2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri...

19
ADEGA 17 Especial de Vinho, Verão, ROSÉ Despedida de Marseille: http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/14/artigo36198-1.asp A marca da tradição (Château Beaulieu): http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41369-2.asp A província preferida dos romanos: http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41371-1.asp A versatilidade dos rosés: http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41375-1.asp

Transcript of 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri...

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 1/19

ADEGA 17

Especial de Vinho, Verão, ROSÉDespedida de Marseille:

http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/14/artigo36198-1.asp

A marca da tradição (Château Beaulieu):http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41369-2.asp

A província preferida dos romanos:http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41371-1.asp

A versatilidade dos rosés:http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41375-1.asp

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 2/19

Despedida de Marseille

"Se você abrir uma garrafa de rosé e ouvir o canto das cigarras, o vinho é da

Provence", provérbio provençal 

por Fábio Farah

Kronenbourg 1664. Não gosto de cerveja.Atualmente algumas são elaboradas com ométodo Champenoise. Os faraós se revirariamnas pirâmides se soubessem que a bebida dosescravos chegou às “taças” dos escribas. Dequalquer maneira, a cerveja francesa que abriu

essa crônica marca alguns episódiosinteressantes da minha vida. A primeira vezque a experimentei, há dez anos, no Café duThéâtre, em Poitiers, um amigo francêschamado Eric me falou sobre a publicidadetelevisiva da marca. Enquanto um homembebia a cerveja, uma bela mulher se despia...em sua imaginação. Certamente o ator estavaem uma situação melhor do que eu. Deixei ocopo de lado ao perceber que não havianenhuma bela mulher por perto. Com uma lata

da mesma cerveja desembarquei na estaçãode Waterloo para passar uma temporada naInglaterra. E com essa cerveja pretendia medespedir da Provence, depois de uma semanavisitando vinícolas da região. Após conhecer aadega do La Côte de Boeuf, considerada umadas melhores da Europa (havia até umagarrafa monárquica, pré-Revolução Francesa),e um jantar, segui para o hotel em que estavahospedado.

A vista da sacada do meu apartamento era maravilhosa, com o porto recortado por monumentos históricos de Marseille, como a Notre Dame de la Garde, protetora dacidade. Apesar de dispor de poucas horas antes de embarcar de volta ao Brasil, vasculheio frigobar a procura da cerveja francesa. Deixei a lata na mesa da varanda e tentei fechar a porta para proteger meu quarto do frio. Estava emperrada. Empurrei-a com força e ouvium barulho suspeito. Ainda assim pensei em sentar-me à mesa e apreciar a paisagemnoturna. Antes, tentei abrir a porta. Percebi que estava trancado do lado de fora doquarto. Olhei para a mesa. A cerveja me observava, impassível. “Preciso manter a calma”,pensei, esmurrando a porta. Gritei por ajuda, mas as únicas pessoas que talvez meouvissem curtiam uma festa em um prédio há centenas de metros, nem um pouco

preocupadas com minha pouca sorte. Quase meia hora de infortúnio e espiei para baixo.Mesmo com a escuridão, calculei uns cinco metros. No ponto mais alto da cidade, NotreDame de la Garde ouviu minha prece. Saltei da varanda. Um baque surdo no chão. Havia

A vista de Marseille deve ser "degustada"com uma taça de rosé da Provence

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 3/19

caído em um bosque cerrado. Olhei para cima e deparei com a latinha de cerveja,reinando soberana.

Caminhei até uma região iluminada, um pouco acima. Subi em uma árvore e alcancei apiscina. Um oásis... Era só chegar até a porta... fechada. Com alguns pulos chamei aatenção de pessoas no bar e, após uns quinze minutos, fui abordado por um segurançado hotel. “Você está hospedado aqui?”, me questionou, incrédulo, depois de ouvir atentamente minha pequena aventura. Provei que sim e recebi uma cópia da chave. Quealívio! Passei no quarto do amigo Guilherme Corrêa para lhe relatar o meu incidente e meconvencer de que estava tudo bem. “Por que você levou uma cerveja para a varanda, emvez de um vinho?”, questionou-me o melhor sommelier do Brasil. A pergunta fazia sentido.

Parecia uma heresia me despedir da Provence com uma Kronenbourg 1664.

De volta ao quarto, encarei friamente aquela lata na varanda. Com medo, fui até ela esegurei-a com força. “Agora é a sua vez”, disse, antes de arremessála bem longe. Em seulugar, coloquei um autêntico rosé da região. Ao abrir a garrafa, ouvi o canto das cigarras esenti um aroma de lavanda. Finalmente, eu estava na Provence e me despediria de lá damelhor maneira. “Degustei” a paisagem noturna com a taça de vinho na mão. Não gostode cerveja.

 

Vista panorâmica de Marseille

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 4/19

A marca da tradição

O terroir do Château Beaulieu era um dos mais valorizados pelos

connaisseurs do Império Romano

por Fernando Roveri

Considerada o paraíso dos enófilos, a França ainda preserva

em diversas regiões a tradição na produção de seus vinhos.

Não é de se admirar que o país exiba os chateaux mais

tradicionais com histórias milenares. Um de seus melhores

exemplos, situados na região de Provence, é o Château

Beaulieu. Situado na cratera de um vulcão extinto, o único do

país, sua história remonta ao Império Romano e passa por nomes conhecidos da nobreza francesa. Transformada em

feudo por Henri III, em 1576, a propriedade pertenceu aos

condes da Provence. Outro notável proprietário do castelo foi o

rei René de Provence, no século XVI.

O terroir, preservado ao longo dos séculos, é o maior de toda a

região. E certamente os romanos apreciavam suas

características, pois a vinícola era entrecortada por cinco estradas romanas e, emescavações recentes, foram encontrados pedaços de ânforas, vasos em formato oval e

com asas simétricas utilizados para armazenar bebidas. Elas eram as "barricas" do

Vinhedo da vinícola

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 5/19

Império Romano. Além desses vestígios do passado, a

vinícola possui três aquedutos subterrâneos que drenam

a água e estão sendo restaurados.

O Château

O Château Beaulieu abriga mais de 169 hectares de

vinhas plantadas no coração da imensa cratera do

vulcão extinto da Trévaresse, com 350 metros de

altitude. Lá, podem ser encontradas castas de

Grenache, Cabernet Sauvignon, Syrah, Sémillon e Ugni-

Blanc, plantadas em um terroir caracterizado pela

presença de basalto, que confere aos vinhos uma

personalidade própria.

Para se chegar ao castelo, atravessa-se uma estrada longa e reta. À distância já é

possível avistar a tradicional bodega. A bela construção tem três andares, com janelas

imponentes. Duas torres nas laterais denunciam um estilo arquitetônico mais recente do

que o resto da construção. Foram incorporadas no período napoleônico, em 1720. Na

lateral da construção, o visitante encontra uma imagem que enche os olhos: um jardimtecnicamente construído, com cercas vivas minuciosamente esculpidas em uma mais

O jardim é ornamentado por belas cercas vivas

Detalhe do jardim

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 6/19

perfeita combinação da natureza com o talento artístico do homem, inspirada na evolução

da humanidade proposta pelo Iluminismo e pela filosofia de Voltaire como se fôssemos o

personagem de sua obra "Micrômegas" ao passearmos por tão perfeitas formas.

O interior da construção abriga amplos aposentos. No piso térreo, encontra-se uma ampla

- e aconchegante - sala de jantar. O teto é adornado por belíssimas pinturas antigas que

remetem aos valores tradicionais franceses como caça, música e religião. No andar 

superior do castelo, um dos aposentos abriga uma capela cujas paredes estão revestidaspor imagens sacras, sinal do período em que o rei René viveu no local. Conhecido como o

Rei Piedoso, ele ostentava entre seus onze títulos nobiliárquicos o título de Rei de

Jerusalém.

Cave de armazenamento do vinho

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 7/19

Adquirida há quatro anos por Pierre Guenand, mecenas e comerciante, a propriedade

passa por uma extensa reforma. Ela pode ser definida como uma volta ao passado, com a

renovação dos poços romanos, a remoção de estruturas não originais (talvez as torres

napoleônicas sejam demolidas), a pintura do castelo nas cores primitivas etc. Sua

intenção também é a renovação de parte dos vinhedos que datam do século XI. A adega,

construída no século XX, será desativada e transferida para a parte antiga do castelo.

A visita ao Château Beaulieu é uma viagem à história da bebida de Baco na terra santa

dos enófilos.

Pinturas na parede e no teto remetem a valores tradicionais franceses

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 8/19

Vinho produzido na bodega

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 9/19

A província preferida dos romanos

Pátria de pintores, destino de celebridades e morada de santos, a Provence

fascina com seus sabores e vinhos "de prazer" 

por Fábio Farah

Quando os romanos desembarcaram na região francesa de Provence, em 125 a.C.,

ficaram encantados com o aroma de sálvia, alecrim, tomilho e lavanda combinados no ar 

com uma precisão cobiçada pelo mais exímio chef de cozinha. E apreciaram o estilo de

vinho dos produtores locais. Eram vinhos rosé (por estar na moda, o estilo rosado

mereceu a capa desta edição de ADEGA). Os tintos mais encorpados surgiram comoexigência inglesa, já no século XVII. Mas não foram apenas as Herbes de Provence - ou a

qualidade da bebida - que fascinaram os romanos. Foi a personalidade da região, com

sua paisagem costeira e os penhascos rochosos que milênios depois inspirariam pintores

notáveis como Van Gogh, que pintou diversas vezes o Mont Ventoux, um dos pontos mais

altos da região. Ou Paul Cézanne, que dedicou parte de seu tempo à Montanha de

Sainte-Victoire e ao Golfo de Marselha.

Pontilhada por encantadores vilarejos medievais, a região pode fazer o turista julgar 

Marselha uma cidade áspera. Fundada em 600 a.C. pelos gregos, que estabeleceram um

porto chamado Massalia, ela conta hoje com cerca de um milhão de habitantes. Destaque

ao Vieux Port, parte mais antiga da cidade, devastada pelos alemães na Segunda Guerra

Vinhedo provençal: terroir privilegiado recortado por paisagem estonteante

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 10/19

Mundial. Talvez os estragos fossem maiores se a patrona de Marseille, Notre Dame de la

Garde, não estivesse vigiando tudo de cima de uma colina. A basílica, construída em

1864, oferece uma vista sensacional da cidade - o melhor horário para contemplá-la é de

manhã. Antes de sentar-se em um restaurante à beira do Mediterrâneo e saborear uma

tradicional bouillabaisse, harmonizada com um rosé da Provence, vale a pena visitar o

Château d´If, cenário escolhido por Alexandre Dumas para aprisionar dois de seus

personagens no clássico O Conde de Monte Cristo.

Sem deixar de lado a ficção, evoco a

encantadora Juliete Christiane Hardy,

interpretada por Brigitte Bardot em E Deus

Criou a Mulher, rodado em Saint- Tropez.

Esse clássico do cinema transformou umaaldeia de pescadores em um dos lugares

mais badalados e glamourosos da Riviera

Francesa. É lá que celebridades como Bruce

Willis, Paris Hilton, Bono Vox e Beyoncé

aproveitam parte de suas férias em iates

luxuosos, embalados por vinhos rosé. Aos

amantes de história, a região guarda muitas surpresas, como a cidade de Avignon,

escolhida como a sede do papado no século XIV. E esconde mistérios como o crânio de

Maria Madalena, em Saint- Maximin. Ela teria desembarcado na região poucos anos apósa morte de Jesus Cristo. Mas três programas são obrigatórios, independente das

preferências pessoais ou do roteiro escolhido. Passear pelas feiras, degustando os

deliciosos sabores e os aromas regionais - a de Aix-en-Provence é super! -, beber o vinho

que se tornou símbolo provençal (quem sabe na própria vinícola? Confira seleção a

seguir) e... apreciar La Vie en Rose. Sem moderação.

Rosés com história

Na comédia Um Bom Ano, dirigida por Ridley Scott e lançada no final de 2006, Max

Skinner, um homem de negócios interpretado por Russel Crowe, deixa o agito londrino

para conferir a herança deixada por seu tio recém-falecido: uma charmosa vinícola na

Provence. Sua idéia é vender a propriedade e voltar à capital inglesa. Mas ele é fisgado

pelo espírito provençal e, como todo bom filme holywoodiano, por uma belíssima mulher,

interpretada pela francesa Marion Cotillard. Abaixo, algumas vinícolas provençais que

visitei no final do ano passado e são capazes de fisgar qualquer um, seja ele um homem

de negócios ou não.

• Château Beaulieu (conferir na seção "Enoarquitetura")Apelação: Coteaux d'Aix en Provence

Domaine de Rimauresq

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 11/19

Cidade: Rognes

E-mail: [email protected] Site: www.chateaubeaulieu.fr 

• Château des Chaberts

Apelação: Coteaux Varois en Provence

Cidade: GareoultE-mail: [email protected] 

• Château de Pourcieux

Apelações: Côtes de Provence e CP

Sainte Victoire

Cidade: Pourcieux

E-mail: [email protected]

Site: www.chateau-de-pourcieux.com

• Domaine de Rimauresq

Apelação: Côtes de Provence

Cidade: Pignans

E-mail: [email protected] 

Site: www.rimauresq.fr 

• Château de Pampelonne

Apelação: Côtes de Provence

Cidade: Ramatuelle

E-mail: [email protected] 

Saint-Tropez: antiga aldeia de pescadores tornou-se point de celebridades

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 12/19

A versatilidade dos rosés

 Adega visita o Barreado, charmoso recanto carioca de culinária brasileira, e

colore a casa em vários tons de rosa

por Marcelo Copello

Todos os anos, de junho a setembro, a

chique Cote d’Azur é vista através de taças

cor de rosa. No sul da França o vinho rosé é

quase um estilo de vida. Jovem, leve, fresco,

alegre e descomplicado, seco ou meio-doce,

ele vem reconquistando a fama que teve nopassado.

Até pouco tempo atrás era difícil ver uma

garrafa de rosé na mesa de conhecedores.

Muitos confidenciavam que antes de

aprender a beber adoravam os rosados

portugueses, que inundaram o nosso país na

década de 70. A má fama se devia à falta dequalidade da oferta. Hoje dispomos de

ótimos exemplares deste vinho cheio de

sutilezas, refrescante e leve o bastante para

ser usado como um branco, mas ainda com

alguma relação com os reverenciados tintos.

Seu charme está, sem dúvida, na cor, que vai de um delicado tom de pêssego até o

cereja intenso, quase tinto. Em nossa cultura, o rosa representa a feminilidade, a

ingenuidade infantil e o amor fraternal. Nos vinhos, se traduz em bebidas alegres,

descompromissadas, quase fúteis. Para entender os rosados é bom lembrar que a cor 

dos tintos vem quase exclusivamente das cascas das uvas, logo é possível dosar-lhes a

cor, controlando o tempo e a intensidade do contato do suco com as cascas das uvas.

Assim, os vinhos rosados são obtidos por dois métodos principais: saignée ou sangria, e

pressurage direct.

No primeiro filtra-se parte do mosto de um vinho tinto após um curto período de

maceração, normalmente de oito a 24 horas. Este processo é o mais utilizado em todo o

mundo e gera um tipo de rosado mais encorpado e de cor mais cereja. No segundo a

Camarão na Moranga e rosé: combinação

tropical

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 13/19

maceração é bem mais curta e dura apenas o

tempo em que as uvas são delicadamente

prensadas pneumaticamente depois do

esmagamento dos bagos (separação das

cascas da polpa). O produto é um rosé leve,

de cor delicada, que pode ser descrita como

salmão, pêssego ou cor de casca de cebola.

Este método é o utilizado na Provence e

praticamente só lá.

Os rosés são muito versáteis. Podem ser 

usados como aperitivo, descem fácil se

combinados apenas com uma boa conversa.

À mesa normalmente se comportam como

brancos encorpados ou tintos leves.

Adaptam-se a pratos l igeiramente

condimentados. As sugestões mais típicas

são receitas mediterrâneas, como o

Bouillabaisse (sopa de peixe e frutos do mar)

e o Ratatouille (prato rústico provençal com vegetais condimentados), a Paella ou o

Couscous Marroquino.

Mas estamos em solo tupiniquim e logo vem a pergunta: e as substanciosas receitas

verde-amarelas, combinam com taças cor de rosa? Preparamos o Enogourmet deste mês

para responder a esta pergunta.

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 14/19

Vinho pede contexto e como disse Goethe, "as cores são ações e paixões da luz", assim

os vinhos rosados pedem luz e descontração. Pela primeira vez fizemos um Enogourmet

no almoço e ao ar livre. Para tal fomos ao Barreado, um ambiente de boa culinária

brasileira e compatível com o espírito de liberdade dos rosés, com mesas entre árvores,

suave brisa e brilho do sol. Para dar seus testemunhos sentaram-se conosco: a chef e

proprietária da casa Joana Carvalho, o jornalista Hugo Sukman, o empresário Bruno

Vasilcovsky, Marcelo Ferreira, designer do Big Brother Brasil- 7 e produtor da série Vinho

& Algo Mais, Mário Mamede, músico da banda MopTop, e Marcos Bittencourt, diretor de

ADEGA.

Os vinhos escolhidos foram perfilados de modo a mostrar os contrastes entre a grande

escola de rosados da Provence, leves e cheios de nuanças, chamados de vinhos de

plaisir (prazer) e os mais estruturados, chamados vinhos de repas (para a refeição), aqui

representados por um espanhol, um chileno e um brasileiro, todos de safras recentes,

2005 e 2006.

Para os pratos preferimos receitas bem conhecidas da culinária brasileira, que pudessem

ser facilmente reproduzidas e, ao mesmo tempo, fossem substanciosas, e

representassem, dessa maneira, um desafio aos rosados. Antes de partir para a prova,

ouçamos nosso especialista

A TEORIA por Guilherme Corrêa*

Ainda seduzido pela atmosfera mágica da Provença, de onde cheguei de um tour 

enogastronômico, escrevo estas linhas sobre a vocação dos vinhos rosés para a mesa.

Certamente grandes vinhos rosés não são exclusividade daquela ensolarada terra

mediterrânea, na própria França há outras regiões que ameaçam sua supremacia. Ainda

na Europa, Espanha, Itália e Portugal entregam vinhos rosés de primeira grandeza.

No entanto, nenhuma região vinícola do mundo é tão especializada na produção de

vinhos da tipologia rosé como a Provença, representando 75% da produção das 3

principais A.O.C.s locais, que por sua vez perfazem 94% da produção total da região:

Côtes de Provence, Coteaux d'Aix en Provence e Coteaux Varois en Provence. Dona do

vinhedo mais antigo da França, constituído pelos fenícios no séc. VI a.C., a Provença

conhece o vinho rosé desde esta época, como atestam as artes antigas que sempre

representam figuras de uvas sendo pisadas e o mosto sendo imediatamente drenado das

cascas, isto é, sem maceração suficiente para se tornar um vinho A versatilidade dos

rosés tinto. Além desta especialização milenar na produção de rosés, estes vinhosrevelam um estilo único, que pode assustar aos incautos quando se deparam com uma

taça cintilando um rosé cor de salmão extremamente tênue. A técnica da pressurage

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 15/19

directe garante que o vinho, mesmo com tão pouca coloração e aromas tão delicados de

frutas e flores e, por vezes, um discreto mineral, consiga ter uma boca expressiva,

frutada, fragrante, nervosa e ao mesmo tempo macia. Estes deliciosos vin de plaisir afiam

o nosso paladar para iniciar uma refeição, e transitam dos peixes e frutos do mar até as

carnes brancas, desnecessário frisar o esplendor destes rosés ao lado de uma mesa

provençal ou mediterrânea. São também verdadeiros curingas para enfrentar sabores

exóticos da culinária japonesa e da tailandesa, além dos tajines marroquinos e dos curries

indianos. E por que não com pratos perfumados brasileiros como o camarão na moranga

e a moqueca de peixe? No primeiro caso acredito que o Cuvée du Golfe de Saint-Tropez

irá trazer muita vivacidade à harmonização, opondo sua acidez vibrante à tendência ao

doce da moranga e dos camarões. Talvez falte um pouquinho de estrutura na boca para

fechar um casamento harmônico. Os outros dois rosés provençais irão se apresentar com

uma moqueca de peixe, a minha opinião é que desempenharão um belo papel, pois estãobastante acostumados a representar em casa ao lado de substanciosos e condimentados

ensopados marinhos.

Nas outras regiões vinícolas da França, da Europa e do Novo Mundo, predomina o

método de saignée de elaboração de rosés, que sofrem uma maceração pelicular mais

longa engendrando um vinho de cor rosé cereja mais intensa. Não somente na coloração,

mas estes vinhos estão mais próximos dos tintos também no perfil de aromas, com muitas

frutas vermelhas, notas herbáceas e especiadas em contraste com a tangerina e o

pêssego tão presentes nos vinhos de pressurage directe. A boca também traz mais

substância e calor que remetem aos tintos, embora com uma presença tânica quase que

imperceptível. Em síntese, os rosés de sangria são mais gordos, mais potentes e amplos

olfativamente, embora menos finos e frescos, e são mais vinhos sérios "de refeição" do

que jubilosos "de prazer".

Moqueca de Peixe Camarão na Moranga

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 16/19

Tanto o bem logrado rosé da incrível vinícola Villa Francioni como o da vinícola PradoRey

deverão ter a estatura ideal para conversar com o camarão na moranga, mas tenho a

impressão que o caráter "cremoso" do vinho espanhol, derivado da fermentação em

carvalho, irá criar um jogo de textura bastante envolvente com a moranga. O Santa Digna

é um rosé agradável com toques herbáceos da Cabernet Sauvignon, e ficará bem com a

moqueca se esta estiver mais ao estilo condimentado e untuoso da Bahia.

De um modo geral, todos os vinhos rosés trazem atributos tanto dos vinhos brancos

quanto dos vinhos tintos, e por isso apresentam muita versatilidade à mesa, para alegria

dos povos do mediterrâneo e nossa também, enogastrônomos neófitos que estamos

descobrindo os seus encantos mais recônditos.

*atual campeão brasileiro de Sommeliers

A PRÁTICA

O camarão na moranga

A moranga chegou fumegante à mesa, repleta de creme espesso. O prato surpreendeu

por sua delicadeza de sabor, deixando a textura cremosa como elemento principal. Nos

vinhos o contraste entre o estilo provençal e a força e modernidade dos demais caldos

despertou ódio e paixão. Bruno, Marcelo e Hugo preferiram o Cuvée du Golf por seu

frescor e maciez. Enquanto isso os demais ficaram com o vinho brasileiro, muito elogiado

por todos como a melhor surpresa do almoço. O Villa Francioni ofereceu um meio termo

entre o estilo leve provençal e a potência do espanhol. Por outro lado, para Marcos, Mário

e eu, Prado Rey foi o vinho ideal para provar a abóbora pura, por sua tendência ao doce e

potência de sabor. A única unanimidade da primeira rodada foi o Cuvée du Golf como

melhor vinho para ser apreciado puro.

A moqueca de peixe

Ao ser destampada a panela de barro que guardava a moqueca, o aroma do prato

espalhou-se rapidamente e combinou- se com os suspiros dos que aspiravam os aromas

do primeiro vinho, o Pétale de Rose. Este primeiro rosado largou na frente, mas ao longo

da prova perdeu um pouco dos aromas e foi ultrapassado por seu conterrâneo, o Cuvée

Marion, que acabou como unanimidade, coisa rara em termos de harmonização. Todos

elegeram-no como o vinho predileto para a moqueca por sua complexidade, perfil

aromático e boa acidez. O Pétale de Rose, muito fino, teve sua maciez enfatizada com o

prato e o perfil quase tutti-fruti do chileno não conversou com os coentros e o dendê do

prato. Para Mário, Marcelo e eu o chileno deixou ótima impressão e saiu-se muito bemharmonizado com o pirão que acompanhava o peixe.

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 17/19

Como diria o russo Wassily Kandinsky (1866-1944) "A cor é a tecla, o olho o martelo e a

alma o piano de inúmeras cordas". Possivelmente este grande pintor gostava de vinhos

rosés e os escolhia pela cor e não só pelo paladar...

OS VINHOS

PARA O CAMARÃO NA MORANGA

Cuvée du Golfe de Saint-Tropez 2005, Les Vigneron de Grimaud, Provence- França

(KB-Vinrose, R$ 60). Elaborado com Grenache 80% e Cinsault 20% por pressurage

directe. Cor muito clara em tons de salmão e rosa chá. Nariz delicado e elegante com

notas florais e de frutas frescas. Paladar leve, macio, com 12,5% de álcool, de boa acidez,

longo.

Villa Francioni Rosé 2006, Villa Francioni, São Joaquim- Brasil (R$ 52). Elaborado com

Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Syrah, Sangiovese e Pinot Noir,

com 13,4% de álcool. Cor entre cereja e casca de cebola, muito bela, límpida e brilhante.

Aroma elegante, de médio ataque, com frutas vermelhas na frente, embora não dominem

e deixem espaço para especiarias e florais. Paladar seco, macio, elegante, bem

equilibrado e longo. Confirma a qualidade e o bom gosto dos vinhos da Villa Francione, a

melhor novidade surgida no vinho nacional nos últimos dois anos. Vale mencionar quegarrafa é belíssima.

Prado Rey Rosado 2005, Real Sitio de Vontosilla, Ribera del Duero-Espanha, (Decanter,

R$ 53). Elaborado com uvas Tempranillo, fermentadas em barris de carvalho onde

permanecem por três meses. Um rosado dos mais estruturados, com 14,8% de álcool,

aporte da madeira, pouco usada em vinhos rosés. Cor cereja intensa, límpida e brilhante.

A intensidade da cor se reflete na potência aromática, muito frutado e com toques debaunilha e leves tostados da maderia. Paladar estruturado, quente e muito macio, quase

com uma ponta de doçura no fim de boca.

PARA A MOQUECA DE PEIXE

Pétale de Rose 2005, Régine Sumeire, Provence-França, (KB-Vinrose, R$ 110).

Elaborado com Grenache, Cinsault, Syrah e Mourvedre por pressurage directe. Cor muito

clara, um rosa chá e quase amarelo pálido, com reflexos dourados. Aromas

impressionaram bastante no início da prova, com elegância e complexidade (florais, frutas

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 18/19

cristalizadas); Porém, eles se perderam após alguns minutos na taça. Paladar onde a

maciez se sobrepõe a acidez moderada, com 12,5% de álcool, longo com final com toque

de doçura.

Cuvée Marion 2005, Domaine du Val de Gilly, Provence-França, (KB-Vinrose, R$ 70).

Elaborado por pressurage directe, 90% de Grenache e 10% de Barbaroux. Cor muito

clara com tons tangerina, brilhante com reflexos dourados. No início seu nariz estava

mudo, fechado, mas depois de alguns minutos abriu-se e mostrou elegância e boa

complexidade, com toques florais e frutas secas. Paladar leve e de acidez muito boa, que

se sobrepõe a seus 13% de álcool, longo.

Santa Digna Cabernet Sauvingnon Rose, Miguel Torres, Chile 2005 (Reloco, R$ 41).

Um Cabernet Sauvignon elaborado por sangria. Cor de cereja intenso e brilhante. Bom

ataque aromático com um inconfundível toque herbáceo dos Cabernets Sauvignon

chilenos, além de amoras pretas, especiarias e muito frescor. Paladar macio, com 13,5%

de álcool, boa estrutura de taninos para um rosado.

Tabela de notas

 

Extraordinário (de 95 a 100 pontos)

(93 a 94)

Excelente (90 a 92)

(88 a 89)

Muito Bom (85 a 87)

(83 a 84)

Bom (80 a 82)

(76 a 79)Médio (70 a 79) (70 a 75)

- Fraco (50 a 69) (50 a 69)

= Beber 

= Beber ou Guardar 

= Guardar 

Obs: preços aproximados no varejo, sujeitos à variação.

8/7/2019 2007-01-05 - Especial de Vinho, Verão, ROSÉ - Marcello Copello, Fábio Farah, Fernando Roveri (ADEGA)*

http://slidepdf.com/reader/full/2007-01-05-especial-de-vinho-verao-rose-marcello-copello-fabio-farah 19/19

Joana Carvalho Marcelo Copello

Mário Mamede Bruno Vasilcovsky

Hugo Sukman Marcelo Ferreira

Marcos Bittencourt