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10/11/2014 Cadernos de Reportagem: Nos muros da cidade, a arte de quebrar estereótipos http://cadernosdereportagem.blogspot.com.br/2012/02/nos-muros-da-cidade-arte-de-quebrar.html#nami 1/6 C ATEGORIAS Baú Cidades Crônicas Cultura Educação Eleições Entrevistas Esportes Greve Imprensa Mobilização Opinião Política Saúde Segurança Pública Sociedade Transporte UFF M ARCADORES Cidades Cultura Educação Entrevistas Esportes Greve Imprensa Mobilização Opinião Política Segurança Pública Sociedade UFF V ISITE T AMBÉM R EDES S OCIAIS Você está em: Home » Cidades » Cultura »Nos muros da cidade, a arte de quebrar estereótipos NOS MUROS DA CIDADE, A ARTE DE QUEBRAR ESTEREÓTIPOS 21 DE FEVEREIRO DE 2012 Ilustrações de Ildo Nascimento A diferença que separa pichação de grafite é a mesma que vai dos rabiscos nervosos em muros e paredes à pintura colorida de cenas da vida urbana. Mas, se é fácil distinguir uma coisa da outra, o preconceito contra os grafiteiros persiste, embora sua atividade venha conquistando cada vez mais reconhecimento no mundo artístico. O movimento teve início na década de 1970, em Nova Iorque, como forma de expressar a realidade das ruas e a opressão vivida pelas camadas mais baixas da população. No Brasil, a primeira manifestação de grafite aconteceu em São Paulo, na mesma década. Os textos a seguir mostram a experiência recente dos artistas do Santa Crew e Nami, do Rio de Janeiro, e de Lya Alves e Daniel Goaboy, de Niterói, que buscam nas questões sociais inspiração para o seu trabalho. A LEI MUDA, O PRECONCEITO CONTINUA Apesar da elaboração dos traços e da técnica que diferencia o grafite da pichação, ainda existe preconceito contra a pintura dos muros. Em geral, a visão negativa vem da errada crença de que os dois estilos são iguais. Os primeiros passos para a mudança deste pensamento já começaram a ser dados pela aprovação de uma emenda ao projeto de Lei Federal n°176, em abril de 2011, que diferencia pichação de grafitagem e proíbe a venda de latinhas de spray aos menores de idade. Pela nova regra, o grafite não é mais considerado crime se for “realizado com o objetivo de valorizar o patrimônio público e privado mediante manifestação artística, com consentimento de seus proprietários”. Pela lei anterior, tanto pichar quanto grafitar eram crimes, com pena de detenção de três meses a um ano. NO MORRO DOS PRAZERES, UM MURO COLORIDO COM ESPERANÇA Por Lara Vieira, Luiza Cunha e Mariana Pitasse Para quem passava pelo Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, e via a movimentação de vários grafiteiros, o motivo B USCA C A Q UEM SOM C Cade edito Socia de 2 VISUALIZAR MEU PERFI M AIS LIDO UPPs: a fantasia d olímpica” Alemão por quatr seus reflexos A Arte da Entrevi Leitão A “guerra do Rio” "A essência das ci Ideologia: Eu quer L EIA TAMB A Arte da Entrevi leitão Uma alegoria da c A Arte da Entrevi contar boas hist A Arte da Entrevi observar A "guerra do Rio": Alemão por quatr seus reflexos Opinião - Gustavo UPPs: A fantasia d UPPs: Debate fez faculdade de Di "Ah, se não fossem Ideologia: Eu quer Entrevista - Cláud morna por defin Moradores do Alem continuam a son Entrevista - Franc queda da militâ PT Consciência polític Crônica: "Aperana segurança" H OME P OLÍTICA S EGURANÇA E SPORTES C ULTURA E NTREVISTAS C IDADES B Baú Crônicas Eleições Saúde Transporte

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NOS MUROS DA CIDADE, A ARTE DE QUEBRAR ESTEREÓTIPOS21 DE FEVEREIRO DE 2012

Ilustrações de Ildo Nascimento

A diferença que separa pichação de grafite é a mesma que vai dos rabiscos nervosos em muros e paredes à pinturacolorida de cenas da vida urbana. Mas, se é fácil distinguir uma coisa da outra, o preconceito contra os grafiteirospersiste, embora sua atividade venha conquistando cada vez mais reconhecimento no mundo artístico. Omovimento teve início na década de 1970, em Nova Iorque, como forma de expressar a realidade das ruas e aopressão vivida pelas camadas mais baixas da população. No Brasil, a primeira manifestação de grafite aconteceuem São Paulo, na mesma década. Os textos a seguir mostram a experiência recente dos artistas do Santa Crew eNami, do Rio de Janeiro, e de Lya Alves e Daniel Goaboy, de Niterói, que buscam nas questões sociais inspiraçãopara o seu trabalho.

A LEI MUDA, O PRECONCEITO CONTINUA

Apesar da elaboração dos traços e da técnica que diferencia o grafite da pichação, ainda existe preconceito contraa pintura dos muros. Em geral, a visão negativa vem da errada crença de que os dois estilos são iguais. Osprimeiros passos para a mudança deste pensamento já começaram a ser dados pela aprovação de uma emenda aoprojeto de Lei Federal n°176, em abril de 2011, que diferencia pichação de grafitagem e proíbe a venda delatinhas de spray aos menores de idade. Pela nova regra, o grafite não é mais considerado crime se for “realizadocom o objetivo de valorizar o patrimônio público e privado mediante manifestação artística, com consentimento deseus proprietários”. Pela lei anterior, tanto pichar quanto grafitar eram crimes, com pena de detenção de trêsmeses a um ano.

NO MORRO DOS PRAZERES, UM MURO COLORIDO COM ESPERANÇAPor Lara Vieira, Luiza Cunha e Mariana Pitasse

Para quem passava pelo Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, e via a movimentação de vários grafiteiros, o motivo

B U S C A C A D E R N O S

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CADERNO DE REPORTAGEM

Cadernos de Reportagem é um projetoeditorial do Curso de ComunicaçãoSocial da UFF lançado em 3 de outubrode 2010.

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M A I S L I D O S

UPPs: a fantasia da pacificação na “cidadeolímpica”

Alemão por quatro lados: A megaoperação de 2007 eseus reflexos

A Arte da Entrevista: Olho no olho com MíriamLeitão

A “guerra do Rio”

"A essência das cidades é o encontro"

Ideologia: Eu quero uma para (sobre)viver

L E I A T A M B É M

A Arte da Entrevista - Olho no olho com Míriamleitão

Uma alegoria da caverna, no Morro do Vidigal

A Arte da Entrevista - Consuelo Dieguez: O ofício decontar boas histórias

A Arte da Entrevista - Regina Zappa: O talento paraobservar

A "guerra do Rio": O Jornalismo veste a camisa

Alemão por quatro lados: A megaoperação de 2007 eseus reflexos

Opinião - Gustavo Maia: O inimigo agora é outro?

UPPs: A fantasia da pacificação na "cidade olímpica"

UPPs: Debate fez transbordar o salão nobre dafaculdade de Direito da UFF

"Ah, se não fossem os direitos humanos..."

Ideologia: Eu quero uma para (sobre)viver

Entrevista - Cláudio Farias Augusto: "Democracia émorna por definição"

Moradores do Alemão elogiam obras do PAC mascontinuam a sonhar com mudança

Entrevista - Francisco Ferraz: Professor associaqueda da militância ideológica ao crescimento doPT

Consciência política: A gente não era assim...

Crônica: "Aperana: os falsos caminhos da vida emsegurança"

H O M E P O L Í T I C A S E G U R A N Ç A E S P O R T E S C U L T U R A E N T R E V I S T A S C I D A D E S B A Ú

Baú Crônicas

Eleições

Saúde

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da reunião parecia bem simples: um enorme muro branco, pronto para ser desenhado. Era um dos encontros dogrupo de intervenção urbana Santa Crew que contou com a presença de seus integrantes e artistas plásticos deoutros estados do Brasil. A razão principal, no entanto, era maior que essa. Para promover a marca de tintasaustralianas Ironlak, o integrante do Santa, Márcio SWK, havia sido convidado para realizar uma intervençãourbana. A escolha do local, assim como a dos demais participantes, ficaria ao seu critério, mas Márcio não tevedúvidas. O artista resolveu trazer àquele enorme muro branco um “alívio para a memória dos moradores”,modificando a imagem triste que o paredão passou a ter para eles após o deslizamento da encosta, ocorrido emabril de 2010.

A tragédia aconteceu em consequência às fortes chuvas e deixou 35 pessoas mortas. Para a população, o muroconstruído no local ainda é muito marcado pela lembrança do acidente, o que tornou o espaço conhecido como “omuro do deslizamento”. O projeto de remoção completo feito pela prefeitura do Rio só ficou no papel. Na época, oentão secretário de Habitação, Jorge Bittar, negou a necessidade de acabar com a comunidade, baseado em umestudo da Fundação GeoRio, que ainda estava em execução. Segundo a entidade, foram investidos R$ 5,4 milhõespara obras emergenciais de contenção e melhorias na localidade, que supostamente resolveriam todo o problema.O que não foi suficiente, segundo os moradores. Eles afirmam que a prefeitura teria somente construído contençãopara encostas e demolido parcialmente algumas casas atingidas pelos deslizamentos, deixando até hoje osescombros que representam riscos à comunidade no local.

Suavizar o peso da tragédia

O Santa Crew decidiu tentar amenizar a situação. O grupo, que usa o nome do bairro para assinar as paredes queilustra, buscou retratar figuras da favela em homenagem aos moradores. Promovendo paredes mais coloridas,Santa Crew é famoso pela atuação em Santa Teresa e busca ir além da arte pela arte encontrando na causa socialforte motivação para seu trabalho. Dois de seus integrantes, Marcelo Joe e Dune, têm histórias bem parecidas.Após participarem de oficinas realizadas no Morro dos Prazeres, os dois acabaram se apaixonando pelo grafite eentraram para o grupo. Como moradores, durante a intervenção, puderam sentir como é estar dos dois lados: o detrazer mais alegria para o local e também o de aliviar o peso negativo que o lugar carregava.

Além deles, Bigode, grafiteiro baiano, também veio ao Rio para participar do encontro. O artista destacou que aprefeitura de Salvador tem projetos ligados à arte urbana e investe para que pichadores se transformem emartistas urbanos. João Paulo, outro integrante, também apontou algumas das diferenças que existem dentro dografite. Ele afirma que, diferente do que acontece na capital baiana, a arte urbana carioca não conta com o apoiofinanceiro do governo ou ONGs. Por outro lado, o grafite do Rio é destacado por João Paulo com a marca que elejulga ser a principal: a união que existe entre as pessoas que participam do movimento.

Arte contra a marginalização

Forte característica do grafite, a influência social que ele pode exercer é bem exemplificada pelo grafiteiroAlexandre Alfa. Morador do Complexo do Alemão, o artista valoriza a escolha pelo caminho das artes comofundamental para ele escapar da criminalidade. Alexandre também trabalha para a oficina da banda O Rappa, que

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privilegia a arte de rua nos seus CDs e clipes. Atualmente, Alexandre vive do grafite e dos projetos que a atividadepromove, o que o coloca em um embate. Segundo ele, o grafite perde sua essência quando exposto em uma galeriade arte, já que é uma forma de expressão diretamente ligada às ruas.

Por outro lado, o grafiteiro Marcelo Ment mostra o caráter artístico que o grafite pode assumir. Como artistaplástico reconhecido mundialmente, expôs telas com temas da arte de rua em Amsterdam e em galerias no Canadáe França. Atualmente trabalha com artistas do mundo inteiro, sendo sempre reconhecido pelos seus grafites queremetem a figuras características do Brasil, como artistas do samba e crianças da favela. Assim como Ment, ografiteiro Acme também teve portas abertas a partir do mundo da arte urbana. Suas verdadeiras telas que estãoexpostas pelos muros da cidade lhe trouxeram oportunidades para trabalhar com cartoons.

O GRAFITE VESTE O SALTO ALTOFernanda Costantino e Letícia Bandeira

Quem pensa que fazer grafite é sinônimo de andar de bermuda larga e boné virado ao contrário se surpreende aodescobrir os rostos por trás da arte espalhada pelas ruas cariocas e assinada pelo grupo Nami. De cabelos longos eloiros, sempre de salto alto e muito bem maquiada, a fundadora da rede feminista, Panmela Castro, lidera umgrupo de cerca de 30 mulheres que percorrem a cidade fazendo grafites em prol da causa feminina. No dia 25 denovembro, a Nami se reuniu para grafitar um painel com imagens do cotidiano feminino nos muros da Pedra doSal, no bairro da Saúde, como forma de homenagear o Dia Internacional Contra a Violência Doméstica.

A rede feminista de arte urbana surgiu em maio de 2010, incentivada pela ONG Caramundo e motivada na lutapelos direitos da mulher. “Apesar de termos igualdade na nossa constituição, culturalmente ainda tem muito paraser conquistado”, garantiu Panmela. A intenção do grupo é inserir a mulher na cena masculina e até machista dografite. Apesar de uma série de exemplos em contrário, como as camelôs que tantas vezes enfrentam a guardacivil, ou as mães e irmãs que ficam na linha de frente diante da polícia em incursões nas favelas, Panmela aindaacredita que a mulher é um objeto frágil nas ruas e que isso dificulta o seu trabalho.

Em defesa da mulher

Defensoras assíduas do lema: “A arte de mulheres para mudar o mundo”, a Nami projetou seu nome como umabrincadeira com a gíria “mina”, cujas sílabas foram invertidas e deram origem à Nami. A rede é composta pormulheres das mais diversas áreas profissionais, desde artistas plásticas e fotógrafas, até psicólogas e chefes de

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cozinha. Além da luta contra a violência doméstica, a Nami também contribui na denúncia de casos de estupro eprostituição infantil, trata da dificuldade de inserção da mulher nos espaços públicos de poder e em profissões tidascomo atividades masculinas. O próximo passo do grupo é registrar a Nami como uma ONG independente, sem finslucrativos.

As integrantes se conheceram no mundo do grafite e costumam se reunir em datas comemorativas, além derealizar trabalhos encomendados em casas particulares ou eventos. A Nami também oferece uma oficina gratuitado grafite para mulheres, com o objetivo de formar uma nova geração de artistas urbanas. Além das aulaspráticas, a rede promove debates coletivos sobre a causa feminina e o conhecimento em artes. Para conhecermelhor a agenda e o trabalho da Nami, basta entrar no site www.redenami.com.

ENTRE PINCÉIS E SPRAYSPriscila Motta e Ronaldo Rodrigues

Não há pedestre, por menos curioso que seja, que não pare e observe atentamente um muro grafitado. Muitomenos os curiosos olhos de uma criança, como os do pequeno Gustavo, de 6 anos. O menino que esperava com amãe, Maria Aparecida do Rosário, de 34 anos, num ponto de ônibus na Avenida Feliciano Sodré, no Centro deNiterói, não se conteve ao ver o painel onde pinguins colorem o muro.

“Outro dia nós perdemos o ônibus, pois ele (Gustavo) estava encantado com os desenhos. Queria tocar nas pinturaspara ver se era real”, conta Maria Aparecida. A mãe contou ainda que Gustavo não é o único a admirar o trabalhodos artistas do grafite: “Eu acho um trabalho lindo. Eles são muito talentosos e criativos. É uma pena que nãosejam valorizados como deveriam ser”.

Não são mesmo. Tanto que, vez por outra, são alvos de desaforos ou reclamações. Foi o que ocorreu com LyaAlves, que ouviu um rabugento “tá sujando o muro” enquanto fazia seu mais novo trabalho em um paredão decinco metros de comprimento e três de altura.

A grafiteira começou a pintar ainda criança por influência da família, em especial do tio que, na década de 80, jádeixava sua marca nas ruas da cidade. Autodidata, a artista trabalhou inicialmente com artes plásticas para depoisseguir o caminho do grafite. Mesmo assim, ela se diz acostumada com reações negativas. “Apesar de maioraceitação do público, sempre tem alguém que passa de ônibus ou de carro e grita alguma coisa assim”.

Em seu trabalho, Lya traz figuras realistas, misturando o uso do spray ao do pincel. “Pelo fato de o material aquiser muito caro, usamos essa técnica mista, o que se tornou uma marca do grafite brasileiro”. Os artistasapresentam grandes inovações levando os problemas das cidades para as paredes. No entanto, cidades menorescomo Niterói, ainda não contam com uma formação para profissionais da área e projetos capazes de influenciar ospichadores a seguir no grafite.

Falta de apoio oficial

O músico Marcos Sabino, presidente da Fundação de Artes Niteroiense (FAN), afirma que não há, por parte doPoder Público, interesse em projetos ligados ao grafite. Segundo ele, falta maior interação entre a Prefeitura deNiterói e os artistas. Sabino enfatiza que a Secretaria de Cultura está aberta a auxiliar os artistas, mas que, paraisso, seria preciso que, primeiro, os grafiteiros a procurassem.

A FAN, que trabalha em conjunto com a Secretaria de Cultura da cidade executando ações culturais, jádesenvolveu projetos com alguns grafiteiros em 2009. Um deles foi um trabalho de composição de painéis. Duranteas comemorações do aniversário da cidade, o palco onde a companhia de balé da coreografa Débora Colker seapresentou, foi enfeitado com grafites. Porém, tratou-se de um caso isolado, já que nenhuma política foidesenvolvida depois. “Talvez, a gente tenha que ter uma iniciativa. Mas para que isso ocorra tem que haver umlink entre as partes”, afirma Sabino, embora reconheça falta de recursos e estrutura.

As afirmações do músico contrastam com o histórico apresentado por Lya. Durante o ano de 2008, a grafiteiralutou por apoio ao projeto Philosoffiti, uma iniciativa para formar crianças e jovens na arte do grafite. Oprograma, no entanto, não teve continuidade. “Nós criamos projetos, mas não conseguimos patrocínio nem apoio,e eles praticamente não saíram do papel. Fizemos o que deu. Era tudo por amor, pois não havia quem apoiasse”,revela a grafiteira. Ela se lembra com tristeza do desperdício de talento e potencial de seus alunos, que chegarama receber menção honrosa em trabalhos entregues na Associação Fluminense de Belas Artes.

Necessidade de projetos para auxiliar na formação de profissionais, programa de incentivo à arte na cidade oufalta de maior diálogo entre governo e artistas. São essas as questões importantes, segundo as fontes, para odesenvolvimento dessa nova forma de expressão artística. Elas criticam principalmente a falta de debate sobre osrumos a serem dados a esta arte sem que se retire dela suas principais características: ser uma arte urbana, livre eespontânea.

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DANIEL GOABOY:

Com 14 anos, muitos meninos querem apenas jogar bola, mas foi com essa idade que Daniel Goaboy começou afazer seus primeiros traços nos muros da cidade. Antes mesmo de ter sua primeira namorada, o rapaz jáempunhava uma lata de spray. O que começou como uma forma de irritar os pais cresceu e hoje se tornou umaforma de se expressar, uma paixão, um estilo de vida. No entanto, até o rapaz se firmar no mundo do grafite foiuma longa caminhada.

“Eu comecei como pichador. Queria ter fama, ser reconhecido no mundo da pichação. Como muitos outrospichadores, já estava acostumado a levar safanão de policial, mas um dia fui preso. Passei duas noites na cadeiapor invasão. Saí depois de pagar fiança, mas vi que aquilo não era pra mim”. Depois de pagar a fiança e ganhar aliberdade, motivado também pela gravidez da esposa, Goaboy decidiu se afastar do piche e seguir no grafite. Uniu-se então a um grupo de grafiteiros, formando a Máfia 44.

Apelo contra as drogas

Não há quem não passe pelo Centro de Niterói e não pare para observar o painel que traz a seguinte frase: “Você éum Craque na vida, ou sua vida é craque?”. O grafite, feito pelo Máfia 44, chama a atenção pela qualidadeartística e pela mensagem referente ao uso das drogas. Este é apenas mais um dos trabalhos da equipe que Goaboydefine como “um grupo de arte urbana. Além de grandes amigos, muito mais que um grupo de grafiteiros”.

A explicação para esta definição vem do fato de, além do grafite, eles também produzirem música e fotografia.Tendo como marca registrada do trabalho a preocupação com temas sociais e urbanos, eles transformam a ruanuma grande galeria de artes aberta, opção para aqueles que não têm a oportunidade de frequentar os museus.

Apesar da paixão declarada pela arte, Goaboy concilia a pratica com a profissão de web design, da qual retira osustento de sua família. Ele trabalha como gerente de produção visual de uma agência de turismo em Icaraí, bairronobre de Niterói. “Eu faço isso por amor, porque infelizmente o grafite não coloca comida no prato de ninguém. Eainda tem gente que acha que grafiteiro é vagabundo. Todo mundo da Máfia e a maior parte dos carasindependentes que a gente conhece estuda ou trabalha e faz grafite quando dá, quando tem tempo”, argumenta orapaz.

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