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    DISTRBIOS DO SONO

    (Texto escrito para a Disciplina SISTEMA NERVOSORCG 511 - 4 ANO DE

    MEDICINA DA FMRP-USP)

    Regina Maria Frana Fernandes

    Professora Assistente-Doutora do Departamento de Neurocincias e Cincias do

    Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto - USP

    INTRODUO

    A Medicina do Sono uma rea relativamente nova da cincia mdica, tendo se

    desenvolvido a partir da segunda metade do sculo XX, com o avano no

    conhecimento sobre a fisiologia do sono e seus distrbios. Envolve diversas

    especialidades mdicas e para-mdicas, tanto na etapa diagnstica, quanto na fase de

    tratamento dos diferentes tipos de distrbios do sono. Atualmente, a complexidade do

    conhecimento nesta rea tem colocado a mesma no nvel de especialidade mdica,

    embora isto esbarre em questes conceituais e polticas, devido ao interesse multi-

    profissional que inerente a ela.

    O mdico do sono, em princpio, tem amplo domnio do conhecimento referente

    fisiologia e aos transtornos do sono, bem como, s estratgias adequadas de

    diagnstico, tratamento e preveno dos mesmos, extrapolando os limites de sua

    especialidade original na medicina. Entretanto, todo profissional mdico, no decorrer de

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    sua prtica clnica, ir se deparar com o desafio de diagnosticar e orientar pacientes

    com algum tipo de distrbio do sono. Muitos destes transtornos, quando

    adequadamente reconhecidos, demandam apenas uma correta orientao ao pacientee familiares, atravs de reorganizao da higiene do sono, ou o controle dos problemas

    clnicos que os provocaram.

    O presente captulo endereado ao mdico no especialista em Sono, visando

    oferecer-lhe conhecimento necessrio para que possa: -estabelecer uma impresso

    diagnstica o mais precisa possvel do distrbio do sono em questo; -interferir, em

    primeira instncia, atravs de orientao ou mesmo de tratamento medicamentoso, nos

    casos mais simples e de mais fcil conduo, que compreendero um contingente

    significativo de pacientes; -reconhecer a necessidade de encaminhamento do paciente

    a um profissional especialista em Medicina do Sono, quando for o caso.

    O Sono Normal

    O sono pode ser caracterizado atravs do registro polissonogrfico de trs

    variveis eletrogrficas: o eletrencefalograma (EEG), o eletro-oculograma (EOG) e o

    eletromiograma (EMG) submentoniano. Definem-se assim dois padres principais de

    sono: - o REM (do Ingls, rapid eye movements), marcado por salvas de movimentos

    oculares rpidos, por atonia muscular, mioclonias errticas em vrios segmentos do

    corpo, EEG mais rpido e de baixa voltagem, assemelhando-se ao da viglia, respirao

    e ritmo cardaco mais irregulares, erees penianas e clitorianas e pela ocorrncia de

    sonhos; - o sono sem movimentos oculares rpidos, No-REM (NREM), com trs

    estgios definidos por um aprofundamento crescente, que vai da sonolncia (estgio 1,

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    ou N1), passando pela fase N2, at um padro profundo com EEG rico em ondas lentas

    de alto potencial (estgios 3 e 4, atualmente sintetizados simplesmente como N3). No

    sono NREM, h manuteno de um tnus muscular basal, quietude e regularidadecardio-respiratria. O N3 e o REM so padres de sono profundo, sendo difcil de se

    despertar uma pessoa a partir destes estados. O sono noturno iniciado pela fase N1,

    aprofundando-se at o N3 e, aproximadamente a cada 90 minutos, h uma mudana do

    padro NREM para o REM, ciclo este que se repete por 4 a 6 vezes numa noite. Na

    primeira metade desta, concentra-se o sono NREM profundo e, na segunda metade,

    predominam o N2 e o REM (figura I).

    Para a caracterizao destes estgios, suficiente o registro de um nmero

    limitado de canais na polissonografia (PSG). Entretanto, para o diagnstico de

    distrbios do sono, a PSG deve incluir outros sensores como: -o eletrocardiograma

    (ECG); -a respirao (detectores de ventilao nasal e oral, bem como, dos

    movimentos respiratrios em nveis torcico e abdominal); -o EMG dos msculos tibiais

    anteriores, bilateralmente, para registro de movimentos de pernas; -sensor de ronco; -

    oximetria digital; -sensores de posio corporal; -capnografia (para a pesquisa dos

    distrbios respiratrios do sono na criana e das sndromes de hipoventilao no sono).

    Alm disto, o traado deve ser feito com vdeo simultneo, para que o mdico revisor

    possa acompanhar todo o comportamento do paciente no decorrer do sono (figura II)

    A proporo de cada estgio de sono numa noite mais ou menos estvel,

    constituindo a chamada arquitetura de sono, com 5% a 10% de N1, 55% a 60% de N2,

    15% a 20% de N3 e 20% a 25% de REM. Quando tal arquitetura conturbada, surge a

    sensao de sono no reparador e fragmentado, que ocorre em diversos distrbios do

    sono, resultando em diversos sintomas decorrentes de privao de sono, como

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    cansao, irritabilidade, sonolncia diurna excessiva, deficincia de memria e

    aprendizado, comprometimento de performance motora e intelectual, dentre outros.

    O bio-ritmo circadiano que acompanha o ciclo viglia-sono regido por secrees

    de hormnios e neurotransmissores, bem como, alteraes autonmicas, que

    predispem o organismo viglia ou ao sono, de acordo com o horrio do dia. A

    temperatura corporal interna varia em 0,5 graus centgrados nas 24 horas, com um

    HIPNOGRAMA

    1 2 3 4 5 6 7 8

    VIGLIA

    REM

    NREM

    N - 1

    N - 2

    N3/4

    .

    HORAS DE SONO

    Figura 1: Hipnograma do Sono Noturno de um adulto saudvel, mostrando 6 ciclos NREM-REM,com predomnio de sono NREM N3/4 na primeira metade da noite, enquanto o REM e o N2predominam na segunda metade. O sono REM destacado em cor azul no hipnograma.

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    decrscimo progressivo nas primeiras horas da noite, atingindo nveis mais baixos na

    madrugada, o que favorece a conciliao do sono, especialmente do REM. Pela

    manh, h um aumento progressivo da temperatura interna, que favorece o despertar,sendo os nveis mximos atingidos no meio da tarde. Igualmente pela manh, ocorrem

    picos de liberao de corticosterides, insulina e hormnio tireoideano, elevando a taxa

    metablica e a glicose intracelular, para o indivduo assumir as atividades do dia em

    viglia.

    Alguns neuro-hormnios so caracteristicamente secretados durante o sono,

    como a testosterona, o hormnio de crescimento e o anti-diurtico, particularmente, no

    sono NREM profundo. Acredita-se que a fragmentao e reduo do sono em alguns

    de seus distrbios, como a sndrome da apnia obstrutiva, possam levar a disfuno

    ertil, em parte atribuda reduo de nveis de testosterona (alm de aumento da

    atividade simptica pelas apnias), ou a dficit pondo-estatural em crianas pequenas,

    FIGURA 2: Trecho de polissonografia, evidenciando parada do sinal de fluxo nas vias areassuperiores, com perstncia do esforo torcico e abdominal, por 21,7 segundos, durante o sono N2,levando a despertar com dessaturao de oxignio, de 96% para 91% (apnia obstrutiva do sono)

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    pela secreo insuficiente de hormnio do crescimento. Alm destes, diversos outros

    neuropeptdeos esto implicados nos mecanismos de gnese do sono e da viglia,

    como a melatonina, secretada pela glndula pineal, com pico de liberao nos perodosde baixa luminosidade ambiental e inibio pela luz do dia, sendo considerada um dos

    portes de entrada no sono noturno. Neurnios do diencfalo anterior, produtores de

    adenosina, so promotores do sono NREM. Sendo a adenosina antagonisada pela

    cafena e por xantinas encontradas, por exemplo, no chocolate amargo, muitos

    indivduos podem ter insnia pela ingesto de quaisquer destas substncias em

    perodos prximos hora de dormir. Da mesma forma, neurnios histaminrgicos do

    hipotlamo posterior so promotores da viglia, o que explica a sonolncia causada por

    anti-histamnicos. Outros exemplos so da bombesina e da colecistocinina, secretadas

    no trato gastrointestinal, no perodo ps-prandial, que atingem o sistema nervoso

    central, provocando sonolncia ps-prandial, que tambm se deve em parte mar

    alcalina do sangue, decorrente da produo de suco gstrico. Ainda, a leptina, um

    neuropeptdeo hipotalmico envolvido na sensao de saciedade, tem secreo

    estimulada durante o sono; por outro lado, a grelina, peptdeo indutor de fome, inibido

    durante o sono. Isto pode, em parte explicar o observado aumento de peso em pessoas

    com privao de sono, assim como a voracidade observada no dia seguinte de pessoas

    que tiveram privao de sono noturno. A ausncia do necessrio decrscimo do cortisol

    durante a noite, em pessoas privadas de sono, tambm pode atuar no aumento de peso

    e sndrome metablica relacionados a certos distrbios do sono.

    A inter-relao entre este bio-ritmo e o ciclo viglia-sono a base de toda a

    higiene do sono, o qual favorecido por hbitos regulares de vida, conforme

    enumerados no quadro 1. A exposio a fatores excitantes no perodo noturno pode

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    levar o indivduo a perder seu porto neuroqumico de entrada no sono,no qual se

    destacam a curva trmica e o pico de melatonina, alm de outros neuro-transmissores.

    Este sistema no se adapta rapidamente a mudanas intensas de fusos horrios, assimcomo, irregularidades significativas no ritmo viglia-sono, o que a base de diversos

    distrbios do ciclo circadiano, alguns favorecidos por fatores genticos.

    QUADRO 1 : RECOMENDA ES PARA A HIGIENE DO SONO

    Horrio regular de ir para a cama e de acordar

    No cochilar durante o dia

    No tomar bebida alcolica no perodo vespertino

    Evitar bebidas cafeinadas no perodo da tarde/ limitar-se a at duas doses destas

    bebidas ao dia

    No fumar logo antes de se deitar ou durante a noite

    Exerccios regulares durante o dia, evitando-se exerccios at 3 horas antes de ir

    para a cama (item relativo, havendo pessoas que no se afetam com exerccios

    prximos da hora de se deitar)

    No usar a cama ou o quarto para outras atividades alm do sono (exceo feita

    para a atividade sexual). TV, leitura e o ouvir msica podem fazer a pessoa perder

    o porto neuroqumico de entrada no sono, embora isto no valha para todos.

    Estabelecer um ritual de atitudes relaxantes antes de ir para a cama (desacelerao)

    Manter uma temperatura confortvel no quarto de dormir

    Manter o quarto escuro e silencioso

    CLASSIFICAO DOS DISTRBIOS DO SONO

    Os distrbios do sono so classificados em 8 grandes grupos, conforme citados

    no quadro 2. As insnias e os distrbios respiratrios do sono so os mais frequentes

    no consultrio mdico, seguidos pelas hipersonolncias, devidas m higiene do sono

    ou a doenas mdicas, e pelas parassonias. Estas ltimas, especialmente o

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    sonambulismo, o terror noturno e a eunurese noturna, so mais vistas pelo pediatra,

    enquanto o distrbio comportamental do sono REM quadro mais comum nos idosos.

    J o bruxismo, hoje includo entre os distrbios do movimento no sono, ocorre emqualquer grupo etrio e costuma levar procura do mdico ou do dentista.

    Uma descrio detalhada com fins diagnsticos e teraputicos de todos estes

    distrbios foge ao escopo deste captulo, sendo a seguir destacados os quadros mais

    freqentes, cujo diagnstico, orientao geral, ou o tratamento em primeira instncia,

    podem ser feitos pelo mdico generalista.

    QUADRO 2 : CLASSIFICA O INTERNACIONAL DOS DIST RBIOS DO SONO

    1) Insnias

    2) Distrbios Respiratrios do Sono

    3) Distrbios do Ciclo Circadiano

    4) Hiperssonias de origem central (no explicadas por distrbios respiratrios do sono,

    distrbios do ciclo circadiano, medicamentos, ou distrbios situados em outros pontos da

    classificao)

    5) Parassonias

    6) Distrbios do Movimento relacionados ao Sono

    7) Sintomas isolados, aparentemente, variantes normais e questes no resolvidas

    8) Outros distrbios do sono

    INSNIA

    A insnia definida como dificuldade de iniciar ou de manter o sono, podendo se

    manifestar atravs de despertares freqentes, de despertar prolongado durante a noite,

    ou de um despertar precoce, sem re-conciliao do sono (insnia terminal). O

    diagnstico de insnia est vinculado sensao de sono insuficiente, com sintomas

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    diurnos, como cansao, irritabilidade, dificuldades de concentrao e de memria,

    labilidade emocional, cefalia e/ou depresso. O quadro 3 discrimina os diversos tipos

    de insnia definidos pela atual classificao.A chamada insnia psicofisiolgica, ou condicionada, a forma mais freqente

    deste distrbio, compromete principalmente a iniciao do sono, enquanto a insnia

    terminal mais vista em contextos de depresso, mesmo que transitria. A insnia

    ocorre em cerca de 30% da populao, atingindo cifras maiores quando se considera a

    insnia ocasional, ou a populao de idosos, nos quais ela descrita em torno de 50%

    das pessoas.

    O diagnstico da insnia depende de uma anamnese detalhada na qual so

    pesquisados tpicos importantes do comportamento do paciente, como ingesto de

    estimulantes, cafena do caf ou refrigerantes, cigarro, drogas ou lcool, que um falso

    hipntico, induzindo o sono inicialmente, mas reduzindo os estgios de sono profundo e

    fragmentando o sono, com aumento de microdespertares. Alm disto, so anotados

    hbitos noturnos de exerccios fsicos, ou de atividades que impeam o indivduo de se

    desligar das coisas do dia, tendncia a acentuar preocupaes e pensamentos

    negativistas ao ir para a cama (ruminao), medo de no dormir, tendncia a ficar

    olhando no relgio, controlando o passar das horas, receio de ficar doente ou perder o

    emprego pelas conseqncias da falta de sono. Tal contexto caracterstico da insnia

    psicofisiolgica e a m higiene do sono, a falta de regularidade nos horrios de dormir e

    os cochilos prolongados durante o dia, na tentativa de compensar a privao de sono

    na noite anterior, geralmente pioram a insnia noturna.

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    QUADRO 3 : INS NIAS

    Insnia de Ajustamento ou Aguda

    Insnia Psicofisiolgica

    Insnia Paradoxal

    Insnia Idioptica

    Insnia devida a Doenas Mentais

    Insnia por Higiene de sono inadequada

    Insnia Comportamental da Infncia

    Insnia devida a uso de drogas ou substncias

    Insnia devida a condies mdicas

    Insnia Inespecfica, no devida a substncias ou condies fisiolgicas conhecidas (No-

    Orgnica)

    Insnia Fisiolgica (Orgnica) no-especificada

    Um inventrio sobre medicamentos em uso deve ser feito, lembrando-se que

    vrias drogas podem gerar insnia, com destaque para: betabloqueadores,

    descongestionantes, broncodilatadores, esterides (predinisona), estimulantes

    (anfetaminas, inibidores do apetite), antiepilpticos (como fenitona e lamotrigina),

    antidepressivos (particularmente os inibidores da recaptao de serotonina).

    Outros distrbios do sono devem ser pesquisados tambm, por poderem se

    apresentar como insnia aparente. Um deles apnia obstrutiva do sono, a ser

    discutida a seguir, j que as apnias podem fragmentar o sono e impedir sua

    continuidade, sendo o quadro percebido pelo paciente como dificuldade de manter o

    sono. Outro distrbio que pode gerar insnia a sndrome das pernas inquietas, que

    dificulta o incio do sono e, por sua comum associao com a sndrome dos

    movimentos peridicos dos membros no sono, leva a microdespertares freqentes

    durante a noite, impedindo a continuidade e comprometendo a qualidade do sono. A

    eventual suspeita de um destes distrbios indicao de PSG em paciente com

    insnia, apesar deste exame no ser mandatrio na maioria dos casos de insnia pura.

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    Quadros clnicos como insuficincia renal avanada, hipertireoidismo, insuficincia

    cardaca congestiva e artrite reumatide podem tambm provocar insnia.

    Excludas causas orgnicas ou medicamentosas da insnia, seu tratamento baseado nos seguintes pilares: higiene de sono adequada, tratamentos no

    medicamentosos (terapias de relaxamento, yoga, massagens, bio-feedback,

    psicoterapia, terapia cognitivo-comportamental, etc...), terapia de supresso (evitar

    dormir durante o dia ou ficar na cama sem dormir noite, a fim de criar presso de

    sono acumulada no horrio adequado de dormir); e, por fim, medicamentos hipnticos

    por tempo curto (2 a 6 meses) so indicados para romper o ciclo vicioso. Em geral,

    tenta-se o uso de hipnticos no benzodiazepnicos, como o zolpidem, o zopiclone ou o

    zaleplon, cujas meia-vidas so curtas (3-6, 5-7 e 1-2 horas, respectivamente), no

    costumam deixar resduo no dia seguinte e no acentuam a hipotonia das vias areas

    superiores no sono. Novos hipnticos, anlogos melatonina, esto tambm entrando

    no mercado, como o ramelteon e o tasimelteon. Antidepressivos com efeitos sedativo

    ou hipntico podem ser usados, especialmente nos casos em que a insnia parea

    decorrente de quadro depressivo menor, por vezes, com ansiedade generalizada. A

    abordagem deste paciente pelo psiquiatra e a necessidade de psicoterapia devem ser

    discutidas, com vistas resoluo do processo por longo prazo. Benzodiazepnicos

    podem ser usados nos casos em que predomine um estado de ansiedade, embora

    estas medicaes sejam geralmente desencorajadas nos idosos, em qualquer suspeita

    de distrbio respiratrio do sono, como em obesos e roncadores, ou nos pacientes com

    potencial para dependncia medicamentosa. Entretanto, em casos selecionados, para

    uma ruptura do ciclo vicioso de insnia e ansiedade, podem ser usados, por exemplo, o

    alprazolam, o estazolam, o lorazepam e o bromazepam, este ltimo com efeito muito

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    mais ansioltico do que hipntico. No h evidncias cientficas de efeito dos

    fitoterpicos (valerianatos, passiflora) no tratamento da insnia, mas sua ao

    descrita em casos isolados e h pessoas sensveis a seus efeitos; alm disto, pode serexplorado seu efeito placebo.

    DISTRBIOS RESPIRATRIOS DO SONO

    Dentre os distrbios respiratrios do sono (quadro 4), a Sndrome da Apnia

    Obstrutiva do Sono (SAOS) o mais freqente na populao geral (5%). Caracteriza-se

    pela obstruo total ou parcial das vias areas superiores, mais frequentemente em

    nvel da oro ou hipofaringe, durante o sono, com manuteno do esforo respiratrio

    traco-abdominal (figura 2). Estas obstrues levam a hipxia e hipercapnia,

    provocando despertares frequentes e fragmentao do sono. Picos hipertensivos e

    arritmias cardacas tambm acompanham estes eventos apneicos, que tm durao

    superior a 10 segundos. O ndice de apnias ou hipopnias por hora de sono, avaliado

    em PSG, define a gravidade do quadro nos adultos como SAOS leve (5 a menos de

    15/hora), moderada (15 a menos de 30/hora) e grave (a partir de 30/hora). Na criana,

    uma apnia/hora, ou 3 hipopnias obstrutivas/hora j definem o quadro de SAOS. A

    atual classificao internacional dos distrbios do sono prope que ndices de

    Apnia+Hipopnia entre 5 e 15/hora s caracterizam apnia leve, nos pacientes com

    sintomas decorrentes do quadro (cognitivo-comportamentais, cardiovasculares, etc...),

    sendo entendidos como dentro da normalidade, na ausncia de tais sintomas ou sinais.

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    QUADRO 4 - DIST RBIOS RESPIRAT RIOS DO SONO

    S NDROMES COM APN IA CENTRAL

    Apnia Central Primria

    Apnia Central devida a padro respiratrio de Cheyne-Stokes

    Apnia Central devida a Respirao Peridica das Altitudes Apnia Central devida a Condies Mdicasno Cheyne-Stokes

    Apnia Central por efeito de Drogas ou Substncias

    Apnia Primria da Infncia (anteriormente, Apnia Primria do Recm-nascido)

    SNDROME DA APNIA OBSTRUTIVA DO SONO (SAOS)

    SAOS do Adulto

    SAOS da Criana

    SNDROMES DE HIPOVENTILAO/HIPOXEMIA RELACIONADAS AO SONO

    Hipoventilao Alveolar No-Obstrutiva do Sono, Idioptica

    Sndrome da Hipoventilao Alveolar Central Congnita

    SNDROMES DE HIPOVENTILAO/HIPOXEMIA DEVIDAS A CONDIES MDICAS

    Devidas a Patologia Pulmonar Parenquimatosa ou Vascular

    Devida a Obstruo de Vias Areas Inferiores

    Devida a Doenas Neuromusculares ou Desordens da Parede Torcica

    OUTROS DISTRBIOS RESPIRATRIOS DO SONO

    Os sintomas mais comuns da SAOS so ronco, nictria, sonolncia diurna

    excessiva, cefalia matinal, cansao, depresso, distrbios de comportamento,

    deficincia de memria, ateno e aprendizado, rebaixamento cognitivo, disfuno ertil

    e reduo da libido, comprometimento de performance motora, acidentes

    automobilsticos e no trabalho, dentre os mais importantes. Os sinais mais comuns so

    obesidade e aumento da circunferncia do pescoo, em parte dos casos, hipertenso

    arterial, fasciesde cansao, colorao pletrica da face, arritmias cardacas, todos na

    dependncia da gravidade da sndrome. Na infncia, os sinais-sintomas mais comuns

    so hiperatividade e dficit de ateno, respirao bucal, ronco, hipertrofia de

    amgdalas e adenides. Indivduos magros, especialmente quando apresentem

    alteraes no crescimento dos ossos da face (retro-micrognatia ou retro-maxila), podem

    apresentar SAOS de qualquer gravidade.

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    A SAOS se associa a aumento do risco de sndrome metablica, infarto agudo

    do miocrdio, arritmias cardacas e acidentes vasculares enceflicos, alm de morte por

    acidentes em geral.O tratamento da SAOS inclui a correo dos processos obstrutivos das vias

    areas superiores (adeno-amigdalectomia, mais eficaz na infncia; extrao de plipos,

    correo de septo nasal), perda de peso, condicionamento postural, evitando decbito

    dorsal durante o sono, e o uso de aparelhos de presso positiva nas vias areas

    superiores (CPAP, BiPAP ou Auto-PAP), que so o padro-ouro no tratamento. Requer

    sempre equipe multidisciplinar especializada em medicina do sono. Cirurgias de avano

    maxilo-mandibular so indicadas em casos selecionados em que o extreitamento das

    vias areas superiores pode ser corrigido cirurgicamente, em pacientes jovens e em

    boas condies clnicas para o tratamento cirrgico. Dispositivos intra-orais,

    confeccionados por dentistas, que promovem avano mandibular e/ou da lngua, na

    tentativa de se evitar colabamento em nveis de oro ou hipofaringe so indicados para

    casos mais leves a moderados. Por fim, nos casos graves em que nenhuma outra

    opo foi adequada (exemplo: obesidade mrbida e ausncia de adeso ao CPAP),

    pode ser feita a traqueostomia definitiva (um curto-circuito abaixo dos nveis das Vias

    Areas Superiores passveis de colabamento no sono, que permite o indivduo abrir

    durante a noite para a ventilao diretamente a partir da traquia).

    NARCOLEPSIA

    A Narcolepsia uma Sndrome no rara cuja prevalncia nos Estados

    Unidos da Amrica estima-se em torno de 0,06 por cento (6 em cada 10.000 pessoas).

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    Est includa no grupo 3 da classificao internacional (Hiper-sonolncia de origem

    central, no devida a distrbios respiratrios do sono, a distrbios do ciclo circadiano,

    ou a qualquer outro distrbio previsto em outro grupo da classificao). Os sintomas seiniciam tipicamente durante a segunda dcada da vida, porm manifestaes

    incompletas j podem surgir na pr-adolescncia. O incio mais tardio descrito na 5

    dcada. considerada um transtorno dos mecanismos envolvidos na gnese do Sono

    REM.

    A sndrome narcolptica tpica se caracteriza por 4 componentes

    sintomticos:

    -Narcolepsia (ou Ataque Narcolptico): ataque de sono incontrolvel, que pode

    levar o indivduo a iniciar o sono em qualquer ambiente, ou mesmo em postura ereta.

    Pode ocorrer ainda intensa sonolncia mais ou menos controlvel, requerendo grande

    esforo do paciente para no cair em sono. Nos ataques narcolpticos, o sono

    caracterizado pela fase REM, o que pode ser observado no paciente, ou determinado

    pelo estudo poligrfico do Sono. Os ataques narcolpticos se intensificam a partir do

    final da manh e podem ocorrer desde algumas a vrias vezes ao dia, com durao

    varivel do perodo de sono (5 a 30 minutos, em geral).

    -Cataplexia: consiste em manifestao sbita de fraqueza geral e hipotonia, ou

    atonia da musculatura esqueltica, levando frequentemente queda do paciente, ou

    queda do pescoo sobre o tronco, impossibilidade de movimentao dos membros,

    etc.... O paciente se mantm consciente e vai recuperando a fora ao final de poucos

    minutos. Tal fenmeno pode acompanhar os episdios de sonolncia diurna, ou as

    francas crises narcolpticas e pode ainda surgir como sintoma inicial da sndrome,

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    obrigando o mdico ao diagnstico diferencial com outros quadros neurolgicos, como

    as crises epilpticas.

    -Alucinaes Hipnaggicas: so manifestaes semelhantes a sonho, pormcom o paciente num estado de viglia parcial, ou de sonolncia, sendo descritas

    alucinaes visuais, auditivas ou somestsicas (ex.: sensao de estar flutuando). Tais

    fenmenos podem acompanhar o incio do sono noturno, ou de qualquer ataque

    narcolptico diurno e, embora comuns na Sndrome Narcolptica, tambm podem

    ocorrer em pessoas deprivadas de sono, ou sob uso de certas drogas.

    -Paralisia do Sono: sensao incmoda de impossibilidade total de

    movimentao do corpo e dos membros, preservando-se os movimentos automticos,

    como a respirao. Tem curta durao, revertendo-se aps segundos ou poucos

    minutos e sendo mais comum no despertar matinal. Tal sintoma no igualmente

    exclusivo da Narcolepsia, podendo ser citado ocasionalmente em pessoas normais,

    sendo entretanto muito mais frequente naquela sndrome.

    DIAGNSTICO: Alm dos dados clnicos e evolutivos que so mandatrios para o

    diagnstico, os exames subsidirios importantes para o diagnstico so: O Teste das

    Latncias Mltiplas do Sono, a Polissonografia e a pesquisa do antgeno HLA-DR2

    (Dqw 1-Dqw 2), que tem alta prevalncia na populao de narcolpticos, embora no

    possa ser considerado exclusivo desta sndrome.

    O Teste de Latncias Mltiplas do Sono feito levando-se o paciente para o

    registro de uma poligrafia, 5 vezes ao dia, em horrios predeterminados (8:00, 10:00,

    12:00, 14;00 e 16:00 horas). O paciente, to logo conectado ao aparelho, recebe

    orientao para dormir se sentir-se compelido para tanto, em ambiente escuro e

    silencioso, com o registro mantido por 30 minutos. As pessoas normais, mesmo

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    aquelas com privao de sono, sero capazes de dormir em um ou mais dos testes,

    embora, somando-se o tempo necessrio para o incio do sono no perodo de teste, a

    mdia das latncias de sono ser maior do que 5 minutos. J o narcolpticotpicamente apresentar latncia mdia igual ou menor do que 5 min e tais episdios

    sero caracterizados no Narcolptico pelo surgimento de sono REM, enquanto a

    pessoa normal tender a apresentar sono fases I e II. Este teste considerado muito

    sensvel, em conjuno com os dados clnicos, para o diagnstico da Narcolepsia.

    Quanto Polissonografia, revelar uma arquitetura de sono anormal, com

    tendncia a reduo de Sono de Ondas Lentas (III e IV), excesso de Sono REM e

    aumento dos despertares e dos perodos de viglia noturna (baixa eficincia de sono). O

    narcolptico, embora seja um indivduo sonolento durante o dia, tende a ter um sono

    fragmentado noite, que se traduz por uma reduo no tempo total de sono e, at

    mesmo uma Insnia Noturna.

    TRATAMENTO: Sendo a Narcolepsia uma sndrome de base gentica, no h cura

    mas apenas tratamento sintomtico. Os ataques narcolpticos so bem controlados

    com o uso de estimulantes do SNC, como o Pemoline, a Ritalina (Metilfenidato), as

    Anfetaminas e alguns Tricclicos estimulantes, como Nortriptilina. A Cataplexia costuma

    melhorar ao longo da vida e geralmente bem controlada com o uso de Imipramina,

    Amitriptilina, Nortriptilina ou Fluoxetina, que tambm agem sobre as Alucinaes

    Hipnaggicas. A Paralisia do Sono no requer tratamento uma vez que um quadro

    benigno e em geral infrequente, sendo necessrio apenas o esclarecimente do

    paciente.

    O narcolptico dever adaptar seu esquema de vida e trabalho de modo a ser

    capaz de tirar um a dois cochiolos durante o dia, o que, em conjuno com o tratamento

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    medicamentoso, permite o estabelecimento de uma vida mais produtiva e mais prxima

    do normal. Distrbios psiquitricos, sejam reativos, adaptativos, ou de base, so citados

    em pessoas narcolpticas, devendo a psicoterapia ser indicada na medida danecessidade de cada caso.

    PARASSONIAS

    So manifestaes comportamentais e alteraes autonmicas que

    acompanham o sono, gerando, por vezes, devido a sua alta frequncia e/ou

    intensidade, transtornos fsicos, psicolgicos ou de relacionamento com a famlia e

    podendo, ainda, suscitar a necessidade de diagnstico diferencial com outros quadros

    clnicos (epilepsia, alteraes urolgicas, distrbios do comportamento). As parassonias

    so em geral quadros de evoluo benigna que no afetam a vida do indivduo e que,

    ao contrrio, fazem parte do sono normal de diversas pessoas, ou representam

    manifestaes mais comuns do processo de amadurecimento do sono na infncia. O

    quadro 5 destaca as parassonias, segundo a classificao internacional e, a seguir,

    sero especificadas somente algumas das mais freqentes.

    O terror noturno, o sonambulismo e o despertar confusional consistem em

    estados intermedirios, com intruso de viglia em meio ao sono delta (N3), gerando

    comportamentos automticos, como a marcha, mais tpica do primeiro, e o choro com

    ativao simptica intensa no terror noturno. Ocorrem principalmente da primeira

    segunda hora de sono, na transio entre sono delta (N3) para o sono REM, com

    intruso de componente da viglia (figura 3), sendo, por isto, chamados de parassonias

    do despertar. Mais comuns em crianas, requerem orientao da famlia para

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    preveno de acidentes, estmulo a um cochilo tarde para reduzir intensidade do N3

    no incio da noite, e uso de medicamentos, quando muito freqente e intenso

    (benzodiazepnicos ou tricclicos). fundamental descartar a possibilidade de SAOSprovocando os despertares forados a partir do N3 e contribuindo para a gnese destas

    parassonias.

    QUADRO 5 - PARASSONIAS

    DESORDENS DO DESPERTAR (A partir do Sono NREM)

    Despertar Confusional Sonambulismo (Sleep Walking)

    Terror Noturno

    PARASSONIAS USUALMENTE ASSOCIADAS COM O SONO REM

    Distrbio do Comportamento do Sono REM

    Paralisia do Sono Recorrente

    Pesadelo

    OUTRAS PARASSONIAS

    Estados Dissociados do Sono

    Enurese Noturna

    Gemido relacionado com o sono (Catathrenia) Exploding Head Syndrome

    Alucinaes Hipnaggicas

    Desordem Alimentar do Sono

    Parassonias No-Especificadas

    Parassonias devidas a Drogas ou Substncias

    Parassonias devidas a Condies Mdicas

    O distrbio do comportamento do sono REM (DCR) consiste na ausncia de

    atonia fisiolgica do REM, levando a comportamento violento e movimentao ativa

    durante sonhos, com riscos de ferimentos ao paciente ou a terceiros. Mais comum em

    associao com a doena de Parkinson e outras degenerativas do sistema nervoso

    central envolvendo o sistema dopaminrgico (sinucleinopatias), demanda pesquisa

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    destas entidades, apesar de poder ser idioptico, ou provocado por diversas drogas. O

    tratamento feito com clonazepam, podendo tambm responder a melatonina e

    agonistas dopaminrgicos. Assim como o DCR, o pesadelo parassonia do sono REMe ocorre mais na segunda metade da noite, quando o sono REM aumenta em

    proporo e mais prolongado. Ocorre em qualquer idade, citado a partir dos 3 anos,

    levando geralmente ao despertar com vvida noo de um sono com contedo

    angustiante ou aterrador. mais comum em perodos de transtornos emocionais e

    quadros clnicos febris, ou supresso abrupta de benzodiazepnicos.

    H diversas outras parassonias, conforme se observa no quadro 5, cuja

    especificao foge ao escopo deste texto, merecendo destaque, contudo, a enurese

    noturna (ou simplesmente, enurese do sono, pois pode ocorrer em sono diurno), devido

    s implicaes clnicas do seu diagnstico.

    Enurese Noturna (ou simplesmente, Enurese do Sono)

    Comportamento : Mico durante o sono

    Relao com o Ciclo Viglia-Sono : Assim como o Terror Noturno e o Somambulismo,

    ocorre na 1 transio do sono profundo de ondas lentas (fase N3) para o sono REM.

    Ativao Autonmica : Discreta taquicardia pode ocorrer, alm da prpria mico

    Faixa Etria de Ocorrncia : Crianas acima de 3 a 5 anos, at o incio da adolescncia.

    O controle voluntrio da mico desenvolvido nas crianas primeiramente durante o

    dia; porm, a capacidade de manter um contedo maior na bexiga e de elimin-lo

    voluntriamente durante a noite (despertando para tanto) adquirida mais tardiamente,

    requerendo um amadurescimento das estruturas do sistema urinrio (bexiga, esfncter

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    uretral) e do Sistema Nervoso Central (regio frontal mesio-basal) e perifrico. Assim, a

    criana pode desenvolver uma sensao adequada de plenitude vesical com controle

    da contenso e liberao voluntrias de urina. Tal capacidade pode ser em partetreinada, mas tambm depende do amadurescimento do organismo. Em geral, a

    maioria das crianas, a partir dos 3 anos de idade, diminui muito, ou no mais exibe, a

    mico involuntria noturna (enurese); porm, at os 5 anos, a presena de enurese

    pode ser considerada variante da normalidade.

    Classificao da Enurese Noturna

    IDIOPTICA

    Primria : quando a criana nunca desenvolveu o controle miccional noturno,

    alm da idade de 5 anos.

    Secundria : quando, aps um perodo de aquisio do referido controle (maior

    do que 6 meses), a criana volta a ter enurese noturna

    SINTOMTICA

    Decorrente de problemas orgnicos diversos como Infeces do Trato

    Urinrio, Prega de Uretra Posterior, Anomalias Anatmicas e/ou Funcionais da Bexiga

    ou do Sistema Urinrio Baixo, Causas Neurolgicas (ex.: Spina Bfida) ou Endcrinas

    (ex.: Diabetes Mellitus, Diabetes Inspidus), etc... .

    A enurese Idioptica Primria geralmente secundria a atraso no

    amadurescimento constitucional da criana. A Idioptica Secundria, afastadas

    adequadamente as causas orgnicas, mais frequentemente causada por distrbios de

    base psicognica ( ex.: conflitos familiares, medo, cime de irmo recm-nascido,

    etc...).

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    Tratamento : Condicionamento (reforamento positivo aps as noites sem enurese,

    restrio hdrica partir de 2 horas antes do incio do sono, direcionamento da criana

    para urinar no vaso, em horrio previsto para a ocorrncia da enurese). Nos casos maisrebeldes que se prolongam durante a infncia, o uso de Imipramina (Tofranil) durante 3

    a 6 meses costuma promover o amadurescimento do controle vesical noturno,

    rompendo o ciclo vicioso que pode, por si, gerar tenso e ansiedade, atrasando o

    processo de aprendizado.

    DISTRBIOS DO MOVIMENTO NO SONO

    Os diversos distrbios do movimento previstos na classificao internacional do

    distrbio do sono esto listados no quadro 6.Destaca-se neste grupo a sndrome das

    pernas inquietas (SPI), com prevalncia entre 3% e 10% da populao, segundo

    diferentes etnias, que consiste no desconforto, sensao disestsica ou lgica, nos

    membros inferiores, podendo acometer os superiores, gerando imperiosa necessidade

    de moviment-los, sendo aliviada com a movimentao ou massagem dos mesmos.

    causa importante de insnia inicial, podendo ser idioptica, ou de etiologia secundria,

    ligada reduo de depsitos de ferro no sistema nervoso central (anemia ferropriva),

    gestao, insuficincia renal em fase dialtica. mal diagnosticada e confundida com

    alteraes vasculares, neuropticas ou psiquitricas. Sua fisiopatologia ainda no est

    bem esclarecida, acreditando-se que decorra de um transtorno na interao entre o

    sistema nervoso perifrico (sensorial) e os centros superiores de percepo somato-

    sensorial, particularmente, o tlamo, mediado provavelmente por uma disfuno

    dopaminrgica. Tem ntida influncia do ciclo circadiano, sendo pior no perodo noturno,

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    mas ocorrendo tambm durante o dia, em perodos de imobilidade (por exemplo, ao

    assistir uma aula), ou de baixa do alerta. O tratamento pode ser feito com diversos tipos

    de medicamentos, especialmente, levodopa, agonistas dopaminrgicos, gabapentina,carbamazepina, valproato de sdio e clonazepam. A SPI comumente associada ao

    transtorno dos movimentos peridicos dos membros durante o sono, mas ambos

    podem ocorrer de forma independente. Este ltimo leva a mioclonias de ps, pernas ou

    braos que causam despertares, fragmentando o sono e causando sonolncia diurna

    excessiva. Tambm responde a drogas usadas para tratar a SPI.

    Outro distrbio que merece citao o dos movimentos rtmicos no sono, que

    predominam na cabea, conhecido classicamente pelo termo latino Jactatio Capitis

    Nocturnus. comum na primeira infncia e, por vezes, leva infundada suspeita de

    transtorno neurolgico, clnico ou psiquitrico.

    QUADRO 6 - DIST RBIOS DOS MOVIMENTOS NO SONO

    SNDROME DAS PERNAS INQUIETAS

    DESORDEM COM MOVIMENTOS PERIDICOS DO SONO

    CIMBRAS DE PERNAS RELACIONADAS COM O SONO

    BRUXISMO DO SONO

    DESORDEM COM MOVIMENTOS RTMICOS DO SONO (Jactatio Capitis Nocturnus)

    DISTRBIOS NO-ESPECIFICADOS DO MOVIMENTO RELACIONADOS COM O SONO

    DISTRBIOS DO MOVIMENTO RELACIONADOS COM O SONO DEVIDOS A DROGAS OU

    SUBSTNCIAS

    DISTRBIOS DO MOVIMENTO DO SONO DEVIDOS A CONDIES MDICAS

    Jactatio Capitis Nocturnus (Movimentao Rtmica da Cabea no Sono)

    Comportamento : movimentao rtmica e repetitiva da cabea ou do corpo no incio do

    sono.

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    Relao com o ciclo viglia-sono : Ocorre no perodo da viglia logo antes do incio do

    sono (pessoa no leito), podendo se estender at as fases de sono superficial, I e II. No

    h queixa de dor quando o corpo colide com o leito, nem de cansao. A pessoa nomanifesta lembrana do comportamento no dia seguinte. O significado deste

    comportamento no bem compreendido, sugerindo a possibilidade de uma tendncia

    inconsciente de movimentao rtmica auto-indutora do sono (ninar).

    Ativao Autonmica Associada : inexistente

    Faixa Etria de Ocorrncia : comportamento caracterstico da infncia,

    particularmente, entre 6 meses e 1 ano e meio. Casos citados em adultos so bastante

    raros.

    Diagnstico Diferencial : quando bem descrito, no h possibilidade de confuso deste

    quadro com qualquer outra manifestao anormal. A procura do mdico para o

    diagnstico diferencial com tiques, crises epilpticas ou comportamento autista seria

    uma excesso possvel. Entretanto, estas ltimas manifestaes ocorrem dentro de um

    contexto caracterstico, com manifestaes semiolgicas diferentes e no se restringem

    ao incio do sono, sendo os tiques e a estereotipia do autista mais frequentes durante o

    dia

    Tratamento : no necessrio.

    BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

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    Medicine, Edited by Meir H Kryger, Thomas Roth, William C. Dement, Elsevier Saunders, 4 thedition, 2005;

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    2- American Academy of Sleep Medicine. The International Classification of Sleep Disorders Diagnostic &

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    Syndrome and Upper Airway Resistance Syndrome. In: Principle and Practice of Sleep Medicine , Edited by

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