2011_Possibilidades de alfabetização ecológica usando o tema cadeia alimentar

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POSSIBILIDADES DE ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA USANDO O TEMA CADEIA ALIMENTAR NO 6° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL.

Hiléia Monteiro Maciel *1 Augusto Fachín Terán **2

RESUMO O presente estudo refere-se a um prognostico das possibilidades de Alfabetização Ecológica usando o tema cadeia alimentar no 6° ano do ensino fundamental. Várias são as possibilidades de se alfabetizar ecologicamente os alunos usando o tema cadeia alimentar: de forma lúdica possibilitando a aquisição de alguns conceitos, antes ausentes, sobre a complexidade existente nas relações alimentares entre os animais, através de aulas dialogadas e utilizando espaços não formais para que os alunos vivenciem os conteúdos, e estudos em espaços formais, ou seja, a sala de aula.

Palavras-Chave: Alfabetização ecológica - Cadeia alimentar - Ensino fundamental.

                                                            Trabalho de comunicação oral apresentado no I Simpósio Internacional de Educação em Ciências na Amazônia - I SECAM, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas-UEA, realizado em Manaus nos dias 20 a 23 de setembro de 2011.  1 Mestranda do Curso Educação em Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: [email protected] 2 Professor do Programa de Pós-graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: [email protected]

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Introdução

O presente estudo refere-se a um prognostico das possibilidades de Alfabetização Ecológica usando o tema cadeia alimentar no 6° ano do ensino fundamental. O ensino de Ecologia é fundamental na formação do indivíduo, não apenas no que diz respeito aos conhecimentos dos conceitos ecológicos e processos científicos a eles relacionados, mas também enquanto formação de sua cidadania.

Segundo Capra (2006a), a sobrevivência da humanidade dependerá de nossa alfabetização ecológica (conhecimento dos princípios básicos da Ecologia), da nossa capacidade para entender esses princípios (interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade, diversidade) e a sustentabilidade como conseqüência de todos.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais um dos conteúdos centrais a ser ministrado para turmas do 6° ano é: “investigação da diversidade dos seres vivos compreendendo cadeias alimentares e características adaptativas dos seres vivos, valorizando-os e respeitando-os” (BRASIL, 1997).

Alfabetização Ecológica

Diversos autores são convocados para justificar os princípios da Alfabetização Ecológica. Capra defende que a compreensão sistêmica da vida, a qual hoje está assumindo a frente da ciência, baseia-se na compreensão de três fenômenos:

[...] o padrão básico de organização da vida é o da rede ou teia; a matéria percorre ciclicamente a teia da vida; todos os ciclos ecológicos são sustentados pelo fluxo constante de energia proveniente do sol. Esses três fenômenos básicos - a teia da vida, os ciclos da natureza e o fluxo de energia - são exatamente os fenômenos que as crianças vivenciam, exploram e entendem por meio de experiências diretas com o mundo natural (2006b, p.14).

Ensinar os princípios básicos da ecologia para nos tornarmos ecologicamente alfabetizados, conhecendo as diversas redes de interação que constituem a teia da vida, são objetivos da alfabetização ecológica. Através dela é possível "compreender as múltiplas relações que se estabelecem entre todos os seres vivos e o ambiente onde vivem, e que tais relações, constituem a teia que sustenta a vida do planeta" (CAPRA, 2006b, p.11).

Definindo o termo Alfabetização Ecológica pelo olhar de Fritjof Capra, esta tem como proposta uma educação pautada na satisfação das necessidades humanas sem prejudicar as próximas gerações, iniciando pela compreensão dos princípios básicos que regem a vida na Terra.

Assim a Alfabetização Ecológica, na concepção de Capra, reside em dois pressupostos: o de conhecer os princípios ecológicos básicos para extrair e seguir determinadas lições morais; e o de transferir essa moralidade presente na natureza para as formações sociais humanas, a fim de se retomar o rumo civilizacional em padrões sustentáveis.

Segundo Capra (2006a), do ponto de vista sistêmico, "as únicas soluções viáveis diante dos problemas globais ligados ao meio ambiente, são as soluções "sustentáveis" (p 24). Lester Brown definiu sociedade sustentável como "aquela que satisfaz suas

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necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras" (Brown apud Capra, 2006a, p. 24), e este é o desafio que temos pela frente.

Como assinalam Hicks e Holden,

[...] se os estudantes têm de chegar a ser cidadãos responsáveis, é preciso que lhes proporcionemos oportunidades para analisar os problemas globais que caracterizam essa situação de emergência planetária e considerar as possíveis soluções (citado em CACHAPUZ, 2005, p.29).

Carvalho (2004) assume que um indivíduo torna-se um sujeito ecológico no momento em que idealiza uma sociedade ecologicamente equilibrada e que busca assumir seu ideal em atitudes e comportamentos orientados por essa causa. O perfil de um sujeito ecológico se estabelece a partir de uma crítica ao modo de produção vigente e suas conseqüências, econômicas, sociais e ambientais. Para a mesma autora,

a identificação social e individual com esses valores ecológicos é um processo formativo que se processa a todo momento, dentro e fora da escola, e que tem a ver com o que chamamos a formação de um sujeito ecológico e de subjetividades ecológicas (CARVALHO, 2004, p.137).

Logo, podemos inferir que o sujeito “ecoalfabetizado”, conhecedor dos princípios que regem a natureza, é, consequentemente, um sujeito guiado por um ideário ecológico que busca novas posturas que visem à conservação da qualidade do ambiente natural e urbano.

Cadeia alimentar

Uma das relações mais complexas e necessárias à vida no Planeta é a alimentação. Plantas e animais precisam obter matéria e energia para a manutenção da vida. Os vegetais são autótrofos, fixando a energia solar nas ligações químicas formadas durante a biossíntese da glicose, durante a fotossíntese. Na ausência de luz, os vegetais utilizam parte dessa glicose sintetizada na fotossíntese para suprir suas próprias necessidades, sintetizando ATP, molécula fundamental à realização de trabalho celular (LEWIS et al., 2009). Desta forma, percebe-se que os seres autótrofos são capazes de suprir matéria e energia para suas próprias necessidades, desde que as condições ambientais sejam adequadas (BEEBY et al., 2008).

Já os animais não conseguem realizar esse processo, obtendo matéria e energia de fontes externas, ou seja, alimentando-se de vegetais e de outros animais. Pode-se compreender esse processo como uma “apreensão” de moléculas, que serão catabolizadas nas células, com o primeiro objetivo de suprir a necessidade de ATP para essas mesmas células. Tal busca pela sobrevivência origina a cadeia alimentar. Esta pode, então, ser compreendida como uma sequência (linear) de seres vivos, iniciada a partir de um único organismo produtor (autótrofo), na qual algumas espécies se alimentam daquelas que as precedem, antes de servirem de alimento para aquelas que as seguem (BEGON et al., 2010).

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A reunião e interconexão de várias cadeias alimentares formam uma teia alimentar. Esta pode conter vários produtores e sua complexidade limita o número de níveis hierárquicos. O conceito de teia alimentar, a exemplo de inúmeros outros na área de Ciências e, especificamente, na Biologia é abordado no ensino em uma perspectiva tradicional, fragmentada e descontextualizada. Isto dificulta a apropriação da complexidade do conteúdo em níveis posteriores de escolarização. Assim, buscamos desenvolver este conteúdo específico de forma não linear e contextualizada, na perspectiva da complexidade (visão sistêmica, de acordo com CAPRA, 2006a,b). Vale ressaltar que, fugindo de uma perspectiva antropocêntrica, o homem é apenas mais uma espécie (Homo sapiens) que coexiste paralelamente a outras, sendo parte integrante das cadeias e teias alimentares.

Tal perspectiva é fortalecida na visão de Morin (2000), para quem o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. Isto é menos visível na Educação Infantil, uma vez que nela, as áreas de conhecimento são trabalhadas de forma integral a partir da vivência de temas e ministradas pelo mesmo professor. Morin (2000) defende a necessidade de restaurar a educação nos demais níveis de ensino, de modo que cada um, onde quer que se encontre tome conhecimento e consciência ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos.

Finalmente, de acordo com Lima (1991) a escola deve levar a criança a construir conceitos, em qualquer nível de ensino e período de desenvolvimento, obtendo experiências e informações que enriqueçam seu repertório, bem como a utilizar procedimentos metodológicos que permitam a integração sucessiva destes novos conhecimentos de aqueles que já detêm. Isto implica, necessariamente, trabalhar desde a pré-escola com o instrumental que a criança dispõe em cada etapa de seu desenvolvimento e intervir para que apreenda o real e o imaginário ao longo da vida.

Meios de se ensinar cadeia alimentar

− Aulas expositivas dialogadas que permitem ao aluno formar um conhecimento prévio sobre o conteúdo. Segundo Bañzan (1977 apud RONCA, 1986), na exposição dialogada o aluno é convidado a participar, comentando, exemplificando e completando as colocações feitas pelo professor. Uma aula expositiva dialogada requer do aluno uma participação ativa em que ele consiga estabelecer uma relação entre o conteúdo já existente na sua estrutura cognitiva e o novo.

− Uma abordagem lúdica sobre o tema teia alimentar, por meio desta atividade, o aluno pode ser despertado para o estudo das diversas relações que os seres vivos mantêm entre si e com o meio ambiente, familiarizando-se com os conceitos sobre cadeia alimentar, níveis tróficos, ciclo de materiais e fluxo de energia.

− O uso de espaços de não formais, pois levaria ao aluno vivenciar conceitos apresentados na sala de aula. Segundo Vasconcelos & Souto (2003), ao se ensinar ciências, é importante não privilegiar apenas a memorização, mas promover situações que possibilitem a formação de uma bagagem cognitiva no aluno. Isso ocorre através da compreensão de fatos e conceitos fundamentais, de forma gradual. Espaços não-formais, onde se procura transmitir, ao público estudantil conteúdos de ciências, podem favorecer a aquisição de tal bagagem cognitiva. As aulas formais se baseiam, na maior parte das vezes, nos conteúdos curriculares

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propostos em livros didáticos. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), através da disciplina ciências pode-se estimular uma postura crítica que permita avaliar como a sociedade intervém na natureza (BRASIL, 1997).

Considerações Finais

Várias são as possibilidades de se alfabetizar ecologicamente os alunos usando o tema cadeia alimentar: de forma lúdica possibilitando a aquisição de alguns conceitos, antes ausentes, sobre a complexidade existente nas relações alimentares entre os animais, através de aulas dialogadas e utilizando espaços não formais para que os alunos vivenciem os conteúdos estudados em espaços formais, ou seja, a sala de aula.

Referências

BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997, 126p. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 27 agosto de 2011.

BEEBY, A.; BRENNAN, A. M. First Ecology: Ecological Principles and Environmental Issues. Oxford: Oxford UK, 2008.

BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; Harper, J. L. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: ArtMed, 2010.

CACHAPUZ, A. (Org.). A Necessária Renovação do Ensino das Ciências. São Paulo: Cortez, 2005.

CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix. 2006a.

______. Alfabetização Ecológica - a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006b.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.

LEWIS, J.; ALBERTS, B.; BRAY, D. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: ArtMed, 2009.

LIMA, E. C. A atividade da Criança na idade Pré Escolar. In: Conholato, M. C. (Coord). O jogo e a construção ao conhecimento na Pré-escola. São Paulo: Série Idéias, 10. FDE,17-21p., 1991.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

RONCA, A. C. C., ESCOBAR, V. F. Técnicas Pedagógicas: Domesticação ou desafio à participação?. Petrópolis: Vozes, 1986. 113p. VASCONCELOS, S. D.; SOUTO, E. O livro didático de ciências no ensino fundamental – proposta de critérios para análise do conteúdo zoológico. Ciência & Educação, v. 9, p. 93-104, 2003.