3 Percursos Metodológicos - PUC-Rio · 2018. 1. 31. · 3.1. Pressupostos e objetivos da pesquisa...

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78 3 Percursos Metodológicos Uma pesquisa é sempre, de alguma forma, um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares muitas vezes já visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experiência e de uma apropriação do conhecimento que são, aí sim, bastante pessoais. Duarte, 2002. Conforme explicitado no capítulo introdutório, o objeto do presente estudo está centrado nas relações entre as culturas escolares e as culturas de referência dos estudantes relacionadas à leitura e à escrita. O objetivo principal é investigar aspectos dessas relações a partir da análise das práticas docentes associadas ao uso e à disposição de espaços didático-pedagógicos e às representações dos atores escolares. Nesse capítulo, detalhamos o percurso metodológico de nossa pesquisa e apresentamos os pressupostos teórico-metodológicos com os quais operamos no processo de análise dos dados. Para tanto, organizamos o capítulo em cinco seções. Na primeira delas, intitulada Pressupostos e objetivos da pesquisa, explicitamos as ideias que nos serviram de ponto de partida para a realização deste estudo e os objetivos que nortearam a nossa pesquisa. A segunda seção, Abordagem e natureza da pesquisa, situa a pesquisa com relação à abordagem utilizada – estudo de caso -, listando suas principais características, limites e potencialidades. Na seção seguinte, elencamos os critérios utilizados para a seleção da escola que se constituiu como universo do nosso estudo e justificamos nossa escolha a partir dos dados do Projeto GERES. A quarta seção traz uma série de informações atinentes ao processo de incursão ao campo, como as dificuldades encontradas antes e durante este percurso.

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    3 Percursos Metodológicos

    Uma pesquisa é sempre, de alguma forma, um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares muitas vezes já visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experiência e de uma apropriação do conhecimento que são, aí sim, bastante pessoais.

    Duarte, 2002.

    Conforme explicitado no capítulo introdutório, o objeto do presente estudo

    está centrado nas relações entre as culturas escolares e as culturas de referência

    dos estudantes relacionadas à leitura e à escrita. O objetivo principal é investigar

    aspectos dessas relações a partir da análise das práticas docentes associadas ao uso

    e à disposição de espaços didático-pedagógicos e às representações dos atores

    escolares.

    Nesse capítulo, detalhamos o percurso metodológico de nossa pesquisa e

    apresentamos os pressupostos teórico-metodológicos com os quais operamos no

    processo de análise dos dados.

    Para tanto, organizamos o capítulo em cinco seções.

    Na primeira delas, intitulada Pressupostos e objetivos da pesquisa,

    explicitamos as ideias que nos serviram de ponto de partida para a realização deste

    estudo e os objetivos que nortearam a nossa pesquisa.

    A segunda seção, Abordagem e natureza da pesquisa, situa a pesquisa com

    relação à abordagem utilizada – estudo de caso -, listando suas principais

    características, limites e potencialidades.

    Na seção seguinte, elencamos os critérios utilizados para a seleção da escola

    que se constituiu como universo do nosso estudo e justificamos nossa escolha a

    partir dos dados do Projeto GERES.

    A quarta seção traz uma série de informações atinentes ao processo de

    incursão ao campo, como as dificuldades encontradas antes e durante este

    percurso.

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    Na seção a seguir, apresentamos os instrumentos empregados para produzir

    os dados, justificamos nossa opção pelo emprego dos mesmos e descrevemos a

    maneira como os utilizamos no decorrer da pesquisa. Nessa mesma seção,

    delineamos as categorias das quais lançamos mão e que nos auxiliaram no

    processo de produção, organização e consolidação dos dados da pesquisa.

    3.1. Pressupostos e objetivos da pesquisa

    Nesse estudo, partimos do pressuposto de que existem determinadas

    culturas escolares potencializadoras de aprendizagem refletidas em formas de

    organização e disposição de espaços didático-pedagógicos, determinadas

    concepções de leitura e práticas pedagógicas guiadas pela cultura social de

    referência dos alunos.

    Dessa ideia, desprendem-se duas questões as quais permearam nosso

    estudo:

    1. A Escola Esperança trabalha de maneira a tornar presentes

    elementos das culturas sociais de referência da sua população-alvo

    no cotidiano da instituição?

    2. Em caso positivo, como esses elementos aparecem e se integram às

    culturas escolares do estabelecimento de ensino?

    A partir dessas questões-chave, abordamos o conceito de culturas escolares

    a partir de três eixos de análise44 de reconhecido potencial analítico (Faria Filho et

    all, 2004), a saber: i) espaços escolares; ii) representações docentes; e iii) práticas

    pedagógicas45.

    No que se refere ao eixo espaços escolares, as observações e as análises

    foram guiadas pelos questionamentos:

    44 Os eixos em questão estão descritos com detalhes no capítulo anterior. 45 Os três estarão relacionados, no contexto dessa pesquisa, ao desenvolvimento de habilidades de leitura na escola.

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    - Espaços didático-pedagógicos direcionados ao desenvolvimento de

    atividades de leitura, como por exemplo, sala de leitura, biblioteca,

    laboratório de informática, murais e cantinhos de leitura são

    disponibilizados de forma a proporcionar situações de interação

    cultural?

    - Quais são as formas escolares da cultura escrita presentes em

    espaços como murais da escola e das salas de aula, cantinhos de

    leitura e sala de leitura?

    - Do ponto de vista pedagógico, quais são as práticas docentes

    implícitas nas formas de organização, da disposição da utilização e

    das mensagens veiculadas nos espaços destinados às práticas de

    leitura das escolas?

    - A disposição e a organização destes espaços didático-pedagógicos

    podem favorecer o aumento do aprendizado de seus alunos? De

    que maneira?

    Quanto ao eixo representações de escrita e leitura, contemplamos as

    seguintes questões de estudo, captadas por meio de entrevistas:

    - Qual é o sentido atribuído pelos agentes escolares à leitura?

    (diretora, coordenadores e professores)

    - A ideia que os educadores da escola têm a respeito do trabalho com

    a leitura na escola se articula com a cultura social de referência dos

    estudantes?

    - A concepção de leitura dos sujeitos escolares da instituição pode

    favorecer o aumento do aprendizado de seus alunos? De que

    maneira?

    Com relação ao eixo práticas pedagógicas, as seguintes questões

    permearam o processo da pesquisa:

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    - Qual é o foco das práticas de leitura desenvolvidas em sala de aula

    com os alunos? (Ênfase nos aspectos formais ou sociais da língua)

    - As diferentes linguagens correntes hoje na sociedade são

    incorporadas nas práticas pedagógicas da instituição? E caso

    positivo, como isto se dá?

    - As práticas desenvolvidas no estabelecimento podem favorecer o

    aumento do aprendizado de seus alunos? De que maneira?

    - As ações pedagógicas destinadas ao ensino e à aprendizagem de

    leitura na escola favorecem o diálogo com o universo cultural dos

    alunos?

    - Estão incluídos, no planejamento das atividades de leitura, aspectos

    da realidade dos alunos e da comunidade em que estão inseridos?

    De que maneira?

    Além desses, outros questionamentos foram considerados pelo fato de

    serem importantes para a compreensão do cotidiano da escola a ser pesquisada:

    - A escola se relaciona com a comunidade? Caso se relacione, de que

    maneira isso acontece?

    - A comunidade participa ou influencia nos processos decisórios da

    escola?

    - Oferece atividades de integração com a comunidade? Em caso

    positivo, são considerados os interesses das famílias e dos alunos

    para a realização dessas atividades?

    3.2. Abordagem e natureza da pesquisa

    Tendo em vista que a finalidade do nosso trabalho se concentra na

    investigação do cotidiano escolar, com foco na negociação e na materialização da

    relação entre culturas escolares e culturas de referência dos alunos no interior de

    um determinado estabelecimento de ensino, realizamos um estudo de natureza

    qualitativa, caracterizado por Lüdke e Andre (1986) como “(...) a pesquisa que

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    tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu

    principal instrumento” (Idem, p. 11).

    Em relação aos estudos de natureza qualitativa, Martins (2004) ressalta que,

    diferentemente do que ocorre nas ciências naturais, nas ciências sociais em geral,

    os fenômenos são complexos, sendo mais difícil distinguir causas e motivações

    isoladas e exclusivas, não podendo ser reproduzidos em laboratório e submetidos

    a controle (Idem, p. 291). Nas pesquisas qualitativas, as reconstruções são

    parciais, dependem de documentos, de observações, sensibilidades e

    perspectivas46, além de ser necessário considerar a influência da posição, da

    história biográfica, da educação, dos interesses e mentalidade do pesquisador.

    A autora ressalta, ainda, que neutralidade não existe e a objetividade é

    relativa, proveniente de critérios que serão definidos pelo pesquisador em relação

    aos problemas que ele está investigando (Ibidem, 292). Nesse contexto, o foco das

    metodologias qualitativas se localiza na análise de microprocessos, no estudo de

    ações sociais individuais e grupais, tratando-as como totalidades que desafiam o

    pesquisador.

    Martins atribui, nessa direção, três características que, a nosso ver, são

    primordiais na pesquisa qualitativa.

    A primeira delas, a flexibilidade, relaciona-se, principalmente, às técnicas de

    coleta de dados. Segundo a autora, é possível empregar diferentes técnicas para o

    estudo que está sendo realizado (Idem, p. 293).

    A outra característica listada pela autora, denominada heterodoxia, aplica-

    se, de maneira geral, à análise dos dados. Isso se justifica porque, devido à

    variedade de material coletado, exige-se do pesquisador maior capacidade

    integrativa e analítica, criadora e intuitiva (Ibidem, p. 292).

    A última característica descrita pela autora e que consideramos essencial à

    pesquisa qualitativa, é a proximidade entre o sujeito e objeto do conhecimento.

    Nesse contexto, a inserção do pesquisador no universo a ser investigado depende,

    em grande parte, do convencimento dos sujeitos acerca da necessidade e da

    importância da pesquisa. Para que a pesquisa aconteça, torna-se necessário,

    portanto, que os pesquisados permitam ao pesquisador interagir e realizar sua

    observação, concedendo-lhe entrevistas e/ou conversas informais. O pesquisador

    46 A autora cita Da Matta, 1991.

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    deve demonstrar confiança, segurança, sentimento de colaboração, além de

    simpatia, afeto e empatia. Ademais, é preciso preparar a “entrada” no campo,

    adquirindo conhecimento prévio do contexto e dos grupos por meio de leituras e

    intercâmbios com especialistas acadêmicos (Van Zanten, 2004).

    Martins (2004) acrescenta que, no âmbito da metodologia qualitativa, não

    cabe a preocupação com a generalização, posto que sua principal finalidade “é o

    estudo em amplitude e em profundidade, visando a elaboração de uma explicação

    válida para o caso (ou casos) em estudo, reconhecendo que os resultados obtidos

    são sempre parciais” (Idem, p. 292).

    A respeito da generalização em pesquisas de cunho qualitativo, Becker, no

    livro Segredos e Truques da Pesquisa, publicado em 2007, chama atenção para o

    fato de que “o que é útil é a descrição de algo mais geral que os fatos particulares

    que descobrimos, mas menos geral do que noções de identidade e interação

    social” (p. 165). O autor acredita que se deve buscar, em pesquisas qualitativas,

    algo intermediário, como teorias de médio alcance47. Para tanto, sugere que

    reformulemos, ao final da pesquisa, as frases que definem nossos resultados,

    retirando delas todas as palavras que puderem se referir ao caso em particular,

    tornando, assim, seus resultados mais abrangentes e aplicáveis a outros contextos

    (Idem, p. 166). O autor sugere, ainda, que enxergar um conceito em nossa

    pesquisa como uma generalização empírica nos auxilia a evitar erros analíticos (p.

    172).

    Para Becker (2007), todas as pesquisas, mesmo as qualitativas, podem ser

    consideradas generalizáveis, num nível ‘intermediário’, ou seja, aplicável a

    determinados grupos e situações.

    Definida, então, como sendo de cunho qualitativo, nossa pesquisa pode ser

    caracterizada como um estudo de caso, pelo fato de tratar do “estudo de um caso

    específico, uma instância singular” (Lüdke e André, 1986, p. 21).

    No artigo denominado O estudo de caso como modalidade de pesquisa,

    publicado em 2007, Ventura apresenta de maneira bem estruturada os significados

    atribuídos ao termo estudo de caso, inserindo-o no campo da pesquisa em

    educação.

    47 O autor cita Robert Merton.

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    Originado das pesquisas médicas e psicológicas, o estudo de caso tinha

    como principal finalidade explicar a dinâmica de determinadas doenças e

    patologias, tornando-se, mais tarde, modalidade de pesquisa qualitativa no âmbito

    das Ciências Sociais, especialmente após os estudos antropológicos de

    Malinowski e da Escola de Chicago (Ventura, p. 384, 2007).

    Entre os posicionamentos acerca do estudo de caso, a autora cita o

    entendimento conferido por Lüdke e André (1986), no qual nos apoiamos quando

    definimos nossa pesquisa como um estudo de caso. Ao citar Yin, a autora

    explicita que o estudo de caso representa

    uma investigação empírica e compreende um método abrangente, com a lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados. Pode incluir tanto estudos de caso único quanto de múltiplos, assim como abordagens quantitativas e qualitativas de pesquisa.

    (Ventura, p. 384, 2007)

    A autora define que, em estudos de caso, os pesquisadores devem buscar

    “tanto o que é comum quanto o que é particular em cada caso e o resultado final

    provavelmente mostrará alguma coisa original” (Idem, p. 384), focando aspectos

    tais como a natureza e o histórico do caso, o contexto no qual se insere, outros

    casos pelos quais é reconhecido e os informantes pelos quais pode ser conhecido.

    De modo geral, os estudos de caso são apropriados para pesquisadores

    individuais, já que possibilitam o entendimento aprofundado e abrangente de

    determinado caso num dado tempo, e para a investigação de fenômenos quando

    há uma grande variedade de fatores e relacionamentos que podem ser diretamente

    observados e para os quais não existem leis (Ibidem, p.385).

    Empregado como modalidade de pesquisa, o estudo de caso apresenta

    vantagens e desvantagens. Ventura (2007) destaca a vantagem de se tratar de uma

    pesquisa que estimula novas ideias em função da sua flexibilidade, além de

    abarcar múltiplas dimensões de um problema. No entanto, a autora lembra da

    dificuldade em generalizar a partir de um estudo de caso e da falsa ideia de que

    este é um tipo de pesquisa ‘fácil’ de ser desenvolvida.

    Ventura coloca, ainda, que os estudos de caso, de modo geral, seguem

    quatro fases para a sua produção: i) delimitação da unidade de caso; ii) coleta de

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    dados; iii) seleção, análise e interpretação dos dados; e iv) elaboração do relatório

    do caso.

    Acerca dessa estruturação associada ao estudo de caso, Marli André, em

    artigo publicado em 1984 nos Cadernos de Pesquisa, denominado Estudo de

    Caso: seu potencial na Educação, ressalta, contudo, que este não deve ser

    considerado como uma modalidade de pesquisa apoiada num “pacote

    metodológico padronizado”, mas sim uma “forma particular de estudo”.

    Em sua recente obra publicada no ano de 2005, intitulada Estudo de caso em

    pesquisa e avaliação educacional, André retorna à questão do próprio

    pesquisador como um dos principais elementos de um estudo de caso (André, p.

    41, 2005), ressaltando a importância da sua postura perante o universo de estudo.

    O pesquisador deve ter consciência de que seu olhar acerca da realidade

    observada é atravessado por suas representações pessoais e por seus

    posicionamentos teóricos. Por isso, uma das virtudes do pesquisador, nesse

    contexto, deve ser a sensibilidade (Idem, p. 40).

    Sensibilidade é outra característica frequentemente mencionada quando se fala nas qualidades necessárias ao pesquisador que escolhe o estudo de caso. Ele precisa usar a sua sensibilidade especialmente no período de coleta de dados quando deve estar atento às variáveis relacionadas ao ambiente físico, às pessoas, aos comportamentos, a todo contexto que está sendo estudado. Além disso, ele também vai ter que recorrer às suas intuições, percepções e emoções para explorar tanto quanto possível, os dados que vão sendo colhidos. Mais ainda, ele terá que manter uma constante atitude de vigilância para detectar e avaliar o peso de suas preferências pessoais, filosóficas, religiosas, políticas, no decorrer de toda investigação.

    Sobre este aspecto, Becker (p. 32, 2007)48 acrescenta uma série de ressalvas

    em relação aos estereótipos do próprio pesquisador:

    O pesquisador nas ciências sociais tem e utiliza um outro conjunto de imagens preessabelecidas. São imagens constituídas por suas teorias, pelas crenças correntes em seus próprios círculos profissionais e por suas ideias de como o mundo empírico deve ser construído de modo a lhe permitir seguir seu procedimento de pesquisa. Nenhum observador cuidadoso pode honestamente negar que isso é verdade.

    48 O autor faz referência às palavras de Herbert Blumer, um de seus professores na Universidade de Chicago.

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    O autor chama atenção, portanto, para o fato de que as nossas

    representações influenciam nosso trabalho de pesquisa. Chamamos atenção para

    essa questão justamente para registrar nosso reconhecimento de que nossas

    escolhas e interpretações nessa pesquisa não são neutras.

    Sarmento (2003)49, ao caracterizar o estudo de caso como uma pesquisa

    cuja natureza do objeto de incidência da investigação é singular, acrescenta que o

    formato metodológico se situa numa unidade, visando conhecer sua globalidade

    (pessoal, acontecimento ou organização). Nessa perspectiva, há duas tipologias de

    estudo de caso50: uma denominada como “estudos de definição espacial” e outra,

    “estudos de definição temporal” (idem, p. 138).

    Os estudos de definição espacial incluem, segundo o autor, os indivíduos,

    os papéis sociais, pequenos grupos, organizações, comunidades ou contextos. Já

    os estudos de definição temporal, incidem, basicamente, em episódios limitados

    no tempo. Entre essas, nossa pesquisa foi pautada na primeira tipologia - estudos

    de definição espacial - pois incide sobre a investigação de uma determinada

    organização escolar.

    Em suma, realizamos uma pesquisa apoiada na abordagem qualitativa,

    especificamente delineada no âmbito de um estudo de caso, cujo foco recai sobre

    os estudos de definição espacial, pelo fato de que temos uma organização escolar

    como universo.

    3.3. A escolha do universo da pesquisa

    A escola que constitui o universo da pesquisa, denominada, para os fins de

    nosso estudo, como Escola Esperança, foi escolhida em função dos resultados

    obtidos no projeto denominado GERES - Estudo Longitudinal da Geração Escolar

    2005. No momento da seleção da escola, levamos em consideração os seguintes

    critérios:

    49 O autor cita Stake (1998). 50 O autor cita Miles e Huberman (1994).

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    1. ter sido escolhida para compor a amostra do Projeto GERES;

    2. ter feito parte do grupo de instituições de ensino localizadas na cidade

    do Rio de Janeiro;

    3. pertencer à rede municipal de ensino51;

    4. ter composto o grupo de estabelecimentos que apresentaram a média

    do nível socioeconômico classificada como baixa;

    5. estar entre as escolas que obtiveram os maiores ganhos no desempenho

    em Leitura52 ao longo das cinco aplicações de testes do Projeto

    GERES.

    O intuito foi selecionar, no universo das instituições de ensino participantes

    do Projeto GERES, uma das escolas que tivesse promovido melhores resultados

    na aprendizagem, levando-se em consideração as condições sociais do público por

    ela atendido.

    A inclusão da variável de nível socioeconômico no processo de escolha da

    escola que compôs nosso universo de pesquisa se justifica pelo fato de, no Brasil,

    haver forte associação entre a condição socioeconômica e as condições culturais

    dos estudantes (Soares e Oliveira, 2010).

    Alves e Soares (2009) acrescentam que as diferenças entre os indivíduos são

    consistentemente observadas quanto ao lugar que ocupam na hierarquia social. Os

    autores consideram, dessa forma, que “tais diferenças se associam profundamente

    às oportunidades educacionais, às trajetórias ocupacionais, ao acesso aos bens e

    serviços, ao prestígio social, ao comportamento político e social, etc.” (Idem, p.

    01).

    51 Esse critério se justifica pelo fato de que a rede pública atende, hoje, a maioria dos alunos matriculados no Ensino Fundamental no Brasil. No âmbito do Projeto GERES, trinta escolas compuseram a amostra do estrato municipal no Rio de Janeiro. 52 Embora o Projeto GERES englobe testes de habilidade de Matemática na coleta de dados de natureza cognitiva, foram considerados resultados relativos aos testes de Leitura devido aos interesses de nosso estudo.

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    Sendo assim, Soares e Oliveira (2010) afirmam que qualquer dado de

    desempenho acadêmico deve considerar uma medida das condições sociais do

    aluno, e que, por isso, tem sido cada vez mais constante a utilização de medidas

    do nível socioeconômico em grandes avaliações.

    Nesse contexto, os pesquisadores integrantes do Projeto GERES, ao

    lançarem mão da variável de nível socioeconômico, a concebem como “um

    construto teórico, uma variável latente (não diretamente observada) cuja medida é

    feita pela agregação de informações sobre: a educação, a ocupação e a riqueza ou

    rendimento dos indivíduos” (Alves e Soares, 2009, apud Soares e Oliveira, 2010,

    p. 01).

    No âmbito do Projeto GERES, o indicador de nível socioeconômico foi

    obtido por meio de dois instrumentos.

    O primeiro deles foi um questionário enviado aos pais dos alunos

    matriculados nas turmas participantes da pesquisa composto por perguntas a

    respeito da renda da família, ocupação e escolaridade dos pais. A renda da família

    foi medida indiretamente a partir de informações sobre itens referentes a bens

    materiais presentes na casa do aluno. Estes itens, no Projeto GERES, foram

    denominados como itens de conforto e incluíram as variáveis abaixo

    discriminadas:

    Tabela 1

    Itens e Categorias da escala de nível socioeconômico, Índice Renda

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    Fonte: Nota técnica sobre NSE, GERES, 2010.

    De acordo com Soares e Oliveira (2010), as ocupações dos pais foram

    categorizadas segundo a Classificação Brasileira de Ocupações de 2002 (CBO

    2002)53 e a International standard classification of occupation 1988 (ISCO 88)54.

    Entre as ocupações da mãe do aluno55, foi considerada aquela de maior

    valor/status socioeconômico. No quadro a seguir podemos observar as categorias

    consideradas:

    Quadro 1 Categorias da variável “Ocupação” da mãe

    Fonte: Nota técnica sobre NSE, GERES, 2010.

    Já a escolaridade foi mensurada a partir de uma escala que levou em

    consideração a escolaridade da mãe do aluno, conforme quadro abaixo:

    Quadro 2 Categorias da variável “Grau de instrução” da mãe

    53 A Classificação Brasileira de Ocupações – CBO foi instituída pela portaria ministerial nº. 397, de 9 de outubro de 2002 e tem por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto aos registros administrativos e domiciliares. Trata-se de um documento que reconhece, nomeia e codifica os títulos e descreve as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro e se encontra à disposição dos pesquisadores por meio de consulta feita pela Internet. Essas e outras informações estão disponíveis no endereço eletrônico http://www.mtecbo.gov.br. 54 A International standard classification of occupation é uma das principais ferramentas de classificação que pertencente a um grupo internacional de classificações econômicas e sociais. Trata-se de uma ferramenta para organizar empregos em grupos definidos claramente em função das tarefas envolvidas em cada um deles. Destina-se a pesquisadores e usuários de maneira geral. Maiores informações a respeito podem ser encontradas em http://www.ilo.org/public/spanish/bureau/stat/isco/intro3.htm . 55 No método utilizado pelos pesquisadores do Projeto GERES, foi levada em consideração apenas a escolaridade da mãe, pois o efeito da mãe na escolarização dos filhos é considerado superior ao do pai.

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    Fonte: Nota técnica sobre NSE, GERES, 2010.

    O segundo instrumento utilizado para construir o indicador de nível

    socioeconômico no Projeto GERES foi um questionário aplicado aos alunos junto

    dos cadernos de atividades de Leitura e Matemática na 4ª e 5ª onda. As questões

    versavam sobre características demográficas dos alunos (sexo, etnia e idade),

    escolaridade dos pais (a partir da mesma escala utilizada junto aos pais) e bens de

    conforto, similares aos empregados no questionário dos pais, visando ampliar o

    percentual de informações coletadas sobre os alunos.

    O cálculo final do nível socioeconômico dos alunos levou em conta as

    informações obtidas por meio dos dois instrumentos. É importante ressaltar,

    entretanto, que a média do NSE foi feita a partir dos questionários que retornaram.

    No município do Rio de Janeiro, o cálculo foi efetuado com base em cerca de

    50% dos questionários dos pais e 595 dos questionários dos alunos, conforme

    apontado nas Tabelas 2 e 3.

    Tabela 2 Taxas de retorno do questionário de pais no município do Rio de Janeiro

    Município

    Alunos

    participantes do

    GERES

    Devolução do

    Questionário de Pais

    Proporção % de

    questionários

    devolvidos

    Belo Horizonte 7253 4909 67,7

    Campinas 8323 5967 71,7

    Campo Grande 7609 3239 42,6

    Rio de Janeiro 8907 4554 51,1

    Salvador 7250 3844 53,0

    Total 39342 22513 57,2

    Fonte: GERES, 2011.

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    Tabela 3 Número de respondentes do questionário de alunos, por município

    Município

    Alunos

    participantes do

    GERES

    Alunos respondentes

    do Questionário de

    Alunos

    Proporção % dos

    alunos respondentes

    Belo Horizonte 7253 4308 59,4%

    Campinas 8323 4727 56,8%

    Campo Grande 7609 3109 40,8%

    Rio de Janeiro 8907 5321 59,7%

    Total 39342 17465 44,4%

    Fonte: GERES, 2011.

    Em nossa pesquisa, optamos por agrupar as trinta escolas da rede municipal

    do Rio de Janeiro que compuseram a amostra do GERES e subdividi-las em três

    faixas a partir do cálculo das médias do NSE dos alunos. Com isso, os

    estabelecimentos de ensino municipais ficaram agrupados em faixas de NSE alto,

    médio e baixo.

    O gráfico abaixo representa o ganho das médias de desempenho em Leitura

    da Escola Esperança, em vermelho, comparado ao ganho médio das demais

    escolas municipais, em azul, ao longo das cinco ondas de aplicação de testes do

    Projeto. A partir deste gráfico, podemos acompanhar a evolução da aprendizagem

    dos alunos das turmas GERES da Escola Esperança em relação às demais

    instituições de ensino.

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  • 92

    Gráfico 1 Evolução das Médias de Desempenho em Leitura das Escolas Municipais do Rio de Janeiro

    Fonte: Estudo da Geração Escolar 2005

    Ao observarmos o gráfico acima, podemos visualisar os ganhos das médias

    de desmpenho por meio da variação da pontuação de proficiência obtida em

    Língua Portuguesa pela variação no tempo, no caso anualmente. A unidade do

    ganho de desempenho, portanto, pode ser exprimida como pontos/ano. Em outras

    palavras, o ganho representa o quanto a escola evoluiu em termos de pontos de

    proficiência56 no decorrer de um ano. Em termos matemáticos, essa taxa também

    pode ser representada pela inclinação da curva no referido gráfico em um

    determinado ponto no tempo. Por exemplo, no início do ano de 2005 (aplicando-

    se no intervalo entre início de 2005 e o final de 2005, a saber, Onda 1 e Onda 2,

    respectivamente), a curva da Escola Selecionada, representada em vermelho,

    possui uma maior inclinação que a curva das Escolas Municipais do RJ,

    representada em azul. Logo, pode-se concluir que, nesse intervalo, a Escola

    Esperança apresentou um ganho maior quando comparada às demais escolas da

    rede municipal, mesmo tendo uma pontuação mais baixa como ponto de partida.

    Conforme pudemos observar, a Escola Esperança obteve uma das menores

    médias de proficiência em Leitura na primeira onda, realizada no início de 2005.

    Vale dessacar que a primeira aplicação de testes foi realizada no ano em que a

    56 Os níveis de proficiência em Leitura no Projeto GERES são interpretados a partir de uma escala de leitura, que pode ser encontrada em anexo. A escala vai de ‘menor que 50’ até 200, em intervalos de 25 pontos.

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  • 93

    geração escolar da amostragem principiou o ensino fundamental. Com efeito

    diagnóstico, os resultados da Onda 1 estão associados ao conhecimento prévio dos

    estudantes em termos de conhecimentos escolares e uso social da língua

    portuguesa.

    Nesse contexto, podemos verificar que os alunos da Escola Esperança

    partiram de um patamar inferior de proficiência em Leitura em relação à média

    das outras escolas municipais, em março de 2005. No entanto, ao final de 2005,

    em novembro, os ganhos da Escola Esperança chegaram a ultrapassar o ganho

    médio das escolas municipais, acumulando, até 2008, uma diferença de quase 10

    pontos em relação àquelas, como podemos observar no Gráfico 2. Em suma, a

    Escola Esperança atingiu, entre os anos de 2005 e 2008, um valor agregado

    acumulado de cerca de 10 pontos a mais do que o acumulado pelas escolas

    municipais no mesmo período.

    Gráfico 2 Comparação dos ganhos de desempenho em Leitura da Escola Esperança com as médias das

    demais escolas municipais do Rio de janeiro

    Fonte: Estudo da Geração Escolar 2005

    O Gráfico 3 apresenta a distribuição percentual de alunos das turmas

    participantes do GERES pertencentes à rede municipal de ensino e à Escola

    Esperança em três faixas de nível socioeconômico classificadas em alta, média e

    baixa. A partir dele, podemos observar que a Escola Esperança apresenta um

    percentual maior de crianças com baixo NSE quando comparada à média dos

    percentuais das escolas da rede municipal.

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  • 94

    Gráfico 3 Distribuição Percentual dos Alunos por NSE

    Fonte: Estudo da Geração Escolar 2005

    Ao considerarmos somente os percentuais de alunos classificados na faixa

    de NSE baixo da Escola Esperança e das escolas municipais, verificamos que a

    evolução da média de desempenho em Leitura manteve a tendência apontada no

    Gráfico 1. Sendo assim, ainda que tenha partido de uma proficiência inferior à

    média das demais instituições, a Escola Esperança, representada na reta em

    vermelho, obteve um ganho maior de desempenho ao final das cinco ondas de

    testes do GERES.

    Gráfico 4 Evolução das Médias de Desempenho em Leitura das Escolas Municipais do Rio de Janeiro de

    Nível Socioeconômico Baixo

    Fonte: Estudo da Geração Escolar 2005

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  • 95

    A Tabela 4 apresenta os dados do gráfico acima com maiores detalhes:

    Tabela 4 Comparação da evolução das médias de desempenho em Leitura da Escola Esperança com as

    médias das demais escolas municipais do Rio de Janeiro

    É importante registrar que, ao realizar os procedimentos para a escolha da

    escola, verificamos a existência de duas instituições de ensino adequadas ao perfil

    que nos propusemos a investigar. Contudo, optamos pela Escola Esperança por se

    tratar de um estabelecimento localizado em um bairro relativamente afastado de

    morros e comunidades, tendo em vista o momento de violência vivido na cidade

    do Rio de Janeiro na época em que fomos a campo.

    No segundo semestre do ano de 2010, diversas comunidades carentes foram

    ocupadas por militares, em operações de implantação de Unidades de Polícia

    Pacificadora (UPP), promovidas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado

    do Rio de Janeiro. Em reação às operações, os traficantes das comunidades

    ocupadas fizeram uma série de represálias à população, tais como arrastões,

    ataques de criminosos a motoristas nas ruas da cidade, veículos incendiados e

    assassinatos.

    Por essa razão, fomos orientados a não desenvolver nossa pesquisa em uma

    escola situada no interior de comunidades, a fim de preservarmos nossa

    integridade física e nos mantermos em segurança.

    Em se tratando, particularmente, da instituição de ensino que constitui o

    universo deste estudo, os resultados da pesquisa são relevantes sob diferentes

    perspectivas.

    Ano

    Média do Desempenho das Escolas

    Municipais em Leitura

    Baixo NSE

    Média do Desempenho da Escola

    Esperança

    2005 101 92

    2005 118 123

    2006 130 128

    2007 138 140

    2008 151 153

    Fonte: Estudo da Geração Escolar 2005

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  • 96

    Primeiramente, pelo fato de se tratar de um estabelecimento escolhido em

    função dos resultados provenientes do Projeto GERES, um estudo pioneiro no

    Brasil, tanto no que tange à sua abrangência, pois acompanhou mais de vinte mil

    estudantes em cinco grandes cidades situadas em diversos estados, quanto no que

    se refere à metodologia empregada, pois se baseou em um desenho longitudinal

    de pesquisa, acompanhando o mesmo grupo de educandos durante os quatro

    primeiros anos do Ensino Fundamental.

    Além disso, o estabelecimento de ensino escolhido se constitui em um

    peculiar universo a ser investigado. Isso se justifica porque a instituição foi

    selecionada, primordialmente, por ter sido uma das escolas municipais capazes de

    propiciar melhores oportunidades de aprendizagem para alunos de nível

    socioeconômico considerado baixo em relação aos estudantes das demais escolas.

    3.4. O processo de incursão ao campo

    Depois de efetuada a escolha do universo da pesquisa, planejamos o

    processo de incursão ao estabelecimento de ensino a fim de se coletar informações

    acerca dos aspectos suscitados nas questões de estudo.

    No entanto, como acontece com muitos pesquisadores, além das demandas

    de cunho pessoal e profissional, outras dificuldades surgiram até conseguirmos

    iniciar o trabalho de campo.

    A primeira dificuldade foi obter autorização para realizar a pesquisa na

    escola. Primeiramente, nos dirigimos à Coordenadoria Regional de Educação à

    qual a Escola Esperança está subordinada, a fim de nos informarmos acerca dos

    procedimentos para dar início à pesquisa. Fomos orientados a nos apresentar antes

    na Secretaria Municipal do Rio de Janeiro. Uma vez na SME, fomos informados

    sobre a necessidade de submeter nosso projeto de pesquisa à apreciação de uma

    equipe da Secretaria e a um conselho de ética. Essas exigências tinham a

    finalidade de proporcionar um maior controle da SME sobre as atividades

    desenvolvidas pelo pessoal externo à rede nas instituições de ensino. Após a

    aprovação do projeto, retornamos à Coordenadoria Regional de Educação de

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  • 97

    posse do documento contendo a aprovação da pesquisa, para só então

    conseguirmos autorização para entrar na instituição. Pelo fato de todo este

    processo ter levado três meses, foi preciso que alterássemos o cronograma da

    pesquisa, diminuindo, dessa forma, o período de permanência na escola.

    Outro fator que contribuiu para adiar nossa incursão na Escola Esperança foi

    a violência na cidade do Rio de Janeiro, em decorrência da implantação das

    Unidades de Polícia Pacificadora, conforme explicitamos anteriormente.

    Na escola, durante a pesquisa, nos deparamos com outra situação que

    comprometeu a coleta dos dados no ano de 2010: diversos docentes se

    encontravam afastados por estarem gozando uma licença denominada Licença

    TRE57, dentre eles as professoras do quinto ano, justamente as regentes das

    turmas que iríamos observar. Por esse motivo, realizamos as observações das

    aulas em turmas de quinto ano no início de 2011.

    Foram feitas visitas sistemáticas à Escola Esperança em dois momentos:

    durante o segundo semestre de 2010 e primeiro semestre de 2011.

    O primeiro período de incursão ao campo, previsto para os meses de agosto

    a dezembro, teve início somente a partir da segunda quinzena de outubro, devido

    às exigências da SME citadas acima. As visitas iniciais, de caráter exploratório,

    ocorreram de uma a duas vezes por semana em dias alternados, para que

    pudéssemos abranger a maior quantidade de situações de aprendizagem possível.

    Como não foi possível realizar observações de aulas das turmas de quinto ano

    naquele período, permanecemos um tempo maior, observando as atividades

    desenvolvidas na sala de leitura e as interações entre os alunos nos corredores e no

    recreio.

    No segundo momento da pesquisa de campo nos meses de fevereiro e março

    de 2011, as visitas foram iniciadas no primeiro dia do ano letivo e se encerraram

    no último dia antes do recesso de carnaval. Daquela vez, o cotidiano da instituição

    foi vivenciado diariamente, nos turnos da manhã e da tarde, de modo a

    acompanhar, a princípio, as três turmas de 5° ano matriculadas na Escola

    Esperança, duas pela manhã e uma à tarde. Observamos a turma da tarde somente

    durante uma semana, pois a professora se afastou devido a problemas de saúde

    por uma semana e, logo em seguida, foi exonerada da rede municipal pelo fato de

    57 No próximo capítulo abordaremos com maiores detalhes os motivos do afastamento de professores da escola.

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  • 98

    ter sido aprovada no concurso para um colégio federal. A classe ficou sem ter aula

    por alguns dias e depois algumas docentes se revezaram para ficar com o grupo

    provisoriamente até a chegada de outro professor. Decidimos desconsiderar as

    observações das duas aulas acompanhadas e excluímos a turma do contexto da

    pesquisa.

    Dessa forma, terminamos por observar somente as duas turmas de quinto

    ano do turno da manhã.

    3.5. Os instrumentos de produção dos dados e as categori as de análise

    Conforme explicitado anteriormente, buscamos apreender aspectos relativos

    à cultura escolar a partir da investigação dos espaços didático-pedagógicos

    destinados a atividades de leitura na escola, assim como, representações e práticas

    docentes. Nessa seção, apresentamos os instrumentos utilizados para dar conta de

    responder as questões do estudo, associados às categorias empregadas para

    direcionar a produção e organização dos dados.

    As categorias são essenciais para o desenvolvimento de uma pesquisa.

    Brandão (2002) considera que as categorias, quando bem definidas, podem

    assegurar a consistência dos dados e potencializar, consequentemente, a densidade

    da análise e interpretação dos mesmos (p. 39). Segundo a autora, as categorias

    podem ser definidas operacionalmente

    Como vocábulos ou expressões que funcionam como uma espécie de ímã agregador de informações: conceitos-síntese58. Assim, na definição das partes do questionário ou roteiro de entrevistas, as categorias permitem estabelecer uma coerência entre as questões por meio da articulação de informações tomadas da cena cotidiana por meio das representações sociais.

    (Idem, p. 39, 2002)

    Dada a importância das categorias, optamos por organizar essa seção,

    apresentando cada instrumento de produção de dados associado ao roteiro

    58 Grifo da autora.

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  • 99

    construído tendo como base as categorias empregadas, de maneira a facilitar a

    compreensão do desenho da pesquisa.

    Ao investigarmos os espaços didático-pedagógicos, buscamos analisá-los a

    partir de duas perspectivas.

    A primeira delas contribuiu para conhecermos a cultura material da Escola

    Esperança, a organização e disposição de seus espaços didático-pedagógicos e

    seus recursos destinados ao desenvolvimento de atividades de leitura. Para tornar

    possível a captação desses aspectos, lançamos mão da produção de registros

    fotográficos que foram sistematizados e tratados como dados em nossa pesquisa.

    Foram observados e fotografados os espaços didático-pedagógicos destinados à

    promoção de práticas de leitura e escrita na escola, tais como a Sala de Leitura, as

    salas de aula das turmas de 5° ano – e no interior delas, cantinhos de leitura - e os

    murais. Para orientar o processo de produção das fotografias, nos guiamos pelo

    roteiro apresentado na tabela a seguir, ancorado em categorias representadas por

    ‘núcleos’ que funcionaram como ‘ímãs agregadores de informações’, utilizando as

    palavras de Brandão (2002).

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  • 100

    Tabela 5 Itens do Roteiro para produção dos Registros Fotográficos

    Roteiro Registros Fotográficos

    Temas

    Núcleo 1 Infraestrutura da escolaCaracterísticas do prédioEspaços didático-pedagógicos existentes

    Núcleo 2 Recursos Didáticos e Suportes de Leitura

    Murais da escolaMurais das salas de aulaCantinhos de leituraSala de leitura

    Núcleo 3 Organização dos Recursos e Suportes de Leit uraDisposição do mobiliário das salas de aulaLocalização dos suportes de leitura

    Núcleo 4 Materiais de Leitura

    Acervo da Sala de LeituraAcervo do Cantinho de LeituraMateriais afixados nos muraisCartazes e painéis

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  • 101

    A outra perspectiva nos auxiliou na apreensão de possíveis elementos

    dispostos nos espaços que pudessem nos trazer indícios do modo como a Escola

    Esperança dialoga com a cultura social de referência dos seus estudantes. A partir

    dessa ótica, enfocamos os conteúdos dos materiais afixados em murais e cartazes.

    Para tal, fizemos uso novamente de registros fotográficos para posterior análise.

    O uso da iconografia nas ciências sociais é um recurso antigo e bastante

    frequente (Feldman-Bianco e Moreira Leite, 2005, p. 75-76). As fotografias

    podem contribuir para representar o cenário no qual as atividades diárias da

    escola, dos professores, do diretor, dos alunos e do contexto sociocultural interno

    e externo à escola são articuladas e vividas. As imagens fotográficas também

    colaboram para documentar situações, estilos pedagógicos e de gestão escolar,

    gestos e rituais educacionais, permitindo o aprofundamento da compreensão da

    cultura material da escola (Bittencourt, 2005).

    De acordo com o autor, as fotografias, analisadas em seu conjunto e

    contextualizadas no cotidiano da escola investigada, possibilitam recompor as

    práticas pedagógicas e guardam detalhes de um contexto que a mais detalhada

    descrição verbal não daria conta. Dessa forma, os registros fotográficos

    constituem valiosas fontes de dados, contribuindo significativamente para as

    pesquisas.

    Loizos (2010) complementa, justificando a importância do uso de imagens

    na pesquisa social por três razões. A primeira, porque o emprego de imagem no

    processo de pesquisa “oferece um registro restrito, mas poderoso das ações

    temporais e dos acontecimentos reais – concretos e materiais” (Idem, p. 137). A

    segunda razão se justifica devido ao seu uso como dado primário, informação

    visual que não necessita ser escrita em forma de número ou texto escrito. Por

    último, o autor ressalta a grande influência exercida pelos meios de comunicação,

    que, na maior parte dos casos, baseiam-se em elementos visuais, sobre a

    sociedade dos dias de hoje. As imagens passam a ser consideradas, dessa forma,

    como “fatos sociais”, no sentido empregado por Durkheim, não podendo ser,

    portanto, desprezadas (Loizos, 2010).

    Compreendemos que as práticas e as representações estão constantemente

    inter-relacionadas. Para o encaminhamento metodológico da pesquisa, tratamos

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  • 102

    cada qual distintamente, a fim de relacioná-las aos respectivos instrumentos de

    produção de dados e categorias de análise.

    Sendo assim, para captar as representações das professoras, da diretora e das

    coordenadoras, lançamos mão do uso de entrevistas. Segundo Brandão (2002), em

    linhas gerais, “a representação é uma imagem distante da realidade: de tempos,

    lugares, pessoas, coisas e eventos aos quais não temos acesso diretamente” (p.

    40). A autora complementa: “sempre que tivermos numa situação de entrevista,

    estaremos lidando com representações sociais” (p. 40).

    O conceito de representação do qual nos utilizamos operacionalmente na

    presente pesquisa é aquele definido por Hall (p. 61, 1997), em que a

    Representação é o processo pelo qual membros de uma cultura usam a língua (amplamente definida como qualquer sistema que empregue signos, qualquer sistema significante) para produzirem significados. Essa definição já carrega a importante premissa de que as coisas – objetos, pessoas, eventos do mundo – não têm em si qualquer significado estabelecido, final ou verdadeiro. Somos nós – na sociedade, nas culturas humanas – que fazemos as coisas verdadeiras. Somos nós – na sociedade, nas culturas humanas – que fazemos as coisas significarem, que significamos.

    Partindo dessa perspectiva, buscou-se capturar as percepções dos

    educadores em relação às diferentes práticas escolares direcionadas ao trabalho

    com a leitura na escola e ao próprio conceito de leitura e de que maneira articulam

    essas ideias com a cultura social de referência dos alunos. Procurou-se identificar

    também como esses atores caracterizavam seus alunos e suas culturas sociais de

    referência e a maneira como lidam com a diversidade cultural no momento em

    que planejam e executam das atividades.

    Foram elaborados três roteiros diferentes, um para cada perfil profissional –

    diretora, coordenadora, professoras - que podem ser encontrados, na íntegra, ao

    final do trabalho, nos anexos. Os roteiros foram compostos por quinze perguntas

    elaboradas com base nos objetivos da pesquisa e organizadas em quatro

    categorias, apresentadas na Tabela 7 como núcleos.

    Os roteiros se encontram na íntegra nos anexos dessa tese, assim como uma

    das entrevistas, também na íntegra. Embora não se justifique o uso das falas dos

    entrevistados em sua integralidade, é recomendável a apresentação da transcrição

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  • 103

    de pelo menos uma entrevista completa em anexo, a fim de conferir condições de

    críticas entre os pares (Brandão, p. 41, 2002).

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  • 104

    Tabela 6 Itens Roteiro de Entrevista

    Roteiro Entrevista

    Temas

    Núcleo 1 Perfil do profissional

    Nome e idadeFormaçãoTempo de trabalho na rede municipalTempo de trabalho na Escola EsperançaCargos ocupados na Escola EsperançaTempo em cada cargo

    Núcleo 2 Projeto Político Pedagógico (PPP)Linha pedagógica da Escola EsperançaColaboração para a construção do projeto político pedagógico Participação da comunidade na definição dos projetos

    Núcleo 3 Concepções de LeituraConceito de leituraTrabalho de leitura na escola

    Núcleo 4 Percepção acerca dos alunos

    Caracterização dos alunosPercepção acerca da diferença entre os alunosRelação entre as culturas escolares e a cultura social de referência dos alunos no que se refere ao trabalho com a leitura

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  • 105

    Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e individuais com a equipe de

    direção e coordenação da Escola Esperança, assim como com professores de

    turmas de quinto ano e com a professora responsável pela sala de leitura. Ao todo,

    foram realizadas seis entrevistas individuais, cada uma com cerca de uma hora de

    duração e registradas por meio de um gravador manual. Optamos por entrevistar

    os sujeitos da pesquisa após algum tempo de convivência, a fim de possibilitar um

    clima de confiança e cordialidade entre nós.

    As entrevistas com a equipe de coordenação aconteceram na sala da direção,

    a pedido das coordenadoras e da diretora59, Com as professoras aconteceram em

    suas respectivas salas de aula, com exceção de uma professora, que preferiu

    permanecer na sala dos professores para responder às perguntas (essa mesma

    docente não autorizou o uso do gravador, sendo necessário, portanto, que

    transcrevêssemos suas respostas na medida em que a entrevistávamos).

    Nossas entrevistas foram realizadas em dois momentos distintos da incursão

    ao campo.

    No primeiro, realizado ao final do ano letivo de 2010, foram entrevistadas a

    coordenador pedagógicas60 e a professora responsável pela sala de leitura61.

    As demais entrevistas aconteceram em março de 2011, na semana que

    antecedeu o período do recesso de carnaval. Na ocasião, foram entrevistadas a

    diretora, a nova coordenadora pedagógica e as professoras de duas das três turmas

    de 5º ano. Vale ressaltar que decidimos realizar a coleta destes dados ao final do

    período de incursão no campo, para que os atores se sentissem mais seguros com

    nossa presença e se sentissem mais à vontade para responder às perguntas

    livremente.

    A professora da sala de leitura nos concedeu duas entrevistas, pois

    utilizamos a primeira para fins de pré tietagem.

    As transcrições foram realizadas pessoalmente, pois acreditamos que isso

    contribui para um maior reconhecimento dos dados produzidos, além de indicar a

    necessidade (ou não) de mudanças ou redirecionamentos do roteiro da entrevista

    59 No caso da entrevista com a coordenadora em 2010 e com a Diretora, permanecemos na secretaria, a pedido delas, e parávamos a gravação quando éramos interrompidas. 60 A primeira coordenadora entrevistada, que trabalhou por muitos anos na Escola Esperança, foi convidada a trabalhar na Secretaria Municipal de Educação, e, por isso, foi substituída no início do ano de 2011. 61 Na ocasião, as professoras das duas turmas de 5º ano não foram entrevistadas por estarem gozando licença denominada TRE.

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  • 106

    ou utilização de novas estratégias no processo de coleta, características comuns

    das entrevistas semiestruturadas.

    Sempre que possível, as transcrições foram apresentadas aos sujeitos

    entrevistados, os quais tiveram nossa autorização para incluir informações que, no

    momento da entrevista, não foram registradas.

    Além de, geralmente, utilizarmos entrevistas semiestruturadas nas pesquisas

    de cunho qualitativo (Duarte, 2002), a escolha por esse tipo de instrumento de

    coleta de dados, também conhecido como entrevista semidiretiva ou semiaberta,

    justifica-se pelo fato de esse tipo de instrumento de coleta de dados contribuir

    para que as informações ‘fluam’ de forma mais livre, sem condicionar as

    respostas a uma padronização de alternativas (Manzini, 2004). Esse tipo de

    entrevista, nesse sentido, pode favorecer a descrição dos fenômenos sociais,

    associando-as à sua explicação e à compreensão de sua totalidade, mantendo a

    presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de

    informações (Triviños, 1987, apud Manzini, 2004). Ademais, Gaskell (2010)

    ressalta que a entrevista pode ter um papel fundamental na pesquisa qualitativa,

    devido à sua capacidade de combinar-se com outros métodos e instrumentos de

    pesquisa.

    Manzini (2004), nesse contexto, aponta determinados cuidados que os

    pesquisadores devem observar no momento em que formulam as perguntas e as

    questões da entrevista. São apresentados, basicamente, três cuidados, o primeiro

    deles relativo à linguagem utilizada, o outro referente à forma como são

    formuladas as perguntas, e, por último, quanto à sequência das perguntas nos

    roteiros. No entanto, o autor destaca que o fato de elaborar as perguntas

    previamente à inserção no campo não representa o ‘aprisionamento’ do

    pesquisador. Ao contrário, a entrevista semiestruturada tem como uma de suas

    principais características possibilitar a realização de outras perguntas no decurso

    da entrevista, na tentativa de melhor compreender o relato do sujeito ou mesmo a

    questionar posicionamentos que possam ser relevantes para o estudo (Idem,

    2004).

    No processo de análise dos dados obtidos por meio das entrevistas, o estudo

    de Canen (2001), apresentado no Capítulo 2, foi enriquecedor para a nossa

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  • 107

    pesquisa, pois nos forneceu os subsídios dos quais precisávamos para

    compreender as representações das professoras da Escola Esperança.

    Para coletar dados acerca das práticas pedagógicas destinadas ao trabalho com a leitura desenvolvidas na Escola Esperança, foram realizadas observações

    das aulas dos professores das classes do quinto ano, pelo fato de as salas de aula

    serem, por excelência, locais de expressão da cultura escolar e manifestação das

    dinâmicas de didatização, normatização e rotinização do cotidiano escolar.

    Ademais, é no interior desses espaços onde se percebe a centralidade da

    linguagem oral e escrita, a pluralidade da utilização de novas linguagens, assim

    como as articulações, isto é, as possíveis relações com as culturas sociais de

    referência dos alunos. Foram observadas também atividades desenvolvidas na

    Sala de Leitura pela professora responsável pelo espaço. Dessa forma, foi possível

    abranger diferentes situações de aprendizagem da língua materna no âmbito da

    escola, recorrendo ao requisito definido por Van Zanten (2004) como o controle

    da situação de observação, que supõe construir um marco espacial diversificado:

    “Es por ejemplo necesario elegir uno o varios espacios circunscritos para poder

    realizar observaciones de conjuntos completos y convergentes de interacciones.”

    (Idem, p. 306).

    Os fatos observados foram diária e sistematicamente registrados em um

    diário de campo, cujas informações foram, ao final da pesquisa, transcritas a fim

    de facilitar seu manuseio. A tomada de notas, considerada essencial na pesquisa

    qualitativa, pode ser, segundo Van Zanten (2004), de três tipos, a saber:

    Las notas de observación propiamente dichas, que restituyen la descripción de la organización social; las notas metodológicas, en las cuales el investigador comenta los problemas de contacto o de anotación y las notas teóricas, en las cuales el investigador explora conceptos e hipótesis explicativas y tipos de generalización durante el estudio.62

    (Idem, p. 306).

    Para elaborar o roteiro de observação, que pode ser encontrado em anexo,

    nos inspiramos nas três grandes áreas descritas por Nóvoa (1992), sobre as quais

    tratamos no Capítulo 2. Dadas a especificidades de nossa pesquisa, transpusemos

    a adaptamos as categorias listadas pelo autor, subdividindo-as em quatro núcleos,

    62 Grifos nossos.

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  • 108

    usados como categorias na análise dos dados, para que pudéssemos especificar os

    aspectos que foram abrangidos, conforme podemos visualizar na tabela a seguir:

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  • 109

    Tabela 7 Itens do Roteiro de Observação

    Roteiro Observação

    Temas

    Núcleo 1 Aspectos físicos e materiais da EscolaCaracterísticas do prédioQuantidade de salas de aula e demais dependênciasUtilização dos espaços didático-pedagógicos

    Núcleo 2 Práticas Escolares de LeituraDesenvolvimento das atividades de leituraIntegração dos projetos da sala de leitura com as atividades de sala de aula

    Núcleo 3 Interações SociaisRelação da escola com os paisRelação dos professores com os alunos

    Núcleo 4 Presença da Família na EscolaRituais de entrada e saídaÓrgãos colegiados

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  • 110

    Nóvoa (1992) assinala que as modalidades de interação com a comunidade

    representam, sem dúvida, um aspecto crucial no âmbito da análise da cultura

    organizacional da escola. Nesse contexto, o autor apresenta duas áreas de

    intervenção diretamente relacionadas à interação dos pais e responsáveis nas

    atividades escolares: a área escolar, que diz respeito ao conjunto das decisões

    ligadas à instituição de ensino e ao seu projeto educativo, e a área pedagógica,

    relacionada às interações didáticas.

    No âmbito de nossa pesquisa, as áreas descritas por Nóvoa serão utilizadas

    como categoria de análise por trazerem aspectos observáveis que puderam ser

    empregados durante o processo de incursão ao campo.

    Dessa forma, no que se refere à área escolar, os seguintes aspectos foram

    levados em consideração para a construção do roteiro de entrevista:

    a) o nível de envolvimento da comunidade na escolha dos temas do

    Projeto Político Pedagógico da instituição;

    b) a consideração da opinião de pais e responsáveis em decisões

    relacionadas à utilização do edifício escolar; e

    c) a participação dos pais na disponibilização dos recursos e espaços

    educativos, tais como sala de leitura e materiais nela presentes.

    Com relação à área pedagógica, serão levados em conta os seguintes

    aspectos, também contemplados no roteiro de entrevista:

    a) participação dos pais e responsáveis em reuniões e eventos

    promovidos pela escola;

    b) participação da comunidade nos projetos desenvolvidos na escola;

    c) atividades realizadas pela escola em conjunto com os pais; e

    d) atividades realizadas pela escola para inserir os pais no contexto das

    praticas pedagógicas de leitura desenvolvidas com os alunos.

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  • 111

    Ao dispormos dos dados provenientes de diferentes instrumentos, temos a

    oportunidade de comparar diferentes tipos de discurso e confrontar falas de

    diferentes sujeitos sobre a mesma realidade. Dessa forma, conforme elabora

    Fonseca (1999), “constrói-se a tessitura da vida social em que todo valor, emoção

    ou atitude está inscrita. Sem estes recursos, é fácil o neófito descambar para uma

    visão simplificada da realidade (...)” (Idem, p.64).

    Nos dois próximos capítulos, apresentamos os dados de maneira a

    contextualizar a Escola Esperança no que diz respeito a aspectos infraestruturais e

    materiais, administrativos e pedagógicos. Em seguida, procedemos com a análise

    dos dados, tomando como fio condutor as categorias aqui descritas.

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