2 - Ciclos Funcionamento Do Motor Rev JMC 29.10.2012
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Motores Alternativos
CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 1
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA
ÁREA DEPARTAMENTAL DE ENGENHARIA MECÂNICA
CICLOS DE FUNCIONAMENTO
DE MOTORES ALTERNATIVOS
ELABORADO POR
ENG. MANUEL MARTINS
Reprodução proibida
Motores Alternativos
CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 2
ÍNDICE
0. Notas Introdutórias .......................................................................................... 3
1. Conceitos elementares sobre motores ................................................................. 4
1.1. Taxa de Compressão (Relação) .............................................................. 4
2. Ciclos de funcionamento ................................................................................ 5
2.1. Ciclo Otto Teórico .................................................................................... 5
2.2. Ciclo Diesel Teórico ................................................................................. 9
2.3. Ciclo Misto ou de Sabathé ..................................................................... 10
2.4. Comparação entre os três ciclos teóricos .............................................. 11
2.5. Pressão média de um ciclo .................................................................... 13
3. Ciclos práticos ou reais ................................................................................ 14
3.1. Notas introdutoras ................................................................................. 14
3.2. Ciclos indicados ..................................................................................... 19
3.3. Comparação entre o ciclo Otto Teórico e Real ...................................... 21
3.4. Comparação entre o ciclo Diesel Teórico e Real ................................... 24
3.5. Análise do diagrama indicado ................................................................ 26
3.6. Diagrama das pressões em função do deslocamento angular da cambota para motores a 4 tempos ............................................................... 30
3.7. Diagrama das pressões em função do deslocamento angular da cambota para motores a 2 tempos ............................................................... 32
4. Fluidos de trabalho dos motores .................................................................. 34
4.1. Notas introdutórias ................................................................................. 34
4.2. Fluidos de trabalho ................................................................................ 36
4.3. Ar atmosférico necessário à combustão relação estequiométrica ......... 37
4.4. Calor desenvolvido na combustão ......................................................... 40
4.5. Formação da mistura Ar/Combustível.................................................... 41
4.5.1. Preparação da mistura ar combustível ............................................ 44
4.5.1.1. Motores do ciclo Otto ................................................................ 44
4.5.1.2. Mistura estequiométrica: ........................................................... 44
4.5.1.3. Tipos de misturas Ar/Combustível ............................................ 45
4.5.1.4. Mistura Rica .............................................................................. 46
4.5.1.5. Mistura Pobre ........................................................................... 46
4.5.1.6. Performance de um Motor do Ciclo Otto em Função da Mistura .............................................................................................................. 47
4.5.1.7. Temperatura da Câmara em Função da Mistura ...................... 48
4.6. Vaporização da Mistura ......................................................................... 49
5. Sonda Lambda ............................................................................................. 50
5.1. O que faz um sensor do oxigénio? ........................................................ 51
5.2. Relação estequiométrica ....................................................................... 51
6. Bibliografia .................................................................................................... 51
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 3
0. Notas Introdutórias
Após termos aprendido os princípios respeitantes à descrição mecânica dos
motores, vamos de uma forma um pouco mais aprofundada esclarecer alguns conceitos
fundamentais ao estudo dos seus parâmetros de funcionamento.
Como sabemos no interior de um motor de combustão interna, o fluido
operante, é submetido a uma série de transformações químicas e físicas
(compressão, expansão, combustão, trocas de calor, atritos, etc.)
O que realmente se passa no interior de um motor e que constitui o seu ciclo real de
funcionamento pode ser medido através de equipamento apropriado (e.g.
sensores de pressão e de posição da cambota), designado por indicador.
Estes aparelhos fornecem-nos o diagrama indicado, ou diagrama real do motor, e cuja
área representa o trabalho real realizado pelo motor.
Para aproximarmos os ciclos teóricos, baseados nos princípios da termodinâmica,
dos ciclos reais dos nossos motores, recorremos a modelos aproximados, que
designaremos por ciclo ideal, ciclo de ar e ciclo ar combustível.
Ciclo ideal: Neste ciclo consideramos apenas o ar atmosférico como fluido
de circulação que se comporta como um gás perfeito. A relação entre
calores específicos a pressão constante e a volume constante é dada por:
V
P
CC
k =
Os calores específicos são considerados constantes para toda a gama de temperaturas
em que o ciclo se realizar. As fases de introdução e cedência de calor entre o ciclo e o
meio exterior dependem do tipo de ciclo.
Os valores máximos calculados para o ciclo ideal em termos de pressão e
temperatura, são superiores aos valores do ciclo real.
Ciclo de ar : Neste ciclo o fluido operante continua a ser o ar mas difere
no facto de se considerar que os calores específicos variam com a
temperatura. Temos assim necessidade de considerar cálculos mais
complexos, os quais nos vão permitir uma melhor aproximação da
realidade; o rendimento do ciclo e o trabalho desenvolvido serão menores.
Ciclo ar/combustível: Este será o que mais se aproxima do ciclo real. Como
sabemos o fluido de circulação, não é apenas o ar, mas ar e
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 4
combustível. No ciclo real temos ainda produtos da combustão anterior,
gases dos respiradores de óleo, gases de recirculação e vapor de água,
dependendo do tipo de motores.
Devido à mistura de vários fluidos, temos assim uma grande variação dos calores
específicos, associada a fenómenos de dissociação ou decomposição química de
moléculas mais ligeiras submetidas a altas temperaturas no interior das câmaras de
combustão.
1. Conceitos elementares sobre motores
Relembremos algumas noções elementares dos motores:
A. Ponto morto superior (P.M.S.) B. Ponto morto inferior (P.M.I.) C. Curso do êmbolo a meia rotação da cambota D. Diâmetro do cilindro
No desenho a área a vermelho representa o volume de compressão. A área azul representa o volume desenvolvido pelo cilindro, ou seja a cilindrada
Figura 1 - Esquema do cilindro do motor de combustão interna
combustãodecâmarada.volcombustãodecâmarada.volcilindradada.Vol
compressãodelaçãoRe+=
1.1. Taxa de Compressão (Relação)
Relação matemática que indica quantas vezes a mistura ar/combustível ou
simplesmente o ar aspirado (no caso dos diesel) para dentro dos cilindros pelo
pistão é comprimido dentro da câmara de combustão antes que se inicie o
processo de queima. Assim, um motor a gasolina que tenha especificada uma
taxa de compressão de ( )1:8 , por exemplo, indica que o volume aspirado para
dentro do cilindro foi comprimido oito vezes antes que a faísca da vela iniciasse
a combustão.
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Do ponto de vista termodinâmico, a taxa de compressão é directamente
responsável pelo rendimento térmico do motor. Assim, quanto maior a taxa de
compressão, melhor será o aproveitamento energético que o motor estará
fazendo do combustível consumido. Por esse motivo é que os motores diesel
consomem menos que um similar a gasolina: funcionando com taxas de
compressão altíssimas ( )1:17 nos turbo diesel e até ( )1:22 nos diesel aspirados,
geram a mesma potência consumindo menos combustível.
Há limitações físicas e técnicas para a simples ampliação da taxa. No primeiro
caso, ocorre a dificuldade de obtenção de câmaras de combustão minúsculas.
Já o segundo apresenta restrições quanto às propriedades do combustível, i.e.,
técnicas, o quanto cada um “tolera” de compressão antes de se auto - inflamar.
A taxa de compressão corresponde à relação entre:
combustãodecâmarada.volcombustãodecâmarada.volcilindradada.Vol
compressãodelaçãoRe+=
A taxa de compressão é a relação entre o volume total do cilindro quando o
pistão se encontra no ponto morto inferior (2) e o volume da câmara de
combustão quando o pistão se encontra no ponto morto superior (1). À relação
(volume em 2): (volume em 1) dá-se o nome de taxa de compressão
Figura 1A Taxa de compressão
2. Ciclos de funcionamento
2.1. Ciclo Otto Teórico
Como sabemos do parágrafo anterior o rendimento de um ciclo termodinâmico,
tende a expressar a boa aptidão desse ciclo para realizar trabalho, a partir de
uma determinada quantidade de calor fornecida.
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Por não ser possível transformar todo o calor em trabalho e haver assim
necessidade de o nosso ciclo trocar calor com duas fontes, a fonte fria e a fonte
quente, o rendimento do nosso ciclo será igual a:
cebidoReCalorCedidoCalorcebidoReCalor
térmicoentodimnRe−=
No conjunto das próximas figuras, tentamos dar uma visão aproximada do que
se passa em termos de troca de calor e troca de trabalho entre o ciclo e o meio
exterior.
Relembramos que as áreas dos diagramas [ ]PV representam trabalho
mecânico e que as áreas dos diagramas [ ]TS (temperatura - entropia)
representam calor.
O trabalho mecânico é representado pela letra [ ]H , e o calor pela letra [ ]Q . No
caso de os diagramas estarem feitos na mesma escala, as áreas serão iguais
em valor absoluto
Designamos por [ ]1Q o calor recebido pelo ciclo, sendo o calor cedido
representado por [ ]2Q . Designaremos por [ ]1W o trabalho realizado pelo ciclo, e
[ ]2W o trabalho realizado sobre o ciclo.
A diferença de áreas entre o trabalho fornecido e o trabalho cedido dá-nos o
trabalho útil realizado pelo ciclo.
21útil WWW −=
No ciclo OTTO teórico temos os seguintes processos termodinâmicos:
Figura 2 - Diagrama PV e TS do ciclo teórico de motores de combustão interna
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1-2 – Adiabática (isentrópica) [W2]: Não são efectuadas trocas de calor com o
exterior, durante a compressão do fluido de circulação do ciclo.
2-3 - Isovolumétrica (isocórica) [Q1]: A introdução de calor no ciclo é
considerada instantânea.
3-4 – Adiabática (isentrópica) [W1]: Durante o processo de expansão do
fluido.
4-1 - Isovolumétrica (isocórica) [Q2]: Subtracção instantânea de calor do ciclo.
Na realidade nos motores a 4 tempos a cedência de calor efectua-se no curso
de escape 1-0, e o fluido é introduzido no motor no curso de admissão 0-1, os
quais estão representados no diagrama [PV]. Os seus efeitos de ganho e perda
de trabalho anulam-se neste ciclo teórico, pois não consideramos perdas de
carga.
Como podemos ver na figura 3, a área que representa o trabalho útil será H,
cujo calor correspondente será Q.
A partir dos princípios já defendidos no estudo dos ciclos sabemos ser o
rendimento térmico teórico ou termodinâmico do ciclo:
1
21t Q
QQ −=η
Figura 2 - Diagrama PV e TS do ciclo teórico de motores de combustão interna
Sabendo nós que: ( ) ( )142231TTCQeTTCQ
VV−=−= e
( )1k
2
1
1
2
VV
TT
−
=
( )1k
3
4
4
3
VV
TT
−
=
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E através de uma sequência de operações matemáticas chegaríamos à
conclusão que: ( )1k
1
2t V
V1
−
−=η Rendimento Termodinâmico
Será sempre mais fácil relacionar os nossos ciclos com valores o mais próximo
da realidade, pois não o esqueçamos pretendemos sempre chegar ao ciclo real
e, simultaneamente, ao próprio motor.
Assim e reportando-nos ao ponto, onde citamos alguns conceitos base sobre
motores podemos dizer que a relação volumétrica de compressão ou como se
diz na prática a relação de compressão do motor será igual a:
2
1
VV=ρ
Teremos então o nosso rendimento térmico teórico função de variáveis que
estarão mais ligadas ao funcionamento do motor:
( )1k
t
11
−
−=ρ
η
( )Adiabática.Const,ãocompresssde.lReft =η
Aumentando o valor da relação de compressão aumentará o rendimento
termodinâmico.
Diagrama [PV] e [TS] do
ciclo teórico Otto de motores
de combustão interna. A
área de cor azul no
diagrama PV representa
Trabalho, no diagrama TS a
cor de laranja representa o
Calor
Figura 3 - Diagrama [PV] e [TS] do ciclo teórico Otto
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Figura 3A - Diagrama PV do ciclo teórico Otto
2.2. Ciclo Diesel Teórico
A maior diferença entre o Ciclo Diesel teórico e o Ciclo Otto teórico reside no
processo de introdução de calor, que aqui será realizado a pressão constante
enquanto no Otto era realizado a volume constante. Assim, por vezes também
se designam, por ciclos a pressão constante e ciclos a volume constante.
Figura 4 - Ciclo Diesel teórico representado nos diagramas PV e TS
Os processos que representam o ciclo são:
1-2 - Compressão Adiabática [W2]: Idêntica ao processo do ciclo do motor
OTTO.
2-3 - Fornecimento de Cal or a Pressão Constante [Q1]
3-4 - Expansão Adiabática [W1]: Trabalho realizado pelo ciclo.
4-1 - Cedência de Calor a Volume Constante [Q2]: Idêntico ao ciclo OTTO
Todas as considerações anteriormente feitas para o ciclo OTTO em relação ao
processo de admissão e escape são válidas para o ciclo DIESEL.
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Em relação ao rendimento termodinâmico, será introduzido um novo parâmetro
devido ao processo de fornecimento de calor ao ciclo a pressão constante.
Temos assim:
( )CombustãodeGrau,Adiabática.Const,ocompresssãdelReft =η
Sendo o grau de combustão a relação entre o volume final e o volume inicial do
processo de fornecimento de calor a pressão constante.
=
2
3
VV
C
Tendo em conta as expressões do ciclo OTTO, e sabendo que:
( )23P1 TTCQ −=
O rendimento do ciclo Diesel será: ( ) ( )
−−
−= − 1Ck
1C*
11
k
1kt ρη
Quanto maior for o grau de combustão, menor será o rendimento, e para
igualdade de relação de compressão, o ciclo com melhor rendimento será o
OTTO.
2.3. Ciclo Misto ou de Sabathé
Existem fortes condicionantes, nos ciclos anteriores para os aproximarmos aos
ciclos reais. Uma boa aproximação resulta da definição do ciclo Misto, que
como o próprio nome indica vai agrupar os dois ciclos anteriores.
Existem assim dois processos de fornecimento de calor, um a volume
constante e outro a pressão constante. Todos os outros processos são
idênticos.
1-2 - Compressão Adiabática [W2]
2-3 - Fornecimento de Calor a Volume Constante [Q’1]
3-4 - Fornecimento de Calor a Pressão Constante [Q’’1]
4-5 - Expansão Adiabática [W1]
5-1 - Cedência de Calor a Volume Constante [Q2]
Para calcularmos a expressão do rendimento termodinâmico temos:
ciclopelorecebidoCalorQQQ ''1
'11 ⇒+=
( )23V'1 TTCQ −= ( )34P
''1 TTCQ −= ( )15V2 TTCQ −=
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Figura 5 - Ciclo Misto teórico nos diagramas PV e TS
Temos assim o nosso rendimento em função de: ( )E,C,k,ft ρη =
teConsVolumeaCombustãodelaçãoP
PE tanRe
2
3
= teConsessãoaCombustãodelação
V
VC tanPrRe
3
4
=
Para uma mesma relação de compressão o ciclo misto estará entre os dois
ciclos anteriores no tocante ao seu rendimento térmico.
Se aumenta ou diminui a importância de qualquer dos dois processos de
fornecimento de calor ao ciclo, então podemos dizer que ele tenderá para cada
um dos ciclos anteriores.
2.4. Comparação entre os três ciclos teóricos
Para compararmos os três ciclos teóricos teremos de considerar alguns dos
parâmetros de que dependem, como constantes.
No primeiro exemplo que está expresso na figura 6, vamos comparar os ciclos
considerando ser constante para os ciclos Diesel e Sabathé, a relação de
combustão a pressão constante, e veremos como varia o rendimento
termodinâmico com a relação de compressão.
Figura 6 - Comparação entre os 3 ciclos teóricos p/diferentes relações de compressão
(4)
(5)
(4)
(5)
( ) ( )
−+−−
−= −1**1
1**
11
1CEKE
CEK
Kt ρη
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Como facilmente se pode analisar pelo gráfico da fig. 6, para igualdade de grau
de compressão o ciclo que terá melhor rendimento termodinâmico, será o ciclo
OTTO.
Infelizmente esta possibilidade não pode ser totalmente explorada, pois como
veremos mais tarde o funcionamento dos motores reais ficará limitado pela
detonação.
Outro processo de comparação poderá ser desenvolvido da seguinte forma:
Vamos considerar os 3 ciclos com a mesma relação de compressão, e sendo
constante a quantidade de calor introduzida como se pode analisar pelos
diagramas [ ]TS da figura 7. Observando os mesmos diagramas concluímos
que para a mesma quantidade de calor introduzida, o ciclo que cede menos
calor é o ciclo OTTO, donde será o que tem maior rendimento termodinâmico.
Outra forma de comparação dos ciclos será considerar constante a quantidade
de calor introduzida no ciclo, bem como a pressão máxima.
Neste caso e pela análise do diagrama [ ]TS da figura 8, o ciclo que terá melhor
rendimento será o ciclo Diesel, mas se analisarmos o diagrama [ ]PV , vemos
que tal será conseguido à custa de uma elevada relação de compressão,
perfeitamente viável nos motores Diesel.
Figura 7 - Comparação dos três ciclos teóricos considerando igualdade de relação de compressão e de quantidade de calor introduzido
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Figura 8 - Comparação do Ciclo Diesel com o ciclo Otto para a mesma pressão máxima e igualdade de calor introduzido
2.5. Pressão média de um ciclo
Um importante valor para a análise de um ciclo é a sua pressão média. Como
sabemos a pressão varia constantemente ao longo de um ciclo, e para
podermos realizar alguns cálculos será bastante útil encontrarmos ou
definirmos um valor médio. Devemos no entanto acentuar que o valor médio
definido apenas será válido para um determinado regime de rotação. Se num
gráfico [ ]PV , e sobreposto ao diagrama indicado traçarmos um rectângulo,
tendo como lados o volume desenvolvido pelo êmbolo entre o ponto morto
superior e o ponto morto inferior, e um dado valor de pressão, diremos que este
último será designado por pressão média, se a área do rectângulo for igual à
área do diagrama [ ]PV , que significa, como sabemos, o trabalho útil realizado
pelo ciclo termodinâmico.
Figura 9 - Pressão média do ciclo
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O conceito de pressão média aplica-se não só a ciclos termodinâmicos
teóricos, mas aos ciclos reais, servindo bastantes vezes de comparação entre
motores, permitindo ver a utilização optimizada de uma dada cilindrada em
diferentes motores.
Devemos finalmente referir, que nos ciclos reais não temos processos
adiabáticos, mas sim aproximadamente politrópicos, pelo que a constante
adiabática será substituída pela constante politrópica [ ]n , que tem valores
diferentes para o processo de compressão e para o de expansão.
3. Ciclos práticos ou reais
3.1. Notas introdutoras
Ao começarmos a estudar os ciclos práticos, convém relembrar as noções
base do ciclo operativo de qualquer motor de combustão interna a 4 e a 2
tempos, para em seguida tentarmos situar o nosso estudo dos ciclos num plano
o mais real possível.
O ciclo operativo é como o entendemos uma sucessão de processos que tem
como finalidade, introduzir, trabalhar e extrair uma mistura de fluidos,
(normalmente ar e combustível), numa máquina chamada motor de combustão
interna. Da acção sobre os fluidos vamos obter uma transformação energética
de calor em trabalho mecânico.
As diferentes formas de realizar o ciclo operativo, mantendo na essência a
finalidade do motor de transformar calor em trabalho, irão condicionar os
diferentes tipos de motores, designados por motores a 2 e 4 tempos, com
inflamação por faísca ou por compressão.
Vamos então aproveitar em todos os motores, a energia proveniente da
combustão de um combustível numa massa de ar, encerrados numa câmara
de combustão, para fazer deslocar um êmbolo em movimento rectilíneo, que
através de um sistema biela manivela será transformada em movimento
circular, e assim retirado do motor por intermédio de um vulgar acoplamento de
veios.
Portanto, para introduzir os fluidos no interior do motor, teremos de os fazer
movimentar, ou sob pressão, ou em depressão. Para motores chamados de 4
tempos, (cada tempo será correspondente ao movimento do êmbolo entre
pontos mortos, ou 180º de rotação do veio motor – ver parágrafo 1.1), diremos
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 15
que estamos perante um motor de aspiração natural ou motor atmosférico, se
pela própria acção do êmbolo ao deslocar-se do [ ]PMIPMS ..⇒ , for criada no
interior do motor uma depressão, que permita a entrada de fluidos operantes.
Caso coloquemos um compressor na entrada do motor, para movimentar o ar
sob pressão para o seu interior, estamos perante um motor sobrealimentado.
Efectivamente se para os motores de 4 tempos, temos possibilidade de opção,
pois o próprio êmbolo trabalhará como bomba de vácuo, nos motores a dois
tempos, teremos forçosamente de os sobrealimentar, pois os únicos dois
percursos do êmbolo não nos permitem, ter disponibilidade para a aspiração
natural do motor.
Será então o processo de admissão, o qual durará para os motores a 4
tempos, 180º de rotação da cambota, e durante o qual iremos introduzir para
dentro do motor, uma mistura gasosa ou gás e líquido, em motores OTTO, e
apenas ar para o caso dos motores que funcionam segundo o ciclo DIESEL.
Como valores usuais para a pressão na aspiração de motores temos, em
motores OTTO, aspiração natural, muito junto à pressão atmosférica, e
sobrealimentados, podemos ir até 1,8bar. Para os motores DIESEL, em termos
de aspiração natural rondamos os mesmos valores, mas podemos ir mais além
em motores sobrealimentados, indo aos 2,5 e 3 bar.
Torna-se depois necessário colocar a mistura ar/combustível, ou apenas o ar
em condições para que na sequência do ciclo operativo, possa ocorrer um
processo de combustão com chama.
Para tal será necessário aquecer o fluido operante. Ora como sabemos existem
duas formas básicas para aquecer um fluido, ou fornecendo-lhe calor em
contacto com uma fonte quente, ou comprimindo-o.
Nos nossos motores vamos comprimir e agitar os fluidos para os colocar em
condições para o processo de combustão.
Se estivermos perante um motor de inflamação por faísca, vamos comprimir a
massa gasosa até um determinado valor, ideal, para que quando em
determinado momento, num órgão situado no interior da câmara e chamado de
vela de ignição, ao acontecer uma faísca, se dê início ao processo de
combustão com chama da mistura previamente trabalhada.
No caso de um motor de inflamação por compressão a acção passar-se-á de
diferente forma, mas temos também de “maquinar” o ar, aquecendo-o e
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 16
agitando-o para que quando no final do processo de compressão, ao introduzir
no interior do motor o combustível sob pressão este se auto-inflame em
contacto com o ar fortemente aquecido e após encontrar a quantidade de ar
necessário para a sua combustão.
Figura 10 Esquema de funcionamento de um motor 4 tempos2
Temos assim o processo de compressão, que nos motores a 4 tempos ocupará
a deslocação do êmbolo entre o [ ]PMSPMI ..⇒ , e em motores a dois tempos,
parte deste percurso, já que algum tempo terá de ser gasto na lavagem do
motor.
Como valores actuais, para pressões de compressão, temos em motores
OTTO, valores médios de [ ]bara .14..12 , e em motores Diesel, podemos ir até
aos 60 bar. Para a introdução do combustível sob pressão em motores Diesel,
já ultrapassamos em alguns casos os [ ]bar.1000 .
Acontecerá em seguida a combustão, de uma das formas anteriormente
apontadas, e vamos então aproveitar a energia dos produtos da combustão
para deslocar o êmbolo do seu [ ]PMIPMS ..⇒ , realizando o processo de
expansão e produzindo trabalho mecânico.
Os valores a que chegamos no interior do motor são verdadeiramente notáveis,
pois implicam uma sofisticada tecnologia de materiais e um controlo de
processo bem optimizados, uma vez que rondamos os [ ]K2000 e em alguns
motores pressões acima dos 120 bar.
Após a queima e o aproveitamento dos gases, haverá necessidade de os
remover do interior do motor para introduzir nova carga fresca. Realizamos
assim o processo de escape ou evacuação, do motor, o qual apresenta em
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 17
todos os motores a quatro tempos características semelhantes. Neste processo
o êmbolo desloca-se do [ ]PMSPMI ..⇒ .
Figura 10A - Fases do ciclo de 4 tempos
Para o caso dos motores a dois tempos teremos de realizar o processo de
escape com a ajuda do ar de admissão que entra sob pressão no motor,
realizando-se assim o processo de lavagem.
O motor a dois tempos recebe esse nome porque seu ciclo é constituído por
apenas dois tempos, conforme veremos no item seguinte. Mecanicamente é
bastante simples e possui poucas peças móveis. O próprio pistão funciona
como válvula deslizante, abrindo e fechando janelas, por onde a mistura é
admitida e os gases queimados são expulsos.
Figura 11 - Fases do ciclo a 2 tempos com janelas de escape e de admissão
1. Primeiro Tempo: Admitindo que o motor já esteja em funcionamento, o
pistão sobe comprimindo a mistura no cilindro e produzindo uma rarefacção
(depressão) no cárter. Aproximando-se do ponto morto superior, dá-se a
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 18
ignição e a combustão da mistura. Ao mesmo tempo, dá-se a admissão da
mistura nova no cárter, devido à rarefacção que se formou durante a subida do
pistão
Figura 12 – 1º tempo ciclo a 2 tempos 2. Segundo Tempo: Neste tempo, os gases da combustão expandem-se,
fazendo o pistão descer, comprimindo a mistura no cárter. Aproximando-se do
ponto morto inferior, o pistão abre a janela de exaustão, permitindo a saída dos
gases queimados. A seguir abre-se a janela de transferência, e a mistura
comprimida no cárter invade o cilindro, expulsando os gases queimados.
Figura 13 – 2º tempo ciclo a 2 tempos
Nota: Durante o ciclo de dois tempos ocorrem também seis fases como no
motor a quatro tempos, das quais quatro (admissão, compressão, ignição e
combustão) ocorrem no primeiro tempo e duas (expansão e exaustão) no
segundo tempo.
Vantagens e desvantagens : O motor a dois tempos é mais simples, mais leve
e mais potente que o motor a quatro tempos, porque produz um tempo motor
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 19
em cada volta da cambota. Além disso, o seu custo é menor, sendo por isso
muito utilizado em aviões ultra-leves.
Contudo, não é usado nos aviões em geral, devido às seguintes desvantagens:
É pouco económico, porque uma parte da mistura admitida no cilindro
escapa-se juntamente com os gases queimados;
Após o escape, uma parte dos gases queimados permanece no cilindro,
contaminando a mistura nova admitida;
O motor a dois tempos aquece mais, porque as combustões ocorrem
com maior frequência;
A lubrificação é imperfeita, porque é preciso fazê-la através do óleo
diluído no combustível;
O motor é menos flexível do que o de quatro tempos, isto é, a sua
eficiência diminui mais acentuadamente quando variam as condições de
rotação, altitude, temperatura.
3.2. Ciclos indicados
Como já referimos anteriormente o ciclo indicado expressa-nos as condições
de funcionamento do motor. Para o obtermos servimo-nos de aparelhos
chamados indicadores, existindo os do tipo mecânico e electrónico.
Figura 14 - Indicador mecânico, para obtenção do diagrama [ ]PV
Nem sempre é simples a obtenção do diagrama indicado. Podemos também
calculá-lo aproximadamente, mas para um valor mais correcto teremos de
medi-lo utilizando sensores de pressão.
Estes sensores são transdutores Piezoeléctricos, com uma grande precisão de
medição, enviando um sinal eléctrico que será amplificado num andar próprio,
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e em seguida sendo devidamente sincronizado com a rotação e a posição da
cambota do motor, poderá ser enviado para a memória de um processador,
sendo o ciclo indicado imediatamente observado, num osciloscópio, ou numa
impressora.
Figura 15 - Transdutores piezoeléctricos
Na figura 16, apresenta-se dois diagramas típicos para motores OTTO e
DIESEL, de igual cilindrada, sobrepondo-se os mesmos para facilidade de
comparação. O eixo das pressões para o ciclo DIESEL vem desviado do ciclo
OTTO, pois as relações volumétricas de compressão são diferentes, e
situamos a cilindrada no mesmo espaço.
O volume da câmara é representado por [ ]CV e o volume da cilindrada por [ ]PV .
Como se pode ver o motor que tem maior relação de compressão é o DIESEL,
pois para a mesma cilindrada tem a câmara mais pequena.
Figura 16 - Comparação entre ciclos reais OTTO e DIESEL
A superfície 1-2-6-1’-1 representa o trabalho de bombagem realizado pelo
motor para a admissão e o escape dos gases. Pretende-se evidentemente que
ela seja a mais pequena possível, pois como vimos nos ciclos teóricos, não
existia.
A área 2-3-4-5-6-2 representa o trabalho útil realizado pelo ciclo. Se quisermos
relacionar a área do diagrama teórico com a área do diagrama real, e dividindo
a segunda pela primeira, obtendo assim o rendimento indicado do ciclo.
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 21
3.3. Comparação entre o ciclo Otto Teórico e Real
Existem acentuadas diferenças entre os dois ciclos as quais podemos dividir
em dois grupos, quanto à forma do diagrama e quanto às diferenças entre os
valores da pressão e temperatura máxima.
QUANTO À FORMA:
a) Perdas de calor: Apesar de serem nulas no ciclo teórico, elas são na
realidade grandes ao longo de todas as transformações do ciclo real. Como o
cilindro está refrigerado para que os materiais suportem o calor desenvolvido
no interior do cilindro, as linhas que representam a expansão e a compressão
não são adiabáticas, mas sim politrópicas, sendo o expoente que define a
curva não o [ ]k , mas o [ ]n .
Se o fluido tem uma perda de calor, [ ]kn > , se pelo contrário aquece temos
[ ]kn < . Existe assim uma área perdida representada por A na figura 17.
Figura 17 - Comparação entre ciclo teórico e indicado OTTO
Figura 18 - Diagrama [ ]PV comparativo entre o ciclo padrão de Otto e o ciclo
real
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 22
Para minimizar as perdas de calor e, como iremos ver, melhorar os consumos
de combustível, estão neste momento em ensaios, protótipos de motores com
forte implantação de componentes cerâmicos.
A cerâmica, que tem como uma das suas principais características a
resistência às solicitações térmicas permite, numa primeira fase, uma redução
de 15% nas perdas de calor de um motor que funciona segundo o ciclo
DIESEL. O motor será do tipo adiabático e não tem sistema de refrigeração,
nem de lubrificação.
Encontra-se em fase de projecto um motor DIESEL com cilindros de estrutura
cerâmica, êmbolos de cerâmica sem segmentos, cabeça de cerâmica e
rolamentos de roletes cerâmicos. Este motor não necessita de refrigerante,
nem lubrificante, será turbo comprimido, e as perdas serão reduzidas a 60%,
tendo apenas um senão - o seu elevado preço.
Os motores Diesel têm os mesmos problemas que os motores OTTO, no que
diz respeito às trocas de calor.
b) Combustão não instantânea: No ciclo teórico supomos que a combustão
se realiza a volume constante, para tal ser possível teria de ser instantânea. Os
processos instantâneos não existem e portanto num ciclo real eles iriam durar
um certo tempo. Se o saltar da faísca na vela se produzisse exactamente no
[ ]PMS , a combustão dar-se-ia principalmente no percurso de descida do
êmbolo e assim a pressão máxima do ciclo seria bastante baixa, em relação ao
ciclo teórico. Como tal em praticamente todos os motores OTTO o sistema de
ignição fará saltar a faísca nas velas antes do [ ]PMS , portanto com um certo
“avanço”. Este avanço terá como resultado termos no diagrama [ ]PV uma linha
curva na zona de proximidade do [ ]PMS . A área perdida com esta acção será
representada por [B].
c) Abertura da válvula de escape: Suponhamos de igual forma que no ciclo
teórico a cedência de calor para o exterior seria instantânea e realizava-se no
[ ]PMI . Efectivamente e pelos motivos já apontados ela demora um certo
tempo, assim a válvula de escape terá de se abrir com uma certa
antecedência, para dar tempo a que parte dos gases saiam antes do êmbolo
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 23
atingir o [ ]PMI , de forma a que a pressão baixe bastante para que quando do
começo do processo de escape o seu valor não exerça uma contra pressão
demasiada sobre o êmbolo dando origem a uma grande área de bombagem do
ciclo real.
A área perdida representada pela letra [C], é com certeza bastante menor do
que a que perderíamos se abríssemos a válvula de escape do motor no [ ]PMI .
Valores de Pressão e Temperatura Máximas :
a) Aumento dos calores específicos com a temperatur a: Como sabemos o
calor específico a pressão e volume constante aumenta com o aumento de
temperatura, mantendo no entanto a sua diferença constante:
RCC)1 VP =− 4,1CC
k)2V
P ==
Assim com o aumento da temperatura diminui o valor de [ ]k , e os valores das
pressões e temperaturas serão sempre inferiores aos que obtínhamos se os
calores específicos permanecessem constantes.
b) Dissociação na combustão: Durante o processo de combustão os motores
libertam essencialmente [ ]OHeCO 22 , podendo também libertar entre outros
[ ]2OeH,CO . A dissociação química destes produtos será uma reacção que
absorve calor, limitando a máxima temperatura interior alcançada no ciclo real.
No entanto como a temperatura diminui durante a expansão, temos um
abrandamento deste tipo de reacções que acontecem a alta temperatura e
como tal um certo ganho de área de trabalho no diagrama real.
Falta apenas referenciar o trabalho perdido por bombagem, que está
representado no diagrama pela letra [D], resultante da energia necessária para
encher e vazar o motor, vencendo os atritos mecânicos e a força dos gases de
escape.
Em ciclos sobrealimentados, não temos como veremos mais tarde perdas de
bombagem, pois a pressão de admissão é superior à de bombagem.
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 24
3.4. Comparação entre o ciclo Diesel Teórico e Real
O que anteriormente foi dito para o ciclo OTTO será válido em grande parte
para o ciclo DIESEL. Sublinhamos, no entanto, algumas diferenças no tocante
às perdas por dissociação e por bombagem, bem como tudo o que disser
respeito à combustão a pressão constante.
Figura 19 - Comparação entre ciclo Diesel teórico e Real
Figura 19A - Comparação entre ciclo Diesel teórico e Real
Figura 19B - Comparação entre ciclo Diesel teórico e Real
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 25
Figura 19C - Comparação entre ciclo Diesel teórico e Real
a) Combustão a pressão constante: Na prática, a combustão ocorre em
condições tais que a pressão varia durante o processo, enquanto que no ciclo
teórico permanece constante.
Na verdade, uma parte da combustão ocorre a volume constante, apenas no
caso dos motores muito lentos ocorre uma melhor concordância com o ciclo
teórico.
A combustão a pressão constante será assim substituída por um processo com
variação de pressão como se pode ver na figura 19, com a consequente perda
de área de trabalho.
C
Figura 19D - Comparação entre ciclo Diesel teórico e real
b) Dissociação dos produtos da combustão: Os problemas de dissociação
são menores em motores DIESEL, pois como trabalham sempre com excesso
de ar, as temperaturas máximas tendem a ser inferiores e como tal o fenómeno
de dissociação perde importância.
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 26
c) Perdas por bombagem: Por haver menos estrangulamento na admissão
dos motores Diesel em relação aos motores a gasolina, temos as perdas de
bombagem inferiores, principalmente no processo de admissão de ar para
dentro do motor.
Figura 20 – Perdas por bombagem
Figura 21 - Diferença entre motores Diesel lentos e rápidos
3.5. Análise do diagrama indicado
Já ficou bem definida anteriormente a importância deste diagrama, vamos
tentar neste parágrafo, explicitar algumas das suas mais importantes
particularidades.
Pela medida da área do diagrama, podemos obter a pressão média indicada.
Sabendo a cilindrada do motor, o número de cursos úteis na unidade de tempo,
podemos calcular a potência indicada, para um determinado regime de rotação.
A potência indicada será igual à soma da potência efectiva obtida no freio de
potência com a potência absorvida para vencer os atritos internos do motor.
atritoporPerdasefectivaPotênciaindicadaPotência +=
Vejamos de seguida algumas particularidades do diagrama devido a órgãos
dos motores.
No caso do motor a gasolina, necessitamos de estrangular a admissão para
regular a quantidade de ar/combustível que entra para o motor.
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 27
Tal acção irá diminuir a pressão no colector de admissão obrigando assim a um
esforço maior do motor para captar a mistura para o seu interior
Na figura 22, vemos uma situação de abertura total e outra de abertura parcial
da “borboleta” de admissão. Chamamos aqui a atenção para o efeito de termos
filtros de ar sujos ou desapropriados, que vão corresponder a um maior
estrangulamento.
Figura 22 Ciclo OTTO, com abertura da borboleta plena e parcial
Outra análise interessante será a do “ponto de ignição ou ponto do motor”.
Como já dissemos torna-se necessário “adiantar” o saltar da faísca, pois caso
contrário toda a combustão se daria depois do PMS.
O momento exacto onde em cada motor deve “saltar a faísca” varia consoante
um certo número de factores determinados por experiências efectuadas,
quando de ensaios de um novo modelo.
Na generalidade podemos dizer que o ponto deve estar situado a uma pressão
correspondente a metade do valor alcançado no [ ]PMS , a fim de termos um
valor de potência óptimo para o motor, e um valor de pressão máxima do ciclo
aproximadamente 10º de rotação da cambota depois do [ ]PMS .
Assim, quando adiantamos o “ponto” do motor a pressão máxima do ciclo
resulta superior mas o diagrama fica mais alongado, (parte [b] da figura 23)
diminuindo assim a sua área de trabalho. Quando num motor o adiantamos
ligeiramente, normalmente notaremos um ligeiro aumento de rotações, que
realmente significa um pouco mais de “vivacidade e força”, mas logo de
seguida, se continuamos a adiantá-lo, notaremos a consequente quebra de
rotações, e a temperatura do mesmo aumentará.
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 28
Por outro lado, ao “atrasarmos” o ponto do motor, daremos origem a um
diagrama bastante baixo, com uma pressão média bastante baixa (parte [a] da
figura 22).
O motor em virtude de ter perdido “força”, irá forçosamente aquecer, pois
teremos de lhe fornecer bastante mais mistura para realizar o mesmo trabalho.
Em relação ao motor DIESEL, tudo se passa no que respeita ao diagrama de
forma semelhante, mas mais acentuada, pois entram em acção dois
fenómenos a que chamamos “atraso à injecção e atraso à auto inflamação”,
que irão condicionar todo este processo, agravando-o.
a)
b)
Figura 23 - Influência do “ponto” no diagrama indicado
Mesmo as possibilidades de variar “o ponto” do motor, são aqui mais limitadas
em termos de execução prática, devendo tal operação ser feita por
especialistas, e existem mesmo motores, principalmente os mais antigos ou os
mais pesados, em que “o ponto” é afinado inicialmente e não mais varia
durante todo o campo de trabalho do motor.
Em todos os outros motores “o ponto” varia com a rotação e ou com a carga,
duma forma mecânica ou electrónica, e vai adaptá-los a todas as solicitações a
que estão sujeitos.
Finalmente vamos estudar “a influência da abertura de válvulas no diagrama
indicado”. As condutas de admissão e de escape, bem como a abertura e fecho
das válvulas, terão de ser criteriosamente escolhidas.
Se as condutas de admissão forem muito estreitas ou de qualquer forma
obstruírem a passagem de ar e se o abrir da válvula de admissão for
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 29
inadequado ao motor então a pressão no respectivo colector, será inferior à
normal para cada situação de funcionamento do motor, (ver figura 24, [a]).
Em relação ao escape teremos de o ter bastante bem dimensionado para evitar
que por um lado possa ter uma acção de sucção, o que se poderia traduzir em
arrastar parte da mistura fresca ou do ar fresco, durante o cruzamento de
válvulas. Doutra forma poderá obstruir a saída dos gases, principalmente no
caso de instalarmos sobre alimentadores na saída do mesmo e aumentar
demasiado a pressão de escape, aumentando assim a perda de bombagem no
diagrama.
De capital importância, teremos também a abertura da válvula de escape, que
poderá ser efectuada com um “avanço”, para diminuir o valor da pressão de
escape, (figura 24 - [b]). Caso tal avanço não exista teremos uma perda de
trabalho útil, como podemos ver na figura.
Podemos fazer aqui breve referência a alguns sistemas que serão descritos
quando do estudo da alimentação de motores e que tentam aproveitar alguns
efeitos da mecânica dos fluidos, para o processo de admissão.
Uma forma de aumentar a capacidade de enchimento e assim melhorar a área
de trabalho do ciclo OTTO, diminuindo também o trabalho de bombagem, será
aproveitar o efeito que advém dos gases a determinado regime de rotações
entrarem em ressonância, no interior do colector aumentando notoriamente a
pressão de admissão. Este efeito válido apenas para um determinado regime
de rotações, pode dar origem a um aumento de potência do motor de 10%.
O inconveniente do sistema atrás descrito resulta no facto de que tem uma
acção importante apenas para um regime de rotações o qual pode não ser o
ideal em certas circunstâncias.
a)
b)
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Figura 24 - Influência da abertura das válvulas no diagrama
Foram assim instaladas em colectores especialmente desenhados, válvulas
comandadas electronicamente, que permitem consoante o regime do motor,
pôr em contacto diferentes partes do mesmo colector de admissão e assim
torná-lo mais adaptado ao regime de funcionamento do motor.
São os chamados “sistemas de controlo acústico da admissão”, desenvolvido
pela Toyota e o “sistema de aspiração de impedância variável”, desenvolvido
pela Nissan, e aplicados em motores a gasolina.
Para colectores de escape toma fundamental importância, o escape de
motores a dois tempos a gasolina, pois pode ter uma influência decisiva no
processo de lavagem.
Em motores sobrealimentados ele é também muito importante, tanto para
motores DIESEL como para motores OTTO. Existem inclusive duas formas
distintas de realizar nos DIESEL, por impulso ou por pressão constante. A
causa principal de preocupação será a de que uma saída de escape de um
cilindro nunca vá influenciar outro que esteja já no fim do processo de escape.
3.6. Diagrama das pressões em função do deslocament o angular da
cambota para motores a 4 tempos
Com o conhecimento do ciclo indicado será fácil traçar um diagrama das
pressões em função da deslocação angular do veio motor (chamado “ângulo de
manivelas”). Ao focarmos aqui este diagrama podemos dizer que ele servirá
para o cálculo das cargas sobre os apoios da cambota e sobre as paredes do
cilindro, devido à força dos gases de combustão. Também usamos este
diagrama no estudo das pressões dos motores DIESEL na análise do sistema
de injecção.
Para melhor estudarmos o diagrama, ao qual também podemos chamar
diagrama desenvolvido, vamos representá-lo, esquematicamente, na figura 25
e analisar cada uma das suas fases, considerando o motor como atmosférico.
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Figura 25 - Diagrama desenvolvido de um motor a 4 tempos
a) Admissão: No começo da aspiração em 1-2 (figura 25A), o interior do
cilindro encontra-se a uma pressão ligeiramente superior à pressão
atmosférica, pois a fase de escape está no fim.
Estamos em pleno cruzamento de válvulas, com a válvula de admissão a
começar a abrir e a válvula de escape a fechar. Quando o êmbolo começa o
seu curso do [ ]PMS .
b) Compressão: A compressão dar-se-á por efeito do movimento 4-6 do nosso
êmbolo. Pelas razões atrás expostas o saltar da faísca na vela ou a injecção de
combustível em motores DIESEL, realiza-se com um certo avanço, começando
em 5. O ponto 6 dá-nos o máximo valor da pressão sem combustão.
c) Combustão: Com o processo iniciador da combustão em 5, temos uma
elevação de pressão e de temperatura, que atingirá o seu máximo em 7. Esta
subida não deverá ser nem demasiado lenta nem excessivamente rápida, pois
em ambas as situações irá diminuir a área do diagrama indicado e
consequentemente diminuir o binário do motor.
No fim da combustão, teremos a expansão, que realmente será o tempo de
produção de trabalho, o qual irá ser retirado do veio motor, sendo no entanto
uma parte cedida à massa do volante motor, que rodando solidária com o veio
motor e dispondo de uma certa massa, irá aproveitando o efeito de inércia,
para estabilizar o funcionamento do motor durante os outros 3 tempos “mortos”.
A expansão deverá durar o maior tempo possível e é interrompida quando da
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abertura da válvula de escape ainda antes do [ ]PMI , ponto 8 do diagrama,
(avanço ao escape).
d) Escape: Com a abertura da válvula de escape produz-se uma onda de
pressão que irá percorrer o colector. No início é possível que por vezes possa
haver uma depressão causada pela rápida descida de pressão em alguns
pontos do cilindro. No entanto tem-se uma pressão superior à pressão
atmosférica, no percurso do êmbolo do [ ]PMSPMI ⇒
O escape irá durar até ao ponto dois, mas em 1-2, temos a abertura da válvula
de admissão e o ar novo irá arrefecer e lavar a câmara até que o escape
termine verdadeiramente o que sucede em 2. Será o período de lavagem já
anteriormente referido.
Figura 25A -Variação de pressão no cilindro com a rotação da cambota
3.7. Diagrama das pressões em função do deslocament o angular da
cambota para motores a 2 tempos
Na figura 26 temos o diagrama de um motor 2-tempos, em relação ao qual
vamos apenas, nesta fase do curso, explicar algumas particularidades.
a) Primeiro Tempo: No ponto 3, temos o saltar da faísca para motores a
gasolina e a injecção para motores Diesel. De 3 a 4 teremos a subida para o
valor de pressão máximo do ciclo e em seguida começa o processo de
expansão.
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A expansão ocorrerá até ao ponto 5 onde terá lugar o descobrir da janela de
escape ou a abertura da válvula de escape (conforme o tipo de motor).
Imediatamente após e quando a pressão no colector de admissão for idêntica à
do interior do cilindro teremos a admissão de mistura fresca através da janela
de admissão entretanto aberta (ponto 1)
Figura 26 Ciclo indicado de motor a dois tempos
b) Segundo tempo: A partir do ponto 1 temos a fase de lavagem, a qual se vai
desenrolar passando pelo [ ]PMI , e tendo as janelas de admissão e de escape
simultaneamente abertas. É uma fase muito delicada do motor e com base no
seu estudo e os novos processos de cálculo e medição os motores a dois
tempos têm tido um grande avanço, tanto no ramo dos motociclos com
características de pequena potência e alta rotação, como nos grandes motores
industriais que hoje ultrapassam os 66000CV, rodando por volta das 100rpm.
Como anteriormente dissemos, temos de comprimir a nova carga. Em
pequenos motores a gasolina, tal será executado pela parte inferior do êmbolo
- lavagem do cárter - e a pressão no cilindro diminui durante a lavagem, pois
ele está em comunicação com a atmosfera e a pressão de alimentação vai
descendo gradualmente.
Pelo contrário, se o motor for sobrealimentado por um compressor, a pressão
permanecerá constante durante a lavagem, tanto no colector de admissão
como no interior do cilindro. Nalguns casos poderá haver uma tendência para
Motores Alternativos
CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 34
que se perca demasiada carga fresca, pois existe sempre uma diluição com os
produtos da combustão anterior, mas a existência de válvulas orientadoras de
lavagem existentes nalguns motores diminui esta tendência. Com o andamento
do êmbolo do [ ]PMSPMI ⇒ , vamos fechando as janelas de admissão, em 2' e
depois as janelas de escape em 2'’, até chegarmos ao ponto 3 no final do
processo de combustão.
Apresentamos de seguida o diagrama desenvolvido para um motor a 2 tempos,
em relação ao qual serão válidas todas as considerações efectuadas para os
motores a dois tempos.
Finalmente devemos fazer referência ao ciclo com sobrealimentação, mas
guardamos o seu estudo para quando do capítulo dedicado a sobrealimentação
de motores de combustão interna.
Figura 27 Diagrama desenvolvido para motor a dois tempos
4. Fluidos de trabalho dos motores
4.1. Notas introdutórias
Antes de entrarmos propriamente no estudo dos fluidos de trabalho e da
combustão dos motores, vamos explicar o que entendemos por carga, e quais
os parâmetros que condicionam a velocidade do motor, os quais estão
intimamente ligados com os fluidos.
Como sabemos a força que faz girar o motor, deriva da pressão dos gases da
combustão, e em cada momento tem de se confrontar com a resistência interna
do próprio motor, bem como a resistência externa. Esta resistência externa
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 35
exprime-se em termos de binário resistente, e designamo-la por carga sobre o
motor.
Portanto do valor da carga aplicada ao motor e da quantidade de combustível
que estiver a ser queimado em determinado momento, resulta uma aptidão de
rotação, que se manterá constante enquanto houver um equilíbrio entre
carga/força de gases.
Para sair da situação de equilíbrio, existem duas possibilidades, ou varia o
consumo de combustível, ou varia a carga sobre o motor. Evidentemente que
para qualquer das duas situações podem contribuir um sem número de
factores.
Por exemplo no motor de inflamação por faísca, quando pretendo que ele rode
mais depressa, vou abrir uma borboleta no colector de admissão que vai
regular a quantidade de uma mistura ar/combustível.
Conforme a posição da válvula esteja fechada, (estando apenas um circuito de
“ralenti” aberto), parcialmente aberta, ou totalmente aberta, assim eu digo que
estou a trabalhar ao “ralenti”, a carga parcial e a carga total. Regulamos
quantitativamente a mistura.
Para o motor de inflamação por compressão, podemos variar a velocidade
através do fornecimento de combustível. A regulação da mistura é qualitativa,
pois regula a quantidade de combustível actuando na bomba de injecção,
sendo a quantidade de ar praticamente a mesma, por não existir qualquer
estrangulamento na admissão (é válida a afirmação anterior para quase todos
os motores, no entanto no ramo automóvel e por uma questão de poupança
temos casos de borboletas instaladas no colector de admissão e sincronizadas
com o débito da bomba de injecção).
Outra possibilidade de variar a velocidade será portanto actuar na carga do
motor, tal constitui o parâmetro variável de qualquer ensaio num freio de
potência. Onde pretendo traçar a curva de potência do motor.
Para traçarmos as curvas características de qualquer motor vamos colocá-lo
num regime de abertura total, ou seja, vamos no caso de um motor a gasolina
abrir totalmente a borboleta de aceleração e no caso do motor DIESEL, vamos
colocar o débito da bomba no máximo. Em seguida vamos exercendo um
binário resistente sobre o motor, ou seja aumentamos a carga sobre o motor e
ele baixará de regime de rotações.
Motores Alternativos
CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 36
Controlando o valor da carga para ir baixando, ou elevando (no caso de
diminuir a carga) as rotações de uma forma ordenada vou retirando valores da
força que o motor está exercendo, em medidores próprios instalados no freio,
podendo assim traçar a curva de binário/rotações, e a partir dela a de
potência/rotações, que são as chamadas curvas características.
Figura 28 Freio de potência para motores
4.2. Fluidos de trabalho
A energia química do combustível liberta-se sob a forma de calor, quando
queimamos o combustível em presença do oxigénio. Torna-se assim evidente a
necessidade de introduzir oxigénio para o interior do motor. Nos motores de
inflamação por faísca, introduzimos ar e combustível simultaneamente, nos
motores de inflamação por compressão introduzimos o ar e o combustível só
após termos comprimido o ar.
A mistura comprimida transforma-se, na câmara de combustão em vapor de
água (H2O), dióxido de carbono (CO2) e azoto (N2). O azoto não intervém na
combustão nem teria qualquer importância, se o processo de combustão fosse
completo.
Infelizmente o processo não é completo, e temos uma série de subprodutos
resultantes da combustão incompleta e de reacções químicas posteriores à
própria combustão. Tal assunto será devidamente estudado, quando focarmos
a combustão de cada motor e o seu efeito poluidor no meio ambiente. Para já
podemos citar entre outros produtos, o perigoso monóxido de carbono [ ]CO , o
hidrogénio [ ]H , metano [ ]4CH e oxigénio [ ]2O .
Portanto o fluido de trabalho que inicialmente seria ar e combustível, vai
variando ao longo do ciclo operativo, com as consequências previstas nos
Motores Alternativos
CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 37
parágrafos anteriores. Vejamos de seguida algumas propriedades dos
intervenientes na mistura de trabalho.
4.3. Ar atmosférico necessário à combustão relação estequiométrica
Fornecemos de seguida uma tabela com a constituição do ar atmosférico que
irá entrar para os nossos motores e que é respirado por todos nós:
Composição do ar atmosférico
Componentes Peso
Molecular
Proporção
em volume
Peso
Relativo
Volume
relativo
Oxigénio (O2) 32 0,2099 6,717 1
Azoto (N2) 28 0,7803 21,861
Árgon (A) 40 0,0094 0,736 3,76
Dio.Carbono
(CO2)
44 0,0003 0,013
Outros -- 0,0001 --
Ar (Total) -- 1,00 28,07 4,76
Grosso modo podemos dizer que em peso, teremos 77 partes de azoto, para
23 partes de oxigénio, e em volume, teremos 21 de oxigénio para 79 de
nitrogénio. O peso de 1m3 de ar à pressão atmosférica é de 1,29928kg,
ocupando um kg de ar nas mesmas condições o volume de 0,77351 m3.
Vejamos de seguida o ar necessário para a combustão. Consideremos que o
combustível de trabalho seja um hidrocarboneto portanto composto por C e H,
donde a reacção de cada um destes elementos com o ar será:
22 COOC →+ 222 HO2OH2 →+
Sendo portanto o vapor de água e o dióxido de carbono os produtos da
combustão. Como no caso o carburante é o ar teremos:
Eliminando das equações o azoto por ter igual valor nos dois membros, e
substituindo cada componente pelo seu respectivo peso atómico teremos:
OH18O16H2O21
H 222 =+⇒+
222 CO44O32C12COOC =+⇒=+
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 38
Vamos aplicar esta equação para o caso da queima de dois hidrocarbonetos
com características idênticas aos combustíveis usados nos nossos motores,
como sendo o octano (C8H18) semelhante à gasolina, e o cetano (C16H34)
semelhante ao gasóleo, quando misturado com o alfa-metil-naftaleno (C11H10).
OH9CO8O5,12HCotanOc 222188 +⇒+⇒
Multiplicando cada componente pelo seu peso atómico virá:
( ) ( )[ ] ( )[ ] ( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ]O16*9H2*9O32*8C12*8O32*5,12H1*18C12*8 222 +++=++
( ) ( ) ( ) ( )OHkg162COkg352Okg400HCkg114 222188 +=+
Para reportarmos toda a equação a 1kg de combustível, vamos dividi-la por
114, obtendo:
( ) ( ) ( ) ( )OHkg42,1COkg08,3Okg5,3HCkg1 222188 +=+
Podemos então afirmar que para queimar 1kg de combustível serão
necessários 3,5kg de oxigénio. Se quisermos saber a quantidade de ar, bastará
lembrarmo-nos que cada kg de ar contém 0,23 kg de oxigénio.
15,3
pesoemlCombustíveOxigéniolaçãoRe =
15,3
pesoemOxigénioarlaçãoRe =
pesoemOxigénioarlaçãoRe
*pesoemlCombustíve
OxigéniolaçãoRepesoemOxigénioarlaçãoRe =
lcombustívekg1arkg2,15
23,05,3
23,01
*15,3 ==
Temos assim que para queimar um kg de combustível completamente são
necessários 15,2kg de ar. Chamamos a esta relação a proporção ou relação
Motores Alternativos
CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 39
estequiométrica. Habitualmente dizemos que a relação ar/combustível, será de
15/1 em peso
OH17CO16O5,24HCotanCe 2223416 +⇒+⇒
Procedendo de idêntica forma
( ) ( ) ( ) ( )OHkg306COkg704Okg784HCkg226 2223416 +=+
Para que seja a 1kg de combustível, dividimos todos os membros por 226:
( ) ( ) ( ) ( )OH35,1COkg11,3Okg84,3HCkg1 2223416 +=+
Relação ar/combustível para o cetano:
lcombustívedekg1ardekg04,15
23,046,3
23,01
*146,3 ==
Existe como podemos ver por este pequeno exemplo uma grande semelhança
entre as relações estequiométricas, mas dependendo da carga e da velocidade
do motor, assim poderemos usar várias relações.
Durante todo este processo da combustão convinha aqui focarmos o aspecto
da dissociação, já referida anteriormente. No início a combustão desenvolve-se
a muito alta velocidade (pode atingir a frente de chama mais de 25 m/s), e de
igual forma a formação dos produtos. Ao aparecer o CO2 e o H2O, temos
devido ao ciclo um grande aumento de temperatura. Começa assim a
dissociação.
À medida que a combustão evolui a formação de CO2 e H2O, vai decrescendo,
bem como a velocidade da reacção química. No entanto aumenta a
concentração destes componentes nos produtos de escape e a velocidade de
dissociação também. Temos então as equações químicas:
22 COOC ⇒+ 222 HO2OH2 ⇒+
As velocidades dos processos de formação e de dissociação vão aumentando
até se atingir um equilíbrio no qual as velocidades são iguais: estado de
equilíbrio químico, cuja característica principal será função da temperatura para
cada reacção. A dissociação aumenta exponencialmente com a temperatura.
Como exemplos podemos referir o de CO2, cuja proporção dissociada será de
5%, para 2000K, 18,5% para 2500K, 27,5% para 3000K e de 64,5% para
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 40
3200K. Para todas as temperaturas e para todos os gases a dissociação
absorve calor, pelo que se traduz, numa perda para o ciclo operativo do motor.
4.4. Calor desenvolvido na combustão
O calor total desenvolvido na combustão será igual ao resultante da combustão
do carbono e do hidrogénio, menos a quantidade necessária para a divisão das
moléculas do combustível.
Temos assim por exemplo para o octano: 188 HC
( ) ( ) 22 H158,0C842,0H11418
C11496
otanOckg1)1 +=+⇒
Sabendo que por cada kg de [C] queimado se libertam 33936 kJ, e que por
cada kg de [H2], se libertam 144690 kJ, teremos, por cada kg de octano
queimado:
kJ51435144690*158,033936*842,0Q)2 =+=
Como segundo HELDT, para a dissociação do octano necessitamos de
kgkJ3553 , o calor total libertado na combustão por cada kg será:
kJ47882355351435QQQ)3 .Dissoc.CombT =−=−=
Esta quantidade de calor é sensivelmente igual ao calor específico da
combustão [Ho] (chamado anteriormente poder calorífico superior ou calor da
combustão).
Podemos definir este calor específico da combustão como o calor desenvolvido
pela combustão de 1 kg do elemento considerado, sendo os elementos
tomados a 0ºC e a água considerada condensada a 0ºC. Pouco significado tem
para nós técnicos de motores pois temos que considerar que a água está
presente no processo de combustão e no estado gasoso. Temos assim de
contar com uma perda de calor, que será o calor latente de vaporização da
água, o qual não vamos recuperar, devido à alta temperatura dos gases de
escape.
Consideramos então para os nossos cálculos o poder calorífico específico Hu,
(chamado anteriormente, poder calorífico inferior), o qual vamos definir como a
quantidade de calor desenvolvido à pressão atmosférica, pela unidade de
Motores Alternativos
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massa do combustível, considerando os elementos de combustão no estado
gasoso. Para o octano:
kJ44182kJ3700kJ47882
HespecíficoCalorificoPoderkJ3700H:combustãodacalorificoPoder)4 U0
=−
=−
Se pretendemos saber a relação ar/combustível em volume, veremos que será
bastante diferente da que foi encontrada para o peso. A densidade do octano é
de 0,69 kg/l a 20ºC, enquanto a do ar será a 20ºC e à pressão atmosférica de
1,204 kg/m3. Relacionando os dois valores tenho face ao resultado achado
anteriormente de 15,2 para a relação estequiométrica em peso:
=
−
Combmarm
8710ar.densHC.dens
204,110*69,0
*Com
Ar1
2,15)1 3
31818
3
Peso
O calor desenvolvido na combustão da unidade de volume do combustível,
será assim de:
lkJ3047669,0*44182den*H:caloríficoPoder)2 U ==
Para sabermos o poder calorífico por unidade de volume da mistura ar
combustível temos:
ardem624,12204,1
2,15ardekg2,15)3 3=⇒
33 m10*449,1.combdel449,169,01
combdekg1 −==⇒
33 m625,1210*449,1*624,12temostodoAo =−
Poder Calorífico por unidade de volume da mistura Ar/Combustível o qual é
idêntico para a maior parte das misturas ar / combustível, dos hidrocarbonetos
usados.
3mkJ3500
625,1244182 =
4.5. Formação da mistura Ar/Combustível
Vamos de seguida estudar o problema da formação da mistura ar/combustível.
Ele será de grande importância pois seja qual for o motor desde que o
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 42
combustível não encontre o ar na proporção estequiométrica, não há
combustão.
De diferentes formas, como temos vindo a referir se irá dar o processo de
mistura em motores de inflamação por faísca ou de inflamação por
compressão.
Nos primeiros, quer se trate de combustíveis líquidos ou gasosos, temos um
processo de carburação ou de injecção a baixa pressão com mistura fora do
cilindro. Nos segundos que trabalham normalmente com combustíveis líquidos,
temos um processo de injecção a alta pressão e mistura no interior da câmara.
Existem ainda motores especiais que trabalham simultaneamente com
combustíveis líquidos e gasosos, são os chamados “dual-fuel”, em que a
combustão do combustível líquido injectado a alta pressão irá servir como
processo iniciador para a combustão do combustível gasoso, introduzido
conjuntamente com o ar da mistura.
A formação da mistura começa com a adição de combustível ao ar que é
aspirado pelo motor. O combustível, composto por hidrogénio (H) e carbono (C)
deve ser misturado a uma determinada proporção com ar, composto por
oxigénio (O) e azoto (N), de forma a obter-se uma mistura capaz de ser
inflamada.
No caso de motores de ignição, a relação combustível/ar necessária para uma
combustão completa é de [ ]7,14:1 . A este valor dá-se o nome de relação
estequiométrica. Isto significa que 1 parte em peso de combustível se deve
misturar com 14,7 partes de peso de ar. Este valor é realmente importante e
deve ter sempre em atenção esta razão.
Em volume, isto corresponde a 1 litro de combustível para 10 000 litros de ar,
aproximadamente.
A esta relação estequiométrica de ar/combustível dizemos que o factor de ar
λ (lambda) é igual à quantidade de ar fornecida/quantidade de ar teoricamente
necessária chegando à relação: 1/1=1
Para compreender melhor repare:
Para representar uma mistura pobre utilizamos: 1>λ (lambda), significa
que a mistura contém mais ar.
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 43
Para representar uma mistura rica, utilizamos: 1.. <λ (lambda), significa
que a mistura contém menos ar.
No caso de haver um défice de ar, o combustível não é completamente
aproveitado, aumentando o consumo e o nível de poluentes no escape.
Isto pode acontecer devido a vários factores, mas principalmente porque o filtro
de ar do automóvel se encontra obstruído e precisa de ser mudado.
No caso de haver excesso de ar, o rendimento diminui e a temperatura do
motor aumenta.
Enriquecimento da mistura: Num motor é sempre necessário adaptar a
relação ar/combustível a todas condições de funcionamento do motor, de modo
que em qualquer situação se possa obter:
Rendimento elevado;
Boa eficiência;
Mínimo de emissões poluentes.
Vamos analisar em que certas situações é necessário o enriquecimento da
mistura.
1. No arranque: A mistura deve ser extremamente rica quando o motor
está frio, uma vez que parte do combustível condensa nas paredes frias
do colector de admissão e nos cilindros.
2. Em progressão: A mistura deve ser enriquecida para que se obtenha
uma transição suave do ralenti para uma velocidade baixa.
3. Em aceleração: Quando a borboleta do acelerador abre rapidamente, o
combustível não consegue acompanhar a aceleração do fluxo de ar
(devido ao seu peso mais elevado) e parte dele não chega a entrar no
cilindro. A mistura deve ser enriquecida nesta fase para evitar qualquer
hesitação do motor. Nos motores com carburador, o enriquecimento é
feito através da bomba de aceleração e nos motores de injecção, a
gestão do motor detecta esta situação, prolongando o tempo de
injecção.
4. A meia carga: É desejável, a meia carga do motor, uma mistura pobre
combinada com um consumo baixo e níveis de emissões de poluentes
igualmente baixos.
5. A potência máxima : A potência máxima do motor, o arrefecimento
adicional da câmara de combustão é obtida por meio de um aumento na
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proporção de combustível, evitando-se o sobreaquecimento do motor.
Para além disso, assegura-se a quantidade de combustível necessária
para que se obtenha a energia máxima.
4.5.1. Preparação da mistura ar combustível
4.5.1.1. Motores do ciclo Otto
O rendimento de um motor do ciclo Otto está directamente ligado à quantidade
de combustível, e ar e ao modo que ele é fornecido ao motor.
Chamaremos de razão ar combustível (AC), a razão entre a massa de ar e a
massa de combustível contido na mistura.
Por exemplo, uma mistura de [ ]1:15.. =AC 1 é constituída de 15 kg de ar e 1 kg
de combustível. Um motor pode ser alimentado por uma mistura com distintas
razões AC, porém, terá uma bem definida que lhe dará um melhor rendimento.
A potência máxima de um motor não é limitada pela quantidade de combustível
fornecido, mas sim pela quantidade de ar aspirado, uma vez que a quantidade
de ar necessária é sempre várias vezes maior do que a quantidade de
combustível. Além disto, o ar está na fase gasosa, com um volume específico
cerca de mil vezes superior e sofre a restrição ao escoamento provocada pelo
filtro de ar, tubos e porta da válvula de admissão. O combustível encontra-se
na fase líquida com alta densidade o que facilita sua admissão. Se um motor
recebe uma percentagem extra de combustível acima da necessária para a
combustão completa, este excesso será desperdiçado, devido a falta de
oxigénio para queimar este combustível.
4.5.1.2. Mistura estequiométrica:
A quantidade de ar teórica, necessária para que ocorra uma combustão
completa em um motor alimentado com uma mistura formada de ar e gasolina
pode ser obtida a partir da reacção química de combustão:
A gasolina é uma mistura de vários hidrocarbonetos porém podemos tomar
como representativo desta mistura o iso-octano, cuja reacção de combustão é
a seguinte:
22222188 47....8..76,3*5,125,12 NOHCONOHC ++⇒++
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 45
ardekgNOardeMassa ...1716..28*76,3*5,12..32*5,12.)..(.. 22 =+⇒
lCombustívedekglcombustívedeMassa ...114..18..12*8.... =+
15.114
1716:.......tan ≅=− eAClcombustívearrazãoatoPor
Portanto, para que ocorra a combustão em 1kg de gasolina são necessários
15kg de ar atmosférico. Esta razão de ar combustível é chamada de mistura
estequiométrica eAC .
O etanol é uma substância pura, cuja reacção de combustão é a seguinte:
2222252 28,11..2..3..76,33. NCOOHNOHC ++⇒++
ardekgNOardeMassa ...84,411..28*76,3*3..32*3.)..(.. 22 =+⇒ lCombustívedekglcombustívedeMassa ...46.16..6..12*2.... =++
95,8.46
84,411:. ≅=eAC
O d-limoneno, um combustível extraído da casca da laranja, tem a seguinte
reacção de combustão:
222221610 64,52..10.8..76,3*14.14. NCOOHNOHC ++⇒++
ardekgNOardeMassa ...92,1921..28*76,3*14..32*14.)..(.. 22 =+⇒
lCombustívedekglcombustívedeMassa ...136.16..12*10.... =+
13,14.136
92,1921:. ≅=eAC
4.5.1.3. Tipos de misturas Ar/Combustível
A mistura estequiométrica é a mistura onde a relação ar + combustível é a ideal
para que ocorra uma combustão completa. Teoricamente falando, ela seria a
razão da mistura com o qual um motor apresentaria a sua máxima potência,
porém, na prática, isto não acontece, sendo necessário o uso de uma mistura
com razão AC menor que a estequiométrica. O uso desta mistura em excesso
de combustível, com a qual obtemos a máxima potência, faz-se necessário, por
causa da vaporização da mistura e dos gases residuais da combustão do ciclo
anterior que se juntam a esta nova mistura. Nas velocidades de cruzeiro do
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motor, o factor predominante é a economia de combustível, portanto, nesta
condição, o título da mistura ar combustível deve ser maior que o valor
estequiométrica, isto é, a combustão realiza-se em excesso de ar.
Nestes dois exemplos anteriores, podemos verificar que a razão AC pode
oscilar em torno do valor estequiométrico, dependendo do regime de
funcionamento do motor.
Costuma-se definir o lambda .λ da mistura como a razão entre a mistura ar
combustível real e a mistura ar combustível estequiométrica.
e
real
AC
AC.. =λ
4.5.1.4. Mistura Rica
A mistura é considerada rica quando a razão ar combustível real é inferior à
razão ar combustível estequiométrica, portanto quando 1.. <λ
1.... <=e
real
AC
ACλ
O inconveniente da mistura rica é que proporciona combustão incompleta,
devido a falta de oxigénio. Assim, haverá formação de depósitos de carbono na
câmara, segmentos, válvulas e nos eléctrodos da vela, prejudicando assim o
funcionamento do motor. Uma outra desvantagem é o aumento no consumo de
combustível do motor. A vantagem é que, com a mistura rica, a temperatura no
interior da câmara de combustível é mais baixa.
4.5.1.5. Mistura Pobre
A mistura é considerada pobre quando a razão ar combustível real é superior à
razão ar combustível estequiométrica, portanto quando 1.. >λ
1.... >=e
real
AC
ACλ
Quando uma mistura pobre entra em combustão, devido ao excesso de
oxigénio, a temperatura da chama será muito alta. Esta elevação de
temperatura, poderá provocar um super aquecimento nos órgãos do motor,
principalmente na válvula de escape, podendo inclusive provocar a sua
queima.
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CICLOS DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR - Resumos Página 47
4.5.1.6. Performance de um Motor do Ciclo Otto em F unção da Mistura
O sistema de alimentação de mistura ar combustível, quer seja sistema com
carburador como o sistema de injecção tem a função de dosear o combustível
e o ar, de modo que o motor seja alimentado com uma mistura a mais
apropriada possível.
Na figura a seguir apresenta-se o comportamento da potência e do consumo
específico de um motor em função da qualidade da mistura ar combustível λ
Figura 29 Comportamento da potência e do consumo específico
O sistema de alimentação carburado é projectado para que forneça uma
mistura rica )86,0..( ≅λ quando o motor trabalhar na máxima potência e uma
mistura pobre )1,1..( ≅λ para a velocidade de cruzeiro.
Quando o motor está em regime de baixa rotação, partes dos gases de escape
retrocede ao colector de admissão no momento do cruzamento de válvula.
Assim, a baixa rotação os gases de escape diluem a mistura fresca que será
admitida. Para contornar o efeito enfraquecedor dos gases de combustão, a
mistura deve ser enriquecida, a fim de não prejudicar o funcionamento do
motor.
Quanto mais fechada estiver a borboleta, maior será a depressão no colector, e
por conseguinte maior será a quantidade de gases de combustão que fluirá
para o seu interior, sendo necessário portanto, que o combustível seja
fornecido em excesso.
A figura a seguir mostra a qualidade da mistura ar combustível em função da
abertura da borboleta de aceleração.
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Figura 20 Percentagem de abertura da borboleta
Podemos notar que para um regime de rotação baixa, quando a borboleta está
parcialmente fechada, a mistura será rica, tendo uma razão ar combustível
baixa, isto proporciona um consumo específico alto. À medida que a borboleta
se abre a mistura começa a empobrecer, diminuindo o consumo específico até
atingir um ponto mínimo. A partir daí, quanto maior for a abertura da borboleta,
maior será o consumo, já que a mistura começa a enriquecer novamente.
4.5.1.7. Temperatura da Câmara em Função da Mistura
A temperatura de combustão está relacionada com a razão ar combustível.
Pelo gráfico da figura a seguir podemos verificar que a temperatura da câmara
atinge um valor máximo, quando a mistura é pobre.
Figura 21 Temperatura da câmara função da mistura
Podemos verificar que para um )25,1..( =λ , a temperatura da câmara é
máxima, e se a mistura se torna rica ou pobre a temperatura diminui. Porém, a
temperatura pode variar em função das características particulares do motor.
As temperaturas dos gases de escape também estão relacionadas à razão ar +
combustível da mistura. Podemos verificar, que com o empobrecimento da
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mistura, a temperatura dos gases vai subindo até atingir um ponto máximo a
partir daí, começa a diminuir.
Figura 22 Temperatura dos gases de escape
4.6. Vaporização da Mistura
A combustão da mistura será tanto melhor quanto maior for a percentagem de
combustível vaporizado nesta mistura. A vaporização de um líquido está
directamente relacionada a três factores:
a)- Superfície de contacto
b)- Pressão ambiente
c)- Temperatura
E segue aproximadamente a seguinte lei de Dalton: ( )P
PPACmc satVap
v
−=
**..
vmc Quantidade de líquido evaporado mingr
A 2m
C Constante, varia de 400 a 700 para ventilação normal a forçada.
vapP Pressão de vapor saturado
satP Pressão de vapor do líquido à temperatura ambiente.
P Pressão actuante
a) Superfície de contacto: O carburador deve ser projectado de modo a obter-
se a máxima vaporização do combustível, com o maior rendimento volumétrico
possível. Desta forma, o combustível é finamente pulverizado de tal forma que
se divida em pequenas gotículas aumentando-se substancialmente a área de
transferência de calor por volume de combustível debitado.
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b) Pressão Actuante : A pressão actuante na mistura está relacionada com a
abertura da borboleta e rotação do motor.
c)Temperatura A mistura ar combustível pode ser aquecida através da água
de refrigeração do motor ou através dos gases de escape. A água de
refrigeração do motor é circulada na jaqueta que envolve o colector de
admissão. Uma parte destes gases é desviado por meio de um deflector sendo
conduzida até a parede inferior do colector de admissão, aquecendo-o. Tal
deflector pode ser fixo ou móveis, os móveis são construídos de modo a
desviar uma grande quantidade de gases de escape sobre a parede do
colector, quando o motor estiver frio. Assim que ele é aquecido uma mola
metálica acciona o deflector para a posição de fechado, diminuindo assim a
quantidade de gases circulantes, e portanto não elevando demasiadamente a
temperatura do colector.
O aumento da temperatura da mistura facilita a evaporação, mas por outro
lado, diminui o rendimento volumétrico, já que a mistura aquecida aumenta de
volume e seu peso específico diminui.
Portanto, a temperatura ideal do colector deve ser aquela que proporciona uma
melhor evaporação para um maior rendimento volumétrico
5. Sonda Lambda
Consiste num sensor que determina o oxigénio presente nos gases de escape.
Isto permite conhecer a riqueza da mistura e medir se a mesma é rica (muito
combustível), pobre (pouco combustível) ou é a relação estequiométrica entre
combustível e ar.
A relação estequiométrica é referente ao combustível em questão. Desta forma
dir-se-á que Lambda 1.. =λ quando a mistura possua uma relação de 14.7
entre ar e gasolina ou de 17.2 para gás natural.
O sensor funciona em consequência da variação da quantidade de oxigénio
nos gases de escape versus quantidade de oxigénio na atmosfera. A tensão
eléctrica é produzida pela diferença entre as duas quantidades. Se a
quantidade de oxigénio no escape é mais próximo do da quantidade no ar, o
motor é “carne sem gordura” e a tensão é baixa (abaixo 250mV). Se o motor é
“rico” a tensão é elevada (acima de 950mV).
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5.1. O que faz um sensor do oxigénio?
O sensor do oxigénio monitoriza o ar de combustão nos motores em relação ao
combustível, medindo a quantidade de oxigénio livre na exaustão. Relata esta
informação à unidade de controlo do motor ou ao ECU. Aproximadamente cada
10 milissegundos o ECU usa esta informação para fazer correcções ao ar para
abastecer a mistura para a eficiência máxima
Figura 23 Sonda Lamba
5.2. Relação estequiométrica
É a relação entre ar e o combustível que produz a combustão completa do
combustível.
A mesma é diferente segundo o tipo de combustível, por exemplo, para a
gasolina a é de 14.7 gramas de ar por cada grama de gasolina e para o GNC é
de 17.2. Esta relação equivale a )1( =λ .
6. Bibliografia
Paz Arias – Manual do Automóvel – Edição
Jorge Martins – Motores de Combustão Interna – Edições Técnicas
h.m. Chollet – Mecânicos de automóveis Edição hemus
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_de_Otto
http://www.youtube.com/watch?v=EiCffksasCY
http://www.xl.pt/autopedia/motores/ciclo_motor4.shtml