1994 Res Conj Sma Ibama 1

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RESOLUÇÃO CONJUNTA SMA IBAMA/SP Nº 1, DE 17 DE FEVEREIRO DE 1994 O SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE E O SUPERINTENDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA EM SÃO PAULO , considerando o disposto no art. 23, Incisos VI e VII da Constituição Federal e a necessidade de se definir vegetação primária e secundária nos estágios pioneiro, inicial, médio e avançado de regeneração de Mata Atlântica em cumprimento ao disposto no art. 6º do Decreto nº 750, de 10 de Fevereiro de 1993, na Resolução CONAMA 10 de 10 de Outubro de 1993 e a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de exploração da vegetação nativa no Estado de São Paulo, resolvem: Art. 1º . Considera-se vegetação primária aquela vegetação de máxima expressão local, com grande diversidade biológica, sendo os efeitos das ações antrópicas mínimos, a ponto de não afetar significativamente suas características originais de estrutura e de espécie. Art. 2º . São características da vegetação secundária das Florestas Ombrófilas e Estacionais. § 1º . Em estágio inicial de regeneração: a. fisionomia que varia de savânica a florestal baixa, podendo ocorrer estrato herbáceo e pequenas árvores; b. estratos lenhosos variando de abertos a fechados, apresentando plantas com alturas variáveis; c. alturas das plantas lenhosas estão situadas geralmente entre 1,5 m e 8,0 m e o diâmetro médio dos troncos à altura do peito (DAP = 1,30 m do solo) é de até 10 cm, apresentando pequeno produto lenhoso, sendo que a distribuição diamétrica das formas lenhosas apresenta pequena amplitude; d. epífitas, quando presentes, são pouco abundantes, representadas por musgos, liquens, polipodiáceas, e tilândsias pequenas; e. trepadeira, se presentes, podem ser herbáceas ou lenhosas; f. a serapilheira, quando presente, pode ser contínua ou não, formando uma camada fina pouco decomposta; g. no subosque podem ocorrer plantas jovens de espécies arbóreas dos estágios mais maduros; h. a diversidade biológica é baixa, podendo ocorrer ao redor de dez espécies arbóreas ou arbustivas dominantes; as espécies vegetais mais abundantes e características, além das citadas no estágio pioneiro, são: cambará ou candeia (Gochnatia polimorpha), leiteiro (Peschieria fuchsiaefolia), maria-mole (Guapira spp), mamona (Ricinus communis), arranha-gato (Acacia spp), falso-ipê (Stenolobium stans), crindiúva (Trema micrantha), fuma-bravo (Solanum granulosoleprosum), goiabeira (Psidium guajava), sangra d'água (Croton urucurana), lixinha (Aloysia virgata), amendoim-bravo (Pterogyne nitens), embaúbas (Cecropia spp), pimenta-de-macaco (Xylopia aromatica), murici (Byrsonima spp), mutambo (Guazuma ulmifolia), manacá ou jacatirão (Tibouchina spp e Miconia spp), capororoca (Rapanea spp), tapiás (Alchornea spp), pimenteira brava (Schinus terebinthifolius), guaçatonga (Cascaria sylbestris), sapuva (Machaerium stipitatum), caquera (Cassia sp). § 2º . Em estágio médio de regeneração: a. fisionomia florestal, apresentando árvores de vários tamanhos; b. presença de camadas de diferentes alturas, sendo que cada camada apresenta-se com cobertura variando de aberta à fechada, podendo a superfície da camada superior ser uniforme e aparecerem árvores emergentes; c. dependendo da localização da vegetação a altura das árvores pode variar de 4 a 12 m e o DAP médio pode atingir até 20 cm. A distribuição diamétrica das árvores apresenta amplitude moderada, com predomínio de pequenos diâmetros podendo gerar razoável produto lenhoso; d. epífitas aparecem em maior número de indivíduos e espécies (líquens, musgos, hepáticas, orquídeas, bromélias, cactáceas, piperáceas, etc.), sendo mais abundante e apresentando maior número de espécies no domínio da Floresta Ombrófila; e. trepadeiras, quando presentes, são geralmente lenhosas; f. a serapilheira pode apresentar variações de espessura de acordo com a estação do ano e de um lugar a outro; g. no subosque (sinúsias arbustivas) é comum a ocorrência de arbustos umbrófilos, principalmente de

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  • RESOLUO CONJUNTA SMA IBAMA/SP N 1, DE 17 DE FEVEREIRO DE 1994

    O SECRETRIO DO MEIO AMBIENTE E O SUPERINTENDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIOAMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVVEIS - IBAMA EM SO PAULO, considerando odisposto no art. 23, Incisos VI e VII da Constituio Federal e a necessidade de se definir vegetao primriae secundria nos estgios pioneiro, inicial, mdio e avanado de regenerao de Mata Atlntica emcumprimento ao disposto no art. 6 do Decreto n 750, de 10 de Fevereiro de 1993, na Resoluo CONAMA10 de 10 de Outubro de 1993 e a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de explorao davegetao nativa no Estado de So Paulo,

    resolvem:

    Art. 1 . Considera-se vegetao primria aquela vegetao de mxima expresso local, com grandediversidade biolgica, sendo os efeitos das aes antrpicas mnimos, a ponto de no afetarsignificativamente suas caractersticas originais de estrutura e de espcie.

    Art. 2 . So caractersticas da vegetao secundria das Florestas Ombrfilas e Estacionais.

    1 . Em estgio inicial de regenerao:

    a. fisionomia que varia de savnica a florestal baixa, podendo ocorrer estrato herbceo e pequenasrvores;

    b. estratos lenhosos variando de abertos a fechados, apresentando plantas com alturas variveis;

    c. alturas das plantas lenhosas esto situadas geralmente entre 1,5 m e 8,0 m e o dimetro mdio dostroncos altura do peito (DAP = 1,30 m do solo) de at 10 cm, apresentando pequeno produtolenhoso, sendo que a distribuio diamtrica das formas lenhosas apresenta pequena amplitude;

    d. epfitas, quando presentes, so pouco abundantes, representadas por musgos, liquens,polipodiceas, e tilndsias pequenas;

    e. trepadeira, se presentes, podem ser herbceas ou lenhosas;

    f. a serapilheira, quando presente, pode ser contnua ou no, formando uma camada fina poucodecomposta;

    g. no subosque podem ocorrer plantas jovens de espcies arbreas dos estgios mais maduros;

    h. a diversidade biolgica baixa, podendo ocorrer ao redor de dez espcies arbreas ou arbustivasdominantes;

    as espcies vegetais mais abundantes e caractersticas, alm das citadas no estgio pioneiro, so: cambarou candeia (Gochnatia polimorpha), leiteiro (Peschieria fuchsiaefolia), maria-mole (Guapira spp), mamona(Ricinus communis), arranha-gato (Acacia spp), falso-ip (Stenolobium stans), crindiva (Trema micrantha),fuma-bravo (Solanum granulosoleprosum), goiabeira (Psidium guajava), sangra d'gua (Croton urucurana),lixinha (Aloysia virgata), amendoim-bravo (Pterogyne nitens), embabas (Cecropia spp), pimenta-de-macaco(Xylopia aromatica), murici (Byrsonima spp), mutambo (Guazuma ulmifolia), manac ou jacatiro(Tibouchina spp e Miconia spp), capororoca (Rapanea spp), tapis (Alchornea spp), pimenteira brava(Schinus terebinthifolius), guaatonga (Cascaria sylbestris), sapuva (Machaerium stipitatum), caquera(Cassia sp).

    2 . Em estgio mdio de regenerao:

    a. fisionomia florestal, apresentando rvores de vrios tamanhos;

    b. presena de camadas de diferentes alturas, sendo que cada camada apresenta-se com coberturavariando de aberta fechada, podendo a superfcie da camada superior ser uniforme e apareceremrvores emergentes;

    c. dependendo da localizao da vegetao a altura das rvores pode variar de 4 a 12 m e o DAPmdio pode atingir at 20 cm. A distribuio diamtrica das rvores apresenta amplitude moderada,com predomnio de pequenos dimetros podendo gerar razovel produto lenhoso;

    d. epfitas aparecem em maior nmero de indivduos e espcies (lquens, musgos, hepticas,orqudeas, bromlias, cactceas, piperceas, etc.), sendo mais abundante e apresentando maiornmero de espcies no domnio da Floresta Ombrfila;

    e. trepadeiras, quando presentes, so geralmente lenhosas;

    f. a serapilheira pode apresentar variaes de espessura de acordo com a estao do ano e de umlugar a outro;

    g. no subosque (sinsias arbustivas) comum a ocorrncia de arbustos umbrfilos, principalmente de

  • espcies de rubiceas, mirtceas, melastomatceas e meliceas;

    h. a diversidade biolgica significativa, podendo haver em alguns casos a dominncia de poucasespcies, geralmente de rpido crescimento. Alm destas, podem estar surgindo o palmito (Euterpeedulis), outras palmceas e samambaiaus;

    as espcies mais abundantes e caractersticas, alm das citadas para os estgios anteriores, so:jacarands (Machaerium spp), jacarand-do-campo (Platypodium elegans), louro-pardo (Cordia trichotoma),farinha-seca (Pithecellobium edevallii), aroeira (Myracroduon urundeuva), guarapuruvu (Schizopobiumparahyba), burana (Amburana cearensis), pau-de-espeto (Casearia gossypiosperma), cedro (Cedrela spp.),canjarana (Cabralea canjerana), aoita-cavalo (Luehea spp), leo-de-copaba (Copaifera langsdorfii),canafstula (Peltophorum dubium), embriras-de-sapo (Lonchocarpus spp), faveiro (Pterodon pubescens),canelas (Ocotea spp, Nectandra spp, Cryptocaria spp), vinhtico (Plathymenia spp), ararib (Centrolobiumtomentosum), ips (Tabebuia spp.), angelim (Andira spp.), marinheiro (Guarea spp.), monjoleiro (Acaciapolyphylla), mamica-de-porca (Zanthoxyllum spp.), tamboril (Enterolobium contortisiliquum), mandioco(Didimopanax spp.), araucria (Araucaria angustifolia), pinheiro-bravo (Podocarpus spp.), amarelinho(Terminalia spp), peito-de-pomba (Tapirira guianensis), cuvat (Matayba spp.), caixeta (Tabebuiacassinoides), cambu (Myrcia spp.), taiva (Machlura tinctoria), pau-jacar (Piptadenia gonoacantha),guaiuvira (Patagonula americana), angicos (Anadenanthera spp), entre outras;

    3 . Em estgio avanado de regenerao:

    a. fisionomia florestal, tendendo a ocorrer distribuio contnua de copas, podendo o dossel apresentarou no rvores emergentes;

    b. grande nmero de estratos, com rvores, arbustos, ervas terrcola, trepadeiras, epfitas, etc., cujaabundncia e nmero de espcies variam em funo do clima e local. As copas superioresgeralmente so horizontalmente amplas;

    c. as alturas mximas ultrapassam 10 m, sendo que o DAP mdio dos troncos sempre superior a 20cm. A distribuio diamtrica tem grande amplitude, fornecendo bom produto lenhoso;

    d. epfitas esto presentes em grande nmero de espcies e com grande abundncia, principalmentena Floresta Ombrfila;

    e. trepadeiras so geralmente lenhosas (leguminosas, bignoniceas, compostas, malpiguiceas esapocindceas, principalmente), sendo mais abundantes e mais ricas em espcies na FlorestaEstacional;

    f. a serapilheira est presente, variando em funo do tempo e da localizao, apresentando intensadecomposio;

    g. no subosque os estratos arbustivos e herbceos aparecem com maior ou menor freqncia , sendoos arbustivos predominantemente aqueles j citados para o estgio anterior (arbustos umbrfilos) eo herbceo formando predominantemente por bromeliceas, arceas, marantceas e heliconiceas,notadamente nas reas mais midas;

    h. a diversidade biolgica muito grande devido complexidade estrutura e ao nmero de espcies.

    i. alm das espcies j citadas para os estgios anteriores e de espcies da mata madura, comum aocorrncia de: jequitibs (Cariniana spp.), jatobs (Hymenae spp.),pau-marfim (Balfourodendronriedelianum), cavina (Machaerium spp.), paineira (Chorisia speciosa), guarant (Esenbeckialeiocarpa), imbia (Ocotea porosa), figueira (Ficus spp.), maaranduba (Manilkara spp. e Perseaspp.), suin ou mulungu (Erythryna spp.), guanandi (Calophyllum brasiliensis), pixiricas (Miconiaspp.), pau-d'alho (Galiesia integrifolia), perobas e guatambus (Aspidosperma spp.), jacarands(Dalbergia spp.), entre outras;

    4 . Considera-se vegetao secundria em estgio pioneiro de regenerao aquela cuja fisionomia,geralmente campestre, tem inicialmente o predomnio de estratos herbceos, podendo haver estratosarbustivos e ocorrer predomnio de um ou outro. O estrato arbustivo pode ser aberto ou fechado, comtendncia a apresentar altura dos indivduos das espcies dominantes uniforme, geralmente at 2 m. Osarbustos apresentam ao redor de 2 cm como dimetro do caule ao nvel do solo e no geram produtolenhoso. No ocorrem epfitas. Trepadeiras podem ou no estar presentes e, se presentes, descontnuae/ou incipiente. As espcies vegetais mais abundantes so tipicamente helifilas, incluindo forrageiras,espcies exticas e invasoras de culturas, sendo comum ocorrncia de: vassoura ou alecrim (Baccharisspp), assa-peixe (Vernonia spp), cambar (Gochnatia polymorpha), leiteiro (Peschieria fuchsiaefolia), maria-mole (Guapira spp.), mamona (Ricinus communis), arranha-gato (Acacia spp), samambaias (Gleichenia spp,Pteridium sp., etc.), lobeira e Jo (Solanum spp). A diversidade biolgica baixa, com poucas espciesdominantes.

    Art. 3 . Os parmetros definidos no Art. 2 para tipificar os diferentes estgios de regenerao da vegetao

  • secundria podem variar, de uma regio geogrfica para outra, dependendo:

    I. das condies de relevo, de clima e de solo locais;

    II. do histrico do uso da terra;

    III. da vegetao circunjacente;

    IV. da localizao geogrfica; e

    V. da rea e da configurao da formao analisada.

    Pargrafo nico . A variao de tipologia de que trata este artigo ser analisada e considerada no examedos casos submetidas considerao da autoridade competente.

    Art. 4 . Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao, revogadas as disposies em contrrio.