(2) Teologia Da Cruz

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Teologia da Cruz Recentemente assisti o seriado 4400. Uma história interessante. Narra que 4400 pessoas foram abduzidas, em aproximadamente seis décadas, nos diversos cantos do planeta terra. Eram dadas como mortas ou sequestradas. No início do século XXI, uma esfera coberta de luzes aparece na terra e de repente some deixando as 4400 pessoas, homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos. Elas não se lembravam de nada. Em suas memórias estavam à recordação dos seus dias na terra. E também não envelheceram. Imaginem uma criança na década de 60, ou um militar na II Guerra Mundial – retiradas de sua realidade histórica e aparecem anos depois. Para onde foram? Quem os levou? O que fizeram? Foram levados pela própria raça humana, porém do futuro. O futuro passava por sérios problemas. Eles sofriam. Assim, tiveram a ideia de capacitar 4400 pessoas do passado com dons e talentos; para serem utilizados em benefício do desenvolvimento do próprio homem. Desta forma, no futuro, os homens não enfrentariam tantos problemas. A alternativa encontrada pelo futuro foi essa. Independente do tempo, espaço e idade, o sofrimento se faz presente. Cada pessoa reage de uma forma para enfrentar um momento difícil. Sendo sucinto, apresento quatro alternativas: 1. Aceitar que o sofrimento é maior que nossas forças. Ele nos consome, inebria nossas atitudes. Ficamos impotentes e submissos a ele. A alternativa a esse desespero é o ato ultimo. Ultimo folego consciente de vida que leva ao suicídio. 2. Aceitar um movimento religioso que tem como doutrina - afirmar que ao homem não é permitido sofrer. Ele está imune aos males e dores por ter aceitado este ou aquele Deus. Infelizmente dentro do cenário protestante brasileiro existem muitas denominações com essa prática. Promovem uma bestialização do homem enquanto ser histórico, social e religioso. 3. Aceitar o sofrimento como uma realidade humana, e o homem buscar em si as condições para reverter essa realidade. Ele se acha forte e capaz, e nele se encontram todas as condições para reverter qualquer situação. 4. Finalmente, aceitar o sofrimento como uma realidade humana e com Cristo aprender a suportar o sofrimento. A condição de sermos cristãos não nos isenta dos males, dores e sofrimentos. Porém em Cristo, somos capacitados a suportar toda carga que nos angustia e debilita. Ainda que Jesus tenha todo poderio, afinal: (i) O Cristo estava antes do início e estará depois do fim. Ele constitui e é senhor do tempo e de tudo que acontece no tempo; (ii) Venceu a morte; (iii) É Deus; (iv) Não apenas aponta o caminho, mas ele é o caminho. Seria passível uma simples pergunta, se aceito caminhar com Jesus, e ele é tudo isso, porque aqueles que o aceitam, sofrem? Infelizmente a mentalidade cristã está contaminada pelo binômio diante do trono ou perto da arca e se esqueceu da teologia da cruz. A cruz permite o homem participar do sofrimento de Cristo para ser digno de sua ressurreição. A igreja como corpo de Cristo precisa-se afirmar crucificada para trazer vida. A cruz não é apenas sinal de sofrimento, mas daquele madeiro exala salvação. Ser cristão e ser co-participante do paradigma do servo sofredor. Aparentemente é estranho utilizar essas palavras como servo e sofredor? Seria uma contradição? O caráter contraditório não é um problema. Nunca foi. Apenas precisamos entendê-lo. Ao ter um posicionamento servil, aceito a liberdade que há em Cristo. Assim como opto ter a alegria e paz em sofrer por sua causa. Isso não é um masoquismo religioso, e sim coerência cristã. Nem todo sofrimento se refere à causa de Cristo, existem sofrimentos independentes de nossa vontade. Como a morte, a dor da distância ou imposição daquilo que nos incomoda. Existem níveis e tipos de sofrimento. Independe de nossa situação, escolho a teologia da cruz como fonte de esperança. Precisamos ter posturas condizentes e éticas com aquilo quer dizemos. Nossa fala a atos que legitimaram nossa experiência de cruz. Tudo que digo se torna público, não nos pertence mais. De igual forma temos quer ter atitudes coerentes com nossa fala. A história do bom samaritano relata que um homem estava indo de Jerusalém para Jericó. Caiu nas mãos de salteadores e foi espancado. Passou um sacerdote e não fez

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Recentemente assisti o seriado 4400. Uma história interessante. Narra que 4400 pessoas foram abduzidas, em aproximadamente seis décadas, nos diversos cantos do planeta terra. Eram dadas como mortas ou sequestradas.

No início do século XXI, uma esfera coberta de luzes aparece na terra e de repente some deixando as 4400 pessoas, homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos.

Elas não se lembravam de nada. Em suas memórias estavam à recordação dos seus dias na terra. E também não envelheceram.

Imaginem uma criança na década de 60, ou um militar na II Guerra Mundial – retiradas de sua realidade histórica e aparecem anos depois. Para onde foram? Quem os levou? O que fizeram?

Foram levados pela própria raça humana, porém do futuro. O futuro passava por sérios problemas. Eles sofriam. Assim, tiveram a ideia de capacitar 4400 pessoas do passado com dons e talentos; para serem utilizados em benefício do desenvolvimento do próprio homem. Desta forma, no futuro, os homens não enfrentariam tantos problemas. A alternativa encontrada pelo futuro foi essa.

Independente do tempo, espaço e idade, o sofrimento se faz presente. Cada pessoa reage de uma forma para enfrentar um momento difícil. Sendo sucinto, apresento quatro alternativas:

1. Aceitar que o sofrimento é maior que nossas forças. Ele nos consome, inebria nossas atitudes. Ficamos impotentes e submissos a ele. A alternativa a esse desespero é o ato ultimo. Ultimo folego consciente de vida que leva ao suicídio.

2. Aceitar um movimento religioso que tem como doutrina - afirmar que ao homem não é permitido sofrer. Ele está imune aos males e dores por ter aceitado este ou aquele Deus. Infelizmente dentro do cenário protestante brasileiro existem muitas denominações com essa prática. Promovem uma bestialização do homem enquanto ser histórico, social e religioso.

3. Aceitar o sofrimento como uma realidade humana, e o homem buscar em si as condições para reverter essa realidade. Ele se acha forte e capaz, e nele se encontram todas as condições para reverter qualquer situação.

4. Finalmente, aceitar o sofrimento como uma realidade humana e com Cristo aprender a suportar o sofrimento.

A condição de sermos cristãos não nos isenta dos males, dores e sofrimentos. Porém em Cristo, somos capacitados a suportar toda carga que nos angustia e debilita. Ainda que Jesus tenha todo poderio, afinal: (i) O Cristo estava antes do início e estará depois do fim. Ele constitui e é senhor do tempo e de tudo que acontece no tempo; (ii) Venceu a morte; (iii) É Deus; (iv) Não apenas aponta o caminho, mas ele é o caminho.

Seria passível uma simples pergunta, se aceito caminhar com Jesus, e ele é tudo isso, porque aqueles que o aceitam, sofrem? Infelizmente a mentalidade cristã está contaminada pelo binômio diante do trono ou perto da arca e se esqueceu da teologia da cruz.

A cruz permite o homem participar do sofrimento de Cristo para ser digno de sua ressurreição. A igreja como corpo de Cristo precisa-se afirmar crucificada para trazer vida. A cruz não é apenas sinal de sofrimento, mas daquele madeiro exala salvação.

Ser cristão e ser co-participante do paradigma do servo sofredor. Aparentemente é estranho utilizar essas palavras como servo e sofredor? Seria uma contradição? O caráter

contraditório não é um problema. Nunca foi. Apenas precisamos entendê-lo. Ao ter um posicionamento servil, aceito a liberdade que há em Cristo. Assim como opto ter a alegria e paz em sofrer por sua causa. Isso não é um masoquismo religioso, e sim coerência cristã.

Nem todo sofrimento se refere à causa de Cristo, existem sofrimentos independentes de nossa vontade. Como a morte, a dor da distância ou imposição daquilo que nos incomoda. Existem níveis e tipos de sofrimento. Independe de nossa situação, escolho a teologia da cruz como fonte de esperança.

Precisamos ter posturas condizentes e éticas com aquilo quer dizemos. Nossa fala a atos que legitimaram nossa experiência de cruz.

Tudo que digo se torna público, não nos pertence mais. De igual forma temos quer ter atitudes coerentes com nossa fala.

A história do bom samaritano relata que um homem estava indo de Jerusalém para Jericó. Caiu nas mãos de salteadores e foi espancado. Passou um sacerdote e não fez nada. Logo após passou um Levita e também não fez nada. Por fim, um samaritano ao vê-lo, chegou ao pé dele atou-lhe as feridas, deitando-lhe azeite e vinho. Levou-o para uma estalagem e cuidou dele. O samaritano no dia seguinte, antes de ir embora, pagou as despesas do desconhecido e ainda disse ao hospedeiro que cuidasse dele; e que toda despesa ele pagaria ao retornar. (Lucas 10:30-37).

Dentro das atividades religiosas de um sacerdote e levita, nitidamente possuíam o elemento da fala. Expressavam-se como atividade comunicatória. Verbalizavam suas ideias, posturas, exortações, orações e cantos.

O cristianismo não é uma religião abstrata, espiritualista e no campo das ideias. É uma religião engajada, militante e aguerrida. Que se envolve do Espírito Santo, curva-se diante da Graça e se move como expressão de submissão a Missão de Deus.

A inércia do levita e sacerdote é uma tomada de posição – a de não fazer nada. O que adianta nos sermões e cânticos falarmos palavras de amor, vida e compaixão se não a expressarmos como uma realidade de vida. O discurso fica vazio. O caráter duvidoso.

Justamente um samaritano, aos olhos da religiosidade judaica e cristã primitiva – um impuro pecador, que assume uma postura, pois sofre em solidariedade aquele que necessita. A igreja precisa encontrar a beleza em sofrer por justos, injustos, na luta pelo pecado e pela renúncia do ego e desejos.

Minha oração é para sermos instrumentos de paz, ao assumirmos a postura de servos e sofredores, não coitados. Mas, sim aqueles que reconhecem o sofrimento como possibilidade de testemunhar a vida, morte e ressureição de Cristo.

Que o Espírito Santo nos conforte, console e confronte.

Felinto Pessôa de Faria, neto.