1979_3_345

8

Click here to load reader

description

analise institucional

Transcript of 1979_3_345

  • AnBllse Pslcolglca (19791, 11, 3:-

    Instituio e institucionalistas

    ADELINO DUARTE GOMES *

    I - GNESE SOCIAL E GNESE TEORICA

    Como tudo o que institudo, instituinte ou em vias de institucionalizao. a Anlise Insti- tucional um produto social-histrico. A sua gnese terica s poder ser entendida em rela- o com a gnese social da poca actual: g- nese da sociedade industrial e ps-industrial: gnese das Cincias Sociais; gnese das novas formas de organizao, de managernent e de diviso social do trabalho; gnese e importn- cia crescente do sector tercirio; gnese das no- vas formas de produo e de informao. O movimento institucionalista um produto da crise generalizada das instituies de que alguns analisadores tm vindo a surgir: o absentismo, a passividade ou o mutismon das massas, o drop-out, a crise da escola, do hospital, da famlia, da associao cultural, do partido, do sindicato, da igreja, etc. Antes de existir como objecto de conhecimento, a Anlise Institu- cional j existia na realidade social da sociedade em crise. Os momentos quentes da histria no esperaram pelos analistas ou tericos insti- tucionalistas para se produzirem; a Anlise Ins- titucional, enquanto teorizao, o produto dos momentos frios que, entretanto, sobrevieram.

    * Psiclogo. Professor-Adjunto de Psicossociologia das Organizaes no I.S.P.A.

    A aco produz, constantemente, teoria; a g- nese social precede e produz a gnese terica.

    Como definir a Anlise Institucional? Um movimento, uma ideologia, uma corrente de pensamento, uma teoria social?

    Historicamente, a Anlise Institucional a tentativa de apresentao de alguns conceitos originais elaborados nos ltimos dez anos em trs ou quatro frentes profissionais e militantes.

    Sociologicamente, a Anlise Institucional um campo em que um novo tipo de trabalho social se pratica: nas organizaes e instituies em que se desenvolve a prtica dos institucio- nalistas.

    Ao nvel universitrio, a Anlise Institucio- na1 um conjunto terico-prtico a confrontar com outros, tais como: a dinmica de grupos, a psicanlise, o estruturalismo, a teoria das or- ganizaes, a anlise sistmica, etc.

    Sempre inacabada, a Anlise Institucional experimenta actualmente e desde o incio uma dificuldade, terica e prtica, em se definir. A conceptualizao de instituio apenas est co- meada e para isso os institucionalistas tm-se servido dos contributos da psicossociologia, da sociologia das organizaes, de Freud e de Marx, aparecendo estes, a maior parte das ve- zes, mais justapostos do que articulados. A pro- fuso e confuso de palavras, assim como a polissemia dos termos reinantes no movimento

    345

  • institucionalista se, por um lado, contriburam para a sua divulgao e sucesso, por outro, con- duziram-no queda e ii deriva.

    Neste breve artigo tentarei situar historica- mente a evoluo da Anlise Institucional e, em seguida, apresentar as diferentes correntes ins- titucionalistas.

    - 1966: Lapassade publica Groupes, Orga- nisutions et Znstitutions, livro em que est bem presente o pensamento sartreano de Critique de lu Raison Diuiectique.

    -Com os acontecimentos de Maio 68, a anlise institucional socializa-se, quebrando os crculos restritos em que, at ento, perma- necia.

    -Em 1970, a tese de R. Lourau L'unaiyse institutionnelle ser acolhida favoravelmente pelas correntes de opinio surgidas de Maio 68.

    'I - A PRoDUo SCIAL-HISTRICA DA ANALISE INSTITUCIONAL

    Se bem que o termo instituio tenha uma longa histria e seja retido como objecto da sociologia por Durkleim, o termo institucional surge pela primeira vez em 1952, numa revista portuguesa (Daumezon, 1952).

    -A partir dos anos 40-42, no hospital de

    Lourau, no seguimento dos desenvolvimentos tericos de Castoriadis, surgir como o terico mais notvel da instituio.

    Na evoluo da Anlise Institucional, trs fases podem ser assinaladas (Lapassade, 1973):

    Saint-Alban, sob a influncia do Dr. Tosquelles, desenvolver-se- a psicoterapia institucional -- conjunto terico-prtico em que a noo de ins- tituio se confunde, a maior parte das vezes, com a noo de estabelecimento, organizao.

    -Em 1962, surge a pedagogia institucional nos estgios de Royaumont. - Em 1963-64, a pedagogia institucional di-

    vide-se em duas tendncias: uma autogestion- ria, com um carcter marcadamente poltico, com Lapassade, Lourau, Lobrot, Fonvieille, etc.; outra, mais teraputica e influenciada pela psicanlise lacaniana, com F. Oury e A. Vas- quez. Uma primeira ligao entre a primeira corrente e a psicoterapia institucional, surge em 1963, atravs dos contactos de Lourau e Lapassade com Tosquelles. - 1964-65: C. Castoriadis, sob o pseudni-

    mo de P. Cardan, publica, em Socialisme ou Burbarie, uma anlise institucional do capita- lismo. Castoriadis o primeiro terico do mo- vimento institucionalista que, a partir de uma leitura lingustica, acabar com a confuso en- tre instituio e organizao, definindo institui- o como uma rede simblica, socialmente sancionada, em que se combinam em propor-

    Primeira fase: a instituio

    A anlise est centrada sobre o conceito de instituio. A teoria da instituio, iniciada por Castoriadis, no campo poltico (crtica radical do marxismo enquanto cincia da revoluo e da sociedade), dar uma importncia cada vez maior ao instituinte contra o institudo, privi- legiando o conflito entre essas duas instncias e os processos activos de institucionalizao. A interrogao do acto de instituir far sobressair a naturalizao das instituies, o esqueci- mento (Efeito Weber) das condies scio-his- tricas que as produzem. As novas instituies (contra-instituies) produzidas nos aomentos quentes (revolues) acabaro por regredir e desaparecer com a ascenso do novo poder, passando a constituir o inconsciente colectivo- o inconsciente poltico.

    Durante esta primeira fase, o conceito de instituio, teorizado por Lourau com o rigor epistemolgico possvel, tomar-se- a panaceia do discurso de muitos educadores e terapeutas. Lourau j tinha, no entanto, chamado a aten- o para a polissemia, equvoco e problem- tica do conceito de instituio, numa perspec- tiva dialctica.

    es e relaes variveis, uma componente fun- cional e uma componente imaginria. (Casto- riadis, 1975).

    -Polissemia do conceito, porque os trs momentos: universalidade ou unidade positiva, particularidade ou unidade negativa, singulari-

    346

  • dade ou negao da negao, so, cada um por sua vez. retidos ou esquecidos.

    -Equvoco do conceito, porque se compe de institudo e instituinte em relaes dialc- ticas.

    A sociedade -institudo e instituinte- histdria, auto-alterao (Castoriadis, 1975). Ins- titudo e instituinte. so o desdobramento, o desenvolvimento do imaginrio social que tanto pode ser criador como logrador (leurrant). O institudo a encamao, a materializao do instituinte e no o seu oposto. - Problemtica do conceito, porque para

    revelar a instituio se toma necessrio o tra- balho dos analisadores.

    O analisador revela, desoculta, o negativo das instituies sociais cujas relaes de clas- ses esto ocultas, ainvisveis,

    Nesta primeira fase, a imbricao dinmica e tridimensional teorizada por Lourau na dia- lectizao do conceito de instituio, nem sem- pre seguida coerentemente pelos seus inicia- dores que, esquecendo as relaes entre insti- tudo e instituinte (o institudo com as suas figuras/formas estveis, as suas estabilidades provisrias, necessrio para permitir a en- camao, a materializao social-histrica do imaginrio), se perdem, por vezes, no indivi- dualismo e no militantismo frgil incapaz de se dotar de estabilidades provisrias e de um mnimo de coerncia e de organizao terica e prtica.

    Segunda fase: o analisador

    A anlise est centrada sobre o conceito de analisador, seu aprofundamento e transforma- o. O conceito, retirado da psicoterapia insti- tucional (Torrubia e Guattari), transformado e desenvolvido sob a influncia da exploso dos analisadores de Maio 68. A presena-au- sncia da instituio no se apresenta a obser- vao imediata, nem pode ser analisada atravs de uma anlise puramente terica ou de uma tomada de conscincia, mas atravs de analisa- dores naturais e/ou construidos. No a an- lise que prepara a crise institucionai; esta

    que produz aquela e a socializa (Lapassade, 1973). Os analisadores de Maio 68 produzem uma inverso conceptual: o analisador que produz a anlise e o analista; o trabalho dos analisadores precede e funda o trabalho de anlise. I3 a inverso da relao entre analista e analisador; o primado do segundo sobre o primeiro. O analisador

  • Parece, um tanto ou quanto obscurantista, afir- Hess prope uma anlise implicacional, in-

    I

    mar que o analisador analista, anlise, inde- pendentemente do trabalho de leitura, feito sobre e a partir do analisador. O analisador anlise potencial, pretexto para anlise. No se lhe pode, nem se lhe deve retirar o carcter instrumental que o especifica, (Ardoino, 1977).

    Terceira fase: a implicao A anlise passa a centrar-se sobre o conceito

    de implicao. Com a introduo deste con- ceito, pretendem os institucionalistas negar a neutralidade cientfica, consequncia lgica da desvalorizao do analista. O mito do analista des-construdo, desmontado; o analista deve implicar-se. falar dos seus problemas, dos seus desejos (cf. Lapassade, 1973). Produtor e pro- duto esto ligados um ao outro (Efeito Heisen- berg). Trata-se de ultrapassar as iluses posi- tivistas e cientistas, elucidando a relao do investigador com a sua produo, o seu objecto de investigao, a relao ao saber, ao ter e ao poder.

    O conceito de implicao pretende substituir o conceito de contratransferncia institucional, introduzido por Gantheret (cf. Lapassade, 1975). Este conceito permanece, contudo, bastante equvoco e a sua abordagem varia segundo as diferentes correntes institucionalistas.

    Lapassade considera que i?~ implicao pol- tica se toma necessrio acrescentar a implica- o emocional, introduzindo o desejo na an- lise e negando a sua compatibilidade terico- -prtica com a Cincia, sobretudo quando se trata do desejo heterodoxo, marginal e cantb, no legitimado socialmente: importa desocultar as mscaras, a base material do discurso, a re- lao ao dinheiro (cf. Lapassade, 1975).

    Lourau opor a esta dmarche dionisaca uma perspectiva

  • das organizaes e psicanlise e retiram con- ceitos de Mam e de Freud, estes relidos de forma mais ou menos ortodoxa por Althusser, Luckacs, Gramsci, Goldmann, Lefebvre e por Lacan, M. Klein, Reich ou E. Fromm.

    Uma primeira forma de situar as diferentes correntes institucionalistas, seria distinguir os trs sectores em que, particularmente, foram afirmadas as intenes de Anlise Institucional: psiquiatria, educao e interveno. Outra for- ma de situar as correntes institucionalistas seria a sua classificao segundo o grau de importn- cia acordada i3 luta poltica, . psicossociologia ou . psicanlise lacaniana.

    Partindo das prticas sociais e das publica- es referentes i3 instituio, creio poder dis- tinguir quatro correntes no movimento institu- cionalista, as quais passarei a descrever de for-

    Os anti-institucionalistas (italianos, anglo-sa- xes) operaram um deslocamento no pensa- mento institucionalista, colocando-se no exte- rior da instituio.

    Entre as duas figuras principais desta cor- rente, desenha-se uma clivagem: por um lado, uma tendncia esttico-sociolgica ou econ- tra-sociolgica em Lourau, que atribui muita importncia aos analisadores sociais; e. por ou- tro, uma tendncia eexistencialo-poltica, em Lapassade, que valoriza ou sobrevaloriza o ana- lisador desvio, a crisanlise, a transanlise, em direqo ao movimento potencialista ameri- cano. Lourau e Lapassade definem duas moda- lidades ou dois investimentos diferentes e com- plementares da Anlise Institucional em acto - a socianlise.

    A diferena entre Anlise Institucional gene- ma resumida:

    1. Anlise Znstitucional scio-analtica Trata-se da corrente desenvolvida por

    Lourau e G. Lapassade e por uma srie de vestigadores que eles formaram: R. Hess, Savoye, P. Ville, etc. Prximos da conceptuali- zao desenvolvida por este grupo, encontram- -se J. Ardoino e R. Barbier (este ltimo tendo trabalhado sob a orientao de R. Lourau e J. Ardoino). Esta corrente permanece fran- cesa, parisiense (de Vincennes), com um dis- curso perifrico, produzido a partir do cen- tro.

    No interior desta corrente convm distinguir duas orientaes bastante diferentes: a esquizo- -anlise e a socianlise. aAs publicaes da nossa corrente, particularmente a corrente so- ciolgica lanada por Lapassade e por mim, e distinta da tendncia psicanaltica animada por Guattari e pelo C.E.R.F.I., do uma ideia im- perfeita de tudo o que se agitou e agita ainda a coberto da Anlise Institucional (Lourau, 1976).

    Esta corrente reconhece a contribuio fun- damental e estabelece relaes com os anti-ins- titucionalistas: antipsiquiatria (Basagia, Coo- per) e antipedagogia (Illich, Ceima, etc.).

    ralhada e socianlise depende bastante dos au- tores (cf. Lapassade, 1973; Ardoino. 1977; Hess, 1978). semelhana de Ardoino, adopta- rei a seguinte distino relativa & Anlise Insti- tucional, baseada no conceito de analisador:

    -Anlise Institucional Generalizada: a an-

    R. in- A.

    lise institucional baseada em analisadores his- Idricos, como por exemplo: Maio 68 (Ardoino, 1977); a comuna de 1871 (Lourau e Lapassade, 1971); o 25 de Abril (A. Gomes, 1979). - Anlise Znstitucional Restrita: a anlise

    institucional baseada em analisadores sociais, como por exemplo: Lip (Lourau, 1977); a an- lise do movimento potencialista (Barbier, 1977); o psicanalismo (Castel, 1976).

    -Anlise Institucional em acto: a anlise institucional baseada na utilizao de analisa- dores construdos:

    a) com fins teraputicos - psicoterapia ins-

    b) com fins pedaggicos - pedagogia insti-

    c) com fins interventivos - smiunlise.

    titucional;

    tucional;

    2. Sociopsicanlise institucional

    Trata-se de um mtodo de anlise institu- cional fundado por volta de 1972 pelo psicana- lista mamizante G. Mendel, tendo inicialmente

    349

  • apenas a referncia psicanaltica. Mendel pa- rece ignorar as outras correntes institucionalis- tas. A sociopsicanlise e a socianlise desen- volvem-se como duas paralelas euclidianas, isto , sem nunca se encontrarem (Ardoino, 1971).

    Na sociopsicanlise as noes de transversa- lidade e de implicao no so levadas em linha de conta, o que tem como consequncia uma concepo muito durkheimiana de instituio que no se dissocia da concepo de organi-

    A sociopsicanlise um mtodo cientfico de anlise colectiva que toma em considerao as manifestaes do inconsciente, a problem- tica institucional, e a pertena de cada traba- lhador, no interior da instituio, a uma classe definida pelo seu lugar no processo de produ- o (Mendel, 1972). A ateno dos sociopsi- canalistas, na sua prtica institucional, incide sobre o afenmeno-autoridade nas suas di- menses pr-edipianas e nas suas bases polti- cas. A sociopsicanlise pretende fazer a anlise dos grupos sociais homogneos nas instituies, a fim de permitir a desocultao do poltico e a elaborao das posies e da conscincia de classe social, visando, atravs de vrias sesses, com todos os elementos (psico-afectivos, in- conscientes, institucionais, polticos) a desocul- tao da luta de classes institucionais e a re- cuperao (recouvrernent) do poder de classe institucional. realizadas pela prpria classe.

    A abordagem sociopsicanaltica parte da ideia de descondicionamento da autoridade, ao qual tende a humanidade atravs de um es- foro de libertao. Uma segunda ideia de Mendel o carcter no convincente do socia- lismo estabelecido: trata-se, portanto, de ajudar os grupos e os indivduos institudos a ascender A maturao do Ego Poltico, isto , a recu- perar (recouvrer) o seu poder social.

    O Poder institudo, para evitar a sua parti- lha, oculta o conflito ao nvel poltico e psico- liza-o. Quando os conflitos de classe no se podem desenvolver, a sua expresso faz-se ao nvel psquico e o esquema (schrne) que o re- vela o esquema familiar (Mendel, 1972). A regresso do poltico ao psquico opera-se

    zao.

    quando os conflitos de classe no podem ser consciencializados nem expressos num conflito de classes, quando a classe social se v impos- sibilitada de organizao ou quando a pertena e a conscincia de classe no podem ser devi- damente reconhecidas. Quando as questes po- lticas e sociais no podem receber uma res- posta especfica, ento os indivduos recorrem ao nvel subjacente, o psquico, para exprimir as tenses sociais.

    As contribuies tericas mais relevantes da sociopsicanlise parecem-me ser: a) a concep- tualizao da regresso do poltico ao psico- -familiar, tal qual se estruturou durante a infn- cia; b) o papel psicologizante e de ocultao que o Poder faz desempenhar A psicossociolo- gia; c ) o trabalho para desvendar o poder e in- troduzir o prazer do Acto-Podem.

    O mtodo sociopsicanaltico permanece pr- ximo da dinmica de grupos e a importncia acordada ao nico mestre, -Mendel- as- sim como a sua pertena primeira escola psi- canaltica, presta-se s crticas formuladas por Castel relativas ao psicanalismo.

    A teorizao desta corrente no esclarece de maneira original a especificidade da realidade institucional.

    3. Sociologia institucionalista ou anlise institucional de inspirao sociolgica

    Segundo R. Barbier, a sociologia institucio- na1 tem como perspectiva a referenciao (re- prage), a descodificao e a descnptagem (dcryptage) do campo institucional singular. O seu objectivo contribuir para o conheci- mento (imperfeito) da hipercomplexidade da prtica num determinado ponto da aco (Bar- bier, 1977). Trata-se do que Lourau chama ca anlise institucional sobre papel. Esta corrente no visa directamente a interveno ou a mu- dana social, mas a sua investigao situa-se ao nvel das relaes que os homens mantm com as suas instituies, sobretudo a escola. o hos- pital e a priso. So exemplo desse tipo de in- vestigao os artigos publicados na revista To- piques (Donzelot, 1970) e que se inscrevem na

    350

  • linha dos trabalhos de Foucault sobre a lou- cura e de Bourdieu e Passeron sobre a violn- cia simblica da escola (cf. Bourdieu e Passe- ron, trad. port. 1978). O melhor exemplo deste tipo de investigao o trabalho de Cas- tel. tornado clssico, sobre o psicanalismo (Cas- tel, 1973). Nesta corrente pode ainda situar-se a anlise institucional do servio social (Bar- bier, 1973) e do movimento do potencial hu- mano (Barbier, 1977). assim como, at certo ponto, a anlise da instituio total (Goffmann, 1968).

    4. Conscienciulizuo institucional

    Sob esta designao considero uma quarta corrente institucionalista, se bem que no faa referncias explcitas ao movimento institucio- nalista nem exprima o desejo de lhe pertencer. Se, por um lado, esta corrente faz apelo a con- ceitos socioanalticos (como, por exemplo, as condies de interveno definidas por Lourau e Lapassade), sociopsicanalticos (regresso do poltico ao psquico e fenmeno-autoridade) e psicossociolgicos (cf. Sguier, 1976), por ou- tro lado, a socianlise e a sociopsicanlise des- conhecem o trabalho realizado pelo INODEP. Este desenvolve uma abordagem institucional especfica baseada numa metodologia pluridis- ciplinar e dialctica, aelaborada em funo dos locais de trabalho ou de acgo, em que os actores tm um objectivo militante, (Sguier, 1976). Mais do que a teorizao ou a elabora- o de conceitos, a procura de grelhas de Iei- tura e de pistas de investigao tendo como objectivo uma prtica militante, que suscita a actividade do INODEP. No se trata de produ- zir instrumentos de anlise cientfica mas pon- tos de referncia que permitam desmontar e desocultar o no-dito, a ambiguidade que mas- cara os mecanismos institucionais. Trata-se de uma corrente animada pelo pensamento de Paulo Freire sobre a consciencializao em que as referncias crists se vm juntar s de Marx e de Freud. Em relao s anteriores, esta cor- rente no-universitria. perifrica e com-

    prometida)) na transformao do Terceiro Mun- do, orientada para a aco cultural, a interven- o comunitria, pedaggica e scio-poltica.

    A contribuio principal desta corrente julgo poder situ-la ao nvel metodolgico numa perspectiva militante e libertadora, assim como o conceito de ocultao recproca do poltico e do psquico. Em muitas instituies os pro- blemas afectivos, relacionais, etc. (dependentes do campo psicolgico), so interpretados e tra- tados como problemas ideolgicos ou estrat- gicos quando conscientemente no desfigurados (travestis) por essa veste. De igual modo, os chamados problemas poiticos so, por vezes, problemas de ordem psicolgica, (Sguier, 1976).

    As organizaes institudas toleram dificil- mente os analisadores que constituem os des- viantes ideolgicos, organizacionais e libidinais. O poder institudo recorre facilmente ao psico- logismo que reduz as questes polticas, os des- vios ideolgicos e organizacionais ao nvel ps- quico ou psicofamiliar; os desviantes so psi- quiatrizados, psicologizados. No p10 oposto, situa-se um certo militantismo cego e em pro- cesso constante de radicalizao sem bases (non tuy) nem auto-analisado, (Sguier, 1976) qus pretende, atravs de um reducionismo sim- plista, negar a autonomia e a especificidade do psicolgico, esquecendo ou denegando a reali- dade histrica das lutas pelo poder. Se, ao nvel das Cincias Sociais, a prtica corrente da ideo- logia dominante, que se reveste de cientifici- dade, consiste na explicao reducionista que visa a ocultao do poltico; o reducionismo inverso toma-se claro quando as foras insti- tuintes positivizam a sua negatividade numa perspectiva universalista e alienante.

    Nesta corrente a conceptualizao institucio- na1 no desenvolvida nem rigorosa, ao con- trrio da metodologia e se, por vezes, surgem os termos instituinte e institudo, o termo insti- tuio geralmente tomado no sentido de orga- nizao e a anlise institucional visa as inter- -relaes entre a sociedade e a instituioD (Sguier, 1976).

    351

  • IV - CONCLUSO Esta apresentao sucinta da anlise institu-

    cional necessitaria ser completada pela elucida- @o de alguns postulados e pela apresentao dos conceitos fundamentais, tarefa que o espao reservado a este artigo no comporta.

    Rl3SUMl3 L'article prsente la gense sociale et Za ge-

    nse thorique du mouvement institutionnaliste, une perspective historique sur Z'laboration des concepts et ses diffrentes phases. les diffrents courants institutionrialistes: I ) l'analyse institu- tionnelle socianalytique: 2) la sociopsychanalyse institutionnelle; 3) la sociologie institutionneile et 4) la conscientisation imtitutionnelle.

    REFERNCIAS ARDOINO, J. (1 97 1) - Propos actuels sur t'duca- ARDOINO, J. (1 977) - Education et Politique, Gau-

    BARBIER, R. (1977) - La recherche-action dans

    tion. Gauthier-Villars, Paris.

    thier-Villars, Paris.

    Pintitution ducative, Gauthier-Villars, Paris.

    BOURDIEU, P. e PASSERON, J. C. (1978) -A Reproduo: elementos para uma teoria do sis- tema de ensino, Editorial Vega, Lisboa.

    CASTEL, R. (1976)-Le psychanalysrne, 10/18, Paris. CASTORIADIS. C. I1 975) - L'institurion imapinaire

    de Ia socit; Seua, Paris. I

    DAUMEZON. G. e KOECHLIN. Ph. 1952)-La psychotrapie institutionnelle franais contempo- mine, in Anais Portugueses de Psiquiatria, 4, 1V.

    DONZELOT, I. (1970) -Espace clos, travail et mo- ralisation, gense et transformation parallles de Ia prison et de I'hpital psychitriques, in Topi- que, n.O 3.

    DUBOST, J. (1973) -aNote s u r les mouvements institutionnelsn, in Connexion, n.O 7.

    GOFFMANN, E. (1968)- Asyles, Minuit, Paris. GOMES, A. (1979) - L'analyseur 25 avril, Mmoire,

    Facult de Psychologie et des Sciences de I'du- cation, Universit de Louvain.

    HESS, R. (1978)-Cenire et priphrie, Pnvat, Tou- louse.

    LAPASSADE, G. (1973) - Revista Cunnexiom. LAPASSADE, G. (1975) - Socianalyse et pofenriel

    humain, Gauthier-Villars. Paris. LOURAU. R. et LAPASSADE, G. (1 97 1) - aAnalyse

    de la Commune de 1871,. in Autogestion et So- cialisme, n.O 15.

    LOURAU, R. (1973) - Revista Connexiom. LOURAU, R. (1977) -L'analyseur Lip. 10/18, Paris. MENDEL., G. (1 972) - Sociojxychandyse, I , II,

    Payot, Paris. SEGUIER, M. (19776) -Critique imtitutionnelle et

    crativit collective, INODEP. L'Hannattan, Paris.

    352