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AbordagemSocial

2a edição

Realização:

Em parceria com:

Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Soares, Maria Luisa Pereira VenturaVencendo a desnutrição : abordagem social / Maria Luisa Pereira Ventura Soares

; colaboradores Célia Regina do Nascimento, Rachel Celeguim Araújo ; [fotos Ana Paula Sawaya MacArthur]. -- 2. ed. -- São Paulo : Salus Paulista, 2004. -- (Coleção vencendo a desnutrição / organizadoras da coleção Gisela Maria Bernardes Solymos e Ana Lydia Sawaya)

Bibliografia.

1. Desnutrição 2. Desnutrição infantil 3. Família – Aspectos sociais 4. Pobreza 5. Redes sociais I. Nascimento, Célia Regina do. II. Araújo, Rachel Celeguim. III. MacArthur, Ana Paula Sawaya. IV. Solymos, Gisela Maria Bernardes. V. Sawaya, Ana Lydia. VI. Título. VII. Série.

04-2717 CDD-614

Índices para catálogo sistemático:

1. Desnutrição : Abordagem social : Saúde pública 614

COPYRIGHT © SALUS PAULISTA, 2004

COLEÇÃO VENCENDO A DESNUTRIÇÃO(4) Abordagem Social

Organizadores da Coleção: Gisela Maria Bernardes Solymos e Ana Lydia SawayaCoordenação Editorial: Isabella Santana Alberto

Projeto Gráfico e Diagramação: Estúdio 39 e D’Lippi Arte EditorialCapa: Raffaella Zardoni e Anna Formaggio

Fotos: Ana Paula Sawaya MacArthur

Todos os direitos reservados à Salus Associação para a Saúde – Núcleo Salus Paulista

Rua das Azaléas, 244 – Mirandópolis04049-010 – São Paulo – SP

Tel/Fax: (11) 5071-7890 e (11) 5584-6674e-mail: [email protected]

www.cren.org.br

www.desnutricao.org.br

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Autor:

Maria Luisa Pereira Ventura SoaresAssistente Social, Mestre em Serviço Social, Diretora Executiva do

Centro de Recuperação e Educação Nutricional.

Colaboradores:

Célia Regina do Nascimento Assistente Social, Centro de Recuperação e Educação Nutricional.

Rachel Celeguim AraújoAssistente Social, Centro de Recuperação e Educação Nutricional / UNIFESP.

AbordagemSocial

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Índ

ice

◗ PREFÁCIO–UMTRABALHOEMREDE6 APALAVRADOBNDES6

APALAVRADAAVSI8

◗ APRESENTAÇÃO10

◗ INTRODUÇÃO13 POBREzA13

DESNutRIçãOINfANtIL15

◗ PARTE1

MÉTODODAABORDAGEMSOCIAL19 REALISmO19

RAcIONALIDADE20

mORALIDADE21

cONDIVISãO22

ALGuNScONcEItOSImPORtANtES24

Pessoa:umpreâmbuloindispensável24

família26

Patrimônio29

RedeSocial31

◗ PARTE2

ABORDAGEMDEREDESOCIAL35

cARActERíStIcASDOPROfISSIONAL

quEAtuANAáREASOcIAL38

REcuRSOSEINStRumENtOS

utILIzADOS39

mapadaredesocial41

Diáriodecampo44

DimensãodaRedeSocial44

◗ PARTE3

ATUAÇÃOSOCIAL53 ENtREVIStASOcIAL53

VISItADOmIcILIAR54

fóRumDEPAIS55

ARtENAcOzINhA56

cOmPLEmENtANDOARENDA56

cuRSOSPROfISSIONALIzANtES57

◗ BIBLIOGRAFIA58

4

Índice

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PrefácioUm trabalho em rede

OBancoNacionaldeDesenvolvimentoEconômicoeSocial–BNDES,atravésda Área de Desenvolvimento Social, vem aplicando parte dos recursos de seuFundoSocialemprojetosdaáreadasaúdematerno-infantil.Nessecontexto,o

doProgramadeApoioaCriançaseJovensemSituaçãodeRiscoSocial,vem

BancoapoiouadifusãodoMétodoCangurudetratamentodeprematurose,noâmbito

financiando instituições que prestam atenção extra-hospitalar a crianças comcâncereoutraspatologiasgraves.

OprimeirocontatodoBancocomaproblemáticadadesnutriçãoinfantildeu-se através da demanda por recursos do Fundo Social de algumas institu-

içõesquelidamcomoassunto.OstécnicosdoBancopassaram,então,abuscarmaiorconhecimentosobreotemaeentenderocontextonoqualseinsereadoença,

paraentãodefinirqualseriasuamelhorcontribuição.Nestafase,foramvisitadasváriasinstituiçõescomatendimentorelevantenasrespectivasregiões.Observou-

se neste processoa complexidade dessa doença e as diversas formas deencaminharseutratamento,alémdesuapoucavisibilidade,umavezquera-ramenteelaédiagnosticadacomotal,esimcomooutrasdoençasmaisconhecidas,comopneumonia,etc.Aprendeu-se,ainda,suacorrelaçãocomapobrezae

seusreflexosnavidaadulta,quetornaapessoamaispropensaàhipertensão,diabetesecardiopatias,entreoutrasperturbações.

A PALAVRA DO BNDES

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A partir desse conhecimento oBNDES optou por continuar acompa-nhando o assunto e apoiar a formação de uma rede que permita a

BEATRIZAZEREDODIRETORADOBNDES

ÁREADEDESENVOLVIMENTOSOCIALÁREADEINFRA-ESTRUTURAURBANA

trocadeexperiênciasefaçacircularconhecimentosespecíficosnocampodocombateàdesnutriçãoinfantil.Nessecontexto,apoiouoCentrodeRecuperaçãoeEdu-caçãoNutricional(CREN)naconstruçãodeumanovaunidadedeatendimento.Aindacomopartedesseapoio,oBNDESdisponibilizourecursosparaacriaçãoda Rede de Combate à Desnutrição Infantil, tendo em vista a experiênciaacumuladapeloCRENnaintervenção,instituiçãodametodologia,ensinoepesquisanessaárea.

Aoladodessaatividade,oBNDESapoiouaelaboração,produçãoedistribuiçãodapresenteColeçãoVencendoaDesnutrição,voltadaparaosprofissionaisquelidamcomaquestãoemseucotidiano,comooseducadoresdascrechesedoscentrosdeeducaçãoinfantil,osagentescomunitáriosdesaúdeeosprofissionaisde saúde–médicos,enfermeiros,psicólogos,nutricionis-tas,pedagogos,etc.Essacoleçãotraztambémfolderseducativosparaasmãesenfocandotemascomoagravidez,ahigieneeaamamentação.

ApartirdofortalecimentodoCRENedaRededeCombateàDesnutriçãoInfantil,oBNDESesperaestarcontribuindoparaamelhoriadaqualidadedaprestaçãodosserviçosdecombateàdesnutriçãoinfantilnoBrasil.

OembriãodessaredeseráolançamentodoPortalVencendoaDesnutrição,coordenadopeloCRENcomoapoiotécnicodoMinistériodaSaúdeeemparceriacomaSecretariaMunicipaldeSaúdedeSãoPaulo,aPastoraldaCriançaeaAVSI–AssociaçãoVoluntáriosparaoServiçoInternacional.

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NoBrasil,aAVSItemseempenhadonaconstruçãodeumarededecentroseducativosquebuscamresponderànecessidademaisurgentedocontexto

AAVSI–AssociaçãoVoluntáriosparaoServiçoInternacional–éumaONGfundadanaItálianadécadade1970,atualmentepresenteemmaisdetrintapaí-sesdomundo.AtuaemváriosestadosdoBrasilcomprojetosdedesenvolvimentosocialdesdeoiníciodadécadade1980.Apartirde1996aAVSItornou-semembrodoConselhoEconômicoeSocialdaONU.

OencontrocomoCRENnasceudacondivisãodeumapercepçãoquenãopermaneceuteórica,massecolocouemação.Omesmoamorpelapessoaeapaixãopelo

seudestinoquemoviaaaçãodoCREN,moviaaminhaaçãocomaAVSI.Fiqueifascinadopelaidéiadequeadesnutriçãonãosejasomenteumproblema

dedistribuiçãoedeacesso,massimumaquestãodeeducaçãodapessoaaamarasimesmaeaosoutros,principalmenteascriançase,queesteamornãoéverdadeirosenãoécolocadoemmovimento.E,ainda,queéestemovimentoquemudaomundo.

Nãoéaceitávelqueaindahojesesofracomafome.Estareivindicaçãopermaneceárida,ouummodeloidealeviolentosenãosetornaconhecimentoverdadeiroeaçãoconcreta.

Dessaforma,aAVSIcomeçouumtrabalhojuntamentecomoCREN,comacertezadequeoamor,quetambémsetransmiteatravésdacomida,mudaavidadaspessoaseomododeenfrentarassituações.

socialdehoje,queéaeducação,construindolugaresondecriançaseadolescentespossamser reconhecidos como pessoas e, por isto, olhados em todos os seus aspectosconstitutivos.

A PALAVRA DA AVSI

Educaçãonutricionalcomoveículodecivilização:éesteodesafioqueestamosenfrentandojuntocomoCREN,conscientesdequeistorepresentaumserviçopúblicoàpessoaenãoumsimplesgestodeassistência.

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OCRENfazpartedestarede,desenvolvendoumtrabalhocomcriançasdesnutridas,suasfamíliasecomunidadesemSãoPaulo,evidenciandoqueacarêncianutricionalnãoécausadasimplesmentepelabaixarenda,masporumconjuntodesituaçõesdesfavoráveis,quechegaatéàformadetratamentodapessoa,emparticular,dacriança.

AquiloquemaischamaaatençãonotrabalhodoCRENéexatamenteofatodequeacriançanãoéolhadaparcialmente,ouseja,definidapelopro-blemadadesnutrição,masévistacomopessoae,poristo,comoserúnicoeirrepetível,comlaçosfundamentais,sendooprincipaldelesa

família.Aeducaçãoalimentareaeducaçãoaoscuidadoscomacriançainvestemafamília

truirostraçosdesuahumanidadedestruída.Elassãoacompanhadasnaaventuradavidaporeducadoresquetêmaresponsabilidadeeodesafiodedes-

pertaraexigênciadeumsignificadoparaavidaeparaarealidade,quepermitaaretomadadaconsciênciadopróprioeu.

Estesanosdetrabalhocompartilhandoavidadecadacriançaencontrada,le-varamoCRENeaUNIFESP,atravésdopatrocíniodoBNDES,emparceriacomoProgramaAdoteiumSorrisodaFundaçãoAbrinqpelosDireitosdaCriançaedoAdolescenteedoInstitutoAyrtonSenna,aParmalatdoBrasilS/A,ecomoapoiotécnicodaAVSI,alançarapresenteColeçãoVencendoaDesnutriçãocomoinstrumentometodológicoeficazedefácilcompreensãoparaoenfrentamentodograveproblemadadesnutrição.Esteéumsinaldequeoempenhocomasnecessidadesencontradaspodesetornarumarespostacomfundamen-taçãocientíficaerelevantedopontodevistasocial.

ALBERTOPIATTIDIRETORExECUTIVODAAVSI

noseuconjunto.Nessecontexto,atarefadospaisévalorizada,afimderestituirsolidezaonúcleofamiliareàfiguradoadulto.

Acriançaesuafamíliasãoacolhidasemumlugarqueasajudaarecons-

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ApresentaçãoQualquertrabalhosocialnoBrasildevepartirdequestõesfundamentaiscomo‘Queméapessoaem

situaçãodepobreza?’ou‘Comocombaterapobreza?’.Emboraatransferênciaderecursosparaosmaispobrestenhacrescidonosúltimos40anos,adistânciaentrepobresericosnãodiminuiu,masaumentou.Parareduziressadistância,sãonecessários–emboranãobas-tem–atransferênciaderenda,aconstruçãodemoradias,adistribuiçãodealimentoseaeliminaçãoda

repetênciaescolar.Éhojecadavezmaisconhecidaaforçadaimpotência,dofatalismo,dasolidãoedoisolamentoqueacompanhamasituaçãodepobreza.

Aefetividadedeumaaçãodecombateàpobrezapodeserprejudicadaporproblemassimples,como:dificuldadeparatirardocumentos,transporte,dificuldadedecomunicaçãoentreapessoaemsituaçãodepobrezaeosprofissionaisdasaúde,alémdodesconhecimentodosserviçosdisponíveis–devidoaoisolamento.Váriosestudostambémtêmdemonstradoqueadescontinuidadeeamáadministraçãodosprogramaspodemserasgrandesvilãsdofracassodeumaaçãosocial,levandoàpulverizaçãoeaodesperdíciodegrandessomasderecursos.

ApresentecoleçãonascedotrabalhodoCentrodeRecuperaçãoeEducaçãoNutricional(CREN)comcriançasdesnutridasesuasfamíliasetemporfinalidadeofereceraumpúblicomultiprofissionalumavisãoabrangentedos

problemasedassoluçõesencontradasnocombateàdesnutriçãoe,conseqüentemente,nocombateàpobreza–umavezqueadesnutriçãoéomaispotentemarcadordapobreza.

Pararesponderqueméapessoaemsituaçãodepobrezaecomocombaterapobreza,aexperiênciadoCRENpartedetrêsgrandespilaresmetodológicos:orealismo,aracionalidadeeamoralidade.Sinteticamente,orealismoprocurafavorecerumaobservaçãoinsistenteeapaixonadadoreal;aracionalidadepedeumolharparatodososfatoresenvolvidoseabuscademetodologiaadequadaaoobjetoemquestão(naprática,valorizaotrabalhointerdisciplinar);enquantoamoralidade(nãoconfundircommoralismo!)privilegiaoamoràrealidade,sempreconceitos.Porqueéimportanteessapreocupaçãometodológica?Afaltadeconhecimentorealdapessoaemsituaçãodepobrezaedetodososfatorespresentesnessasituaçãoéoutrograndevilãoparaaineficiênciadasaçõesnessaárea.

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OCRENpartedoreconhecimentodapessoaemsituaçãodepobreza,caracteri-zadanãosomentepelaausênciadebensmateriais,masportodaasuaexigênciade

Sãoatendidascriançasde0a71mesesesuasatividades

acontecemde2ªa6ª,das7:30hàs17:30h,em5âmbitos:

atendimentoàcriançadesnutridaemregimeambulato-

rial;hospital-diaparadesnutridosmoderadosegraves;

atendimento às famílias; supervisão e treinamento de

profissionaiseentidadesparaaprevençãoecombateda

desnutrição;eatendimentodiretoàcomunidadeatravés

devisitasdomiciliaresecensosantropométricos.

abordagemeficienteeduradouro.Apartirdessespressupostos,adesnutriçãoseráabordadaemseuaspectosocial,fami-

liar,psicológico,pedagógicoebiológico.Acoleçãooferece2volumesparacomunidadeseentidadesquetrabalhamcomcrianças:1 - Vencendo a Desnutrição na Família e na Comunidade, 2 - Saúde

Quem somosO Centro de Recuperação e Educação Nutricional

(CREN)iniciousuasatividadesem1994apartirdeum

projeto financiado pela AVSI. Ele nasceu do trabalho

realizado com comunidades carentes por profissionais

daáreadasaúdeenutriçãodaUniversidadeFederalde

SãoPaulo/EscolaPaulistadeMedicina.

O CREN/UNIFESP pauta sua ação a partir de três

objetivosgerais:promoveraretomadadocrescimentoe

desenvolvimentodecriançasdesnutridas,criarmétodos

detratamentoeformarrecursoshumanosespecializados

paraotrabalhocomadesnutrição.

e Nutrição em Creches e Centros de Educação Infantil;4volumessobreasabordagens:3 - Clínica e Preventiva, 4 - Social,

5 - Pedagógica e 6 - Psicológica;alémde1Livro de Receitase17folhetosexplicativossobreaçõespreventivasecuidadoscomascriançasquesãodirigidosàsmãeseresponsáveis:1 - Quais os cuidados necessários durante a gravidez, 2 - Como o

bebê se desenvolve na gravidez, 3 -Como se preparar para o Aleitamento Materno, 4 - Aleitamento Materno, 5 - Como cuidar do crescimento da criança, 6 - Desenvolvimento Infantil, 7 - Vacinas, 8 - Como preparar a papinha para o

bebê, 9 - Como alimentar a criança de 6 a 12 meses de idade, 10 - Alimentação Infantil, 11 - Como cuidar da

higiene dos alimentos, 12 - Como cuidar da higiene do nosso ambiente, 13 - Saúde Bucal para crianças de 0

a 6 anos, 14 - Como evitar piolhos e sarnas, 15 - Verminoses, 16 - Como tratar de resfriados, gripes, dores de

11

felicidadeedesentidoparaavida.Apessoaéconhecidaporsuaspotencialidadeseporseupatrimônio(oqueelaéeoquejátem),enãoporaquiloqueelanãotem.OtrabalhodeintervençãorealizadonoCRENprocura,então,reforçaropatrimônio,oquetemsereveladoummétodode

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

“”

Estelivronasceudaexperiênciadeassistentes

sociaisqueatuamnocRENebuscaoferecer

indicaçõeseexemplosdeummétododetrabalho

queoutrosprofissionaispossamaplicardamelhor

maneirapossívelàprópriarealidade.

Seus objetivos são:

◗ apresentar o quadro em que essas pessoas

estão inseridas, que compõem a realidade

social brasileira, especificamente marcada

por uma experiência de extrema pobreza e

desigualdade;

◗ apresentar o método utilizado pelo CREN

para conhecer a pessoa e a realidade social;

◗ aprofundar o conhecimento da pessoa

responsável pela criança com quadro de

desnutrição, conhecer sua família e seu

contexto relacional, sendo ela o sujeito da

intervenção social que ora propomos; e

◗ apresentar uma proposta de intervenção

social para essa realidade.

Nessesentido,serãotecidasconsiderações

sobreapobrezaeadesnutriçãoinfantil,a

Introdução

compreensãoconceitualdométodode

abordagemsocial,quecompreendeaconcepção

depessoa,famíliaeredesociale,porfim,a

intervençãosocial.

POBREzAAabordagemglobaldadesnutriçãoinfantil

implicanaconsideraçãodocontextodepobreza

emqueestáinserida,poisapobrezaea

desnutriçãosãoproblemasmultidimensionaise

profundamenterelacionados.

“O Brasil não é um país pobre, mas um

país com muitos pobres (...) e os elevados

níveis de pobreza que afligem a sociedade

encontram seu principal determinante na

estrutura da desigualdade brasileira, uma

perversa desigualdade na distribuição de

renda e nas oportunidades de inclusão

econômica, social e política”.

(Barros , Henriques e Mendonça)1

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Saúd

e

14

A B O R D A G E M S O C I A L

Arealidadedapobreza,cadavezmaiscomple-

xa,temrepresentadoumdesafiomundial.

Segundoorelatóriosobreodesenvolvimento

mundialLutacontraaPobreza,“Apobrezaé

resultadodeprocessoseconômicos,políticose

sociaisqueserelacionamentresiemuitasvezes

sereforçam,exacerbandoascondiçõesdepriva-

çãoemqueospobresvivem”2.

Essesprocessospodemserapontadoscomo:

sistemaspolíticos,econômicos,sociais,mundiais

elocais;discriminaçãodegênero;coreraça;

distribuiçãodesigualderiqueza;demografia(alta

densidadepopulacionalecrescimento);problemas

agrícolas;precáriascondiçõessanitárias;atenção

àsaúdedeficitária;acessodifícilaosistemade

saúdeoufracassoemacessarosistemadesaúde;

condiçõessocioeconômicasdesfavorecidas(baixa

renda,ausênciadeescolaridadeenão-acessoà

escola,econdiçõesdemoradiaprecárias)3.

Dopontodevistaexistencial,a“pobrezaé

dor;eladóicomoumadoença.Atacaapessoa

nãosómaterialmente,mastambém

moralmente.Elafereadignidadeda

pessoaeconduzaodesespero.”

Orelatodeumamulhermoradora

emumafaveladeSãoPauloilustrabemessador:

Fala de uma mulher

em situação de

pobreza na

Moldava, 1997 4.▼

Aco

nte

ceu

...

Eu vivia nas casas pedindo favor: “fulano,

deixa eu tomar um banho?”. Em vez, um

dia deixava, outro não deixava eu usar o

banheiro. (...) eu tinha mágoa; eu sentia

um medo por dentro. Ficava vendo todo

mundo ter as coisas, ter banheiro e eu não

ter, e os meus filhos falando assim: ‘todo

mundo toma banho no chuveiro e eu não

tenho chuveiro prá eu tomá, mãe’ (...).

Avulnerabilidadeéoutroaspectoimportante

dasituaçãodepobreza.Elaindicasejauma

precariedadederecursos,sejaumafaltadedefesa

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

O risco pessoal e social é

definido como um conjunto de

múltiplos fatores (individuais,

familiares, econômicos, políticos

e sociais) que atingem direta-

mente as pessoas, ocasionando

a deterioração de seus direitos,

acarretando uma ruptura na

proteção/atenção integral que lhe

é devida e colocando em perigo

– de fato ou potencialmente – o

bem-estar das pessoas.” 7, 8

comrelaçãoàscondiçõesadversas,provocando

insegurançaeexpondocontinuamenteasfamílias

ariscos,choquesetensões.

Alógicadaexclusão,característicada

pobreza,submetebilhõesdepessoasemtodoo

mundoaumasituaçãode“privaçãocoletiva”que

inclui“pobreza,discriminação,subalternidade,

não-eqüidade,não-acessibilidade,não-

representaçãopública”5.Aexclusãoévividanas

situaçõesmaiscorriqueirasdoseucotidiano,

impedindoqueaspessoasdesenvolvam

plenamentesuaspotencialidades.Porexemplo,é

comumnoBrasilqueumapessoaemsituaçãode

pobrezanãopoderparticipardeumprogramaso-

cialdoGovernopornãoterdocumentação(cIc

ouRG)ounãoestarinformadasobrea

iniciativa.Elastambémenfrentamdificuldades

paraobteroregistrodenascimentodeseusfilhos,

poisocartórioexigeumdocumentode

comprovaçãoderesidênciaemuitasdessas

famíliasmoramemáreasocupadas.

DESNUTRIÇÃO INFANTIL

“A desnutrição é uma emergência silencio-

sa e também invisível”.

UNICEF 6

Acausadadesnutriçãoenergético-protéicaé

multifatorial.Elaestárelacionadacomum

contextomaisamplo

doqueaalimentaçãoou

asaúdedacriança.A

criançadesnutrida

provémdeumafamília

maisexpostaao

risco pessoal e social

Nascrianças,ades-

nutriçãoé

sinônimodecrescimentodeficiente.crianças

desnutridastêmestaturaepesomenoresdo

quedeveriamterparaasuaidade.Paraavaliar

asituaçãonutricionaldeumacriançaoude

Criança atendida no CREN.

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Saúd

e

1�

A B O R D A G E M S O C I A L

constituiumadasmaioresviolaçõesdosdireitos

dacriança,porcomprometerseu

desenvolvimentofísicoemental,perpetuandoa

pobreza.Estaproporçãodemortesjamaisfoi

alcançadaporoutradoença,

desdeaPesteNegra,queno

séculoXIVdevastou

aEuropa6.

Osfatoresderiscopara

adesnutriçãoincluem

tambémaspectosligados

diretamenteaocotidiano

dafamíliaedacriança,

umavezque,mesmoem

condiçõesmacro-ambientaisigualmentedes-

favoráveis,adesnutriçãonãoocorreemtodos

osindivíduos.háelementosqueinfluemneste

quadro,denominadosfatoresmicro-ambientais3

oupsicossociais:

◗ grande número de filhos;

◗ renda insuficiente;

◗ subemprego ou desemprego do responsável

pelo sustento da casa;

◗ dependência química dos pais (álcool e

outras drogas);

◗ baixa escolaridade;

◗ conflitos conjugais;

A desnutrição pode ser leve,

moderada ou grave, de acordo com

o déficit de peso e/ou estatura.

Para maiores informações sobre a

classificação do estado nutricional,

consultar o volume Abordagem

Clínica, desta coleção.

Este termo é utilizado para designar

as crianças que têm peso e estatura

adequados para sua idade e sexo.

A desnutrição é responsável por mais da metade das mortes infantis ocorridas no mundo

umapopulaçãoeclassi-

ficarograu de desnutrição

sãonecessáriososdados

depeso,estatura,idade

esexodacriança,eos

resultadoscomparadoscomumapopulaçãode

referência.umacriançadesnutridaémuitomais

vulneráveladoençaseàmortedoqueumacrian-

çaeutrófica,inserindo-se

umperversociclovicioso:

obinômiodesnutrição-in-

fecçãoagravaoestadodesaúdedacriança,uma

vezqueadesnutriçãopermitequeainfecção

seinstalemaisfacilmente,eainfecçãoreduzo

consumoalimentardacriança,agravando

adesnutrição.

qualquerintervenção,paraserefetivae

duradoura,precisaconsideraraamplitudedas

condiçõeseconômico-sociaisadversasquelevam

umacriançaaessequadro.Aintervençãonãopode

seresumirapenasaumasuplementaçãoalimen-

tar,comotantasvezesfoifeitoemprogramas

governamentais,masdeveconsiderarafamíliada

criançadesnutridaebuscarsoluçõesparatirá-lada

situaçãodeexclusãosocialemqueseencontra.

Adesnutriçãoéresponsávelpormaisda

metadedasmortesinfantisocorridasnomundoe

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1�

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

◗ falta de envolvimento do pai;

◗ falta de amigos;

◗ dificuldade no relacionamento com

vizinhos ou parentes, que leva a pessoa a

não poder contar com sua ajuda;

◗ ausência ou falha no uso de sistemas de

suporte formais ou informais (fracasso em

acessar o sistema de saúde e outros

serviços);

◗ fragilidade da saúde das crianças

(parasitoses,

internações);

◗ restrições

alimentares;

◗ identificação da

criança desnutrida

com sua mãe9.

Aliteraturaaponta,

ainda,queumacriança

apresentamaiores

Este fator refere-se a certa dinâmica

familiar, em que a criança desnutrida

identifica-se com a mãe ou, mais especi-

ficamente, com algum aspecto dela que

contribua para a desnutrição. Assim, ao

contrário do que alguns estudos apon-

tam, correlacionando a desnutrição com

um comprometimento no vínculo mãe-

filho10, o que parece ocorrer em muitos

casos é uma ligação entre ambos mais

forte até do que aquela que a mãe tem

com os demais filhos, levando a criança

a identificar-se com a fragilidade da

mãe: o fato de não se alimentar, suas

preocupações, seu stress11.

chancesdesetornardesnutridaquandoamãeou

responsávelpossuiasseguintescaracterísticas:

◗ idade inferior a 19 ou superior a 35 anos;

◗ história nutricional pobre;

◗ história de uma infância problemática;

◗ gravidez não-desejada;

◗ intervalo interpartal abaixo de 2 anos;

◗ cuidados pré-natais deficientes;

◗ desmame precoce e introdução de mama-

deira em condições desfavoráveis;

◗ disposição para doenças físicas ou

mentais9;

◗ baixa escolaridade materna.

qualquerlistadeindicadoresderiscodeve,

sobretudo,procurarcaptaracomplexidadedas

interaçõesentreosfatores.Éessacomplexidade

quepodeexplicarporque,nummesmomacro-

ambientedealtorisco,adesnutriçãoocorreem

algumasfamíliasenãoemoutras,ouatingesó

umacriançanafamília3.

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1�

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

Emnossaexperiência,algumasproposições

conceituaistornam-sefundamentaisparaa

elaboraçãodeummétododeabordagemsocial

quepermitaaosprofissionaisqueatuamnaárea

socialobterbonsresultadoscom

seutrabalho.taisproposições

buscampermitiraoprofissional

umolharmaisatentoàrealidade,

oferecendo-lhemaiorescondi-

çõesparaenfrentarosproblemas

queencontram.

REALISMOOtrabalhorealizadopelo

assistentesocialdeveconsiderarprimeiramentea

realidadedafamíliaatendida,aqualtem-seapre-

sentadocadavezmaismultifacetadaecomplexa.

Paratanto,énecessáriaumaposturarealista.Por

realismoentendemosaurgênciadeumaobser-

vaçãoglobal,apaixonadaeinsistentedofato,da

realidadecomoelaseapresenta,dacircunstância,

dapessoa,enfimdoquesepretendeconhecer.

p a r t e 1

abordagem socialMétodo da

Pouca observação e muito raciocínio conduzem

ao erro. Muita observação e pouco raciocínio

conduzem à verdade”.(...) “A nossa é uma época

de ideologias, ou seja, na qual, em vez de se

aprender da realidade todos os seus dados,

construindo sobre ela, procura-se manipular a

realidade segundo a coerência de um esquema

fabricado pelo intelecto: assim, o triunfo das

ideologias consagra a ruína da civilização”.

Alexis Carrel12

“”

Realismo é a observação

global, apaixonada e insistente

daquilo que se pretende

conhecer

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Saúd

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20

A B O R D A G E M S O C I A L

“pensar”ouoquedizemsobreela)traz

grandesequívocosnaelaboraçãodeprogramas

sociais,comgrandedesperdícioderecursos.

Essesequívocossãodecorrentesdofatode

queasfamíliasatendidasnãosãoasquemais

necessitam,dequeaintervençãonãoatende

àsreaisnecessidadesdaspessoas,ouaindado

desconhecimentodarealidade

edocontexto,queprejudicao

relacionamentoentreosprofis-

sionaiseapopulação.

RACIONALIDADESe,porumlado,orealismo

estácentradonarealidadea

serconhecida,aracionalidade

colocasuaatençãosobrea

pessoaqueconhece,sejaelao

profissionalouopesquisador.

“Apalavraracionalidaderepresentaummodode

agirqueexprimeerealizaarazão–estacapaci-

dadedetomarconsciênciadarealidadesegundoa

totalidadedeseusfatores”13.

Aracionalidadeéumfator

essencialnométododeconhecer

eintervirnarealidade,por-que

consideraqueoobservadoréuma

Racionalidade é a capacidade de tomar consciência da realidade segundo a totalidade de seus fatores

Esta denominação é

empregada para designar a

pessoa que está na posição

de conhecer algo, seja ela

profissional ou pesquisa-

dor, entre outros. ▼

“”

focalizartodaaatençãonoobjetoquesequer

conhecertrazumasegundaimplicação,ouseja,

queométododeconhecimentoédeterminado

pelopróprioobjeto.

“O realismo exige que, para observar

um objeto de modo tal que ele seja

conhecido, o método não seja imaginado,

pensado, organizado ou criado pelo

sujeito, mas imposto pelo objeto”13.

Essaposturatrazconseqüênciasmetodo-

lógicasfundamentaisparaaabordagemsocial.

Queméapessoaematendimento?Aque

famíliapertence?Comovive?Ondevive?

Queproblemasenfrenta?Sãoperguntasque

nãopodemserrespondidasapriori,masque

exigemumaobservaçãoatentadarealidade,um

contatodiretocomacomunidadeeumagrande

aberturaaodiálogoeàescuta.Nessesentido,é

fundamentalquetodaintervençãosejaprecedida

porlevantamentosquantitativosequalitativos

acercadacomunidadeondesequeratuar.

Aausênciadapreocupaçãoemconhecer

antesdetudoarealidade(emvezdeprivilegiaro

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21

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

Aco

nte

ceu

...pessoae,portanto,paraconheceralgoeleutiliza

umaparticularidadedasuanatureza,queéara-

zão.Porrazão,entendemosofatordistintivodo

homem,istoé,suacapacidadededar-secontado

realsegundoatotalidadedeseusfatores.Dessa

forma,éracionalumaatitudequelevaemconta

todososfatoresdessarealidade.

Anecessidadeinicialdamãeeradeumamora-

dia,oqueaparentementeescapavaaoâmbitode

atuaçãodeumcentrodeRecuperaçãoNutricio-

nal.Porém,aatençãoatodososfatoresdaquela

famílialevouaequipeabuscarformasdeenfrentar

tambémoproblema.Aurgênciadeconseguir

umahabitaçãolevouaumasaídaencontradana

realidadedaprópriapessoa:aajudadafamíliapara

acolhê-lanoperíododareformaeaajudados

vizinhospararealizarareforma.

Aracionalidadeé,portanto,outropilar

fundamentalparaoconhecimentodarealidadee

paraaintervençãojuntoaesta.qualqueração

social,especialmentenocasodadesnutrição,

tornar-se-áineficazsenãolevaremcontaa

totalidadedosfatores

envolvidose,namedidado

possível,intervirnela.

MORALIDADEAterceiraproposição

édenominadamoralidade,

que,nadinâmicado

conhecimentoeda

intervenção,define-secomoumaatitudejusta

diantedoquesepretendeconhecer.Emoutras

palavras,amoralidadeéaatitudedeaberturaà

Quando Tânia chegou ao CREN com Daniel,

seu segundo filho que, aos 4 meses de

idade pesava 2.�00g, ela contou que a

sua casa estava em uma área de risco

de desabamento. Técnicos da prefeitura

interditaram a casa e encaminharam a

família para a Secretaria de Habitação, a

fim de lhe conseguir uma nova moradia.

A solução proposta por essa Secretaria foi

a instalação da família em um alojamento.

Contudo, em função da gravidade do estado

da saúde da criança, essa solução não era

factível. A equipe do CREN acionou, então,

uma empresa parceira, que fez uma avaliação

técnica da situação e propôs realizar uma

reforma na moradia. Alguns parentes

abrigaram Tânia, enquanto a reforma era

realizada por seus vizinhos gratuitamente.

Moralidade é a atitude de abertura à observação do real sem preconceitos

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Saúd

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A B O R D A G E M S O C I A L

Aco

nte

ceu

...

CONDIVISÃOPartirdaposturarealista,racionalemoraltraz

conseqüênciaspráticasparaarelaçãoentreo

profissionaleapessoaatendida.Essaposturaestá

emconsonânciacomalgumasproposiçõesquese

encontramnaliteraturadaáreadoserviçosocial,

comoo“métododacondivisão”14.

Ométododacondivisãotemcomopontode

partidaescutaraexperiência,semapreocupação

observaçãodorealsempreconceitos,éo“amor

àverdadedoobjetomaiorqueonossoapegoàs

opiniõesquejáformamossobreele”13.

Aco

nte

ceu

...

Um doce tipicamente

argentino que requer

ingredientes como

doce de leite,chocolate

e biscoito de maisena.

Chega pela primeira vez ao CREN a mãe de

uma criança que está sob guarda judicial de sua

irmã. Ela apresenta-se totalmente alcoolizada

e drogada e deseja falar com a equipe de

trabalho. A forma como aborda toda a equipe é

bastante violenta e agressiva. A primeira atitude

do grupo foi a de deixá-la entrar na instituição e

solicitar a atenção do serviço social e da direção,

que imediatamente a acolheram e a convidaram

para tomar café num pequeno recinto a fim de

que fosse estabelecido o primeiro contato. A

mãe manteve por um tempo a postura agressiva;

contudo, paulatinamente foi mudando sua

atitude e estabelecendo um diálogo.

A equipe, antes de qualquer julgamento ou

imagem sobre a conduta da mãe, procurou uma

postura de abertura, acolhida e atenção. Isso

permitiu estabelecer um primeiro vínculo que

posteriormente se aprofundou em uma relação

de confiança, pois ela, além de mencionar, mais

tarde, que nunca havia sido tratada com aquele

respeito, aderiu ao tratamento do filho.

Certa ocasião, o serviço social do CREN

propôs a elaboração

de alfajores na oficina

Arte na Cozinha. Ao

saber disso, a diretora da

instituição questionou

a viabilidade da atividade por acreditar

que tal receita não era essencial e tinha

um custo muito elevado para a realidade

das famílias. Contudo, dialogando com a

assistente social, foi informada de que a

solicitação tinha vindo dos próprios pais,

pois eles desejavam elaborar receitas

“diferentes”, e o custo do preparo não era

tão elevado como a diretora imaginara.

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23

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

inicialdeconstruirumconhecimentoanalítico,

masatentoaviverumaexperiênciade

compartilhasemumaanálisea priori.Porcerto

nãoestácomissodispensadouminstrumentode

análise;contudo,aprimeirapreocupaçãoé

encontrarooutroesuarealidade,

semdesperdiçarnenhumelementodo

queseestámostrandoatravésdacircuns-

tância,queéaexperiênciadoencontro

comapessoa.

A forma do aprendizado é “fazer com”. Profissional

do CREN cozinhando na comunidade.

Havia uma mãe atendida pelo Centro de

Recuperação e Educação Nutricional que há anos

vivia uma dependência de álcool. Seu terceiro

filho nasceu com suspeita de síndrome alcoólica

e microcefalia pela excessiva ingestão de álcool

durante a gravidez. A equipe encaminhou-a para

atendimento especializado e ajudou os membros

da comunidade e da família dando suporte

para tal problemática. Todo esse processo foi

realizado conjuntamente com a mãe avaliando

sua situação e conversando sobre a dificuldade

que ela vivia. Ela foi convidada a permanecer

durante os dias na instituição enquanto seu

filho recebia tratamento para desnutrição. Havia

dias que permanecia e dias que ficava em casa

entregue à sua dificuldade. Mesmo com tal ajuda,

o caso parecia não encontrar uma solução. Um

dia, a assistente social ao fazer-lhe uma visita

domiciliar para verificar sua ausência à instituição,

comoveu-se com suas dificuldades e chorou

durante o atendimento. A partir desse fato, a

mãe disse que não poderia permanecer da mesma

maneira porque havia alguém que se interessava

profundamente por ela e compartilhava sua vida

nos mínimos detalhes. Ela decidiu enfrentar sua

dificuldade e nunca mais fez uso de álcool. Aco

nte

ceu

...

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A B O R D A G E M S O C I A L

apartirdanecessidadedeampliaroconceitode

queméosujeitodaintervençãosocial,eseele

é,antesdetudo,umindivíduoisoladooualguém

quepertenceaumcontextorelacional.

PESSOA: UM PREâMBULO

INDISPENSáVEL

Otermopessoaidentificaráosujeitodain-

tervençãosocial,umavezqueessesujeitoémais

bemdefinidoporsuacondiçãohumanadoque

porsuacondiçãosocial,declasse

oudeusuáriodeumserviço.tal

compreensãonãonegligencia

nemacondiçãonemocontexto

socialdoindivíduo,masinclui

outrospontosfundamentais,

comoexigênciadesignificadoe

desentidoparaavida.

Porpessoaentende-seum

serúnico,livre,irrepetível,

insubstituívelecompostopor

umconjuntodeexigênciase

evidênciasoriginais,tãooriginais

quetudooquesefazdepende

delas.Aelaspodemserdadosváriosnomes:

exigênciadefelicidade,exigênciadeconhecera

verdadedascoisas(porisso,apessoadesejaser

Para

lem

bra

r

Acondivisãofavorecequeoprofissionalnão

tenhapretensõesexcessivaseirreais,possibili-

tando-lheumaatuaçãomaislivree,portanto,

maischeiadeiniciativas.Aconstruçãodelaços

deconfiançamútuaéfacilitada,possibilitandoa

aderênciadasfamíliasàspropostasrealizadas

pelaequipe.

ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES

Aintervençãojuntoàpopulaçãoquevive

emsituaçãodepobrezaeexclusãosocialexige

responderaalgumasperguntas,como:quemé

osujeitoaquemsedirigeaintervenção?;

quaissãoaspotencialidadescomasquais

podemoscontar?;aquecontextorelacional

elepertence?Esseaprofundamentoacontece

O método da condivisão propõe-se

“acompanhar a pessoa, viver com a pessoa

o seu nível de problemática e não olhar de

fora. Condividir a situação da pessoa não

quer dizer viver a condição dela ou recriar

em nós as suas condições de vida, mas sim

ser uma companhia que permite assumir e

penetrar em sua situação”15.

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25

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

verdadeiraedesejaqueasoutraspessoassejam

verdadeirascomela),exigênciadejustiça(istoé,

desertratadacomjustiçaedeserjustacomas

outraspessoas),exigênciadeamor

(deamaredeseramada)15.

Outroaspectoqueconstituia

pessoaéqueelasóexistenocon-

cretodasrelaçõeshistóricas;éum

serrelacional,estáconstantemente

emrelaçãocomoutraspessoas

comasquaiselasedescobree

aprofundaaprópriaidentidade,constituiseu

mundoeéporeleconstituído.

Apessoasemprecarregaconsigoumane-

cessidade,qualquerquesejasuaclassesocialou

contextosociopolítico.Essanecessidadeexpressa

umafaltapercebidapelapessoaemsuavida(falta

dealimento,desaúde,deeducação,derecursos,

demoradia...)equeprocurarealizarumaexigên-

cia,umdesejo.Elapodeserdenaturezasocial,

econômica,desaúde,educativa,espiritualou

afetivaerepresentaumacaracterísticadapessoa

comotal,enãocomo“umacidentedepercur-

soouuminconvenientequeaconteceemuma

históriapessoalenãoemoutra”16.

Aintervençãosocialquesepretendaglobal

deveconsiderartantoadimensãodanecessidade

comofalta,quantoàdimensãodanecessidade

comodesejo,exigênciadesentidoede

auto-realização.

Por pessoa entende-se um ser único, livre,

irrepetível e insubstituível

!

Muitas vezes, em função da excessiva

situação de privação, as pessoas em

situação de pobreza ficam sem uma

perspectiva de vida futura. Esta situação

pode reduzir sua capacidade de decidir,

de fazer uso de sua potencialidade,

levando-as a desinteressar-se pela vida

e a não ter energia para enfrentar seu

cotidiano1�. Tal cerceamento da sua

potencialidade pode ser erroneamente

compreendido pelo profissional como

preguiça, desinteresse ou falta de iniciativa,

mas na verdade é uma característica de

uma pessoa submetida a tais condições.

Para um trabalho de intervenção efetivo,

nesse caso, é necessário o incentivo à

participação, a valorização das pequenas

iniciativas e não uma cobrança, mas, ao

contrário, um trabalho a partir dos recursos

que ela possui.

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A B O R D A G E M S O C I A L

FAMÍLIA

todapessoapertenceadeterminadomicro-

contextorelacional,queéafamília.

Afamíliaé“umaorganizaçãocomplexade

relaçõesdeparentesco,quetemumahistóriae

criaumahistória”18,ouseja,elaterásempreum

passado,umpresenteeumaperspectivadevida

futura,particularesprópriasqueadiferenciarão

dasoutrasfamílias.Apartirdesuaexperiênciavi-

vidaedesuahistória,afamíliaestabelecerelacio-

namentoscomoambientesocial,modificando-se

emodificando-oemalgumamedida.

Afamíliacaminhaatravésdeumciclovital.

Oconceitodeciclovitalrefere-seàsetapasda

evoluçãodavidadafamília,comoadolescência,

constituiçãodocasal,saídadosfilhosdecasae

envelhecimento,entreoutras.Essecicloémarca-

doporeventoscríticosqueconstroemedesen-

volvemosrelacionamentosdentrodafamília.

Nãoháumaordemlinearparataiseventos.Eles

dependemdaformacomoafamíliaéconstruída,

dahistóriatecida.Oseventospodemserprevi-

síveis,esperados,antecipados,ouimprevisíveis,

sendoquecadaeventotemumaestreitarelação

comosignificadoaeleatribuído18.umevento

échamadocríticoquandoligadoaprocessosde

transição,emqueocorremmomentosdecrise,de

desestruturaçãoedeumasucessivapossibilidade

dereorganização.taiseventosfazemparteda

vidadequalquerfamília.

A família é o primeiro lugar de pertença, onde

a pessoa recebe um nome e vai construindo

sua identidade, a partir da qual se relaciona

com outras pessoas. Nos relacionamentos

familiares a pessoa “entra com a totalidade de

sua existência, de seu temperamento, de suas

capacidades e limites, diferentemente do que

acontece com quase todos os outros ambientes

da vida, nos quais se estabelecem relações

parciais, limitadas a capacidades específicas,

correspondentes a funções determinadas.”

Petrini & Alcantara 1�

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

“”

Aco

nte

ceu

...Estecasomostraquemesmoemumacrise

imprevisíveledegrandeproporção-comoo

falecimentodamãe,queeraaúnicaresponsável

pelafamília-hápossibilidadedesolução.Opro-

fissionalprecisa,portanto,estarsempreaberto

aprocurartodasaspossibilidadespresentesna

realidadedaprópriafamíliaantesdepensarem

umasaídainstitucionalparaocaso.

Éfundamentaltambémcompreenderas

relaçõesexistentesnointeriordafamília,espe-

cialmenteaexperiênciadeapego.Oapegoéum

fenômenorelacionalqueacontecesehouverum

Rafael, uma criança de 11 meses, chegou ao CREN acompanhado

por sua irmã Elen de 1� anos, que, naquela ocasião, era

responsável por mais três irmãos de 12, 10 e � anos. Sua mãe

havia falecido há três meses em função de uma doença causada

pelo uso excessivo do álcool. O pai de Rafael já havia contraído

outra união, portanto visitava as crianças esporadicamente nos

finais de semana. A equipe buscou identificar se existia algum

membro adulto da família que pudesse acolher estas crianças.

Neste ínterim, sabendo do falecimento da irmã, chegou de

Pernambuco uma tia materna que, inclusive, não era conhecida

pelas crianças, pois não encontrava a família há quatorze anos.

Esta senhora decidiu assumir a guarda de todos os sobrinhos

levando-os para sua casa em Pernambuco.

movimentorecíprocode

cuidados.Apósestabelecido

ovínculo,oapegosegue

seuitinerárioevolutivopro-

duzindobemestar;eisto

ocorrenamedidaemque,

nasdiversasfasesevolutivas

dociclodevidadafamília,

essevínculo

forcapazdesaberomo-

mentodeficarpróximo

eomomentodese

separar,assumindoasres-

ponsabilidadeseaceitando

asdiferenças18.

“Crise e desenvolvimento,

desorganização e

reestruturação são pólos entre

os quais a família avança com

o passar do tempo. Não há

desenvolvimento a não ser

através de crises, ainda que

os êxitos da crise nem sempre

levem ao desenvolvimento”

Eugênia Scabini1�

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2�

A B O R D A G E M S O C I A L

A família é o lugar privilegiado de

resposta às necessidades

Elaéolugardaprimeirasocializaçãoedo

desempenhodasfunçõessocialmenteimportan-

tesjuntoaosseusmembros.quandoafamília

seencontrafragilizadaosproblemasenfrentados

tendemaagravar-se,quandoelaépresentee

seusmembrosinteragementresiecomarealida-

de,asnecessidadestendemaserminimizadas19.

Éfundamental,portanto,fortalecerafamíliapara

queelapossafortalecerapessoa.

Aco

nte

ceu

...A família constitui um recurso

para a pessoa

Nelaocorreoprocessodehumanizaçãoque

enraízaapessoanotempo;exemplodissosãoas

experiênciashumanasbásicas,comoapaterni-

dade,amaternidade,afiliação,afraternidadee

arelaçãoentreasgerações.Nascer,amar,gerar,

trabalhar,adoecer,envelhecer,morrersãoações

ouprocessosligadosàsrelaçõesdeparentesco

equasesempreescapamaocontroledapessoa.

Porcausadisso,exigemumsignificadoqueultra-

passaoscondicionamentosdas

circunstânciasdadas17.

Afamíliaéolugardetransmissãodavidaede

seusignificado.Osignificado,queéoconjunto

devaloresecritériosdeorientaçãodaconduta,

quepermitemperceberaexistênciacomodigna

deservividaounão,emvistadeumaparticipa-

çãopositivanarealidadesocial17.

Nafamília,aspessoasaprendemaconviver

comadiferença.Nelaseéeducadoa

viverrelacionamentosinterpessoaisde

colaboração,serviçorecíprocoetole-

rância,indispensáveisparaumdesenvolvimento

equilibradodapessoa.Nesseambiente,também

estãopresenteslimitesdediversasnaturezas,

sendoamorteomaiordeles17.

Sexual, geracional,

de temperamento,

entre outros

Janes fala sobre seu pai, Sr. Antônio, com

muito carinho. Em uma das atividades

da entidade, ela relata que seu pai é

dependente químico, que já esteve recluso

por ter-se envolvido em vários delitos;

contudo, a relação estabelecida entre ele,

seus filhos e netos é muito afetuosa, cheia

de respeito e cuidado. Sr. Antonio educou os

filhos de forma a evitar que se envolvessem

com a criminalidade ou com qualquer tipo

de vício. É perceptível a experiência de

atenção e cuidado entre os membros da

família, mesmo considerando toda a história

de sofrimento do Sr. Antônio.

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2�

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

Na família a pessoa aprende a

ser responsável

Nelaseaprendearesponderaalguémporseus

atoseavalorizarosgestosdegratuidade(fazer

algosemesperarretorno)20.

A família constitui uma rede

de solidariedade

Elaéquasesempreeficazparaofereceroscui-

dadosnecessáriosaseusmembros–especialmen-

tequandoelestêmumaincapacidadetemporária

oupermanenteparaprover

autonomamentesuasneces-

sidades–comonoscasosdas

criançaseidosos,dasenfermi-

dadesfísicas(oupsíquicas)ou,

ainda,dodesemprego7.

PATRIMôNIO

Patrimônioexpressaum

conjuntoderecursosdos

quaisaspessoaspodemdis-

porparagarantirasimesmas

easeusfamiliaresmaior

segurançaemelhorpadrãodevida.taisrecur-

soscompõem-sedetrabalho,saúde,moradia,

educação,habilidadespessoaiserelacionais

–comorelacionamentosdevizinhança,deami-

zade,familiares,comunitárioseinstitucionais8.

Estruturarumaintervençãoapartirdo

patrimôniodapessoa,dafamíliaedacomunidade

significaconsideraraspotencialidadeseosnexos

existentesnavidadestaspessoasedestas

comunidades21.

Anecessidadedafamília,apesardeseevidenciar

apartirdeumadificuldadeespecífica(falta

habitação,faltaalimento,faltaterra),nuncaéseto-

rial–comousualmentetidapelaspolíticaspúblicas

–masglobal,ouseja,refere-seàtotalidadeda

vidadafamília,pessoaou

comunidadeem

questão,sendo

fundamentalo

significadoque

estasatribuemaessa

necessidade.

compreendero

trabalhosocialapartir

dopatrimônioimplica

abrir-seaumarealidade

maisampla,que

transcendeadificuldade

emsiequenãose

restringeàaplicaçãode

Patrimônio expressa um

conjunto de recursos:

trabalho, saúde, moradia,

educação, habilidades

pessoais e relacionais

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Saúd

ePa

rte

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A B O R D A G E M S O C I A L

Aco

nte

ceu

...soluçõespreviamenteconcebidas.tal

compreensãopermiteoincrementogradativo

dopatrimôniodapessoaemsituaçãode

pobreza.Emoutraspalavras,aaçãonascedo

queexisteenãodoquefalta,eesteéo

princípioqueestimulaaparticipaçãodafamília

nesseprocesso.Dessaforma,sendorealistae

observandoapessoa,famíliaoucomunidadepara

identificaropatrimôniopresente,oprofissional

deveprimeiramenteajudarareconhecerapre-

sençadaquelepatrimônioe,depois,incentivarseu

usoefortalecimento.

Flávia era uma mãe

acompanhada pelo serviço social

do CREN que sempre se colocava

como inferior aos outros e

reforçava suas dificuldades em

realizar tarefas. Ela foi

convidada a

participar da

oficina Arte

naCozinha.

A assistente

social percebeu

seu constrangimento e iniciou

um trabalho de encorajamento

e incentivo, solicitando-lhe a participar

ativamente no preparo da massa de pão.

A princípio ela se opôs; contudo, outras

participantes, percebendo a atitude da

profissional, também reforçaram o apoio.

Aos poucos Flávia foi aderindo e,

valorizada por todos os participantes da

oficina, realizou com sucesso a receita.

Este fato permitiu-lhe experimentar suas

potencialidades e deste momento em

diante ela se tornou mais confiante.

Oficina onde

os profissionais

e as famílias

preparam

uma receita

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31

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

conjuntoderelaçõesinterpessoaisapartirdas

quaisumapessoamantémaprópria

identidade social.

Daredesocialapessoa

recebesustentação

emotiva,ajudamaterial,

serviçoseinformações,tornandopossívelo

desenvolvimentoderelaçõessociais.

As redes sociais podem ser de diversas

naturezas:

◗ rede primária

◗ rede secundária (formal, informal, do tercei-

ro setor, de mercado e mista)

Essadiversidadederedesdependedecomo

elasseoriginaramedosbensquenelascirculam

(reciprocidade,dinheiro,direito).

Aintervençãosocial,portanto,tem

comoperspectivaredespertaraesperan-

ça,mostrandoque,mesmosubmetida

acircunstânciasdeprivação,essa

famíliatempossibilidadesdeenfrentá-

lasesuperá-las.Opontodepartidaéo

patrimônio21.

Políticaspúblicasquelevememconsideração

opatrimôniodascomunidadesotimizamrecur-

sos,permitemaparticipaçãoativadapopulação

etêmapresentadomaiorresultadonocom-

bateàpobreza.umexemplodautilizaçãodo

patrimôniocomométododeintervençãosão

osprojetosdeurbanizaçãodefavelasemBelo

horizonteeemSalvador,realizadospela

AssociaçãodeVoluntáriosparaoServiçoInter-

nacional(AVSI).

REDE SOCIAL

Apessoa,desdeseunascimento,pertencea

umcontextorelacionale,portanto,adetermi-

nadaredesocial.Noiníciodavida,aredesocial

dacriançaéconstituídapelaredesocialdamãe.

Nodecorrerdotempo,apartirdasescolhase

dahistória,apessoavaiconstituindosuaprópria

redesocial.Aredesocialéconstituídaporum

Refere-se aos hábitos,

costumes, crenças e valores

de determinada rede social,

que conferem à pessoa

determinadas características.

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Saúd

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A B O R D A G E M S O C I A L

Rede Primária

Asredesprimáriassãocompostasporrela-

cionamentosentrepessoas,sejamelasparentes,

amigos,vizinhos,colegasdetrabalho,entre

outros,ondecirculareciprocidade.

Rede Secundária

Aredesecundáriaformal“éconstituída

porinstituiçõessociaiscomexistênciaoficiale

estruturaçãoprecisa,desenvolvendofunções

específicasoufornecendoserviçosparticula-

res”22.Essaredecaracteriza-sepelatrocafun-

dadanodireito,prestaserviçoseintervémde

acordocomasdemandasdaspessoas.Atenção

especialédadaaodireitoàcidadania.Dentro

dessaredeestãoosserviçosprestadospelas

instituiçõespúblicas,comoprojetospúblicosde

moradia,deassistênciaàsaúde,deeducaçãoe

deassistênciasocial.

Aredesecundáriainformaléaquelaque

seconstituiapartirdaredeprimária-quandohá

algumanecessidadeoudificuldadecomumaos

membrosdarede,umgrupodepessoasorganiza

umauxílioouumserviço.Nessarede,ovínculo

éfundadonasolidariedadeetrocam-seserviços,

masnãohácirculaçãodedinheiro;ointercâmbio

époucoformalizado,existindoummínimode

organizaçãoparaummáximodeeficácia.Esta

redeéefêmera,eduraenquantoduraroproble-

maenfrentado.umexemplodessetipoderede

podeserdadoporpessoasqueseorganizam

paralevarascriançasàescola.quandodurano

tempo,elatendeaseformalizartransformando-

seemassociações,ouseja,redessecundáriasdo

terceirosetor,cujasrelaçõesestabelecemregras

maisprecisas,comoéocasoembrionáriodas

pessoasqueseorganizamparacuidardosfilhos

portadoresdenecessidadesespeciaisemaistarde

transformamesteserviçonumarededoterceiro

setor,como,porexemplo,aAssociaçãodePaise

AmigosdosExcepcionais(APAE).

Asredessecundáriasdoterceirosetor

sãoaquelasconstituídaspororganizaçõesda

sociedadecivilqueprestamserviçosmasnão

visamlucro.caracterizam-sepelointercâmbiode

direitoesolidariedade.Sãoredesdoterceirosetor

asassociaçõeseorganizaçõesdasociedadecivil,

ascooperativassociaiseasfundações.

Asredessecundáriasdemercado,comoo

nomesugere,dizemrespeitoaatividadeseco-

nômicasrentáveis,sendosuaexistênciaestrei-

tamenteligadaaodinheiroeaolucro,como,por

exemplo,asempresas,estabelecimentos

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33

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

comerciais,negócioseatividadesprestadaspor

profissionaisliberais,entreoutros.

Aredesecundáriamistaéaquelaque

mesclaosmeiosdeintercâmbio,ouseja,aomes-

motempoemqueprestaserviçogarantindoo

direito,ofazmedianteopagamentorespectivo,

fazendocirculartambémdinheiro,comoéocaso

dasclínicasdesaúdeprivadas. Para

lem

bra

rToda pessoa possui uma rede de

relacionamentos. A pessoa em situação de

pobreza muitas vezes se sente isolada por

ser excluída socialmente e não consegue

perceber os vínculos que possui e que

podem dar suporte e ajudá-la a superar

suas dificuldades. Na verdade, ninguém está

sozinho, nem as pessoas, nem as instituições.

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fOtOVIzINhOS

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35

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

Aabordagemderedesocialéumdosinstrumen-

tosutilizadosparaajudarnoprocessodeinclusão

socialdasfamíliasdascriançasdesnutridas.Ela

deve,naprática,partirsempredacentralida-

dequeasredesprimáriasassumem,devidoà

importânciaqueessecontextorelacionalprimário

possuiparaaspessoasefamílias.Énocontexto

relacionalprimárioquesãotrabalhadososrelacio-

namentosentreaspessoas,suasfamílias,vizinhos

eamigos.

Aabordagemderedeconsideratodasaspes-

soasemrelacionamentorecíprocodentrodeuma

rede23.Elainteressaaoprofissionalnamedidaem

quereúneapessoaqueexpressouumaneces-

sidade,oupelaqualsefezumademanda,esua

família,amigos,colegasdetrabalho,pessoasque

estãodisponíveisouqueconsentemestarrelacio-

nadoscomasoluçãodoproblemaemergente,em

relaçãoaoqualénecessárioassumirresponsabili-

dadeseencontrarsoluções24.

Opontodepartidaéaexistênciadeuma

necessidadeindividualou

coletiva.Aaçãosedesen-

volveapartirdeencontros.

Atua-secomapessoaque

trazanecessidadeecomas

pessoasquesãosignificati-

vasparaasoluçãodopro-

blema.Ascondiçõesparaa

realizaçãodotrabalhosãoo

consensoeadisponibilidade

daspessoas25.

quandoseintervémemumarede,éimpor-

tanteteratençãoparaodiscursocoletivo.Eleé

p a r t e 2

rede socialAbordagem de

Atua-se com a pessoa que traz a demanda e com as pessoas que são significatvas para a solução do problema

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Saúd

ePa

rte

2

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A B O R D A G E M S O C I A L

termosquesãoutilizadosregularmentepelas

pessoasdarede;emseguida,reelaboram-se

cronologicamenteasinformaçõescoletadas

(diários,notas,registros)efetuando,sefor

necessário,umaanálisedoconteúdo.

Ostemasqueemergemdaanálisedo

discursocoletivorefletemaessênciadoque

moveaspessoas,doqueatravessasuasvidas,

manifestando-setantoempalavrascomoem

atos.Odiscursocoletivopodetambémrevelar

posiçõescontraditóriasexistentesentreos

membrosdarede.Nessecaso,oprofissional

precisarárealizarumtrabalhoulteriorpara

ajudá-losachegaraumconsenso.

Naabordagemderedes,oprofissionalutiliza,

antesdetudo,oolhareaescuta,porissoprecisa

sersensíveleatentoaogesto,àpalavraeao

silêncio,tantoseuquantoda

pessoaqueatende,poiseles

tambémcarregamosignificado

dasrelaçõessociais.

Aabordagemdeumarede

inicia-sequandoum

determinadocaso(por

exemplo,umamãedecrian-

çadesnutrida)revelaanecessidadedereforço,

incrementooumesmoconstruçãodarede.Esse

compostoporumconjuntocomplexodenormas,

regras,atitudes,crençasemodosespecíficos

decomunicação,eéaexpressãoimplícitaou

explícitadaculturaespecíficadarede.Odiscurso

coletivoéportadorderelaçõessociaisereivindica-

çõesqueacontecementreaspessoaseasredes.

Énecessárioescutaratentamenteoquedizemos

membrosdeumaredesobreaspessoasoufatos

parapoderformularhipótesesdeintervenção.

O discurso coletivo permitirá:

◗ avaliar a possibilidade de estabelecer

alianças;

◗ verificar a proximidade ou distância afetiva

entre a pessoa em atendimento e as pessoas

que compõem sua rede;

◗ saber se a proximidade é suficiente para

poder contar com certas pessoas na solução

do problema ou se, sendo distante, é preciso

um trabalho anterior de sensibilização e

aproximação.

Aspessoasfalamumasdasoutras,deseus

projetos,deseusatos,emtermospositivosse

houveracordooualianças,eemtermosnegati-

vos,sehouverdesacordoseconflitos.

hádistintasmaneirasdefazeremergiros

discursoscoletivos.umadasmaissimples

consisteemanotaraspalavras-chaveeos

Interpretação do

conceito descrito

Na abordagem de redes, o profissional utiliza, antes de tudo, o olhar e a escuta

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

casopoderepresentarumasituaçãojáconhecida

ounova.quandoocasojáestárecebendoatendi-

mento,verifica-seprimeiramenteoqueseconhece

eoqueseignoradaredeedapessoa.Oprofis-

sionalformulaalgumashipótesessobrearededa

pessoaedeseusmembros,partindodarepre-

sentaçãográfica(descritaaseguir)edodiscurso

coletivoapreendidonodiálogocomosmembros.

Eleconstróialgumasestratégiasdeintervenção

erefletesobresuaatuaçãoesobreosrecursos

disponíveisnarede.Aseguir,oprofissionalagenda

encontroscomosmembrosdaredeprimária

(família,vizinhos,parentes,amigos)e,casoseja

necessário,tambémcomosdaredesecundária.

Ao agendar estes encontros, o profissional tem

por objetivos:

◗ favorecer a consolidação das relações existen-

tes, promovendo a mobilização das redes em

relação ao coletivo, de tal modo que as pessoas

possam reconhecer-se, identificar-se, e confir-

mar sua participação;

◗ favorecer a expressão da capacidade da rede de

dar sustentação, promovendo a mobilização da

rede em direção à autonomia, de modo que as

pessoas possam ocupar-se de seus problemas.24

Ofundamentalnestaintervençãoéquesecon-

centreaatençãonosrecursosenaspossibilidades

positivaspresentesnarede,oqueredimensionao

problematrazidopelapessoa.

Naabordagemderedeestáincluídaaatuação

comredessecundárias.construiremanterasredes

secundáriasrequertempoeempenho.Éuma

atuaçãoquepermiteestabelecerumaredede

serviçoseintegrarasdiversasintervençõesrealizadas

pelasinstituições,evitandoaduplicidadede

atendimentosparaumamesmapessoaoufamília.

Nestesentido,podem-sereunirosmembrosdas

redessecundáriasimplicadasnumamesmasituação

parafazê-loscompreenderográficodasredes(ver

aseguir),informar-lhesdasituaçãoe,sepossível,

integrarasdiversasações.

O profissional formula algumas hipóteses sobre a

rede da pessoa, partindo da representação gráfica

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Saúd

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A B O R D A G E M S O C I A L

CARACTERÍSTICAS DO PROFISSIONAL QUE ATUA NA áREA SOCIAL

Três características são fundamentais para

os profissionais que atuam na área social:

◗ uma ação que não seja determinada por

pré-conceitos,

◗ a disponibilidade,

◗ o não se restringir ao problema.

Normalmente,naatuaçãocotidiana,oprofis-

sionalélevadoanãoveroqueocorre,anão

entenderosignificadodascoisaseacensurar

acontecimentosqueestãodistantesdasuasensi-

bilidadeoudasuacultura.

quandoumprofissionalencontraumapessoa

esuarede,dá-secontadeummundodiferente

doseu,comoqualinevitavelmentefarácompa-

rações.Oprofissionalhabitualmenteéportador

de“outra”culturaque,comfreqüência,émais

reconhecidaetemmaispoder.

Umaaçãoquenãosejadeterminadapor

pré-conceitosconsisteemsaberagir

emrelaçãoaosacontecimentosdavida–e,por

conseqüência,emrelaçãoaosfatosocorridosno

interiordarede–partindodarealidademesma

enãodeumaidéiasobreela.Estaposturaexige

uma“aberturaexistencial”,querdizer,saber

reconhecerevalorizarmaisoqueacontecedo

queaquiloqueseprojetaeseprograma.Isso

significainteressar-sepelocotidiano,dirigiroolhar

aomododevidadaspessoasenãounicamente

àsdificuldadesquesurgememsuasvidas.Este

trabalhoimplicarespeitaroritmodosaconteci-

mentos,segundooritmodessessujeitos,ouseja,

reconhecerevalorizaradiversidade25.

Oprofissionaltambémencontracontradições

comasquaisaredeconvive.Enquantoalgumas

pessoasajudam,outrascriamdificuldades.háre-

despraticamenteinteirasquedãoapoio,enquanto

outrasredesdescuidam,castigam,marginalizam,

comprometem,traem.Acapacidadededarauxílio

oudedificultarcoexistemnamesmaredesociale

podemseraceitaseassumidas.Ambasdevemser

objetodaintervençãosocial.

Para

lem

bra

rCaso não exista esta atitude

de abertura, corre-se o risco de

orientar as pessoas, as famílias e

suas redes em direção à censura

e à renúncia de suas identidades

culturais, o que acaba por não

promover a ajuda.

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

comrelaçãoàdisponibilidade,éfundamental

queelaestejapresentetantonocomportamento

doprofissionalquantonascondiçõesobjetivasdo

trabalho.Adisponibilidadesignificaaflexibilidade

emrelaçãoaosmodos,aoslugares,aostempose

aosritmosdapessoa,dafamíliaedesuarede.

Outracaracterísticanecessáriaparaoprofis-

sionalqueatuaemredeénãoserestringirao

problemaoupretenderqueelemude.Épossí-

veldesfocar-sedoproblemaparaconcentrara

atençãonaspossibilidadesdevidadaspessoas

atendidas.hádificuldadesquepodemserequa-

cionadassópaulatinamente,eaintervençãodeve

permitirquearedeassumaaresponsabilidadede

encontrarosmeiosparaenfrentá-las.

Oprofissionaldevepartirsempredeumolhar

ampliadoeconsideraratotalidadedaspossibili-

dadesexistentesnarealidade,tendoumapostura

positiva,mesmoquandoa“solução”nãocorres-

pondeaoqueeletememmente.Essacaracterís-

ticapermiteaausênciadepretensõesexcessivas

emaiorliberdadeparaaação.

RECURSOS E INSTRUMENTOS UTILIzADOS

Osrecursoseinstrumentossãomeiospara

alcançarosobjetivosdaabordagemderede.O

primeirorecursoutilizadoéopróprioprofissional,

suapessoa,comasuasensibilidade,suaintuição,

seusvalores,suaexperiência,seusaber,enfim,

comtodooseuser.Osdemaissãoinstrumentos

oupontosdeapoiodotrabalho,comoosqua-

dros,osgráficosderedeeodiáriodecampo.

Oprimeiropassoparaaabordagemdarede

deumapessoaéaconfecçãodeumalistade

pessoasquepossivelmentepodemprestaralgum

tipodeajudafrenteàsituaçãoapresentada.

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A B O R D A G E M S O C I A L

hátrêsmaneirasdefazê-lo,querespondem

adiferentesinteressesquandosebusca

identificarumarede.

1)Elencarosnomesdaspessoascom

quemapessoaestáemcontato

regularmente.

Nesteprocura-secompreenderassituações

deajudaqueacontecemdeformasistemática

ecotidiana,como,porexemplo,ajudapara

levarascriançasàescolaouajudapara

acompanhamentomédico.

2)Solicitarqueapessoafaçauma

descriçãodeseucotidiano,oquegeraa

listadenomes.

Alistadepessoasnasceapartirdadescrição

docotidiano,pararesponderàsnecessidades

quepodemserenfrentadaspelavizinhança,

porexemplo,ajudaparacuidardacriançaem

situaçõesdeemergência.

3)Geraralistaapartirdeumaquestão

precisa

Alistaégeradaquandosetemuminteresse

específico.Porexemplo,partindodequem

deseusrelacionamentosaacompanhouao

serviçodesaúdeedolevantamentodepessoas

disponíveisparaacompanharotratamento.

Portanto,antesdeelaboraroelencodenomes,

éfundamentalquesetenhaclarezadasrazões

pelasquaisháinteressenessaredeequalo

objetivodeutilizaressaformadeintervenção.

Apartirdalista,identificam-seaspessoasque

compõemoquechamamosredesocial.

Noencontroemqueéelaboradaaprimeiralista

denomes,éfundamentalterpresentequenem

sempreosnomescitadosemprimeirolugarsãoos

maissignificativos.Podeacontecerqueemoutros

encontros,quandoumacontecimentosignificativo

éreferido,sejamintroduzidasnovaspessoasque

sãomaisimportantes.Normalmenteaspessoas

comasquaishádificuldadederelacionamento

nãoaparecemimediatamente.Énecessárioque

sejaconstruídoumvínculodeconfiançacomo

profissionalparaqueelassejamreferidas.

Para

lem

bra

rNo primeiro encontro, o

falar sobre a rede social

muitas vezes permite à

pessoa deixar de olhar só a

dificuldade ou o problema,

para dar-se conta das

relações e vínculos positivos

que constituem sua vida.

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

hátambémsituaçõesemqueessesvínculos

podemrepresentardoresofrimento;éfunda-

mental,portanto,umagrandeatenção,delicade-

zaecuidadonaabordagem.

MAPA DA REDE SOCIAL

Omapaderedesocialpermitevisualizar

graficamenteasrelaçõesqueapessoaqueestá

sendoatendidamantém.

Nomapa,podemcons-

tartantoaredeprimária

quantoasecundária.

Esteinstrumentopermite

visualizararealidademais

amplaemqueapessoa

estáinserida,mostrando

umaoumaispessoasem

relaçãorecíproca.

Aelaboraçãodomapa

deveserfeitajuntocoma

pessoaatendida.Éummomentoem

queapessoa/famíliatomaconsciênciadeque

pertenceaumcontextorelacional,quenãoestá

sozinha,quepodecontarcomalgumaspessoas

einstituiçõesparaenfrentaroproblema

emquestão.

Odesenhodomapaéarepresentaçãodeum

momentodeterminadodesuahistória.Osmapas

nãosãoestáticos,umavezquearealidadeé

dinâmicaemutável.Porisso,énecessáriodatar

todososdesenhos,erefazê-losnoandamento

daintervenção.Alémdisso,énecessárioqueo

profissionalprocurecompreenderostiposdevín-

culosdapessoaematendimentocomosdemais

membrosdesuaredeparapodê-losrepresentar

adequadamente.

Osmapasconstituemapoiosfacilitadorespara

reflexãosobreocasoatendidoeseuestudopode

serfeitoporprofissionaisdediferentesinstitui-

ções,oquesuscitaintercâmbiosmuitosricose

expressivos,bemcomoidéiasnovasarespeito

dasintervenções.

Paraaelaboraçãodomapa,énecessáriaa

utilizaçãodefigurasgeométricasquerepresen-

tamosdiversostiposderede(quadro1)eda

representaçãográficadotraçado,quedetermina

otipodevínculoexistenteentreosmembros

(quadro2)25.

A elaboração do mapa é um momento em que a pessoa/família toma

consciência de que pertence

a um contexto relacional

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A B O R D A G E M S O C I A L

QUADRO1–REPRESENTAÇÃOGEOMÉTRICADETIPOSDEREDE

casadesaúde(recuperação)ehospitaisprivados

instituições instituições instituições instituições deassistência desaúde deeducação dereclusão

empresas,fábricasenegócios

família parentes vizinhos amigos colegas

Redessecundáriasmistas(trocasdedireitoededinheiro):

Redessecundáriasformais(trocasdedireitos):

Redessecundáriasinformais(trocasdeserviçoesolidariedade)

Redessecundáriasdoterceirosetor(trocasdesolidariedadeededireito):

Redessecundáriasdemercado(trocadedinheiro):

Redesprimárias(reciprocidade):

FigurasgeométricasTiposderede

voluntariadoorganizado,cooperativassociais,associaçõesefundações

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

QUADRO2–REPRESENTAÇÃOGRÁFICADOSTIPOSDEVÍNCULOSNAREDESOCIAL

Tiposdevínculo RepresentaçãoGráfica

NORmAL

fORtE

fRáGIL

cONfLItuOSO

ROmPIDO

INtERROmPIDO

DEScONtíNuO

AmBIVALENtE(quandonorelacionamentoentreduaspessoasseestabelecemtiposdevínculosdiferentes,ouseja,apessoaApossuiumvínculofracocomBeaBpossuiumvínculodescontínuoemrelaçãoaA)

▼▼ BA

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2

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A B O R D A G E M S O C I A L

DIáRIO DE CAMPO

Odiáriodecampoéuminstrumentoprecioso

porserolugarondeestácontidaamemóriados

acontecimentos.Elecontémaspassagens,os

encontros,osacontecimentos,asobservações,as

reflexões,asimpressõesetambémossentimentos

ordenadosoudesordenados,constituindouma

formaderegistrocronológico.contémtambém

osdiscursoscoletivosqueservemparaformular

hipóteses,refletirsobreaintervençãoerestituir

aosmembrosdasredesasreflexõesqueseus

membrostenhamfeito.Acadaacontecimento

atualiza-seodiáriodecampo.

Esteinstrumentopodeapresentar-seemforma

deumcaderno,relatóriooufichasordenadas

deformatalaseobterarápidavisualizaçãoda

seqüênciadosprincipaiseventosocorridos.

DIMENSÃO DA REDE SOCIAL

Paraanalisararedesocialénecessárioconhecer

suadimensão,compostapelasuaestrutura,sua

funçãoesuadinâmica.Asdimensõesdarede

permitemcompreenderaformacomoasligaçõesse

estabelecemesemantêmapartirdapercepçãodos

fatosedasrelaçõesentreaspessoas.Aanálisedesses

indicadorespermitiráaconstruçãodahipótesedo

trabalhoaserrealizadocomaquelafamília.

Estrutura

Analisaraestruturaéconsideraraforma

comoaredeseapresenta.Elapodeseranalisada

segundoalgunsindicadores:

◗amplitude:dizrespeitoàquantidadedaspes-

soaspresentesepermiteafirmarseumaredeé

pequenaougrande(verfigurasaolado).Podeser

necessário,porexemplo,incrementaraamplitude

daredeporreconhecerqueestáfragilizadaem

funçãodoseutamanho.

◗densidade:refere-seàquantidadedaspessoas

queseconhecem.Esteindicadorpermitevisua-

lizarquantoslaçosexistementreosmembrosde

umaredeeidentificaraquantidadedeinterrela-

çõesdarede(verfigurasaolado).umahipótese

deintervençãopodeserincrementarorelaciona-

mentoentreaspessoas,estimulandoafreqüência

dosencontrosentreseusmembros.

◗intensidade:refere-seaointercâmbiorealiza-

do.Permiteverificarseseestátrocandomuitoou

poucoeseaquiloqueéintercambiadoématerial,

afetivoouinformativo.Observandoaintensidade

dosvínculos,oprofissionalestáemcondiçõesde

fazeralgumasperguntas,massobretudo,defazer

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45

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

circularinformações.Asinformaçõesrecebi-

dassãoúteisnamedidaemqueosmembros

daredeasinternalizaremesetornaremmais

conscientesdeseusrecursos,ativando-os.

◗freqüência:apresentacomquesistematici-

dadeovínculoéestabelecido.Afreqüênciaé

assimdeterminada:tododia;duasatrêsvezes

nasemana;umaveznasemana;detrêsaseis

meses;maisoumenosumavezporano.

◗duração:indicaháquantotempoaspesso-

asdaredeseconhecem.

AMPLITUDE

REDEPEquENA REDEGRANDE

DENSIDADE

REDEDENSA

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Saúd

ePa

rte

2

4�

A B O R D A G E M S O C I A L

distância:namesmacasa;nomesmoprédioou

comunidade(bairro,favela);emoutracidade;em

outroEstado.

◗proximidade/distância:permiteareflexão

sobreadistânciaafetivaerevelaosgrausde

intimidade.Édesenhadojuntocomapessoae

estatemoselementosdavidaparaestabelecer

talindicador.Nocasodeumapessoaquevive

umarelaçãodedistânciaafetiva(traçadomais

fino)comummembrochavedesuarede,ain-

tervençãopodeserparadespertarapercepção

dapessoaematendimentoparaaimportância

daquelemembroemsuavida,possibilitando

queelapercebaarealproximidadecomaoutra

pessoaemquestão.

Função

Asredespodemterdiferentesfunções,

quedependemdafunçãoqueseusmembros

exercemnorelacionamentocomapessoa

ematendimentoedispõemdosseguintes

indicadores:

◗suporte:éumtipodeajudaintercambiada,

quepodeserqualificadacomo:material,afetiva

einformativa.Podeocorrerquotidianamenteou

emcasodeemergência.Essesuportepodeser

fornecidopormuitaspessoasouporumasó;

◗proximidadefísica:refere-seaolocalonde

osmembrosdaredehabitam,quepodeserno

mesmoperímetrooudeslocadaaquilômetrosde

PROxIMIDADEFÍSICA

PROxIMIDADE/DISTÂNCIA

SP

ceará

Paraná

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4�

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

◗troca:podemserodireito,areciprocidade,o

dinheiroouamescladealgunsdeles;

◗efeitopsicológico:refere-seaoefeitopsicoló-

gicocausadoporalgumtipodesuportedadopara

umapessoaporsuaredesocial.Podeser:

-Motivador:ouseja,encorajamento,esperança,

oudesencorajamento,pessimismo;

-Normativo:referenteacondutas,regrasexer-

cendoinfluênciapositivaounegativa;

-Estima de si:estapodeserpositiva,oudecres-

cimento,oudemanutençãodaauto-estima,ou

negativo,deameaça;

-Estado geral:quepodeserpositivo,causando

segurançaebem-estar,ounegativo,causando

tensãooumal-estar.

◗temporalidade:ajudaimediataouaolongode

umtempo;

◗relacional:podeserdereciprocidade(apessoa

recebeajudaetambémfornece)oudemultidi-

mensionalidade(umamesmapessoaforneceao

mesmotempomuitascoisas,comoajudamaterial

eencorajamento).

Afunçãopermiteapercepçãodotipode

suportedadopelaredeeseuefeitoparaapessoa.

Épossível,porexemplo,haverumapessoaque

contribuicomsuportematerial,mas,namedidaem

queprovocartensão,oefeitopoderásernegativo.

Dinâmica

Estaterceiradimensãodaredesocialenfatiza

algunselementosquedizemrespeitoàscaracterís-

ticasdasrelaçõesentreaspessoasnarede:

◗relaçõesdeforçaexistentes:indicaquem

exerceaautoridadenaredeecomqueforçaa

exerce;

◗complementaridadeeantagonismo:indica

searelaçãosomaesforçosousefazoposição,se

hácontraposição;

◗passagemdeumaredeparaaoutra:ocorre

quandoporalgummotivoapessoanãosesente

acolhidaounãoencontraespaçode

relacionamentodentrodarede,passando,

paulatinamente,aconstituirumaoutraredede

relacionamentos;

◗eventosnociclodevida:sãoosfatosque

demandamreorganizaçãodavidadaspessoas,

como,porexemplo,onascimentodeumfilho;

◗separação,interrupções,rupturas;

◗isolamento:consistenoatodeestarsepara-

do,longe,foradeumcontexto,nãosereferindo

somenteaumaquestãodeausênciaoucarência;

◗eventuaistransgressõesdasregrasestabe-

lecidaspelaspessoasoupelasredes;

◗eventuaisacontecimentosrepetitivosna

vidadarede.

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Saúd

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2

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A B O R D A G E M S O C I A L

Aco

nte

ceu

... EXEMPLO DE INTERVENÇÃO DE REDE

Em 2000 o CREN acompanhou o caso de JC

nascido em 2�/0�/��. O caso foi encaminhado

por uma importante organização não

governamental que também atende crianças

com quadro de desnutrição. No início do

tratamento esta criança apresentava um

quadro de desnutrição severa. Aos 11 meses,

pesava 5,�� kg e media �3,� cm. M, a mãe

de JC, usou álcool e drogas em sua gestação

(dado que merece atenção, pois interfere no

desenvolvimento da criança). Havia referência

de broncopneumonia com um mês de vida,

febre com freqüência, episódios de diarréia e

dieta inadequada.

Devido à dependência química de sua mãe, JC

é criado pela tia materna MF, que possui sua

guarda judicial. MF tem 44 anos e cursou até

a quinta série do ensino fundamental. L, seu

companheiro, tem 32 anos e estudou até a

terceira série do ensino fundamental. Ambos

trabalham no mercado informal, em feira livre.

Em seu primeiro relacionamento conjugal, MF

teve � filhos, dos quais alguns estão casados,

outros moram com a avó paterna e um está

recluso. A casa onde a família de MF mora

localiza-se em uma rua próxima a uma favela,

e é sublocada para outras famílias para garantir

uma fonte de renda. A casa de MF localiza-se

no pavimento inferior de um sobrado, não

recebe nenhuma ventilação, é muito úmida e

necessita de reparos.

No pavimento superior residem suas irmãs M

e K, esta última também dependente química. M.

tem mais 4 filhos: três meninas internas na Febem

e uma que foi adotada por um casal residente nos

Estados Unidos (sic). M tentou suicidar-se várias

vezes, uma delas ateando fogo no corpo.

A família, mãe e tia MF de JC encontram muita

dificuldade em se organizar para assumir suas

responsabilidades, como visitar os filhos na

casa da avó ou nas instituições em que estão

internados, assim como cuidar de JC. Enquanto

JC estava em tratamento no CREN, MF sofreu um

acidente vascular cerebral e ficou hospitalizada.

A doença afetou a capacidade motora e de

comunicação (fala e escrita).

O quadro de desnutrição de JC decorre, por-

tanto, do contexto familiar e não da falta

de renda, uma vez que a família pode contar

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4�

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

com os rendimentos do aluguel e do

trabalho informal.

Após 11 meses de tratamento no CREN, JC

passou de um quadro de desnutrição severa

para moderada. No período da internação

hospitalar de MF, a equipe do CREN ativou

sua rede social. Partindo de dados do mapa,

foi solicitado a V, filha de MF, e a L, seu

companheiro, que garantissem o tratamento

de JC, levando-o diariamente ao CREN. A

intervenção da equipe do CREN visou a evitar o

encaminhamento de JC para a Febem.

Quando MF recebeu alta hospitalar, surgiu uma

nova demanda para a sua rede primária: MF

precisava de cuidados sistemáticos e diários. A

doença não lhe permitia caminhar, nem cuidar

da criança. V, filha de MF, incumbiu-se da

tarefa de cuidar da mãe e, por esse motivo, não

tinha mais condições de assumir o tratamento

de JC. Ao mesmo

tempo, a equipe do CREN começava a

ter relacionamento com M, que passou

a participar dos fóruns e das reuniões

pedagógicas. M seria a pessoa que, na fase

da doença de MF, garantiria a freqüência ao

tratamento de JC, junto com L, embora ambos

tivessem dificuldades de relacionamento.

Ao se recuperar, MF reassumiu os cuidados

com JC, com a colaboração de M e de L.

Para a continuidade do tratamento, os

profissionais centraram a atenção no

fortalecimento de M, mãe biológica de JC, que

solicitou informações sobre recursos sociais (o

que fazer para emitir documento que a isente

da tarifa de ônibus) e começou a participar

de algumas atividades no CREN. Também

estuda-se a possibilidade de encaminhá-la a um

serviço de plástica do Hospital São Paulo, para a

reconstrução de seu rosto e mãos.

A rede de MF é pequena, marcada por conflitos

e rompimentos, caracterizando vínculos frágeis

do ponto de vista da ajuda. A intervenção,

nesse caso, foi pautada no estabelecimento do

vínculo de MF com o CREN e, paulatinamente,

com outros membros da família.

A intervenção permitiu que JC não

interrompesse o tratamento e permanecesse

na família, em vez de ser encaminhado

para a rede secundária. Além disso, em

relacionamento com a equipe do CREN, M

manifestou o desejo de ser tratada de sua

dependência química.

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2

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A B O R D A G E M S O C I A L

MAPADAREDESOCIALDEMF

Penitenciária

filho(dadopara

adoção)S(f)

Sdr (f)

V (f)D (gr)

Sí (sg)Sv (f), Sa (f)Fe (f), Fá (f)

T(sg da V)

E (v)

MF

ONG 1

Hospital 1

JC

i = irmãv = vizinhagr = genrosg = sogra

Ø = dependência química (drogas diversas e álcool)Œ = delinquência

K (i)ØM (i)ØŒ

FEBEM

ONG 2

Hospital 2

DATA: / /

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

Omapadarededemfmostraquearedeé

pequenaemarcadaporrelaçõesconflituosase

interrompidas,revelandoagrandedificuldadede

relacionamentospessoaisecaracterizandovínculos

poucointensosdopontovistadaajuda.

mesmoassim,hádoisvínculosquepodemser

ativados;um,forte,comafilhaV,eoutro,fraco,

comavizinha.Estesegundo,analisadodeacordo

comofatorproximidade-distância,precisaser

trabalhadoparasignificarumrecurso,poisháuma

distânciaafetivadestavizinha.Asoutrasrelações

observadassãoambivalentes,significandoqueos

vínculoscarregamemsiumacontradiçãoesão,

aomesmotempo,fortesnumadireçãoefrágeis

emoutra.

háinteressedemfemserelacionarcomsua

sogra,quecuidadealgunsdeseusfilhos,masesse

interessenãoérecíproco(relaçãoambivalente),o

quesepodeverpelosdiferentestraçados.Pode-se

observartambémqueháinteressedasirmãsme

Knorelacionamentocommf,masomesmonão

aconteceparamf.Osdemaisvínculospessoais

sãomarcadospelorompimentoepeloconflito.

Essemapatambémcontémasredessecundá-

riasquecompreendemasdiferentesinstituições,

dasquaisafamíliademfdependeparacuidar

dosfilhos.

Omaparevelaquearedeestáfragilizadaea

intervençãofoirealizadacomvistasàconstrução

deumvínculofortecomoprópriocREN,para

abrirpossibilidadesdeformarnovosvínculos.

Aperspectivaéfortalecerovínculocomm(mãe

biológicadeJc),commfeL,atravésdeconvite

paraparticiparnasatividadesdaentidadepara

quepossamfortalecerseusvínculoseconstruir

outros,afimdequecaminhemrumo

àcoletividadeeautonomiadasinstituições

(redessecundárias).

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53

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

Paraotratamentodecriançasdesnutridas,o

profissionaldeServiçoSocialdesempenhaum

papelmuitoimportanteporajudarasfamíliasa

enfrentarsituaçõesdavidacotidiana.

Oimportanteécompreenderqueaprópria

realidadedasfamíliaséquevaideterminarasati-

vidadesaseremrealizadas.Paratanto,énecessá-

riopropiciarqueamãeouresponsáveldacriança

desnutridavivaexperiênciasquelhepermitam

desenvolversuaspotencialidades.Opressuposto

dotrabalhoéofatodeque,emação,apessoa

tomaconsciênciadasuacapacidadeeaprende

acondividiravida;afinal,ohomemconheceasi

mesmonaaçãoenãonodiscurso.

Aintervençãojuntoàsfamíliasdá-seapartirdo

estabelecimentodeumvínculodeconfiança,que

facilitaaadesãoaoserviçoesedesenvolvepor

meiodeatividadesintegradasentresi:entrevista

social,visitadomiciliar,oficinaArtenacozinha,

cursosdecapacitaçãoprofissionalefórumcom

ospais.Dependendodocaso,asatividadespo-

demsermodificadasouampliadas.

ENTREVISTA SOCIALAentrevistasocialéumatendimentoindivi-

dualnoqualoassistentesocialestáemcontato

comumoumaismembrosdafamíliaparaaco-

lhê-los,conheceraestruturasocialdafamíliae

suasdemandas.Osencontrossãoagendados

comobjetivospré-definidosparaumtrabalhode

acompanhamentodaevoluçãodocaso.Podem

tambémocorrerencontrosemergenciais,de

acordocomanecessidadedasfamílias.

p a r t e 3

Atuação social

Visita Domiciliar.

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3

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A B O R D A G E M S O C I A L

Aentrevistadeveseragendadaapósum

períododeconvivênciadafamíliacomaentidade,

paraquesejapossívelaconstruçãodeumvínculo

deconfiança,quepermitamaioraberturae

disponibilidadedamãepararelatarsuaexperiên-

ciavivida,suasconquistasesuasdificuldadesno

atendimento.

Atendimento individual onde ocorre a distribuição de

passes para garantir tratamento.

Para

lem

bra

r O assistente social deverá

proporcionar um ambiente

favorável, onde a mãe/responsável

pela criança possa relatar suas

expectativas em relação a sua vida

e de sua família, e tudo que

a circunda; suas conquistas e

angústias, além de suas expectativas

em relação à instituição.

Naentrevistasocialoprofissionaldeverá

perguntarsobreahistóriadafamília,suaatual

situação,asrelaçõesinterpessoais,osconflitos,

suarededeajudaeosrecursosdacomunidade

utilizadosparasuprirsuasnecessidades(como

trabalho,lazer,saúde,educaçãoeserviços

assistenciais,entreoutros).comestasinforma-

çõesejuntamentecomamãeserádesenhadoo

mapadaredesocial.

Oprocessodeconhecimentodahistória

familiarcompleta-secomoatendimentodeoutros

técnicos.Aatuaçãodoassistentesocialpressupõe

aparticipaçãodeprofissionaisdeoutrasáreaspara

formularestratégiasdeação.

VISITA DOMICILIAR (VD)Avisitadomiciliar(VD)podeterdiversasfinali-

dades:observar,conhecer,compreender,ajudare

verificar.Éaocasiãoemquearealidadeapresenta-

daduranteaentrevistasocialéconhecidainloco,o

quepermitesuamelhorcompreensão.

AVDpossibilitaestabelecervínculoscom

outrosmembrosdafamília,permiteaosassisten-

tessociaisapresentarseutrabalhoeoferecer-se

comocompanhiaparaoenfrentamentode

suasnecessidades,respeitandoadinâmica

relacionaldafamília.

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V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

Oprofissionaldevepreparar-separaessaati-

vidade,afimdeestarconscientedomotivopelo

qualeleestáseaproximandodafamíliaedoque

elevairealizarnesseencontro.

Avisitadeveseragendadapreviamentecoma

família(pessoalmente,por

escritoouportelefone),

esclarecendosuafinalida-

de,paraencontraruma

boareceptividadeepara

respeitaraindividualidade

decadamembro.

Deveserrealizadapor

doisprofissionais,que

poderãodividirasvárias

tarefas:deinteração,

acolhimentodasnecessidades,epreenchimento

deformuláriocomdadosgeraissobreascaracte-

rísticasdodomicílioeacomposiçãofamiliar.

Oconhecimentopréviodafamília(porexem-

plo,pormeiodoserviço)permiteomelhorapro-

veitamentodoencontro.

Condições necessárias para realizar a

visita:

◗ A observação, que deve ser direcionada,

respeitando o conteúdo que se decidiu

estudar;

◗ A escuta, necessária para entender como

a família se expressa, como se comunica e

como seu contexto se apresenta;

◗ O respeito ao tempo da pessoa para a cons-

trução do vínculo, o envolvimento e atenção

com a pessoa, e a consideração do contexto

familiar das dificuldades são elementos fun-

damentais para esta atividade. A compre-

ensão do processo

de amadurecimento da pessoa muda a

dinâmica relacional, pois o assistente social

respeita o tempo e o ritmo de quem está

em atendimento.

FóRUM DE PAISOfórumdePaiséumencontroperiódico

(geralmentemensal)comoobjetivodediscutir

comasfamíliaso

desenvolvimentodo

trabalhonainstitui-

çãoeoutrostemas

queosprópriospais

queiramaprofundar,

comoasaúdeda

criança,oaleita-

mentomaterno,as

doenças,comoadengue,eassuntosdaatualidade.

A VD possibilita estabelecer

vínculos com outros membros

da família e oferecer-se como companhia para

o enfrentamento das dificuldades

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Saúd

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A B O R D A G E M S O C I A L

Aofinaldoencontropodemserdistribuídas

ascestasbásicasparacadafamília.Váriasações

dainstituiçãoforamcriadasapartirdasidéias

trazidasnessesencontros,comoarealizaçãode

cursosdecapacitaçãoprofissional.

ARTE NA COzINhAEstaéumaoficinarealizadaumavezpor

semana,comoobjetivodemostrarovalornutri-

tivodosalimentos,ensinarpráticasde

higiene,trocar

receitasculinárias

debaixocustoe,

acimadetudo,

possibilitarum

momentodetroca

deexperiências

pessoaisapartirdo

cotidianodecada

um.Durantea

oficina,anutricionista,oassistentesocial,umdos

paisouumapessoaconvidadamostra,naprática,

comofazerumpratonutritivoebarato.Aativi-

dadeocorredeformamuitodinâmica,permitindo

omelhorconhecimentodasfamílias,jáqueas

pessoasnessemomentoestãoemconstanteinte-

ração.Alémdeaprenderafazerumapreparação,

amãepode,porexemplo,entraremcontatocom

outraspessoas(mães,paiseoutrosmembrosda

famíliadascrianças)eperceberqueelastêmpro-

blemassemelhantesaosseus.umapessoaquejá

viveuumaexperiênciapelaqualaoutramãeestá

passandopodeajudá-laaenfrentarasituação.

Essaoficinatambéméumespaçoquevem

propiciandoageraçãoderendaparaalgumas

famílias,poisnelaháreceitascomopanetone,

ovosdepáscoa,coxinhas,cocadas,entreoutras,

quesãorealizadasevendidasposteriormentena

comunidadedeorigem.

COMPLEMENTANDO A RENDA

comoobjetivode

melhorarascondiçõesde

vidadafamília,foifirmado

umconvênioentreocREN

eaSecretariadeAssistência

eDesenvolvimentoSocial

doEstadodeSãoPaulo.

Oprogramaconsistiuem

repassarrecursosfinanceiros

parafamíliasquevivemem

situaçãodepobreza.Apóso

recebimentodorecursopelas

Discussão de notícias de jornal no

início da Oficina Arte na Cozinha

Pai atendido pelo Programa

Complementando a Renda

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5�

V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

famílias,aequipeacompanhouosprojetosde

melhoriadascondiçõesdehabitaçãoedegeração

derenda,que,somadosaoutrasmedidas,

evidenciammudançasimportantestantona

dinâmicainternadafamíliaquantonasuarelação

comacomunidade.

CURSOS PROFISSIONALIzANTES

forampromovidoscursosprofissionalizantes

conformeointeressedospais,adisponibilidade

financeiraeaaçãovoluntáriadealgumasentida-

des.Jáforamrealizadoscursosdecabeleireiro,

manicure,hidráulica,elétricaecomputação.

todasessasatividadessãoestruturadas,por-

queháumtrabalhodeconstruçãoderededentro

eforadaprópriainstituição.Nessesentido,

tambémoserviçosocialparticipadefórunsede

encontroscomentidadespúblicaseprivadas,o

quepermiteresponderàsdemandasquesurgem

narealidade.

Éimportanteatentar

paraofatodequeessas

atividadessurgiramda

necessidadedopróprio

serviçodeconhecere

compartilharosconhe-

cimentos,comvistasa

construiroprocessode

recuperaçãodacriança,

tornandoafamíliao

principalsujeitodesse

processo.

taisatividadespodem

serincrementadasoumodificadas,dependendo

darealidadesocialemqueseestáinserido.Épos-

sível,porexemplo,estruturarumahortacomuni-

táriaouatividadesprodutivas,oumesmorealizar

aoficinaArtenacozinhanaprópriacomunidade

oucasadasfamílias,comoseráfeitonesteano.

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5�

A B O R D A G E M S O C I A L V E N C E N D O A D E S N U T R I Ç Ã O

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Famílias e crianças atendidas pelo CREN.

Álvaro Manoel – SeniorEconomistdoFundoMonetárioInternacional(FMI).

Ana Cristina Rodrigues da Costa – Economista,ÁreadeDesenvolvimentoSocial/GerênciaExecutivadeOperaçõesdeSaúde(AS/GEOPS)doBNDES.

Enrico Novara – DiretorExecutivodaAssociaçãoVoluntáriosparaoServiçoInternacional(AVSI)noBrasil.

Giuseppina Gallicchio – Médica,DiretoradacrecheJoãoPauloII(Salvador–BA)

Hélio Egydio Nogueira – ReitordaUniversidadeFederaldeSãoPaulo.

Ivone Oliveira Braga Fernandes – Enfermeira,EspecialistaemSaúdePública.

José Zico Prado – DeputadoEstadualdeSP.

Lia Sanicola – AssistenteSocial,EspecialistaemRedeSocialpelaUniversidadedeParis,DocentedaUniversidadedeParma(Itália).

Luis Gaj – AdministradordeEmpresas,ProfessordoMBAdaFaculdadedeEconomiaeAdministraçãodaUniversidadedeSãoPaulo,FundadoreDiretordoInstitutoGallen.

Marcelo Lucato – Publicitário,DiretordeCriaçãodaMacCannErickson.

Maria Teresa Gatti – DiretoraExecutivadaAssociaçãoVoluntáriosparaoServiçoInternacional(AVSI)paraaAméricaLatina.

Martus Antonio Rodrigues Tavares – DiretorparaoBrasilnoBancoInteramericanodeDesenvolvimento(BID)

Thaís Linhares Juvenal – GerenteSetorialparaProdutosFlorestaiseBensdeCapitaldaÁreadeServiçosProdutivosIdoBNDES.

Associação USP/MBA – EXES.

AVSI – Associação Voluntários para o Serviço Internacional.

Companhia das Obras do Brasil.

Comunidade do Boqueirão.

Prefeitura Municipal de São Paulo – Secretaria da Assistência Social.

Pia Sociedade São Paulo.

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Realização:

Em parceria com:

A efetividade de uma ação de combate à pobreza pode ser impedida por problemas simples, como dificuldade para tirar documentos, falta de dinheiro para transporte, dificuldade de comunicação entre a pessoa em situação de pobreza e os profissionais da saúde, além do desconhecimento dos serviços disponíveis - devido ao isolamento. A presente coleção nasce do trabalho do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN) e tem por finali-dade oferecer a um público multiprofissional uma visão abrangente dos problemas e das soluções encontradas no combate à desnutrição, o mais potente marcador de pobreza.A coleção é composta por 2 volumes para comunidades e entidades que trabalham com crianças: 1 - Vencendo a Desnutrição na Família e na Comunidade, 2 - Saúde e Nutrição em Creches e Centros de Educação Infantil; 4 volumes sobre as abordagens: 3 - Clínica e Preventiva, 4 - Social, 5 - Pedagógica e 6 - Psicológica; além de 1 Livro de Receitas e 17 folhetos explicativos sobre ações preventivas e cuidados com as crianças que são dirigidos às mães e responsáveis: 1 - Quais os cuidados necessários durante a gravi-dez, 2 - Como o bebê se desenvolve na gravidez, 3 - Como se preparar para o Aleitamento Materno, 4 - Aleitamento Materno, 5 - Como cuidar do crescimento da criança, 6 - Desenvolvimento Infantil, 7 - Vacinas, 8 - Como preparar a papinha para o bebê, 9 - Como alimentar a criança de 6 a 12 meses de idade, 10 - Alimentação Infantil, 11 - Como cuidar da higiene dos alimentos, 12 - Como cuidar da higie-ne do nosso ambiente, 13 - Saúde Bucal para crianças de 0 a 6 anos, 14 - Como evitar piolhos e sarnas, 15 - Verminoses, 16 - Como tratar de resfriados, gripes, dores de ouvido e garganta, 17 - Desnutrição.