2- Crítica Semanal [Nº1101-1102 # 4ª Semana Abril e 1ª de Maio 2012]

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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP. CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA Tel. (11) 92357060 ou (48) 96409331 e-mail: [email protected] EDIÇÃO 1101/1102 – Ano 26; 4ª semana Abril e 1ª de Maio 2012. DESEMPREGO E TURBULÊNCIAS SOCIAIS. Os patrões não parecem muito preocupados com as consequências sociais, no futuro próximo, da perigosa estratégia de manipulação sanguinária do exército industrial de reserva mais globalizado do que nunca. Seus economistas e seus burocratas das instituições multilaterais, ao contrário, estão inquietos.. E os subterrâneos se movem. JOSÉ MARTINS A Organização Internacional do Trabalho (OIT), instituição burocrática da imperial Organização das Nações Unidas (ONU), em seu anual “Relatório Sobre o Trabalho no Mundo 2012: empregos melhores para uma economia melhor” 1 – informa ao distinto público que ainda restam 50 milhões de empregos a menos do que havia às vésperas da eclosão da mais recente crise periódica do capital (2008/2009). Se consideramos a recuperação iniciada há quase três anos, no terceiro trimestre de 2009, nos deparamos com uma particularidade muito importante do presente ciclo: não se tem notícia de nenhum outro ciclo anterior, pelo menos nos últimos setenta anos, que tenha apresentado tanta lentidão em reconvocar os reservistas do glorioso exército industrial de reserva mundial. Já tratamos deste fenômeno. Mas, antes de outros comentários, vejamos outras informações importantes do relatório da OIT, mantendo toda fidelidade ao texto e à sua burocrática linguagem de funcionários do capital: ● Desde 2007, antes da mais recente crise econômica mundial, as taxas de emprego aumentaram só em seis das trinta e seis economias ricas. Mesmo com os sinais de retomada econômica em certas regiões e países, a situação mundial do emprego é extremamente inquietante e não dá mostra nenhuma de alguma recuperação no futuro próximo. A taxa global de emprego de 60.3 por cento em 2011 ainda está 0.9 ponto percentual abaixo de antes da crise. Essa diferença quer dizer que aproximadamente 50 milhões de postos de trabalho foram perdidos na comparação com antes da crise. ● O desemprego se ampliou particularmente entre grupos mais vulneráveis, como os jovens (idade de 15 a 24 anos). As taxas de desemprego dos jovens aumentaram em cerca de 80 por cento nos países ricos e em cerca de 66 por cento nos países pobres (“emergentes” ou “em desenvolvimento”). Em média, mais de 36 por cento dos jovens que procuram emprego nas economias ricas estão sem emprego por mais de um ano (desemprego de longo prazo). ● Os níveis de pobreza aumentaram em 50 por cento das economias ricas e em 33 por cento das economias pobres. Ao mesmo tempo, as desigualdades se aprofundaram em 50 por cento das economias ricas e em 25 por cento das economias pobres. As desigualdades também se ampliaram em termos de acesso à educação, alimentação, terra e crédito. ● Em média, mais de 40 por cento dos trabalhadores procurando emprego nas economias ricas estão desempregados há um ano ou mais. Esses desempregados de longa duração são desmoralizados e perdem suas qualificações, o que afeta suas chances de encontrar um novo emprego. A maioria das economias pobres, ao contrário, registra um recuo do desemprego de longa duração assim como das taxas de inatividade. A taxa de desemprego de longa duração aumentou mais significativamente na Dinamarca, Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. ● O trabalho a tempo parcial não voluntário aumentou em dois terços das economias ricas. O emprego temporário também aumentou na maioria dessas economias. O emprego informal situa-se em mais de 40 por cento em dois terços dos países pobres. Nos países ricos, os novos empregos

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2012 - 2 CR

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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP.

CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIATel. (11) 92357060 ou (48) 96409331 e-mail: [email protected]

EDIÇÃO 1101/1102 – Ano 26; 4ª semana Abril e 1ª de Maio 2012.

DESEMPREGO E TURBULÊNCIAS SOCIAIS.

Os patrões não parecem muito preocupados com as consequências sociais, no futuro próximo, daperigosa estratégia de manipulação sanguinária do exército industrial de reserva mais globalizado

do que nunca. Seus economistas e seus burocratas das instituições multilaterais, ao contrário,estão inquietos.. E os subterrâneos se movem.

JOSÉ MARTINS

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), instituição burocrática da imperial Organizaçãodas Nações Unidas (ONU), em seu anual “Relatório Sobre o Trabalho no Mundo 2012: empregosmelhores para uma economia melhor” 1 – informa ao distinto público que ainda restam 50 milhõesde empregos a menos do que havia às vésperas da eclosão da mais recente crise periódica do capital(2008/2009).Se consideramos a recuperação iniciada há quase três anos, no terceiro trimestre de 2009, nosdeparamos com uma particularidade muito importante do presente ciclo: não se tem notícia denenhum outro ciclo anterior, pelo menos nos últimos setenta anos, que tenha apresentado tantalentidão em reconvocar os reservistas do glorioso exército industrial de reserva mundial. Já tratamosdeste fenômeno. Mas, antes de outros comentários, vejamos outras informações importantes dorelatório da OIT, mantendo toda fidelidade ao texto e à sua burocrática linguagem de funcionáriosdo capital:● Desde 2007, antes da mais recente crise econômica mundial, as taxas de emprego aumentaram sóem seis das trinta e seis economias ricas. Mesmo com os sinais de retomada econômica em certasregiões e países, a situação mundial do emprego é extremamente inquietante e não dá mostranenhuma de alguma recuperação no futuro próximo. A taxa global de emprego de 60.3 por cento em2011 ainda está 0.9 ponto percentual abaixo de antes da crise. Essa diferença quer dizer queaproximadamente 50 milhões de postos de trabalho foram perdidos na comparação com antes dacrise.● O desemprego se ampliou particularmente entre grupos mais vulneráveis, como os jovens (idadede 15 a 24 anos). As taxas de desemprego dos jovens aumentaram em cerca de 80 por cento nospaíses ricos e em cerca de 66 por cento nos países pobres (“emergentes” ou “em desenvolvimento”).Em média, mais de 36 por cento dos jovens que procuram emprego nas economias ricas estão sememprego por mais de um ano (desemprego de longo prazo).● Os níveis de pobreza aumentaram em 50 por cento das economias ricas e em 33 por cento daseconomias pobres. Ao mesmo tempo, as desigualdades se aprofundaram em 50 por cento daseconomias ricas e em 25 por cento das economias pobres. As desigualdades também se ampliaramem termos de acesso à educação, alimentação, terra e crédito.● Em média, mais de 40 por cento dos trabalhadores procurando emprego nas economias ricas estãodesempregados há um ano ou mais. Esses desempregados de longa duração são desmoralizados eperdem suas qualificações, o que afeta suas chances de encontrar um novo emprego. A maioria daseconomias pobres, ao contrário, registra um recuo do desemprego de longa duração assim como dastaxas de inatividade. A taxa de desemprego de longa duração aumentou mais significativamente naDinamarca, Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.● O trabalho a tempo parcial não voluntário aumentou em dois terços das economias ricas. Oemprego temporário também aumentou na maioria dessas economias. O emprego informal situa-seem mais de 40 por cento em dois terços dos países pobres. Nos países ricos, os novos empregos

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criados no período recente também são cada vez mais precários. As formas de emprego nãoconvencional estão a aumentar em mais da metade das economias pesquisadas.● Em 26 dos 40 países dos quais a OIT dispõe de dados, a proporção dos trabalhadores cobertos porum acordo coletivo declinou entre 2000 e 2009. Vinte e oito por cento dos países pobresimplantaram políticas visando reduzir as contribuições sociais durante a crise 2008-2009, frente asessenta e cinco por cento nas economias ricas.● Atingindo 19,8 % do PIB em 2010, os investimentos mundiais ficam a 3,1 pontos percentuaisabaixo da média histórica, com tendência baixista mais pronunciada nas economias ricas. Em todasas regiões, as pequenas empresas tiveram seus investimentos afetados pela crise de maneiradesproporcional.Voltemos a nossa forma própria de expressão. Verificamos (ou confirmamos) com os dados da OITque ocorre atualmente uma tendência à globalização da miséria da periferia em direção às principaismetrópoles imperialistas. Melhor ainda, como essa pauperização globalizada é um poderosoinstrumento para aumento da taxa de exploração na ponta do sistema.Já falamos exaustivamente em boletins anteriores de como os capitalistas estão se aproveitandodessa estratégia de esmagamento dos salários e das condições de existência da classe operária nasprincipais economias do sistema – Estados Unidos, Zona do Euro e Japão. E de como esse brutalaumento da exploração e da miséria da classe operária mundial nos últimos anos foi a chave para aatual recuperação da economia de ponta do sistema e da diminuição da fervura da catástrofe naEuropa, China, e outras áreas.Conseguiram evitar a crise geral do capital aumentando adequadamente a taxa global de mais-valiae, simultaneamente, a pobreza das massas no centro do sistema. Mais-valia relativa comoinstrumento poderoso de criação de espaços de mais-valia absoluta. É neste sentido (e apenas neste)que se deve situar a particular taxa de desemprego que se apresenta no presente ciclo – odesemprego da classe operaria como virtude e não falha do mercado, que pode ser consertadapoliticamente (Estado), como sugerem ideologicamente os economistas em geral e os funcionáriosda OIT em particular.Os patrões, enquanto isso, não parece muito preocupados com as consequências sociais, no futuropróximo, dessa perigosa estratégia de manipulação sanguinária do exército industrial de reservamais globalizado do que nunca. Seus economistas e seus burocratas das instituições multilaterais, aocontrário, estão inquietos – os redatores do relatório da OIT, por exemplo, advertem logo de carapara a necessidade de se prepararem para “uma nova fase ainda mais problemática da crise mundialdo emprego”.Primeiramente, anotam eles, os jovens serão os mais afetados: “Entre os grupos por idade, desde2007, a taxa de desemprego de longo prazo apresenta maior crescimento entre os jovens do queentre os adultos. Na metade das economias ricas, a taxa de desemprego entre os jovens passa de 15por cento. Do mesmo modo, as taxas de inatividade também cresceram mais entre os jovens emtodas economias. Isso tem um enorme custo econômico, em termos de perda de qualificação emotivação, e pode provocar uma depreciação do capital humano [sic]. Isso pode ser acompanhadotambém por movimentos sociais com crescimento dos conflitos sociais, revoltas, degradação, eassim por diante”.Para medir as consequências sociais do desemprego, os funcionários da OIT apresentam um novo einteressante índice, que, doravante, tal como a taxa de desemprego, acompanharemos atentamente:“O clima social se deteriorou em numerosas regiões do mundo e novas turbulências sociais podemacontecer.Segundo o Índice das Turbulências Sociais, como aparece neste relatório, 57 dos 106 paísesanalisados mostram um risco crescente de conflitos sociais em 2011, frente a 2010”.Veremos no próximo boletim como a discussão nem um pouco cordial entre digníssimoseconomistas do império em torno deste assunto de elevado desemprego na economia estadunidensedemonstra a abissal debilidade da economia vulgar (neoclássica, keynesiana e algumas popularesvariantes marxistas) em esclarecer alguma coisa verdadeiramente útil sobre a dinâmica do trabalho,da produção e da reprodução material da sociedade capitalista. Até lá.

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1 International Labor Organization – “World of Work Report 2012 – better jobs for a better Economy” – Genebra, 29/Abril/2012. www.ilo.org