1603_Capitulo7(triangulospitagoricos)
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7. Tringulos Pitagricos
7.1 Preliminares
Neste captulo vamos calcular todos os tringulos pitagricos. Vamos tambm
responder a algumas perguntas sobre tais tringulos.
O que se pretende resolver a equao,
x2 + y2 = z2, x,y, z Z. (7.1)
Dizemos que um terno (x, y, z) Z3 soluo da equao se x2 + y2 = z2.
Note-se que (x, y, z) soluo da equao (7.1) se e s se (|x|, |y|, |z|) soluo da
mesma equao. Por outro lado, se x, y ou z igual a 0, ento a equao tem soluo
trivial. Assim, falta-nos encontrar as solues da equao,
x2 + y2 = z2, x,y, z N. (7.2)
Note-se ainda que um terno (x, y, z) N3 satisfaz x2 + y2 = z2 se e s se existir um
tringulo rectngulo cujas medidas dos catetos sejam x e y e cuja medida da hipotenusa
seja z. Estes tringulos dizem-se tringulos pitagricos.
Usaremos a notao [x, y, z] para designar a classe dos tringulos pitagricos cuja
hipotenusa mede z e x e y so a medida dos catetos. Por abuso de notao diremos: o
tringulo pitagrico [x, y, z].
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Tringulos Pitagricos
Conhecemos j alguns desses tringulos: [3, 4, 5] e [5, 12, 13], por exemplo.
4 12
3
55
13
Figura 7.1: Os tringulos [3, 4, 5] e [5, 12, 13].
Vejamos algumas consequncias (cujas demonstraes so deixadas como exerccio)
que podemos tirar do facto de um terno [x, y, z] ser um tringulo pitagrico:
1. [x, y, z] = [y, x, z];
2. se k N, [kx, ky, kz] um tringulo pitagrico;
3. se s|x e s|y ento s|z e [xs,
ys, z
s] um tringulo pitagrico;
4. (x, y) = (y, z) = (x, z) = (x, y, z).
Um tringulo pitagrico [x, y, z] tal que (x, y) = 1 diz-se primitivo. Note-se que
todo o tringulo pitagrico [x, y, z] da forma [k x0, k y0, k z0] (ou k [x0, y0, z0]) em que
k N e [x0, y0, z0] primitivo (basta considerar k = (x, y)).
Atendendo ao que foi dito, ficamos reduzidos ao estudo da equao
x2 + y2 = z2, x,y, z N, (x,y) = 1. (7.3)
7.2 Clculo dos tringulos pitagricos
Vamos agora encontrar todos os tringulos pitagricos primitivos. Comecemos por
um resultado auxiliar cuja demonstrao deixada como exerccio.
116
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Tringulos Pitagricos
Lema 7.1 Se k N e a1, a2, . . . , ak so inteiros positivos primos entre si cujo produto
a1a2 ak um quadrado perfeito, ento, para todo i, ai um quadrado perfeito.
De seguida vamos enunciar um resultado que ser usado continuamente.
Proposio 7.2 Num tringulo pitagrico primitivo a medida da hipotenusa e de um
dos catetos mpar enquanto a medida do outro cateto par.
Demonstrao: Seja [x, y, z] um tringulo pitagrico primitivo. Como (x, y) = (y, z) =
(x, z) = 1 ento apenas um dos inteiros x, y e z pode ser par.
Por outro lado, se x e y fossem ambos mpares ento z seria par e portanto
z2 0 ( mod 4) e x2 y2 1 ( mod 4)
o que contradiz a igualdade x2 + y2 = z2.
Deste modo x par e y mpar ou y par e x mpar. Em qualquer dos casos z
tem de ser mpar.
Chegamos assim ao resultado mais importante deste captulo.
Teorema 7.3 Sejam x, y, z N tais que (x, y) = 1. Ento [x, y, z] um tringulo
pitagrico primitivo se e s se existirem m,n N tais que:
x = 2mn
y = m2 n2
z = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
ou
x = m2 n2
y = 2mn
z = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
Demonstrao: Note-se que a condio m + n 1 (mod 2) diz apenas que m e n tm
paridades diferentes.
=
117
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Tringulos Pitagricos
Sejam m,n N nas condies definidas e sejam x = 2mn, y = m2n2 e z = m2+n2
(o outro caso similar). Ento
x2 + y2 = 4m2n2 + m4 + n4 2m2n2 = m4 + n4 + 2m2n2 = (m2 + n2)2 = z2.
Vejamos que o tringulo [2mn,m2n2,m2+n2] primitivo. Para isso basta mostrar
que (2mn,m2 n2) = 1. Suponhamos que no e seja p um nmero primo que divide
2mn e m2 n2 = (m n)(m + n). Note-se que p no pode ser 2 porque m2 n2
mpar.
Deste modo p divide m ou n (porque p divide 2mn) e p divide m n ou m + n
(porque p divide (m n)(m + n)). Os 4 casos tm tratamento similar:
se p divide n e m n ento p divide m, porque m = (m n) + n;
se p divide m e m + n ento p divide n, porque n = (m + n)m.
se p divide n e m n ento p divide m, porque n = m (m n);
se p divide n e m + n ento p divide m, porque n = (m + n) n.
Em qualquer dos casos p divide n e m contrariando o facto de m e n serem primos
entre si.
=
Seja [x, y, z] um tringulo pitagrico primitivo.
Usando a proposio anterior podemos supor que x par e que y e z so mpares
(o outro caso seria tratado de maneira similar).
Da igualdade x2+y2 = z2 obtemos x2 = (z+y)(zy), ou seja,(
x2
)2= (z+y
2)(zy
2)
(note-se que z + y e z y so nmeros pares). Com a inteno de aplicar o Lema
7.1 vamos mostrar que (z+y2
,zy2
) = 1. Seja d = (z+y2
,zy2
). Assim
d divide z+y2
d divide zy2
e portanto
d divide z+y2
+ zy2
= z
d divide z+y2 z+y
2= y
Uma vez que (z, y) = 1 conclumos que d = 1.
118
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Tringulos Pitagricos
Usando o Lema 7.1, existem m,n N tais que z+y2
= m2 e zy2
= n2. Assim
x = 2mn
y = m2 n2 subtraindo as duas igualdades acima
z = m2 + n2 somando as duas igualdades acima.
Para concluir basta notar que: m > n pois y positivo; m + n 1 (mod 2) pois
y mpar; (m,n) = 1 pois (x, y) = 1.
Como consequncia obtemos o seguinte resultado.
Corolrio 7.4 Sejam x, y, z N. Ento [x, y, z] um tringulo pitagrico se e s se
existirem k,m, n N tais que:
x = 2mnk
y = (m2 n2)k
z = (m2 + n2)k
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
ou
x = (m2 n2)k
y = 2mnk
z = (m2 + n2)k
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
Nota 7.5 O inteiro k que aparece no corolrio anterior o mximo divisor comum
entre as medidas de dois quaisquer dos lados do tringulo pitagrico. Por outro lado,
se k mpar ento a medida da hipotenusa e de um dos catetos mpar e a medida do
outro cateto par. Note-se ainda que, m2 +n2 1 (mod 4) e que m, n, m+n e mn
so primos entre si.
Do corolrio anterior podemos concluir o seguinte.
Proposio 7.6 Num tringulo pitagrico:
a) a medida de um dos catetos mltipla de 4;
b) a medida de um dos catetos mltipla de 3;
119
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Tringulos Pitagricos
c) a medida de um dos lados mltipla de 5.
Demonstrao: Usemos a caracterizao dos tringulos pitagricos dada pelo corolrio
anterior.
a) Como m ou n par, conclumos que 2kmn mltiplo de 4.
b) O resultado trivial se m ou n for mltiplo de 3. Se m e n no forem mltiplos
de 3 ento m2 n2 1 (mod 3) e portanto k(m2 n2) mltiplo de 3.
c) O resultado trivial se m ou n for mltiplo de 5.
Note-se que, se a Z ento
a2
1 ( mod 3), se a 1 ( mod 5)
4 ( mod 3), se a 2 ( mod 5)
4 ( mod 3), se a 3 ( mod 5)
1 ( mod 3), se a 4 ( mod 5)
Deste modo, se m e n no so mltiplos de 5 ento m2n2 ou m2+n2 congruente
com 0 mdulo 5. Em particular 5 divide k(m2 n2) ou k(m2 + n2).
Exemplos 7.7
Vejamos dois exemplos:
1. Vamos calcular todos os tringulos pitagricos da forma [x, y, x + 1].
Como (x, x + 1) = 1 os tringulos tm de ser primitivos. Em particular, x + 1
mpar (pois a medida da hipotenusa) e portanto x par e y mpar.
Assim, existem m,n N tais que
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Tringulos Pitagricos
x = 2mn
y = m2 n2
x + 1 = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
ou seja
x = 2mn
y = m2 n2
m2 + n2 = 2mn + 1
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
Obtemos assim, sucessivamente
x = 2mn
y = m2 n2
(m n)2 = 1
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
x = 2n(n + 1)
y = 2n + 1
m = n + 1
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
x = 2n(n + 1)
y = 2n + 1
n N.
Como exemplos temos os tringulos: [3, 4, 5], [5, 12, 13], [7, 24, 25] e [9, 40, 41].
2. Vamos calcular todos os tringulos pitagricos da forma [x, y, x + 3].
Como (x, x + 3) = (x, 3) {1, 3} ento usando a Nota 7.5 a hipotenusa mpar
e portanto x par. Deste modo existem m,n N tais que
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Tringulos Pitagricos
x = 2mn
y = m2 n2
x + 3 = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
ou
x = 6mn
y = 3(m2 n2)
x + 3 = 3(m2 + n2)
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
Do primeiro sistema obtemos (m n)2 = 3 que uma condio impossvel. Do
segundo sistema obtemos m = n + 1.
Deste modo as solues deste problema podem ser obtidas multiplicando por 3 as
medidas dos tringulos que so soluo do problema anterior.
3. Vamos calcular todos os tringulos pitagricos cuja medida da hipotenusa seja
100. Seja [x, y, 100] um tal tringulo. Podemos supor, utilizando o Corolrio 7.4,
que existem k,m, n N tais que:
x = 2mnk
y = (m2 n2)k
100 = (m2 + n2)k
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
Uma vez que m2 + n2 mpar e 100 = k(m2 + n2), k tem de ser igual a 4, 20 ou
100. Obtemos assim os seguintes 3 sistemas:
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Tringulos Pitagricos
x = 8mn
y = 4(m2 n2)
25 = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
x = 40mn
y = 20(m2 n2)
5 = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
x = 200mn
y = 100(m2 n2)
1 = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
Olhando para a terceira equao, em cada um dos sistemas, fcil calcular m e n:
o terceiro impossvel (porque m2 + n2 > 1); o segundo admite apenas a soluo
m = 2, n = 1; o primeiro admite apenas a soluo m = 4, n = 3.
Conclumos assim que existem dois tringulos nas condies pretendidas: [80, 60, 100],
[96, 28, 100].
7.3 Outras equaes pitagricas
Vamos de seguida demonstrar a no existncia de tringulos pitagricos em deter-
minadas condies. Concluiremos com a demonstrao do teorema de Fermat, para
n = 4:
6 x, y, z N : x4 + y4 = z4.
Ou seja, no existem tringulos pitagricos cujas medidas dos lados sejam quadrados
perfeitos.
y2
x2z2
123
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Tringulos Pitagricos
Teorema 7.8 (Teorema de Fermat) Se a soma de dois quadrados perfeitos positivos
um quadrado perfeito, ento a diferena desses dois quadrados perfeitos no um
quadrado perfeito.
Ou seja, o sistema {x2 + y2 = z2
x2 y2 = t2
no tem soluo com x, y, z, t Z.
Demonstrao: Geometricamente o enunciado diz que no existe um tringulo pi-
tagrico tal que a medida de um dos catetos seja a hipotenusa de um outro tringulo
pitagrico que tenha um cateto com a mesma medida de um dos catetos do tringulo
original.
x
yz
y t
Vamos utilizar o chamado mtodo da descida infinita. Seja z N o menor inteiro
positivo tal que existem x, y e t tais que x2 + y2 = z2, x2 y2 = t2.
Seja d = (x, y). Note-se que d = (x, y) = (x, z) = (y, z) pois [x, y, z] um tringulo
pitagrico e que d = (x, y) = (x, t) = (y, t) pois [y, t, x] um tringulo pitagrico. Em
particular d divide x, y, z e t e portanto{ (xd
)2+(
yd
)2=
(zd
)2(xd
)2(
yd
)2=
(td
)2.
Pela minimalidade imposta sobre z conclumos que d = 1.
124
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Tringulos Pitagricos
Recordemos agora a Proposio 7.2. Como estamos na presena de dois tringulos
pitagricos primitivos [x, y, z] e [y, t, x] podemos concluir que z e x so mpares, pois
so as medidas das hipotenusas. Daqui conclumos que y par e, portanto, t mpar.
Voltando ao sistema original, obtemos sucessivamente,
2x2 = z2 + t2
2y2 = z2 t2
4x2 = (z + t)2 + (z t)2
2y2 = (z t)(z + t)
x2 =(
z+t2
)2+(
zt2
)2
2y2 = (z t)(z + t)
Como(
z+t2
, zt2
)= 1 (qualquer nmero que divida os dois nmeros divide tambm
a sua soma e a sua diferena que so z e t, dois nmeros primos entre si) e utilizando o
Teorema 7.3, podemos concluir que existem m,n N tais que
zt2
= 2mn
z+t2
= m2 n2
x = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
ou
z+t2
= 2mn
zt2
= m2 n2
x = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
Em qualquer dos casos e utilizando a igualdade 2y2 = (z t)(z + t) obtemos,(y2
)2=
1
2
(z t
2
)(z + t
2
)= mn(m2 n2) = mn(m n)(m + n).
Como m, n, m n e m + n so primos entre si (ver Nota 7.5) e o seu produto
um quadrado perfeito podemos concluir, usando o Lema 7.1, que so todos quadrados
perfeitos, isto ,
a, b, c, d N : m = a2, n = b2, m n = c2, m + n = d2.
Em particular {a2 + b2 = d2
a2 b2 = c2.
125
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Tringulos Pitagricos
Por outro lado d d2 m + n < m2 + n2 = x < z contrariando a minimalidade de
z.
Chegamos assim a uma contradio, que foi motivado pelo facto de termos suposto
que o sistema original tinha soluo.
Corolrio 7.9 A equao x4 + y2 = z4 no admite soluo com x, y, z Z.
Ou seja, no existe nenhum tringulo pitagrico cujas medidas da hipotenusa e de
um dos catetos seja um quadrado perfeito.
Demonstrao: Suponhamos que existe um tringulo pitagrico da forma [x2, y, z2].
y
x2z2
Seja d o mximo divisor comum entre as medidas dos lados do tringulo. Ento
d = (x2, z2) e, portanto existe t N tal que d = t2. Deste modo [x2
t2,
yt2
, z2
t2] ou seja
[(
xt
)2,
y
t2,(
zt
)2] um tringulo pitagrico primitivo em que as medidas da hipotenusa e
de um dos catetos um quadrado perfeito.
Podemos assim supor que existe um tringulo pitagrico primitivo da forma [x2, y, z2].
Pelo Teorema 7.3, existem m,n N tais que
x2 = 2mn
y = m2 n2
z2 = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
ou
x2 = m2 n2
y = 2mn
z2 = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2).
126
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Tringulos Pitagricos
Em ambos os casos entramos em contradio com o teorema anterior:
- no primeiro caso obtemos{z2 + x2 = (m + n)2
z2 x2 = (m n)2;
- no segundo caso obtemos {m2 n2 = x2
m2 + n2 = z2.
Corolrio 7.10 (Fermat) A equao x4 + y4 = z4, com x, y, z N no admite so-
lues.
Deste modo, no existem tringulos pitagricos cujas medidas dos lados sejam qua-
drados perfeitos positivos.
Mais geralmente temos.
Teorema 7.11 No existe um tringulo pitagrico em que as medidas de dois dos lados
sejam quadrados perfeitos.
Demonstrao: Atendendo ao Corolrio 7.9 basta mostrar que no existe nenhum um
tringulo pitagrico da forma [x2, y2, z]. Seguindo os passo do que foi feito no Corolrio
7.9 basta-nos considerar o caso em que o tringulo primitivo.
Suponhamos que existe um tringulo nas condies pretendidas. Como neste caso x
e y esto nas mesmas condies podemos supor que existem m,n N de tal modo que:
x2 = 2mn
y2 = m2 n2 = (m n)(m + n)
z = m2 + n2
m > n
(m,n) = 1
m + n 1 ( mod 2)
127
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Tringulos Pitagricos
Do Lema 7.1 e do facto de y2 e(
x2
)2serem produtos de dois nmeros primos entre
si (note-se que(
x2
)2= m
2n, se m par e
(x2
)2= n
2m, se n par) existem a, b, c, d N
tais que (a, b) = 1 = (c, d) e
m = 2a2
n = b2
m n = c2
m + n = d2
ou
m = a2
n = 2b2
m n = c2
m + n = d2
No primeiro caso obtemos
c2 + d2 = 2m = (2a)2
Obtemos assim um tringulo pitagrico primitivo (recorde-se que (c, d) = 1) [c, d, 2a]
em que a medida da hipotenusa par, contrariando a Proposio 7.2.
No segundo caso obtemos sucessivamente,{c2 + d2 = 2a2
c2 d2 = 4b2
{c2 + d2 = 2a2(
cd2
) (c+d2
)= b2
Assim, existem k, s N tais que cd2
= k2 e c+d2
= s2. Em particular, c = k2 + s2 e
d = s2 k2. Substituindo na primeira equao do ltimo sistema temos k4 + s4 = a2.
Assim obtivemos uma outra soluo da equao inicial. A exemplo do que foi feito
na demonstrao do Teorema 7.8 podemos utilizar o mtodo da descida infinita para
concluir que a equao x4 + y4 = z2 no tem soluo.
Como aplicao do Teorema 7.8 podemos ver que a rea de um tringulo pitagrico
nunca um quadrado perfeito. Com as notaes usais, a rea de um tringulo pitagrico
k2mn(m n)(m + n), que um quadrado perfeito se e s se mn(m n)(m + n) o
for. Pelo Lema 7.1 a rea do tringulo referido um quadrado perfeito os inteiros n,
m, m n e m + n forem quadrados perfeito, contrariando o Teorema 7.8.
Vejamos mais um exemplo, cuja resoluo essencialmente igual resoluo da
equao x2 + y2 = z2, com x, y, z N.
128
-
Tringulos Pitagricos
Dado r N consideremos a equao
x2 + r y2 = z2, com x, y, z N.
Por exemplo, se r = 2 temos a seguinte representao geomtrica do problema.
Comeamos por desenhar um tringulo rectngulo cujos catetos so nmeros inteiros
(x e y). Nada exigimos sobre a hipotenusa (
x2 + y2). Desenhamos de seguida outro
tringulo rectngulo no qual um dos catetos a hipotenusa do tringulo anterior e a
medida do outro cateto y. Queremos saber, em que condies a medida da hipotenusa
deste ltimo tringulo um nmero inteiro.
x
y
y
zp
x2 + y2
Figura 7.2: Representao geomtrica da equao x2 + 2y2 = z2, com x, y, z N.
Para resolver esta equao podemos seguir mais ou menos os passos que foram dados
para encontrar os tringulos pitagricos. Comecemos por notar que, (x, y) = (x, z) =
(z, y) e que toda a soluo mltipla de uma soluo da forma [x, y, z] em que (x, y) = 1.
Nestas condies (isto , se (x, y) = 1), note-se que:
(z x, z + x) = 2;
a equao pode-se escrever na forma y2 = 2
(z x
2
)(z + x
2
);
Podemos assim concluir (porqu?) que existem m,n tais que
129
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Tringulos Pitagricos
zx2
= 2m2
z+x2
= n2
y = 2mn
(m,n) = 1
ou
zx2
= m2
z+x2
= 2n2
y = 2mn
(m,n) = 1.
Daqui podemos tirar o valor de x, y e z:
x = n2 2m2
z = n2 + 2m2
y = 2mn
(m,n) = 1
ou
x = 2n2 m2
z = 2n2 + m2
y = 2mn
(m,n) = 1.
Existem alguns pormenores a ter em conta!
De maneira anloga podemos resolver equaes do tipo x2 + ry2 = z2, com r N.
A interpretao geomtrica deste problema semelhante do exemplo anterior.
x
y
y
y
z
p
x2 + y2
p
x2 + 2 y2
Figura 7.3: Representao geomtrica da equao x2 + 3y2 = z2, com x, y, z N.
Comeamos por escrever r na forma r = k2s em que s o produto dos nmeros
primos que aparecem na factorizao de n com potncia mpar. Fazemos a mudana de
130
-
Tringulos Pitagricos
varivel, X = x, Y = ky e Z = z e obtemos a equao X2 +sY 2 = Z2. Resolvemos esta
equao utilizando um processo anlogo ao do exemplo anterior (s = 2). As solues da
equao original so assim os ternos (X, Yk, Z) em que X2 + sY 2 = Z2 e Y mltiplo
de k.
Note-se que, se x2 + ry2 = z2 e d = (x, z), ento d2 divide ry2 mas d no divide
necessariamente y. Por exemplo, se r = 12, 62 +1232 = 122 e (6, 12) = 6 e (6, 3) = 3.
7.4 Exerccios
7.1. Mostre que a rea de um tringulo pitagrico mltipla de 6.
7.2. Mostre que no existem tringulos pitagricos da forma [x, x, z].
7.3. Mostre que, se [x, y, z] um tringulo pitagrico e x um nmero primo, ento y
e z so inteiros consecutivos. O que pode dizer se x = pq em que p e q so primos
distintos?
7.4. Mostre, apenas a partir da definio de tringulo pitagrico que os nicos trin-
gulos pitagricos cujas medidas dos lados esto em progresso aritmtica so os
da forma [3k, 4k, 5k].
7.5. Mostre que, se [x, y, z] um tringulo pitagrico e 4 divide z ento 4 divide x e
y. Que inteiros podem substituir o 4 na afirmao anterior?
7.6. Encontre todos os tringulos pitagricos [x, y, z] tais que (recorde que m2+n2 1 (
mod 4)):
a) z = 30;
b) z = 65;
c) z = 120;
d) z = 77 e x ou y um quadrado perfeito;
e) z = 481;
f) z = 377;
131
-
Tringulos Pitagricos
g) z = 1885;
h) 40 z 50 e [x, y, z] primitivo;
i) um dos lados mede 18;
j) x = 187 e y um quadrado perfeito;
k) y + x = 64;
l) um dos lados mede 15;
m) (x, y) = 7 e [x, y] = 84;
n) (x, y) = 10 e [x, y] = 2 000;
o) (x, y) = 7 e y = 7(z x).
7.7. D exemplos de tringulos pitagricos (x, y, z) tais que:
a) y = 23 74;
b) x + y 1000001 e (x, y) = 5;
c) y = x + 16 e x > 50;
d) (x, y) = 7 e existe a N tal que x = 5a2.
7.8. D um exemplo de um tringulo pitagrico primitivo no qual a diferena entre a
medida do cateto maior e a medida do cateto menor seja pelo menos 500.
7.9. Encontre um tringulo pitagrico primitivo cuja soma das medidas dos catetos
seja maior do que 1000.
7.10. Calcule todos os tringulos pitagricos cujo permetro 1716.
7.11. Verifique se existem tringulos pitagricos primitivos cuja hipotenusa divisvel
por 7.
7.12. Calcule todos os tringulos pitagricos cujas medidas do permetro e da rea
sejam iguais.
7.13. Calcule todos os tringulos pitagricos cuja medida do permetro seja igual a trs
vezes a medida da rea.
132
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Tringulos Pitagricos
7.14. Encontre todos os tringulos pitagricos primitivos cuja medida da hipotenusa
um quadrado perfeito.
7.15. Verifique se h uma infinidade de tringulos pitagricos primitivos cuja rea
igual ao produto do permetro pelo quadrado de algum inteiro.
7.16. Mostre que, dado n 3 existe um tringulo pitagrico em que um dos lados mede
n.
7.17. Encontre um tringulo pitagrico primitivo em que a diferena das medidas dos
catetos um quadrado perfeito maior que 1.
7.18. Mostre que, se [x, y, z] um tringulo pitagrico ento xn + yn 6= zn para n 3.
7.19. Resolva a equao 81x2 + 4y4 = z4, com x, y, z N e (x, y) = (x, z) = (y, z) = 1.
7.20. Mostre, usando o mtodo da descida infinita que a equao 7x3 + y3 = 49z3, com
x, y, z N no tem soluo.
7.21. Encontre x, y, z Z tais que
4x4 + 9y2 = z2, e x 5000.
7.22. Quais os pontos de coordenadas racionais que pertencem ao crculo de equao
x2 + y2 = 1?
7.23. Mostre que a equao
x4 2y2 = 1, x, y N
no tem soluo.
7.24. Mostre que a equao
y2 = x4 + 1, x, y N
no tem soluo.
7.25. Resolva as seguintes equaes diofantinas:
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Tringulos Pitagricos
a) x2 + y2 + z2 = 8000007;
b) {x2 + 2y2 = z2
x2 2y2 = w2;
c) (x + y + z)3 = x3 + y3 + z3;
d)
x + y + z = t
x2 + y2 + z2 = t2
x3 + y3 + z3 = t3.
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