22. GOODMAN, Nelson. O Modo como o Mundo é

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O MODO COMO O MUNDO ɥ

Nelson Goodman

1. IntroduçãoFilósofos algumas vezes confundem as características do discurso com as

características do conteúdo do discurso. Nós dificilmente concluiríamos que o mundoconsiste de palavras apenas porque com elas fazemos as descrições verdadeiras, mas, àsvezes, supomos que a estrutura do mundo é igual à estrutura da descrição. Esta tendênciapode chegar ao ponto do línguomorfismo, quando concebemos o mundo como compostode objetos atômicos correspondendo a nomes próprios determinados e fatos atômicoscorrespondendo à sentenças atômicas. Uma reductio ad absurdum emerge quando umfilósofo ocasional mantém que uma descrição simples pode ser adequada somente se omundo é simples; ou afirma (e eu tenho ouvido isto ser dito com toda seriedade) que umadescrição coerente seria uma distorção a menos que o mundo fosse coerente. De acordocom essa linha de pensamento, suponho que antes de descrever o mundo em inglêsdeveríamos decidir se ele está escrito em inglês, e deveríamos examinar muitocuidadosamente como ele é soletrado.

Obviamente, o idioma, a pronúncia, a tipografia e a verbosidade de uma descriçãonão refletem nenhuma característica paralela no mundo. Coerência é uma característica dasdescrições, não do mundo: a questão importante não é se o mundo é coerente, mas se anossa explicação dele o é. E o que chamamos de simplicidade do mundo é apenas asimplicidade que somos capazes de alcançar ao descrevê-lo.

Mas confusão do tipo que estou falando é relativamente transparente no nível desentenças isoladas, e portanto relativamente menos perigosa que o erro de supor que aestrutura de uma descrição sistemática verídica espelha rigorosamente a estrutura domundo. Uma vez que um sistema tenha termos ou elementos básicos ou primitivos e umahierarquia gradual construída a partir deles, facilmente chegamos a supor que o mundodeve consistir de elementos atômicos correspondentes colocados juntos de modo similar.Nenhuma teoria defendida em anos recentes por filósofos de primeiro time parece maisobviamente errada do que a teoria pictórica da linguagem. Apesar disso, ainda encontramosfilósofos perspicazes recorrendo sob pressão à uma noção de qualidades ou partículasabsolutamente simples. E muitos daqueles que evitam pensar o mundo como divisível demodo único em elementos absolutos ainda supõem comumente que significados resolvemisto de modo único, e assim aceitam o absolutismo escondido envolvido na manutenção dadistinção entre proposições analíticas e sintéticas.

Contudo, neste artigo, não estou preocupado com nenhum destes problemas maisespecíficos que somente mencionei acima, mas com uma questão mais geral. Tenhoenfatizado os perigos de confundir certas características do discurso com as característicasdo mundo. Este é um tema recorrente para mim, mas não é mesmo meu principal interesseaqui. O que eu quero discutir é um sentimento desconfortável que me aparece sempre queadvirto contra a confusão em questão. Posso ouvir o anti-intelectualista, o místico – meu

¥ Traduzido por Celso R. Braida e Noeli Ramme a partir do original “The way the world is”, publicado em Problemsand Projects, Indianápolis and New York, The Bobbs-Merrill Company, 1972.

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arquiinimigo – dizendo algo como isto: "Sim, isso é exatamente o que eu venho lhedizendo sempre. Todas as nossas descrições são pobres paródias. Ciência, linguagem,filosofia, percepção – nenhuma dessas jamais pode revelar fielmente o mundo como ele é.Todas fazem abstrações ou convencionalizações de um tipo ou de outro, todas filtram omundo através da mente, através dos conceitos, através dos sentidos, através da linguagem;e todos estes meios de filtragem de algum modo distorcem o mundo. Não é apenas quecada um fornece uma verdade parcial, mas que cada um introduz uma distorção própria.Nunca alcançamos mesmo em parte um retrato realmente fiel do modo como o mundo é.”

Aqui fala o bergsoniano, o obscurantista, aparentemente repetindo minhas própriaspalavras e perguntando, com efeito, “Qual é a diferença entre nós? Não podemos seramigos?” Antes de desejar admitir que a filosofia deve fazer alianças tão estranhas, devofazer um esforço para formular nossas diferenças. Mas começarei discutindo algumasquestões preliminares relacionadas a este problema.

2. O Modo Como o Mundo é DadoTalvez possamos lançar alguma luz sobre o modo como o mundo é dado examinando

o modo como ele nos é dado na experiência. A questão do dado tem um som ligeiramenterançoso nestes dias. Mesmo filósofos mais austeros tornaram-se um pouco auto-conscientesacerca da futilidade de seus debates sobre o dado e tiveram a graça de refrasear o tema emtermos de “elementos base” ou “sentenças protocolares”. Mas, de um modo ou de outro,seguimos um bom conselho dedicando-nos aos elementos originais, básicos e simples, apartir dos quais todo conhecimento é construído. Conhecer é tacitamente concebido comoum processamento de material bruto em um produto acabado; e uma compreensão doconhecimento supõe requerer que nós descubramos o que é esse material bruto.

À primeira vista, isto parece muito fácil. Carnap desejava que os elementos básicosdo seu sistema no Aufbau chegassem o mais próximo possível daquilo que éepistemologicamente primário. Para chegar a isto, diz ele, devemos retirar da experiênciaordinária tudo que resulta de alguma análise a qual tenhamos submetido o que recebemosinicialmente. Isto significa eliminar todas as divisões entre limites espaciais ouqualitativos, de tal modo que nossos elementos sejam grandes pedaços, cada um contendotudo da nossa experiência em determinado momento. Mas, dizer isto é fazer divisõestemporais artificiais; e o dado real, Carnap infere, não consiste desses grandes pedaços,mas de um único fluxo.

Porém, este modo de abordar o dado assume que os processos de conhecimento sãotodos processos de análise. Outros filósofos supõem, ao contrário, que os processos sãotodos processos de síntese, e que o dado consiste então de partículas mínimas que tem queser combinadas umas com as outras no conhecimento. Ainda, outros pensadores mantémque ambas estas vias são muito extremas, e que o mundo é dado em peças mais familiaresde tamanho médio, às quais tanto a análise quanto a síntese são aplicadas. Assim, comvistas à metafísica do dado, encontramos duplicado o monismo, o dualismo e o pluralismointermediário. Mas, qual visão do dado é a correta?

Olhemos mais de perto a questão. Os vários pontos de vista não diferem sobre o queé contido no dado, ou sobre o que é encontrado ali. Uma certa apresentação visual, todosconcordam, contém certas cores, lugares, desenhos, etc.; ela contém ao menos as partículasperceptíveis e é um todo. A questão não é se o dado é um só pedaço indiferenciado oucontém muitas partes pequenas; ele é um todo composto de tais partes. O problema não é o

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quê é dado, mas como ele é dado. Ele é dado como um único todo ou ele é dado comomuitas pequenas partículas? Isto captura o problema preciso – e ao mesmo tempo revelasua vacuidade. Pois eu penso que nenhum sentido pode ser dado à frase “dado como”. Queuma experiência seja dada em várias partes certamente não significa que estas partes sejamapresentadas separadamente; nem pode significar que estas partes são separadas uma dasoutras por linhas perceptíveis de demarcação. Pois, se tais linhas de demarcação estão lá,elas estão dentro do dado, para qualquer visão do dado. O mais próximo que nós podemoschegar para dar um sentido à questão de que mundo é dado como seria dizer que istoresolve-se na questão de se o material em questão é apreendido com um tipo de sentimentode completude ou um sentimento de fragmentação. Chegar próximo a encontrar umsignificado para dado como não é chegar suficientemente próximo para fazer um juízo.

Assim, receio que não obtemos nenhuma luz sobre o modo como o mundo éperguntando pelo modo como ele é dado. Pois a questão sobre o modo como ele é dadoevapora-se no ar.

3. O Modo como o Mundo é para Ser Visto.Talvez possamos avançar perguntando como o mundo é melhor visto. Se podemos,

com alguma confiança, graduar modos de ver ou retratar o mundo de acordo com seusgraus de realismo, de ausência de distorção, de fidelidade em representar o modo como omundo é, então, seguramente podemos, fazendo uma inversão destes, aprender algumacoisa sobre o modo como o mundo é.

Precisamos considerar as nossas idéias sobre figuras apenas por um momento parareconhecer isto como uma abordagem encorajadora. Pois avaliamos figuras muitofacilmente de acordo com seu grau aproximado de realismo. A figura mais realista é aquelamais semelhante à uma fotografia colorida; e figuras tornam-se progressivamente menosrealistas, e mais convencionalizadas ou abstratas, na medida em que se afastam daquelepadrão. O modo como vemos melhor o mundo, o acesso figurativo mais próximo ao modocomo o mundo é, é modo como a câmera o vê. Esta versão do problema é simples, direta, eaceita geralmente. Mas, em filosofia, como em qualquer outro lugar, toda linha prateadaenvolve uma grande nuvem negra – e esta visão descrita tem tudo a seu favor, exceto queela é, eu penso, inteiramente errada.

Se tomo uma fotografia de um homem com seus pés na minha direção, os péspoderão parecer tão grandes como seu torso. Este é o modo como normalmente ouapropriadamente vejo o homem? Se é, porque então chamamos tal foto de distorcida? Senão, então não posso mais alegar tomar a visão fotográfica do mundo como meu padrão defidelidade.

O fato é que esta fotografia 'distorcida' chama nossa atenção para algo sobre ver quetínhamos ignorado. Exatamente na medida em que ela difere de uma representação'realística' ordinária, ela revela novos fatos e possibilidades na experiência visual. Porém, afotografia 'distorcida' é um exemplo muito trivial de algo muito mais geral e importante. A'distorção' da fotografia é comparável com a distorção dos novos ou não-familiares estilosde pintura. Qual é o retrato mais fiel de um homem – um feito por Holbein ou por Manetou um de Sharaku ou de Dürer ou de Cézanne ou de um feito por Picasso? Cada diferentemodo de pintar representa um modo de ver; cada um faz suas seleções, suas ênfases; cadaum usa seu próprio vocabulário de convencionalização. E precisamos apenas olhar a fundonas pinturas de tais artistas para ver o mundo também do mesmo modo. Pois ver é uma

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atividade e modo como a executamos depende em grande parte do nosso treinamento. Eulembro J. B. Neumann dizendo que quando ele viu pela primeira vez faces de umaaudiência cinematográfica no brilho refletido na tela ele primeira vez compreendeu comoum escultor africano via faces. O que percebemos como as figuras mais realistas são merasfiguras do tipo pelas quais a maioria de nós foi, infelizmente, educada. Um africano ou umjaponês iria certamente fazer uma escolha diferente quando solicitado a selecionar figurasque mais proximamente reproduzem o que ele vê. Nossa resistência para novos ou exóticosmodos de pintura deriva da nossa normal resistência letárgica ao retreinamento; e, por outrolado, há a excitação na aquisição de novas capacidades. Assim, a descoberta da arteafricana mexeu com os pintores franceses e eles aprenderam novos modos de ver e pintar.O que é menos admitido é que a descoberta da arte européia é excitante para o escultorafricano pelas mesmas razões; ela mostra para ele um novo modo de ver, e ele, também,modifica seu trabalho respectivamente. Infelizmente, enquanto a absorção européia doestilo africano geralmente resulta em um avanço artístico, a adoção africana do estiloeuropeu em geral sempre leva à deterioração artística. Mas isso é por razões acidentais. Aprimeira é que a deterioração social dos africanos é geralmente simultânea com aintrodução da arte européia. A segunda razão é ainda mais intrigante: que enquanto oartista francês foi influenciado pelo melhor da arte africana, o africano foi sem dúvidaalimentado com arte de calendário de modelos. Tivesse ele visto escultura grega oumedieval ao invés disso, o resultado poderia ter sido radicalmente diferente. Mas eu estoufazendo digressões.

O resultado de tudo isso é que nós não podemos chegar a alguma coisa sobre o modocomo o mundo é perguntando sobre o melhor ou mais fiel, ou mais realístico modo de vê-loou representá-lo. Pois os modos de ver e figurar são muitos e variados; alguns são fortes,efetivos, úteis, intrigantes ou sensíveis; outros são fracos, cômicos, desanimados, banais ouconfusos. Porém, mesmo se todos os últimos fossem excluídos, ainda assim nenhum dosoutros pode fazer uma boa defesa de ser o modo de ver ou pintar o mundo do modo como omundo é.

4. O Modo como o Mundo deve ser Descrito.Chegamos agora à uma versão mais familiar da questão acerca do modo como o

mundo é. Como o mundo deve ser descrito? Aquilo que nós chamamos uma versãoverdadeira representa fielmente o mundo?

A maioria de nós tem tinindo nos ouvidos a afirmação de Tarski que "está chovendo"é verdadeira se e somente se está chovendo, bem como sua observação (que eu penso sererrônea, mas que está fora do ponto aqui) que a aceitação dessa fórmula implica naaceitação de uma teoria da verdade como correspondência. Este modo de por a questãoencoraja uma tendência natural de pensar a verdade em termos de espelhar ou reproduzirfielmente; e nós temos um ligeiro choque quando nos acontece perceber o fato óbvio que asentença "está chovendo" é tão diferente quanto possível da tempestade. Esta disparidade éa mesma tanto para uma descrição falsa quanto para uma descrição verdadeira. Felizmente,assim nós não precisamos aqui nos preocuparmos com o difícil problema técnico danatureza da verdade; nós podemos restringir nossa atenção às descrições tidas comoverdadeiras. O que devemos encarar é o fato de que mesmo as descrições mais verdadeirasnão chegam perto de reproduzir fielmente o modo como o mundo é.

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Uma descrição sistemática do mundo, como eu salientei antes é mais vulnerável aesta pressão; pois ela tem primitivos explícitos, rotas de construção, etc., nenhuma destascaracterísticas pertencem ao mundo descrito. Alguns filósofos objetam, contudo, que sedescrições sistemáticas introduzem uma ordem arbitrariamente artificial, então nósdeveríamos fazer nossas descrições de um modo assistemático para torná-las maisconformes ao mundo. Agora, a assunção tácita aqui é que os quesitos nos quais umadescrição é insatisfatória são justamente aqueles em relação aos quais ela falha em seruma figuração fiel; e o objetivo tácito é alcançar uma descrição que tanto quanto é possívelnos dá uma semelhança viva. Mas o objetivo é ilusório. Por que nós temos visto que omodo mais realista de representar acaba num mero tipo de convencionalização. Em pintura,as seleções, as ênfases, as convenções são diferentes mas não menos peculiares ao veículo,e não menos variáveis, que aquelas da linguagem. A idéia de fazer descrições verbais seaproximarem de pinturas figurativas perde seu ponto quando entendemos que tornar umadescrição uma figuração o mais fiel possível conduziria a nada mais do que trocar umasconvenções por outras.

Portanto, nem o modo como o mundo é dado, nem nenhum modo de ver ou figurar oudescrever nos conduz ao modo como o mundo é.

5. O Modo como o Mundo é.Agora chegamos à questão: qual, então, é o modo como o mundo é? Estou eu

ameaçado com a amizade dos meus inimigos? Parece que sim, pois eu justamente chegueià conclusão do místico de que não existe representação do modo como o mundo é. Mas, sena superfície nosso acordo parece ter sido reforçado, uma segunda mirada mostrará comoele foi solapado pelo que nós estivemos dizendo.

A acusação de que uma dada descrição verdadeira distorce ou é infiel ao mundo temimportância em termos de alguma gradação de acordo com fidelidade, ou em termos deuma diferença em graus de fidelidade entre descrições verdadeiras e boas pinturas. Mas senós dizemos que todas as descrições verdadeiras e boas pinturas são igualmente infiéis,então de que exemplo ou padrão de fidelidade relativa nós estamos falando? Nós não temosmais diante de nós nenhuma noção clara do que a fidelidade deveria ser. Assim eu rejeito aidéia de que existe algum teste de realismo ou fidelidade juntamente com testes de boapintura e verdade descritiva. Há muitas descrições verdadeiras igualmente diferentes everdadeiras do mundo, e sua verdade é o único padrão de sua fidelidade. E quando nósdizemos delas que todas elas envolvem convencionalizações, nós estamos dizendo quenenhuma destas descrições diferentes é exclusivamente verdadeira, pois as outras tambémsão verdadeiras. Nenhuma delas nos diz o modo como o mundo é, mas cada uma delas nosdiz um modo como o mundo é.

Se eu fosse perguntado qual é o alimento para o homem. Eu deveria responder"nenhum". Pois existem muitos alimentos. E se me perguntarem qual é o modo como omundo é, eu devo igualmente responder "nenhum". Pois o mundo é de vários modos. Omístico mantém que há algum modo como o mundo é e que este modo não é capturado pornenhuma descrição. Para mim não existe nenhum modo que seja o modo como o mundo é;e assim obviamente nenhuma descrição o pode capturar. Mas, há muitos modos como omundo é, e toda descrição verdadeira captura um deles. A diferença entre o meu amigo e eué, em suma, a enorme diferença entre o absolutismo e o relativismo.

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Desde que o místico está preocupado com o modo como o mundo é e ele que o modonão pode ser expresso, sua última resposta à questão sobre o modo como o mundo é deveser, como ele reconhece, o silêncio. Como eu estou mais preocupado com os modos como omundo é, minha resposta deve ser construir uma ou mais descrições. A resposta à questão"Qual é o modo como o mundo é? Quais são os modos como o mundo é?" não é oemudecimento, mas uma tagarelice.

6. Pós-escritoNo começo deste artigo, falei da falsidade óbvia da teoria pictórica da linguagem. Eu

declarei muito presumidamente que uma descrição não figura o que ela descreve, oumesmo representa a estrutura do que ela descreve. A objeção devastadora contra a teoriapictórica da linguagem era que uma descrição não pode representar ou espelhar realmente omodo como o mundo é. Porém, ainda observamos que uma pintura também não faz isso.Comecei abandonando uma teoria pictórica da linguagem e acabei adotando uma teorialingüística das pinturas. Eu rejeitei a teoria pictórica da linguagem pela razão de que aestrutura de uma descrição não se conforma à estrutura do mundo. Mas então eu concluíque não existe tal coisa como a estrutura do mundo com relação a qual algo poderia ou nãoestar conforme. Você pode dizer que a teoria pictórica da linguagem é tão falsa e tãoverdadeira quanto a teoria pictórica da pintura; ou em outras palavras, que o que é falso nãoé a teoria pictórica da linguagem mas uma certa noção absolutista com relação à pintura e àlinguagem. Talvez eventualmente eu possa aprender que o que parece mais obviamentefalso algumas vezes não o é.

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