2012 13 AM IA Recurso Resoluç o

7
Exame da ´ Epoca de Recurso de An´ alise Matem´ atica 1-A 3 de janeiro de 2013, dura¸c˜ao: 3 horas 1. (a) (1 valor). Seja A R um conjunto n˜ ao vazio e limitado superiormente. Defina supremo de A. Resolu¸c˜ ao: Um elemento b R chama-se supremo do subconjunto A quando b ´ e a menor das cotas superiores (majorantes) de A em R. Assim, para que b R seja supremo de um conjunto A Re necess´ ario e suficiente que sejam satisfeitas as duas condi¸c˜ oes abaixo: (S 1) Para todo x A, tem-se x b. (S 2) Se c R ´ e tal que x c para todo x A, ent˜ ao b c. Acondi¸c˜ ao (S 2) ´ e equivalente ` a seguinte condi¸ ao: (S 2 0 ) Dado c R tal que c<b, existe x 0 X tal que c<x 0 . (b) (1 valor). Enuncie o axioma da completude de R. Resolu¸c˜ ao: Axioma da completude. Qualquer conjunto A R ao vazio e limitado superiormente possui supremo em R. (c) (1 valor). Sejam A, B R dois conjuntos n˜ ao vazios e limitados superiormente e C = {z = x + y : x A y B}. Mostre que C ´ e limitado superiormente e sup C sup A + sup B. Resolu¸c˜ ao: Pelacondi¸c˜ ao (S 1) da defini¸c˜ ao de supremo, x A : x sup A, y B : y sup B. 1

Transcript of 2012 13 AM IA Recurso Resoluç o

  • Exame da Epoca de Recurso de Analise Matematica 1-A

    3 de janeiro de 2013, duracao: 3 horas

    1. (a) (1 valor). Seja A R um conjunto nao vazio e limitado superiormente. Definasupremo de A.

    Resolucao: Um elemento b R chama-se supremo do subconjunto A quando b ea menor das cotas superiores (majorantes) de A em R. Assim, para que b R sejasupremo de um conjunto A R, e necessario e suficiente que sejam satisfeitas as duascondicoes abaixo:

    (S1) Para todo x A, tem-se x b.(S2) Se c R e tal que x c para todo x A, entao b c.

    A condicao (S2) e equivalente a` seguinte condicao:

    (S2) Dado c R tal que c < b, existe x X tal que c < x.(b) (1 valor). Enuncie o axioma da completude de R.

    Resolucao: Axioma da completude. Qualquer conjunto A R nao vazio elimitado superiormente possui supremo em R.

    (c) (1 valor). Sejam A,B R dois conjuntos nao vazios e limitados superiormente eC = {z = x+ y : x A y B}.

    Mostre que C e limitado superiormente e

    supC supA+ supB.

    Resolucao: Pela condicao (S1) da definicao de supremo,

    x A : x supA, y B : y supB.

    1

  • Entaoz C : z = x+ y supA+ supB.

    Portanto, supA+ supB e uma cota superior (majorante) de C, mas supC e a menorcota superior (majorante) de C. Logo, pela condicao (S2) da definicao de supremo,

    supC supA+ supB,como queramos demonstrar.

    2. Seja (xn) uma sucessao crescente e limitada superiormente.

    (a) (1 valor). Prove que o conjunto dos termos da sucessao (xn) admite supremo.

    Resolucao: A sucessao (xn) e limitada superiormente. Logo o conjunto dos seustermos {xn : n N} R e limitado superiormente. Obviamente, este conjunto naoe vazio. Logo, pelo axioma da completude de R, o conjunto {xn : n N} possuisupremo.

    (b) (1 valor). Sejaa = sup{xn : n N}.

    Mostre que em qualquer vizinhanca do ponto a R ha pelo menos um termo dasucessao (xn).

    Resolucao: Fixemos arbitrariamente um numero > 0. Como a < a, pelacondicao (S2) da definicao de supremo, existe um elemento x {xn : n N} talque a < x, isto e, existe um numero N N tal que a < xN . Por outro lado,pela condicao (S1) da definicao de supremo, xN a < a+ . Entao

    a < xN < a+ xN ]a , a+ [= V(a).

    (c) (1 valor). Fixando um > 0, prove que a partir de uma certa ordem, todos ostermos da sucessao (xn) pertencem a` vizinhanca V(a) centrada em a.

    Resolucao: Dado > 0, pela alnea (a), existe um numero N N tal que xN ]a , a+ [. A sucessao (xn) e crescente. Logo, para todo n > N , tem-se

    a < xN xn.Pela condicao (S1) da definicao de supremo,

    xn a < a+ para todo n N. As duas desigualdades anteriores implicam que xn V(a) paratodo n > N . Acabamos de provar que

    > 0 N N n > N : |xn a| < .

    2

  • (d) (1 valor). De a definicao de limite finito de uma sucessao de numeros reais e concluasobre

    limnxn.

    Resolucao: Diz-se que uma sucessao (yn) de numeros reais converge para b R eescreve-se

    limn yn = b

    se > 0 N N n > N : |yn b| < .

    Nas alneas anteriores foi demonstrado o seguinte resultado.

    Teorema. Seja (xn) uma sucessao crescente e limitada superiormente. Entao (xn) econvergente e

    limnxn = sup{xn : n N}.

    3. Calcule os seguintes limites

    (a) (2 valores).

    limn

    (n

    n4 + 1+

    nn4 + 2

    + + nn4 + n

    )Resolucao: Seja

    xn =n

    n4 + 1+

    nn4 + n

    + + nn4 + n

    =n

    k=1

    nn4 + k

    .

    Para todo k {1, . . . , n} e todo n N,

    n4 n4 + k n4 + n < n4 + 2n2 + 1 = (n2 + 1)2.

    Portanton2 =

    n4

    n4 + k

    (n2 + 1)2 = n2 + 1

    en

    n2 + 1 n

    n4 + k nn2

    para todo k {1, . . . , n} e todo n N. Entaon

    k=1

    n

    n2 + 1

    nk=1

    n

    n4 + k

    nk=1

    n

    n2,

    3

  • donden n

    n2 + 1 xn n n

    n2= 1

    para todo n N. Como

    limnn

    n

    n2 + 1= lim

    n1

    1 + 1n2

    = 1,

    pelo teorema das sucessoes enquadradas,

    limnxn = 1.

    (b) (2 valores).

    limx0+

    2x sin(2x)x3

    .

    Resolucao: Sejam

    f(x) = 2x sin(2x), g(x) = x3.Claro que f, g C(R) e

    limx0+

    f(x) = limx0+

    g(x) = 0.

    Portanto, ao calcular

    limx0+

    f(x)

    g(x),

    encontramos a indeterminacao 0/0.

    Calculando as derivadas, obtemos

    f (x) = 2 2 cos(2x), g(x) = 3x2

    elimx0+

    f (x) = limx0+

    g(x) = 0.

    Logo, ao calcular

    limx0+

    f (x)g(x)

    ,

    encontramos a indeterminacao 0/0.

    Calculando as segundas derivadas, obtemos

    f (x) = 4 sin(2x), g(x) = 6x.

    4

  • Sabendo que

    limy0+

    sin y

    y= lim

    y0sin y

    y= 1,

    pelo teorema sobre o limite da funcao composta, podemos concluir que

    limx0+

    f (x)g(x)

    = limx0+

    4 sin(2x)

    6x=

    4

    3limx0+

    sin(2x)

    2x=

    4

    3limy0+

    sin y

    y=

    4

    3.

    Aplicando a regra de Cauchy duas vezes, obtemos

    limx0+

    f(x)

    g(x)= lim

    x0+f (x)g(x)

    = limx0+

    f (x)g(x)

    =4

    3.

    4. Sejam a ]0, 1[, f : [0, 1] \ {a} R e L R.(a) (1 valor). De a definicao de

    limxa f(x) = L.

    Resolucao: diz-se que f tende para L R quando x tende para a se

    > 0 > 0 x [0, 1] \ {a} : 0 < |x a| < = |f(x) L| < .

    (b) (2 valores). Prove que selimxa f(x) = L,

    entaolimxa |f(x)| = |L|.

    Resolucao: a demonstracao e baseada na seguinte propriedade do modulo:|z| |w| |z w| para todos z, w R.Por hipotese,

    > 0 > 0 x [0, 1] \ {a} : 0 < |x a| < = |f(x) L| < .Pela propriedade do modulo acima referida,|f(x)| |L| |f(x) L| < .Portanto, acabamos de demonstrar que

    > 0 > 0 x [0, 1] \ {a} : 0 < |x a| < = |f(x)| |L| < ,isto e,

    limxa |f(x)| = |L|.

    5

  • (c) (2 valores). Mostre que se |f(x)| C para todo x [0, 1] \ {a} e

    limxa f(x) = L,

    entao |L| C.Resolucao: pela alnea anterior,

    limxa |f(x)| = |L|.

    Supomos, por absurdo, que |L| > C. Seja

    =|L| C

    2.

    Por definicao de limite, existe > 0 tal que

    x [0, 1] \ {a} : 0 < |x a| < = |L| < |f(x)| < |L|+ .

    Fixemos um x que satisfaz a condicao anterior. Temos

    |f(x)| > |L| = |L| |L| C2

    =|L|+ C

    2>C + C

    2= C,

    que nao e possvel porque por hipotese, |f(x)| C para todo x [0, 1]\{a}. Portanto,|L| C, como queramos demonstrar.

    5. (a) (1.5 valores). Seja : [0, 1] R uma funcao C-lipschitziana, i.e. existe um C > 0tal que

    |(x) (y)| C|x y|para todos x, y [0, 1]. Recorrendo a` definicao de diferenciabilidade e um dos resul-tados do exerccio anterior, mostre que se e diferenciavel em a ]0, 1[, entao

    |(a)| C.

    Resolucao: diz-se que e diferenciavel em a se existir e for finito o limite

    (a) = limxa f(x),

    onde a funcaof : [0, 1] \ {a} R

    6

  • e dada por

    f(x) =(x) (a)

    x a .Por hipotese

    |f(x)| =(x) (a)x a

    Cpara todo x [0, 1] \ {a}. Logo, pela alnea (c) do exerccio 4, |(a)| C.

    (b) (1 valor). Mostre que a funcaox e uniformemente contnua em [0, 1].

    Resolucao: o teorema de Cantor afirma que uma funcao contnua num intervalofechado e limitado e uniformemente contnua nesse intervalo. Aplicando este teoremaa` funcao

    x, que e contnua no intervalo fechado e limitado [0, 1], podemos concluir

    quex e uniformemente contnua em [0, 1].

    (c) (1.5 valores). Calcule a derivada da funcaox e mostre que

    x nao e lipschitziana

    em [0, 1].

    Resolucao: a funcao (x) =x e diferenciavel no intervalo ]0, 1[ e (x) = 1

    2x

    para todo x ]0, 1[. Supomos, por absurdo, que e C-lipschitziana com C > 0. Pelaalnea (a) temos |(a)| C para todo a ]0, 1[, mas isto e impossvel porque

    limx0+

    (x) = limx0+

    1

    2x

    = +.

    Portanto, nao e lipschitziana.

    7