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    1Introduo

    A geologia sedimentar se preocupa em estudar as formaes e evolues

    dos sedimentos que formam as camadas rochosas que encobrem a crosta terrestre.

    Com os conhecimentos em sedimentologia e estratigrafia pode-se avaliar os

    possveis resultados de diversos processos fsicos, qumicos e biolgicos

    responsveis pela formao e distribuio de sedimentos. Esses sedimentos so

    responsveis pelo desenvolvimento de rochas sedimentares. Em um ambientesubaquoso so predominantes rochas sedimentares de origem terrgena e

    carbontica. As rochas terrgenas so oriundas de sedimentos erodidos de rochas

    gneas, metamrficas e sedimentares preexistentes e transportados atravs de

    meios fluviais e elicos, entre outros. As variaes do nvel do mar e das

    condies climticas ao longo do tempo influenciam muito a distribuio de

    sedimentos e so os principais controles do crescimento das rochas carbonticas,

    que compem entre 19 e 22% da totalidade das rochas sedimentares que cobrem acrosta terrestre (Reading, 1978).

    Esse trabalho trata da simulao numrica computacional da formao e

    evoluo de plataformas carbonticas.

    1.1.Rochas carbonticas

    As rochas carbonticas so formadas a partir de processos qumicos,bioqumicos e aloqumicos envolvendo a deposio e decomposio de

    organismos ricos em clcio, como algas, conchas, corais e moluscos. Tendo sua

    formao estritamente ligada vida marinha, micro e macroscpica, as rochas

    carbonticas dependem de vrios fatores que controlam a vida dos organismos

    para se desenvolverem. As condies climticas restringem bastante o

    crescimento carbontico: temperaturas mais quentes e uma boa radiao solar so

    essenciais. As condies marinhas em que os organismos vivem influenciembastante na formao de rochas carbonticas pela necessidade de nveis de

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    salinidade aceitveis e da boa renovao de nutrientes. Por isso, em uma regio

    martima mais restringida, ou seja, mais distante do mar aberto, somente

    organismos especficos adaptados a nveis mais altos de salinidade e menor

    renovao de nutrientes so responsveis pelo crescimento de rochas carbonticas.

    Enquanto em regies mais prximas ao mar aberto, uma maior variedade de

    organismos ajuda o crescimento carbontico, obtendo tipicamente taxas mais altas

    de crescimento. Devido propriedade autotrfica das algas, a maioria dos

    carbonatos se encontra em guas rasas e claras devido necessidade de radiao

    solar, por isso em ambientes com grande aporte de sedimentos terrgenos, a gua

    tende a ficar mais turva, restringindo muito a presena e evoluo dos organismos

    necessrios para formar rochas carbonticas. Em profundidades maiores a energia

    solar quase totalmente absorvida, limitando a produo carbontica

    dependncia de alguns organismos adaptados aos baixos nveis de energia solar,

    possibilitando a deposio de sedimentos carbonticos em ambientes mais

    profundos, porm em escalas muito inferiores.

    As rochas carbonticas so compostas de minerais carbonticos como a

    calcita (CaCO3), a dolomita (CaMg(CO3)2) a siderita (FeCO3) e a magnesita

    (MgCO3), entre outras. O on carbontico (CO3-2), obtido atravs da eq. 1.1

    depende muito da presena de dixido de carbono (CO2

    CO

    ) na gua e sua no-

    solubilizao, por isso tambm a importncia de baixas profundidades e altas

    temperaturas, j que sua solubilidade aumenta em presses mais altas e

    temperaturas mais baixas (Zeller e Wray, 1956).

    2+3H2O = HCO3-1

    +H3O+1

    +H2O = CO3-2

    +2H3O+1

    Os ons resultantes da eq. 1.1 tm baixa estabilidade em presses mais

    baixas, facilitando sua reao com ons de clcio (Ca

    (1.1)

    +2

    CaCO

    ) formando assim a calcita

    e outros minerais carbonticos de forma anloga. Em temperaturas mais baixas e

    presses mais altas, a calcita se dissolve mais facilmente da seguinte forma (Zeller

    e Wray, 1956):

    3= Ca+2

    +CO3-2

    Assim sendo a gua do mar fica saturada com calcita em temperaturas mais

    elevadas e profundidades mais baixas, levando sua precipitao e formao de

    rochas carbonticas.

    (1.2)

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    As taxas de produo carbontica so consideradas como crescimento

    vertical por intervalo de tempo (m/kA), assim sendo, alm dos fatores

    previamente descritos, outro fator limitante do crescimento carbontico o espao

    de acomodao disponvel, definido como a diferena entre a camada do fundo do

    mar e o nvel do mar. Esse espao pode variar com o tempo devido ao prprio

    crescimento carbontico, s flutuaes do nvel do mar e subsidncia do fundo

    do mar por movimentaes tectnicas. Caso o espao de acomodao cresa mais

    rpido do que a sedimentao carbontica, ela pode se afogar, caso contrrio, no

    h crescimento vertical devido falta de espao e essa dever migrar para outras

    localidades (Bosscher, 1992). Assim sendo, a evoluo de plataformas

    carbonticas tem como controle importante as mudanas nos espaos de

    acomodao (Precht, 1988) e so inclusive timos registros dessas (Schlager,

    1981).

    Deve-se salientar outro fator importante na evoluo de plataformas

    carbonticas, alm da produo in situ, decorrente da deposio de organismos

    marinhos, a eroso subaquosa, diagnese e redeposio dos sedimentos erodidos

    pode mudar significativamente a geometria das plataformas. Essa eroso se deve

    principalmente ao das ondas, das correntezas e instabilidades de taludes. A

    direo dominante do vento em um ambiente de produo carbontica o

    principal controle dos fatores erosivos e redeposicionais.

    Pode-se observar que as condies para formaes de depsitos

    carbonticos so bastante diversas. Em tempos atuais, as reas de deposies

    carbonticas so relativamente restritas (Figura 1.1.). Entretanto, no passado

    podem ter ocorrido situaes mais propcias e abrangentes para esse tipo de

    deposio.

    Figura 1.1. Exemplo da localizao de depsitos carbonticos modernos

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    1.2.Organizao da dissertao

    Neste captulo foram resumidas as principais caractersticas da formao e

    evoluo de plataformas carbonticas. Tambm foi descrito o contexto para odesenvolvimento deste trabalho e os seus principais objetivos. No prximo

    captulo feito uma reviso bibliogrfica sobre os trabalhos e programas de

    modelagem direta de sistemas carbonticos, considerando exemplos de uma, duas

    ou trs dimenses.

    O terceiro captulo apresenta o modelo geolgico empregado no

    desenvolvimento do programa e demonstra os modelos matemticos dos

    principais processos simulados. Os principais mtodos computacionais adotados

    em CarbSM para representar os modelos vistos no terceiro captulo so explicados

    no captulo 4. No quinto captulo, o modelo computacional testado em uma

    simulao de uma plataforma carbontica isolada conceitual e idealizada por

    Handford e Loucks (1993). Finalmente, no sexto e derradeiro captulo so

    discutidas as concluses deste trabalho e so sugeridos futuros trabalhos para

    complementar o que foi desenvolvido at agora.

    1.3.Ambientes deposicionais

    Inmeros processos influem na gerao de sedimentos carbonticos in situ.

    Alm disso, fatores biolgicos e qumicos responsveis pelo desenvolvimento de

    rochas carbonticas oferecem diferentes situaes ideais para a evoluo dessas.

    Em relao sensibilidade s condies marinhas descritas anteriormente,

    existem ambientes compatveis para cada tipo de processo de produo

    carbontica. Por isso, pode-se agrupar esses processos em alguns ambientes

    deposicionais que apresentam condies marinhas ideais para os diversos tipos de

    fcies carbonticas. As mais comuns descritas na literatura so: guas rasas e

    abertas, guas rasas e restritas, bacia e talude, e ambientes terrestres (Reading,

    1978, Tucker & Wright, 1990, Warrlich, 2000); que sero descritas mais

    detalhadamente nos prximos itens.

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    1.3.1.guas rasas e abertas

    Figura 1.2. Exemplo moderno de recife de corais

    O primeiro ambiente deposicional de plataformas carbonticas o de

    produo em guas rasas e abertas. Neste ambiente, os organismos responsveis

    por suas fceis carbonticas caractersticas, no toleram condies de

    hipersalinidade e ndices de nutrientes muito altos, e necessitam de uma boa

    renovao de gua marinha. Estruturas robustas de recifes de corais (Figura 1.2.) e

    acmulos de matria orgnica so comumente encontradas em guas rasas e incio

    de taludes e formam as bordas de grandes plataformas carbonticas. A parte de

    trs dos recifes tambm pode ter caractersticas parecidas mesclando

    caractersticas de ambientes de guas restritas. Apresentam estruturas bastante

    rgidas e com um crescimento bastante rpido, capaz de acompanhar em muitos

    casos a elevao progressiva do nvel do mar e o espao de acomodao criado a

    partir da subsidncia tectnica, assim apresentam muitas vezes estruturas com

    paredes muito ngremes. Em casos em que o crescimento carbontico no

    acompanha a elevao do nvel do mar, a maior parte do ambiente recifal

    afogada. Porm, podem aparecer alguns pinculos em locais restritos das margens

    da plataforma que conseguiram acompanhar a elevao do nvel do mar, no lado

    interno ou no lado externo.

    Com o rebaixamento do nvel do mar a plataforma evolui nos taludes dosdepsitos anteriores em direo ao mar aberto enquanto antigos depsitos de

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    margens da plataforma sofrem eroso ao ficarem expostos acima do nvel do mar.

    Na parte superior da plataforma, as estruturas de bordas so geralmente estreitas,

    com menos de 100 metros de largura, em comparao com a parte interna da

    plataforma que pode ter at alguns quilmetros de largura, mas devido migrao

    da borda em direo ao mar no rebaixamento do nvel do mar, essas fcies podem

    ser mais extensas levando em conta camadas deposicionais mais antigas.

    O potencial para reservatrio de hidrocarbonetos dessas estruturas

    geralmente bastante alto devido a boa porosidade gerada pela deposio de

    sedimentos oriundos de organismos de diversos tamanhos. Porm essa porosidade

    algumas vezes preenchida por cimentos carbonticos e sedimentos menores que

    preenchem os vazios.

    1.3.2.guas rasas e restritas

    Figura 1.3. Exemplo moderno de estromatlitos em Shark Bay, Austrlia

    O segundo ambiente o de produo em guas rasas que apresenta pouca

    renovao de gua marinha onde os organismos responsveis pelo crescimento

    carbontico toleram melhor condies de hipersalinidade. Geralmente acontecem

    em reas protegidas por recifes e apresentam taxas de crescimento menores

    comparadas com as taxas das bordas. As fcies mais comuns nessas condies so

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    areias e argilas carbonticas. Nesses ambientes so evidentes os efeitos causados

    pelas mars formando camadas bastante finas, bem regulares e homogneas,

    porm em alguns locais podem ser menos regulares devido aos caminhos

    preferenciais da gua do mar durante as mudanas de mars e de vegetaes que

    podem acumular sedimentos em um determinado ponto.

    As areias e argilas carbonticas encontradas nesses ambientes so

    formadas de maneira compacta e geralmente proporcionam baixas porosidades e

    permeabilidades gerando bons seladores de possveis reservatrios de

    hidrocarbonetos. Em condies de hipersalinidade, mais comum a formao de

    estromatlitos (Figura 1.3) que devido a uma maior porosidade apresentam boas

    caractersticas para futuros reservatrios de hidrocarbonetos.

    1.3.3.guas profundas

    Em ambientes de mar aberto e com grandes profundidades os organismos

    responsveis pela produo carbontica de ambientes rasos no atuam. Com isso,

    outros organismos que no conseguem se desenvolver em ambientes rasos devido

    competio com os organismos ali presentes so responsveis pela produo

    carbontica em guas profundas. Estes organismos, porm, geram taxas de

    crescimento bastante inferiores s taxas de guas rasas. Geralmente esses

    sedimentos so formados perto da superfcie do mar e so ento depositados em

    profundidades sem influncia das ondas. Formam camadas bastante regulares e

    homogneas e de espessuras finas devido deposio dominantemente

    gravitacional e de forma devagar. Outros depsitos carbonticos em ambientes de

    guas profundas ocorrem devido a fluxos gravitacionais de carbonatos

    previamente depositados nos taludes das plataformas carbonticas. Esses fluxos

    gravitacionais podem ocorrer tanto para depsitos terrgenos como para depsitos

    carbonticos e apresentam espessuras variveis. Ocorrem devido ao de

    terremotos, instabilidade de taludes, tempestades e variaes do nvel do mar,

    entre outros.

    Como so compostas geralmente por sedimentos argilosos, suas formaes

    proporcionam pequena porosidade, porm em alguns casos so frgeis e

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    suscetveis a fraturas e por isso, podem gerar bons reservatrios de

    hidrocarbonetos.

    1.3.4.Ambientes terrestres

    Figura 1.4. Estalagmites e Estalactites

    Depsitos carbonticos tambm podem ser encontrados em ambientes no-

    marinhos em formao de dunas, lagos e cavernas. Sedimentos arenososcarbonticos soltos em ambientes marinhos prximos costa, em momentos de

    mar baixa so transportados pela ao do vento e formam dunas carbonticas.

    Em lagos salinos pode-se ter a presena de camadas finas de depsitos

    carbonticos de tamanho argiloso que so distinguidos dos depsitos marinhos

    pela ausncia de fauna marinha e presena de outros sedimentos no-marinhos. Os

    depsitos carbonticos em cavernas mais comuns so as estalactites e estalagmites

    (Figura 1.4.) que se formam em cavernas de calcrios atravs da gua da chuvaque transporta minerais carbonticos. Esse ambiente deposicional no faz parte

    desse trabalho e seus processos no foram levados em conta nos modelos que se

    concentram na produo carbontica em ambientes exclusivamente marinhos.

    1.4.Modelagem numrica

    O que so modelos? Modelos so ferramentas intelectuais para facilitar oentendimento de processos complexos (Lehr, 1990). Em todas as cincias o

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    conhecimento dos processos e relaes obtido desenvolvendo modelos e

    testando seus resultados em comparao s observaes (Hardy, 1994). Muitos

    modelos so inicialmente somente conceituais, porm alguns evoluem para uma

    formulao matemtica e podem gerar previses quantitativas com as seguintes

    vantagens: geram hipteses menos ambguas e mais fceis de serem testadas,

    descartam hipteses que pareciam plausveis sugerindo novas nunca

    anteriormente pensadas e abrem o caminho para perguntas mais precisas (Paola,

    2000). Um dos focos principais da geologia sedimentar reside em determinar os

    processos pelos quais as bacias sedimentares so preenchidas, conjunto esse de

    fatores implcitos no conceito de modelo geolgico (Faccion, 2002). Com os

    avanos recentes em geologia, ocasionando o surgimento da estratigrafia ssmica

    (Posamentier et al., 1988, Vail et al.,1991) e gentica (Cross, 1988, Homewood

    et al.,1992) nos ltimos trinta anos, os conhecimentos dos processos da geologia

    sedimentar cresceram significativamente para escalas amplas de tempo e espao

    (Granjeon, 1997). Diferentes tipos de modelos so utilizados por gelogos para

    modelar tais processos:

    Modelos conceituais:baseado na teoria e observaes de casos reais

    (por exemplo, afloramentos).

    Modelos fsicos: so modelos experimentais, visando reproduzir

    fenmenos geolgicos sob condies quantitativas controladas.

    Modelos numricos:utilizam algoritmos matemticos para simular

    e tentar reproduzir a geometria e a coerncia quantitativa de um

    modelo geolgico (Carvalho, 2003).

    Os modelos numricos podem ser divididos em dois grupos principais,

    modelagem determinstica e estocstica. Na determinstica no utilizado nenhum

    elemento de natureza aleatria, para modelagens com as mesmas condies

    iniciais e mesmos dados de entrada, obtm-se os mesmos resultados. Na

    estocstica, elementos aleatrios so utilizados na modelagem, podendo gerar

    diferentes resultados partindo dos mesmos dados de entrada e mesmas condies

    iniciais.

    Na modelagem estratigrfica pode-se partir de dados e condies iniciaisdeterminados e chegar a uma situao sedimentar final (modelagem direta), ou

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    partir de uma geometria conhecida e determinar os parmetros e processos que

    originaram essa geometria (modelagem inversa) (Carvalho, 2003). A Figura 1.5.

    ilustra esses conceitos utilizados na modelagem numrica estratigrfica com

    exemplos de algumas tcnicas conhecidas.

    Figura 1.5. Ilustrao dos diferentes tipos de modelagem numrica utilizados na

    geologia sedimentar.

    Modelos devem ser vistos com dois nveis de confiabilidade (Watney et al.,

    1999):

    1. Como ferramentas de aprendizagem para estudar diferenteshipteses.

    2. Como ferramentas de clculo preciso para responder perguntas

    especficas.

    Erros que comprometem a confiabilidade de um modelo podem aparecer em

    distintas formas. O erro pode estar na formulao matemtica do modelo, na

    simplificao do modelo real, nos erros numricos, no tratamento das incertezas e

    imprecises dos parmetros de entrada ou na variabilidade de sistemas naturais

    complexos. de fundamental importncia a aquisio de bons dados para auxiliar

    (Faccion, 2002)

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    a modelagem. Sem bons dados no se obtm bons resultados. Para o uso de

    modelos com fins do melhor entendimento de fenmenos geolgicos crucial a

    obteno de boas observaes geolgicas (Dalmasso et al.,2001).

    Uma grande vantagem da modelagem numrica na geologia sedimentar

    reside nas escalas de tempo geolgicas, impossveis de serem modeladas

    experimentalmente. Esses modelos podem testar diferentes hipteses a partir da

    interao e variaes dos parmetros controladores, podendo assim simular e

    quantificar os processos fsicos e biolgicos para reproduzir geometrias e

    morfologias de corpos sedimentares (Watney et al., 1999). Modelando reas

    geolgicas j conhecidas detalhadamente atravs de dados ssmicos do campo,

    possvel calibrar os parmetros do modelo numrico para assim poder simular

    outras reas carentes de dados. Modelos dessas reas so muitas vezes obtidos

    extrapolando-se os dados conhecidos. Porm, com um modelo numrico

    estratigrfico baseado em conceitos fsicos e biolgicos e utilizando algoritmos

    matemticos consegue-se muito mais preciso nos resultados. A modelagem

    estratigrfica conecta os processos sedimentares ao produto geolgico de maneira

    mais direta comparada geoestatstica e oferece mais entendimento da evoluo

    estratigrfica (Warrlich et al.,2007).

    No caso mais especfico de sedimentao carbontica, difcil determinar

    quais processos geram hiatos, como acontece a expanso lateral das plataformas

    carbonticas e como so criados geometrias estratigrficas bastante complexas. O

    entendimento dessas complexidades e o estudo de diferentes situaes e suas

    consequncias so de grande importncia para ajudar a conceituar e modelar

    estratigrafias carbonticas (Burgess e Wright, 2003). Sabe-se que taxas de

    sedimentao carbonticas modernas so bastante elevadas (Bosscher e Schlager,

    1992). Comparando-as com taxas retiradas a partir dos estudos de depsitosantigos, verifica-se que essas so significativamente inferiores, geralmente uma ou

    mais ordens de magnitude (Sadler, 1981, 1994, Schlager, 2000). Isso se deve

    principalmente ao fato de essas taxas serem geradas a longo prazo, incluindo

    mudanas geolgicas que podem afetar a evoluo da sedimentao carbontica,

    como afogamento por subsidncia tectnica e/ou elevao do nvel do mar, ou

    eroso elevada. Assim sendo, a modelagem numrica pode ajudar no

    entendimento desses fatores, testando diferentes hipteses e estudando seusresultados.

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    1.5.Motivao

    O primeiro contato do grupo de pesquisa do Tecgraf/PUC-Rio commodelagem geolgica sedimentar foi dada com o desenvolvimento do STENO,

    simulador numrico de sedimentao siliciclstica tridimensional com nfase nos

    processos deposicionais em ambientes de plataforma, talude e bacia (Carvalho,

    2003). O STENO (Figura 1.6. e 1.7.) distribui sedimentos siliciclsticos oriundos

    de aportes pr-definidos pelos ambientes deposicionais. Esses sedimentos so

    transportados segundo uma soluo simplificada das equaes de Navier-Stokes

    onde aplicada a Segunda Lei de Newton Equao da Continuidade, para

    simulao do fluxo bidimensional de um fluido incompressvel, em regime

    permanente, no-viscoso, em funo da batimetria da regio a ser modelada

    atravs de uma malha regular definido pelo usurio. O STENO trabalha com

    tempo de simulao na ordem de milhes de anos, com passos de tempo de

    milhares de anos e em malhas de centenas de km2contendo clulas de 100 m2a 5

    km2

    .

    Figura 1.6. Tela principal do STENO e seu dilogo de aportes de sedimentos.

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    Figura 1.7. Modelo no STENO com sedimentos clsticos aps alguns passos da

    simulao

    Inicialmente, o STENO somente incorporava modelos de sedimentao

    siliciclstica e aps um tempo adicionou mdulos de sedimentao carbontica

    baseados nos modelos desenvolvidos no simulador SEDPAK (Kendall et al.,

    1991a). Porm, essa implementao, acabou sendo subutilizada devido s

    diferenas nas escalas de atuao dos modelos siliciclstico e carbontico e no-

    definio dos diferentes ambientes responsveis pela produo carbontica.

    Os depsitos carbonticos sempre tiveram bons potenciais para

    reservatrios de hidrocarbonetos e, por isso, suas formaes sempre foram

    bastante estudadas. Aps a descoberta dos reservatrios do pr-sal, houve um

    boom de interesse em rochas carbonticas e suas formaes para auxiliar no

    descobrimento de novos reservatrios de maneira mais eficiente. Com base na

    experincia adquirida em modelagem geolgica pelos trabalhos no STENO, e a

    crescente demanda por modelos de sedimentao carbontica, foi iniciada uma

    pesquisa pelo presente grupo de pesquisa, o que motivou este trabalho.

    1.6.Objetivos

    O principal objetivo desse trabalho o desenvolvimento de CarbSM

    (Carbonate Sedimentation Model), um software para simulao computacional

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    tridimensional da formao e evoluo de plataformas carbonticas. O modelo

    direto e determinstico leva em conta produo carbontica in situ de trs

    diferentes ambientes deposicionais: guas rasas e abertas (reas de borda de

    plataformas), guas rasas e restritas (interior de plataformas) e guas profundas.

    Cada um desses ambientes trabalha com taxas mximas de crescimento

    carbontico que so restringidos atravs de uma srie de funes que levam em

    conta a presena da luz, condies marinhas e taxas de sedimentao terrgena.

    Calculando essas funes de restrio para cada ponto do modelo, uma taxa

    resultante encontrada para cada passo de tempo. O principal controle do espao

    disponvel para sedimentao a curva de variao relativa do nvel do mar. Os

    passos de tempo utilizados no modelo so na ordem 0.1-10 kA e a malha com

    resoluo de 100-500 m. Inicialmente, um dos objetivos desse trabalho foi de criar

    um modelo especfico para o caso dos depsitos encontrados na camada pr-sal no

    Brasil. Essa hiptese foi descartada aps um tempo pesquisando, pois as

    caractersticas dos ambientes deposicionais dos reservatrios do pr-sal ainda so

    bastante nebulosas e seriam difceis de quantificar em um modelo matemtico.

    Por isso foi, preferencial iniciar-se no vasto mundo de sedimentao carbontica

    com um modelo mais geral.

    Para entrada de dados foi desenvolvida uma amigvel e intuitiva interface

    grfica e para melhor anlise dos modelos tridimensionais foram implementados

    ferramentas de visualizao interativa, como planos de corte e iso-superfcies, por

    exemplo. Todos os algoritmos e interfaces grficas foram desenvolvidos no

    ambiente MATLAB (The Mathworks Inc., 2008).

    Em relao aos principais programas estudados (ver prximo captulo), a

    principal vantagem em desenvolver o presente programa foi de ter um modelo

    bastante geral que possa simular diversos cenrios geolgicos, alm de ter umaboa interface grfica com ferramentas de visualizao tridimensional.

    PUC-Rio-CertificaoD

    igitalN0821354/CA