020, que corresponde a 13ª a 26ª Semana Epi-
demiológica (SE). É interessante informar que to-
dos os dados agregados de óbitos são advindos do
Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM),
que, sendo de domínio público, está disponível, no
site: http://www.tabnet.saude.salvador.ba.gov.br/. A
divulgação dos boletins também ocorre pelo site:
http://www.saude.salvador.ba.gov.br/suis/home/.
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COVID-19: VIGILÂNCIA DO ÓBITO EM SALVADOR/BA | 2020
“Não podemos ficar indiferentes ao fato de que os negros morrem mais cedo
quando comparados a qualquer outro grupo social” Luiza Bairros
SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DOS ÓBITOS RELACIONADOS À COVID-19,
EM SALVADOR, BAHIA, POR UMA DIMENSÃO RACIAL E TERRITORIAL | 2020
A Diretoria de Vigilância da Saúde (DVIS), por meio da Subcoordenadoria de Informação em Saúde (SUIS) propôs,
no seu primeiro Boletim Informativo sobre a Pandemia do Coronavírus, a apresentação da metodologia adotada para
a Vigilância do Óbito - que tem a finalidade de qualificar os dados sobre a mortalidade relacionados ao SARS-CoV-2 no
município de Salvador. O monitoramento constante destes dados possibilita a construção de informação em saúde
necessárias para as tomadas de decisões no âmbito da gestão, além da divulgação pública sobre o comportamento da
doença em território soteropolitano.
Site:
Tabnet - Salvador
Site: SUIS – SMS | Divulgação Boletins
BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO | SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE | DIRETORIA DE VIGILÂNCIA DA SAÚDE Nº 15, JUL 2020
A SUIS assume a Declaração de Óbito (D.O.) como fonte principal de informação sobre os óbitos por COVID-19,
através do SIM, sendo de sua competência institucional a qualificação desses dados. Criado em 1975, pelo Ministério
da Saúde (MS), para a obtenção regular de dados sobre mortalidade no país, o SIM possibilita a captação de dados
sobre mortalidade, de forma abrangente e confiável, para subsidiar as diversas esferas de gestão na saúde pública. E a
partir das informações geradas pelos dados se torna possível a realização de análises de situação, planejamento e ava-
liação das ações, assim como, produção de indicadores de saúde e de conhecimento - através de estudos e pesquisas
epidemiológicas e sociodemográfica (BRASIL, 2015).
Embora o MS - como explicitado no Painel Coronavírus em “Definição de casos e notificação” - adote o Sistema de
Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) para notificação dos casos confirmados/
detectáveis e suspeitos e para as informação sobre os óbitos por COVID-19. A SUIS adota a base de dados do SIM,
como o sistema principal para a vigilância desses óbitos, bem como usa-o para monitoramento e como fonte de da-
dos para elaboração das informações em saúde. Usando como referência para o encerramento dos casos o SIVEP-
Gripe, assim como para consulta da Vigilância Clínica dos casos com necessidade de investigação.
Para finalização de cada caso de óbito há critérios estabelecidos pela SUIS - seguindo as Orientações para preenchi-
mento da Declaração de Óbito no contexto da COVID-19; as Orientações para codificação das causas de morte no
contexto da COVID-19 do MS; e as Orientações para a Vigilância do Óbito por COVID-19 da DIVEP/SUVISA/
SESAB. Desta maneira, a codificação B34.2 | U07.1 está relacionada aos casos com vírus detectável através de exa-
me laboratorial e B34.2 | U07.2 é referente aos casos com vírus não detectável e, também, para os casos por vínculo
clínico-epidemiológico. Vale ressaltar, que de acordo com o MS, os casos com resultados “não detectável”, não ex-
clui a doença. Nesses casos, é realizado a investigação desses óbitos para uso de outros critérios de classificação.
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O USO DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO SOBRE MORTALIDADE NA PANDEMIA
O gráfico 1 apresenta o tempo
médio de processamento de óbi-
tos confirmados de pessoas resi-
dentes em Salvador no SIM, se-
guindo os critérios descritos aci-
ma. Nele não são expressos o
número de óbitos por COVID-19
em fase de investigação. Observa
-se a média de 8,5 dias para esses
óbitos serem digitados no SIM.
Nas primeiras SE, observa-se (Gráfico 1) um período longo para input dos dados no SIM. Nesse período, também era
usado a Planilha de Acompanhamento dos óbitos por COVID-19. Com a descontinuação da alimentação dessa plani-
lha, a partir da 20ª SE, é possível se observar, um menor tempo de inserção dos dados no sistema oficial de mortali-
dade, chegando na 26ª SE, a 1,4 dias. Esse indicador demonstra o tempo entre a notificação do óbito e a entrada dos
dados da D.O no SIM.
Gráfico 1 - Tempo médio de processamento de óbitos confirmados por Covid-19 *,
de residentes em Salvador, segundo mês e semana epidemiológica – 2020
Fonte: SMS/DVIS/SUIS/SIM *Dados preliminares e sujeitos a alterações
8,5Dias, em média, para os Óbitos confirmados chegarem ao SIM
14,7
1,0
15,0
11,9
10,3 10,5
7,5
8,7 9,0
7,5 7,5
2,9
1,4
14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
Óbitos : 03 01 04 15 29 51 85 166 201 181 186 160 28
12,4
8,75,8
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
Abril Maio JunhoÓbitos : 43 536 533
Semana Epidemiológica:
Segundo a Organização Mundial de Saúde/OMS (2020), até a dia 30 de junho de 2020 foram confirmados no mundo
503.862 mil óbitos por COVID-19, sendo que 7 países já ultrapassaram a marca de 20 mil mortes. Os Estados Uni-
dos da América/EUA é o país com maior número de óbitos, 126.203 mil. Desde o dia 12 de junho de 2020 o Brasil
ocupa o 2º lugar neste ranking, atualmente com 57.622 mil óbitos; seguido por Reino Unido com 43.575 mil óbitos;
Itália com 34.744 mil óbitos; França com 29.730 mil óbitos; Espanha com 28.346 mil óbitos e México com 26.648
mil óbitos (Tabela 1). É importante considerar que cada um destes países estão em uma diferente fase da pandemia e
enfrentam contextos sociopolíticos heterogêneos.
SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DOS ÓBITOS POR COVID-19 NO MUNDO | 2020
Tabela 1 - Número de óbitos por COVID-19 em países com mais de 20 mil mortes, 2020.
País
EUA
Brasil
Reino
Unido
Itália
França
Espanha
México
Nº de
Óbitos
126.203 57.622 43.575 34.744 29.730 28.346 26.648
Fonte: Organização Mundial de Saúde/OMS, dados atualizados em 30 de junho de 2020
SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DOS ÓBITOS POR COVID-19 EM SALVADOR/BA | 2020
O gráfico 2 apresenta o número
de óbitos de pessoas por COVID-
19, residentes em Salvador, ocor-
ridos entre a 13ª a 26ª SE, refe-
rente ao período de 28 de março a
27 de junho de 2020. Verifica-se
um aumento no número de óbitos
por COVID-19 a partir da 17ª SE.
Entre a 17ª e a 21ª SE, observa-se
um aumento expressivo no núme-
ro de óbitos. Até a 26ª SE, Salva-
dor já registrou 1.593 óbitos rela-
cionados a COVID-19.
A 22ª SE registra até a presente data o maior número de ocorrência de óbitos confirmados, 201. Salienta-se que os
dados da 26ª SE são parciais, pelo dinamismo do processo de processamento dos óbitos no SIM, que também de-
pende do processo de codificação, além da busca laboratorial.
Dos 479 óbitos que estão em fase de investigação, têm-se os óbitos codificados com B34.2 | U07.2 e os com a
causa básica de óbito com códigos da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
(CID-10) pouco úteis, os chamados Códigos Garbage, relacionada a COVID-19.
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Fonte: SMS/DVIS/SUIS/SIM *Dados preliminares e sujeitos a alterações
1.593Óbitos
1.114Óbitos confirmados
479Óbitos em investigação
1 3 1 6 1529 51
85
166201 181 186
161
281 3 8 6 12
18
51
55
6647 70 73
57
12
0
50
100
150
200
250
300
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
Confirmados Em investigação
Gráfico 2 - Número de óbitos por Covid-19* de residentes em Salvador,
confirmados e em investigação, segundo semana epidemiológica – 2020
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Em Salvador
O gráfico 3, apresenta a Taxa de
Mortalidade Proporcional ao lon-
go das semanas epidemiológicas,
em Salvador. Pode-se observar
que a curva dos óbitos de pessoas
negras ao longo do período da
pandemia se manteve acima da
curva dos óbitos de pessoas não
negras, exceto na fase inicial da
pandemia e na 22ª SE. Fonte: SMS/DVIS/SUIS/SIM *Dados preliminares e sujeitos a alterações
1,01
4,72
11,65
19,65
29,06
39,81
42,69
57,66 58,74 59,46
26,98
3,334,69
6,98
22,2219,23
38,55
47,13
44,23
56,3454,55
25,71
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
% Negros % Não Negros
33,3
73,3
82,8
66,7
80,075,3 74,1
79,0
70,4 68,8
60,7
66,7
26,7
17,2
33,3
20,024,7 25,9
21,0
29,6 31,3
39,3
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
Percentual de óbitos confirmados por Covid19, Negros e Não negros
% Negros % Não Negros
MORTALIDADE E LETALIDADE DA COVID-19 POR DIMENSÃO RACIAL
Mundo
Embora 18% da população dos EUA seja negra, ela representa 58% das mortes por COVID-19, segundo Relatório da
amfAR e publicado no início de maio (MILLETT, 2020) . De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Do-
enças (CDC), estados como Louisiana e Alabama, as disparidades são ainda maiores. Em Louisiana, 33% da popula-
ção é negra, no entanto, as mortes afro-americanas por COVID-19 equivalem a 70%. No Alabama, com 26% da po-
pulação negra, tem uma proporção de mortes de 44% para esta população.
Há de se atentar para uma maior letalidade da população negra (preta e parda) observadas em países como EUA,
Brasil, Reino Unido e França, como afirmou já em meados de maio a chilena Michelle Bachelet, alta-comissária da
Organização das Nações Unidas/ONU para direitos humanos. Para as pesquisadoras Kia Cadwell e Edna Araujo
(2020), trata-se do resultado do racismo estrutural que remonta à escravidão.
Brasil
No Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística/IBGE (2018), aponta que cerca da metade das 209 milhões de pessoas são negras (19,2 milhões pretas e
89,7 milhões pardas), sendo os 75% mais pobres. Segundo análise feita pela Agência Pública, com base nos dados
divulgados pelo MS, em São Paulo e no Rio de Janeiro, os bairros onde a população negra está mais concentrada
representam o maior quantitativo de óbitos pela doença. Afirma também que no Amazonas, entre as pessoas que de-
senvolvem quadros graves da COVID-19, são mais frequentes mortes na população negra.
A Portaria nº 344, de 1º de fevereiro de 2017, do Ministério da Saúde, define que o campo raça/cor deve ser preen-
chido conforme autodeclaração do usuário – ou parentes, em caso de morte –, considerando os padrões do IBGE, que
incluem as alternativas: branca, preta, amarela, parda ou indígena. Dessa forma, estabelece a obrigatoriedade dessa
informação aplicada a todos os registros utilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo sendo item obrigató-
rio para o preenchimento dos formulários nos serviços públicos de saúde desde 2017, a informação de raça/cor ainda
representa ausências nacionais e gera dúvidas sobre a implementação de medida necessárias (IBGE, 2018).
Gráfico 3 - Mortalidade proporcional de óbitos confirmados por Covid-19 *,
de residentes em Salvador, negros e não negros – 2020
Para a Taxa de Mortalidade (por 10.000 hab.) segundo raça/cor, se observa, 3,9% para negros e 3,8% para os não
negros. Para essa análise, foi considerado “negros”, a soma de pardos e pretos e para “não negros”, a soma dos bran-
cos, amarelos e indígenas. Para o cálculo da Taxa de Mortalidade da população estratificada por raça/cor, foi utiliza-
do o número de óbitos por raça/cor – 819 óbitos para população negra e 210 para não negros – e no denominador, o
quantitativo populacional de acordo com a raça/cor.
Com 1.114 óbitos por Coronavírus (dados parciais), o município de Salvador é responsável por 65% dos óbitos da
Bahia, até o dia 27 de junho de 2020 já tinham confirmados 1.697 óbitos por COVID-19, representando, assim, uma
letalidade de 2,6%. Para Salvador, esta proporção, chega a 3,4%, mas ao se considerar a dimensão racial, a letalidade
chega aos 5,7% para a população negra, segundo dados do 13º Boletim Epidemiológico do Centro de Informação
Estratégica de Vigilância em Saúde/CIEVS -Salvador. Esse indicador, demonstra que apesar de Salvador ter uma
população majoritariamente negra, cerca de 80% de afrodescendentes, este não é fator determinante para a ocorrên-
cia de maior número de óbitos por COVID-19 entre a população negra. É importante destacar que a letalidade visa
medir o poder da doença em determinar a morte e informar sobre a qualidade da assistência médica prestada ao usuá-
rio (BRASIL, 2003).
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Observa-se em Salvador, que 85 (8%) das D.O’s das mortes por COVID-19, estão sem o preenchimento do campo
Raça/Cor (Gráfico 4). Também é possível se observar, a estratificação racial da mortalidade em Salvador pelo coro-
navírus. Quanto à proporção de óbitos confirmados para COVID-19, observa: 0% Indígena (1), 0% Amarela (4),
18% Branca (205), 26% Preta (285) e 48% Parda (534).
Fonte: SMS/DVIS/SUIS/SIM *Dados preliminares e sujeitos a alterações
1.114Óbitos confirmados
3,9 3,8
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
Negros Não negros
Taxa de mortalidade (por 10.000 hb) segundo raça/cor
Gráfico 4 - Número de óbitos confirmados por Covid-19*, de residentes em Salvador,
segundo RAÇA/COR – 2020
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A compreensão do perfil de óbitos por COVID-19 por raça/cor possibilita que as políticas adotadas para o enfren-
tamento da pandemia sejam elaboradas de acordo com as especificidades étnico-raciais e culturais. Por isso, existe
a necessidade de refletir a partir das singularidades dos perfis epidemiológicos. A não observância dessa prerroga-
tiva gera uma maior exposição à letalidade dos grupos mais vulneráveis. A Vulnerabilidade se apresenta como o
resultado dos anos de escravidão, que deixa como legado para a população negra, as desigualdades econômicas e
sociais, menor expectativa de vida, menos acesso à educação, saneamento básico e aos serviços de saúde
(BAIRROS, 2000).
Além de existir uma relação importante da COVID-19 no que diz respeito às doenças preexistentes, como diabetes,
hipertensão e obesidade, estes são fatores frequentes também relacionados à saúde da população negra, o que os
torna mais vulneráveis ao novo coronavírus. A pesquisa “Vigitel Brasil 2018 População Negra: Vigilância de fato-
res de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico”, publicada em 2019 pelo MS - que recente-
mente foi excluída da página - traz a constatação de que a raça/cor atua como um elemento que contribui para a
vulnerabilização da população negra. A pesquisa revela ainda menor acesso ao consumo de frutas e hortaliças das
pessoas negras em comparação às brancas, mas maior frequência dos indicadores de excesso de peso e obesidade.
O acesso desigual à saúde e oportunidades econômicas desfavoráveis à população negra sugerem um cenário mais
susceptível ao aumento dos desfechos de óbito. De acordo com o IBGE e a Fundação Oswaldo Cruz/Fiocruz
(2019), quase 80% da população brasileira que depende do Sistema Único de Saúde/SUS se autodeclara negra,
mas apenas 44% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva/UTI estão no SUS. O relatório epidemiológico mais
recentes do MS demonstra que a população negra representa 55% dos pacientes hospitalizados devido à síndrome
respiratória aguda grave por COVID-19 e quase 61% dos óbitos (BRASIL, 2020). Menor acesso à saúde significa
maior exposição a riscos (BRASIL, 2017).
IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA NUMA DIMENSÃO RACIAL
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DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL DOS ÓBITOS POR COVID-19 EM SALVADOR | 2020
Em correspondência analí-
tica com os gráficos 3 e 4,
os gráficos 5 e 6 apresen-
tam a Taxa de Mortalidade
por COVID-19 a cada
10.000 hab. no município
de Salvador por Distrito
Sanitário e a distribuição
do número de óbitos con-
firmados para COVID-19
pelos 10 principais bairros,
respectivamente. Fonte: SMS/DVIS/SUIS/SIM *Dados preliminares e sujeitos a alterações
4,2Óbitos a cada 10.000 habitantes
Taxa de mortalidade por 10.000 habitantes
Itapagipe – 5,9
Liberdade 5,0
Subúrbio Ferroviário – 4,8
Brotas–4,1
Barra/Rio vermelho– 4,0
Cajazeiras – 3,9
Centro Histórico – 3,9
Pau da Lima– 3,8
Cabula/Beiru– 3,4
Itapoan– 2,4
16
28
41
61
62
84
84
89
96
131
132
136
154
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
(VAZIO)/IGNORADO
CENTRO HISTÓRICO
BOCA DO RIO
ITAPOAN
CAJAZEIRAS
BROTAS
PAU DA LIMA
LIBERDADE
ITAPAGIPE
SAO CAETANO/VALERIA
CABULA/BEIRU
BARRA/RIO VERMELHO/PITUB
SUBURBIO FERROVIARIO
Número de Óbitos
Gráfico 5 - Taxa de mortalidade (por 10.000 hab) por Covid-19 *, de residentes em
Salvador, segundo distrito sanitário – 2020
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Gráfico 6 - Número de óbitos confirmados* de residentes em Salvador,
por Covid-19, segundo 10 principais bairros – 2020
No gráfico 6, observa-se o número de óbitos confirmados de pessoas residentes em Salvador, por COVID-19, numa
distribuição territorial, segundo os 10 bairros com maior frequência. O bairro de Plataforma concentra 35 óbitos;
seguidos pelos bairros de Periperi e Paripe, ambos com 29 óbitos; Liberdade e Cosme de Farias com 27 óbitos, cada
um deles; São Caetano e Lobato com 26 óbitos, cada; São Marcos e Federação com 25 óbitos, cada; e Pernambués
com 24 óbitos.
Não se pode deixar de analisar a importância do território como determinante nas condições de saúde de uma popu-
lação. A disseminação do Coronavírus em Salvador, assim, como no Brasil se originou em bairros nobres, cujos
moradores viajaram para a Europa. Destaca-se que os três primeiros óbitos de residentes em Salvador por COVID-
19 ocorreram nos bairros da Pituba e Horto Florestal, considerados bairros “valorizados” da capital baiana. Os da-
dos sugerem que os Decretos Municipais que tiveram início em 14 de março de 2020 com a adoção de medidas
temporárias de prevenção e controle para enfrentamento da COVID-19 foram efetivas na redução da circulação do
vírus nos bairros onde os casos foram iniciados, de maior concentração branca (IBGE,2018) e que também impac-
tou na redução do número de óbitos.
É importante ressaltar que os bairros de Plataforma, Periperi, Paripe e parte do Lobato, pertencem ao Distrito Sani-
tário do Subúrbio Ferroviário (DSSF), terceiro mais populoso de Salvador. Dentre os problemas dos serviços de
saúde identificados neste DS, estão a baixa cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF); baixa oferta de cole-
ta de exames e demora nos resultados; precariedade das condições de trabalho; baixa qualificação dos profissionais
de saúde na assistência humanizada (PMSS - 2018-2021, 2019). Tais achados já apontavam a necessidade de me-
lhorias para garantia de uma assistência à saúde adequada.
A distribuição territorial dos óbitos revela a forte determinação sociorracial, sendo essencial para a análise da situa-
ção de saúde da população, bem como para o planejamento de estratégias de intervenção. É possível acompanhar o
caminho percorrido pelo coronavírus, o fez chegar aos bairros de maioria negra em um curto espaço de tempo, re-
forçando as questões de sobreposição das vulnerabilidades relacionadas à saúde, ao adoecimento, e aos desfechos
desfavoráveis e desiguais nas sociedades.
Secretário Municipal de Saúde Leonardo da Silva Prates
Subsecretária Municipal de Saúde Maria Lucimar Alves de Lira Rocha
Diretora de Vigilância da Saúde Luiza Côrtes Mendes
Coord. Apoio às Ações de Vigilância a Saúde Maria da Conceição Freitas Teles
Subcoord. de Informação em Saúde Eliene dos Santos de Jesus
EXPEDIENTE
Elaboração:
Eliene dos Santos de Jesus, Thais Mara Dias Gomes,
Tharcia da P.M. dos Santos, Elaine Bispo, Vanessa So-
ares, Valdileide Ferreira, Danilo Rosário, Kelly Cristina
Meneses
Apoio: Equipe SUIS e Vital Strategies/UFMG
Produção gráficos: Jessy Leal
Revisão: Priscila Duarte de Pádua
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RECOMENDAÇÕES
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A Pandemia da COVID-19 revela desigualdades que demandam ações articuladas e equânimes. Embora a COVID-
19 não seja específica na população negra, sua prevalência tem sido maior e os dados apontam para uma morbimor-
talidade elevada nesse segmento, devendo o racismo ser considerado como determinante social da saúde.
Dessa forma, o conhecimento do perfil de óbitos por COVID-19 por raça/cor e bairros, possibilita que as políticas
adotadas para o enfrentamento da pandemia sejam elaboradas de acordo com as especificidades, inclusive étnico-
raciais, culturais e locais. Para tanto, existe a necessidade de refletir a partir das singularidades dos perfis epidemio-
lógicos. A não observância dessa prerrogativa tem gerado uma maior exposição à letalidade dos grupos mais vulne-
ráveis.
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10. BRASIL. Secretária de Vigilância em Saúde. Curso Básico em Vigilância Epidemiológica: Medidas em Saúde Coletiva e Introdução à
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PAG. 08
CONTATOS
E-mail:
Suis.saú[email protected]
Telefone: (71) 3202.1818/1820