2002 Globalização

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, , GLOBALIZAÇÃO EM XEQUE: A MUNDIALIZAÇÃO DOS PROTESTOS Salldra Mara Maciel de LimaI José Edmilsoll de Souza Lima 2 RESUMO o propósito do presente ensaio é apresentar dados e fatos que possam explicar e justificar os questionamentos e protestos contra a face mais abusiva da globalização, verificando se estes questionamentos evidenciam a crise de legitimidade das instituições, criadas para dar suporte ao sistema capitalista. A história do capitalismo pode ser vista como a história da mundialização, da globalização, da internacionalização do capital, uma corrida para aumentar produtividade e competitividade do capital. Esta corrida, por sua vez, tem provocado uma imensa concentração de riqueza, aumentando diferenças entre países, bem como no interior de cada um deles. E este é o ponto controverso que, por si só,justifica os protestos em todo o mundo. Uma globalização seletiva, que exclui os menos ricos e endividados, tornando evidentes a crise de legitimidade das instituições fundadas para sustentar o sistema capitalista. Palavras-chave: Globalização; Protestos. ABSTRACT The current article intends to present dates and facts that explain and justify the protests against the improper face of the globalization. Besides it verify if this protests becomes evidents the legitimacy's crisis of the institutions created to give sUPPort to the capitalist system. It concludes that a selective globalization excludes poorest countries and puts in doubt the owner survival of the capitalist system Key-words: Globalization; Protests l i.; l i: i ll lij I 1.INTRODUÇÃO As reuniões recentes dos representantes do capital internacional foram marcadas por protestos, que se tornaram movimentos globais em busca de modelos alternativos de globalização. Modelos que oportunizem a participação dos povos nas decisões destes grupos supranacionais, procurando minimizar desigualdades entre ricos e pobres e expandir possibilidades de autodeterminação. Este ensaio tem como objetivo verificar se os questionamentos e protestos mundiais estão evidenciando a crise de legitimidade das instituições, criadas para dar suporte ao sistema capitalista. Desde que surgiu, produzir para o mercado, objetivando o lucro e, conseqüentemente, a acumulação da riqueza, o capitalismo tendeu à internacion.alização, à incorporação do maior número possível de povos ou nações ao espaço sob seu domínio. A tecnologia desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial estabeleceu um novo padrão de desenvolvimento tecnológico, que levou à modernização e a posterior automatização da indústria. Com a automatização industrial, aceleraram-se os processos de fabricação, o que permitiu grande aumento e diversificação da produção. O acelerado desenvolvimento tecnológico tornou o espaço cada vez mais artificializado, principalmente naqueles países onde o atrelamento da ciência à técnica era maior. A retração do meio natural e a expansão do meio técnico-científico mostraram-se como uma faceta do processo em curso, na medida que tal expansão foi assumida como modelo de desenvolvimento em praticamente todos os países. Favorecidas pelo desenvolvimento tecnológico, particularmente a automatização da indústria, a informatização dos escritórios e a rapidez nos transportes e comunicações, as relações econômicas também se aceleraram, de modo que o capitalismo ingressou numa fase de grande desenvolvimento. A competição por mercados consumidores, por sua vez, estimulou ainda mais I Mestranda em Administração pela UFPR. E-mail: [email protected] 2 Doutorando em Engenharia da Produção (UFSC) e em Meio Ambiente e [)esenvolvimento (UFPR); Membro do Núcleo de Estudos Humanísticos e Professor das Disciplinas de Humanas da FAE - iJU.I';Ill'.I'.\' SdlOo/. E-mail: [email protected] 61

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,,GLOBALIZAO EM XEQUE: A MUNDIALIZAO DOSPROTESTOSSalldraMara Maciel deLimaIJos Edmilsoll deSouza Lima2RESUMOopropsito do presente ensaio apresentar dados e fatos que possamexplicar e justificar osquestionamentos e protestos contraa face mais abusiva da globalizao, verificando se estesquestionamentos evidenciam acrise de legitimidade das instituies,criadas para dar suporte ao sistemacapitalista. A histria docapitalismo pode ser vista como ahistria damundializao, daglobalizao,dainternacionalizao do capital, uma corrida para aumentar produtividadee competitividade do capital.Esta corrida, por sua vez, temprovocado uma imensa concentraode riqueza, aumentando diferenasentre pases, bemcomo no interior decada umdeles. E este oponto controverso que, por si s,justificaos protestos em todo o mundo. Uma globalizao seletiva,que excluios menos ricos e endividados,tornando evidentes acrise de legitimidade das instituies fundadas para sustentar osistema capitalista.Palavras-chave: Globalizao; Protestos.ABSTRACTThe current article intends to present dates and facts that explain and justify the protests against theimproper face of the globalization. Besides it verify if this protests becomes evidents the legitimacy'scrisis of the institutions created to give sUPPort to the capitalist system.It concludesthat a selectiveglobalizationexcludes poorest countries and puts in doubt the owner survival of the capitalist systemKey-words: Globalization; Protestsli . ;li :illli jI1. I NTRODUOAs reunies recentes dos representantes do capitalinternacional forammarcadas por protestos, que setornarammovimentos globais em busca de modelosalternativos de globalizao. Modelos que oportunizem aparticipao dos povos nas decises destes grupossupranacionais,procurando minimizar desigualdades entrericos e pobres e expandir possibilidades deautodeterminao.Esteensaio tem comoobjetivo verificar se osquestionamentos eprotestos mundiais esto evidenciandoa crise de legitimidadedas instituies, criadas para darsuporte ao sistema capitalista.Desde quesurgiu, produzir para o mercado,objetivandoo lucro e, conseqentemente, a acumulaoda riqueza, o capitalismotendeu internacion.alizao, incorporao domaior nmero possvel depovos ounaesao espao sob seu domnio.A tecnologia desenvolvida durante aSegunda GuerraMundial estabeleceu umnovo padro dedesenvolvimentotecnolgico, que levou modernizao e a posteriorautomatizao da indstria. Com a automatizaoindustrial, aceleraram-se os processos defabricao, oquepermitiu grande aumento ediversificaoda produo.O aceleradodesenvolvimento tecnolgico tornou oespaocada vez mais artificializado, principalmentenaqueles pases onde o atrelamentoda cincia tcnicaeramaior. A retrao domeio natural eaexpanso domeiotcnico-cientfico mostraram-se como uma faceta doprocesso em curso, na medidaque talexpanso foiassumida como modelo de desenvolvimento empraticamente todos os pases.Favorecidas pelo desenvolvimento tecnolgico,particularmente a automatizao da indstria, ainformatizaodos escritrios earapidez nos transportese comunicaes, as relaes econmicas tambmseaceleraram, de modo que o capitalismoingressou numafase de grandedesenvolvimento. A competio pormercados consumidores,por suavez, estimulou ainda maisI Mestrandaem Administrao pela UFPR.E-mail: sandramaciel@avaJ on.sul.com.br2 Doutorando em Engenharia da Produo(UFSC) e em Meio Ambientee [)esenvolvimento (UFPR); Membro do Ncleo de EstudosHumansticos e Professor das Disciplinas de Humanas da FAE - iJU.I';Ill'.I'.\' SdlOo/.E-mail: [email protected]~,:~\""r'. LIMA. S. M. M. &UMA, J. li S.;' .".:.:v~:o ~~O l~~i"e ~,u~~otoda~oduoiudu,rrial,principalmente nos Estados Unidos, no Japo, nos pasesda Unio Europia e nos novos pases industrializadosoriginrios da sia.No entanto, ao contrrio do que se possa pensar, estemovimento globalizantedo capital seletivo e claramenteexcludente.Enquanto muitos lugares e grupos de pessoasse globalizam, outros, ficam excludos do processo.Embora haja autores que contestem, a globalizao temprovocado concentraode riqueza, aumentado diferenasentre pases e, no interior de cada umdeles, entre classes esegmentos sociais.Neste ensaio procuramospor meio de dados e fatosconfigurar umpanorama da situao atual, confrontandoosobjetivos tericos da internacionalizao do capital comos relatos e experincias dos principais atores envolvidosneste complexo sistema.Globalizao: Aspectos Histricos e Tericoso termo globalizao atualmente, passou a ser utilizadoemtodos os segmentos sociais, na grande maioria das vezestentando atribuirao mesmo causa e conseqncia de tudoo que est acontecendo na sociedade nos seus aspectospolticos. sociais, religiosos. ecolgicos. tcnicos eeconmicos (CARO N, 1999). Mas o fenmeno daglobalizao no recente. O que recente. a rapidez ea intensidade com queo processo est acontecendo,provocando mudanas nos modos de organizao, gestoe produo das organizaes, mudanas na forma deatuao do Estado e das empresas. A base da globalizaoest no processo de reproduo intensivo e extensivo docapital. Sendo assim, a histria do capitalismo pode servista como a histria da mundializao, da globalizao,da internacionalizao do capital.Pode-se encontrar as origens da globalizao nopensamento de autores clssicos como KarlMarx,porexemplo, para quem o capitalismo nunca esteve limitados fronteiras nacionais, pelo contrrio,a necessidade deum mercado constantemente em expanso estimula ocapital a invadirtodo o globo, estabelecer-se, explorar ecriar vnculos emtoda parte (MARX, 1987). Significa queele identificou no passado e conseguiu prever para o futuroa internacionalizao do capital quando analisou asprofundas alteraes que j estavam ocorrendo na poca(segunda metade do sculo XIX).A antiga organizao feudal da indstria no maisatendia s crescentes necessidades dos novos mercados.A manufatura surge como alternativa para atender demanda, ato momento emque se torna insuficiente. Emconseqncia, o vapor e a maquinaria revolucionaramaproduo industrial, revelando a grande indstria moderna.Por meio daexplorao do mercado mundial,estabelecida pela grande indstria. o capital alterou ocarter da produo e do consumo em todos os pases.Retirou da indstria sua base nacional. Surgem novasindstrias,cuja introduo se torna uma questo de vidaou morte para todas as naes civilizadas. Em lugar dasantigas necessidades. satisfeitas pela produo nacional.encontramosnovas necessidades. que requerem para sua62\satisfao os produtos das regies mais longnquas e dosclimas mais diversos. Emlugar do antigo isolamentolocale da auto-suficincia das naes, desenvolvem-se. emtodasas direes um intercmbio e uma interdependnciauniversais (MARX,1987).No princpio, a Diviso Internacional do Trabalhofuncionava por meio do chamado pacto colonial, segundoo qual a atividade industrial era privilgio das metrpolesque vendiam seus produtos s colnias.Na realidade atual dos anos 2000, para escapar dospesados encargos sociais e do pagamento dos altos salriosconquistados pelos trabalhadores de seus pases, asgrandesempresas industriais dos mais ricos optaram pela estratgiade, ao invs de continuaremexportando seus produtos,tambm produzi-los em pases menos ricos.at entoimportadores dos produtos industrializados queconsumiam. Desta maneira, barateando custos. graas aoemprego de mo-de-obra bemmais barata. menos encargossociais. incentivos fiscais etc., e, assim, mantendo. ou ataumentando, lucros, puderampraticar altas taxas deinvestimento e acumulao.Grandes empresas de pases mais ricos. tambmconhecidas como corporaes. instalaram filiais empasesmenos ricos. onde passaram a produzir um elenco cadavez maior de produtos. Taisempresas ficaram consagradascomo multinacionais. Neste contexto, opera-se pois. umaprofunda alterao na diviso internacional do trabalho,porquanto muitos pases deixamde ser apenas fornecedoresde alimentos e matrias-primas para o mercadointernacional para se tornarem produtores e atexportadores de produtos industrializados.Aps a derrocada do socialismo, a internacionalizaodo capitalismo atinge praticamente todo o planetae seintensifica a tal ponto que merece uma denominaoespecial - globalizao - marcada basicamente pelamundializao da produo, da circulao e do consumo,vale dizer, de todo o ciclo de reproduo do capital. Nestascondies, a eliminaode barreiras entre asnaes torna-se uma necessidade,a fimde que o capital possa fluir semobstculos.Mas, apesar de ser antiga a discusso sobre ainternacionalizao do capital,segundo HARNECKER(2000), afirmarque no h nada de novo neste processode globalizao acaba por ocultar gravemente muitas dasmudallas qualitativas que ocorreram nas ltimas duasdcadas do sculo XX:"nasformasde organizao e nos modosde gesto dosgrupos. assimcomo nasrelaesque estabelecementresi dentro do oligoplio mundial; nas recomposiesprofundasque intervieramna valorizao do capital - a"regionalizao continental", as "novas formas deinvestimento"; as deslocalizaes seminvestimentosdiretos no estrangeiro -;e nas transformaestecnolgicas que conduziram a modi ficaes nadadescurveis na identidade exata dos pasesmarginalizados" (HARNECKER. 2000. p.168).Poderamos nos perguntar ento, se h algo de novoque permita pensar que se deu um salto qualitativo nodesenvolvimento daeconomia mundial. SegundoCHESNAIS (apud Harnecker,2000) a resposta deve serafirmativa. Dois fenmenos podem sercitados para\fundamentar esta resposta.Primeiro, a transfernciaemtempo real do capital:"OcapitaI,hojeemdia. nossetransfereparaoslugaresmais recnditos do mundo, como tambm capaz defuncionar como umaunidade emtempo real emescalaplanetria. Quantidades fabulosas de dinheiro sotransferidasempoucossegundosnomundodasfinanas.Trata-se de umfenmeno novo que s comea a serpossvel nasltimasdcadasdosculoXXgraasnovainfra-estru/llra proporcionada pelas tecnologias deinformao e comunicao e s novas condiesinstitucionais que tornam possvel essa enormedeslocaodecapitais.aoseremeliminadasaslimitaesimplantadas aps a Segunda Guerra Mundial. Estefenmeno ganha um impulso cada vez maior com adesagregao do bloco soviticoe as alteraeseconmicas levadas acabo por esses pases. O mundopodefuncionar naatualidadecadavez maiscomo umaunidadeoperativa nica. como ummercado global decapitais" (CHESNAIS apud HARNECKER. 2000. p.168).osegundo fenmeno, ainternacionalizao do prprioprocesso de produo:"(...) tambmocorreuumacoisaqualitativamentenovanoterrenodaproduo:a intemacionali~ao do prprioprocesso de produo.ouseja. afabricaodediferentespartesdoprodutofinal emdiversoslugaresgeogrficos.E o mesmo aconteceunareademuitosservios. Estadeslocao. ou relocalizao do processo produtivo edos servios. determinou que muitos processos sedesloquempara pases que ofeream vantagenscomparativas ..." (CHESNAIS aplld HARNECKER,2000, p.169)Finalmente, no se deve esquecer que o que hoje seglobaliza precisamente aforma capitalista deexplorao.Esta adota diversas modalidades. conformeo grau dedesenvolvimento dos pases.Enquantonos pases maisricos os avanos darevoluo tecnolgica so evidentes elevam alguns autores apensar quej sechegou auma faseps-industrial (De MAS!, 2000) eat ps-capitalista, empases de escasso desenvol vimento econmico, aocontrrio, enormes massas detrabalhadores noconseguemseintegrar no sistema capitalista deproduo,justificandoos protestos mundiais contra aglobalizao.Acelerao Econmica e TecnolgicaA tecnologia desenvolvidadurante aSegunda GuerraMundial estabeleceu umnovo padro dedesenvolvimentotecnolgico, que levou modernizao e a posteriorautomatizao da indstria. Com a automatizaoindustrial, aceleraram-se os processos defabricao. oquepermitiu grande aumento ediversificao da produo.A segunda metade dos anos 70 marca um processoirreversvel da indstria manufatureira. referente aodeslanchar das novas formas de automao. Na pocapodem ser identificados dois fenmenos de importnciaconsidervel para esta discusso, acrise do taylorismo eamutao das normas deconcorrncia provocada pela criseeconmica (CORIAT, 1988; HARVEY, 1993). Tais fatoresprovocam e influenciam novas direes s pesquisas eminovao tecnolgica.Apoiado na rgida separao entre concepo eexecuo, o taylorismo como estratgia organizacionaldescreve como a produtividade do trabalho pode serradicalmente aumentada por meio da decomposio decada processo detrabalho emmovimentos componentes eda organizaode tarefas fragmentadas segundo padresrigorosos de tempo e estudo do movimento(HARVEY,1993).A introduo das linhas demontagem por Ford estendeestas inovaes, favorecendoa passagem a um processode trabalho baseado nos tempos impostos, regulados pelasesteiras mecnicas (CORIAT, 1988).Sendoassim, ofordismo pode ser consideradocomo um paradigma queconcentra industrializaopesada. organizao industrial,processo de trabalho. ideologia e estilo de vida bemdeterminados.Com a crise do petrleo, no incio dos anos 70, asociedade deconsumo edeproduo emmassa promovidapela acumulao capitalista fordista revela suaincapacidade de continuar a promover o crescimentoeconmico eamanuteno da realizao de lucro. Surge,ento, um novo perodo caracterizado pela inflao,desemprego estrutural, dficit pblico e recesso(HARVEY,1993).Conforme HARNECKER (2000),neste perodo umno\'o paradigma tecno-econmico comea atomar forma.quando se tornam evidentes a ampla disponibilidade damicroeletrnica barata e o baixo custo do manejodainformao. Inicia-se umprocesso intenso depesquisas edeexperimentaes por parte das empresas emmatria deorganizaodo trabalho eda produo.Surge. ento, novo conjunto deforas produtivas comna microeletrnica, as biotecnologias e a sofisticadaestruturade servios organizados em um novo padroflexvelde acumulao capitalista.A informtica, ojlls/-in-time,aqualidade, aautomao etc.Os elementos desta revoluo tecnolgica so. por umlado, ainformtica e as telecomllllicaaes. e, por outro, o110\'0modelo gerel1cial (HARNECKER, 2000).As principais alteraes desta fase so visualizadas noquadro aseguir:I I63. ..\QUADRO 1. MUDANAS NOPARADIGMA TECNOLGICOVELHOPARADIGMA NOVOPARADIGMAIntensivo em energia Intensivo em informao econhecimentoGrandes unidades de produo etrabalhadores Reduo do tamanho daproduo e nmero dostrabalhadoresProduto homogneo de uma unidade de produo Diversidade de produtosPadronizao Cllstomised (dirigida ao cliente)Mix estvel de produtos Mudanas rpidas no mix de produtosPlantas eequipamentos especializados Sistemas de produo flexvelAutomao SistematizaoHabi Iidades especi alizadas Multi-habilidades. interdisciplinaresFonte: THORSTENSEN, 1994aplld CARON, 1999, PISoprocesso de desenvolvimento tecnolgico descritoacima, resulta em uma nova formade organizaoprodutiva que. alm de estar presente e de formasincronizada em vrios pases, requer a criao.manuteno e expanso de uma competente rede deparcerias, consrcios de produo e de exportao.cooperao emdesenvolvimento detecnologias.produtoseprocessos.O processode reestruturao pfC\dutiva. entendidocomo conjunto de transformaes nas relaes capital-trabalho ocorridas na dcada de 70, foi marcado por umperodo de oscilaes, incertezas,de uma srie de novasexperincias nos domnios da organizao industrialenavida social epoltica.Este processo se inicia alavancadoao mesmo tempopelos novos padres de competitividade internacional epor um conjuntode mudanas econmicas, polticasesociais queocorrem simultaneamente no pas. Dentre elas,destaca-se aabertura deumprocesso recessi voqueseabateduramentesobre a economiabrasileira. o processodedemocratizao poltica e a crise do padro de relaesindustriais vigentes durante o perodo do "milagre"econmico (LEITE,1994).Neste espao. surge uma nova forma de acumulao,associado com um sistema de regulamentao poltica esocial bem distinta.a acumulaoflexvel. Abandonam-se os sistemas rgidos do fordismo e se apoia naflexibilidade dos processos de trabalho. dos mercados deQUADRO 2. RAIO X DO MUNDOATUALtrabalho, dos produtos epadres de consumo (HARVEY,1993).Cadamodode crescimento do capitalismo estconfiguradopela forma de organizao daproduo maisadequada para maximizar a rentabilidade das empresassob cada uma das sucessivas revolues tecnolgicas(HARNECKER, 2000). E o que diferencia uma pocahistrica de outra. conforme Marx, no oque sefa: massimWIlIO, comquemeios sefaz. (MARX. 1988). Oucomoafirma CASTELLS. "0 que distingue uma poca daoutraso a rem/lio das tccn%gias dainformao e a suadifuso em todas as esferas da atividade social eeconmica ..." (CASTELLS aplld HARNECKER, 2000).Depois de termos analisado as transformaesproduzidas no mundo e especialmente no processo deproduo apartir dos anos 70, possvel constatar que avocao "internacional" do capital - j referida por Marxno sculo XIX - hoje se torna cada vez mais evidente.A despeito desta preocupao dos' representantes docapitalde se anteciparems crises. aperfeioando todoeste processo de desenvolvimento por meio de avanostecnolgicos. deabertura demercado, desregulamentaodos direitos sociais eoutras polticas favorveis aocapital.os questionamentos globais indicam os limites e ~lpoucaeficcia dessa tentativa de reordena(;oideolgicaembusca de legitimidade do capital. Visto que. osquestionamentos estosintonizados com dadosqueradiografamcriticamentea situa~'o mundi~l!. conformeQuadro 2 aseguir:Em 1960. os 20'j;'mais ricos ganhavam 30 vezes mais uue os 20% mais pobres: em 2001 ganham 61 vezes maisH 1bilho de pobres ganhando menos uue I dlar por diaSo necessrios US 250 bilhes de dlares para erradicar a misria do planeta - durante 15a20 anosHoie o mundo gasta US 600 bilhes de dlares em armamentosA Aids assola a Africa onde vivem IImilhes dos 1X milhes de HIV positivos do mundo.Todos os anos 13 milhes de crianas. menores de 5 anos. morrem por doenasou por desnutrio.De acordo com a OIT. h 120 milhcs de desemprel!ados e outros170 milhes de suhemprel!ados no mundo.H mais de 200 milhes de crian,,'as de O a 5 anos mal nutridas no munu ecerca e 200 milhes que trabalham.Existem 905 milhcsde analfabetos no mundo. 70% vivem em nove pases (Bangladesh. China. El!ilO. lndia.Indonsia. Mxico. Nigria ePaquisto) "Fonte: Revista Terceiro Mundo. 1995. p.2864 RCI'isra das FaCilidades Santa Cm~,v. I. n. 2. janeiro/junho 2002,'\~1?b~li.za9?~m.x~q~e:a.m!-.m.di~li~a9? ~o~pro~es~o~\A Conferncia deCpula do G.8Em julhode 2001, o mundopresenciou cenas deviolncia e protestos em torno da cpula do Grupo dos S(J apo, Frana, Alemanha, Itlia. Estados Unidos, ReinoUnidoe Canad, incluindo a Rssia). Protestos, nonecessariamente contra aglobalizao,mas contra aformaatual de globalizao capitalista,que nega espaos para ademocratizao dos processos de expansoda prpriaglobalizao.Estes protestos, caracterizados pelamdia deantiglobalizao, vmacontecendo comfreqncia desdeo aniversrio da OMC (Organizao Mundial doComrcio),emGenebra (Sua). conforme quadro abaixo.mundial foi maior do que o esperado.As conseqnciasdeste desaquecimento so arecesso que atinge parte dospases e as crises de confiana pelasquaispassameconomias "emergentes" (Argentina, por exemplo). aondadefalncias outransferncias deempresas locais empasesemergentes para empresas transnacionais.Os depoimentos contidos noQuadro4 esto emsintonia com os protestos mundiais porque reforam ainsatisfao doempresariado brasileiro diante dadimensoexcludente da globalizao, reconhecendo suaincapacidade de se adaptar s exigncias decompetitividade do capital internacional.QUADRO3. CRONOLOGIA DOS PROTESTOS ANTIGLOBALIZAOestovelado quepodeser traduzido emforma dereconhecimentoda pequenez do empresariado brasileiro face s pressesdas corporaes transnacionais. Os depoimentos tambmrevelam que iluso, mesmo para os ufanistas da "moinvisvel do mercado". acreditar que a globalizaoresolver problemas que transcendem camisa-de-forado mercado. Nunca dispensvel ter em mente que "nocompete aomercado reduzir desigualdades sociais. corrigirdisparidades de renda e de acesso a oportunidades nempromover ajustia. Para isso, as sociedades civilizadascriaram oEstado" (CASTOR,2001, p.13). Neste sentido.pode ser queosdesabafos dos empresrios elencados acimaestejam tentando transmitira mensagem de que a lgicado mercado no pode ser considerada apanacia mundial.Precisa ser permanentemente controlada oudelimitada paraque no se torneabusiva diante daqueles que noconseguem acompanh-Ia.DATAS LOCAL REUNIA OMaio de 1998 Genebra. Sua Aniversrio da OrganizaoMundialdo Comrcio - OMCJ unho de 1999 Colnia. Alemanha Encontro do G-8Dezembro de 1999 Seattle. EUA 3" Conferncia Ministerial da OMCJ aneiro de 2000 Davos. Sua Frum EconmicoMundialde 2000.Abril de 2000 Washington. EUA Reunio do FMISetembro de 2000 Praga, Repblica Encontro do FMI e Banco MundialTchecaJ aneiro de 2001 Davos. Sua Frum EconmicoMundialJ ulho de 2001 Gnova. Itlia Reunio do G-8\J"',.'v " 'vuv, U"