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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: POLÍTICAS E GESTÃO INSTITUCIONAL MUDANÇA E CULTURA ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE DA FRONTEIRA FRANCISCA CURILEM SALDÍAS FLORIANÓPOLIS 2001

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO SCIO-ECONMICO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAO

    REA DE CONCENTRAO: POLTICAS E GESTO INSTITUCIONAL

    MUDANA E CULTURA ORGANIZACIONAL:UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE DA FRONTEIRA

    FRANCISCA CURILEM SALDAS

    FLORIANPOLIS2001

  • Francisca Curilem Saldas

    MUDANA E CULTURA ORGANIZACIONAL:UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE DA FRONTEIRA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Administrao. rea de concentrao Polticas e Gesto Institucional.

    Orientador: Nelson Colossi, Dr.

    Florianpolis2001

  • MUDANA E CULTURA ORGANIZACIONAL:UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE DA FRONTEIRA

    Francisca Curilem Saldas

    Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do Ttulo de Mestre em Administrao (rea de concentrao: Polticas e Gesto Institucional) e aprovada, na sua forma final, pelo Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina.

    )r. Nelson Clossi Coordenador

    Apresentada Comisso Examinadora integrada pelos Professores:

    Prof. Dr. Paulo Csar da CunhayVlaya embro I t

  • Dedico este trabalho

    a meus pais Francisco Curilem e Carmen Julia Saldas, responsveis pela minha formao;

    s minhas irms, Millaray, Maria-Gracia e Paula, pelo incentivo e apoio para realizar esta grande tarefa;

    aos meus sobrinhos, Camilo, Sebastin e Maria-Jos, continuao de nossos valores;

    ao meu cunhado Ivn Reyes Alcamn e

    minha tia Hilda Fincheira.

  • AGRADECIMENTOS

    A Gloria Millaray, pela oportunidade de me manter na sua famlia durante todo este tempo e contribuir para a realizao deste grande sonho, o mestrado no Brasil, Florianpolis.

    Ao meu orientador, professor Nelson Colossi, pela confiana em minhas possibilidades, incentivo, pacincia e cordialidade que sempre me dispensou.

    A todos os membros do Departamento de Administrao da UFRO, pela sua colaborao na coleta dos dados.

    Aos diretores da Faculdade de Medicina, de Engenharia e Administrao e d Educao e Humanidades, pelas entrevistas realizadas.

    Aos meus professores do Curso de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina, por me ensinar a me aventurar no mundo do conhecimento.

    Ao pessoal da secretaria do curso de mestrado, Graziela, Marciani e ngela, pela amizade e apoio que sempre me dispensaram.

    A meus amigos e a todos queles que, de uma forma ou outra, contriburam para realizao deste trabalho e, em especial, a Myriam, Jlio, Enrique, Luciana e Rosana.

  • RESUMO

    Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar que fatores culturais foram influenciados e alterados no processo de transformao pelo qual passou a Universidade da Fronteira, localizada em Temuco, na regio da Araucana - Chile, e quais aqueles que foram preservados. Pretendeu-se tambm observar a diferena de percepo entre os diretores pertencentes s diferentes faculdades que constituem essa instituio de ensino superior. O mtodo adotado foi o estudo de caso, caracterizando-se por ser de tipo descritivo-exploratrio e por enfatizar uma abordagem de carter qualitativa. A unidade de anlise foi a Universidade da Fronteira (UFRO) e os diretores que tinham mais de vinte anos na instituio, selecionados atravs do processo de amostragem estratificada. Os dados foram coletados junto a fontes primrias e secundrias; atravs de entrevistas semi- estruturadas e de consulta a documentos oficiais e no oficiais relativos organizao. Os resultados do estudo revelaram que os principais momentos da histria da universidade situam-se no momento da sua criao, em 1981, por meio do Decreto de Lei n 17 que estabeleceu a unio de duas sedes universitrias que existiam nessa poca na cidade de Temuco. Tais sedes pertenciam Universidade de Chile e Universidade de Santiago (ex-universidade Tcnica do Estado). Assim, o processo de mudana institucional teve um impacto cultural diferente em cada sede, dependendo do grau de transformao a que cada uma foi submetida no processo de criao da nova universidade. A cultura organizacional que predominou, uma vez criada a Universidade da Fronteira, foi a da ex-universidade Tcnica do Estado, o que provocou descontentamentos entre os membros que pertenciam outra sede (Universidade de Chile), embora tal situao tenha sido superada ao longo do tempo. Hoje, a Universidade da Fronteira apresenta fatores culturais fracos, que tendem, no entanto, a serem melhorados atravs de uma renovao da gesto administrativa que se v, contudo afetada pelas fortes conseqncias do sistema ditatorial. Pode-se dizer que isto afetou, indubitavelmente, o comportamento dos membros da universidade e a cultura organizacional.

  • ABSTRACT

    This research had the general objective to identify which cultural factors have been influenced and modified by the transformation process of the University of La Frontera and which have been preserved. It was also intended to observe the different perceptions of the directors of the faculties that constitute this high educational Institution. The adopted method was the case study, characterized as descriptive-exploratory and that emphasizes a qualitative approach of the matter. The unit of analysis was the University of La Frontera (UFRO) and the directors who had more than twenty years working in the institution, selected through a process of stratification sampling. Data had been collected from primary and secondary sources, consisting of half-structuralized interviews and the consultation of official and not official documentation of the organization. The results of the study had disclosed that the main moments of the history of the university are its creation in 1981, by means of a Decree of Law n 17 that established the union of two university headquarters that existed at this time in the city. Such headquarters belonged to the University of Chile and the University of Santiago (ex- Technical State university). Thus the process of institutional changes had a different cultural impact depending on the transformation degree of each of the distinct faculties of the university that result from the union of the two headquarters. The organizational culture that predominated in the just created University of La Frontera was the culture of the Technical State university. This provoked grumblers in the members that belonged to the other headquarters (University of Chile), also this situation has been resolved in the present time. Today, the University of La Frontera presents weak cultural factors, that, however, tend to be improved by a renew of the administrative management. Nevertheless these efforts have been affected by the impositions of the dictatorial system. It can be said that this certainly affected the behavior of the members of the university and the organizational culture of this institution.

  • SUMRIO

    AGRADECIMENTOS...................................................................................................................................................................................III

    RESUM O........................................................................................................................................................................................................ IV

    AB STR ACT.....................................................................................................................................................................................................V

    SUMRIO................................................................................................................................................ ...................................................... VI

    LISTA DE ILUSTRAES............................................................................................................................... .......................................VII

    1 INTRODUO................................................................................................................................................................................. 11.1 APRESENTAO E DEFINIO DO TEMA DA PESQUISA........................................................................................................... 11.2 O bjetivos de P e s q u isa .............................................................................................................................................................41.3 Relevncia do E s t u d o .............................................................................................................................................................51.4 viso g eral do Es tu d o ........................................................................................................................................................... 6

    2 FUNDAMENTAO TERICO-EMPRICA............................................................... ............................................................ 82.1 A Universidade c om o Fenmeno de Es tu d o ...................... :.......................................................................................... 10

    2.1.1 Nascimento das Universidades................................................................................................................................. 102.1.2 Modelos de Universidades.........................................................................................................................................142.1.3 Objetivos Institucionais............................................................................................................................................... 22

    2.2 Cultura O r g a niza cio n al ..................................................................................................................................................... 262.2.1 Os Estudos sobre Cultura Organizacional............................................................................................................. 262.2.2 Conceito e Elementos da Cultura Organizacional................................................................................................ 29

    2.3 Mudana da Cultura O rganizacional.............................................................................................................................342.3.1 Variveis que induzem Mudana da Cultura Organizacional.................................. ......................................352.3.2 Administrao da Cultura............................................................................................................................................37

    2.4 Estudos R elacionados Desenvolvidos no Mestrado do CPGA............................................................................402.4.1 Estudos sobre Cultura Organizacional.................................................................................................................... 422.4.2 Estudos sobre Mudana Organizacional.................................................................................................................452.4.3 Estudos sobre Universidade......................................................................................................................................47

    3 METODOLOGIA...................................................................................................................................... .................................... 52

    3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA................................. .....................................................................................................................523.2 DELINEAMENTO E DELIMITAO DA PESQUISA.......................................................................................................................533.3 Definio de T e r m o s ..............................................................................................................................................................563.4 Coleta e Planejamento dos d a d o s .................................. ............................................................. ................................. 573.5 Limitaes da Pe s q u is a .........................................................................................................................................................60

    4 APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS......................................................................................................................624.1 MISSO E ESTRUTURA ATUAL DA U FR O .................................................................................. ............................................ 624.2 Processo de m udana Institucional da UFRO ....................................... .................................................................... 64

    4.2.1 Criao da U F R O .........................................................................................................................................................644.2.2 Sucesso da Cultura....................................................................................................................................................664.2.3 Fatos, Acontecimentos e Aceitao da Misso..................................................................................................... 69

    4.3 Processo s u c e s s r io e estilo d ir e tiv o ........................................................................................................................714.3.1 Seleo dos Diretores..................................................................................................................................................714.3.2 Liderana........................................................................................................................................................................ 734.3.3 Estabelecimento dos Objetivos................................................................................................................................. 74

    4.4 POTICAS, NORMAS E VALORES...................................................................................................................... .....................744.4.1 Polticas de Avaliao e Normas...............................................................................................................................754.4.2 Valores, Expectativas, Ideais e Sentimentos.........................................................................................................794.4.3 Imagem da Universidade na Regio........................................................................................................................82

    4.5 SlNTESE GERAL DOS RESULTADOS......................................................................................................................................... 845 CONCLUSES E SU G ES T E S ............................................................................................................................................. 92

    5.1 CONCLUSES.............................................................................................................................................................................. 925.2 SUGESTES PARA ESTUDOS FUTUROS...................................................... ..........................................................................97

    REFERNCIAS ....................... ...................................................................................................................................................................98

    ANEXO A - ROTEIRO DE PERGUNTAS DE PESQUISA........................................................................................................... 100

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Quadro sintico dos Modelos de Universidades................................................. 22Figura 2 - Grfico dos tipos de pressupostos que influenciam a Cultura Organizacional....31Figura 3 - Quadro sintico dos elementos constitutivos da Cultura.....................................32Figura 4 - Grfico representativo das foras internas e externas de Mudana....................35Figura 5 - Grfico representativo da interao dos componentes da Mudana...................39

  • 1 INTRODUO

    Este captulo tem como objetivo apresentar e definir o tema em estudo,

    assim como refletir os objetivos e a relevncia deste trabalho.

    1.1 A p r e s e n t a o e D e f in i o do T e m a d a P e s q u is a

    A caraterstica marcante de nossa era a mudana de valores e crenas,

    que esto sendo transformados, em nveis mundiais, pelas inovaes tecnolgicas

    e, em particular, pela tecnologia da informao e das comunicaes. A inovao

    referida significa tanto uma aplicao prtica da cincia quanto um conhecimento

    sobre a execuo de certas tarefas e atividades que se aplicam de uma forma

    essencialmente utilitria.

    A era da agricultura lanou a Primeira Onda de transformaes sociais na

    histria. Logo, a revoluo industrial desencadeou uma Segunda Onda, chamada de

    paradigma tecnolgico, no qual o mercado constituiu-se numa fora modeladora da

    sociedade. Nesse paradigma, o homem qualificado segundo critrios da

    organizao mercantil. Hoje predomina uma Terceira Onda, provocando

    transformaes nos setores tecnolgicos e sociais que, conforme Toffler (1990), vem

    acarretando mudanas de grande envergadura em todos os pases de alta

    tecnologia. Esta ltima onda se caracteriza como um perodo de transio que, por

    causa dos aspectos que envolve, no permite que se conhea com preciso a nova

    tendncia imposta sociedade.

    A caraterstica dominante da revoluo industrial foi criao de

    sociedades de massa, cujo processo produtivo encontrava-se tambm distribudo

    em massa. Os seus elementos fundamentais sustentavam-se nos processos

    produtivos elaborados pelo taylorismo e fordismo. Essa forma de produo,

    caraterstica do segundo Ps-Guerra, resultou numa notvel expanso econmica.

    Nesse contexto, esta nova forma de produo transformou a organizao do

    trabalho, segundo Nunes (1993), numa vertente produtiva do modelo de

  • desenvolvimento que reinou de forma hegemnica nas principais economias do

    planeta at meados dos anos 70. No entanto, a pa/tir desse ano, pelo carter

    desenfreado que apresentava tal produo, iniciou-se a crise do capitalismo, onde

    novas prticas de produo provocaram a chegada de uma terceira Onda de

    transformao.

    A terceira Onda baseia-se num contexto de tecnologias de base

    microeletrnicas conjugadas com novas formas de organizao do trabalho. Suas

    principais caratersticas so a flexibilidade e integrao de seus elementos,

    essncias para responder s necessidades da atual estrutura do mercado.

    Conseqentemente, ocorrem importantes alteraes no trabalhado coletivo, ou seja,

    na combinao social das foras de trabalho individual (terceirizao). Tal fato trouxe

    novidades para a relao capital e trabalho, iniciando um reordenamento do

    processo social de produo.

    Com relao fora de trabalho, surgem novas necessidades e desafios,

    tais como o aperfeioamento profissional, criao de novas especialidades,

    requalificao dos trabalhadores dispensados e a redistribuio da fora de trabalho

    pelos ramos e atividades da economia. Nessa sentido, a fora de trabalho foi

    novamente reestruturada devido s condies de heterogeneidade. Num nvel

    macroeconmico, o capital torna-se hegemonicamente financeiro, tentando

    expandir-se para outros mercados, criando um novo fenmeno, chamado

    globalizao ou mundializao.

    O fenmeno de globalizao cria a necessidade de transformar as

    organizaes em entidades mais eficientes e com maior capacidade de adaptao

    diante das novas condies do mercado. Nesse contexto, as organizaes devem

    promover mudanas nos seus aspectos culturais ao nvel de integrao

    organizacional, tanto interno, quanto externo. No entanto, a presente situao

    altamente complexa, pois a atual onda traz com ela os vestgios da onda passada.

    Como exemplo, pode-se observar a tendncia que as escolas e universidades

    seguiram durante todo este tempo em termos de formao em grande parte de seus

    estudantes para se adaptarem s organizaes burocrticas. Isto pode ser um

    exemplo essencial das sociedades de massa.

    Tais mudanas esto ocorrendo, portanto, no interior de um processo

    complexo e contraditrio que envolve todas as esferas das atividades humanas,

  • como a cultura e a educao, gerando assim ujrrbcenrio imprevisvel com respeito

    aos valores e crenas. Neste contexto, o debate sobre cultura organizacional e

    educao esto tomando grande interesse nos mbitos educacionais e

    empresariais. Isto representa um desafio para a Educao, que ter que se preparar

    para as atuais e futuras demandas educacionais que devero estar a par das

    transformaes do mercado.

    Neste contexto, as universidades, como instituies de ensino superior,

    devem ser particularmente sensveis a estes temas de modernizao e mudanas.

    Entretanto, os governos de todos os pases esto diminuindo os investimentos nas

    universidades, levando-as a uma autonomia institucional para que passem a

    desempenhar novos papis na sociedade. Isto, por sua vez, est obrigando as IES a

    revisarem seus objetivos institucionais e a sua atual forma de gesto administrativa,

    de maneira a se adaptem s novas demandas do mercado, que so cada vez mais

    heterogneas e competitivas. Alm disto, ser necessrio desenhar novas

    estratgias para que possam sobreviver como instituies no mercado,

    considerando que os recursos provenientes do Estado so cada vez mais escassos.

    Assim, para que a educao seja (vista hoje como impulsora do

    desenvolvimento necessrio que a mesma seja capaz de oferecer o que a nova

    ordem social requer, ou seja, pessoas com a capacidade de responder

    adequadamente aos requisitos que demanda o mercado, tais como: as habilidades

    das pessoas de processar grandes quantidades de informao; conhecer e interagir

    com pessoas de outras culturas, o que pressupem a tolerncia; aprender a

    aprender; ter um adequado conhecimento das ferramentas tecnolgicas e

    capacidade de resolver os problemas. Tambm requer que se implante nos

    estudantes uma atitude mais positiva perante o trabalho em equipe e uma

    capacidade de negociao que os preparem para enfrentar com xito as exigncias

    cada vez mais sofisticadas dos processos produtivos.

    Neste novo contexto, grandes mudanas devem ocorrer na universidade,

    que passa a se envolver tambm com questes relacionadas ao meio ambiente e ao

    desenvolvimento sustentvel. Assim, seus papis estaro fundamentados na busca

    de um futuro mais vivel atravs de mudanas baseadas no compromisso de

    estabelecer novas formas de tica e relacionamento na sociedade.

  • A anlise da universidade como entidade pblica pode representar uns

    dos estudos mais representativos sobre os valores organizacionais na forma de

    como um grupo de pessoas logra se adaptar diante das mudanas ocorridas numa

    instituio tanto por decises estabelecidas internamente quanto por presses

    externas a ela.

    A Universidade da Fronteira (UFRO), foi criada pelo Decreto de Fora de

    Lei n. 17, de 10 de Maro de 1981, como sucessora das sedes da Universidade de

    Chile e da Universidade de Santiago de Chile (ex-Universidade Tcnica do Estado)

    existentes nessa data na cidade de Temuco - Chile. Portanto, a partir do ano 1981, a

    Universidade da Fronteira constituiu-se como uma universidade do Estado do Chile,

    de direito pblico, autnoma e com patrimnio prprio. Seu objetivo servir seus

    mais elevados interesses culturais e espirituais e promover, regional e

    nacionalmente, a investigao, criao, preservao e transmisso do saber

    universal.

    Neste trabalho, com o intuito de perceber como a mudana e cultura de

    uma organizao se influenciam mutuamente, sendo a primeira uma fora poderosa

    que orienta as aes dos indivduos dentro da prpria realidade de uma

    organizao, empreendeu-se uma investigao orientada pelo seguinte problema de

    pesquisa:

    Qual a influncia do processo de transformao da Universidade da Fronteira na Cultura Organizacional?

    1 .2 O b j e t iv o s de P e s q u is a

    Em termos gerais, a finalidade do estudo descrever o processo de

    transformao de uma Instituio de Ensino Superior, visando identificar os

    principais fatos e acontecimentos que marcaram a sua histria. Assim, para

    responder pergunta de pesquisa formulada, os seguintes objetivos especficos

    foram estabelecidos:

    Identificar os principais momentos histricos da Universidade da Fronteira, sua origem e instituies que a formaram.

    Caraterizar o processo de mudana institucional que formou a UFRO.

  • Identificar a influncia das instituies que formaram a UFRO sobre a sua cultura organizacional.

    Identificar a atual cultura organizacional da Universidade da Fronteira.

    Identificar as perspectivas e as potencialidades da UFRO.

    1.3 R e l e v n c ia do E s t u d o

    O debate em relao cultura organizacional tem sido uma das

    preocupaes mais recentes no contexto administrativo, pois, observando a

    literatura especializada, pode-se ver que seu realce como tema de pesquisa

    produziu-se somente a partir da dcada de 80. Existem variadas teorias que

    explicam, no entanto, as possveis causas de seu crescente interesse na

    administrao.

    Considerando o que foi referido anteriormente com respeito atual

    situao que esto enfrentando as sociedades, faz-se necessrio que o estudo da

    cultura organizacional se realize por meio de um processo mais integrado,

    sistemtico e contnuo. Isto permitir obter um conhecimento mais subjetivo da

    dinmica organizacional num nvel de crenas e valores que possam ajudar com

    maior facilidade aos indivduos pertencentes a uma organizao a enfrentar o

    processo de mudana.

    Muitos autores, no entanto, referem que as dificuldades mais freqentes

    que se encontram no processo de mudana so os conflitos, resistncias e reaes

    que emergem no momento de pr em prtica as aes de mudana. Isto requer,

    portanto, que se procurem outras alternativas de estudos que contribuam para o

    entendimento de tais causas e que, muitas vezes, no podem ser explicadas por

    meio de tcnicas administrativas comuns.

    Por sua vez, faz-se necessrio desenvolver estudos terico-empricos que

    se orientem numa dimenso cultural de maneira a obter um maior conhecimento das

    caratersticas e dos fenmenos inerentes ao prprio funcionamento das

    organizaes. Neste sentido, pretende-se oferecer um referencial terico que

    contribua para a anlise das reaes dos integrantes de uma entidade frente a

    determinadas prticas organizacionais.

  • A mudana considerada como um processo muito complexo na

    organizao. Conforme Katz e Kahn (1978), no h informaes adequadas sobre

    as modificaes importantes dos processos organizacionais, contudo, sabe-se que,

    quando se trabalha com variveis menos relevantes, muito mais difcil obter a

    mudana, apesar de que tais variveis signifiquem menor esforo por parte dos

    agentes da mudana.

    Em termos prticos, espera-se que os resultados da pesquisa possam

    contribuir para o aperfeioamento e implementao de estratgias mais eficazes de

    ao administrativa na Universidade da Fronteira, assim como em outras Instituies

    de Ensino Superior. Isto possibilitar, num futuro imediato, a um melhor

    entendimento da realidade interna de cada organizao e dos acontecimentos no

    mundo atual, onde se observa que as organizaes esto cada vez mais

    influenciadas pelas aes humanas.

    Com o intuito voltado para os propsitos da pesquisa, estruturou-se este

    trabalho em cinco captulos, na forma que se apresenta a seguir.

    1.4 V is o G er a l d o E s tu d o

    O atual captulo apresenta um arcabouo geral de como as mudanas

    tecnolgicas transformaram e seguem transformando os valores e crenas em nvel

    mundial. Assim, neste contexto de mudana, pretende-se destacar o debate sobre

    cultura organizacional e educao que esto despertando grande interesse nos

    mbitos tanto educacionais quanto empresariais, ao mesmo tempo em que so

    apresentados o objetivo geral e especficos desta pesquisa.

    No segundo captulo apresentada a fundamentao terico-emprica, de

    acordo com a bibliografia pesquisada, estruturada em trs sees. A primeira seo

    tem como objetivo referir-se sobre o tema Cultura Organizacional. Para isto, faz-se

    uma sntese sobre as bases que representaram o ponto de partida do explosivo

    interesse em estudar a cultura organizacional. Tambm se pretende entender o que

    significa Cultura Organizacional atravs das definies expressas pelas distintas

    vises de autores tais como Schein (1989), Freitas (1991) e Alves (1997), assim

    como os elementos mais representativos que a compem. Por sua vez, enfocam-se

    algumas questes concernentes aos processos de mudana nas organizaes e

  • que influem diretamente na cultura das organizaes. A segunda seo deste

    captulo tem como objetivo apresentar o tema concernente Universidade. Neste

    caso, apresenta-se uma breve resenha histrica do nascimento destas instituies,

    os diversos modelos que tratam de caratersticas peculiares s organizaes

    acadmicas e, finalmente, examinam-se questes referentes aos objetivos

    institucionais. A terceira seo apresenta uma breve reviso da literatura

    concernente aos trabalhos desenvolvidos no mbito do Curso de Mestrado em

    Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina sobre os temas cultura,

    mudana organizacional e universidade.

    O terceiro captulo descreve os aspectos metodolgicos aplicados nesta

    pesquisa, incluindo sua caraterizao, o delineamento e delimitao da pesquisa,

    com o esclarecimento sobre a populao e amostra utilizada. Por sua vez, definem-

    se os termos que representam o objeto desta investigao e relata-se a coleta e

    planejamento dos dados por meio de uma breve sntese do que uma entrevista e

    seu devido planejamento. Finalmente, apresentam-se as limitaes que surgem da

    execuo de um trabalho terico-emprico, desenvolvido atravs de um mtodo

    predominantemente qualitativo.

    O quarto captulo tem como objetivo apresentar e a analisar as

    informaes obtidas no decorrer do trabalho, tanto por meio das entrevistas

    efetuadas com os diretores de departamento da Universidade da Fronteira como

    atravs da documentao consultada. Assim, este captulo desenvolvido a partir do

    contedo terico-emprico exposto no captulo segundo, pretende analisar aspectos

    tais como: Misso e Estrutura atual da UFRO; Processo de Mudana Institucional da

    UFRO; Processo Sucessrio e Estilo Diretivo; Polticas, Normas e Valores e a

    Imagem da Universidade na Regio.

    Finalmente, no quinto captulo, so apresentadas as consideraes finais

    baseadas nos objetivos especficos que persegue este trabalho e algumas

    sugestes para a realizao de futuras investigaes sobre a temtica explorada no

    presente trabalho.

  • 2 FUNDAMENTAO TERICO-EMPRICA

    As organizaes, aliceradas condio de corao da sociedade pelo

    paradigma tecnolgico, conduziram ao ser humano a depender delas em grande

    escala. Esta espcie de fuso organizao-indivduo fez com que o homem

    moderno, no mbito do trabalho, fosse caraterizado de distinta forma, sendo visto

    como um ser racional e utilitrio, de maneira que a organizao tivesse um melhor

    desempenho. Nesta perspectiva, e de acordo com as necessidades que

    apresentavam o mercado e a organizao burocrtica, que foi a base desse

    paradigma tecnolgico, o ser humano converteu-se num homem reativo e operativo.

    Como os objetivos organizacionais estavam enfocados num mbito

    totalmente mercantil, todos os esforos da administrao dirigiram-se nesse sentido,

    assumindo um carter de cientificismo voltado para racionalizar o trabalho e

    conseguir maior produtividade. Assim, as primeiras tecnologias gerncias, utilizadas

    desde o inicio deste sculo at hoje em muitas organizaes, foram aquelas

    conhecidas como taylorismo, fayolismo e fordismo.

    A burocracia representou o instrumento operacional que, por meio de uma

    administrao racional, permitiu que as organizaes conseguissem um alto grau de

    eficincia econmica. Isto foi assim, pois, a burocracia representou um sistema de

    dominao e alienao que permitiu previsibilidade e estabilidade das aes atravs

    de suas normas, regras e regulamentos, de acordo com o conceito weberiano. Nas

    organizaes burocrticas o ser humano foi considerado como mais um instrumento

    do processo produtivo. Nesse sentido, no se tinha uma preocupao com o

    indivduo, uma vez que a organizao burocrtica estabeleceu um sistema de

    normas e expectativas a serem estritamente seguidas. Dessa forma, o

    comportamento humano era considerado como um mecanismo aprendido e

    totalmente influencivel pela organizao.

    A partir da crise do capitalismo, as mudanas ambientais esto

    acontecendo num ritmo cada vez mais acelerado, o que faz que estas mudanas

    obriguem s organizaes e a sua administrao como tal, a procurarem novos

  • modelos e instrumentos que permitam melhorar o desempenho das organizaes

    num mercado cada vez mais deteriorado e competitivo.

    De acordo com essas novas condies, a burocracia j no representa

    mais o modelo ideal para sobreviver num mercado que sofre mudanas contnuas e

    com caratersticas mais competitivas. Hoje, requer-se organizaes capazes de se

    adaptar e mudar com facilidade e rapidez s diversas ameaas e oportunidades s

    quais as organizaes esto ou viro a ser submetidas.

    Nessa perspectiva, criou-se a necessidade de ter uma viso diferente do

    que representa a organizao, dando nfase assim ao comportamento humano. Da

    o surgimento de um estudo distinto, enfocado a uma viso metafrica da

    organizao. Por sua vez, procura-se dar maior importncia s dimenses humanas

    que sempre estiveram ausentes e ocultas, e compreender ao ser humano em todos

    seus nveis. Fleury e Fischer (1996) afirmam, entretanto, que por causa da limitada

    capacidade de anlise dos mtodos e instrumentos aplicados at hoje para uma

    adequada explicao da realidade organizacional, ampliou-se o limite do que era

    considerado relevante. Isto quer dizer que se est procurando novas prticas, mais

    subjetivas, que permitam ajudar a compreender com maior profundidade o fenmeno

    humano e suas relaes dentro e fora da organizao.

    Baseado nesta perspectiva, este captulo apresenta o referencial terico-

    emprico que sustenta o desenvolvimento da presente pesquisa. O seu objetivo se

    orientar, primeiramente, em identificar o processo histrico da universidade como

    Instituio de Ensino Superior (IES), refletindo os diferentes modelos que ela pode

    representar dependendo de seus objetivos educacionais e fazendo uma sntese de

    seus objetivos institucionais. Na segunda seo deste capitulo, pretende-se que o

    leitor possa compreender como a cultura organizacional passa a ser um instrumento

    fundamental para que as organizaes consigam se adaptar a estes novos cenrios

    de mudanas. Nessa perspectiva, analisa-se a mudana da cultura assinalando as

    variveis que induzem a uma mudana na cultura e a dificuldade de administrar a

    cultura organizacional. Na terceira parte, pretende-se, por sua vez, apresentar uma

    reviso bibliogrfica de alguns estudos efetuados no Programa de Ps-Graduao

    em Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina relativos aos temas

    cultura organizacional, mudana organizacional e universidade.

  • 2.1 A U n iv e r s id a d e c o m o F e n m e n o de E s t u d o

    As constantes mudanas ocorridas nos ltimos anos, no mundo em geral

    e, em particular, nas tecnologias de informao e de comunicao, esto gerando

    uma nova cultura. Isso obriga sociedade a conviver com novas formas de

    aprendizagem, de trabalho e de relacionamento. Por sua vez, essas novas formas

    de tecnologias, principalmente a Internet, esto fazendo com que as instituies

    educacionais, como a universidade, percam monoplio da informao e do

    conhecimento. Isto faz com que as instituies educacionais repensem as grandes

    linhas de suas misses de forma a se adaptar adequadamente s mudanas que

    esto acontecendo.

    Nesta perspectiva, pretende-se nesta seo, apresentar trs temas

    relacionados com a universidade tais como: processo histrico da universidade

    como instituio de ensino superior, os diferentes modelos de universidades e, por

    ltimo, alguns de seus objetivos institucionais.

    2.1 .1 N a s c im e n t o d as U n iv e r s id a d e s

    Antes da criao das universidades subsistiam, no ocidente, duas

    correntes de escolas. A primeira corrente estava formada por centros particulares

    pouco conhecidos que seguiam uma tendncia laica. Nelas, ensinavam-se as artes

    liberais, elementos de arte notarial e de direito prtico. A outra corrente de escolas

    dependia diretamente dos grandes estabelecimentos religiosos tais como mosteiros,

    catedrais ou colegiados. Elas subsistiam tanto pela organizao, quanto pelas

    matrias ensinadas. A maioria desses centros de estudo apresentava um ensino

    medocre e elementar, cujos objetivos orientavam-se somente preparao das

    tarefas litrgicas, embora, existisse um nmero reduzido de centros que

    proporcionavam um ensino de qualidade, equivalendo-se ao ensino superior. No

    entanto, a reputao desses ltimos estabelecimentos no era muito estvel, pois

    dependia da presena de algum mestre de renome.

    As escolas que proporcionavam um ensino considerado de qualidade

    ofertavam sete artes liberais, tais como gramtica, retrica, lgica, aritmtica,

    msica, astronomia, teologia e geometria. Tambm se encontravam disciplinas mais

    prticas, tais como o direito e medicina. Assim, a teologia e outras matrias

  • apoiavam-se em obras fundamentais de alguns autores universalmente

    reconhecidos. A sua pedagogia era muito rigorosa e os textos eram traduzidos pelos

    letrados, representando a viso daqueles tradutores. A dialtica, que era uma das

    sete artes liberais, era muito limitada devido s tradues que deformavam o seu

    sentido original. No entanto, entre os sculos XI e XII, a dialtica comeou a ter um

    carter mais audaz sendo mais racionalista e crtica.

    No inicio do sculo XII, as escolas tiveram um desenvolvimento explosivo,

    os mestres e estudantes provinham de todas partes, dando-lhes um carter

    internacional. Conforme Verger (1990), o surgimento explosivo de escolas provocou

    um problema grave de organizao, que resultou no reexame das instituies

    escolares, fazendo com que, nos primeiros anos do sculo XIII, comeassem a

    surgir as universidades. Tais universidades, conforme Peixoto (2000), foram

    continuadoras da cultura erudita que se vinha ministrando nas primeiras escolas.

    As universidades, conforme Wanderley (1983), so herdeiras das

    instituies formadas no mundo greco-romano e tiveram, de acordo com o contexto

    histrico dessa poca, o seu desenvolvimento influenciado pela religio, tanto no

    oriente islmico quanto no ocidente cristo. Nessa perspectiva, a palavra universitas

    foi utilizada inicialmente para denominar as corporaes escolsticas. Com o

    decorrer do tempo, tal termo foi aplicado para definir uma comunidade de

    professores e alunos que somente as autoridades civis e eclesisticas podiam

    reconhecer ou sancionar.

    Portanto, pode-se dizer que as universidades representam uma das

    instituies mais antigas, significativas e marcantes da sociedade. A sua apario,

    na Idade Mdia, realizou-se nas principais cidades da Europa, estendendo-se,

    posteriormente, por todos os continentes. De acordo com diversos autores, tais

    como Verger (1990), Wanderley (1983) e Peixoto (2000), as universidades

    medievais caraterizavam-se principalmente por serem conservadoras e

    desinteressadas, voltadas para o saber como um fim em si mesmo. Peixoto (2000),

    menciona ainda que tais universidades criaram-se num mundo ilustrado e que

    representavam a forma mais alta de saber intelectual.

    Para no depender da poltica e da justia monrquica, as universidades

    medievais aceitaram permanecer, no sculo XIII, sob a tutela da Igreja. Inicialmente,

    a dependncia da Igreja permitiu s universidades conseguir segurana, no entanto

  • a autonomia e liberdade intelectual foram posteriormente mudadas. Peixoto (2000)

    destaca que para entender a mitificada autonomia dessa nova corporao (a

    universidade) em relao s corporaes de ofcio deve-se necessariamente

    analisar o contexto das relaes de foras da monarquia, dos laicos e da Igreja. No

    processo de criao de uma das mais importantes universidades, tal como a de

    Paris, observou-se que existiam muitas contradies que se caraterizavam por uma

    dupla tendncia. Segundo Verger (1990), as universidades tinham um carter

    eclesistico, embora muitas das escolas que as formaram tivessem, no sculo XII,

    uma tendncia laica. Portanto, tal tendncia laicizante chocava com as resistncias

    das autoridades eclesisticas, que no queriam renunciar a seu monoplio escolar.

    Por sua vez, o ensino que era cada vez mais laico, no lograva se adaptar com o

    resto da sociedade urbana por apresentar certos carateres particulares com respeito

    a outros ofcios.

    Entretanto, nos anos 1200 e 1210 nasceu em Paris a primeira

    organizao corporativa dos mestres e alunos. Para desenvolver efetivamente suas

    atividades e aumentar a sua centralizao, essa organizao corporativa aliou-se

    com o Papa. Isto se deveu atitude mais benvola que os Papas do sculo XIII

    tinham em relao ao desenvolvimento das universidades. A benevolncia da Igreja

    tinha o propsito de dotar os grandes centros de estudos e de pesquisa de sua

    cristandade. Evidencia-se que esses centros estavam diretamente ligados ao

    papado.

    Para obter a autonomia a favor da universidade, os mestres incitavam aos

    alunos desses centros de ensino a criar de forma emprica algumas instituies, para

    posteriormente serem reconhecidas oficialmente pela entrega da bula papal, a

    licentia docendi (licena para ensinar). Normalmente isso acontecia, pois os legados

    pontificais costumavam aceitar as decises tomadas pelas vanguardas

    universitrias.

    Nesse momento, a corporao universitria no tinha uma estrutura fsica

    definida, isto , prdios ou renda prpria. Isso favoreceu, em muitas ocasies, de

    acordo com alguns autores, sua migrao para vrias cidades da Europa. No

    entanto, depois de um longo processo de luta, tais corporaes adquiriram grande

    importncia como grupos de consumidores, como elementos de prestgio e como

    centros intelectuais. Isto favoreceu para que a universidade obtivesse

  • progressivamente quase todos os privilgios que definiam uma corporao aos olhos

    dos juristas da poca. Diante desse prestgio e dessa nova importncia conquistada,*

    as universidades conseguiram efetivar trs exigncias. A primeira exigncia da

    corporao universitria foi de conseguir independncia no recrutamento. Isso

    possibilitou escolher seus prprios candidatos sem ter que pagar dinheiro, nem fazer

    um juramento de fidelidade ao chanceler. A segunda exigncia refere-se ao direito

    de estabelecer livremente seus estatutos para regulamentar seu funcionamento

    interno. Dessa forma ela tinha liberdade de exigir de seus membros um juramento de

    obedincia e de excluir aqueles que no desejasse. Finalmente, a ultima exigncia

    estabelecida tinha como objetivo alcanar o direito de eleger seus funcionrios para

    assegurar a adequada aplicao de seus estatutos. Nessa perspectiva, pretendeu-

    se representar a corporao diante das autoridades exteriores e demandar por ela

    em justia.

    Em grandes linhas, conforme Verger (1990), os historiadores modernos

    distinguiram trs tipos de universidades na Idade Mdia:

    - Universidades espontneas: as aquelas que nasceram do desenvolvimento espontneo das escolas preexistentes. Existem diversos exemplos de universidades espontneas, onde as mais tpicas so as de Paris, de Bolonha e de Oxford;

    - Universidades nascidas por migrao: tais universidades nasceram pela disperso de mestres e estudantes nas numerosas cidades da Europa. Portanto, de acordo com essas circunstncias, muitas delas tiveram apenas uma existncia efmera, desaparecendo ao final. No entanto, tem-se o caso da Universidade de Pdua, na Itlia, que nasceu em 1222 de uma importante migrao de doutores e de estudantes da Universidade de Bolonha, e que logrou perdurar com o tempo e transformar-se numa universidade importante;

    - Universidades criadas: So aquelas universidades que foram criadas de uma s vez pelo Papa ou pelo Imperador. Estes, segundo Verger (1990, p. 43), tinham a autoridade soberana necessria para criar corporaes do tipo das universidades. Tais universidades recebiam, pois, desde sua origem, uma bula ou uma carta de fundao que definia a priori seus estatutos e seus privilgios . Tais universidades apresentaram, portanto, uma atitude revolucionria diante do fenmeno das universidades espontneas.

    Nesse aspecto, as universidades conseguiram obter um papel de grande

    importncia na sociedade, onde os papas e soberanos viram nelas uma grande

    possibilidade de coloc-as disposio da Igreja e do Estado. Portanto, no decorrer

    do tempo, a sua gesto comeou a ser controlada pelo Estado. Segundo Verger

  • (1990, p. 43), este novo fenmeno significou [...] reconhecer na formao

    universitria, alm de seu valor cultural e de seu prestgio, uma utilidade prtica e

    um alcance poltico . Isto quer dizer que as universidades transformaram-se numa

    ferramenta adequada para exercer poder.

    Wanderley (1983) menciona uma lista de universidades que se criaram,

    s portas da poca moderna, na Europa. Estas so: Bolonha (1108), Paris (1211),

    Pdua (1222), Npoles (1224), Salamanca (1243), Oxford (1249), Cambridge (1284),

    Coimbra (1290), Praga (1348), Viena (1365), Heidelberg (1386), Leipzig (1409),

    Lovaina (1425), Barcelona (1450), Basilia (1460), Tbingen (1477), Upsala (1477),

    Leiden (1575), Edimburgo (1583), Gottingen (1737), Moscou (1755), So

    Petersburgo (1789), e Londres (1836).

    Na Amrica, os colonizadores fundaram as seguintes universidades: Lima

    (1551), Mxico (1553), Crdoba (1613), Harvard (1636), Yale (1701), e Princeton

    (1746). Nesse contexto, o sistema universitrio da Amrica Latina foi trazido pela

    Espanha desde o inicio do sculo XVI. No Brasil, conforme Wanderley (1983), o

    sistema implantado caraterizou-se por fragmentar o ensino superior em escolas, cuja

    primeira universidade nasceu oficialmente em 1920 no Rio de Janeiro, sem ter-se

    concretizado na prtica.

    2 .1 .2 M o d e l o s d e U n iv e r s id a d e s

    Os estudos desenvolvidos na rea da Teoria das Organizaes tm

    tentado delinear algumas caratersticas gerais que a maioria das organizaes

    formais compartilham. A Teoria Organizacional considera as organizaes como

    entidades genricas que simplificam a complexidade dos fatores que interagem

    nelas para propor tipos puros baseados num prottipo nico que possa caracteriz-

    las. Neste contexto, o que identificar uma organizao sero as funes que ela

    estabelecer com a sociedade.

    As universidades atuais, conforme Romero (1988), podem ser

    consideradas como uma organizao e como tal, obedecem aos requisitos que a

    caracterizam. No entanto, as universidades apresentam tambm algumas

    idiossincrasias que as distinguem das outras organizaes. Tais distines

    relacionam-se com a diversidade dos fins que ela apresenta, nas suas medidas de

  • desempenho, na mistura de sua misso, na difuso de autoridade e na

    fragmentao de suas atividades internas.

    Concordando com essa linha, Berchem (1991) diferencia a universidade

    de outras organizaes pelas particularidades que a universidade apresenta no seu

    desempenho, ou seja, o que distingue a universidade o como ela faz, mas no o

    que ela faz. Por sua vez, Etzioni (1976), identifica as universidades como

    organizaes especializadas, onde seu corpo administrativo fica executando

    atividades secundrias de maneira a prover os meios necessrios aos especialistas

    para que eles realizem a atividade principal. Neste caso, os administradores s

    podem fazer algumas objees e, muitas vezes, seus ascensos hierrquicos so

    mais limitados do que os dos especialistas, que tm maior probabilidade de alcanar

    nveis hierrquicos mais elevados.

    Por sua vez, Lane (1985) indica que o singulariza a universidade de

    outros tipos de organizao so as suas diferenas internas e externas. No caso das

    diferenas internas, conforme este autor, as universidades como instituies de

    ensino superior esto orientadas para regular o conflito existente entre as unidades

    auto-suficientes tais como as faculdades e departamentos que atuam de forma

    racional. No que se relaciona com o aspecto externo, o autor afirma que as

    universidades esto orientadas para uma manuteno da legitimidade do trabalho

    acadmico com a sociedade.

    De acordo com um estudo relacionado com a classificao das

    organizaes, Katz e Kahn (1978) estabeleceram que as universidades como

    instituio de ensino superior podem ser includas em duas categorias

    organizacionais; a primeira refere-se a uma organizao orientada manuteno e a

    outra como uma organizao adaptvel. Estes autores propem uma tipologia de

    organizao baseada na funo de que uma organizao se desenvolve como um

    subsistema dentro de uma sociedade maior. Nesta base, apresentam-se quatro tipos

    de organizaes identificadas neste conceito:

    Organizaes produtivas ou econmicas: tm como objetivo fornecer bens e servios, tais como as organizaes de transporte, de comunicao ou de manufatura;

    Organizaes de manuteno: as suas funes orientam-se socializao e ao treinamento dos indivduos para outras entidades, tais como escolas e igrejas;

  • Organizaes adaptativas: tais entidades pretendem criar um novo conhecimento e tendem a procurar informaes disponveis para solucionar atos inovadores frente aos problemas existentes. So prottipos desta categoria os laboratrios e as universidades de pesquisa.

    Organizaes de funo gerencial ou poltica: dedicam-se adjudicao, coordenao e ao controle de recursos, pessoas e subsistemas. Neste caso, encontra-se o Estado como principal estrutura de autoridade da sociedade que mantm uma legitimao nos seus estatutos legais parando todo tipo de monoplio terico.

    Entretanto, Baldridge (1982), apresenta outros modelos tericos que se

    relacionam com o processo decisrio, estrutura de poder e autoridades

    institucionais. Tais modelos apresentam um carter analtico e no prescritivo, que

    contemplam apenas aspectos internos da universidade. Estes so: a burocracia

    acadmica, o modelo colegiado e a universidade como um sistema poltico.

    A Universidade como Burocracia Acadmica

    Neste tipo de modelo, a universidade vista como uma unidade social

    burocrtica, baseada em aes racionais para alcanar, com um mximo de

    eficincia, seus objetivos propostos. Alm disto, estas organizaes aplicam

    tecnologias avanadas para alcanar as suas metas acadmicas bsicas, tal como o

    ensino e a pesquisa. Por sua vez, considera-se que os cargos, regras e normas

    escritas permitiro aumentar a eficincia e a previsibilidade de seus resultados.

    A burocracia acadmica apresenta caratersticas tpicas que a podem

    identificar como o modelo burocrtico mencionado por Weber. Algumas dessas

    caratersticas so: (1) a competncia, que reflete o critrio da contratao de seus

    membros; (2) os salrios, que so pagos diretamente pela organizao dentro de um

    padro organizacional, portanto no so fruto de um sistema de livre negociao; (3)

    o estilo de vida dos membros da organizao, que centrado na entidade e; (4) a

    estabilidade, que faz parte do sistema.

    Este modelo burocrtico, chamado de burocracia profissional, se

    caracteriza por apresentar um sistema de funes descentralizado e um trabalho

    operacional estvel que permite originar um comportamento predeterminado ou

    padronizado. Esta burocracia profissional no se apia numa autoridade de natureza

    hierrquica, mas numa autoridade de natureza profissional. Dessa forma, os

  • docentes conseguem maior experincia e autoridade no momento de serem

    promovidos, caso que no acontece com a hierarquia no profissional, onde o poder

    e prestigio esto no centro da administrao.

    A Universidade como Modelo Colegiado

    O termo burocracia tem sido muitas vezes rejeitado por parte da

    comunidade acadmica, estabelecendo-se assim um modelo chamado de colegiado

    de governo, ou de comunidade de scholars. Neste contexto, existem diversos

    estudos que analisam este modelo, que considerado, algumas vezes, como o

    modelo ideal para as organizaes acadmicas. Isto assim, pois este modelo

    apresenta caratersticas particulares com relao aos profissionais que so os

    responsveis pelo trabalho organizacional. Tambm este modelo recomendado

    pela necessidade do prprio processo ensino-aprendizagem-investigao que

    carateriza a universidade.

    O modelo Colegiado define a universidade como uma comunidade de

    iguais, onde as decises so tomadas por meio de um consenso entre os membros

    do grupo, apresentando dessa forma um ambiente predominantemente democrtico.

    Conforme Finger (1988), este modelo representa uns dos governos mais utilizados

    nas organizaes acadmicas em todo o mundo pelas caratersticas que apresenta.

    No modelo Colegiado, os administradores so eleitos pelos seus pares e

    seu papel fundamental representar a universidade no seu ambiente externo.

    Assim, eles devem tomar decises de rotina e oferecer servios de suporte s

    atividades acadmicas de acordo com o que se estabeleceu na comunidade. Isto faz

    com que a administrao esteja subordinada s decises do colegiado. Como um

    modelo baseado na comunidade, a relao entre os indivduos de natureza

    informal, onde coexistem sentimentos e valores comuns entre si e coerentes com os

    objetivos e caratersticas da organizao. Por sua vez, este grupo informal reflete um

    alto grau de lealdade para com a coletividade.

    A universidade como Sistema Poltico

    Conforme Baldridge (1982), este tipo de modelo supe que os indivduos

    que pertencem a uma universidade tm interesses conflitantes e competitivos entre

    si. Reflete-se tambm uma fragmentao dos grupos, que competem entre si,

  • mostrando uma participao fluida. Por sua vez, entende-se que entre os membros

    deste modelo existe uma necessidade de compromisso ou troca como um meio para

    garantir a sobrevivncia da organizao.

    Conforme Katz e Kahn (1978), as organizaes que se estruturam de

    acordo com um modelo poltico demonstram de forma mais intensa muitos dos

    atributos de todas as organizaes, refletindo assim uma dicotomia dentro-do-grupo-

    fora-do-grupo. Dessa forma, os membros da organizao podem pertencer a uma

    variedade de grupos no qual um indivduo pode participar somente a um de tais

    grupos. As relaes com os membros do grupo de oposio se caracterizam por

    serem emocionais e altamente explosivas.

    A influncia dos grupos limitada, uma vez que o poder de cada grupo

    no absoluto, sendo mais ou menos difuso, dependendo de onde cada grupo pode

    exerc-lo ou da situao. A autoridade tambm considerada limitada pela presso

    que existe entre os grupos. Alm disso, o conflito representa um elemento

    importante para a universidade que se considera como um modelo poltico. O papel

    do dirigente acadmico limita-se somente como mediador ou como aquele que

    participa na arte do possvel. Por sua vez, o administrador tratado como um

    negociador, ou seja, como uma pessoa que transita entre os grupos, tratando de

    estabelecer cursos viveis de ao para a organizao.

    No ambiente universitrio, a negociao resulta uma prtica difcil de

    conseguir e difcil de se expandir entre os grupos. Os participantes - professores,

    alunos e profissionais no docentes - so de natureza individualistas e centrados em

    si mesmos. Isto faz com que as decises polticas no vo alm das questes muito

    simples e o que faz que os indivduos esto pouco preocupados com pontos de vista

    ou aes compartilhadas.

    Existem outros modelos, apresentados por Romero (1988), baseados

    num estudo feito pela Fundao Indstria-Universidade do Instituto de Administrao

    de Universidades Belgas. Tais modelos so: (1) um ambiente de educao; (2) uma

    comunidade de investigadores; (3) um centro de progresso; (4) um molde intelectual;

    (5) um fator de produo.

  • A Universidade como um ambiente de educao

    Este modelo, conforme Romero (1988), define a universidade como um

    lugar privilegiado para ensinar todos os ramos do saber universal, onde o homem

    considerado um ser dotado que tem uma aspirao natural com relao ao saber.

    Assim, seu objetivo primordial orienta-se difuso do saber e cujas funes daro

    prioridade ao ensino sobre a investigao, prover uma educao universal e liberal e

    dar uma formao mais intelectual do que profissionalizante. Portanto, a

    aprendizagem tem como fim o prprio exerccio intelectual, baseado numa slida

    formao moral e mental sem a persecuo de atingir um fim utilitrio. Para

    responder eficazmente aos objetivos propostos a universidade, como ambiente de

    educao, dever estabelecer a sua prpria forma organizativa.

    Esse modelo de universidade considera como fator mais importante a

    interao de conhecimentos com os professores. Nessas condies, tal interao

    dentro de uma comunidade de mestres e estudantes permitir aos estudantes

    compreender os grandes contornos, os princpios, dimenses e caratersticas das

    grandes vertentes do saber. Dessa forma, o estudante poder adquirir, conforme

    Rmero (1988, p. 13), um hbito de esprito e uma maneira de estar que persistiro

    durante o resto da sua existncia e que se caracterizam pela liberdade, justia,

    ponderao e sabedoria" .Ou seja, o ambiente baseado na educao permitir ao

    aluno construir as suas bases cientficas que lhe permitiro por sua vez, adquirir uma

    atitude de justia e de sabedoria.

    A universidade como uma Comunidade de Investigadores

    Este modelo de universidade segue a teoria de que todos os indivduos,

    sem considerar a idade, podem dedicar-se de forma intensa e livre a aprender, a

    investigar e perpetuar o esforo da pesquisa para atingir a verdade. Conforme

    Romero (1988), o que se considera como uma comunidade de investigadores e de

    estudantes e que por sua vez formam a universidade ser o lugar onde a pesquisa

    se desenvolve. Assim, sua funo ser de procurar a verdade no seio de tal

    comunidade. Por sua vez, seus princpios orientam-se unidade do saber e

    unidade de investigao e do ensino.

    O principio da unidade do saber refere-se a que a cincia no pode

    abarcar a verdade na sua globalidade, portanto ela deve situar-se num universo dos

  • conhecimentos. Tal universo constitui a universidade como centro de gravidade.

    Nesse contexto, o objetivo da universidade ser o de articular o conjunto das

    cincias de maneira a refletir uma perspectiva da unidade e da totalidade das

    cincias e integrar, por sua vez, o investigador.

    Pelas caratersticas que refletem este modelo, a respeito do destaque que

    se faz na investigao e na especificidade da cincia, a universidade deve se

    estruturar atravs de diferentes faculdades. Isto permite que cada faculdade possa

    cobrir um domnio ou o conjunto de domnios cientficos, entregando total liberdade

    acadmica ao professor.

    A Universidade como um Centro de Progresso

    A teoria principal deste modelo, conforme Romero (1988), baseia-se na

    idia de que na sociedade existe uma aspirao ao progresso. Para isto, deve haver

    uma influencia estreita e mtua entre os elementos progressivos (estudo e reflexo)

    e o pblico em geral. Neste caso, considera-se a universidade como a principal

    entidade capas de unir as atividades progressivas como um instrumento eficaz para

    atingir o progresso.

    Nesta perspectiva, considera-se que so as condies particulares e

    concretas dos indivduos nas suas aspiraes por progresso que vo estabelecer e

    orientar os objetivos da sociedade ou da universidade. Por outro lado, Romero

    (1988) no considera que as condies de progresso da sociedade se identificam

    com os objetivos polticos do Estado. Portanto, para que a universidade contribua no

    progresso da sociedade necessrio que ela seja capaz de atuar de forma

    independente, sem a interveno do Estado.

    Entretanto, sustenta-se que a cultura, assim como a cincia, deve

    desembocar numa ao e numa vontade de progresso que no constituam um fim

    em si prprio. Rejeitando-se, assim,, a idia de que a educao e a investigao,

    como exerccio da inteligncia, provenham do vazio, tanto para o estudante quanto

    para o professor. Portanto, de acordo com este modelo, a universidade deve ser o

    local principal para estimular a criatividade e criar um ambiente para a reflexo

    inovadora para, dessa forma, gerar atividades de conservao e transmisso de

    conhecimentos e de investigao criadora.

  • A Universidade como um Molde Intelectual

    Este modelo de universidade est concebido de acordo com as

    caratersticas pessoais de Napoleo. Napoleo afirmava que

    a universidade deve estar ideologicamente submetida ao poder e ter uma funo geral de preservao da ordem social pela difuso de uma doutrina comum, custa de um corpo docente organizado, com intelectuais a servio do Imperador e assegurando um ensino sobretudo profissional (ROMERO, 1988, p. 19).

    Isto faz com que este tipo de universidade tenha caratersticas baseadas

    num molde ideolgico, num corpo docente submetido a uma doutrina, funcionrios

    muito disciplinados e com uma extensa autoridade poltica. Por sua vez, existe um

    ensino altamente orientado para a realizao de atividades profissionais e cujos

    domnios do saber esto distribudos em faculdades virtualmente isoladas.

    Nessa perspectiva, os princpios organizativos desse modelo universitrio

    refletem as seguintes facetas:

    - subordinao generalizada ao poder central;

    - apresentao de uma hierarquia militar;

    - uniformidade de programas e de tratamento das instituies;

    - diviso da universidade em faculdades fechadas e independentes umas das outras.

    A universidade como um Fator de Produo

    Este modelo de universidade baseia-se no quadro ideolgico que

    prevalecia na U.R.S.S durante o perodo de governo comunista. Assim sendo, tal

    universidade tinha como grande meta a construo de uma sociedade comunista,

    com um objetivo social e poltico bem definido, embora tal modelo reflita algumas

    das preocupaes que caraterizam as universidades como ambiente de educao,

    como comunidade de investigadores e como centro de progresso.

    O objetivo desta universidade est orientado para construir uma

    sociedade comunista, portanto este modelo apresentar caratersticas

    predominantemente funcionais, com princpios organizativos que se estruturaram

    nas seguintes formas:

    - dependncia praticamente total do poder poltico;

    - planejamento rigoroso e detalhado da formao dos profissionais;

    - planejamento da investigao;

  • - relao estreita entre os conhecimentos da universidade e da vida prtica;

    - todos os membros das classes sociais podiam ingressar na universidade, caraterizando-a como um ensino democrtico pela ausncia das despesas para o estudo. Por sua vez existe uma estrita seleo racional e de acordo com o planejamento estabelecido.

    Como resumo, apresenta-se a seguir um quadro sinptico dos cinco

    modelos propostos por Romero.

    A UNIVERSIDADE DO ESPRITO A UNIVERSIDADE DO PODER

    Caraterizao Um ambiente de educao

    Umacomunidade de investigadores

    Um centro de progresso

    Um molde intelectual

    Um fator de produo

    Autor J. H. Newman K. Jaspers A. N. Whitehead NapoleoUR SS(Conselho de Ministros)

    FinalidadeAspirao do indivduo ao saber

    Aspirao do indivduo verdade

    Aspirao da sociedade ao progresso

    Estabilidade poltica do Estado

    Edificao dasociedadecomunista

    ConcepoGeral

    Educao geral liberal no seio do saber universal

    Unidade da investigao e do ensino no centro da universidade das cincias

    Simbiose da investigao e do ensino a servio da investigao criativa

    Ensinoprofissionaluniformeconfiado a umcorpoorganizado

    Instrumento funcional de formao profissional e poltica

    PrincpiosOrganizativos

    - Pedagogia do desenvolvimento intelectual

    - Internato e tutores

    - Organizao por faculdades.- Liberdade acadmica.

    - Corpo professoral criador- Estudantes capazes de aplicar algum princpio geral

    -Hierarquia administrativa - Programas uniformes

    - Manipulao controlada da oferta de diplomas- Recurso s forasprodutivas da nao

    Soluo quanto ao problema de massa

    Uma rede diversificada de instituies do ensino superior no seio da qual as universidades conservam a sua originalidade.

    Um a rede oficial uniforme para a massa e para a elite

    Adaptao s necessidades econmicas e diversificao institucional

    F ig u r a 1 - Q u a d r o s in t ic o d o s M o d e l o s d e U n iv e r s id a d e sFonte: ROMERO, 1988, p. 12

    2 .1 .3 O b j e t iv o s In s t it u c io n a is

    Numa abordagem tradicional, as organizaes so entidades racionais

    que existem e se justificam para atingir objetivos. Tais objetivos representam os

    resultados finais que uma organizao, departamento ou indivduo deseja atingir.

    Dessa forma, segundo Etzioni (1976), os objetivos so estabelecidos a partir de um

    jogo complexo de poder que inclui diferentes indivduos e grupos dentro e fora da

    organizao. Por sua vez, estes objetivos baseiam-se nos valores que se constituem

  • como as referncias para dirigir o comportamento geral e especfico dos indivduos

    numa sociedade.

    Estes objetivos, por sua vez, podem ser o resultado de presses

    ambientais, tanto internas quanto externas, e podem se apresentar tambm como

    reaes de natureza diversa, tais como econmica, poltica, tecnolgica e social.

    Assim, as presses ambientais atuam sobre a organizao mudando conjunturas e

    levando entidade a implementar um processo contnuo de adaptaes. Portanto,

    por serem resultantes desses fatores, os objetivos so considerados muitas vezes

    como conflitantes.

    Neste aspecto, Mota de Castro (1988) demonstra como a definio dos

    objetivos, estabelecida pela direo da organizao, desempenha as seguintes

    funes:

    - A comparao entre os objetivos e o desempenho da organizao representa o nico indicador das possveis necessidades de decises com implicaes estratgicas. Neste aspecto, se existe uma pequena divergncia entre objetivo e desempenho, reaiizam-se as correes necessrias. Caso que exista uma divergncia de grande envergadura, dever se realizar uma reviso completa da estratgia institucional;

    - A definio de objetivos permite identificar as combinaes produto- mercado relevantes. Isto permite realizar uma anlise do ambiente da tarefa da organizao e a avaliao da adequao dos recursos no aproveitamento das oportunidades detectadas. Por outra parte, uma vez definidos os objetivos possvel detectar as reas que identifiquem certas fraquezas que comprometem a consecuo dos objetivos da organizao;

    - Os objetivos gerais permitem identificar objetivos subseqentes que devem ser cumpridos em cada umas das reas de responsabilidade. Por sua vez, facilitam o estabelecimento das aes prioritrias e alocar os recursos em consonncia com as prioridades;

    - O estabelecimento de objetivos claros, concretos, mensurveis e com possibilidade de serem verificados permite avaliar o desempenho e/ou eficcia da organizao e dos seus dirigentes.

    Neste caso, considera-se que esta ltima funo umas das funes

    mais importantes, pois facilita entender as principais razes pelas quais as pessoas

    tendem a resistir ao estabelecimento de objetivos organizacionais.

    A Universidade, como Instituio de Educao Superior, considerada

    como uma instituio social que tem como objetivo fundamental formao da elite

    intelectual e cientfica da sociedade. Alm disso, ela se caracteriza por representar

  • um ideal e por conter uma misso estvel e duradoura, assentada em normas e

    valores do grupo ou sociedade na qual ela est inserida.

    Umas das caratersticas que singulariza a universidade como uma

    instituio social ou como uma organizao complexa a ambigidade que

    apresentam seus objetivos. Conforme finger (1988, p. 75), faculdades e

    universidades tm objetivos vagos, ambguos, e precisam criar processos decisrios

    capazes de responder a um alto grau de incerteza e conflito .No entanto, apesar da

    ambigidade que podem apresentar seus objetivos, estes se orientam ao ensino,

    pesquisa, servio comunidade, administrao de instalaes cientficas,

    desenvolvimento das artes e outras formas de expresso cultural, soluo de

    problemas socais e muito mais.

    Colossi (1988), indica que, sob uma abordagem substantiva, os objetivos

    da educao superior esto orientados para a formao superior do homem. Dessa

    forma, o indivduo tem a capacidade de perceber a qualidade do contedo de um

    trabalho determinado e ter a fora e persistncia necessria para definir, perseguir e

    atingir seus ideais. Sob uma abordagem instrumental, a educao superior vista

    como o meio pelo qual o indivduo se prepara para o mercado de trabalho. J, de um

    ponto de vista administrativo, a educao superior alm de considerar como papel

    fundamental a formao de uma elite intelectual e cientfica, contribui tambm com a

    qualidade de vida da sociedade em geral.

    Assim, os objetivos podem ser usados como uma poltica fundamental e

    coerente para reforar os valores e esperanas de uma instituio, os quais

    permitem fornecer, por sua vez, os padres e guias para as decises e as aes

    atuais e futuras das faculdades. Os objetivos so usados tambm para o

    planejamento e avaliao institucional, assim como uma guia geral de deciso.

    Neste contexto, os objetivos permitem comunidade acadmica inteira estruturar as

    decises a serem alcanadas, resolver os problemas e alocar os recursos

    financeiros, entre outros.

    Colossi (1988) menciona, ainda, alguns objetivos que se consideram

    como os mais importantes numa instituio de educao superior, que so aqueles

    que permitem obter liberdade acadmica; aumentar ou manter o prestgio da

    instituio; aqueles que mantm a qualidade superior nos programas; aqueles que

    asseguram a continuidade e a confiana; aqueles que treinam os estudantes nos

  • mtodos e/ou esforo cientfico da pesquisa e/ou criativos e que permitem a

    continuao da pesquisa pura.

    Entretanto, Mota de Castro (1988) considera que a definio dos objetivos

    freqentemente imposta ou influenciada por autoridades superiores e por diversos

    centros de interesse. Neste caso, quando as organizaes dependem dos governos,

    os objetivos das instituies, tais como a universidades, sofrem freqentemente de:

    - perda total ou parcial de autonomia estratgica. Isto se deve a que o governo tende a influenciar ou determinar certas atividades legtimas, como a escolha de estratgias que orientam as atividades da organizao;

    - ambigidade de objetivos. Nestes casos, as instituies que sofrem esta dependncia devem conciliar a suas prprias metas e objetivos com os objetivos governamentais ou restries sociais e polticas decorrentes do programa governamental. Isto faz, portanto, com que existam objetivos ambguos e at inconsistentes;

    - politizao das decises. Isto um risco que devem enfrentar estas organizaes pelo debate externo e presses adicionais. Isso faz com que a visibilidade do funcionamento interno aumente, reduzindo assim a flexibilidade da deciso ao nvel de topo, e cria incertezas adicionais no longo prazo;

    - tomada de decises em curto prazo. Devido durao limitada das legislaturas esta tendncia faz-se cada vez mais usual. Estas decises em curto prazo tendem a comprometer o planejamento estratgico da entidade pelas incertezas provocadas na obteno de recursos externos;

    - Burocratizao. Isto faz que se estabeleam rotinas de trabalho, estruturas centralizadas, planejamento inflexvel e sistemas de gesto de pessoal que valorizem uma competncia personalizada. Isto, portanto, faz que exista uma diminuio da flexibilidade, da inovao e a perda da busca da eficincia.

    Desta forma, pode-se dizer que a definio de objetivos numa instituio

    representa a base de um bom funcionamento da organizao, uma vez que os

    objetivos permitiro traar as decises estratgicas necessrias para alcanar o

    desempenho esperado de seus membros e orientar a organizao quanto forma

    de se posicionar no mercado e detectar as possveis fraquezas que comprometem a

    consecuo de tais objetivos. Por outro lado, observa-se que para alcanar um

    adequado cumprimento dos objetivos institucionais, estes devem ser claros,

    concretos e mensurveis para que os participantes da organizao possam

    compreender o real significado desses objetivos e se sentirem capazes de poder

    atingir tais objetivos.

  • 2 .2 C u l t u r a O r g a n iz a c io n a l

    Esta seo tem como objetivo apresentar distintos aspectos que se

    relacionam com o processo pelo qual passou o estudo da cultura organizacional, tais

    como a apario dos primeiros estudos sobre cultura, numa perspectiva

    antropolgica e sociolgica. Por sua vez, pretende-se refletir o explosivo interesse

    de estudar e relacionar a cultura com a Teoria Organizacional. Mencionam-se

    tambm as distintas definies de cultura organizacional, apresentadas por vrios

    autores, e os elementos significativos que a constituem. Alm disto, analisam-se

    quais so os fatores que obrigam a uma organizao a mudar e as vrias

    dificuldades culturais que se apresentam no momento de se efetuar tal mudana.

    Finalmente, apresentam-se sugestes para enfrentar e atingir a mudana da cultura

    de uma organizao.

    2.2.1 Os E s tu d o s s o b r e C u l t u r a O r g a n iz a c io n a l

    A maioria dos autores que se tm dedicado ao estudo da cultura

    organizacional refere-se dificuldade de estabelecer uma nica definio deste

    conceito. Esta dificuldade deve-se s diversas finalidades e rea de interesse que

    o pesquisador pretende analisar. Assim, menciona-se que os primeiros intentos de

    estabelecer uma definio acerca de cultura esto associados com a formao das

    disciplinas acadmicas da sociologia e da antropologia. Segundo Oliveira (1998),

    ambas disciplinas tinham como objetivo aplicar as tcnicas da cincia no estudo das

    pessoas. Nessa perspectiva, a sociologia estudaria todos os fenmenos que se

    relacionam com a sociedade humana e a antropologia explicaria as origens e o

    desenvolvimento cultural dos seres humanos.

    Entretanto, Fleury e Fischer (1996), estabelecem outros elementos nas

    correntes antropolgicas e sociolgicas. Conforme esses autores, os antroplogos

    concebem o conceito de cultura como um padro capaz de atribuir significados a

    certas aes. Nesta perspectiva, a dimenso simblica capaz de integrar todos os

    aspectos da prtica social baseada em termos de mediaes mais do que nas

    determinaes da infra-estrutura econmica sobre a estrutura ideolgica. Portanto,

    esta corrente assume a cultura como um padro para interpretar os complexos

    relacionamentos e para os quais este padro pode possuir diversos significados

    entre os indivduos que pertencem a uma mesma organizao ou sociedade.

  • Para os socilogos, o ponto de interesse da anlise cultural o

    interacionismo simblico, ou seja, se preocupam em analisar a forma como se

    constri o universo simblico. Para os profissionais dessa rea, o universo simblico

    representa um conjunto de significados que permitem atribuir consistncia,

    justificativa e legitimidade aos indivduos que pertencem a um grupo determinado.

    Dessa forma, os integrantes desse grupo podero apreender a realidade de forma

    consensual, integrar os significados e viabilizar a comunicao. De acordo com

    Fleury e Fischer (1996, p. 18), [...] suas idias sobre a construo do universo

    simblico, seus processos de legitimao, de socializao primria e secundria so

    importantes para o desenvolvimento do conceito de cultura organizacional . Assim,

    para a viso do interacionismo simblico, a cultura baseia-se em significados

    compartilhados e transformados em normas. Por sua vez, estas normas so

    transmitidas para moldar o comportamento dos indivduos e lograr assim um

    relacionamento aceitvel no grupo.

    No final do sculo XVIII, conforme Laraia (1993), o termo germnico

    Kultur simbolizava todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a

    palavra francesa Civilization referia-se principalmente s realizaes materiais de um

    povo. Assim, unindo ambos conceitos, elaborou-se no campo da antropologia, a

    primeira definio de Cultura pelo antroplogo ingls Edward Tylor, para quem

    cultura , conforme Laraia (1995, p.25), [...] o todo complexo que inclui

    conhecimentos, crenas, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade

    ou hbitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade . Neste caso, a

    noo de tal definio elaborou-se, segundo Oliveira (1988), com o propsito de

    diferenciar as pessoas dos animais e cultura, da natureza.

    Observa-se, tambm, que a abordagem cultural no era apresentada de

    forma explcita na literatura administrativa e organizacional, embora se constate que

    tais teorias tinham sempre utilizado as dimenses da cultura. No entanto, uma vez

    que se relacionou a perspectiva cultural com o desempenho organizacional,

    intensificaram-se os seus estudos, observando-se assim um crescente interesse

    sobre o estudo da cultura organizacional a partir da dcada de 80. Segundo posio

    de Freitas (1991), a preocupao sobre os temas cultura e desempenho aconteceu

    num momento em que a produtividade norte-americana encontrava-se em declnio,

    comparada com a produtividade japonesa que estava em plena expanso

  • competitiva. Aquela situao levantou ento a questo das diferenas culturais entre

    as duas sociedades.

    Por sua vez, Schein (1989), menciona que, sob ponto de vista acadmico

    e administrativo, existem trs razes que influram muito para o crescente interesse

    sobre o tema da cultura. A primeira razo que a cultura possibilita contribuir para o

    aperfeioamento do processo de comunicao, de colaborao e integrao

    organizacional. A segunda razo reflete que a cultura ajuda para o entendimento de

    como as novas tecnologias influenciam e so influenciadas pela organizao. E por

    ltimo, o estudo cultural estimula o autoconhecimento da organizao e o seu

    desenvolvimento, sendo a cultura uma fonte importante de resistncia mudana.

    Freitas (1991) reflete outra teoria, mencionada por Hofstede, que est

    relacionada com a sobrevivncia das organizaes nas crises de 74 e 78. Segundo

    este autor, a Teoria das Organizaes deve ser estudada atravs de uma

    abordagem holstica. Isto permite enfocar os pontos fortes e fracos das organizaes

    e dessa forma as organizaes podem ser observadas como instituies humanas

    no seu conjunto. Assim, o deslocamento de subsistema para uma viso global reflete

    as foras da organizao como um todo. Segundo o mesmo autor, esta tendncia

    pe nfase na aplicao de uma viso mais subjetiva no estudo da organizao.

    Outra possvel causa, mencionada por Freitas (1991), relaciona-se com

    as constantes mudanas do mercado que esto gerando grandes incertezas nos

    nveis dos valores. A necessidade de contar com valores estveis faz com que as

    pessoas procurem tal estabilidade dentro das organizaes. Neste contexto, o

    comportamento dos lderes transforma-se numa varivel importante e imprescindvel

    para a criao de valores organizacionais, surgindo dessa forma dimenses

    simblicas organizacionais.

    Este aspecto pode ser explicado de forma mais detalhada atravs da

    concepo de Schon (1971). Este autor menciona que existe atualmente uma perda

    do estado estvel que reflete uma eroso das vises estveis nos mbito da

    ocupao, das religies, das organizaes e nos sistemas de valores. Conforme

    Schon (1971), estes fatos fazem com que a sociedade e todas as suas instituies

    estejam passando por um processo contnuo de transformaes, o que faz que as

    condies de incerteza, de imprevisibilidade e de instabilidade afetem aos valores

    das pessoas tanto nas instituies quanto na vida pessoal.

  • Portanto, numa perspectiva institucional, a situao de incerteza obriga as

    organizaes a planejar estratgias mais flexveis, se afastando assim dos mtodos

    utilizados nas organizaes burocrticas. Assim o afirma Habermas, quando diz que

    as novas estruturas sociais esto marcadas pela diferenciao desses dois sistemas (racionalizao e ruptura de valores), interligados de modo funcional, que se cristalizaram em volta do cerne organizatrio da empresa capitalista e do aparelho burocrtico do Estado (1990, p. 13-14).

    2 .2 .2 C o n c e it o e E l e m e n t o s d a C u l t u r a O r g a n iz a c io n a l

    Na tentativa de construir um significado global de cultura organizacional, o

    psiclogo Edgar Schein oferece um dos conceitos mais ricos e completos que

    servem como fonte de referncia direta na maioria das obras que debatem o tema

    de cultura organizacional.

    Assim, para Shein, a cultura organizacional define-se como

    [...] o modelo dos pressupostos bsicos que determinado grupo tem inventado, descoberto ou desenvolvido no processo de aprendizagem para lidar com os problemas de adaptao externa e integrao interna. Uma vez que os pressupostos tenham funcionado bem o suficiente para serem considerados vlidos so ensinados aos demais membros como a maneira correta para se perceber, se pensar e sentir-se em relao queles problemas (1989, p. 12).

    Para este autor, os pressupostos representam a base do comportamento

    humano e da cultura. Segundo as interpretaes do conceito de cultura

    organizacional de Schein, Freitas (1991) adverte que o autor privilegia a fora dos

    pressupostos, admitindo, no entanto, devida relevncia dos valores. Conforme

    Schein (1989), a cultura de uma organizao pode subdividir-se em trs nveis:

    - Artefatos e Criaes: o ambiente construdo pela organizao. Este ambiente, por sua vez, representado por todos os elementos visveis tais como arquitetura, tecnologias, modelos de comportamentos visveis e audveis, a aparncia fsica das pessoas e documentos pblicos entre outros;

    - Valores: so todas aquelas interpretaes ou significados que governam o comportamento humano. Embora sendo difceis de observar diretamente, esses valores esto altamente conscientes nas pessoas;

    - Nvel dos pressupostos: so aqueles que determinam como os membros de um grupo percebem, pensam e sentem. Estes pressupostos esto relacionados com a interao, com o ambiente, com a natureza da realidade e com a natureza das atividades humanas.

  • Por sua vez, Alves (1997) define a cultura como um processo de crenas,

    valores, pressupostos, smbolos, artefatos, conhecimentos e normas que estof

    personificados por um heri. Assim, a imagem do tieri vai ser difundida atravs de

    toda a organizao mediante todos os canais de comunicao em forma de mito,

    estria, ritual e por meio da socializao de seus membros. A forma como sero

    utilizados esses elementos da cultura depender da liderana, da entidade e da

    aceitao de seus membros. A difuso desses elementos culturais tem como

    objetivo lograr uma integrao tanto interna quanto externa da organizao. De

    acordo com Alves (1997), o conceito de cultura organizacional pode ser acomodado

    em dois grandes grupos:

    Define-se o social e o cultural como campos distintos apesar de sua inter-relao. Neste aspecto, entende-se a cultura como um sistema de conhecimentos compartilhados e que pode ser- classificado conforme o interesse dominante de um indivduo, tal como produo (funcional), bem-estar social (poltico), desenvolvimento pessoal (personalstico). Nessa perspectiva, Alves (1997) afirma que a organizao pode ser entendida como redes de cognio compartilhadas pelos seus membros, assim como a antropologia simblica considera a cultura, ou seja, como um sistema de smbolos que necessitam ser interpretados;

    - Considera-se o social e o cultural como elementos constitudos de um sistema scio-cultural nico. Neste contexto, a organizao pode ser interpretada como um mecanismo social adaptado ao ambiente, produzindo bens e servios e tendo como subprodutos artefatos culturais.

    Sob este aspecto, pode-se dizer que a viso de Oliveira (1988) sobre

    cultura se relaciona com o segundo grupo de cultura mencionada por Alves (1997).

    Nesta perspectiva, Oliveira (1988) associa a cultura organizacional com processos

    culturais maiores, provenientes do ambiente externo da organizao, onde a fonte

    mais imediata de influencia externa encontrada nos seus prprios empregados.

    Neste caso, Oliveira (1988) explica que antes do contato com a organizao, os

    empregados tm sido influenciados por instituies culturais diversas, tais como a

    famlia, a comunidade, a nao, o Estado, a igreja, os sistemas educativos e outras

    organizaes de trabalho, que permitiram formar as atitudes, comportamentos e

    identidade dos integrantes da organizao.

    Soma-se tambm a este ponto de vista, o conceito de Chanlat (1996, p.

    99) que estabelece que [...] o sistema cultural social repercute sobre a organizao

    social que ele sustenta [...] cultura e sociedade formam, pois, o sistema social dentro

  • do qual o indivduo se insere em graus variveis . Para Chanlat (1996) a cultura

    um sistema de crenas que orienta o comportamento das pessoas e que permite

    fornecer os tipos de relacionamen