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    1 AULA INTERDISCIPLINAR

    LINGUAGENS

    CINCIAS HUMANAS

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    LINGUAGENS / CINCIAS HUMANAS ENEM

    AULA INTERDISCIPLINARLINGUAGENS E CINCIAS HUMANAS

    Samira e Totinho

    UMA VIAGEM LITERRIA NA HISTRIA(SC. XVII E XVIII)

    Introduo:O homem constri sua histria e dela extrai a mat-

    ria-prima de seu aprendizado que solidifica sua existn-cia. Da, percebe-se a via de mo dupla dessa realidade,aquilo que construdo por ele retorna em forma delegado, tanto positivo quanto negativo. O ser humano,inquieto por natureza, sente ampla necessidade de exporsuas impresses dos fatos vividos, por intermdio daspalavras. , a partir dessa necessidade, que a interliga-o da literatura com a histria se consolida em um laoestreito.

    O BARROCO DO SCULO XVII E OPODER DA IGREJA

    Caravaggio.A dvida de Tom.

    1 Contexto HistricoDa Idade Mdia at o Renascimento, a Igreja exerceu

    destacada ao poltica, social e econmica. Isto fez comque alguns dos seus elementos, ou que nela se infiltra-ram no por motivos puramente religiosos, mas pelodesejo de participar do status alcanado atravs da atua-o clerical, vivessem como senhores nobres ou comopecadores contumazes, contrariando os ideais de humil-

    de e simplicidade, caractersticos da doutrina crist.Esta situao propiciou uma ciso no seio da Igreja,

    concretizada pela Reforma Protestante de MartinhoLutero; seguida de outra Reforma, a de Calvino.

    Com o objetivo de eliminar os abusos que haviamafastado tantos fiis e permitido o xito dos reformistasem alguns pases, a Igreja organizou a Contrarreforma.Para tanto, foi convocado o Conclio de Trento, quedeveria objetivar o restabelecimento da disciplina doclero e a reafirmao dos dogmas e crenas catlicos.

    A partir do Conclio de Trento, organizou-se a Con-gregao do ndex, para censurar livros contrrios

    doutrina catlica, e foram restaurados os tribunais da

    Inquisio, destinados ao julgamento de cristos acu-sados de no seguir a doutrina da Igreja.

    O estilo barroco est intimamente relacionado aomovimento da Contrarreforma. A tentativa de conciliaro espiritualismo medieval e o humanismo renascentistaresultou numa tenso entre foras opostas: o teocentris-

    mo e o antropocentrismo. A procura da conciliao oudo equilbrio entre ambas equivale procura de umasntese que, em resumo, o prprio estilo barroco.

    2 As impresses de um poeta libertino sobre aIgreja, a nobreza, a Bahia e seus costumes.

    I.Que hajam turcos belicososfilhos da perversidade,havendo na cristandadeMonarcas to poderosos:

    que no se juntem zelosospara prostrar seus furores,mandando-se embaixadoresde eloquncia persuasria!Boa histria.

    Mas que hajam com mais extremosentre cristos batizadossacrlegos, renegadosmpios, judeus e blasfemos:que algum cristo (como vemos)dos tais seja muito amigo,tendo to grande perigo

    de pagar-se-lhe a manqueira!Boa asneira.

    II.Vero um Doutorem Jud nascidomais entremetidoque um grande fedor:Grande assistidorde Igreja festeira,que ao longe lhe cheiracomo Mangerona:

    forro minha cona.

    Vero um sandeuQue quer sem disputaSer filho da puta,Por no ser judeu:Se hbitos perdeuPor ser cristo-novo,

    A mim todo o povoDe velho me abona:Forro minha cona.

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    III.O poeta invalida as aes do deo Andr GomesCaveira.

    Aqui anda, e aqui estRosnando sempre entre ns,Deo com cara de algoz,

    E pertenso de Bisp:Ele , o que os pontos d,E os vcios vai acusandoCom zelo torpe, e nefando,Com que nos bota a perder:Porque quem no h de crerUma Caveira falando.

    IV.Nem ao sagrado perdoam,seja Rei, ou seja Bispo,ou Sacerdote, ou Donzelametida no seu retiro.

    A todos enfim do golpesde enredos, e mexericosto cruis, e to nefandos,que os despedaam em cisco.Pelas mos nada; porqueno sabem obrar no quinto;mas pelas lnguas no hlees mais enfurecidos.

    V.A crtica tirania de Cmara Coutinho, governa-dor da Bahia, cuja justia nos enforcamentos se

    pautava pelo prazer de ver morrer.Enforcastes muita gente?mente, quem tal coisa diz;Gabriel os enforcava,que eu com estes olhos vi. verdade, que gostveis

    vs muito de v-los ir,sois amigos de enforcados,ter-lhes dio, isso fora ruim.

    VI.Ao mesmo governador.

    Se fosse El-Rei informado,de quem o Tucano era,nunca Bahia vieragovernar um povo honrado:mas foi El-Rei enganado,e eu com o povo o paguei,que j costume, e j leidos reinos sem intervalo,que pague o triste vassaloos desacertos de um Rei.

    VII.Aos senhores governadores do mundo em seco dacidade da Bahia, e seus costumes.

    A cada canto um grande Conselheiro,que nos quer governar cabana e vinha:

    no sabem governar sua cozinha,e querem governar o Mundo inteiro!

    Em cada porta um bem frequente Olheiroda vida do Vizinho e da Vizinha,pesquisa, escuta, espreita e esquadrinhapara o levar Praa e ao Terreiro.

    Muitos Mulatos desavergonhados,trazendo pelos ps aos Homens nobres;posta nas palmas toda a picardia.

    Estupendas usuras nos mercadostodos os que no furtam, muito pobres:eis aqui a Cidade da Bahia.

    Arcadismo, o Iluminismo e aInconfidncia Mineira

    Peter P. Rubens. Vnus e Adnis, sculo XVII.

    1 Contexto Histrico

    O sculo XVIII conhecido como o Sculo dasLuzes, graas s novas ideias de cientistas e filsofosque provocaram uma verdadeira revoluo na histriado pensamento moderno.

    As sementes desta revoluo j haviam sido lanadasno Renascimento: a crena no homem, o racionalismo e,sob o ponto de vista poltico-econmico, o mercantilis-mo; este propiciaria a formao de capitais e o surgi-mento de uma nova classe, a burguesia, que se afirmacomo fora poltica e econmica no sculo XVIII.

    Como consequncia de toda essa mudana e seuconsequente progresso, o homem adquire uma viso

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    cientfica da realidade: a cincia passa a ser o melhormeio para explicar o mundo e melhorar a sociedade.

    Difunde-se a ideia de que tudo deveria ser examinadosob um ponto de vista racional. Rejeitam-se as supersti-es e as tradies pouco cientficas. A Igreja (e a mani-pulao da religio) vista como instrumento de igno-

    rncia e tirania, no s porque sempre se aliara nobre-za, mas tambm porque promovera a Inquisio.O Iluminismo, nome pelo qual ficaram conhecidas as

    tendncias gerais de pesquisa, a divulgao de novasideias e a maneira de pensar dos iluministas (filsofos eeconomistas da poca), conquista numerosos adeptos.

    Os iluministas acreditavam que a cincia, o progressoe a liberdade eram os meios de trazer a felicidade aoshomens. Nesse contexto, j no havia lugar para asideias religiosas do Barroco; o homem readquire seuequilbrio, abandonando as antteses e os conflitos exis-tenciais; razo e f constituem a sntese que caracteriza aproduo artstica do novo perodo.

    2 A histria vivenciada pelos autores rcades

    I.A crtica feita ao governador Luiz da Cunha Me-nezesO povo, Doroteu, como as moscas

    que correm ao lugar, aonde sentemo derramado mel; semelhanteaos corvos e aos abutres, que se juntamnos ermos, onde fede a carne podre.

    vista, pois, dos fatos, que executao nosso grande chefe, decisivosda piedade que finge, a louca gentede toda parte corre a ver se encontraalgum pequeno alvio sombra dele.

    (GONZAGA, Toms Antnio. Cartas Chile-nas.)

    Romanceiro da Inconfidncia a Inconfidncia vista pela ticada poetisa modernista Ceclia Meireles.

    II. ROMANCE XXI OU DAS IDEIASFala do tempo que transcorre em meio ao burburinho da cidade. Surgem negros, ndios, mulatos, almocafres (condutoresde bestas de carga), capites, governadores, padres, intendentes, poetas, cavalos, liteiras, sinos, procisses, promessas,obras esculpidas por mos leprosas (Aleijadinho), amplas casas, casebres, alcovas, oratrios, portas secretas. As ideiasrepublicanas, monarquistas, iluministas, libertrias vo sendo fortalecidas e criando adeptos; os governos vo sendo discu-tidos. Tudo isso cercado de muito ouro, cobranas, alvars, decretos, D. Jos I, D. Maria I(rainha) e ouro, mais ouro.

    Banquetes, Gamo. Notcias.Livros, Gazetas. Querelas.Alvars. Decretos. Cartas.A Europa a ferver em guerras.Portugal todo de luto:triste Rainha o governa!Ouro! Ouro! Pedem mais ouro!

    E sugestes indiscretas:To longe o trono se encontra!Quem no Brasil o tivera!

    Ah, se D. Jos IIpe a coroa na testa !

    Uns poucos de americanos,por umas praias desertas,j libertaram seu povoda prepotente Inglaterra!Washington, Jefferson, Franklin( Palpita a noite , repletade fantasmas, de pressgios...)

    E as ideias.

    III. ROMANCE XXV OU DO AVISO ANNIMOChega a So Joo uma carta de longe, delatando a conspirao e todos se sobressaltam.

    Veio uma carta de longe,

    No se sabe de que mo.

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    Atravessou esses campos,caiu como flor ao vento

    sobre a Vila de So Joo.

    Correi, senhores da terra,Ouvidor e Coronis,

    enterrai vossas riquezas,mandai para longe os trastes,escondei vossos papis.

    IV. ROMANCE XVIII OU DA DENNCIA DE JOAQUIM SILVRIOJoaquim Silvrio, companheiro inconfidente, delata a conspirao.

    No palcio da Cachoeira,com pena bem aparada,comea Joaquim Silvrioa redigir sua carta.

    De boca j disse tudoquanto soube e imaginava.

    (...)As terras de que era donovaliam mais que um ducado.Com presentes e lisonjas,arrematava contratos.

    E delatar um levantepode dar lucro bem alto!

    V. ROMANCE XXXVIII OU DO EMBUADOFala do embuado que batia s portas, avisando que a conspirao fora descoberta e que fugissem depressa.

    Homem ou mulher/ Quem soube?Tinha o chapu desabado.

    A capa embrulhava-o todo:era o Embuado.

    (...) Fugi, fugi, que vem tropa,que sereis preso e enforcado...

    Isso foi tudo o que disseo mascarado?

    VI. ROMANCE XLIX OU DE CLUDIO MANUEL DA COSTAConta a priso e a morte do poeta rcade, homem importante e estimado por todos. Ter sido enforcado? Enforcou-se?Ter delatado os companheiros? Como ter sido morto?

    Que fugisse, que fugisse...

    ___ bem lhe dissera o embuado!que no tardava a ser preso,que j estava condenado,que os papis, queimasse-os todos...Vede agora o resultado:mais do que preso, est morto,numa estante reclinado,e com o pescoo metidonum atilho encarnado.

    Concluso: A Histria sempre ser imortalizada por intermdio das palavras dos escritores de pocas distintas, quelonge do endeusamento tpico da arte literria, s vezes eram pessoas simples, que tiveram suas vidas alteradas pelo cursoincessante dos fatos, das intrigas, das lutas pelo poder, das guerras incoerentes, da ambio desmedida dos homens.