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Fundamentos Do Racioci Nio Anali Tico

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  • 1Fundamentos de Raciocnio Analtico.

    Ronaldo Pimentel- Lic.Licenciado em Filosofia- UFJFMestrando em Filosofia- UFMG

    Rodrigo Marcos de Jesus- Lic. Mestre em Filosofia- UFMG

    Flvio Fontenelle Loque- Ms.Mestre em Filosofia- UFMG

    Luciano Lisboa- Ms.Bacharel em Filosofia- UFMG

    Mestrando em Filosofia - UFMG

    Contm questes de exames sobre Raciocnio Analtico presentes em provas recentes do Teste Anpad.

    Maro de 2011.

  • 2INDICE

    1. Do que trata a prova de Raciocnio Analtico do teste ANPAD?. 3

    2. Argumento logicamente vlido e invlido ......................... 4

    3. O termo analtico ................................................ 6

    4. Elaborao de hipteses ......................................... 11

    5. Falcias ............................................................13

    Bibliografia ...............................................................22

  • 31. Do que trata a prova de Raciocnio Analtico do teste ANPAD?

    Raciocnio Analtico uma disciplina relacionada identificao de

    argumentos vlidos e invlidos na linguagem informal. Os argumentos

    invlidos so tambm chamados falcias. A descrio das principais falcias

    foi feita inicialmente no livro de lgica de Aristteles chamado Refutao

    dos Sofistas. Atualmente, a Lgica Informal tem sido retomada e ligada

    pragmtica e retrica. Essa juno visa criar meios mais eficazes de

    convencimento e de identificao de maus argumentos, o que no nos

    interessa aqui at porque identificar um argumento como bom ou mau

    depende da circunstncia em que foi enunciado.

    Segundo o site do teste ANPAD, HTTP://www.anpad.org.br/teste.php, esta

    a seguinte descrio do exame de Raciocnio Analtico:

    A prova de Raciocnio Analtico objetiva testar a habilidade do candidato

    em avaliar uma suposio, inferncia ou argumento. Uma suposio significa

    um ato ou efeito de supor, estabelecer ou alegar por hiptese ou

    conjectura. Uma inferncia significa um ato ou efeito de inferir, tirar por

    concluso ou deduzir por raciocnio. Um argumento significa um raciocnio,

    indcio ou prova pelo qual se tira uma consequncia ou deduo.

    Cada questo consiste em um pequeno enunciado seguido por uma questo

    com cinco respostas possveis acerca desse enunciado. A tarefa do

    candidato escolher a melhor dentre essas respostas.

  • 4Embora os enunciados abordem diversos temas, estes so auto-suficientes

    em termos de compreenso do tema, no requerendo do candidato o

    conhecimento prvio do assunto tratado; portanto, o foco da questo

    privilegia a anlise do argumento, da suposio ou da inferncia contidos no

    contexto do enunciado, e no em conhecimentos prvios sobre o tema do

    enunciado em si.

    2. Argumento logicamente vlido e invlido

    Um argumento uma estrutura da linguagem lgica que possui um corpo de

    premissas, uma inferncia e uma proposio denominada concluso:

    Exemplo

    O exemplo a seguir de um silogismo categrico. Os silogismos so

    argumentos breves e possuem uma estrutura em que aparecem trs termos

    categricos distintos. Na inferncia, um dos termos desaparece, restando

    apenas os termos extremos e o marcador da inferncia no argumento indica

    essa situao:

    Premissas: Todo animal mortal. O mico-leo-dourado um animal.

    Inferncia: Portanto...

    Concluso: O mico-leo-dourado mortal.

    Premissa 1Premissa 2...Premissa n

    Inferncia: Logo, Portanto, etc.

    Concluso

  • 5A avaliao de argumentos depende da semntica. A semntica a parte da

    lgica que estuda o sentido das proposies, o sentido de uma proposio

    pode ser verdadeiro ou falso. Num argumento lgico vlido, impossvel

    que as premissas sejam verdadeiras e a concluso seja falsa, uma vez

    que a concluso segue das premissas. Qualquer outra situao, portanto,

    com respeito ao argumento torna-o logicamente invlido.

    No exemplo acima, se for assumido que as premissas do argumento so

    todas verdadeiras, no h como negar a verdade da concluso. A inferncia

    imediata.

    Mas h casos, por exemplo, em que a verdade ou falsidade da concluso no

    tem como ser sustentada pelas premissas do argumento. Esse um caso de

    argumento logicamente invlido.

    Exemplo

    Premissas: Todo brasileiro lusfono. Todo brasileiro cordial.

    Inferncia: Portanto...

    Concluso: Todo lusfono cordial.

    Observe que, nesse caso, partindo da verdade de todas as premissas, no h

    como sustentar a verdade da concluso. No h informao suficiente nas

    premissas que podem indicar que Todo lusfono cordial., o que torna o

    argumento logicamente invlido, ou falacioso.

  • 6Portanto, em argumentos em que a concluso no pode ser sustentada pelas

    premissas, a sua avaliao como sendo invlido. A situao em que a

    concluso, apesar de verdadeira, no estar localizada nas premissas ser uma

    verdade no sustentada pelas premissas no nos interessa aqui. Portanto, no

    raciocnio analtico, assumimos como verdadeira nica e exclusivamente as

    premissas do argumento, ou seja, o enunciado do exerccio, e avaliamos a

    argumentao de acordo com as respostas ou a concluso do argumento.

  • 73. O termo analtico

    Uma definio negativa do termo analtico dizer que aquilo que no

    sinttico. Uma vez que o que sinttico aquilo que acrescentado, ou

    reunido, o que analtico a decomposio ou a simples repetio. O

    restante da seo deixa a definio de analtico explcita.

    Vamos descrever agora dois exemplos que se aplicam o termo analtico.

    Primeiro, em proposies analticas, depois, em um silogismo.

    a) Discusso do exemplo das proposies: Segundo o filsofo Kant,

    toda proposio analtica quando o sujeito da proposio diz a mesma coisa

    que o predicado da mesma proposio. No caso (1) x igual a x, o sujeito da

    proposio, x diz a mesma coisa que o predicado, igual a x, ou seja, no

    acrescentou nada no nosso conhecimento de x. A mesma coisa acontece em

    (2), quando afirmo Todo tringulo tem trs lados. No foi acrescentado

    nada ao conhecimento do tringulo, porque est implcito no conhecimento

    do tringulo que ele tem trs lados.

    Exemplos de proposies analticas:

    (1) x igual a x

    (2) Todo tringulo tem trs lados.

    (3) Voc voc.

    Exemplo do silogismo:

    (1) Todo homem mortal.

    (2) Todo grego homem.

    (3) Logo, grego mortal.

  • 8b) Discusso do exemplo do silogismo: O termo analtico aqui pode

    ser descrito como tirar uma parte de um todo. Temos o universo dos

    mortais em que est contido o universo dos homens e que entre os homens

    h outro universo, o dos gregos. claro que possvel inferir que todo

    grego mortal nesse caso:

    Se fosse dito que Todo grego filsofo, nesse exemplo de silogismo,

    ento o raciocnio no analtico, porque nesse caso h um acrscimo de

    conhecimento aos dados do silogismo. Veremos que isso uma falcia de

    concluso irrelevante.

    Assim, ao dizer analtico temos que ter em mente duas coisas:

    (1) No h acrscimo de informao.

    (2) Analisar retirar uma parte do todo (inferir).[ao inferir no h

    acrscimo de informao]

    Um exemplo simples:

    H muito tempo atrs, num pas distante, havia um velho rei que tinha trs

    filhas, inteligentssimas e de indescritvel beleza, chamadas Guilhermina,

    Genoveva e Griselda. Sentindo-se perto de partir desta para melhor, e sem

    saber qual das filhas designar como sucessora, o velho rei resolveu

    submet-las a um teste. A vencedora no apenas seria a nova soberana,

    como ainda receberia a senha da conta secreta do rei (num banco suo),

    alm de um fim de semana, com despesas pagas, na Disneylndia.(...)1

    Desse texto, podemos inferir vrias coisas, analisando-o, decompondo em

    partes, sem acrescentar mais informao do que aquela contida no texto.

    1 MORTARI, C. A. Introduo Lgica, So Paulo: Ed. Unesp, 2001

  • 9Podemos inferir que: (1) O rei acredita que vai morrer; (2) A futura rainha

    ser uma pessoa inteligente; etc.

    Exerccio 1: Tente inferir mais coisas desse texto.

    a. Exemplos de situaes analticas

    I. Os argumentos lgicos vlidos

    p q ora p logo q. No h acrscimo de conhecimento quando realizamos

    inferncias. Outro exemplo de inferncia tipicamente analtica: p q logo q.

    No h acrscimo de conhecimento na proposio inicial em relao

    concluso, por isso os argumentos lgicos vlidos so analticos.

    II. As palavras que so sinnimas ou descries definidas

    O sucessor de zero um nmero inteiro. = 1 um nmero inteiro.

    A guerra foi um fracasso. = O combate foi um fracasso.

    III. Simples repetio

    Pel mineiro e Lula nordestino, se for inferido que Lula nordestino, h

    a repetio de parte de um texto anterior. Isso um processo inferencial

    analtico, e possui a forma de um argumento logicamente vlido.

    Ex. 1:

    (ANPAD 02/2007) Sob uma burocracia de Estado competente e

    meritocrtica, relativamente imune a presses polticas, capaz de

    estabelecer um planejamento racional para uma trajetria superdinmica de

    acumulao produtiva tanto por parte do setor estatal como de seu

    pujante setor privado emergente , e contando com um sistema bancrio

    socializado que mobiliza e oferta crdito barato do longo prazo segundo as

  • 10

    prioridades estabelecidas, a China vem crescendo nas ltimas duas dcadas

    e meia a uma taxa mdia de 9,5% ao ano. Desde 1980, sua renda per capita

    aumentou 300%, universalizou-se a educao bsica e o percentual de

    jovens que frequentam universidades subiu de 2,2% para 21%, concentrados

    em engenharias e em carreiras tcnicas. No mesmo perodo, as exportaes

    chinesas, saindo de 0,9%, alcanaram 6,5% das exportaes mundiais em

    2004, e assim a China se transformou no terceiro protagonista do comrcio

    mundial.

    Qual das seguintes alternativas pode ser inferida a partir da leitura do

    texto acima?

    A) O fato de a China apresentar desempenho superior no campo

    econmico decorrente de um imenso excedente populacional que redunda

    na disponibilidade perene de mo de obra abundante e barata. (acrscimo de

    informao)

    B) A opo chinesa, que envolve abertura econmica ampla e controle

    social severo, propiciou as condies polticas indispensveis para aliar

    desenvolvimento sustentvel e estabilidade. (acrscimo de informao)

    C) J que o sistema chins relativamente imune a presses polticas,

    foi-lhe possvel executar consistentemente um planejamento racional, o que

    colocou a China na melhor posio do que outras naes. (proposio

    analtica e hipottica)

  • 11

    D) Outros pases em desenvolvimento no lograram crescimento nos

    patamares chineses devido existncia de condies polticas

    desfavorveis que no lhes permitiram adotar estratgias competitivas.

    (acrscimo de informao)

    E) Se outros pases em desenvolvimento adotarem os mesmos

    fundamentos econmicos escolhidos e implementados pela China,

    certamente obtero os mesmos resultados de desempenho.

    Observe que a letra C praticamente repete o contedo do texto, uma

    proposio analtica. A terceira proposio em C uma hiptese. Veremos

    abaixo como funciona uma hiptese.

    4. Elaborao de hipteses

    Uma hiptese uma suposio, um argumento provvel. Elas so provveis

    concluses de um argumento posto no enunciado da questo. Mesmo assim,

    uma suposio no deixa de ser errada, mas deve estar coerente com o

    restante do corpo textual. Raciocnios hipotticos no so evidentes.

    Vejamos uma descrio de um argumento hipottico:

    H argumentos que no tm como demonstrar a verdade de suas

    concluses como conseqncias necessrias de suas premissas. Ambicionam

    apenas caracteriz-las como provveis, ou provavelmente verdadeiras (...).

    Integram o campo das inferncias no demonstrativas.2

    2 OLIVA, A. Filosofia da Cincia, Col. Passo a Passo, no. 31, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003

  • 12

    A segunda proposio de C no exemplo 1 uma hiptese. No enunciado, h a

    frase (...) e assim a China se transformou no terceiro protagonista do

    comrcio mundial. O que coerente com, em C: o que colocou a China na

    melhor posio do que outras naes. Observe que ainda no ouve um

    acrscimo significativo de conhecimento em relao ao enunciado e a

    resposta certa, o que no ocorre nas outras alternativas em que o acrscimo

    de conhecimento evidente. coerente pensar que uma nao est em

    melhor posio que outras naes quando ela assume a terceira posio no

    ranking mundial.

    Ex. 2: Num dado concurso pblico, verificou-se que o nmero de candidatos

    por vaga era 200/vaga. Hipoteticamente, algum pode inferir que o

    concurso era muito concorrido.

    Ex. 3: Vejamos outro exemplo com elaborao de hipteses; aqui, a

    coerncia com a idia do texto importante:

    ANPAD (02/2007): Sero os combustveis derivados da biomassa, de fato,

    uma alternativa vivel para equacionar a questo energtica? Essa uma

    pergunta que desafia seriamente os que se propem compreender os rumos

    da civilizao. Segundo cientistas das Universidades de Cornell e da

    Califrnia (Berkeley), a resposta que no h benefcio energtico em

    utilizar a biomassa das plantas para produzir combustveis lquidos. Eles

    estudaram as matrizes energticas de inputs para produzir etanol a partir

    de biomassas de milho, de capim e de madeira, bem como para produzir

    biodiesel a partir da soja e do girassol. No caso da soja, concluram que a

    produo de uma unidade de energia gasta 1,27 unidades de energia fssil,

    ou seja, implica um dficit energtico de 27%. Para o milho, a lacuna

  • 13

    aumenta para 29%; para o capim, 45%; para a madeira, 57% e, para o

    girassol, alarmantes 118%.

    A) A deseconomia na produo de combustveis alternativos deixa clara

    a concluso de que os derivados de petrleo so a nica alternativa

    energtica vivel. (proposio no coerente idia do enunciado)

    B) H relatos freqentes sobre o sucesso de experincias que envolvem

    o uso do hidrognio como alternativa energtica e, por isso, essa

    opo deve ser adotada rapidamente. (acrscimo de conhecimento)

    C) Apesar do dficit energtico, eventuais programas para produzir

    combustveis alternativos a partir da biomassa tm sido

    desenvolvidos por outras motivaes, como a estratgica. (proposio

    hipottica)

    D) Algumas montadoras j lanaram no mercado modelos hbridos, que

    combinam o uso de gasolina e eletricidade e, se isso expandir, a

    necessidade de se buscarem combustveis alternativos diminuir.

    (acrscimo de conhecimento)

    E) Como o Brasil tem disponibilidade de reas agricultveis, alm de sol

    e de gua em abundncia, podemos produzir combustveis de biomassa

    com maior eficincia energtica do que diz o texto. (proposio no

    coerente idia do enunciado)

  • 14

    5. Falcias

    Temos visto que as alternativas erradas das questes de raciocnio analtico

    envolvem acrscimo de conhecimento em relao ao enunciado do exerccio,

    esses acrscimos so contingentes ou falaciosos. As falcias so

    argumentos invlidos, no h procedimento analtico ou inferencial entre as

    premissas (enunciado) e a concluso de um argumento (alternativas). Nem a

    possibilidade de formulao de hipteses coerentes ao texto. Nesse caso, o

    argumento se torna contingente, no inferencial, acrescido de conhecimento

    ou de dados irrelevantes. Vamos elencar aqui as principais falcias

    importantes para o teste ANPAD.

    a. Silogismo com termo no-distribudo

    Num silogismo vlido, h um fenmeno chamado transitividade entre trs

    termos distintos. Os termos so o termo menor, o termo maior e o termo

    mdio. Quando ocorre o silogismo, o termo mdio desaparece. Mas para isso

    acontecer, o termo deve estar distribudo. No ocorrendo isso, o silogismo

    um argumento logicamente invlido.

    Exemplo

    (ANPAD jun/2009) Em uma indstria:

    Todos os produtos alimentcios tm data de validade; e

    Todos os produtos compostos de plstico tm data de validade.

    Portanto, conclui-se que todos os produtos alimentcios so compostos de

    plstico.

    O argumento apresentado acima invlido porque:

  • 15

    a) Apresenta um sofisma, haja vista que, aparentemente, envolve uma

    descrio ambgua sobre os dois tipos de produtos em foco.

    b) Considera, erroneamente, que dois tipos diferentes de produtos so

    equivalentes, quando apenas compartilham de um atributo em comum.

    c) baseado em outro argumento, oriundo de outra fonte, e

    evidentemente sustenta sua concluso em um raciocnio circular.

    d) Contm uma analogia entre dois atributos no similares presentes nos

    dois tipos de produtos da indstria em questo.

    e) Est incompleto, ou seja, sua formulao no contempla elementos

    suficientes para que se possa avali-lo corretamente.

    5.2. Concluso irrelevante

    Quando a concluso de um argumento extrapola indevidamente as premissas.

    Neste caso, pode-se afirmar que a concluso no tem nada a ver com o que

    fora dito.

    Exemplo

    O presidente do Brasil, o Lula, vai promover a igualdade social, garantindo a

    incluso social das classes mais desfavorecidas. Logo, O presidente Lula vai

    confiscar os imveis desocupados e os automveis da classe mdia-alta e

    distribuir aos mais pobres.

  • 16

    5.3. Declive Escorregadio (Slippery Slope)

    uma falcia tpica do discurso argumentativo ou da disputa. Ocorre quando

    uma vez aceita uma premissa, o argumentador leva o oponente a aceitar

    toda uma srie de concluses absurdas ou que levam gradativamente a um

    absurdo. Quando a argumentao gradativa, em que h um acrscimo

    padro sendo iterado, dizemos que estamos diante de um argumento

    sorites, como no exemplo a seguir.

    Exemplo:

    Um policial rodovirio mede a velocidade de carros na rodovia com um radar

    com o objetivo de multar quem est em excesso de velocidade. A velocidade

    mxima 80KM/h. A margem de tolerncia do policial de 2Km/h. O veculo

    A passou a 82Km/h. Como o veculo estava na margem de tolerncia, ento o

    policial no multa esse veculo. O veculo B passa a 84Km/h, ou seja, 2Km/h a

    mais que o veculo A. O dono do veculo B argumenta com o policial que ele

    est numa margem de tolerncia de 2Km/h em relao ao veculo A, e que

    portanto no deveria ser multado. O policial termina por no multar o

    veculo B. O veculo C passa a 86Km/h, estando 2Km/h alm do veculo B, o

    policial levado a relevar o veculo C. Utilizando esse raciocnio, o policial

    levado ao absurdo de no multar nenhum veculo que passe a qualquer

    velocidade, uma vez que o policial aceitou que o veculo A passasse a

    82Km/h.

  • 17

    5.4. Generalizao apressada (Estatstica insuficiente ou tendenciosa)

    Quando se concede ao todo atributos especficos de uma parte sem haver

    uma enumerao suficiente. como uma viso deturpada.

    Exemplo

    (ANPAD 02/2007) (modificada) As famlias brasileiras fazem 20% de suas

    compras utilizando cartes de crdito, de dbito e de lojas (...). Logo

    Atualmente 20% das famlias brasileiras fazem compras com cartes de

    dbito, de crdito e de lojas.

    Exemplo

    Algum entra numa granja e nota que todas as galinhas dessa granja so

    brancas. Portanto, essa pessoa conclui que toda e qualquer galinha branca.

    5.5. Falsa Causa (Post Hoc)

    Toma como premissa de uma concluso, uma causa, que no leva

    efetivamente ao efeito (concluso). Quando uma causa no leva concluso

    que estamos esperando, dizemos que a causa espria.

    Exemplo

    Mrio foi curado da dor de cabea porque rezou um pai-nosso e dez ave-

    marias.

    Nesse caso, a reza aparece como uma causa espria.

  • 18

    Exemplo

    O exemplo do raio e do trovo bem paradigmtico.

    Evento I Evento II Evento III Tempo

    Aqui a causa espria ocorre quando consideramos que o raio a causa do

    trovo. O que no verdade. O que causa o trovo uma descarga eltrica

    anterior aos dois eventos.

    Exemplo: (ANPAD 2005) Os juros altos no explicam totalmente os

    esplndidos resultados dos grandes bancos brasileiros. Os bancos lideres de

    mercado formam o setor da economia que mais rpida e eficientemente

    reagiu s bruscas mudanas de ambiente econmico pelas quais o Brasil

    passou nos ltimos 10 anos. Quando o Plano Real cortou a jugular da inflao

    em 1994, os analistas disseram que os bancos sofreriam para sobreviver

    com estabilidade financeira. Depois, previu-se que seriam engolidos pelos

    bancos estrangeiros, todos como mais eficientes, modernos e adaptados

    vida sem inflao. Por ltimo, alguns especialistas estimaram que o lucro dos

    bancos despencaria na mesma proporo da taxa de juros SELIC. Entre os

    meses de fevereiro de 2003 e de 2004, a SELIC caiu de 26,5% para 16,5%

    ao ano, mas mesmo assim, o lucro dos bancos cresceu no mesmo perodo.

    Descarga Eltrica

    Raio

    Trovo

  • 19

    Todas as alternativas podem ser inferidas a partir do texto acima,

    EXCETO.

    A) Pelo menos entre fevereiro de 2003 e de 2004, os nmeros indicam que a

    taxa de juros apresentou uma trajetria descendente.

    B) O Plano Real provocou diretamente o aumento dos lucros dos bancos,

    eliminado a inflao e cortando a taxa de juros SELIC.

    C) Os analistas erraram flagrantemente ao avaliar o efeito das mudanas

    econmicas sobre os balanos dos maiores bancos brasileiros.

    D) Outras variveis intervenientes, alm de altas taxas de juros, tm

    influncia sobre os resultados financeiros dos bancos lderes de mercado.

    E) O Brasil passou por profundas mudanas econmicas na ltima dcada,

    provocando resultados dspares em setores diferentes.

    5.6. Exemplo com concluso irrelevante e generalizao apressada

    (ANPAD 02/2007) Neville Isdell construiu sua reputao na Coca-Cola como

    diretor de operaes do grupo nas Filipinas, nos anos 80. poca, a

    empresa detinha 30% do mercado local e era inferior, em todos os

    aspectos, rival PepsiCo. O executivo irlands sinalizou suas intenes ao

    comparecer a uma conveno em uniforme de combate e lanar uma garrafa

    de Pepsi contra a parede. Quando deixou o pas, cinco anos depois, a Coca-

    Cola duplicara sua fatia de mercado, deixando para traz a Pepsi.

  • 20

    O que se conclui a partir da leitura do texto acima?

    A) O mercado das Filipinas reproduzia uma situao mundial.

    (generalizao apressada)

    B) Conquistar 90% do mercado filipino foi um resultado decisivo para a

    Coca-cola. (generalizao apressada)

    C) A PepsiCo, nos anos 80, apresentava melhor desempenho do que a

    Coca-Cola.(concluso irrelevante)

    D) A situao da Coca-Cola s era inferior da PepsiCo nas Filipinas.

    (generalizao apressada)

    E) A disputa pelo mercado filipino foi considerada uma guerra. (note a

    sinonmia analiticidade com a terceira proposio do texto)

    5.7. Argumento Consensual

    Quando se pressupe que uma opinio adotada pela maioria corresponde

    verdade pela simples razo de ser sustentada pela maior parte das pessoas.

    Trata-se de um sofisma porque, evidentemente, nada impede a maioria de

    incorrer em erro.

  • 21

    Exemplo

    Num julgamento, algum condenado porque consensualmente os jurados

    acreditam que o ru considerado culpado de um crime. Mas a inocncia

    desse ru vem a ser provada anos depois, o que um exemplo de falcia

    consensual.

    5.8. Argumento contra a pessoa (Argumentum ad hominem)

    Quando se tenta refutar uma posio atacando a pessoa que a sustenta.

    Trata-se de um sofisma porque a validade de um argumento ou a verdade de

    um enunciado impelem do carter da pessoa que os profere como origem

    social, cor, opo sexual, etc.

    Exemplo: Situaes em que uma empresa no contrata uma mulher, um idoso

    ou um homossexual por conta da imagem e no pela competncia ou

    experincia no currculo.

    Falcias de ambigidade

    Quando os argumentos contm formulaes (palavras ou frases) ambguas,

    cujos significados variados se alternam, de forma sutil, ao longo da

    argumentao. Os tipos de falcias de ambigidade mais comuns so:

    5.9. Equvoco

    Quando se emprega um termo ou uma frase de carter polissmico, dentro

    de um mesmo contexto, de modo a induzir o interlocutor a uma

    interpretao ou compreenso errnea da argumentao.

  • 22

    Exemplo

    Os advogados defensores de psicopatas assassinos so desumanos. Logo,

    nenhum homem vem a se tornar um advogado defensor de psicopatas

    assassinos.

    5.10. Anfibolia

    Quando se argumenta a partir de premissas cujas formulaes so

    gramaticalmente mal construdas.

    Exemplo

    Os ricos sempre adoram um dinheiro. Logo, UM dinheiro adorado por

    todos os ricos existe.

    5.11. Composio

    Quando se parte das propriedades das partes de um todo para afirmar as

    propriedades do todo.

    Exemplo

    Os livros dessa instante custam R$ 30,00. Logo, toda esta instante custa

    R$ 30,00.

    5.12 Diviso

    Quando se considera que aquilo que verdade para o todo necessariamente

    verdade para as partes.

    Exemplo

    O pacote de balas custa R$5,00. Logo, cada bala custa R$ 5,00.

    5.13. nfase

    Quando se enfatiza ou se destaca partes de um enunciado alterando ou

    induzindo um determinado significado.

  • 23

    FIAT STILO 4 PORTAS POR

    R$ 259,00Em 100 prestaes.

    Como afirma Copi: As falcias so armadilhas em que qualquer um de ns

    pode cair, quando raciocina. [...] No existe qualquer mtodo seguro para

    evitar falcias. Assim, preciso vigilncia constante, ter clareza nos

    termos-chave de um enunciado e compreenso da flexibilidade da linguagem

    e da multiplicidade de seus usos. Ainda que o teste ANPAD no exija que se

    identifiquem os tipos de falcias a classificao acima permite um melhor

    entendimento dos aspectos envolvidos nesse teste.

    BIBLIOGRAFIA

    DESCARTES, R. Discurso do Mtodo in Os Pensadores, So Paulo: Nova Cultural, 1996MORTARI, C. A. Introduo Lgica, So Paulo: Ed. Unesp, 2001KANT, I. Lgica, Rio de Janeiro, BTU, 2003COPI, I Introduo Lgica, So Paulo, Mestre Jou, 1974KELLER, V. & BASTOS, C. L. Aprendendo Lgica, Petrpolis, Vozes, 2002SALMON, W. C. Lgica, Rio de Janeiro, LTC, 2002AGUIAR, T. Causalidade e Direo do Tempo, Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2008OLIVA, A. Filosofia da Cincia, Rio de Janeiro, Ed. ZAHARPOPPER, K. Conjecturas e Refutaes, Braslia, Ed. UnB