17.07 - O Homem de Barbas Azuis

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  • 7/30/2019 17.07 - O Homem de Barbas Azuis

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    stava um lenhador sentado, junto margem de um

    rio, de queixo nos joelhos, muito triste, quando por elepassou um homem de barbas azuis.Um homem de barbas azuis? Como pode ser isso? Pode,

    pois.Nas histrias tudo pode acontecer. Ento, era um

    feiticeiro?Talvez fosse. Continuam a aparecer nas histrias. Uns de

    barbas encarnadas, outros de barbas verdes... Este tinha-asazuis, que mal h nisso?

    O lenhador nem reparou na cor das barbas do homem.Estava to desolado, a olhar para o rio, que tudo o mais lheera indiferente.

    Aconteceu-lhe alguma desgraa? perguntou ohomem de barbas azuis, numa voz que parecia de pessoa

    bondosa.1

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    O HOMEM DE

    BARBAS AZUISAntnio Torrado

    escreveu eCristina Malaquias ilustrou

    E

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    Uma grande desgraa respondeu o lenhador. Estavaa dormitar, cansado do trabalho, ao fresco da beira-rio,quando o machado me escorregou. Foi para o fundo e eu,que no sei nadar, no tendo machado, fico um intil.

    Deixe que eu trato disso tranquilizou-o o homem debarbas azuis, despindo a camisa e as calas e tirando meiase sapatos.

    Mergulhou nas guas do rio, que estava limoso eredemoinhento. Um perigo. Voltou ao cimo com ummachado de oiro.

    este? perguntou. meu senhor, esse no . O meu machado

    ferramenta de pobre.O homem de barbas azuis mergulhou de novo, para logo

    voltar superfcie, empunhando um machado de prata.Claro que tambm aquele no era o machado do lenhador.

    Ao terceiro mergulho trouxe-lhe o machado perdido. E, como s honesto e sincero, levas tambm os outrosmachados disse-lhe o homem de barbas azuis.

    Pela primeira vez o lenhador reparou nas barbas do seubenfeitor. Assustou-se, atrapalhou-se e, tartamudeando unsagradecimentos em voz sumida, abalou com os trsmachados. Entardecia.

    Antes de chegar a casa, encontrou um vizinho a quemcontou a maravilha, exibindo os machados de oiro e deprata que refulgiam, luz do sol a despedir-se.

    O vizinho, que vinha da lavoura numa carrocita adesfazer-se, nem quis ouvir a histria segunda vez. Puxouas rdeas e fez a mula trotar por barrancos, at beira dorio.

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    Estava a noite a descer. O vizinho do lenhador, numafogadilho, desatrelou a mula e atirou a carroa com tudodentro, ribanceira abaixo. O rio engoliu-a num trago.

    Depois ainda atirou o relgio, a bolsa com moedas, ocolete e a camisa para o meio do rio. E ps-se a gritar,numa grande choradeira:

    Ai quem me acode, que perdi todos os meus pertencese no sei nadar!

    Relanceava os olhos cobiosos para as moitas queescureciam, espera do tal bruxo de barbas azuis. De mosnas cavas, tiritando da friagem da noite, gritou e voltou agritar:

    Quem me devolve os meus ricos bens, a carroa deprata, com rodas de oiro e a riqueza toda que l ia dentro,mais a camisa e o colete com botes de oiro e a bolsa cheiade libras, mais o relgio de oiro, ai quem me acode?!

    A mula pastava solta, de dente arreganhado para aervinha tenra. Ou estaria a rir-se?Mais se ria, socapa, a Lua, cheia e chapada, no meio da

    noite.E o homem, quase nu, numa aflio, cada vez mais a

    srio: Quem me salva? Quem me acode?

    Mas ningum lhe acudiu.

    FIM

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