286 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, N 5 Set/Out, 2005

* Laboratrio de Avaliao da Performance Humana Unesp, Rio Claro SP.

Recebido em 25/1/05. 2a verso recebida em 27/4/05. Aceito em 19/6/05.Endereo para correspondncia: B.S. Denadai, Laboratrio de Avaliaoda Performance Humana, IB Unesp, Av. 24A, 1.515, Bela Vista 13506-900 Rio Claro, SP, Brasil. E-mail: bdenadai@rc.unesp.brApoio: CNPq e Fapesp

Efeito da cadncia de pedalada sobre as respostasmetablica e cardiovascular durante o exerccioincremental e de carga constante em indivduos ativos*Benedito Srgio Denadai, Vincius Daniel de Arajo Ruas e Tiago Rezende Figueira

ARTIGO ORIGINAL

Palavras-chave: Freqncia cardaca. Lactato. Intensidade de esforo. Cadncia.Ciclismo.

Keywords: Heart rate. Lactate. Exercise intensity. Cadence. Cycling.

Palabras-clave: Frecuencia cardaca. Lactato. Intensidad de esfuerzo. Cadencia.Ciclismo.

RESUMO

O objetivo central deste estudo foi analisar o efeito da cadnciade pedalada (50 x 100rpm) sobre a freqncia cardaca (FC) e aresposta de lactato sanguneo durante o exerccio incremental ede carga constante em indivduos ativos. Nove indivduos ativosdo sexo masculino (20,9 2,9 anos; 73,9 6,5kg; 1,79 0,9m)submeteram-se a dois testes incrementais e a 6-8 testes de cargaconstante para determinao da intensidade correspondente mxima fase estvel de lactato sanguneo (MLSSintens) nas duascadncias. A potncia mxima (Pmax) atingida no teste incremen-tal e a MLSSintens foram significativamente menores a 100rpm (240,9 12,6W; 148,1 15,4W) quando comparada a 50rpm (263,9 18,6W; 186,1 21,2W), respectivamente. A FCmax no se alterouem funo da cadncia (50rpm = 191,1 8,8bpm; 100rpm = 192,6 9,9bpm). Independentemente da cadncia, os percentuais daFCmax (70, 80, 90 e 100%) determinaram as mesmas concentra-es de lactato durante o teste incremental. Entretanto, quando aintensidade foi expressa em percentuais da Pmax ou da potnciaabsoluta, os valores de lactato e FC foram sempre maiores na ca-dncia mais alta. A FC correspondente a MLSSintens foi semelhantepara as duas cadncias analisadas (50rpm = 162,5 9,1bpm;100rpm = 160,4 9,2bpm). Com base nestes resultados, pode-mos concluir que, independente da cadncia empregada (50 x100rpm), a utilizao da FC na individualizao da intensidade deesforo indica respostas semelhantes do lactato sanguneo, e queesta relao tambm se mantm no exerccio de intensidade cons-tante realizado na MLSSintens. Por outro lado, a utilizao de percen-tuais da Pmax apresenta dependncia da cadncia utilizada, indi-cando diferentes respostas fisiolgicas para um mesmo percentual.

ABSTRACT

Effects of the pedaling cadence on metabolic and cardiovas-cular responses during incremental and constant workloadexercises in active individuals

The main purpose of this study was to analyze the effect of thepedaling cadence (50 x 100 rpm) on the heart rate (HR) and theblood lactate response during incremental and constant workloadexercises in active individuals. Nine active male individuals (20.9 2.9 years old; 73.9 6.5 kg; 1.79 0.9 m) were submitted to twoincremental tests, and to 6-8 constant workload tests to determinethe intensity corresponding to the maximal lactate steady state(MLSSintens) in both cadences. The maximal power (Pmax) attainedduring the incremental test, and the MLSSintens were significantly

lower at 100 rpm (240.9 12.6 W; 148.1 154.W) compared to 50rpm (263.9 18.6 W; 186.1 21.2 W), respectively. The HRmaxdid not change between cadences (50 rpm = 191.1 8.8 bpm; 100rpm = 192.6 9.9 bpm). Regardless the cadence, the HRmax per-centage (70, 80, 90, and 100%) determined the same lactate con-centrations during the incremental test. However, when the inten-sity was expressed in Pmax percentage or in absolute power, thelactate and the HR values were always higher at highest cadenc-es. The HR corresponding to MLSSintens was similar between ca-dences (50 rpm = 162.5 9.1 bpm; 100 rpm = 160.4 9.2 bpm).Based on these results, it can be conclude that regardless the ca-dence employed (50 x 100 rpm), the use of the HR to individualizethe exercise intensity indicates similar blood lactate responses,and this relationship is also kept in the exercise of constant inten-sity performed at MLSSintens. On the other hand, the use of thePmax percentages depend on the cadence used, indicating differ-ent physiological responses to a same percentage.

RESUMEN

Efecto de la cadencia de pedaleo sobre las respuestas meta-blica y cardiovascular durante el exerccio incrementado yde carga constante en indivduos activos

El objetivo central de este estudio fu el de analizar el efecto dela cadencia de pedaleo (50 x 100 rpm) sobre la frecuencia cardaca(FC) y la respuesta de lactato sanguneo durante el ejercicio incre-mental y de carga constante en indivduos activos. Nueve indiv-duos activos del sexo masculino (20,9 + 2,9 aos; 73,9 + 6,5 kg;1,79 + 0,9 m) se sometieron a dos tests incrementales y a 6-8tests de carga constante para determinacin de la intensidad co-rrespondiente a la mxima fase estable de lactato sanguneo(MLSSintens) en las dos cadencias. La potencia mxima (Pmax) utili-zada en el test incremental y la MLSSintens fueron significativamen-te menores a 100 rpm (240,9 + 12,6 W; 148,1 + 15,4 W) cuandocomparada a 50 rpm (263,9 + 18,6 W; 186,1 + 21,2 w), respectiva-mente. La FCmax no se alter en funcion de la cadencia (50 rpm =191,1 + 8,8 bpm; 100 rpm = 192,6 + 9,9 bpm). Independentemen-te de la cadencia, los percentules de la FCmax (70, 80, 90 y 100%)determinaron las mismas concentraciones de lactato durante eltest incremental. Entre tanto, cuando la intensidad fu expresa enlos percentuales de la Pmax o de la potencia absoluta, los valoresde lactato y de FC fueron siempre mayores en la cadencia masalta. La FC correspondiente a MLSSintens fu semejante para lasdos cadencias analizadas (50 rpm = 162,5 + 9,1 bpm; 100 rpm =160,4 + 9,2 bpm). Con la base en estos resultados, podemos con-cluir que independiente de la cadencia empleada (50 x 100 rpm), lautilizacin de la FC en la individualizacin de la intensidad de es-

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fuerzo indica respuestas semejantes del lactato sanguneo, y queesta relacin tambien se mantiene en el ejercicio de intensidadconstante realizado en la MLSSintens. Por otro lado, la utilizacin deporcentuales de la Pmax presenta dependencia de la cadencia uti-lizada, indicando diferentes respuestas fisiolgicas para un mismoporcentual.

INTRODUO

A cadncia de pedalada uma varivel do gesto motor no ciclis-mo, que sabidamente influencia a performance e diversas respos-tas fisiolgicas ao esforo para uma dada potncia gerada(1,2). Umavarivel fisiolgica que tem sido amplamente analisada em funoda cadncia a eficincia (custo energtico para uma determinadapotncia submxima). Os estudos tm verificado que para umamesma variao na cadncia, podemos encontrar melhora da efi-cincia delta (determinada pelo quociente entre variao do gastoenergtico e variao da potncia gerada) e piora na eficincia bru-ta (gasto energtico total para uma determinada potncia)(3). A ca-dncia preferida por ciclistas (80 a 100rpm) geralmente prximadaquela de maior eficincia neuromuscular (menor aplicao defora no pedal e menor fadiga eletromiogrfica)(4) e maior eficin-cia delta(5). Porm, esta certamente no a cadncia de melhoreficincia bruta ou a que indica menor gasto energtico caso fossemantida sem resistncia externa(6), sendo que indivduos no trei-nados talvez escolham cadncias menores, com menor demandaaerbia para uma dada potncia(2). Outras respostas fisiolgicas,como a ventilao pulmonar, o quociente respiratrio, a produode gs carbnico, o recrutamento das fibras musculares e a con-centrao de lactato sanguneo ([Lac]sang), parecem depender tam-bm da cadncia de pedalada e da intensidade escolhida para ana-lisar esta influncia(3,7). Deste modo, a cadncia escolhida paraavaliao, treinamento ou competio, tem potencial interfernciasobre as respostas fisiolgicas obtidas e a performance propria-mente dita.

Em especial, a resposta do lactato sanguneo ao exerccio temsido bastante utilizada na prescrio da intensidade de esforo(8) eno estabelecimento dos limites de domnios da intensidade deexerccio (moderado, pesado e severo)(9). Exerccios de carga cons-tante realizados em intensidades compreendidas dentro de ummesmo domnio, apresentam respostas fisiolgicas semelhantes,como por exemplo a estabilidade da [Lac]sang e do pH, o desenvol-vimento ou no do componente lento do consumo de oxignio, oatingimento do consumo mximo de oxignio (VO2max) ainda emintensidades consideradas submximas, entre outras(9-11). Diferen-temente de outras abordagens utilizadas na relativizao da inten-sidade do exerccio, a resposta do lactato tem se mostrado vlidapara indicar intensidades de esforo semelhantes, tanto para indi-vduos ativos quanto para treinados(12). Porm, ndices baseadosna resposta do lactato, como o limiar anaerbio (LAn) expresso emvalores absolutos (Watts), claramente sofrem influncia da cadn-cia de pedalada(13). Alternativas a mensurao do lactato sangu-neo a prescrio ou a caracterizao da intensidade de esforoem funo de percentuais do VO2max, da freqncia cardaca mxi-ma (FCmax) e da potncia mxima atingida em um teste incre-mental (Pmax). Os potenciais efeitos da cadencia sobre a utiliza-o destes ndices na prescrio e caracterizao da intensidadede esforo ainda no so totalmente conhecidos, principalmenteem indivduos no treinados no ciclismo.

Particularmente, na prtica de ciclismo em academias, uma dasestratgias utilizadas para variar a intensidade de esforo a alte-rao da cadncia de pedalada. Como geralmente o equipamentoutilizado no possui indicador de carga ou potncia gerada, o meiofreqentemente utilizado para prescrever e controlar a intensida-de de esforo a FC. Entretanto, pouco ainda se conhece sobre aspossveis influncias que a cadncia de pedalada pode apresentarsobre a FC e a resposta de lactato, particularmente durante o exer-

ccio de carga constante. Estas informaes so potencialmenteimportantes na escolha do protocolo incremental utilizado para aavaliao da aptido aerbia, e principalmente, para a utilizao daFC no controle da intensidade do esforo, que o componentemais importante da carga do treinamento e conseqentementedas adaptaes que podem ser determinadas pelo exerccio aer-bio. Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar o efeito dacadncia de pedalada sobre a FC e a resposta de lactato sanguneodurante o exerccio incremental e de carga constante em indiv-duos no treinados no ciclismo.

MATERIAL E MTODOS

Sujeitos

Participaram deste estudo nove indivduos ativos do sexo mas-culino (20,9 2,9 anos; 73,9 6,5kg; 1,79 0,9m), sem experin-cia prvia em treinamento aerbio no ciclismo. Cada voluntrio foiinformado sobre os procedimentos do experimento e suas impli-caes, tendo assinado um termo de consentimento para a partici-pao no estudo. O protocolo foi aprovado pelo Comit de ticaem Pesquisa da instituio onde o experimento foi realizado (Pro-tocolo 2427).

Procedimentos experimentais

Cada voluntrio realizou inicialmente em ordem aleatria, doistestes incrementais (50 e 100rpm) em uma bicicleta de frenagemmecnica (Monark), onde foram determinados o LAn e a Pmax.Posteriormente, tambm em ordem aleatria, realizaram de dois aquatro testes de carga constante em cada cadncia (50 e 100rpm),para determinar a intensidade correspondente mxima fase es-tvel de lactato (MLSSintens). O intervalo entre os testes foi de nomnimo 48 horas, com o protocolo todo durando de 15-20 dias. Ossujeitos foram orientados a virem para os testes descansados, ali-mentados e hidratados e a no realizarem esforos intensos nasltimas 48 horas. Em relao a cada voluntrio, os testes foramrealizados no mesmo local e horrio do dia ( duas horas).

Teste incremental

Os indivduos foram submetidos aos dois testes incrementais,com carga inicial de 83W e incrementos de 33W a cada trs minu-tos, at a exausto voluntria. A FC foi anotada no final de cadacarga e as amostras de sangue foram coletadas nos 20 segundosfinais de cada estgio. A Pmax foi definida como a maior intensida-de obtida no teste incremental mantida por pelo menos um minu-to(14). O LAn foi determinado por interpolao linear utilizando aconcentrao fixa de 3,5mM de lactato sanguneo(12).

Testes de carga constante

Primeiramente os sujeitos foram submetidos intensidade doLAn por 30 minutos ou at a exausto voluntria. Quando os indi-vduos entraram em exausto antes dos 30 minutos ou apresenta-ram aumento maior que um mM na [Lac]sang entre o 10o e o 30o

minuto, um novo teste foi realizado na intensidade LAn 16,5W.Se ainda assim a fase estvel de lactato sanguneo no fosse en-contrada, o teste era novamente repetido na intensidade LAn 33W. Se durante a intensidade do LAn o sujeito apresentou faseestvel de lactato sanguneo, o teste foi repetido na intensidadede LAn + 16,5W, e se novamente apresentasse fase estvel oteste era repetido na intensidade LAn + 33W. Nestes testes foramcoletadas a FC e amostras de sangue do lbulo da orelha a cadacinco minutos para anlise do lactato sanguneo. A MLSSintens foidefinida como sendo a maior carga na qual a [Lac]sang no aumen-tou mais do que um mM entre o 10o e o 30o minuto do teste decarga constante(15). Todos estes testes foram realizados para ascadncias de 50 e 100rpm.

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Mensurao do lactato sanguneo e da freqncia cardaca

Foram coletados 25ml de sangue arterializado do lbulo da ore-lha, sem hiperemia, para a determinao do lactato sanguneo. Osangue foi imediatamente transferido para microtbulos de polie-tileno com tampa tipo Eppendorff de 1,5ml, contendo 50ml de NaF1% e este foi armazenado em gelo. A mensurao da concentra-o do lactato foi realizada atravs de um analisador eletroqumico(YSL 2300 STAT). A FC foi monitorada atravs de um freqencme-tro (Polar Vantage NV ).

Comparaes dos valores de FC e [Lac]sang durante o exerc-cio incremental realizado nas duas cadncias

O efeito da cadncia sobre a FC durante o exerccio incrementalfoi analisado expressando os valores desta varivel em funo dapotncia absoluta e do percentual da Pmax. Do mesmo modo, aconcentrao do lactato sanguneo foi analisada em funo da po-tncia absoluta, do percentual da Pmax e do percentual da FCmax.

Anlise estatstica

Os dados esto expressos como mdia DP. Os dados foramanalisados pelo teste t de Student para dados repetidos. Em todosos testes foi adotado um nvel de significncia de p 0,05.

RESULTADOS

Os valores de Pmax, FCmax, MLSSintens, percentual da MLSSin-tens em relao a Pmax (%MLSSintens), FC na MLSSintens (MLSS-FC) epercentual da MLSS-FC em relao a FCmax (%MLSS-FC) estoexpressos na tabela 1. No houve diferena significante da FC-max, MLSS-FC e %MLSS-FC entre as duas cadncias analisadas.Os valores de Pmax, MLSSintens e %MLSSintens foram significante-mente menores a 100rpm.

TABELA 1Valores mdios DP da potncia mxima (Pmax) e da freqncia cardaca

mxima (FCmax) obtidos durante o teste incremental, da intensidadecorrespondente a mxima fase estvel de lactato expressa em valoresabsolutos (MLSSintens) e relativos a Pmax (%MLSSintens), e da freqncia

cardaca na intensidade de MLSS expressa em valores absolutos (MLSS FC) e relativos a freqncia cardaca mxima (%MLSSFC). N = 9

Pmax FCmax MLSSintens % MLSSintens MLSS FC %MLSSFC(W) (bpm) (W) (bpm)

50rpm 263,9 191,1 186,1 70,7 162,5 85,4 18,6 8,8 21,2 6,2 9,1 6,3

100rpm 240,9 192,6 148,1 61,6 160,4 83,6 12,6* 9,9 15,4* 5,7* 9,2 4,2

* p 0,05 em relao a 50rpm.

Os valores obtidos de FC e [Lac]sang em funo das potnciasabsolutas do teste incremental realizado a 50 e 100rpm esto ex-pressos nas figuras 1 e 2. Nota-se que no houve diferena signi-ficante entre as cadncias apenas para o ltimo estgio analisado,tanto para a FC quanto para a [Lac]sang.

Os valores de FC e [Lac]sang obtidos no teste incremental tam-bm esto expressos em funo de percentuais da Pmax (50, 60,70, 80, 90 e 100%) para as duas cadncias nas figuras 3 e 4. Paraa FC s no houve diferena entre as cadncias a 90 e 100% Pmax.Para a [Lac]sang s no houve diferena entre as cadncias a 100%Pmax.

Quando a [Lac]sang obtida no teste incremental expressa emfuno dos percentuais da FCmax (70, 80, 90 e 100%), no foiverificada diferena significante entre nenhum destes pontos quan-do comparamos as duas cadncias (figura 5).

Fig. 1 Valores mdios DP da freqncia cardaca (FC) em funo dapotncia absoluta obtida durante o teste incremental realizado a 50 e100rpm. N = 9.

* p 0,05 em relao a 50rpm

Fig. 2 Valores mdios DP da concentrao de lactato sanguneo emfuno da potncia absoluta obtida durante o teste incremental realizado a50 e 100rpm. N = 9.

* p 0,05 em relao a 50rpm

Fig. 3 Valores mdios DP da freqncia cardaca (FC) em funo dopercentual da potncia mxima (%Pmax) obtida durante o teste incremen-tal realizado a 50 e 100rpm. N = 9.

* p 0,05 em relao a 50rpm

Fig. 4 Valores mdios DP da concentrao de lactato sanguneo emfuno do percentual da potncia mxima (%Pmax) obtida durante o testeincremental realizado a 50 e 100rpm. N = 9.

* p 0,05 em relao a 50rpm

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DISCUSSO

O objetivo central deste estudo foi analisar o efeito da cadnciade pedalada sobre a FC e a resposta de lactato sanguneo duranteo exerccio incremental e de carga constante em indivduos notreinados no ciclismo. O resultado mais importante do nosso estu-do foi que a [Lac]sang durante o exerccio incremental expressa emfuno dos percentuais da FCmax (70, 80, 90 e 100%) e a FC cor-respondente a MLSSintens so independentes da cadncia analisa-da. importante ressaltar que este comportamento ocorreu ape-sar de a cadncia ter modificado a FC expressa em funo dapotncia (absoluta e %Pmax) durante o exerccio incremental e apotncia (absoluta e %Pmax) correspondente MLSSintens.

As alteraes que a FC apresentou, em funo da cadncia parauma dada potncia submxima absoluta (figura 1), j foi reportadaanteriormente(3), e possivelmente est relacionada s diferenasna demanda aerbia (VO2), visto que outras alteraes hemodin-micas (volume de ejeo e dbito cardaco) tambm acontecemno sentido de atender a este aumento da demanda energtica queocorre nas cadncias mais elevadas(16). Confirmando esta hipte-se, Chavarren et al.(3) verificaram que os valores de FC, para umdado VO2 durante o exerccio incremental, so independentes dacadncia empregada. Interessantemente, as diferenas na FC du-rante o exerccio incremental continuam existindo mesmo quandoas comparaes so feitas em relao aos percentuais da Pmax(figura 3). Este comportamento ocorre, provavelmente, pelo me-nor efeito da cadncia no ndice mximo (Pmax = 8%) do que nondice submximo (MLSSintens = 20%) (tabela 1), como demonstra-do tambm por Woolford et al.(13). Estes efeitos que a intensidadeanalisada tem sobre as alteraes fisiolgicas encontradas, em fun-o da manipulao da cadncia, j so bem conhecidos para aseficincias bruta e delta, as quais aumentam com o incremento daintensidade para uma dada cadncia(3,7). Ou seja, quanto maior apotncia absoluta realizada na bicicleta, menor a influncia dacadncia sobre os ndices fisiolgicos analisados.

Assim como a FC, a [Lac]sang (figuras 2 e 4), tanto para as potn-cias absolutas quanto para as relativas (%Pmax), foi dependenteda cadncia analisada. Este mesmo comportamento foi encontra-do durante o exerccio de carga constante, quando a potncia cor-respondente a MLSSintens expressa tambm em valores absolutose relativos foi menor a 100rpm. Porm, quando a intensidade ana-lisada aproxima-se da Pmax, os valores de lactato tendem a valo-res mximos e no se mostram dependentes da cadncia (figuras1, 2, 3 e 4). Os mecanismos determinantes destas diferenas na[Lac]sang ainda no so bem entendidos. O padro de recrutamentodas fibras musculares, que sabidamente influenciado pela ca-dncia, talvez possa ser afastado, tendo em vista que o maior re-crutamento de fibras musculares tipo II, que potencialmente pro-porcionaria maiores concentraes de lactato, ocorreria nascadncias mais baixas(17). Por outro lado, as alteraes hemodin-

micas, principalmente o aumento no fluxo intramuscular provoca-do pelo aumento da cadncia(18), tem potencial efeito sobre a libe-rao de lactato pela musculatura ativa(19). Dessa forma, a [Lac]sangestaria aumentada em funo de um transporte mais rpido entreo compartimento de produo (msculo) e o compartimento deanlise (vasculatura), no significando necessariamente maior taxade formao de lactato. No entanto, isso s explicaria parte dasdiferenas, pois, embora a MLSSintens seja determinada a partir deexerccios com duraes suficientes para equilibrar o gradiente deconcentrao entre os compartimentos, a mesma tambm foi sig-nificativamente alterada pela cadncia empregada. Com isso, pode-se hipotetizar que o aumento da [Lac]sang estaria simplesmente li-gado ao aumento da demanda energtica, com os valores de lactatosanguneo para um dado VO2 no sendo provavelmente influencia-dos pela cadncia de pedalada. Esta hiptese pode ser parcialmentefundamentada nos dados de Woolford et al.(13), que verificaram queo LAn expresso em percentual do VO2max independente da ca-dncia analisada.

Por outro lado, a relao entre FC e a resposta de lactato sangu-neo, tanto durante o exerccio incremental (figura 5) quanto noexerccio retangular (figuras 6 e 7), no influenciada significante-mente pelas cadncias analisadas em nosso estudo. Como j apon-tado anteriormente, a relao FC x VO2 tambm no modifica-da(13), reforando que validade da FC para selecionar determinadasintensidades submximas de exerccio (< VO2max) no ciclismo, independente da cadncia de pedalada. Assim, quando o objetivoda determinao da FC durante o teste incremental encontrardeterminados %VO2max, como o proposto por diversas regres-

Fig. 5 Valores mdios DP da concentrao de lactato sanguneo emfuno do percentual da freqncia cardaca mxima (%FCmax) obtidadurante o teste incremental realizado a 50 e 100rpm. N = 9.

Fig. 6 Valores mdios DP da intensidade correspondente mximafase estvel de lactato expressa em valores absolutos (MLSSintens) e relati-vos a Pmax (%MLSSintens), determinados durante o exerccio de carga cons-tante realizado a 50 e 100rpm. N = 9.

* p 0,05 em relao a 50rpm

Fig. 7 Valores mdios DP da freqncia cardaca na intensidade demxima fase estvel de lactato expressa em valores absolutos (MLSS FC) e relativos freqncia cardaca mxima (%MLSSFC), determinadadurante o exerccio de carga constante realizado a 50 e 100rpm. N = 9.

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ses(20), ou determinadas concentraes de lactato, no parece sernecessria a escolha de uma cadncia de pedalada especfica quan-do da elaborao do protocolo. Do mesmo modo, o controle daintensidade durante o exerccio retangular prescrito com base naMLSSintens pode ser realizado pela resposta da FC correspondentea esta intensidade, mesmo quando as cadncias de pedalada somodificadas.

Embora no tenha sido o objetivo deste estudo, interessanteque se analisem os valores de MLSS FC e %MLSS FC aquiencontrados, pois a determinao da resposta de lactato para aprescrio da intensidade do exerccio ainda restrita a alguns la-boratrios. Nossos valores de FC (MLSS FC = 161bpm; %MLSS FC = 84%) so muito prximos aos encontrados em outro estu-do (MLSS FC = 163bpm; %MLSS FC = 87%), conduzido emnosso laboratrio em indivduos com caractersticas fsicas e deestado de treinamento bem semelhantes ao analisado neste estu-do (dados no publicados). Com isso, na impossibilidade da deter-minao direta da resposta de lactato, sugere-se que a prescrioda intensidade de treinamento aerbio no ciclismo com base naMLSSintens, possa ser feita a partir dos percentuais da FCmax aquiencontrados (75 a 90 % FCmax). A MLSSintens tem sido considera-da o limite superior para a prescrio do treino aerbio, particular-

mente aquele realizado de modo contnuo por indivduos sedent-rios/ativos. Deve-se atentar, entretanto, que alm da variabilidadeindividual, estes percentuais deveriam ser utilizados por indivduosque possuam as mesmas caractersticas dos nossos voluntrios,pois a %MLSS FC depende da aptido aerbia dos indivduos(21).Finalmente, necessrio lembrar tambm das limitaes que ouso da FC tem para o controle do exerccio de longa durao, comoo desvio cardiovascular e as variaes dirias(22,23).

CONCLUSO

Com base nos resultados encontrados, podemos concluir que,independente da cadncia empregada (50 x 100rpm), a utilizaoda FC na relativizao da intensidade de esforo indica respostassemelhantes do lactato sanguneo, tanto no exerccio incrementalquanto no exerccio de carga constante realizado na MLSSintens. Poroutro lado, a utilizao de percentuais da Pmax apresenta depen-dncia da cadncia utilizada, indicando diferentes respostas fisio-lgicas para um mesmo percentual.

Todos os autores declararam no haver qualquer potencial conflitode interesses referente a este artigo.

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