251-450 Ciadoscursos Aqi Apostila

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  • MARKETING NA ARQUITETURA Disciplina do curso de Ps-Graduao em Arquitetura de Interiores Unicsul - Cia dos Cursos

    Professor nio Padilha | www.eniopadilha.com.br | [email protected] 2

    UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

    Curso: PS GRADUAO - ARQUITETURA DE INTERIORES

    Disciplina: MARKETING NA ARQUITETURA

    Prof.: nio Padilha

    Mdulo: 11 - Ano: 2009

    C.H. terica: 20 h - C.H. prtica: 0 h/a - C.H. total: 20 h/a

    EMENTA: Fundamentos da Administrao. Administrao de mercado: marketing. Mix de Marketing. Marketing de Servi-os de Arquitetura. Plano de Marketing. Comunicao: publicidade, propaganda e vendas.

    OBJETIVO GERAL: Ao final do curso o estudante dever ser capaz de reconhecer o marketing como parte da Administrao. Deve-r compreender o conceito de mix de marketing. Dever identificar as principais caractersticas da prestao de servios de arquitetura. Dever ser capaz de entender as polticas de mercado como a essncia do marketing e a importncia dessa ferramenta para a Administrao de qualquer empreendimento. Dever ser capaz de ela-borar um plano de marketing exeqvel no curto, no mdio e no longo prazo e que possa, efetivamente, ser til no seu dia-a-dia. Dever, finalmente, ser capaz de identificar os canais de comunicao mais eficazes e eficien-tes para conectar o mercado aos servios de Arquitetura, integrando propaganda, publicidade e tcnicas de ne-gociao e venda.

    CONTEDO PROGRAMTICO Objetivos de

    Aprendizagem Contedos C.H.

    Estratgias

    de Ensino Avaliao Ref.

    Reconhecer a Admi-

    nistrao como uma

    rea do conhecimento

    essencial para o suces-

    so de uma empresa.

    Unidade 1

    Fundamentos da Adminis-

    trao: as quatro grandes

    reas da administrao.

    2

    h/a

    Aula expositiva, leitura e

    discusso de textos, apre-

    sentao de vdeos e de in-

    fogrficos.

    Teste1 no final do mdulo

    avaliando o conhecimento

    adquirido; Avaliao par-

    cial do Trabalho Final

    Entender as polticas

    de mercado como a

    essncia do marketing

    e a importncia dessa

    ferramenta para a

    Administrao de

    qualquer empreendi-

    mento.

    Unidade 2

    Administrao de mercado:

    marketing. Mix de Marke-

    ting

    6

    h/a

    Aula expositiva, leitura e

    discusso de textos, apre-

    sentao de vdeos e de in-

    fogrficos.

    Teste2 no final do mdulo

    avaliando o conhecimento

    adquirido; Avaliao par-

    cial do Trabalho Final

    Reconhecer as princi-

    pais caractersticas da

    Prestao de Servios

    de Arquitetura e suas

    conseqncias para o

    Marketing.

    Unidade 3

    Marketing de Servios de

    Arquitetura: caractersticas

    particulares

    4

    h/a

    Aula expositiva, leitura e

    discusso de textos, apre-

    sentao de vdeos e de in-

    fogrficos. Apresentao

    parcial do Trabalho final.

    Teste3 no final do mdulo

    avaliando o conhecimento

    adquirido; Avaliao par-

    cial do Trabalho Final.

    Entender os mecanis-

    mos da elaborao de

    um Plano de Marke-

    ting eficaz, eficiente e

    exeqvel nas limita-

    es de tempo e ora-

    mento financeiro.

    Unidade 4

    Plano de Marketing

    4

    h/a

    Trabalho em pequenos

    grupos.

    Apresentao de Semin-

    rio.

    Avaliao parcial do Tra-

    balho Final.

    Entender as diferenas

    entre publicidade,

    propaganda e vendas e

    como tirar o melhor

    proveito de cada uma

    dessas trs ferramen-

    tas.

    Unidade 5

    Comunicao: publicidade,

    propaganda e vendas.

    4

    h/a

    Aula expositiva, leitura e

    discusso de textos, apre-

    sentao de vdeos e de in-

    fogrficos. Apresentao

    parcial do Trabalho final.

    Teste 4.

    Entrega do Trabalho Final.

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    INTRODUO

    Apesar de a palavra marketing circular no Brasil de

    hoje como qualquer termo ligado ao futebol ou msica

    o conceito de marketing ainda muito pouco entendi-

    do. Quase todos os chefes, gerentes ou diretores de

    marketing das empresas so, na verdade, chefes, geren-

    tes ou diretores de vendas, publicidade, propaganda ou

    coisas do gnero. Para a maioria das empresas, inves-

    tir em marketing significa investir em propaganda,

    vendas agressivas, relaes pblicas ou qualquer outro

    tipo de comunicao com o mercado.

    Evidentemente, o marketing muito mais do que isso e

    a nica explicao possvel para esse desvio de signifi-

    cao que ocorre no Brasil (e s no Brasil, importan-

    te frisar) a deficincia na educao do povo, que se

    manifesta em todos os nveis, o que inclui o empresari-

    ado. Muita gente assume comportamentos por puro

    modismo e incorpora significados s palavras por ou-

    vir dizer ou por ter lido uma orelha de livro. Poucos

    so, no pas, os que se dispem a investigar em pro-

    fundidade qualquer conceito, sendo que a maioria, o

    que inclui muita gente com formao superior, sucum-

    be s definies simplistas do senso comum.

    Alm disso, o marketing um conceito relativamente

    recente. Apesar de ter surgido no incio do sculo pas-

    sado, por volta de 1900, ele ficou, at o incio dos anos

    50 circunscrito s fronteiras norte-americanas. Somen-

    te nos primeiros anos da dcada de 1950 que ele foi

    adotado na Europa e no Brasil. E so tambm, dessa

    poca (dcadas de 50 e 60), os autores clssicos mais

    conhecidos como Neil H. Borden, que introduziu o

    conceito de mix de marketing; Jerome E. McCarthy,

    que sintetizou esse conceito com os hoje famosos

    4Ps (Produto, Preo, Promoo e Ponto Comercial) e

    Philip Kotler que foi responsvel pela grande divulga-

    o dada a esses conceitos, alm de Theodore Levitt,

    que introduziu o conceito de Marketing Miopia.

    A American Marketing Association (AMA) define

    marketing como uma funo organizacional e uma s-

    rie de processos para a criao, comunicao e entrega

    de valor para clientes e para a gerncia de relaciona-

    mentos com eles de forma que beneficie a organizao

    e seus stakeholders. Como tudo o que vem de outro

    pas, o marketing, para ter no Brasil uma utilizao e-

    ficaz necessita sofrer a devida adaptao, entre outras

    coisas pelo fato de que os povos simplesmente so di-

    ferentes. Por isso, para que uma empresa possa tirar

    proveito do conceito integrado de marketing, no basta

    criar um setor de pesquisa de mercado ou adotar um

    plano de publicidade. Raimar Richers, no seu livro

    Marketing: um desafio nacional, de 2000, j afirma

    que tanto a pesquisa quanto a publicidade s come-

    am a contribuir efetivamente quando se entrosam com

    a viso sistmica do conceito. E preciso tambm

    compreender o conceito como resultado de um proces-

    so histrico que tem vnculos com os fatos e entendi-

    mentos presentes.

    Nesses 100 anos de existncia, as interaes entre for-

    necedores e consumidores e entre fornecedores e a so-

    ciedade sempre foram o ponto central do interesse do

    marketing. Volta-se, aqui, ao tema inicial desse texto:

    como o marketing visto pelas pessoas em geral. O

    marketing , na verdade, uma coisa muito grande. Um

    conceito muito amplo, que engloba muitas dimenses.

    Isso, certamente, dificulta a absoro e o entendimento

    das pessoas no Brasil, que foram acostumadas infor-

    mao imediata, superficial, simplificada, direta.

    Qualquer explicao mais elaborada logo taxada de

    mera filosofia e descartada sem remorsos. Esse

    comportamento inclui, infelizmente, at as camadas

    mais educadas da sociedade. Trata-se de uma misria

    intelectual.

    O fato de as pessoas freqentemente confundirem

    marketing com publicidade e propaganda decorrente,

    tambm da circunstncia nada desprezvel de que a

    propaganda e os seus agentes, os publicitrios, consti-

    tuem a parte mais glamourosa do marketing. o lado

    artstico, criativo, divertido, instigante. Acresce que a

    publicidade aparece mais por um outro motivo: a

    parte do marketing que se relaciona com a mdia, que

    , numa conceituao mais ampla, o conjunto dos ve-

    culos de comunicao de massa. Ainda segundo Rai-

    mar Richers. a mdia brasileira ajuda a promover a fal-

    sa noo que associa o marketing malandragem, vi-

    garice e, sobretudo, do jeito de se autopromover cus-

    ta da sociedade, sendo que os principais atores dessa

    comdia de falsificaes so os nossos polticos, ou se-

    ja, os homens que ficam mais tempo expostos na mdia

    e que produzem verdadeiras prolas de ignorncia so-

    bre o assunto.

    Assim, o esforo dos estudiosos do marketing vai no

    sentido de entend-lo como um conceito amplo, uma

    tecnologia capaz de orientar a administrao de orga-

    nizaes atravs de pesquisas de marketing, segmenta-

    o de mercado, administrao do mix de marketing

    (produto, preo, distribuio e comunicao com o

    mercado) e do plano de marketing.

    O desafio grande, pois o tema complexo e muito

    amplo. A confuso criada em torno do verdadeiro sig-

    nificado da palavra marketing apenas uma das gran-

    des dificuldades dessa tarefa.

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    CRENAS, VALORES E PRINCPIOS

    Voc j deve ter ouvido (ou mesmo dito) coisas assim:

    "Eu voto em Fulano de Tal porque ele um homem de

    princpios!"; "Eu seria incapaz de cometer essa ou a-quela desonestidade. Eu sou uma pessoa de princpios!"

    Da maneira como falamos, muitas vezes, alimentamos

    a falsa crena de que ter princpios uma coisa prpria

    de pessoas boas, honestas e bem intencionadas.

    No bem assim.

    Princpios so definies prescritivas. So ditames mo-

    rais, regras pessoais. Leis de carter individual. Precei-tos.

    Princpios servem de base para o comportamento do

    indivduo. Definem como a pessoa vai agir ou reagir

    diante de determinadas circunstncias. uma predispo-

    sio a fazer as coisas de uma determinada maneira,

    encarar de determinada forma ou assumir uma determi-nada atitude diante de determinadas situaes.

    Como se v, nada impede um bandido, um traficante ou

    um poltico corrupto de ter princpios? E eles geralmen-

    te os tm. Muitas vezes, de forma at mais clara do que a maioria das outras pessoas.

    Princpios geralmente so conseqncia do conjunto

    das crenas e valores. E todos temos nossas crenas e

    valores.

    Crena uma convico profunda e sem justificativas

    racionais. uma disposio meramente subjetiva para

    considerar algo certo ou verdadeiro, por fora do hbi-

    to. o processo mental de quem acredita em alguma coisa.

    J os Valores so as medidas variveis de importncia

    que se atribui a alguma coisa. Qualidade humana de na-

    tureza fsica, intelectual ou moral, que desperta admira-

    o ou respeito. Conjunto de padres que, por corpori-

    ficar um ideal de perfeio ou plenitude moral, deve ser

    buscado pelos seres humanos.

    Uma carreira profissional e mesmo a constituio de

    uma organizao profissional se sustenta em Princpios,

    que so decorrentes das Crenas e Valores. Mesmo os

    profissionais que nunca se preocuparam em pensar so-

    bre o assunto, possuem suas crenas e valores. E delas

    decorrem seus princpios que esto sempre norteando

    seus comportamentos pessoais, profissionais e empre-

    sariais.

    Por isto considero importantssimo que os profissionais

    tragam esta questo para o nvel consciente. Que ten-

    tem racionalizar sobre esta questo e tenham melhor

    domnio sobre essas coisas. Isto particularmente im-

    portante quando organizaes profissionais so consti-

    tudas sob a forma de sociedade, o que muito comum

    na Engenharia e na Arquitetura.

    preciso que os scios se perguntem: "no que acredi-

    tamos?" "O que valorizamos? o que consideramos im-

    portante?" e, finalmente possam ter claro "quais so os

    nossos princpios? como fazemos as coisas? como agi-mos e reagimos em determinadas circunstncias?"

    Nos exemplos abaixo so enunciadas algumas crenas

    e/ou valores e, em seguida, o princpio decorrente.

    Ao v-los provvel que voc, leitor, perceba que aqui-

    lo que voc faz com frequncia est de acordo com os

    seus pricpios. At mesmo alguns que voc nem sabia

    que tinha.

    Crena: Acredito que a educao formal obtida atravs

    da escoola regular um fator determinante do desen-

    volvimento de conhecimentos e habilidades capazes de

    transformar um indivduo, dando a ele liberdade e in-dependncia.

    Princpio da EDUCAO FORMAL: Valorizar e

    dar preferncia, sempre, para profissionais que tenham

    investido em EDUCAO FORMAL, com cursos re-gulares e presenciais, em escolas tradicionais.

    Outro princpio decorrente da mesma crena: PROFIS-SIONALISMO - a especificidade das profisses.

    Todas as atividades para as quais existem profissionais

    especialista devem ser executadas por esses especialis-

    tas. A cada um cabe fazer aquilo que sabe fazer bem

    feito e repassar para terceiros especializados as ativida-

    des que tenham essas demandas.

    No caso de um Escritrio de Engenharia ou de Arquite-tura essas atividades seriam:

    - Contabilidade

    - Design grfico

    - Web design

    - Limpesa e reforma

    - Cpias e encadernaes

    - Instalao e Manuteno de equipamentos - Administrao financeira (controle)

    Crena: Uma pessoa s poder se realizar como indi-vduo se for independente.

    Princpio da INDEPENDNCIA: quando houver

    possibilidade de opo entre duas ou mais atividades,

    escolher sempre aquela que esteja menos sujeita a deci-so de terceiros.

    Evitar atividades que estejam atreladas a interesses (po-lticos ou pessoais) de terceiros.

    Crena: Acredito que a informalidade uma das cau-

    sas importantes da mortalidade empresarial porque as

    leis trabalhistas e tributrias so muito rigorosas, de di-fcil negociao e no prescrevem.

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    Princpio da LEGALIDADE: A empresa dever ser

    100% legalizada. Todos os servios prestados devero

    ser objeto de Nota Fiscal; Todos os funcionrios deve-

    ro ter registro em carteira; todos os impostos devero

    ser pagos. Os custos dos impostos devero ser conside-rados no processo de precificao.

    Em decorrncia disso, somente interessa operar em

    mercados capazes de absorver preos que incluam a

    formalidade da empresa.

    Crena: Acredito que no h sentido em trabalhar com

    pessoas sem que haja uma relao de respeito e confi-ana mtua.

    Princpio da CONFIANA: importante selecionar

    criteriosamente funcionrios e prestadores de servios

    levando-se em conta o respeito e a confiana que pode

    ser depositada. A partir da, confiar plenamente nessas

    pessoas, delegando-lhes tarefas, responsabilidades e au-tonomia.

    Crena: Acredito que os empregados sero mais inte-

    ressados e comprometidos com a empresa se tiverem

    informaes detalhadas sobre o movimento comercial e financeiro da empresa.

    Princpio da TRANSPARNCIA ADMINISTRA-

    TIVA: Todas as informaes sobre os negcios e o

    movimento financeiro da empresa devem ser do conhe-cimento dos empregados.

    Naturalmente isto requer uma relao de completa con-

    fiana entre as partes. (veja o princpio da CONFIAN-A, acima)

    Crena: Acredito que nenhum profissional de Enge-

    nharia ou de Arquitetura consegue exercer plenamente

    suas potencialida-des profissionais sem estar intensa-mente interligado a outros profissionais de reas afins.

    Princpio da INTERDISCIPLINARIDADE: Para a

    realizao de qualquer trabalho devemos recomendar e

    recorrer profissionais de outras especialidades para a

    realizao de trabalhos para os quais no temos forma-

    o adequada. Com isto estaremos valorizando os cole-

    gas, melhorando o nvel do produto final, fornecendo

    aos clientes o melhor atendimento possvel e ampliando

    nossa rede de relacionamentos profissionais.

    A eventual renncia a rendimentos financeiros que esse

    comportamento poder trazer ser amplamente com-

    pensada pelo volume de trabalho que a conjuntura construda ir nos proporcionar.

    Essa discusso sobre Crenas, Valores e Princpios

    muito importante porque ela define as suas aes como

    profissional e como empresrio (empreendedor). Os

    Princpios constituem o Estatuto da sua atividade pro-

    fissional. Se eles no forem muito bem conhecidos e

    compreendidos como decorrncia natural das crenas e valores, voc no ter o leme da sua embarcao.

    Observe que princpios vm depois das crenas e dos

    valores. Princpios so consequncias.

    Crenas e Valores so as coisas que desaguam nos

    princpios, que, por sua vez, so aes naturais (auto-mticas).

    Como foi dito antes, todos tm crenas e valores e, em

    decorrncia dessas crenas e valores, todos tm princ-

    pios. Ento a questo saber como as nossas crenas e valores se manifestam.

    Uma vez identificada a crena ou o valor, as perguntas

    seguintes so "qual a ao correspondente?" "o que

    voc geralmente faz por conta dessa crena?" "que tipo

    de comportamento padro voc assume SEMPRE por

    conta de ter essa crena?"

    Depois s traduzir isso em termos de uma lei. Uma

    norma, um ditame moral, uma regra pessoal, uma lei

    carter individual, um preceito que serve de base para o comportamento.

    Os princpios devem ser enunciados como regras ge-

    rais. Tanto melhor quando determinam as circunstn-

    cias. Por exemplo, "se a casa estiver pegando fogo e

    no houver pessoas em risco, tentarei salvar os docu-

    mentos importantes, no me importando em salvar os eletroeletrnicos."

    Voc deve estar percebendo que esta a fase mais de-

    morada, mais trabalhosa e mais chata do processo de

    planejamento do escritrio. Mas uma etapa que no

    pode ser pulada. Essa discusso, digamos, filosfica,

    a fundao da obra! No se deve fazer isso "na corri-

    da". Isto a filosofia do negcio. a filosofia por trs da gesto. Tem de ser feito com vagar e com cuidado

    nio Padilha

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    ADMINISTRAO As reas da Administrao

    A Administrao, Composta de quatro grandes

    reas de atuao:

    1) ADMINISTRAO DA PRODUO

    A administrao de produo envolve o mesmo

    conjunto de atividades para qualquer tamanho de

    organizao. Nas organizaes onde o lucro no

    a finalidade, o importante direcionar a adminis-

    trao de produo com o objetivo de atingir os

    objetivos estratgicos de longo prazo da organiza-

    o (que garantam a sua continuidade).

    O modelo bsico da Gerncia de operaes obe-

    dece ao seguinte ciclo:

    Entradas >> Transformao >> Sadas

    Transformao o uso de recursos para mudar o

    estado ou condio de algo para produzirem sa-

    das. A maioria das operaes produz tanto bens

    como servios. Os processos de transformao

    podem ser de vrios tipos:

    1. De materiais: processa suas propriedades fsi-

    cas (forma, composio, caractersticas), localiza-

    o (empresas distribuidoras ou de frete) ou posse

    (empresas de varejo).

    2. De informaes: processa a forma da informa-

    o (ex. contadores), localizao (ex. empresa de

    telecomunicaes) ou posse (ex. consultoria, ser-

    vios de notcias, etc.).

    3. De consumidores: processam condies fsicas

    (ex. mdicos), de localizao (acomodao: ex.

    hotis), de estado psicolgico (indstria do entre-

    tenimento), etc.

    O que significa PRODUO para um escrit-

    rio de Engenharia ou Arquitetura?

    Produto pode ser definido como o resultado de um

    processo produtivo.

    Produto aquilo que um fornecedor disponibiliza

    para o mercado. aquilo que o fornecedor tem

    para vender.

    (pode ser um bem ou um servio)

    A Administrao da Produo consiste em organi-

    zar e controlar o processo produtivo, desde o aces-

    so s matrias primas at a entrega ao cliente.

    Como planejar e controlar a produo

    (Os Princpios da Administrao Cientfica e a

    sistematizao dos Processos)

    1. Princpio do planejamento Separar quem produz de quem planeja.

    2. Princpio da seleo dos trabalhadores Selecionar cientificamente os trabalhadores de a-

    cordo com suas aptides para determinadas tarefas

    3. Principio da instruo Consiste em prepar-los e trein-los para produzi-

    rem mais e melhor, de acordo com o mtodo pla-

    nejado, e em preparar mquinas e equipamentos

    em um arranjo fsico e disposio racional. Pres-

    supe o estudo das tarefas ou dos tempos e movi-

    mentos e a Lei da fadiga)

    4. Princpio de Controle Consiste em controlar o trabalho para se certificar

    De que o mesmo est sendo executado de acordo

    com o mtodo estabelecido e segundo o plano de

    produo.

    Atividade que se responsabiliza pela transforma-

    o de entradas (de materiais e servios) em sa-

    das (de outros materiais e servios), gerenciando

    todas as atividades necessrias para que isso ocor-

    ra.

    2) ADMINISTRAO FINANCEIRA

    Trata dos assuntos relacionados administrao

    das finanas de empresas e organizaes.

    Est diretamente ligada a Economia e a Contabili-

    dade.

    Todo administrador da rea de finanas deve levar

    em conta, os objetivos dos acionistas e donos da

    empresa, para da sim, alcanar seus prprios ob-

    jetivos, pois conduzindo bem o negocio, cuidando

    eficazmente da parte financeira, conseqentemen-

    te ocasionar o desenvolvimento e prosperidade

    da empresa, de seus proprietrios, scios, colabo-

    radores internos e eternos, e logicamente de si

    prprio no que tange ao retorno financeiro, mas

    principalmente a sua realizao como profissional

    e pessoal.

    --- O que importante observar (e controlar) na

    contabilidade de uma empresa de Engenharia ou

    de Arquitetura

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    --- O que importante observar (e controlar) nas

    finanas de uma empresa de Engenharia ou de

    Arquitetura?

    --- Fluxo de Caixa

    --- Princpios de precificao para servios de

    Engenharia e Arquitetura.

    3) ADMINISTRAO DE PESSOAL

    uma atividade executada pelo departamento de

    recursos humanos de uma empresa com a finali-

    dade de escolher quem seja qualificado para traba-

    lhar para a empresa diante de uma srie de candi-

    datos.

    Na gesto organizacional, chamado recurso hu-

    mano o conjunto dos empregados ou dos colabo-

    radores dessa organizao. Mas o mais freqente

    deve chamar-se assim funo que ocupa para

    adquirir, desenvolver, usar e reter os colaborado-

    res da organizao.

    O objetivo bsico que persegue a funo de Re-

    cursos Humanos (RH) com estas tarefas alinhar

    as polticas de RH com a estratgia da organiza-

    o, que reservar para implanta a estratgia atra-

    vs dos povos.

    Contratar o profissional ideal no fcil. Nem

    sempre uma seleo realizada com todo carinho

    detecta o profissional que gostaramos de ter como

    parceiro. Vejo um perfil adequado naquele que,

    no apenas veste a camisa da empresa, mas, so-

    bretudo se compromete com o seu trabalho: fiel,

    leal, toma decises, possui habilidade para se rela-

    cionar com todos os outros colaboradores, antena-

    do, visionrio, dinmico, disciplinado, livre de

    preconceitos.

    --- Seleo

    --- Treinamento

    --- Transparncia administrativa

    4) ADMINISTRAO DE MERCADO

    (MARKETING)

    Mix de marketing ou composto mercadolgico uma

    expresso muito usada em marketing. No entanto, a

    imensa maioria das pessoas no sabe o seu exato signi-

    ficado. Muita gente (talvez at voc mesmo), se tiver

    que responder pergunta o que mix de marketing?

    vai responder mais ou menos o seguinte: Mix de

    marketing a composio de canais de comunicao

    utilizados por uma empresa para se apresentar ao

    mercado. Por exemplo: 10% via televiso, 30% no

    rdio, 25% em jornais, 15% em outdoors e 20% atra-

    vs de outras mdias alternativas. , em ltima an-

    lise, o conjunto de todos os tipos e meios de publici-

    dade e propaganda utilizados por uma empresa.

    Resposta errada! Mas porque ser que tanta gente

    pensa assim?

    Simples. Marketing lembra propaganda. E muito

    pouca gente imagina que marketing seja um assunto

    complexo, to cheio de interdisciplinaridades. Ento

    p-puf: falou marketing, lembrou propaganda. Mix de

    marketing, obviamente, mix de propaganda. No

    parece lgico?

    Parece. Mas no .

    E neste captulo ns vamos tentar esclarecer esse as-

    sunto pra voc.

    Comecemos pelo comeo: Marketing no , por mais

    que muita gente pense, APENAS propaganda, publici-

    dade, divulgao, comunicao... enfim, um conjunto

    de coisas que dizem respeito PROMOO do pro-

    duto ou da organizao. muito, muito mais!

    Esquea quase tudo o que voc sabe sobre o assunto.

    Sem querer ser arrogante ou prepotente posso afirmar,

    sem medo de errar, que mais de 90% de tudo o que se

    escreve em jornais e revistas sob o ttulo MARKE-

    TING , na verdade alguma coisa sobre propaganda,

    publicidade, vendas, comunicao, negociao...

    Quase todos os gerentes, chefes ou diretores de marke-

    ting das empresas so, na verdade, gerentes, chefes ou

    diretores de vendas, publicidade, propaganda ou coisa

    assim.

    Fazer marketing no , simplesmente, fazer propagan-

    da ou cuidar da divulgao do produto. Fazer marke-

    ting administrar TODAS as variveis que interferem,

    de forma direta ou indireta, na relao do produto (ou

    da organizao) com o seu mercado.

    Fazer marketing estabelecer POLTICAS DE MER-

    CADO. Mix de marketing (ou marketing mix, ou

    composto mercadolgico) o conjunto de todos os e-

    lementos que constituem a atividade comercial da

    empresa. o conjunto das polticas de mercado que

    uma empresa estabelece com o objetivo de criar, me-

    lhorar ou cristalizar uma percepo positiva do mer-

    cado (e no apenas dos clientes) em relao ao seu

    produto.

    Que elementos so esses? Que polticas de mercado

    so essas ?

    Para simplificar a memorizao os americanos criaram

    os mundialmente conhecidos 4Ps do Marketing. Cada

    P indica um desses elementos principais. Uma des-

    sas polticas de mercado. Product (Produto), Price

    (Preo), Place (Praa-Distribuio) e Promotion

    (Promoo) (*)

    No adianta ter a melhor propaganda do mundo se o

    produto ruim ou se o preo inadequado ao mercado

    ao qual o produto se destina. Ou se a distribuio do

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    produto (ponto comercial) compromete a possibilidade

    de ele vir a ser comprado.

    Na figura 4.1A, acima vemos uma representao, sob a

    forma de grfico pizza, do mix de marketing de uma

    empresa qualquer. O tamanho de cada fatia da "pizza"

    representa o grau de importncia que aquela poltica de

    mercado tem no marketing daquela empresa. No caso,

    todas as polticas tm uma importncia igual e, portan-

    to, recebem o mesmo investimento de recursos (tempo,

    dinheiro e energia).

    Um salo de beleza, uma joalheria e uma oficina me-

    cnica, por exemplo, podem ter mix de marketing di-

    ferentes, pois cada uma dessas empresas precisa dar

    mais ou menos importncia a polticas distintas. Veja

    as figuras 4.2A, B e C (*)

    Nota: Se voc discorda dos valores apresentados em algum desses grficos, parabns! sinal que voc j est entendendo o esprito da coisa. E no se preocupe. Esses grficos no tm mesmo a pretenso de serem perfeitos. So apenas ilustrativos.

    A definio do marketing como um conjunto de quatro

    grandes polticas de mercado (Produto, Preo, Ponto

    Comercial e Promoo), embora conceitualmente cor-

    reta e atual, acabou por ser ampliada pelo trabalho de

    inmeros pensadores dessa cincia da Administrao

    de Empresas, de tal maneira que o marketing , hoje,

    um conjunto de 15 polticas fundamentais, agrupadas

    nestas quatro Macropolticas (Produto, Preo, Ponto

    Comercial e Promoo): Temos, assim, as polticas de

    Produto, Pesquisa de Mercado, Pesquisa & Desenvol-

    vimento, Procedimentos, Pessoal, Preo, Negociao,

    Instalaes, Disponibilizao, Imagem, Comunicao,

    Propaganda, Vendas, Ps-vendas e Parcerias.

    Para cada um desses assuntos (polticas de mercado)

    preciso tomar decises e implementar aes. Todas as

    coisas que so feitas a resultam, de alguma forma, em

    uma alterao na PERCEPO que o mercado tem do

    produto ou da empresa.

    Ter um bom marketing, portanto, significa administrar

    com inteligncia TODAS essas polticas. Agir em

    TODAS as frentes para que, por onde quer que o pro-

    duto seja observado, seja percebido como algo bom,

    interessante e digno de ser adquirido.

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    Como se pode ver, a parte que diz respeito publici-

    dade e propaganda corresponde a apenas um dos Ps.

    Observe que as quinze polticas de mercado esto a-

    grupadas por associao com as 4 macropolticas fun-

    damentais (os 4Ps). Assim, por exemplo, a macropol-

    tica de Produto engloba um conjunto de outras polti-

    cas que esto, de forma direta ou indireta, ligadas ao

    mesmo assunto; a macropoltica de Preo divide-se

    em Poltica de Precificao e Poltica de Negociao

    de Preos; a macropoltica de Ponto Comercial

    formada pelas Polticas de Disponibilizao e de Ins-

    talaes que, somadas, representam o ponto comercial;

    por fim, veja que a macropoltica de Promoo , na

    verdade, um conjunto de seis polticas (Imagem, Co-

    municao, Propaganda, Vendas, Ps-vendas e

    Parcerias) que dizem respeito apresentao e divul-

    gao da empresa ou do produto.

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    POR QUE TO COMPLICADO VENDER SERVIOS DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA?

    Diferenas entre produzir e comercializar Mercadorias e Servios Principais caractersticas da Prestao de servios de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

    por nio Padilha

    Negociar e vender servios no uma tarefa mui-

    to fcil. Exige conhecimentos e habilidades que

    vo alm do desempenho tcnico. Todos os pres-

    tadores de servios sabem que assim. Mas pou-

    cos conseguem entender o porqu.

    Qual a razo de ser to difcil a negociao e a

    venda de servios? Qual ou quais so os detalhes

    que esto escapando aos menos atentos?

    Estudiosos de Marketing tm investigado esta

    questo deste meados da dcada de 1960, com os

    trabalhos de Reagan e Rathmel. De l pra c, pas-

    sando por duas ou trs dezenas de outros pesqui-

    sadores, uma concluso estabeleceu-se cristaliza-

    da: o Marketing de servios diferente do Marke-

    ting de mercadorias em funo de caractersticas

    especiais que os servios apresentam. Essas carac-

    tersticas sero mostradas e discutidas neste cap-

    tulo, mas, antes, preciso definir servios:

    O termo servios foi introduzido nos estudos

    sobre mercado por Clark1, em 1957, na terceira

    edio de sua obra Conditions of economics pro-

    gress. At ento, os servios eram tratados sob a

    denominao genrica de setor tercirio, justa-

    mente para diferenciar dos setores primrio (agri-

    cultura e minerao) e secundrio (manufatura). O

    setor tercirio era ento considerado como res-

    dual.

    Algumas caractersticas so significativas e de-

    terminantes para a diferenciao de servios em

    relao s outras atividades econmicas. Rath-

    mell2 define servio como sendo uma mercadoria

    comercializvel isoladamente, ou seja, um produto

    intangvel que no se pega, no se cheira, no se

    apalpa, geralmente no se experimenta antes da

    compra, mas permite satisfaes que compensam

    o dinheiro gasto na realizao de desejos e neces-

    sidades dos clientes.

    Uma outra definio interessante a de Kotler e

    Bloom3. Eles definem servios como qualquer a-

    tividade ou benefcio que uma parte possa ofere-

    cer a outra, que seja essencialmente intangvel e

    1 CLARK, C. The Conditions of Economics Progress, MacMillan,

    London, 1957 2 RATHMELL, J. M. Marketing in the service sector. Cambridge,

    MA: Winthrop Publishers, 1974 3 KOTLER, Philip, BLOOM, Paul. Marketing para Servios

    Profissionais. 1.ed. - So Paulo: Atlas, 1988. p.191

    no resulte na propriedade de qualquer coisa. Sua

    produo pode, ou no, estar vinculada a um pro-

    duto fsico.

    Seja como for, as principais caractersticas da

    prestao de servios so elementos essenciais ao

    estudo das empresas prestadoras de servios, pois

    determinam, de forma direta ou indireta, as abor-

    dagens e estratgias de gesto que podem, ou no,

    ser aplicadas a elas. Embora sejam muitas as ca-

    ractersticas da prestao de servios que as dife-

    renciem da produo de outros bens de consumo,

    parece haver consenso entre os autores de que In-

    tangibilidade, Variabilidade Inseparabilidade, e

    Perecibilidade sejam as caractersticas mais im-

    portantes e distintivas dos servios.

    Por incrvel que parea, existem muitos fornece-

    dores de servios que ainda no se deram conta de

    que comercializam uma coisa que , essencial-

    mente, diferente de mercadorias como sabonete,

    parafusos, eletrodomsticos, leite, etc. O resultado

    que essas pessoas acabam investindo tempo e

    dinheiro em atividades de Marketing que so ina-

    dequadas para produzir, promover e vender aquilo

    que est sendo oferecido.

    Qual a vantagem de saber as diferenas entre

    servio e mercadoria? Que benefcio pode tirar

    desse conhecimento um profissional, na hora de

    estabelecer suas estratgias de Marketing? O

    Marketing para servios diferente do Marketing

    para mercadorias?

    Vamos tentar responder a essas perguntas, come-

    ando pela terceira: sim, o Marketing para servi-

    os diferente do Marketing para mercadorias.

    Embora os conceitos gerais do Marketing sejam

    aplicveis indistintamente, tanto para mercadorias

    quanto para servios, so necessrias algumas a-

    daptaes e at mesmo a explorao de alguns

    conceitos totalmente novos quando o Marketing

    aplicado a servios. Isto porque os servios apre-

    sentam algumas caractersticas particulares que os

    diferenciam e os distanciam conceitualmente das

    mercadorias. A primeira dessas caractersticas, a

    que sobressai entre as demais, justamente a in-

    tangibilidade.

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    Intangibilidade

    Servios so intangveis. No podem ser vistos,

    tocados, cheirados, ouvidos ou sentidos, antes de

    serem comprados. O cliente de um dentista no

    tem como saber se o tratamento vai mesmo resol-

    ver o problema, a menos que aceite sentar na ca-

    deira e (literalmente) pagar para ver. Da mesma

    forma, uma pessoa que procure um cabeleireiro

    para mudar a cor de seus cabelos, somente saber

    que no valeu a pena depois que o estrago j es-

    tiver feito. Ou, se tudo deu certo, quando olhar no

    espelho e ver que ficou exatamente conforme o

    planejado.

    A intangibilidade a caracterstica fundamental,

    distintiva entre servios e mercadorias. a carac-

    terstica central, at mesmo na definio do con-

    ceito de servios, feita pelos autores citados. Refe-

    re-se ao fato de que os servios somente existem,

    de fato, no momento em que so produzidos. No

    preexistem, em relao ao processo de negociao

    e compra/venda. O cliente/consumidor dos servi-

    os no dispe de algo tangvel, concreto sobre o

    qual possa ser feito qualquer tipo de experimenta-

    o antes da aquisio do produto. Por

    experimentao entende-se, aqui, qualquer uso de

    qualquer um dos cinco sentidos (tato, viso,

    audio, gustao e olfato) durante o processo de

    compra, com o objetivo de reduzir o risco

    percebido para a negociao.

    At a, tudo bem. Todo mundo identifica a intan-

    gibilidade como uma caracterstica da prestao

    de servios e sabe que esse o grande problema a

    ser enfrentado. O problema que muita gente (au-

    tores de livros, inclusive) tenta enfrentar esse pro-

    blema dando tangibilidade ao intangvel. Coisas

    do tipo, criar elementos fsicos, concretos (emba-

    lagens) aos servios, para torn-los mais fceis de

    serem percebidos pelos clientes. A linha de pen-

    samento simples: primeiro transformamos o ser-

    vio em mercadoria, depois o produzimos, nego-

    ciamos e vendemos como se fosse mercadoria

    (pois o Marketing para mercadorias bem mais

    conhecido e nos oferece inmeras opes).

    Grande erro! Tentar produzir e vender servios

    como se fossem mercadorias muita ingenuidade.

    Temos que encarar o problema de frente. A Intan-

    gibilidade dos servios uma caracterstica muito

    particular e gera um problema de Marketing muito

    particular: a demanda por credibilidade.

    Todo processo de compra envolve um certo risco,

    percebido pelo cliente. Mercadorias permitem ao

    cliente reduzir uma parte desse risco atravs do

    processo de inspeo pelos sentidos (ver, tocar,

    cheirar, ouvir, sentir). No caso de servios, o for-

    necedor no tem nada para mostrar ao cliente, an-

    tes da compra, para reduzir o risco percebido. A

    no ser a sua histria profissional. A sua reputa-

    o. O seu reconhecimento pblico.

    Fornecedores de servios precisam zelar pela sua

    imagem. Precisam construir e manter uma reputa-

    o profissional digna. Porque para essa histria

    passada, para essa reputao, que o cliente vai

    voltar os olhos quando precisar reduzir os riscos

    de uma contratao.

    Quando uma pessoa vende uma mercadoria a ou-

    tra, a concretizao da compra se d imediatamen-

    te. Se algum compra uma cadeira de escritrio,

    recebe o bem no momento em que efetua a com-

    pra. Quem vende servios, no entanto, vende es-

    perana. Vende uma promessa de que aquilo que

    est sendo negociado ser, realmente, executado

    conforme est sendo combinado. Existe, portanto,

    uma necessidade muito grande de confiana do

    cliente no fornecedor. Sem credibilidade um for-

    necedor de servios no se estabelece, nem obtm

    crescimento profissional ou empresarial.

    Decorre da que o fornecedor de servios demore

    algum tempo no processo de mostrar servio ao

    seu pblico-alvo. Se algum, com algum dinheiro,

    resolve investir em uma fbrica de cadeiras de es-

    critrio e se as cadeiras fabricadas so de excelen-

    te qualidade, logo no primeiro lote que chegar ao

    mercado a reao positiva dos compradores ser

    sentida. Porque quem compra um produto fsico

    no est preocupado em saber quem fez aquilo.

    Nem quer saber quanta experincia o fabricante

    tem. Isso no importante para o cliente. O pro-

    duto j est ali. E ele bom ou ruim. E o cliente

    ir decidir a compra baseado no que estiver vendo,

    tocando, sentindo...

    J um fornecedor de servios um engenheiro ci-

    vil, por exemplo , mesmo que execute projetos

    com a mais perfeita qualidade, no momento em

    que entra no mercado, ele no nada. No repre-

    senta nada para o cliente. A sua histria profissio-

    nal no existe ainda. A sua reputao est para ser

    construda. E, dependendo do ramo de atividade,

    gasta-se muitos anos nesse processo de obteno

    de credibilidade. Um advogado leva, em mdia,

    dez anos para se estabelecer profissionalmente.

    Um cabeleireiro leva um ano ou dois.

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    A intangibilidade que caracteriza a prestao de

    servios pode ser minimizada se o fornecedor de

    servios tiver plena conscincia do problema e o

    enfrentar com criatividade e competncia.

    Inseparabilidade

    Quando compramos uma mercadoria qualquer

    (uma roupa, um eletrodomstico, uma ferramen-

    ta...) avaliamos muitas de suas caractersticas, mas

    dificilmente nos preocupamos em saber se as pes-

    soas envolvidas na produo daquela pea, ou da-

    quele equipamento, eram homens, mulheres, ve-

    lhos, jovens ou crianas. Se tinham tomado banho,

    se bebiam enquanto trabalhavam, se trabalhavam

    uniformizados ou sem camisa, se a fbrica fica ali

    na esquina ou em outro estado, ou outro pas. No

    importa. A mercadoria est ali, na prateleira, a

    qualidade adequada, o preo bom, tem garanti-

    as... Eu compro.

    Com os servios a coisa diferente. Existe ( ine-

    vitvel) o envolvimento de pessoas. Tanto o pres-

    tador do servio, quanto o cliente, interferem no

    resultado final. Isto resulta em um fator de risco

    muito grande para o fornecedor de servios: em

    muitos casos, a relao com o cliente no tem se-

    gunda chance. Se alguma coisa der errado, o pro-

    blema no poder ser resolvido nunca mais.

    Servios so inseparveis de quem o produz e de

    quem os recebe. Se um servio adquirido por

    uma pessoa, essa pessoa faz parte do servio, as-

    sim com o prestador do servio tambm.

    O Marketing de servios precisa considerar essa

    caracterstica com muita ateno. No existe pres-

    tao de servios sem relacionamento entre pesso-

    as. Esse relacionamento varia em intensidade, de-

    pendendo do tipo de servio e do grau de envol-

    vimento que o cliente apresentar. Uma pessoa de

    50 anos que procura um mdico para fazer um

    check-up est muito interessada e envolvida com

    os resultados dos exames ou testes. No entanto,

    aos 17 anos, quem faz os mesmos exames e testes

    para ingressar na universidade no se preocupa

    tanto com eventuais desvios nos resultados. Seus

    objetivos so outros. Sade, definitivamente, no

    uma preocupao prioritria.

    Inseparabilidade uma importante caracterstica

    da prestao de servios. Sua principal conse-

    qncia no Marketing de servios a demanda

    por habilidades de relacionamento interpessoal.

    Um prestador de servios (um arquiteto, um enge-

    nheiro, um agrnomo, por exemplo), por mais

    qualidade que imprima no seu trabalho, no ter

    sucesso profissional se no desenvolver suas habi-

    lidades de relacionamento. Isso se torna mais gra-

    ve na medida em que isso no nos ensinado na

    faculdade. Pior ainda: na faculdade sequer nos di-

    zem que isto importante.

    Ler livros sobre o assunto, fazer cursos, participar

    de seminrios e tudo o mais que se puder fazer pa-

    ra melhorar o desempenho nessa rea, so aes

    de Marketing de grande retorno.

    E j nos prepara para a terceira caracterstica de

    servios:

    Variabilidade

    Servios so altamente variveis. Porque depen-

    dem de pessoas e de circunstncias. Depende de

    quem executa o servio, depende de quem recebe,

    depende de quando o servio realizado, depende

    de onde feito.

    Em uma indstria desenvolve-se o produto e o

    processo produtivo. Regulam-se as mquinas e

    comea a produo. Da pra frente, enquanto a-

    quele produto estiver sendo fabricado, o processo

    o mesmo e o resultado final muito previsvel.

    Com servios, no entanto, as coisas so um pouco

    mais complexas. Pessoas esto envolvidas nos

    dois lados do negcio, cada qual com suas hist-

    rias, seus princpios, culturas, crenas. Cada qual

    com uma maneira de ver o mundo e de entender

    como as coisas devem ser feitas.

    O prestador de servios deve estar atento a isso.

    Precisa desenvolver tcnicas que reduzam as vari-

    aes de desempenho, mesmo em condies to-

    talmente diferentes. O fornecedor de servios pre-

    cisa estar preparado e precisa sistematizar seus

    processos produtivos e treinar constantemente a

    sua equipe para transpor circunstncias adversas,

    sem alterar o ritmo de trabalho e sem modificar a

    qualidade do servio prestado.

    Sistematizao e Treinamento. Estas so as pala-

    vras! Estas so as principais armas contra a varia-

    bilidade da prestao de servios.

    A sistematizao dos processos se d pelo desen-

    volvimento de rotinas operacionais, se possvel

    registradas em manuais claros e objetivos, para

    garantir sempre a mesma qualidade no servio e o

    mesmo tempo gasto na execuo;

    Selecionar e treinar cuidadosamente todo o pesso-

    al outro importante passo que um fornecedor de

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    servios precisa dar, se quiser qualidade e produ-

    tividade.

    Inarmazenabilidade

    Na prestao de servios voc s trabalha depois

    de ser contratado e s contratado se estiver dis-

    ponvel para fazer o seu trabalho. Esta a quarta

    importante caracterstica dos servios.

    Servios no podem ser estocados para serem for-

    necidos ou utilizados no futuro.

    Quando o paciente de um dentista no comparece

    para uma seo do tratamento, o que acontece? O

    dentista pega aquela consulta no fornecida e

    guarda em uma caixa para ser utilizada em um ou-

    tro paciente, noutro dia?

    E quando um cliente precisa ser atendido exata-

    mente naquele dia em que o dentista est partici-

    pando de um importante seminrio tcnico de o-

    dontologia, o que acontece? A secretria guarda

    aquele paciente (gemendo de dor) para que o den-

    tista possa atend-lo na prxima segunda-feira,

    que o dia de menos movimento?

    Da mesma forma, um engenheiro s pode fazer

    um projeto a que tenha sido contratado. Se no

    houver contratos no h como ir adiantando ser-

    vio para quando os clientes chegarem.

    A inarmazenabilidade dos servios, a importncia

    da perfeita sintonia entre a necessidade do cliente

    e a disponibilidade do fornecedor de servio, nos

    remete a uma das principais tarefas que precisam

    ser assumidas pelos prestadores de servios: a

    Gesto de Demanda. um caso srio! A demanda

    irregular, flutuante, um grande problema. Se vo-

    c prestar ateno no funcionamento de um salo

    de beleza vai entender o que inarmazenabilida-

    de: sexta-feira, no final da tarde e incio da noite,

    sbado, vspera de uma grande festa casa cheia!

    Clientes que chegam, olham para o tamanho da fi-

    la, do meia-volta e vo procurar outro salo. No

    final do dia, entre exaustos e satisfeitos com o

    bom movimento, bate aquela coisinha l no fundo

    da cabea de cada um dos profissionais envolvi-

    dos: Que bom se a gente pudesse desviar um

    pouco desses clientes para aqueles dias sem nada

    pra fazer.

    Segunda-feira. 10 horas da manh. Todo mundo

    olhando para as paredes, conversando abobri-

    nha, saindo para tomar caf Hora de lembrar

    daquela senhora que queria arrumar as unhas, mas

    que acabou indo embora, procurar outro salo.

    Hora de botar o Marketing para funcionar. Pensar

    em alguma coisa. Desenvolver alguma estratgia

    de gesto da demanda. Talvez fosse o caso de es-

    timular (utilizando-se de descontos ou outros be-

    nefcios) a freqncia de clientes para aqueles dias

    em que, tradicionalmente, o movimento fraco.

    Com alguma ao nesse sentido poderiam deslo-

    car aqueles clientes que vm no sbado, no por-

    que precisem (mesmo) vir no sbado. Eles passam

    a ser atendidos na quinta-feira, por exemplo, a-

    brindo vagas no sbado para clientes que fizeram

    meia-volta em direo concorrncia. Isto ges-

    to de demanda.

    Todos os fornecedores de servios que se enfren-

    tam com o problema da demanda flutuante (prati-

    camente nenhum fornecedor de servios escapa)

    podem, de alguma maneira, reduzir o problema.

    preciso uma dose de conhecimento do mercado,

    um pouco de criatividade e uma noo clara do

    tamanho do problema, para no errar no tamanho

    da soluo.

    importante ver o que os outros (os concorrentes)

    esto fazendo. Mais importante ainda: necess-

    rio ver o que os outros (os concorrentes) no esto

    fazendo. A soluo do seu problema pode estar a.

    Improtegibilidade

    Quando um fabricante de uma mercadoria desen-

    volve um produto novo e gasta algum tempo, di-

    nheiro e energia nesse processo, esse investimento

    pode ser recuperado na hora de lanar o novo pro-

    duto no mercado. Pode-se (e altamente reco-

    mendvel) fazer um registro de uma patente, ou

    coisa parecida, para garantir que o retorno finan-

    ceiro, decorrente desse novo produto, seja garan-

    tido a quem o desenvolveu, pelo menos por algum

    tempo.

    Ao contrrio das mercadorias, onde as leis de re-

    gistros e patentes sempre se aplicam, os servios

    quase nunca podem ser protegidos contra cpias

    de concorrentes. Um arquiteto ou um engenheiro

    que desenvolva uma nova forma de trabalhar, de

    produzir o seu servio, ter de conviver com o fa-

    to de que seus colegas/concorrentes podero, li-

    vremente, copiar os processos utilizados, sem ter

    que pagar um tosto a ttulo de direitos autorais,

    ou coisa assim.

    Isso nos traz um interessante problema de Marke-

    ting. Por um lado, sabemos que preciso investir

    continuamente na melhoria do nosso produto.

    Quando fazemos isso com mercadorias, o inves-

    timento pode ser recuperado por registros e paten-

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    tes. Portanto, um investimento com retorno dire-

    to. Por outro lado, quando investimos no desen-

    volvimento de servios, no podemos contar com

    esse tipo de retorno (direto). Temos que aprender

    a explorar os retornos indiretos. Este , sem dvi-

    da, um desafio de Marketing muito interessante.

    Quem souber enfrent-lo ter uma vantagem

    competitiva de longo prazo.

    Precificao Subjetiva

    A humanidade sabe muito bem como lidar com o

    preo de mercadorias. J faz isso h muito tempo.

    Uns 6, 8 ou 10 mil anos, talvez. Desde que povos

    muito antigos se reuniam em feiras, na frica, no

    Oriente Mdio, ou na Europa, para trocar um ca-

    chorro por cinco ovelhas, um couro de boi por dez

    metros de corda, um saco de milho por 8 quilos de

    carne seca estavam negociando com mercadori-

    as. Estavam avaliando e botando preos em mer-

    cadorias, ainda que nenhuma moeda estivesse

    sendo utilizada (pois ainda no havia sido inven-

    tada).

    Hoje, determinar o preo de uma mercadoria (em-

    bora no seja tarefa das mais fceis) est ao alcan-

    ce de qualquer empresrio com bons conhecimen-

    tos de matemtica e administrao de custos.

    Por isso, quando falamos de mercadorias, os pro-

    dutos semelhantes tm, sempre, preos semelhan-

    tes.

    Veja, por exemplo, o produto telha. Existem te-

    lhas ordinrias que custam R$ 0,204 a unidade e

    telhas de primeirssima linha que custam R$ 2,00

    a unidade. Mas no so produtos semelhantes.

    Ningum, na hora de comprar, compara esses dois

    produtos diretamente, pois h um entendimento

    tcito de que no se est falando da mesma coisa.

    como se fossem produtos diferentes.

    Quem estiver interessado na telha de R$ 2,00 no

    encontrar alternativas no mercado (os produtos

    semelhantes) por menos de R$ 1,50 ou R$ 1,40.

    Observe que, neste caso, a diferena de preos

    (para produtos semelhantes) no chega a 50%. No

    entanto, para melhor entendimento do tema, va-

    mos admitir que a diferena seja de at 100%. Isto

    significa que, se a telha mais cara custa R$ 2,00 a

    telha (semelhante) mais barata custaria R$ 1,00.

    Se voc no do ramo, talvez seja a hora de uma

    atividade prtica. D uma passada nas lojas de

    material de construo e confira essas propores.

    4 Os preos citados neste captulo so praticados no mercado do

    Brasil em 2007.

    Veja agora os preos de servios: corte de cabelo

    feminino, por exemplo. H quem cobre R$ 1,99 e

    h quem cobre at R$ 300,00.

    Mas no so produtos semelhantes!, grita al-

    gum, l do fundo. Concordo plenamente. No

    podemos tomar um salo de beleza em um prdio

    de luxo, espelhos enormes, profissionais treina-

    dos, iluminao sofisticada e comparar com uma

    barbeira atendendo num canto de garagem, com

    um espelho barato tirado de penteadeira, uma ca-

    deira de palha e uma tesoura que, francamente...

    No. No vamos comparar alhos com bugalhos.

    No entanto, em qualquer lugar do Brasil, se um

    cabeleireiro cobra, digamos R$ 40,00 ou R$ 50,00

    por um corte de cabelo, podemos deduzir que se

    trata de algum com boa qualidade de trabalho,

    com boas instalaes, muito treinamento, excelen-

    tes equipamentos de trabalho. Em resumo, algum

    com um produto realmente semelhante quele que

    cobra R$ 300,00.

    Produto semelhante. 500 % de diferena no preo.

    O mesmo raciocnio pode ser levado para a com-

    parao entre (por exemplo) os diversos preos

    cobrados por um projeto arquitetnico de uma re-

    sidncia de 500 m2. H quem cobre R$ 1.000,00.

    H quem cobre at R$ 60.000,00. O certo que,

    embora possamos encontrar grandes diferenas de

    qualidade dos servios entre os que cobram R$

    60.000,00 e os que cobram R$ 1.000,00, o mesmo

    no se pode dizer quando comparamos os que co-

    bram R$ 60.000,00 com profissionais que cobram

    R$ 12.000,00 ou R$ 15.000,00.

    400 % de diferena no preo. Produtos semelhan-

    tes.

    Detalhe importante: o cliente que paga R$

    60.000,00 por um projeto arquitetnico (ou R$

    250,00 por um corte de cabelo) no est sendo en-

    ganado. Nem se sente ludibriado ou lesado. Em-

    bora saiba que existem no mercado produtos re-

    almente semelhantes e que custam bem menos.

    O que isso? O cliente ficou louco? Gosta de jo-

    gar dinheiro fora?

    No. essa caracterstica da prestao de servi-

    os: elementos subjetivos falam muito alto na hora

    de estabelecer um preo para servios.

    Quando falamos de mercadorias, o seu preo tem

    uma estreita ligao com os seus custos. Quando

    falamos de servios, algumas vezes os custos re-

    presentam muito pouco na composio do preo.

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    Os fatores psicolgicos so inseridos no processo

    com um grau de importncia muito grande.

    Quem fornece servios precisa ter a clareza de que

    o preo do produto deve refletir o valor psicolgi-

    co que ele representa para o cliente. Precisamos

    saber o que o cliente est comprando muito mais

    do que o que ns estamos vendendo.

    Estas seis caractersticas relacionadas acima (in-

    tangibilidade, inseparabilidade, variabilidade, i-

    narmazenabilidade, improtegibilidade e precifica-

    o subjetiva) so comuns a todos os tipos de

    prestao de servios e, como vimos, tm implica-

    es sobre o Marketing de servios. Cada uma

    dessas caractersticas gera uma demanda de ao

    de Marketing para a qual o profissio-

    nal/empresrio precisa estar atento.

    Intangibilidade => Credibilidade;

    Inseparabilidade => Habilidades de relacionamento pessoal;

    Variabilidade => Sistematizao de processos e treinamento;

    Inarmazenabilidade => Gesto de demanda

    Improtegibilidade => Gesto de ganhos indiretos pela inovao

    Precificao Subjetiva => Conhecimento do valor do

    produto para o cliente.

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    Por que negociar servios de Engenharia ou de Arquitetura ainda mais

    complicado?

    Os servios de Engenharia e Arquitetura, no en-

    tanto, alm dessas caractersticas e das conseqen-

    tes demandas, apresentam algumas outras caracte-

    rsticas bem particulares. E cada uma dessas ca-

    ractersticas gera tambm conseqncias relativas

    ao Marketing e s negociaes desses servios.

    Antes de falar das caractersticas especficas dos

    servios de engenharia e de Arquitetura impor-

    tante delimitar claramente este tema. Existe muita

    confuso a respeito do que seja Servio de Enge-

    nharia ou de Arquitetura.

    A quase totalidade das pesquisas realizadas no

    Brasil que tangenciam o exerccio profissional da

    Engenharia e Arquitetura est ligada muito mais

    s questes relativas construo civil do que

    Engenharia e Arquitetura propriamente ditas.

    Muitos trabalhos reconhecidos e referenciados

    como sendo relativos s praticas gerenciais de En-

    genharia e Arquitetura so, na verdade, sobre pr-

    ticas gerenciais de empresas de construo civil

    ou de instalaes industriais.

    Organizaes de servios profissionais de Enge-

    nharia so freqentemente confundidas na literatu-

    ra com empresas cujos produtos so engenheira-

    dos. Assim, comum que as pessoas se refiram s

    empresas de construo civil, por exemplo, ou a

    empreiteiras de obras pblicas como estradas e

    pontes como se fossem empresas de Engenharia,

    o que no correto. A Engenharia entra nesses

    produtos finais (casas, edifcios, pontes, estradas)

    como um insumo. Uma matria prima. Por mais

    importante que seja para o resultado final da obra,

    no se deve deixar de perceber que a participao

    da Engenharia nos custos totais dessas obras ra-

    ramente ultrapassa os 10%, como pode ser consta-

    tado em diversos documentos que relacionam os

    custos das obras com os custos de servios de En-

    genharia (CDHU, PSQ/PROJETO, 2002b; SEN-

    GE, 1991; IAB-DN, 2005; DEINFRA-SC, 2005).

    Alm disso e apenas para no deixar dvidas

    sobre esse detalhe , demonstrando que essa viso

    no passa de um equvoco cultural, basta observar

    que ningum considera uma fabrica de avies co-

    mo uma empresa de Engenharia, apesar de seu

    produto final ser to engenheirado, quanto uma

    obra de construo. O mesmo raciocnio pode ser

    adotado para analisar um estaleiro, ou uma fbrica

    de automveis.

    Empresas de Engenharia so, portanto, empresas

    cujo produto final um servio, como projeto,

    consultoria, assessoria tcnica, acompanhamento,

    fiscalizao e um conjunto de outras atividades

    previstas pela lei 5.194, de 24/12/1966. O profes-

    sor Guilherme Ary Plonsky, na sua tese de douto-

    rado intitulada As Empresas de Servios de En-

    genharia no Brasil: do CAD Engemtica (1987,

    p.50-55) observa que muitas empresas realizam

    servios de Engenharia, ainda que no sejam em-

    presas de Engenharia. Por outro lado, empresas de

    Engenharia realizam servios que no so, neces-

    sariamente de Engenharia. Assim, conclui o autor,

    empresas de Engenharia, ou empresas de projeto

    de Engenharia (tambm chamadas empresas de

    Engenharia de projeto ou empresas de Engenharia

    consultiva) so aquelas dedicadas atividade de

    Engenharia e que tm, nessa atividade, sua princi-

    pal fonte de renda.

    Portanto, quando falamos em Servios de Enge-

    nharia ou de Arquitetura, neste livro, estamos nos

    referindo s atividades de projeto, consultoria, as-

    sessoria tcnica e outras atividades que envolvem

    processamento de informao e a conseqente

    produo de Informao Organizada, sob a for-

    ma de desenhos, relatrios, memrias de clculos,

    grficos, tabelas e outras formas de soluo.

    Negociar e vender servios de Engenharia e de

    Arquitetura uma tarefa muito complicada. Exige

    conhecimentos e habilidades que vo alm do de-

    sempenho tcnico. Todos os engenheiros e arqui-

    tetos sabem que assim. Mas poucos conseguem

    entender o porqu. Qual a razo de ser to difcil

    a negociao e a venda de servios de Engenharia

    e Arquitetura? Qual ou, quais so os detalhes

    que esto escapando?

    Essas dificuldades so decorrentes de quatro im-

    portantes caractersticas dos servios de Engenha-

    ria e de Arquitetura:

    Produto de Consumo Restrito Servios de Engenharia e Arquitetura no so

    comprados ou consumidos por muitas pessoas,

    muitas vezes na vida. Portanto, nossos produtos

    no so Produtos de Consumo de Massa. Isso nos

    tira um conjunto muito grande de ferramentas e

    recursos do Marketing tradicional (quase todo vol-

    tado para produtos de consumo de massa).

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    Se voc tem uma loja de roupas e um cliente, por

    uma razo ou outra, deixa de comprar na sua loja

    e compra na loja do concorrente, voc ainda tem a

    chance do cliente se arrepender disso. E, da pr-

    xima vez, considere com mais carinho a possibili-

    dade de fazer negcio com voc. O mesmo ocorre

    se voc tem uma oficina mecnica ou uma lavan-

    deria.

    Porm, se voc arquiteto ou engenheiro e o cli-

    ente preferiu contratar o seu concorrente, j era!

    Mesmo que ele se arrependa. pouco provvel

    que ele volte para refazer o negcio com voc. De

    maneira geral, se voc um arquiteto ou um en-

    genheiro, voc s tem uma primeira e nica opor-

    tunidade de conquistar o cliente.

    Na sua cidade voc, provavelmente, j foi a al-

    guns bares ou restaurantes. Gostou de alguns, en-

    controu defeitos em outros e desenvolveu prefe-

    rncias. Essas preferncias, que o fizeram ser mais

    fiel a determinados estabelecimentos, decorrem

    exatamente do fato de que voc comprou muitas

    vezes o mesmo produto, desenvolvendo uma ex-

    perincia de cliente.

    Mas, quantas vezes voc j contratou um arquite-

    to? E, se j contratou alguma vez, quando preten-

    de contratar novamente?

    Voc pode at no ter dado a resposta padro, mas

    sabe exatamente do que estamos falando. Um n-

    mero muito reduzido de pessoas compra os nossos

    produtos. E um nmero ainda mais reduzido des-

    sas pessoas volta a comprar os nossos produtos.

    No nosso mercado no podemos contar com a ex-

    perincia do cliente. Por melhor que seja um pro-

    fissional, por mais satisfeitos que fiquem os seus

    clientes, sempre pouco provvel que existam

    compras, ou consumos sucessivos.

    Isso no dispensa a preocupao com a satisfao

    dos seus clientes (que podero influenciar a deci-

    so de futuros contratantes), mas, em ltima anli-

    se, ele sempre ter que conquistar novos clientes,

    o que, em certa medida, dificulta a estabilidade

    comercial.

    Alm disso, o fato de o nosso produto no ser de

    consumo de massa torna intil todos os princi-

    pais recursos de comunicao com o mercado

    (mdia aberta, recursos de promoo de vendas,

    etc.), disponveis para os empresrios que traba-

    lham com mercadorias.

    Sendo assim, essa caracterstica (ser um produto

    de consumo restrito) remete a estratgias especfi-

    cas de comunicao com o mercado. O fato de

    que os clientes potenciais de engenheiros e arqui-

    tetos no apresentarem a desejvel experincia

    de comprador remete necessidade de uma a-

    bordagem do mercado muito mais didtica do que

    agressiva. Engenheiros e arquitetos precisam ter

    em mente que no esto disputando um mercado

    maduro e claramente definido. Trata-se, antes, de

    um mercado que no existe.

    Privilegiar o aspecto didtico e a comunicao di-

    reta indica claramente a escolha de mdias mui-

    to mais simples e diretas do que as sofisticadas

    mdias abertas (rdio, televiso, jornais e revistas).

    Engenheiros e arquitetos devem dominar as tcni-

    cas de comunicao direta com os clientes, explo-

    rando recursos como visita pessoal, mala-direta e

    propaganda boca-a-boca. Esses recursos sero

    discutidos com mais detalhamento em captulos

    seguintes.

    Produto com alto componente intelectual agregado

    Os servios de Engenharia e Arquitetura so, em

    ltima anlise, INFORMAO. Obter, processar

    e produzir informaes depende de um treinamen-

    to intelectual que obtido atravs de muitos anos

    de estudos profundos. A maioria das pessoas

    cerca de 99,5 % da populao (ateno: isto no

    um chute. uma estimativa muito realista!) no

    faz a menor idia de como funciona a cabea de

    um engenheiro ou de um arquiteto.

    Por isso muitos engenheiros e arquitetos recla-

    mam: o cliente no sabe valorizar o meu traba-

    lho.

    Evidente que no! As pessoas valorizam o que

    conhecem. Do sempre mais valor ao conheci-

    mento compartilhado. Uma msica faz mais su-

    cesso, no por ser a mais bem feita, ou mais difcil

    de ser executada. Ao contrrio: quanto mais fcil

    de ser cantada e executada por qualquer um, mais

    sucesso far.

    Muitos colegas engenheiros e arquitetos pensam

    que certas concluses so bvias, ou que a capaci-

    dade de abordar corretamente certos problemas e

    propor solues racionais uma coisa natural.

    Que qualquer um poderia fazer aquilo.

    Eu digo: certos problemas de Arquitetura ou de

    Engenharia podem ser resolvidos por qualquer

    um. Qualquer um que tenha estudado tanto quanto

    o mnimo que se estuda para se tornar um enge-

    nheiro ou arquiteto.

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    Nosso folclore profissional no cansa de reprodu-

    zir histrias de engenheiros que fazem projetos em

    papel de po, guardanapos de restaurantes, ou toa-

    lhas de papel em festas. Basta algum fazer uma

    pergunta um pouco mais difcil ou desafiadora,

    que baixa o esprito do engenheiro resolvedor e a

    soluo se faz... na maioria das vezes... de graa!

    Um dos muitos pecados de Marketing cometidos

    por engenheiros e arquitetos, Brasil afora, jus-

    tamente o de dizer que isto fcil de resolver

    diante do problema apresentado pelo cliente.

    um veneno! Existem coisas que no devem ser

    ditas para um cliente durante a negociao de um

    servio. A menos, claro, que voc esteja queren-

    do fazer um mau negcio. Muitos profissionais

    pensam que dizendo ao cliente que um determina-

    do problema fcil de resolver esto transmitindo

    confiana e, conseqentemente, aumentando as

    chances de fechar o negcio. Mas no verdade.

    Quando voc diz isto fcil de resolver voc es-

    t desvalorizando o seu trabalho e reduzindo as

    chances de fazer um bom negcio.

    A noo de fcil e difcil muito relativa. O

    que muito fcil para uns, pode ser dificlimo pa-

    ra outros. Um problema de engenharia ou de ar-

    quitetura pode ser fcil de resolver para um arqui-

    teto ou para um engenheiro, que teve um treina-

    mento muito slido e profundo. Para a pessoa co-

    mum (o potencial cliente) aquilo continua sendo

    um bicho de sete cabeas.

    No devemos enfeitar o bicho para valorizar o

    produto. No precisamos criar dificuldades inexis-

    tentes, apenas para impressionar o cliente. Mas

    devemos manter a avaliao do problema no nvel

    de entendimento do cliente. Afinal, ele que vai

    pagar pela soluo.

    preciso dar ateno ao nvel de percepo que o

    cliente tem do produto. No mercado, a coisa no

    o que . aquilo que percebido. Desenvolver

    habilidades de comunicao (falar, ouvir, ler, es-

    crever) pode ser (e geralmente ) um fator deter-

    minante para o sucesso profissional.

    Produto Intermedirio

    Servio de Engenharia e Arquitetura no produ-

    to final. Ningum compra um projeto de Engenha-

    ria ou de Arquitetura para colocar numa moldura e

    pendurar numa parede. Ningum contrata servios

    de Engenharia ou de Arquitetura para se divertir,

    ou para obter qualquer forma de satisfao ime-

    diata. O servio de Arquitetura ou de Engenharia

    sempre incorporado a um processo em andamento,

    que vai resultar no produto final, que ser outra

    coisa.

    Esta , sem dvida, a caracterstica mais dramtica

    do nosso produto em relao a muitos outros (in-

    clusive servios). grave, mas verdade e precisa

    ser enfrentada: os clientes no gostam da experi-

    ncia de comprar servios de Engenharia ou de

    Arquitetura. Por mais chocante ou desagradvel

    que esta afirmao possa ser, ela verdadeira.

    Pergunte a qualquer pessoa que tenha contratado

    um arquiteto ou um engenheiro.

    A experincia de comprar um carro, um eletrodo-

    mstico, uma jia, um apartamento ou uma roupa

    nova , geralmente, uma experincia prazerosa.

    Durante a negociao o cliente est diante da

    perspectiva de uma satisfao que vir imediata-

    mente aps a compra.

    Mesmo a (dolorosa) experincia de comprar o

    servio de um dentista est ligada perspectiva de

    um prazer imediato (o alvio de uma dor, ou a cor-

    reo de um problema esttico). O processo de

    compra, para a maioria dos produtos (seja merca-

    doria ou servio) est vinculado, direta ou indire-

    tamente, a alguma forma de benefcios e satisfa-

    o imediata para o cliente.

    Comprar servios de Arquitetura ou de Engenha-

    ria, no entanto, no est ligado a nenhum prazer

    imediato. A realizao do cliente, a satisfao, os

    benefcios e, em ltima anlise, o prazer, esto li-

    gados ao fim do processo: a concluso da obra de

    construo, o equipamento, o funcionamento de

    um processo...

    Sendo assim, durante a negociao e venda de

    servios de Arquitetura ou Engenharia, no pode-

    mos contar com esse importantssimo recurso na-

    tural das negociaes que a explorao da ansie-

    dade, ou desejo do cliente pela obteno desse

    prazer imediato. Quando est negociando com um

    arquiteto ou um engenheiro o cliente se sente, de

    alguma forma, angustiado, exatamente pela falta

    dessa motivao do resultado imediato. Ele tem a

    sensao de estar tendo uma despesa e no a de

    estar fazendo um INVESTIMENTO.

    preciso encontrar maneiras de fazer o cliente

    sentir a perspectiva de resultados. Fazer o cliente

    perceber que o servio que est sendo vendido faz

    parte (decisiva) da construo do resultado pre-

    tendido pelo cliente, ainda que isso no seja to

    evidente.

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    Durante a negociao o profissional deve falar

    menos do servio que est sendo oferecido e mais

    (muito mais) do produto final com o qual o cliente

    est sonhando (e, portanto, est realmente preocu-

    pado). O profissional precisa saber fazer estimati-

    vas dos benefcios diretos do seu servio ao pro-

    duto final. Precisa saber quanto de valor o seu tra-

    balho agrega ao produto final. Tudo isso, tanto

    quanto possvel, quantificado e associado a valo-

    res financeiros.

    Quando o cliente contrata um engenheiro ou um

    arquiteto, est com a cabea em outra coisa que

    o produto final. tambm para essa outra coi-

    sa que o profissional deve apontar sua artilharia

    (durante a negociao), pois o nosso produto no

    tem o potencial de gerar satisfao imediata ao

    cliente (isto ser visto com mais detalhes no pr-

    ximo tpico.

    Neste momento o importante frisar o conceito de

    que um servio de Engenharia ou de Arquitetura

    , antes de tudo, uma matria prima.

    Tomando-se como exemplo uma obra de constru-

    o civil, creio que o profissional, durante a nego-

    ciao com o seu cliente, deve se esforar para

    que o cliente trate da negociao com a mesma

    abordagem de quem est comprando material de

    construo.

    Ateno: isto no deve ficar subentendido ou ser

    dito nas entrelinhas. Pelo contrrio. Deve ser um

    discurso explcito. O profissional deve usar as pa-

    lavras de maneira bem clara e dizer para o cliente:

    o meu trabalho um material de construo. Tem

    os mesmos efeitos e utilidades do cimento, da a-

    reia, da brita, do ferro, vidros, tijolos, azulejos,

    tinta, tubos, fios....

    O cliente deve refletir muito sobre essa similari-

    dade. De nada adianta falar horas e horas com o

    cliente sobre as qualidades do seu projeto, se ele

    no conseguir entender o que o seu projeto tem a

    ver com o produto final. O cliente precisa perce-

    ber que o servio de arquitetura e engenharia apli-

    cado em uma obra de construo civil uma ma-

    tria prima que produz resultados mais evidentes e

    importantes do que muitos outros materiais de

    construo utilizados.

    importante observar que os servios de Enge-

    nharia e de Arquitetura encabeam a lista dos pro-

    dutos mais mal vendidos do Brasil.

    Tomemos uma pessoa que disponha de R$

    100.000,00 para construir uma residncia. Ela tem

    dois caminhos a seguir: o caminho A e o cami-

    nho B.

    Comecemos pelo caminho B que, por ser o mais

    torto e o mais incorreto, tambm o mais popular.

    Essa pessoa faz, ela mesma, um desenho da planta

    da casa. Ou, ento, pede para algum fazer pra ela.

    Geralmente um desenhista que fez um cursinho no

    bsico, ou nem isso. Com o tal desenho, procura-

    se um acobertador nome dado ao profissional de

    engenharia ou arquitetura que empresta seu nome

    e seu ttulo profissional para tornar legal um traba-

    lho feito por terceiros, tambm chamado de assi-

    nador de planta ou simplesmente canetinha.

    Com esse caminho tem-se um investimento de,

    digamos, R$ 1.000,00 em engenharia e arquite-

    tura.

    A planta, devidamente assinada por esse profis-

    sional ordinrio, aprovada pela prefeitura. Inici-

    a-se a obra, que vai ser feita exatamente de acordo

    com a vontade do proprietrio e os conhecimentos

    do pedreiro.

    Essa maneira de gastar o dinheiro resulta em uma

    obra com, digamos 90 ou 100 m2, trs quartos, sa-

    la, cozinha, banheiro, rea de servio, garagem,

    que custa R$ 100.000,00.

    E vale, se for posta venda, R$ 100.000,00.

    Vamos ver, ento, o caminho A, que comea

    pela contratao de um arquiteto, que ir fazer um

    projeto ajustado realidade do cliente, otimizando

    espaos, garantindo uma boa ventilao, obser-

    vando a posio do sol, explorando recursos est-

    ticos como janelas, telhados, varandas, e passa pe-

    la contratao de um engenheiro, que far os pro-

    jetos complementares (estrutural, hidro-sanitrio,

    eltrico). Far o dimensionamento correto dos ma-

    teriais a serem utilizados, alm de organizar a o-

    bra, promovendo racionalizao e economia. Mui-

    ta economia.

    O custo de um arquiteto + um engenheiro , di-

    gamos, R$ 5.000,00.

    Com os R$ 95.000,00 restantes, por este caminho

    A, teremos, como resultado, uma obra que cus-

    tar os mesmos R$ 100.000,00. Porm, essa casa,

    com os recursos da arquitetura e da engenharia, te-

    r os 90 ou 100 m2 muito melhor aproveitados, do

    que os da casa do plano B. Talvez at uns 110

    m2. E, alm dos trs quartos, sala, cozinha, ba-

    nheiro, rea de servio e garagem, poder ter, por

    exemplo, uma vaga a mais na garagem, uma chur-

    rasqueira, uma varanda, um telhado mais bonito...

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    Essa obra vale a que vem a surpresa , pelo

    menos, uns R$ 120.000,00.

    Exagero? No! Os nmeros esto corretos. E as

    provas esto por a nos bairros, nos loteamentos e

    nas planilhas de custos...

    verdade: com engenharia e arquitetura a sua o-

    bra custa menos e vale mais!

    Por que, ento, se to simples assim, a maioria

    das pessoas faz a coisa do jeito errado? Por que as

    pessoas preferem a equao desenhista + pedreiro

    = obra + cara e sem valor agregado e no a equa-

    o engenharia + arquitetura = obra barata e mais

    valiosa?

    Por duas razes: primeira: nem tudo o que bvio

    ululante! A maneira certa quase sempre a ma-

    neira mais difcil.

    A segunda razo (esta sim, importante) a que i-

    nicia este assunto: Os servios de engenharia e

    de arquitetura encabeam a lista dos produtos

    mais mal vendidos do Brasil. As relaes de

    mercado entre arquitetos/engenheiros e os seus

    clientes constituem uma Torre de Babel: os pro-

    fissionais querem vender coisas que os clientes

    no sabem que precisam, e os clientes querem coi-

    sas que os profissionais no consideram importan-

    tes e, portanto, no disponibilizam.

    Este ponto ser retomado no captulo 8 em que al-

    guns argumentos sero mais bem desenvolvidos.

    Produtos com Vantagens e Be-nefcios no-evidentes ao clien-te

    O trabalho do engenheiro e do arquiteto realiza-

    do no momento em que ele, baseado nas informa-

    es de que dispe e nos seus conhecimentos, to-

    ma decises sobre o que deve ser feito e como de-

    ve ser feito.

    Ento podemos dizer que o resultado do servio

    do engenheiro ou do arquiteto no aparece quando

    o servio realizado. S aparece muito tempo de-

    pois e, freqentemente, passa despercebido, pois

    est misturado com a influncia de dezenas de

    outros fatores envolvidos no produto final.

    Esta uma condio para a qual o profissional

    precisa estar atento, pois um obstculo que pre-

    cisa ser enfrentado e transposto.

    Por conta do alto componente intelectual envolvi-

    do/agregado nos servios de Engenharia e Arqui-

    tetura muitos profissionais no se do conta de

    que coisas que parecem bvias, na verdade no

    so to evidentes assim. No final de uma obra (na

    hora em que se chega ao produto final) muitos cli-

    entes acabam atribuindo aos pedreiros, carpintei-

    ros, azulejistas ou pintores, mritos que deveriam

    ser creditados ao arquiteto ou ao engenheiro.

    Sabendo que os servios de Engenharia e Arquite-

    tura no so produtos finais, os profissionais pre-

    cisam estar atentos ao ponto em que se chega ao

    produto final. E apresentar, de forma didtica, ao

    cliente, as vantagens e benefcios que apareceram

    (e s apareceram) devido aos servios de Arquite-

    tura e Engenharia agregados.

    Por exemplo, poucos clientes se do conta da im-

    portncia de pequenos detalhes de arquitetura

    que fazem toda a diferena em termos de ilumina-

    o natural, conforto trmico, isolamento acstico,

    etc. Da mesma forma, pequenos detalhes de en-

    genharia que garante funcionabilidade, manu-

    teno, durabilidade e, fundamentalmente, racio-

    nalidade e reduo dos custos na produo.

    Achar que o cliente ir perceber tudo isso sem a-

    juda , no mnimo, ingenuidade do profissional.

    Concluso deste captulo (e do anterior)

    As quatro caractersticas especficas dos servios

    de Engenharia e Arquitetura vistas neste captulo,

    associadas s seis caractersticas gerais da presta-

    o de servios intangibilidade, inseparabilida-

    de, variabilidade, inarmazenabilidade, improtegi-

    bilidade e precificao subjetiva indicam que os

    profissionais precisam de ateno especial para

    enfrentar o mercado. Essas caractersticas tm im-

    plicaes sobre o Marketing de Engenharia e Ar-

    quitetura e cada uma gera uma demanda de ao

    de Marketing para a qual o profissio-

    nal/empresrio precisa estar atento;

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    Produto de consumo Restrito => Investimento em estratgia de

    comunicao direta; Produto com alto

    componente intelectual => Adoo de discurso didtico para esclarecimento dos clientes;

    Produto Intermedirio => Posicionar (explicitamente) o produto como material de construo

    Produto sem vantagens e benefcios evidentes => Aes de esclarecimento posterior aos clientes sobre os resultados dos

    servios realizados.

    importante lembrar sempre que fornecer servios de Engenharia e Arquitetura, alm dos conhecimentos

    tcnicos, requer, ainda, habilidades e conhecimentos de gesto e de mercado para lidar com todas as difi-

    culdades decorrentes das caractersticas que foram apresentadas nestes dois primeiros captulos.

    preciso muito mais do que conhecimentos cientficos e tcnicos para fazer da Engenharia e da Arquite-

    tura um negcio lucrativo e, portanto, economicamente vivel.

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    Conhea o trabalho do engenheiro nio Padilha. Visite o site www.eniopadilha.com.br 22

    DIFERENCIAL COMPETITIVO E VANTAGEM COMPETITIVA

    NA ENGENHARIA E NA ARQUITETURA (Por que o cliente deveria contratar voc e no o seu concorrente)

    Quando, no meu curso de Marketing para En-

    genharia e Arquitetura, eu peo que os profis-

    sionais falem dos seus DIFERENCIAIS COMPE-

    TITIVOS, as respostas, invariavelmente so

    sempre as mesmas: agilidade, flexibilidade, de-

    sembarao, qualidade do projeto, nvel de deta-

    lhamento dos projetos, uso de maquete eletr-

    nica para apresentar o projeto, criatividade, au-

    toconfiana, originalidade, competncia, nvel

    de atualizao, comprometimento, estilo pr-

    prio, ateno dada aos clientes, cumprimento

    dos Prazos, conhecimento tecnolgico e facili-

    dade de comunicao so os diferenciais com-petitivos citados pelos profissionais.

    Tudo muito bom. Tudo muito bonito! S tem

    um problema: praticamente nenhum desses a-

    tributos pode ser considerado realmente, um

    diferencial competitivo. Os profissionais do es-

    sas respostas erradas por desconhecer o verda-

    deiro significado do termo e os conceitos que

    esto envolvidos quando o assunto Diferencial Competitivo e Vantagem Competitiva.

    Ento vamos fazer uma introduo ao tema.

    o seguinte: nos estudos de Estratgia existem

    questes que so centrais. Uma dessas ques-

    tes explicar "por que algumas empresas tm

    desempenho superior ao desempenho dos con-correntes?"

    A SCP (Structure Conduct Performance - Estru-

    tura, Conduta e Performance, derivada da Eco-

    nomia Industrial de Mason e Bain, da qual Mi-

    chael Porter um expoente contemporneo) e

    a RBV (Resource-Based View - Viso Baseada

    em Recursos) so duas perspectivas tericas

    que tm a inteno de explicar o que faz com

    que as empresas tenham desempenhos diferen-

    tes.

    Mas no s isso. Essas duas perspectivas dis-

    cutem tambm as questes fundamentais sobre

    as fontes e manuteno da vantagem competi-tiva das empresas.

    O paradigma SCP tem como pressuposto cen-

    tral a tese de que a estrutura da inds-

    tria detm as razes das diferenas observveis

    no desempenho das firmas (Indstria, na eco-

    nomia Industrial de Mason e Bain, definida

    como o conjunto de empresas que produzem e

    disponibilizam ao mercado produtos que so

    substitutos e bastante prximos entre si. No

    tem, portanto o sentido normalmente utilizado

    no Brasil que entende indstria como uma f-

    brica de bens de consumo ou de produo). Em

    termos simples, o que a SCP nos diz que o

    conjunto das empresas de um determinado se-

    tor contm mais explicaes sobre o desempe-

    nho individual de cada empresa isoladamente

    do que as aes dos seus gerentes. A frase do

    norte americano John D. Rockefeller, ilustra

    bem essa perspectiva terica: O melhor neg-

    cio do mundo uma empresa de petrleo bem

    administrada. O segundo melhor negcio uma empresa de petrleo mal administrada.

    J a RBV (Viso Baseada em Recursos) susten-

    ta que as diferenas de desempenho entre as

    firmas explicada pela