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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO SCIO-ECONMICO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAO
REA DE CONCENTRAO: POLTICAS E GESTO INSTITUCIONAL
MUDANA E CULTURA ORGANIZACIONAL:UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE DA FRONTEIRA
FRANCISCA CURILEM SALDAS
FLORIANPOLIS2001
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Francisca Curilem Saldas
MUDANA E CULTURA ORGANIZACIONAL:UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE DA FRONTEIRA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Administrao. rea de concentrao Polticas e Gesto Institucional.
Orientador: Nelson Colossi, Dr.
Florianpolis2001
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MUDANA E CULTURA ORGANIZACIONAL:UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE DA FRONTEIRA
Francisca Curilem Saldas
Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do Ttulo de Mestre em Administrao (rea de concentrao: Polticas e Gesto Institucional) e aprovada, na sua forma final, pelo Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina.
)r. Nelson Clossi Coordenador
Apresentada Comisso Examinadora integrada pelos Professores:
Prof. Dr. Paulo Csar da CunhayVlaya embro I t
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Dedico este trabalho
a meus pais Francisco Curilem e Carmen Julia Saldas, responsveis pela minha formao;
s minhas irms, Millaray, Maria-Gracia e Paula, pelo incentivo e apoio para realizar esta grande tarefa;
aos meus sobrinhos, Camilo, Sebastin e Maria-Jos, continuao de nossos valores;
ao meu cunhado Ivn Reyes Alcamn e
minha tia Hilda Fincheira.
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AGRADECIMENTOS
A Gloria Millaray, pela oportunidade de me manter na sua famlia durante todo este tempo e contribuir para a realizao deste grande sonho, o mestrado no Brasil, Florianpolis.
Ao meu orientador, professor Nelson Colossi, pela confiana em minhas possibilidades, incentivo, pacincia e cordialidade que sempre me dispensou.
A todos os membros do Departamento de Administrao da UFRO, pela sua colaborao na coleta dos dados.
Aos diretores da Faculdade de Medicina, de Engenharia e Administrao e d Educao e Humanidades, pelas entrevistas realizadas.
Aos meus professores do Curso de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina, por me ensinar a me aventurar no mundo do conhecimento.
Ao pessoal da secretaria do curso de mestrado, Graziela, Marciani e ngela, pela amizade e apoio que sempre me dispensaram.
A meus amigos e a todos queles que, de uma forma ou outra, contriburam para realizao deste trabalho e, em especial, a Myriam, Jlio, Enrique, Luciana e Rosana.
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RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar que fatores culturais foram influenciados e alterados no processo de transformao pelo qual passou a Universidade da Fronteira, localizada em Temuco, na regio da Araucana - Chile, e quais aqueles que foram preservados. Pretendeu-se tambm observar a diferena de percepo entre os diretores pertencentes s diferentes faculdades que constituem essa instituio de ensino superior. O mtodo adotado foi o estudo de caso, caracterizando-se por ser de tipo descritivo-exploratrio e por enfatizar uma abordagem de carter qualitativa. A unidade de anlise foi a Universidade da Fronteira (UFRO) e os diretores que tinham mais de vinte anos na instituio, selecionados atravs do processo de amostragem estratificada. Os dados foram coletados junto a fontes primrias e secundrias; atravs de entrevistas semi- estruturadas e de consulta a documentos oficiais e no oficiais relativos organizao. Os resultados do estudo revelaram que os principais momentos da histria da universidade situam-se no momento da sua criao, em 1981, por meio do Decreto de Lei n 17 que estabeleceu a unio de duas sedes universitrias que existiam nessa poca na cidade de Temuco. Tais sedes pertenciam Universidade de Chile e Universidade de Santiago (ex-universidade Tcnica do Estado). Assim, o processo de mudana institucional teve um impacto cultural diferente em cada sede, dependendo do grau de transformao a que cada uma foi submetida no processo de criao da nova universidade. A cultura organizacional que predominou, uma vez criada a Universidade da Fronteira, foi a da ex-universidade Tcnica do Estado, o que provocou descontentamentos entre os membros que pertenciam outra sede (Universidade de Chile), embora tal situao tenha sido superada ao longo do tempo. Hoje, a Universidade da Fronteira apresenta fatores culturais fracos, que tendem, no entanto, a serem melhorados atravs de uma renovao da gesto administrativa que se v, contudo afetada pelas fortes conseqncias do sistema ditatorial. Pode-se dizer que isto afetou, indubitavelmente, o comportamento dos membros da universidade e a cultura organizacional.
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ABSTRACT
This research had the general objective to identify which cultural factors have been influenced and modified by the transformation process of the University of La Frontera and which have been preserved. It was also intended to observe the different perceptions of the directors of the faculties that constitute this high educational Institution. The adopted method was the case study, characterized as descriptive-exploratory and that emphasizes a qualitative approach of the matter. The unit of analysis was the University of La Frontera (UFRO) and the directors who had more than twenty years working in the institution, selected through a process of stratification sampling. Data had been collected from primary and secondary sources, consisting of half-structuralized interviews and the consultation of official and not official documentation of the organization. The results of the study had disclosed that the main moments of the history of the university are its creation in 1981, by means of a Decree of Law n 17 that established the union of two university headquarters that existed at this time in the city. Such headquarters belonged to the University of Chile and the University of Santiago (ex- Technical State university). Thus the process of institutional changes had a different cultural impact depending on the transformation degree of each of the distinct faculties of the university that result from the union of the two headquarters. The organizational culture that predominated in the just created University of La Frontera was the culture of the Technical State university. This provoked grumblers in the members that belonged to the other headquarters (University of Chile), also this situation has been resolved in the present time. Today, the University of La Frontera presents weak cultural factors, that, however, tend to be improved by a renew of the administrative management. Nevertheless these efforts have been affected by the impositions of the dictatorial system. It can be said that this certainly affected the behavior of the members of the university and the organizational culture of this institution.
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SUMRIO
AGRADECIMENTOS...................................................................................................................................................................................III
RESUM O........................................................................................................................................................................................................ IV
AB STR ACT.....................................................................................................................................................................................................V
SUMRIO................................................................................................................................................ ...................................................... VI
LISTA DE ILUSTRAES............................................................................................................................... .......................................VII
1 INTRODUO................................................................................................................................................................................. 11.1 APRESENTAO E DEFINIO DO TEMA DA PESQUISA........................................................................................................... 11.2 O bjetivos de P e s q u isa .............................................................................................................................................................41.3 Relevncia do E s t u d o .............................................................................................................................................................51.4 viso g eral do Es tu d o ........................................................................................................................................................... 6
2 FUNDAMENTAO TERICO-EMPRICA............................................................... ............................................................ 82.1 A Universidade c om o Fenmeno de Es tu d o ...................... :.......................................................................................... 10
2.1.1 Nascimento das Universidades................................................................................................................................. 102.1.2 Modelos de Universidades.........................................................................................................................................142.1.3 Objetivos Institucionais............................................................................................................................................... 22
2.2 Cultura O r g a niza cio n al ..................................................................................................................................................... 262.2.1 Os Estudos sobre Cultura Organizacional............................................................................................................. 262.2.2 Conceito e Elementos da Cultura Organizacional................................................................................................ 29
2.3 Mudana da Cultura O rganizacional.............................................................................................................................342.3.1 Variveis que induzem Mudana da Cultura Organizacional.................................. ......................................352.3.2 Administrao da Cultura............................................................................................................................................37
2.4 Estudos R elacionados Desenvolvidos no Mestrado do CPGA............................................................................402.4.1 Estudos sobre Cultura Organizacional.................................................................................................................... 422.4.2 Estudos sobre Mudana Organizacional.................................................................................................................452.4.3 Estudos sobre Universidade......................................................................................................................................47
3 METODOLOGIA...................................................................................................................................... .................................... 52
3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA................................. .....................................................................................................................523.2 DELINEAMENTO E DELIMITAO DA PESQUISA.......................................................................................................................533.3 Definio de T e r m o s ..............................................................................................................................................................563.4 Coleta e Planejamento dos d a d o s .................................. ............................................................. ................................. 573.5 Limitaes da Pe s q u is a .........................................................................................................................................................60
4 APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS......................................................................................................................624.1 MISSO E ESTRUTURA ATUAL DA U FR O .................................................................................. ............................................ 624.2 Processo de m udana Institucional da UFRO ....................................... .................................................................... 64
4.2.1 Criao da U F R O .........................................................................................................................................................644.2.2 Sucesso da Cultura....................................................................................................................................................664.2.3 Fatos, Acontecimentos e Aceitao da Misso..................................................................................................... 69
4.3 Processo s u c e s s r io e estilo d ir e tiv o ........................................................................................................................714.3.1 Seleo dos Diretores..................................................................................................................................................714.3.2 Liderana........................................................................................................................................................................ 734.3.3 Estabelecimento dos Objetivos................................................................................................................................. 74
4.4 POTICAS, NORMAS E VALORES...................................................................................................................... .....................744.4.1 Polticas de Avaliao e Normas...............................................................................................................................754.4.2 Valores, Expectativas, Ideais e Sentimentos.........................................................................................................794.4.3 Imagem da Universidade na Regio........................................................................................................................82
4.5 SlNTESE GERAL DOS RESULTADOS......................................................................................................................................... 845 CONCLUSES E SU G ES T E S ............................................................................................................................................. 92
5.1 CONCLUSES.............................................................................................................................................................................. 925.2 SUGESTES PARA ESTUDOS FUTUROS...................................................... ..........................................................................97
REFERNCIAS ....................... ...................................................................................................................................................................98
ANEXO A - ROTEIRO DE PERGUNTAS DE PESQUISA........................................................................................................... 100
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Quadro sintico dos Modelos de Universidades................................................. 22Figura 2 - Grfico dos tipos de pressupostos que influenciam a Cultura Organizacional....31Figura 3 - Quadro sintico dos elementos constitutivos da Cultura.....................................32Figura 4 - Grfico representativo das foras internas e externas de Mudana....................35Figura 5 - Grfico representativo da interao dos componentes da Mudana...................39
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1 INTRODUO
Este captulo tem como objetivo apresentar e definir o tema em estudo,
assim como refletir os objetivos e a relevncia deste trabalho.
1.1 A p r e s e n t a o e D e f in i o do T e m a d a P e s q u is a
A caraterstica marcante de nossa era a mudana de valores e crenas,
que esto sendo transformados, em nveis mundiais, pelas inovaes tecnolgicas
e, em particular, pela tecnologia da informao e das comunicaes. A inovao
referida significa tanto uma aplicao prtica da cincia quanto um conhecimento
sobre a execuo de certas tarefas e atividades que se aplicam de uma forma
essencialmente utilitria.
A era da agricultura lanou a Primeira Onda de transformaes sociais na
histria. Logo, a revoluo industrial desencadeou uma Segunda Onda, chamada de
paradigma tecnolgico, no qual o mercado constituiu-se numa fora modeladora da
sociedade. Nesse paradigma, o homem qualificado segundo critrios da
organizao mercantil. Hoje predomina uma Terceira Onda, provocando
transformaes nos setores tecnolgicos e sociais que, conforme Toffler (1990), vem
acarretando mudanas de grande envergadura em todos os pases de alta
tecnologia. Esta ltima onda se caracteriza como um perodo de transio que, por
causa dos aspectos que envolve, no permite que se conhea com preciso a nova
tendncia imposta sociedade.
A caraterstica dominante da revoluo industrial foi criao de
sociedades de massa, cujo processo produtivo encontrava-se tambm distribudo
em massa. Os seus elementos fundamentais sustentavam-se nos processos
produtivos elaborados pelo taylorismo e fordismo. Essa forma de produo,
caraterstica do segundo Ps-Guerra, resultou numa notvel expanso econmica.
Nesse contexto, esta nova forma de produo transformou a organizao do
trabalho, segundo Nunes (1993), numa vertente produtiva do modelo de
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desenvolvimento que reinou de forma hegemnica nas principais economias do
planeta at meados dos anos 70. No entanto, a pa/tir desse ano, pelo carter
desenfreado que apresentava tal produo, iniciou-se a crise do capitalismo, onde
novas prticas de produo provocaram a chegada de uma terceira Onda de
transformao.
A terceira Onda baseia-se num contexto de tecnologias de base
microeletrnicas conjugadas com novas formas de organizao do trabalho. Suas
principais caratersticas so a flexibilidade e integrao de seus elementos,
essncias para responder s necessidades da atual estrutura do mercado.
Conseqentemente, ocorrem importantes alteraes no trabalhado coletivo, ou seja,
na combinao social das foras de trabalho individual (terceirizao). Tal fato trouxe
novidades para a relao capital e trabalho, iniciando um reordenamento do
processo social de produo.
Com relao fora de trabalho, surgem novas necessidades e desafios,
tais como o aperfeioamento profissional, criao de novas especialidades,
requalificao dos trabalhadores dispensados e a redistribuio da fora de trabalho
pelos ramos e atividades da economia. Nessa sentido, a fora de trabalho foi
novamente reestruturada devido s condies de heterogeneidade. Num nvel
macroeconmico, o capital torna-se hegemonicamente financeiro, tentando
expandir-se para outros mercados, criando um novo fenmeno, chamado
globalizao ou mundializao.
O fenmeno de globalizao cria a necessidade de transformar as
organizaes em entidades mais eficientes e com maior capacidade de adaptao
diante das novas condies do mercado. Nesse contexto, as organizaes devem
promover mudanas nos seus aspectos culturais ao nvel de integrao
organizacional, tanto interno, quanto externo. No entanto, a presente situao
altamente complexa, pois a atual onda traz com ela os vestgios da onda passada.
Como exemplo, pode-se observar a tendncia que as escolas e universidades
seguiram durante todo este tempo em termos de formao em grande parte de seus
estudantes para se adaptarem s organizaes burocrticas. Isto pode ser um
exemplo essencial das sociedades de massa.
Tais mudanas esto ocorrendo, portanto, no interior de um processo
complexo e contraditrio que envolve todas as esferas das atividades humanas,
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como a cultura e a educao, gerando assim ujrrbcenrio imprevisvel com respeito
aos valores e crenas. Neste contexto, o debate sobre cultura organizacional e
educao esto tomando grande interesse nos mbitos educacionais e
empresariais. Isto representa um desafio para a Educao, que ter que se preparar
para as atuais e futuras demandas educacionais que devero estar a par das
transformaes do mercado.
Neste contexto, as universidades, como instituies de ensino superior,
devem ser particularmente sensveis a estes temas de modernizao e mudanas.
Entretanto, os governos de todos os pases esto diminuindo os investimentos nas
universidades, levando-as a uma autonomia institucional para que passem a
desempenhar novos papis na sociedade. Isto, por sua vez, est obrigando as IES a
revisarem seus objetivos institucionais e a sua atual forma de gesto administrativa,
de maneira a se adaptem s novas demandas do mercado, que so cada vez mais
heterogneas e competitivas. Alm disto, ser necessrio desenhar novas
estratgias para que possam sobreviver como instituies no mercado,
considerando que os recursos provenientes do Estado so cada vez mais escassos.
Assim, para que a educao seja (vista hoje como impulsora do
desenvolvimento necessrio que a mesma seja capaz de oferecer o que a nova
ordem social requer, ou seja, pessoas com a capacidade de responder
adequadamente aos requisitos que demanda o mercado, tais como: as habilidades
das pessoas de processar grandes quantidades de informao; conhecer e interagir
com pessoas de outras culturas, o que pressupem a tolerncia; aprender a
aprender; ter um adequado conhecimento das ferramentas tecnolgicas e
capacidade de resolver os problemas. Tambm requer que se implante nos
estudantes uma atitude mais positiva perante o trabalho em equipe e uma
capacidade de negociao que os preparem para enfrentar com xito as exigncias
cada vez mais sofisticadas dos processos produtivos.
Neste novo contexto, grandes mudanas devem ocorrer na universidade,
que passa a se envolver tambm com questes relacionadas ao meio ambiente e ao
desenvolvimento sustentvel. Assim, seus papis estaro fundamentados na busca
de um futuro mais vivel atravs de mudanas baseadas no compromisso de
estabelecer novas formas de tica e relacionamento na sociedade.
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A anlise da universidade como entidade pblica pode representar uns
dos estudos mais representativos sobre os valores organizacionais na forma de
como um grupo de pessoas logra se adaptar diante das mudanas ocorridas numa
instituio tanto por decises estabelecidas internamente quanto por presses
externas a ela.
A Universidade da Fronteira (UFRO), foi criada pelo Decreto de Fora de
Lei n. 17, de 10 de Maro de 1981, como sucessora das sedes da Universidade de
Chile e da Universidade de Santiago de Chile (ex-Universidade Tcnica do Estado)
existentes nessa data na cidade de Temuco - Chile. Portanto, a partir do ano 1981, a
Universidade da Fronteira constituiu-se como uma universidade do Estado do Chile,
de direito pblico, autnoma e com patrimnio prprio. Seu objetivo servir seus
mais elevados interesses culturais e espirituais e promover, regional e
nacionalmente, a investigao, criao, preservao e transmisso do saber
universal.
Neste trabalho, com o intuito de perceber como a mudana e cultura de
uma organizao se influenciam mutuamente, sendo a primeira uma fora poderosa
que orienta as aes dos indivduos dentro da prpria realidade de uma
organizao, empreendeu-se uma investigao orientada pelo seguinte problema de
pesquisa:
Qual a influncia do processo de transformao da Universidade da Fronteira na Cultura Organizacional?
1 .2 O b j e t iv o s de P e s q u is a
Em termos gerais, a finalidade do estudo descrever o processo de
transformao de uma Instituio de Ensino Superior, visando identificar os
principais fatos e acontecimentos que marcaram a sua histria. Assim, para
responder pergunta de pesquisa formulada, os seguintes objetivos especficos
foram estabelecidos:
Identificar os principais momentos histricos da Universidade da Fronteira, sua origem e instituies que a formaram.
Caraterizar o processo de mudana institucional que formou a UFRO.
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Identificar a influncia das instituies que formaram a UFRO sobre a sua cultura organizacional.
Identificar a atual cultura organizacional da Universidade da Fronteira.
Identificar as perspectivas e as potencialidades da UFRO.
1.3 R e l e v n c ia do E s t u d o
O debate em relao cultura organizacional tem sido uma das
preocupaes mais recentes no contexto administrativo, pois, observando a
literatura especializada, pode-se ver que seu realce como tema de pesquisa
produziu-se somente a partir da dcada de 80. Existem variadas teorias que
explicam, no entanto, as possveis causas de seu crescente interesse na
administrao.
Considerando o que foi referido anteriormente com respeito atual
situao que esto enfrentando as sociedades, faz-se necessrio que o estudo da
cultura organizacional se realize por meio de um processo mais integrado,
sistemtico e contnuo. Isto permitir obter um conhecimento mais subjetivo da
dinmica organizacional num nvel de crenas e valores que possam ajudar com
maior facilidade aos indivduos pertencentes a uma organizao a enfrentar o
processo de mudana.
Muitos autores, no entanto, referem que as dificuldades mais freqentes
que se encontram no processo de mudana so os conflitos, resistncias e reaes
que emergem no momento de pr em prtica as aes de mudana. Isto requer,
portanto, que se procurem outras alternativas de estudos que contribuam para o
entendimento de tais causas e que, muitas vezes, no podem ser explicadas por
meio de tcnicas administrativas comuns.
Por sua vez, faz-se necessrio desenvolver estudos terico-empricos que
se orientem numa dimenso cultural de maneira a obter um maior conhecimento das
caratersticas e dos fenmenos inerentes ao prprio funcionamento das
organizaes. Neste sentido, pretende-se oferecer um referencial terico que
contribua para a anlise das reaes dos integrantes de uma entidade frente a
determinadas prticas organizacionais.
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A mudana considerada como um processo muito complexo na
organizao. Conforme Katz e Kahn (1978), no h informaes adequadas sobre
as modificaes importantes dos processos organizacionais, contudo, sabe-se que,
quando se trabalha com variveis menos relevantes, muito mais difcil obter a
mudana, apesar de que tais variveis signifiquem menor esforo por parte dos
agentes da mudana.
Em termos prticos, espera-se que os resultados da pesquisa possam
contribuir para o aperfeioamento e implementao de estratgias mais eficazes de
ao administrativa na Universidade da Fronteira, assim como em outras Instituies
de Ensino Superior. Isto possibilitar, num futuro imediato, a um melhor
entendimento da realidade interna de cada organizao e dos acontecimentos no
mundo atual, onde se observa que as organizaes esto cada vez mais
influenciadas pelas aes humanas.
Com o intuito voltado para os propsitos da pesquisa, estruturou-se este
trabalho em cinco captulos, na forma que se apresenta a seguir.
1.4 V is o G er a l d o E s tu d o
O atual captulo apresenta um arcabouo geral de como as mudanas
tecnolgicas transformaram e seguem transformando os valores e crenas em nvel
mundial. Assim, neste contexto de mudana, pretende-se destacar o debate sobre
cultura organizacional e educao que esto despertando grande interesse nos
mbitos tanto educacionais quanto empresariais, ao mesmo tempo em que so
apresentados o objetivo geral e especficos desta pesquisa.
No segundo captulo apresentada a fundamentao terico-emprica, de
acordo com a bibliografia pesquisada, estruturada em trs sees. A primeira seo
tem como objetivo referir-se sobre o tema Cultura Organizacional. Para isto, faz-se
uma sntese sobre as bases que representaram o ponto de partida do explosivo
interesse em estudar a cultura organizacional. Tambm se pretende entender o que
significa Cultura Organizacional atravs das definies expressas pelas distintas
vises de autores tais como Schein (1989), Freitas (1991) e Alves (1997), assim
como os elementos mais representativos que a compem. Por sua vez, enfocam-se
algumas questes concernentes aos processos de mudana nas organizaes e
-
que influem diretamente na cultura das organizaes. A segunda seo deste
captulo tem como objetivo apresentar o tema concernente Universidade. Neste
caso, apresenta-se uma breve resenha histrica do nascimento destas instituies,
os diversos modelos que tratam de caratersticas peculiares s organizaes
acadmicas e, finalmente, examinam-se questes referentes aos objetivos
institucionais. A terceira seo apresenta uma breve reviso da literatura
concernente aos trabalhos desenvolvidos no mbito do Curso de Mestrado em
Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina sobre os temas cultura,
mudana organizacional e universidade.
O terceiro captulo descreve os aspectos metodolgicos aplicados nesta
pesquisa, incluindo sua caraterizao, o delineamento e delimitao da pesquisa,
com o esclarecimento sobre a populao e amostra utilizada. Por sua vez, definem-
se os termos que representam o objeto desta investigao e relata-se a coleta e
planejamento dos dados por meio de uma breve sntese do que uma entrevista e
seu devido planejamento. Finalmente, apresentam-se as limitaes que surgem da
execuo de um trabalho terico-emprico, desenvolvido atravs de um mtodo
predominantemente qualitativo.
O quarto captulo tem como objetivo apresentar e a analisar as
informaes obtidas no decorrer do trabalho, tanto por meio das entrevistas
efetuadas com os diretores de departamento da Universidade da Fronteira como
atravs da documentao consultada. Assim, este captulo desenvolvido a partir do
contedo terico-emprico exposto no captulo segundo, pretende analisar aspectos
tais como: Misso e Estrutura atual da UFRO; Processo de Mudana Institucional da
UFRO; Processo Sucessrio e Estilo Diretivo; Polticas, Normas e Valores e a
Imagem da Universidade na Regio.
Finalmente, no quinto captulo, so apresentadas as consideraes finais
baseadas nos objetivos especficos que persegue este trabalho e algumas
sugestes para a realizao de futuras investigaes sobre a temtica explorada no
presente trabalho.
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2 FUNDAMENTAO TERICO-EMPRICA
As organizaes, aliceradas condio de corao da sociedade pelo
paradigma tecnolgico, conduziram ao ser humano a depender delas em grande
escala. Esta espcie de fuso organizao-indivduo fez com que o homem
moderno, no mbito do trabalho, fosse caraterizado de distinta forma, sendo visto
como um ser racional e utilitrio, de maneira que a organizao tivesse um melhor
desempenho. Nesta perspectiva, e de acordo com as necessidades que
apresentavam o mercado e a organizao burocrtica, que foi a base desse
paradigma tecnolgico, o ser humano converteu-se num homem reativo e operativo.
Como os objetivos organizacionais estavam enfocados num mbito
totalmente mercantil, todos os esforos da administrao dirigiram-se nesse sentido,
assumindo um carter de cientificismo voltado para racionalizar o trabalho e
conseguir maior produtividade. Assim, as primeiras tecnologias gerncias, utilizadas
desde o inicio deste sculo at hoje em muitas organizaes, foram aquelas
conhecidas como taylorismo, fayolismo e fordismo.
A burocracia representou o instrumento operacional que, por meio de uma
administrao racional, permitiu que as organizaes conseguissem um alto grau de
eficincia econmica. Isto foi assim, pois, a burocracia representou um sistema de
dominao e alienao que permitiu previsibilidade e estabilidade das aes atravs
de suas normas, regras e regulamentos, de acordo com o conceito weberiano. Nas
organizaes burocrticas o ser humano foi considerado como mais um instrumento
do processo produtivo. Nesse sentido, no se tinha uma preocupao com o
indivduo, uma vez que a organizao burocrtica estabeleceu um sistema de
normas e expectativas a serem estritamente seguidas. Dessa forma, o
comportamento humano era considerado como um mecanismo aprendido e
totalmente influencivel pela organizao.
A partir da crise do capitalismo, as mudanas ambientais esto
acontecendo num ritmo cada vez mais acelerado, o que faz que estas mudanas
obriguem s organizaes e a sua administrao como tal, a procurarem novos
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modelos e instrumentos que permitam melhorar o desempenho das organizaes
num mercado cada vez mais deteriorado e competitivo.
De acordo com essas novas condies, a burocracia j no representa
mais o modelo ideal para sobreviver num mercado que sofre mudanas contnuas e
com caratersticas mais competitivas. Hoje, requer-se organizaes capazes de se
adaptar e mudar com facilidade e rapidez s diversas ameaas e oportunidades s
quais as organizaes esto ou viro a ser submetidas.
Nessa perspectiva, criou-se a necessidade de ter uma viso diferente do
que representa a organizao, dando nfase assim ao comportamento humano. Da
o surgimento de um estudo distinto, enfocado a uma viso metafrica da
organizao. Por sua vez, procura-se dar maior importncia s dimenses humanas
que sempre estiveram ausentes e ocultas, e compreender ao ser humano em todos
seus nveis. Fleury e Fischer (1996) afirmam, entretanto, que por causa da limitada
capacidade de anlise dos mtodos e instrumentos aplicados at hoje para uma
adequada explicao da realidade organizacional, ampliou-se o limite do que era
considerado relevante. Isto quer dizer que se est procurando novas prticas, mais
subjetivas, que permitam ajudar a compreender com maior profundidade o fenmeno
humano e suas relaes dentro e fora da organizao.
Baseado nesta perspectiva, este captulo apresenta o referencial terico-
emprico que sustenta o desenvolvimento da presente pesquisa. O seu objetivo se
orientar, primeiramente, em identificar o processo histrico da universidade como
Instituio de Ensino Superior (IES), refletindo os diferentes modelos que ela pode
representar dependendo de seus objetivos educacionais e fazendo uma sntese de
seus objetivos institucionais. Na segunda seo deste capitulo, pretende-se que o
leitor possa compreender como a cultura organizacional passa a ser um instrumento
fundamental para que as organizaes consigam se adaptar a estes novos cenrios
de mudanas. Nessa perspectiva, analisa-se a mudana da cultura assinalando as
variveis que induzem a uma mudana na cultura e a dificuldade de administrar a
cultura organizacional. Na terceira parte, pretende-se, por sua vez, apresentar uma
reviso bibliogrfica de alguns estudos efetuados no Programa de Ps-Graduao
em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina relativos aos temas
cultura organizacional, mudana organizacional e universidade.
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2.1 A U n iv e r s id a d e c o m o F e n m e n o de E s t u d o
As constantes mudanas ocorridas nos ltimos anos, no mundo em geral
e, em particular, nas tecnologias de informao e de comunicao, esto gerando
uma nova cultura. Isso obriga sociedade a conviver com novas formas de
aprendizagem, de trabalho e de relacionamento. Por sua vez, essas novas formas
de tecnologias, principalmente a Internet, esto fazendo com que as instituies
educacionais, como a universidade, percam monoplio da informao e do
conhecimento. Isto faz com que as instituies educacionais repensem as grandes
linhas de suas misses de forma a se adaptar adequadamente s mudanas que
esto acontecendo.
Nesta perspectiva, pretende-se nesta seo, apresentar trs temas
relacionados com a universidade tais como: processo histrico da universidade
como instituio de ensino superior, os diferentes modelos de universidades e, por
ltimo, alguns de seus objetivos institucionais.
2.1 .1 N a s c im e n t o d as U n iv e r s id a d e s
Antes da criao das universidades subsistiam, no ocidente, duas
correntes de escolas. A primeira corrente estava formada por centros particulares
pouco conhecidos que seguiam uma tendncia laica. Nelas, ensinavam-se as artes
liberais, elementos de arte notarial e de direito prtico. A outra corrente de escolas
dependia diretamente dos grandes estabelecimentos religiosos tais como mosteiros,
catedrais ou colegiados. Elas subsistiam tanto pela organizao, quanto pelas
matrias ensinadas. A maioria desses centros de estudo apresentava um ensino
medocre e elementar, cujos objetivos orientavam-se somente preparao das
tarefas litrgicas, embora, existisse um nmero reduzido de centros que
proporcionavam um ensino de qualidade, equivalendo-se ao ensino superior. No
entanto, a reputao desses ltimos estabelecimentos no era muito estvel, pois
dependia da presena de algum mestre de renome.
As escolas que proporcionavam um ensino considerado de qualidade
ofertavam sete artes liberais, tais como gramtica, retrica, lgica, aritmtica,
msica, astronomia, teologia e geometria. Tambm se encontravam disciplinas mais
prticas, tais como o direito e medicina. Assim, a teologia e outras matrias
-
apoiavam-se em obras fundamentais de alguns autores universalmente
reconhecidos. A sua pedagogia era muito rigorosa e os textos eram traduzidos pelos
letrados, representando a viso daqueles tradutores. A dialtica, que era uma das
sete artes liberais, era muito limitada devido s tradues que deformavam o seu
sentido original. No entanto, entre os sculos XI e XII, a dialtica comeou a ter um
carter mais audaz sendo mais racionalista e crtica.
No inicio do sculo XII, as escolas tiveram um desenvolvimento explosivo,
os mestres e estudantes provinham de todas partes, dando-lhes um carter
internacional. Conforme Verger (1990), o surgimento explosivo de escolas provocou
um problema grave de organizao, que resultou no reexame das instituies
escolares, fazendo com que, nos primeiros anos do sculo XIII, comeassem a
surgir as universidades. Tais universidades, conforme Peixoto (2000), foram
continuadoras da cultura erudita que se vinha ministrando nas primeiras escolas.
As universidades, conforme Wanderley (1983), so herdeiras das
instituies formadas no mundo greco-romano e tiveram, de acordo com o contexto
histrico dessa poca, o seu desenvolvimento influenciado pela religio, tanto no
oriente islmico quanto no ocidente cristo. Nessa perspectiva, a palavra universitas
foi utilizada inicialmente para denominar as corporaes escolsticas. Com o
decorrer do tempo, tal termo foi aplicado para definir uma comunidade de
professores e alunos que somente as autoridades civis e eclesisticas podiam
reconhecer ou sancionar.
Portanto, pode-se dizer que as universidades representam uma das
instituies mais antigas, significativas e marcantes da sociedade. A sua apario,
na Idade Mdia, realizou-se nas principais cidades da Europa, estendendo-se,
posteriormente, por todos os continentes. De acordo com diversos autores, tais
como Verger (1990), Wanderley (1983) e Peixoto (2000), as universidades
medievais caraterizavam-se principalmente por serem conservadoras e
desinteressadas, voltadas para o saber como um fim em si mesmo. Peixoto (2000),
menciona ainda que tais universidades criaram-se num mundo ilustrado e que
representavam a forma mais alta de saber intelectual.
Para no depender da poltica e da justia monrquica, as universidades
medievais aceitaram permanecer, no sculo XIII, sob a tutela da Igreja. Inicialmente,
a dependncia da Igreja permitiu s universidades conseguir segurana, no entanto
-
a autonomia e liberdade intelectual foram posteriormente mudadas. Peixoto (2000)
destaca que para entender a mitificada autonomia dessa nova corporao (a
universidade) em relao s corporaes de ofcio deve-se necessariamente
analisar o contexto das relaes de foras da monarquia, dos laicos e da Igreja. No
processo de criao de uma das mais importantes universidades, tal como a de
Paris, observou-se que existiam muitas contradies que se caraterizavam por uma
dupla tendncia. Segundo Verger (1990), as universidades tinham um carter
eclesistico, embora muitas das escolas que as formaram tivessem, no sculo XII,
uma tendncia laica. Portanto, tal tendncia laicizante chocava com as resistncias
das autoridades eclesisticas, que no queriam renunciar a seu monoplio escolar.
Por sua vez, o ensino que era cada vez mais laico, no lograva se adaptar com o
resto da sociedade urbana por apresentar certos carateres particulares com respeito
a outros ofcios.
Entretanto, nos anos 1200 e 1210 nasceu em Paris a primeira
organizao corporativa dos mestres e alunos. Para desenvolver efetivamente suas
atividades e aumentar a sua centralizao, essa organizao corporativa aliou-se
com o Papa. Isto se deveu atitude mais benvola que os Papas do sculo XIII
tinham em relao ao desenvolvimento das universidades. A benevolncia da Igreja
tinha o propsito de dotar os grandes centros de estudos e de pesquisa de sua
cristandade. Evidencia-se que esses centros estavam diretamente ligados ao
papado.
Para obter a autonomia a favor da universidade, os mestres incitavam aos
alunos desses centros de ensino a criar de forma emprica algumas instituies, para
posteriormente serem reconhecidas oficialmente pela entrega da bula papal, a
licentia docendi (licena para ensinar). Normalmente isso acontecia, pois os legados
pontificais costumavam aceitar as decises tomadas pelas vanguardas
universitrias.
Nesse momento, a corporao universitria no tinha uma estrutura fsica
definida, isto , prdios ou renda prpria. Isso favoreceu, em muitas ocasies, de
acordo com alguns autores, sua migrao para vrias cidades da Europa. No
entanto, depois de um longo processo de luta, tais corporaes adquiriram grande
importncia como grupos de consumidores, como elementos de prestgio e como
centros intelectuais. Isto favoreceu para que a universidade obtivesse
-
progressivamente quase todos os privilgios que definiam uma corporao aos olhos
dos juristas da poca. Diante desse prestgio e dessa nova importncia conquistada,*
as universidades conseguiram efetivar trs exigncias. A primeira exigncia da
corporao universitria foi de conseguir independncia no recrutamento. Isso
possibilitou escolher seus prprios candidatos sem ter que pagar dinheiro, nem fazer
um juramento de fidelidade ao chanceler. A segunda exigncia refere-se ao direito
de estabelecer livremente seus estatutos para regulamentar seu funcionamento
interno. Dessa forma ela tinha liberdade de exigir de seus membros um juramento de
obedincia e de excluir aqueles que no desejasse. Finalmente, a ultima exigncia
estabelecida tinha como objetivo alcanar o direito de eleger seus funcionrios para
assegurar a adequada aplicao de seus estatutos. Nessa perspectiva, pretendeu-
se representar a corporao diante das autoridades exteriores e demandar por ela
em justia.
Em grandes linhas, conforme Verger (1990), os historiadores modernos
distinguiram trs tipos de universidades na Idade Mdia:
- Universidades espontneas: as aquelas que nasceram do desenvolvimento espontneo das escolas preexistentes. Existem diversos exemplos de universidades espontneas, onde as mais tpicas so as de Paris, de Bolonha e de Oxford;
- Universidades nascidas por migrao: tais universidades nasceram pela disperso de mestres e estudantes nas numerosas cidades da Europa. Portanto, de acordo com essas circunstncias, muitas delas tiveram apenas uma existncia efmera, desaparecendo ao final. No entanto, tem-se o caso da Universidade de Pdua, na Itlia, que nasceu em 1222 de uma importante migrao de doutores e de estudantes da Universidade de Bolonha, e que logrou perdurar com o tempo e transformar-se numa universidade importante;
- Universidades criadas: So aquelas universidades que foram criadas de uma s vez pelo Papa ou pelo Imperador. Estes, segundo Verger (1990, p. 43), tinham a autoridade soberana necessria para criar corporaes do tipo das universidades. Tais universidades recebiam, pois, desde sua origem, uma bula ou uma carta de fundao que definia a priori seus estatutos e seus privilgios . Tais universidades apresentaram, portanto, uma atitude revolucionria diante do fenmeno das universidades espontneas.
Nesse aspecto, as universidades conseguiram obter um papel de grande
importncia na sociedade, onde os papas e soberanos viram nelas uma grande
possibilidade de coloc-as disposio da Igreja e do Estado. Portanto, no decorrer
do tempo, a sua gesto comeou a ser controlada pelo Estado. Segundo Verger
-
(1990, p. 43), este novo fenmeno significou [...] reconhecer na formao
universitria, alm de seu valor cultural e de seu prestgio, uma utilidade prtica e
um alcance poltico . Isto quer dizer que as universidades transformaram-se numa
ferramenta adequada para exercer poder.
Wanderley (1983) menciona uma lista de universidades que se criaram,
s portas da poca moderna, na Europa. Estas so: Bolonha (1108), Paris (1211),
Pdua (1222), Npoles (1224), Salamanca (1243), Oxford (1249), Cambridge (1284),
Coimbra (1290), Praga (1348), Viena (1365), Heidelberg (1386), Leipzig (1409),
Lovaina (1425), Barcelona (1450), Basilia (1460), Tbingen (1477), Upsala (1477),
Leiden (1575), Edimburgo (1583), Gottingen (1737), Moscou (1755), So
Petersburgo (1789), e Londres (1836).
Na Amrica, os colonizadores fundaram as seguintes universidades: Lima
(1551), Mxico (1553), Crdoba (1613), Harvard (1636), Yale (1701), e Princeton
(1746). Nesse contexto, o sistema universitrio da Amrica Latina foi trazido pela
Espanha desde o inicio do sculo XVI. No Brasil, conforme Wanderley (1983), o
sistema implantado caraterizou-se por fragmentar o ensino superior em escolas, cuja
primeira universidade nasceu oficialmente em 1920 no Rio de Janeiro, sem ter-se
concretizado na prtica.
2 .1 .2 M o d e l o s d e U n iv e r s id a d e s
Os estudos desenvolvidos na rea da Teoria das Organizaes tm
tentado delinear algumas caratersticas gerais que a maioria das organizaes
formais compartilham. A Teoria Organizacional considera as organizaes como
entidades genricas que simplificam a complexidade dos fatores que interagem
nelas para propor tipos puros baseados num prottipo nico que possa caracteriz-
las. Neste contexto, o que identificar uma organizao sero as funes que ela
estabelecer com a sociedade.
As universidades atuais, conforme Romero (1988), podem ser
consideradas como uma organizao e como tal, obedecem aos requisitos que a
caracterizam. No entanto, as universidades apresentam tambm algumas
idiossincrasias que as distinguem das outras organizaes. Tais distines
relacionam-se com a diversidade dos fins que ela apresenta, nas suas medidas de
-
desempenho, na mistura de sua misso, na difuso de autoridade e na
fragmentao de suas atividades internas.
Concordando com essa linha, Berchem (1991) diferencia a universidade
de outras organizaes pelas particularidades que a universidade apresenta no seu
desempenho, ou seja, o que distingue a universidade o como ela faz, mas no o
que ela faz. Por sua vez, Etzioni (1976), identifica as universidades como
organizaes especializadas, onde seu corpo administrativo fica executando
atividades secundrias de maneira a prover os meios necessrios aos especialistas
para que eles realizem a atividade principal. Neste caso, os administradores s
podem fazer algumas objees e, muitas vezes, seus ascensos hierrquicos so
mais limitados do que os dos especialistas, que tm maior probabilidade de alcanar
nveis hierrquicos mais elevados.
Por sua vez, Lane (1985) indica que o singulariza a universidade de
outros tipos de organizao so as suas diferenas internas e externas. No caso das
diferenas internas, conforme este autor, as universidades como instituies de
ensino superior esto orientadas para regular o conflito existente entre as unidades
auto-suficientes tais como as faculdades e departamentos que atuam de forma
racional. No que se relaciona com o aspecto externo, o autor afirma que as
universidades esto orientadas para uma manuteno da legitimidade do trabalho
acadmico com a sociedade.
De acordo com um estudo relacionado com a classificao das
organizaes, Katz e Kahn (1978) estabeleceram que as universidades como
instituio de ensino superior podem ser includas em duas categorias
organizacionais; a primeira refere-se a uma organizao orientada manuteno e a
outra como uma organizao adaptvel. Estes autores propem uma tipologia de
organizao baseada na funo de que uma organizao se desenvolve como um
subsistema dentro de uma sociedade maior. Nesta base, apresentam-se quatro tipos
de organizaes identificadas neste conceito:
Organizaes produtivas ou econmicas: tm como objetivo fornecer bens e servios, tais como as organizaes de transporte, de comunicao ou de manufatura;
Organizaes de manuteno: as suas funes orientam-se socializao e ao treinamento dos indivduos para outras entidades, tais como escolas e igrejas;
-
Organizaes adaptativas: tais entidades pretendem criar um novo conhecimento e tendem a procurar informaes disponveis para solucionar atos inovadores frente aos problemas existentes. So prottipos desta categoria os laboratrios e as universidades de pesquisa.
Organizaes de funo gerencial ou poltica: dedicam-se adjudicao, coordenao e ao controle de recursos, pessoas e subsistemas. Neste caso, encontra-se o Estado como principal estrutura de autoridade da sociedade que mantm uma legitimao nos seus estatutos legais parando todo tipo de monoplio terico.
Entretanto, Baldridge (1982), apresenta outros modelos tericos que se
relacionam com o processo decisrio, estrutura de poder e autoridades
institucionais. Tais modelos apresentam um carter analtico e no prescritivo, que
contemplam apenas aspectos internos da universidade. Estes so: a burocracia
acadmica, o modelo colegiado e a universidade como um sistema poltico.
A Universidade como Burocracia Acadmica
Neste tipo de modelo, a universidade vista como uma unidade social
burocrtica, baseada em aes racionais para alcanar, com um mximo de
eficincia, seus objetivos propostos. Alm disto, estas organizaes aplicam
tecnologias avanadas para alcanar as suas metas acadmicas bsicas, tal como o
ensino e a pesquisa. Por sua vez, considera-se que os cargos, regras e normas
escritas permitiro aumentar a eficincia e a previsibilidade de seus resultados.
A burocracia acadmica apresenta caratersticas tpicas que a podem
identificar como o modelo burocrtico mencionado por Weber. Algumas dessas
caratersticas so: (1) a competncia, que reflete o critrio da contratao de seus
membros; (2) os salrios, que so pagos diretamente pela organizao dentro de um
padro organizacional, portanto no so fruto de um sistema de livre negociao; (3)
o estilo de vida dos membros da organizao, que centrado na entidade e; (4) a
estabilidade, que faz parte do sistema.
Este modelo burocrtico, chamado de burocracia profissional, se
caracteriza por apresentar um sistema de funes descentralizado e um trabalho
operacional estvel que permite originar um comportamento predeterminado ou
padronizado. Esta burocracia profissional no se apia numa autoridade de natureza
hierrquica, mas numa autoridade de natureza profissional. Dessa forma, os
-
docentes conseguem maior experincia e autoridade no momento de serem
promovidos, caso que no acontece com a hierarquia no profissional, onde o poder
e prestigio esto no centro da administrao.
A Universidade como Modelo Colegiado
O termo burocracia tem sido muitas vezes rejeitado por parte da
comunidade acadmica, estabelecendo-se assim um modelo chamado de colegiado
de governo, ou de comunidade de scholars. Neste contexto, existem diversos
estudos que analisam este modelo, que considerado, algumas vezes, como o
modelo ideal para as organizaes acadmicas. Isto assim, pois este modelo
apresenta caratersticas particulares com relao aos profissionais que so os
responsveis pelo trabalho organizacional. Tambm este modelo recomendado
pela necessidade do prprio processo ensino-aprendizagem-investigao que
carateriza a universidade.
O modelo Colegiado define a universidade como uma comunidade de
iguais, onde as decises so tomadas por meio de um consenso entre os membros
do grupo, apresentando dessa forma um ambiente predominantemente democrtico.
Conforme Finger (1988), este modelo representa uns dos governos mais utilizados
nas organizaes acadmicas em todo o mundo pelas caratersticas que apresenta.
No modelo Colegiado, os administradores so eleitos pelos seus pares e
seu papel fundamental representar a universidade no seu ambiente externo.
Assim, eles devem tomar decises de rotina e oferecer servios de suporte s
atividades acadmicas de acordo com o que se estabeleceu na comunidade. Isto faz
com que a administrao esteja subordinada s decises do colegiado. Como um
modelo baseado na comunidade, a relao entre os indivduos de natureza
informal, onde coexistem sentimentos e valores comuns entre si e coerentes com os
objetivos e caratersticas da organizao. Por sua vez, este grupo informal reflete um
alto grau de lealdade para com a coletividade.
A universidade como Sistema Poltico
Conforme Baldridge (1982), este tipo de modelo supe que os indivduos
que pertencem a uma universidade tm interesses conflitantes e competitivos entre
si. Reflete-se tambm uma fragmentao dos grupos, que competem entre si,
-
mostrando uma participao fluida. Por sua vez, entende-se que entre os membros
deste modelo existe uma necessidade de compromisso ou troca como um meio para
garantir a sobrevivncia da organizao.
Conforme Katz e Kahn (1978), as organizaes que se estruturam de
acordo com um modelo poltico demonstram de forma mais intensa muitos dos
atributos de todas as organizaes, refletindo assim uma dicotomia dentro-do-grupo-
fora-do-grupo. Dessa forma, os membros da organizao podem pertencer a uma
variedade de grupos no qual um indivduo pode participar somente a um de tais
grupos. As relaes com os membros do grupo de oposio se caracterizam por
serem emocionais e altamente explosivas.
A influncia dos grupos limitada, uma vez que o poder de cada grupo
no absoluto, sendo mais ou menos difuso, dependendo de onde cada grupo pode
exerc-lo ou da situao. A autoridade tambm considerada limitada pela presso
que existe entre os grupos. Alm disso, o conflito representa um elemento
importante para a universidade que se considera como um modelo poltico. O papel
do dirigente acadmico limita-se somente como mediador ou como aquele que
participa na arte do possvel. Por sua vez, o administrador tratado como um
negociador, ou seja, como uma pessoa que transita entre os grupos, tratando de
estabelecer cursos viveis de ao para a organizao.
No ambiente universitrio, a negociao resulta uma prtica difcil de
conseguir e difcil de se expandir entre os grupos. Os participantes - professores,
alunos e profissionais no docentes - so de natureza individualistas e centrados em
si mesmos. Isto faz com que as decises polticas no vo alm das questes muito
simples e o que faz que os indivduos esto pouco preocupados com pontos de vista
ou aes compartilhadas.
Existem outros modelos, apresentados por Romero (1988), baseados
num estudo feito pela Fundao Indstria-Universidade do Instituto de Administrao
de Universidades Belgas. Tais modelos so: (1) um ambiente de educao; (2) uma
comunidade de investigadores; (3) um centro de progresso; (4) um molde intelectual;
(5) um fator de produo.
-
A Universidade como um ambiente de educao
Este modelo, conforme Romero (1988), define a universidade como um
lugar privilegiado para ensinar todos os ramos do saber universal, onde o homem
considerado um ser dotado que tem uma aspirao natural com relao ao saber.
Assim, seu objetivo primordial orienta-se difuso do saber e cujas funes daro
prioridade ao ensino sobre a investigao, prover uma educao universal e liberal e
dar uma formao mais intelectual do que profissionalizante. Portanto, a
aprendizagem tem como fim o prprio exerccio intelectual, baseado numa slida
formao moral e mental sem a persecuo de atingir um fim utilitrio. Para
responder eficazmente aos objetivos propostos a universidade, como ambiente de
educao, dever estabelecer a sua prpria forma organizativa.
Esse modelo de universidade considera como fator mais importante a
interao de conhecimentos com os professores. Nessas condies, tal interao
dentro de uma comunidade de mestres e estudantes permitir aos estudantes
compreender os grandes contornos, os princpios, dimenses e caratersticas das
grandes vertentes do saber. Dessa forma, o estudante poder adquirir, conforme
Rmero (1988, p. 13), um hbito de esprito e uma maneira de estar que persistiro
durante o resto da sua existncia e que se caracterizam pela liberdade, justia,
ponderao e sabedoria" .Ou seja, o ambiente baseado na educao permitir ao
aluno construir as suas bases cientficas que lhe permitiro por sua vez, adquirir uma
atitude de justia e de sabedoria.
A universidade como uma Comunidade de Investigadores
Este modelo de universidade segue a teoria de que todos os indivduos,
sem considerar a idade, podem dedicar-se de forma intensa e livre a aprender, a
investigar e perpetuar o esforo da pesquisa para atingir a verdade. Conforme
Romero (1988), o que se considera como uma comunidade de investigadores e de
estudantes e que por sua vez formam a universidade ser o lugar onde a pesquisa
se desenvolve. Assim, sua funo ser de procurar a verdade no seio de tal
comunidade. Por sua vez, seus princpios orientam-se unidade do saber e
unidade de investigao e do ensino.
O principio da unidade do saber refere-se a que a cincia no pode
abarcar a verdade na sua globalidade, portanto ela deve situar-se num universo dos
-
conhecimentos. Tal universo constitui a universidade como centro de gravidade.
Nesse contexto, o objetivo da universidade ser o de articular o conjunto das
cincias de maneira a refletir uma perspectiva da unidade e da totalidade das
cincias e integrar, por sua vez, o investigador.
Pelas caratersticas que refletem este modelo, a respeito do destaque que
se faz na investigao e na especificidade da cincia, a universidade deve se
estruturar atravs de diferentes faculdades. Isto permite que cada faculdade possa
cobrir um domnio ou o conjunto de domnios cientficos, entregando total liberdade
acadmica ao professor.
A Universidade como um Centro de Progresso
A teoria principal deste modelo, conforme Romero (1988), baseia-se na
idia de que na sociedade existe uma aspirao ao progresso. Para isto, deve haver
uma influencia estreita e mtua entre os elementos progressivos (estudo e reflexo)
e o pblico em geral. Neste caso, considera-se a universidade como a principal
entidade capas de unir as atividades progressivas como um instrumento eficaz para
atingir o progresso.
Nesta perspectiva, considera-se que so as condies particulares e
concretas dos indivduos nas suas aspiraes por progresso que vo estabelecer e
orientar os objetivos da sociedade ou da universidade. Por outro lado, Romero
(1988) no considera que as condies de progresso da sociedade se identificam
com os objetivos polticos do Estado. Portanto, para que a universidade contribua no
progresso da sociedade necessrio que ela seja capaz de atuar de forma
independente, sem a interveno do Estado.
Entretanto, sustenta-se que a cultura, assim como a cincia, deve
desembocar numa ao e numa vontade de progresso que no constituam um fim
em si prprio. Rejeitando-se, assim,, a idia de que a educao e a investigao,
como exerccio da inteligncia, provenham do vazio, tanto para o estudante quanto
para o professor. Portanto, de acordo com este modelo, a universidade deve ser o
local principal para estimular a criatividade e criar um ambiente para a reflexo
inovadora para, dessa forma, gerar atividades de conservao e transmisso de
conhecimentos e de investigao criadora.
-
A Universidade como um Molde Intelectual
Este modelo de universidade est concebido de acordo com as
caratersticas pessoais de Napoleo. Napoleo afirmava que
a universidade deve estar ideologicamente submetida ao poder e ter uma funo geral de preservao da ordem social pela difuso de uma doutrina comum, custa de um corpo docente organizado, com intelectuais a servio do Imperador e assegurando um ensino sobretudo profissional (ROMERO, 1988, p. 19).
Isto faz com que este tipo de universidade tenha caratersticas baseadas
num molde ideolgico, num corpo docente submetido a uma doutrina, funcionrios
muito disciplinados e com uma extensa autoridade poltica. Por sua vez, existe um
ensino altamente orientado para a realizao de atividades profissionais e cujos
domnios do saber esto distribudos em faculdades virtualmente isoladas.
Nessa perspectiva, os princpios organizativos desse modelo universitrio
refletem as seguintes facetas:
- subordinao generalizada ao poder central;
- apresentao de uma hierarquia militar;
- uniformidade de programas e de tratamento das instituies;
- diviso da universidade em faculdades fechadas e independentes umas das outras.
A universidade como um Fator de Produo
Este modelo de universidade baseia-se no quadro ideolgico que
prevalecia na U.R.S.S durante o perodo de governo comunista. Assim sendo, tal
universidade tinha como grande meta a construo de uma sociedade comunista,
com um objetivo social e poltico bem definido, embora tal modelo reflita algumas
das preocupaes que caraterizam as universidades como ambiente de educao,
como comunidade de investigadores e como centro de progresso.
O objetivo desta universidade est orientado para construir uma
sociedade comunista, portanto este modelo apresentar caratersticas
predominantemente funcionais, com princpios organizativos que se estruturaram
nas seguintes formas:
- dependncia praticamente total do poder poltico;
- planejamento rigoroso e detalhado da formao dos profissionais;
- planejamento da investigao;
-
- relao estreita entre os conhecimentos da universidade e da vida prtica;
- todos os membros das classes sociais podiam ingressar na universidade, caraterizando-a como um ensino democrtico pela ausncia das despesas para o estudo. Por sua vez existe uma estrita seleo racional e de acordo com o planejamento estabelecido.
Como resumo, apresenta-se a seguir um quadro sinptico dos cinco
modelos propostos por Romero.
A UNIVERSIDADE DO ESPRITO A UNIVERSIDADE DO PODER
Caraterizao Um ambiente de educao
Umacomunidade de investigadores
Um centro de progresso
Um molde intelectual
Um fator de produo
Autor J. H. Newman K. Jaspers A. N. Whitehead NapoleoUR SS(Conselho de Ministros)
FinalidadeAspirao do indivduo ao saber
Aspirao do indivduo verdade
Aspirao da sociedade ao progresso
Estabilidade poltica do Estado
Edificao dasociedadecomunista
ConcepoGeral
Educao geral liberal no seio do saber universal
Unidade da investigao e do ensino no centro da universidade das cincias
Simbiose da investigao e do ensino a servio da investigao criativa
Ensinoprofissionaluniformeconfiado a umcorpoorganizado
Instrumento funcional de formao profissional e poltica
PrincpiosOrganizativos
- Pedagogia do desenvolvimento intelectual
- Internato e tutores
- Organizao por faculdades.- Liberdade acadmica.
- Corpo professoral criador- Estudantes capazes de aplicar algum princpio geral
-Hierarquia administrativa - Programas uniformes
- Manipulao controlada da oferta de diplomas- Recurso s forasprodutivas da nao
Soluo quanto ao problema de massa
Uma rede diversificada de instituies do ensino superior no seio da qual as universidades conservam a sua originalidade.
Um a rede oficial uniforme para a massa e para a elite
Adaptao s necessidades econmicas e diversificao institucional
F ig u r a 1 - Q u a d r o s in t ic o d o s M o d e l o s d e U n iv e r s id a d e sFonte: ROMERO, 1988, p. 12
2 .1 .3 O b j e t iv o s In s t it u c io n a is
Numa abordagem tradicional, as organizaes so entidades racionais
que existem e se justificam para atingir objetivos. Tais objetivos representam os
resultados finais que uma organizao, departamento ou indivduo deseja atingir.
Dessa forma, segundo Etzioni (1976), os objetivos so estabelecidos a partir de um
jogo complexo de poder que inclui diferentes indivduos e grupos dentro e fora da
organizao. Por sua vez, estes objetivos baseiam-se nos valores que se constituem
-
como as referncias para dirigir o comportamento geral e especfico dos indivduos
numa sociedade.
Estes objetivos, por sua vez, podem ser o resultado de presses
ambientais, tanto internas quanto externas, e podem se apresentar tambm como
reaes de natureza diversa, tais como econmica, poltica, tecnolgica e social.
Assim, as presses ambientais atuam sobre a organizao mudando conjunturas e
levando entidade a implementar um processo contnuo de adaptaes. Portanto,
por serem resultantes desses fatores, os objetivos so considerados muitas vezes
como conflitantes.
Neste aspecto, Mota de Castro (1988) demonstra como a definio dos
objetivos, estabelecida pela direo da organizao, desempenha as seguintes
funes:
- A comparao entre os objetivos e o desempenho da organizao representa o nico indicador das possveis necessidades de decises com implicaes estratgicas. Neste aspecto, se existe uma pequena divergncia entre objetivo e desempenho, reaiizam-se as correes necessrias. Caso que exista uma divergncia de grande envergadura, dever se realizar uma reviso completa da estratgia institucional;
- A definio de objetivos permite identificar as combinaes produto- mercado relevantes. Isto permite realizar uma anlise do ambiente da tarefa da organizao e a avaliao da adequao dos recursos no aproveitamento das oportunidades detectadas. Por outra parte, uma vez definidos os objetivos possvel detectar as reas que identifiquem certas fraquezas que comprometem a consecuo dos objetivos da organizao;
- Os objetivos gerais permitem identificar objetivos subseqentes que devem ser cumpridos em cada umas das reas de responsabilidade. Por sua vez, facilitam o estabelecimento das aes prioritrias e alocar os recursos em consonncia com as prioridades;
- O estabelecimento de objetivos claros, concretos, mensurveis e com possibilidade de serem verificados permite avaliar o desempenho e/ou eficcia da organizao e dos seus dirigentes.
Neste caso, considera-se que esta ltima funo umas das funes
mais importantes, pois facilita entender as principais razes pelas quais as pessoas
tendem a resistir ao estabelecimento de objetivos organizacionais.
A Universidade, como Instituio de Educao Superior, considerada
como uma instituio social que tem como objetivo fundamental formao da elite
intelectual e cientfica da sociedade. Alm disso, ela se caracteriza por representar
-
um ideal e por conter uma misso estvel e duradoura, assentada em normas e
valores do grupo ou sociedade na qual ela est inserida.
Umas das caratersticas que singulariza a universidade como uma
instituio social ou como uma organizao complexa a ambigidade que
apresentam seus objetivos. Conforme finger (1988, p. 75), faculdades e
universidades tm objetivos vagos, ambguos, e precisam criar processos decisrios
capazes de responder a um alto grau de incerteza e conflito .No entanto, apesar da
ambigidade que podem apresentar seus objetivos, estes se orientam ao ensino,
pesquisa, servio comunidade, administrao de instalaes cientficas,
desenvolvimento das artes e outras formas de expresso cultural, soluo de
problemas socais e muito mais.
Colossi (1988), indica que, sob uma abordagem substantiva, os objetivos
da educao superior esto orientados para a formao superior do homem. Dessa
forma, o indivduo tem a capacidade de perceber a qualidade do contedo de um
trabalho determinado e ter a fora e persistncia necessria para definir, perseguir e
atingir seus ideais. Sob uma abordagem instrumental, a educao superior vista
como o meio pelo qual o indivduo se prepara para o mercado de trabalho. J, de um
ponto de vista administrativo, a educao superior alm de considerar como papel
fundamental a formao de uma elite intelectual e cientfica, contribui tambm com a
qualidade de vida da sociedade em geral.
Assim, os objetivos podem ser usados como uma poltica fundamental e
coerente para reforar os valores e esperanas de uma instituio, os quais
permitem fornecer, por sua vez, os padres e guias para as decises e as aes
atuais e futuras das faculdades. Os objetivos so usados tambm para o
planejamento e avaliao institucional, assim como uma guia geral de deciso.
Neste contexto, os objetivos permitem comunidade acadmica inteira estruturar as
decises a serem alcanadas, resolver os problemas e alocar os recursos
financeiros, entre outros.
Colossi (1988) menciona, ainda, alguns objetivos que se consideram
como os mais importantes numa instituio de educao superior, que so aqueles
que permitem obter liberdade acadmica; aumentar ou manter o prestgio da
instituio; aqueles que mantm a qualidade superior nos programas; aqueles que
asseguram a continuidade e a confiana; aqueles que treinam os estudantes nos
-
mtodos e/ou esforo cientfico da pesquisa e/ou criativos e que permitem a
continuao da pesquisa pura.
Entretanto, Mota de Castro (1988) considera que a definio dos objetivos
freqentemente imposta ou influenciada por autoridades superiores e por diversos
centros de interesse. Neste caso, quando as organizaes dependem dos governos,
os objetivos das instituies, tais como a universidades, sofrem freqentemente de:
- perda total ou parcial de autonomia estratgica. Isto se deve a que o governo tende a influenciar ou determinar certas atividades legtimas, como a escolha de estratgias que orientam as atividades da organizao;
- ambigidade de objetivos. Nestes casos, as instituies que sofrem esta dependncia devem conciliar a suas prprias metas e objetivos com os objetivos governamentais ou restries sociais e polticas decorrentes do programa governamental. Isto faz, portanto, com que existam objetivos ambguos e at inconsistentes;
- politizao das decises. Isto um risco que devem enfrentar estas organizaes pelo debate externo e presses adicionais. Isso faz com que a visibilidade do funcionamento interno aumente, reduzindo assim a flexibilidade da deciso ao nvel de topo, e cria incertezas adicionais no longo prazo;
- tomada de decises em curto prazo. Devido durao limitada das legislaturas esta tendncia faz-se cada vez mais usual. Estas decises em curto prazo tendem a comprometer o planejamento estratgico da entidade pelas incertezas provocadas na obteno de recursos externos;
- Burocratizao. Isto faz que se estabeleam rotinas de trabalho, estruturas centralizadas, planejamento inflexvel e sistemas de gesto de pessoal que valorizem uma competncia personalizada. Isto, portanto, faz que exista uma diminuio da flexibilidade, da inovao e a perda da busca da eficincia.
Desta forma, pode-se dizer que a definio de objetivos numa instituio
representa a base de um bom funcionamento da organizao, uma vez que os
objetivos permitiro traar as decises estratgicas necessrias para alcanar o
desempenho esperado de seus membros e orientar a organizao quanto forma
de se posicionar no mercado e detectar as possveis fraquezas que comprometem a
consecuo de tais objetivos. Por outro lado, observa-se que para alcanar um
adequado cumprimento dos objetivos institucionais, estes devem ser claros,
concretos e mensurveis para que os participantes da organizao possam
compreender o real significado desses objetivos e se sentirem capazes de poder
atingir tais objetivos.
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2 .2 C u l t u r a O r g a n iz a c io n a l
Esta seo tem como objetivo apresentar distintos aspectos que se
relacionam com o processo pelo qual passou o estudo da cultura organizacional, tais
como a apario dos primeiros estudos sobre cultura, numa perspectiva
antropolgica e sociolgica. Por sua vez, pretende-se refletir o explosivo interesse
de estudar e relacionar a cultura com a Teoria Organizacional. Mencionam-se
tambm as distintas definies de cultura organizacional, apresentadas por vrios
autores, e os elementos significativos que a constituem. Alm disto, analisam-se
quais so os fatores que obrigam a uma organizao a mudar e as vrias
dificuldades culturais que se apresentam no momento de se efetuar tal mudana.
Finalmente, apresentam-se sugestes para enfrentar e atingir a mudana da cultura
de uma organizao.
2.2.1 Os E s tu d o s s o b r e C u l t u r a O r g a n iz a c io n a l
A maioria dos autores que se tm dedicado ao estudo da cultura
organizacional refere-se dificuldade de estabelecer uma nica definio deste
conceito. Esta dificuldade deve-se s diversas finalidades e rea de interesse que
o pesquisador pretende analisar. Assim, menciona-se que os primeiros intentos de
estabelecer uma definio acerca de cultura esto associados com a formao das
disciplinas acadmicas da sociologia e da antropologia. Segundo Oliveira (1998),
ambas disciplinas tinham como objetivo aplicar as tcnicas da cincia no estudo das
pessoas. Nessa perspectiva, a sociologia estudaria todos os fenmenos que se
relacionam com a sociedade humana e a antropologia explicaria as origens e o
desenvolvimento cultural dos seres humanos.
Entretanto, Fleury e Fischer (1996), estabelecem outros elementos nas
correntes antropolgicas e sociolgicas. Conforme esses autores, os antroplogos
concebem o conceito de cultura como um padro capaz de atribuir significados a
certas aes. Nesta perspectiva, a dimenso simblica capaz de integrar todos os
aspectos da prtica social baseada em termos de mediaes mais do que nas
determinaes da infra-estrutura econmica sobre a estrutura ideolgica. Portanto,
esta corrente assume a cultura como um padro para interpretar os complexos
relacionamentos e para os quais este padro pode possuir diversos significados
entre os indivduos que pertencem a uma mesma organizao ou sociedade.
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Para os socilogos, o ponto de interesse da anlise cultural o
interacionismo simblico, ou seja, se preocupam em analisar a forma como se
constri o universo simblico. Para os profissionais dessa rea, o universo simblico
representa um conjunto de significados que permitem atribuir consistncia,
justificativa e legitimidade aos indivduos que pertencem a um grupo determinado.
Dessa forma, os integrantes desse grupo podero apreender a realidade de forma
consensual, integrar os significados e viabilizar a comunicao. De acordo com
Fleury e Fischer (1996, p. 18), [...] suas idias sobre a construo do universo
simblico, seus processos de legitimao, de socializao primria e secundria so
importantes para o desenvolvimento do conceito de cultura organizacional . Assim,
para a viso do interacionismo simblico, a cultura baseia-se em significados
compartilhados e transformados em normas. Por sua vez, estas normas so
transmitidas para moldar o comportamento dos indivduos e lograr assim um
relacionamento aceitvel no grupo.
No final do sculo XVIII, conforme Laraia (1993), o termo germnico
Kultur simbolizava todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a
palavra francesa Civilization referia-se principalmente s realizaes materiais de um
povo. Assim, unindo ambos conceitos, elaborou-se no campo da antropologia, a
primeira definio de Cultura pelo antroplogo ingls Edward Tylor, para quem
cultura , conforme Laraia (1995, p.25), [...] o todo complexo que inclui
conhecimentos, crenas, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade
ou hbitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade . Neste caso, a
noo de tal definio elaborou-se, segundo Oliveira (1988), com o propsito de
diferenciar as pessoas dos animais e cultura, da natureza.
Observa-se, tambm, que a abordagem cultural no era apresentada de
forma explcita na literatura administrativa e organizacional, embora se constate que
tais teorias tinham sempre utilizado as dimenses da cultura. No entanto, uma vez
que se relacionou a perspectiva cultural com o desempenho organizacional,
intensificaram-se os seus estudos, observando-se assim um crescente interesse
sobre o estudo da cultura organizacional a partir da dcada de 80. Segundo posio
de Freitas (1991), a preocupao sobre os temas cultura e desempenho aconteceu
num momento em que a produtividade norte-americana encontrava-se em declnio,
comparada com a produtividade japonesa que estava em plena expanso
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competitiva. Aquela situao levantou ento a questo das diferenas culturais entre
as duas sociedades.
Por sua vez, Schein (1989), menciona que, sob ponto de vista acadmico
e administrativo, existem trs razes que influram muito para o crescente interesse
sobre o tema da cultura. A primeira razo que a cultura possibilita contribuir para o
aperfeioamento do processo de comunicao, de colaborao e integrao
organizacional. A segunda razo reflete que a cultura ajuda para o entendimento de
como as novas tecnologias influenciam e so influenciadas pela organizao. E por
ltimo, o estudo cultural estimula o autoconhecimento da organizao e o seu
desenvolvimento, sendo a cultura uma fonte importante de resistncia mudana.
Freitas (1991) reflete outra teoria, mencionada por Hofstede, que est
relacionada com a sobrevivncia das organizaes nas crises de 74 e 78. Segundo
este autor, a Teoria das Organizaes deve ser estudada atravs de uma
abordagem holstica. Isto permite enfocar os pontos fortes e fracos das organizaes
e dessa forma as organizaes podem ser observadas como instituies humanas
no seu conjunto. Assim, o deslocamento de subsistema para uma viso global reflete
as foras da organizao como um todo. Segundo o mesmo autor, esta tendncia
pe nfase na aplicao de uma viso mais subjetiva no estudo da organizao.
Outra possvel causa, mencionada por Freitas (1991), relaciona-se com
as constantes mudanas do mercado que esto gerando grandes incertezas nos
nveis dos valores. A necessidade de contar com valores estveis faz com que as
pessoas procurem tal estabilidade dentro das organizaes. Neste contexto, o
comportamento dos lderes transforma-se numa varivel importante e imprescindvel
para a criao de valores organizacionais, surgindo dessa forma dimenses
simblicas organizacionais.
Este aspecto pode ser explicado de forma mais detalhada atravs da
concepo de Schon (1971). Este autor menciona que existe atualmente uma perda
do estado estvel que reflete uma eroso das vises estveis nos mbito da
ocupao, das religies, das organizaes e nos sistemas de valores. Conforme
Schon (1971), estes fatos fazem com que a sociedade e todas as suas instituies
estejam passando por um processo contnuo de transformaes, o que faz que as
condies de incerteza, de imprevisibilidade e de instabilidade afetem aos valores
das pessoas tanto nas instituies quanto na vida pessoal.
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Portanto, numa perspectiva institucional, a situao de incerteza obriga as
organizaes a planejar estratgias mais flexveis, se afastando assim dos mtodos
utilizados nas organizaes burocrticas. Assim o afirma Habermas, quando diz que
as novas estruturas sociais esto marcadas pela diferenciao desses dois sistemas (racionalizao e ruptura de valores), interligados de modo funcional, que se cristalizaram em volta do cerne organizatrio da empresa capitalista e do aparelho burocrtico do Estado (1990, p. 13-14).
2 .2 .2 C o n c e it o e E l e m e n t o s d a C u l t u r a O r g a n iz a c io n a l
Na tentativa de construir um significado global de cultura organizacional, o
psiclogo Edgar Schein oferece um dos conceitos mais ricos e completos que
servem como fonte de referncia direta na maioria das obras que debatem o tema
de cultura organizacional.
Assim, para Shein, a cultura organizacional define-se como
[...] o modelo dos pressupostos bsicos que determinado grupo tem inventado, descoberto ou desenvolvido no processo de aprendizagem para lidar com os problemas de adaptao externa e integrao interna. Uma vez que os pressupostos tenham funcionado bem o suficiente para serem considerados vlidos so ensinados aos demais membros como a maneira correta para se perceber, se pensar e sentir-se em relao queles problemas (1989, p. 12).
Para este autor, os pressupostos representam a base do comportamento
humano e da cultura. Segundo as interpretaes do conceito de cultura
organizacional de Schein, Freitas (1991) adverte que o autor privilegia a fora dos
pressupostos, admitindo, no entanto, devida relevncia dos valores. Conforme
Schein (1989), a cultura de uma organizao pode subdividir-se em trs nveis:
- Artefatos e Criaes: o ambiente construdo pela organizao. Este ambiente, por sua vez, representado por todos os elementos visveis tais como arquitetura, tecnologias, modelos de comportamentos visveis e audveis, a aparncia fsica das pessoas e documentos pblicos entre outros;
- Valores: so todas aquelas interpretaes ou significados que governam o comportamento humano. Embora sendo difceis de observar diretamente, esses valores esto altamente conscientes nas pessoas;
- Nvel dos pressupostos: so aqueles que determinam como os membros de um grupo percebem, pensam e sentem. Estes pressupostos esto relacionados com a interao, com o ambiente, com a natureza da realidade e com a natureza das atividades humanas.
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Por sua vez, Alves (1997) define a cultura como um processo de crenas,
valores, pressupostos, smbolos, artefatos, conhecimentos e normas que estof
personificados por um heri. Assim, a imagem do tieri vai ser difundida atravs de
toda a organizao mediante todos os canais de comunicao em forma de mito,
estria, ritual e por meio da socializao de seus membros. A forma como sero
utilizados esses elementos da cultura depender da liderana, da entidade e da
aceitao de seus membros. A difuso desses elementos culturais tem como
objetivo lograr uma integrao tanto interna quanto externa da organizao. De
acordo com Alves (1997), o conceito de cultura organizacional pode ser acomodado
em dois grandes grupos:
Define-se o social e o cultural como campos distintos apesar de sua inter-relao. Neste aspecto, entende-se a cultura como um sistema de conhecimentos compartilhados e que pode ser- classificado conforme o interesse dominante de um indivduo, tal como produo (funcional), bem-estar social (poltico), desenvolvimento pessoal (personalstico). Nessa perspectiva, Alves (1997) afirma que a organizao pode ser entendida como redes de cognio compartilhadas pelos seus membros, assim como a antropologia simblica considera a cultura, ou seja, como um sistema de smbolos que necessitam ser interpretados;
- Considera-se o social e o cultural como elementos constitudos de um sistema scio-cultural nico. Neste contexto, a organizao pode ser interpretada como um mecanismo social adaptado ao ambiente, produzindo bens e servios e tendo como subprodutos artefatos culturais.
Sob este aspecto, pode-se dizer que a viso de Oliveira (1988) sobre
cultura se relaciona com o segundo grupo de cultura mencionada por Alves (1997).
Nesta perspectiva, Oliveira (1988) associa a cultura organizacional com processos
culturais maiores, provenientes do ambiente externo da organizao, onde a fonte
mais imediata de influencia externa encontrada nos seus prprios empregados.
Neste caso, Oliveira (1988) explica que antes do contato com a organizao, os
empregados tm sido influenciados por instituies culturais diversas, tais como a
famlia, a comunidade, a nao, o Estado, a igreja, os sistemas educativos e outras
organizaes de trabalho, que permitiram formar as atitudes, comportamentos e
identidade dos integrantes da organizao.
Soma-se tambm a este ponto de vista, o conceito de Chanlat (1996, p.
99) que estabelece que [...] o sistema cultural social repercute sobre a organizao
social que ele sustenta [...] cultura e sociedade formam, pois, o sistema social dentro
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do qual o indivduo se insere em graus variveis . Para Chanlat (1996) a cultura
um sistema de crenas que orienta o comportamento das pessoas e que permite
fornecer os tipos de relacionamen