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Julio Cezar Melatti DAN-ICS-UnB 70910-900 - Brasília, DF Capítulo 30 1 Áreas Etnográficas da América Indígena Nordeste Retocado em 2014 Capítulo 30 Nordeste A maior parte dos grupos indígenas desta área se concentra na bacia do rio São Francisco, tanto junto a suas margens quanto dos seus afluentes, rios temporários que, quando têm água, correm para o curso médio do grande rio, sobretudo para o chamado trecho das corredeiras, que fica entre a cidade pernambucana de Juazeiro ou mais precisamente, a atual represa de Sobradinho, um pouco acima e um ponto mais abaixo de Paulo Afonso a represa de Xingó. Trata-se do trecho menos navegável do rio, onde estão várias represas, aqui enumeradas de cima para baixo: Sobradinho; Itaparica; Paulo Afonso; Xingó. Por isso este trecho passa atualmente por muitas transformações e transferências de populações. É também o trecho que atravessa a parte mais seca da caatinga e em cujas vizinhanças tiveram lugar acontecimentos de grande importância histórica e que despertaram o interesse dos intelectuais brasileiros, inclusive os cientistas sociais: ao sul, no rio Vaza-barris, ficava o arraial de Canudos, a meio caminho entre Jeremoabo e Uauá, onde, no final do século XIX, os seguidores de Antônio Conselheiro resistiram por muito tempo às tropas de repressão até serem aniquilados; foi também a região percorrida por Lampião nos seus últimos anos, até ser morto em Angicos, no município sergipano de Porto da Folha; nesta área fica Santa Brígida, que, além de ser o lugar de origem de Maria Bonita, foi sede de um movimento messiânico mais recente, de caráter mais reformista do que revolucionário, estudado por Maria Isaura Pereira de Queiroz. Depois da expulsão dos holandeses, na segunda metade do século XVII, é que começa a conquista do interior do Nordeste. Na mesma época em que se destrói o quilombo dos Palmares efetiva-se também a chamada "Guerra dos Bárbaros", uma série de ações armadas contra os índios que dura até o século seguinte, participando da conquista inclusive bandeirantes paulistas, e que mereceu um recente estudo do historiador Pedro Puntoni (2000). No rio São Francisco se estabelecem missões religiosas. Um de seus missionários, o francês Frei Martinho de Nantes (1979), registra suas atividades na região e relata, já naquela época, a hostilidade dos criadores de gado, no caso, os da Casa da Torre, contra os índios. Sobrevivências culturais Uma das maneiras de estudar os índios em contato com os civilizados há tanto tempo e modificados pela concentração de etnias diversas em aldeamentos missionários, pelo intercasamento entre elas e também com brancos e negros, foi concentrar-se na procura dos aspectos culturais que ainda teriam sobrevivido, bem como sua combinação com outros, de diferentes origens. Hohenthal, que realizou um levantamento preliminar dos índios do São Francisco nos anos de 1950 e 1951, talvez possa ser tomado como um exemplo de pesquisador que agiu com essa orientação. Suas notas sobre os índios xucurus (1954) trata das palavras ainda lembradas da língua indígena não mais falada, do que lembravam ou do que ainda restava de suas antigas atividades de subsistência, construção de casas, obtenção de fogo, cerâmica, cestaria,

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    Nordeste

    A maior parte dos grupos indgenas desta rea se concentra na bacia do rio So

    Francisco, tanto junto a suas margens quanto dos seus afluentes, rios temporrios que, quando

    tm gua, correm para o curso mdio do grande rio, sobretudo para o chamado trecho das

    corredeiras, que fica entre a cidade pernambucana de Juazeiro ou mais precisamente, a atual represa de Sobradinho, um pouco acima e um ponto mais abaixo de Paulo Afonso a represa de Xing. Trata-se do trecho menos navegvel do rio, onde esto vrias represas,

    aqui enumeradas de cima para baixo: Sobradinho; Itaparica; Paulo Afonso; Xing. Por isso

    este trecho passa atualmente por muitas transformaes e transferncias de populaes.

    tambm o trecho que atravessa a parte mais seca da caatinga e em cujas vizinhanas

    tiveram lugar acontecimentos de grande importncia histrica e que despertaram o interesse

    dos intelectuais brasileiros, inclusive os cientistas sociais: ao sul, no rio Vaza-barris, ficava o

    arraial de Canudos, a meio caminho entre Jeremoabo e Uau, onde, no final do sculo XIX, os

    seguidores de Antnio Conselheiro resistiram por muito tempo s tropas de represso at

    serem aniquilados; foi tambm a regio percorrida por Lampio nos seus ltimos anos, at ser

    morto em Angicos, no municpio sergipano de Porto da Folha; nesta rea fica Santa Brgida,

    que, alm de ser o lugar de origem de Maria Bonita, foi sede de um movimento messinico

    mais recente, de carter mais reformista do que revolucionrio, estudado por Maria Isaura

    Pereira de Queiroz.

    Depois da expulso dos holandeses, na segunda metade do sculo XVII, que comea a

    conquista do interior do Nordeste. Na mesma poca em que se destri o quilombo dos

    Palmares efetiva-se tambm a chamada "Guerra dos Brbaros", uma srie de aes armadas

    contra os ndios que dura at o sculo seguinte, participando da conquista inclusive

    bandeirantes paulistas, e que mereceu um recente estudo do historiador Pedro Puntoni (2000).

    No rio So Francisco se estabelecem misses religiosas. Um de seus missionrios, o francs

    Frei Martinho de Nantes (1979), registra suas atividades na regio e relata, j naquela poca, a

    hostilidade dos criadores de gado, no caso, os da Casa da Torre, contra os ndios.

    Sobrevivncias culturais

    Uma das maneiras de estudar os ndios em contato com os civilizados h tanto tempo e

    modificados pela concentrao de etnias diversas em aldeamentos missionrios, pelo

    intercasamento entre elas e tambm com brancos e negros, foi concentrar-se na procura dos

    aspectos culturais que ainda teriam sobrevivido, bem como sua combinao com outros, de

    diferentes origens.

    Hohenthal, que realizou um levantamento preliminar dos ndios do So Francisco nos

    anos de 1950 e 1951, talvez possa ser tomado como um exemplo de pesquisador que agiu com

    essa orientao. Suas notas sobre os ndios xucurus (1954) trata das palavras ainda lembradas

    da lngua indgena no mais falada, do que lembravam ou do que ainda restava de suas antigas

    atividades de subsistncia, construo de casas, obteno de fogo, cermica, cestaria,

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    tecelagem, instrumentos musicais, indumentria ritual, danas, remdios, prticas funerrias,

    lembrana das corridas de toras, vestgios de cls e metades. Demora-se mais nas crenas e

    ritos religiosos, ainda que tenham incorporado uma significativa contribuio catlica e

    africana, mostrando uma certa convergncia com o catimb e, termo usual na poca,

    macumba (: 142). Descreve a distribuio dos espritos (dos mortos) chamados "encantados"

    ou "mestres" em aldeias, estados e reinos sobrenaturais; um certo nmero desses "encantados"

    so reconhecidos tambm pelos pancararus, xocs, tuxs e, um pouco menos, pelos fulnis;

    vale notar que o termo "mestre" tanto se aplica aos "encantados" como aos mdiuns que os

    recebem (: 143-6). Tenta uma reconstituio do rito da jurema, na sua verso puramente

    indgena (: 146-52), na qual no se usavam bebidas alcolicas, velas; no se faziam

    invocaes a Jesus Cristo, Virgem Maria e aos Santos catlicos; os participantes no

    entravam em transe e nem falavam aos espritos, a no ser o paj; no se entoavam hinos

    religiosos; as mulheres no participavam; e no tinha como objetivo principal a cura.

    Descreve a extrao da raiz da jurema branca (Acacia jurema) ou negra (Mimosa nigra), o uso

    do cachimbo de tabaco nessa extrao e no rito que a segue, o uso dos maracs, as abstenes

    necessrias ingesto da infuso da jurema. Mas a verso do rito que se realizava no tempo da

    visita de Hohenthal era a mais sincrtica (: 152-5), a qual, alm de permitir todos aqueles itens

    que o pesquisador excluiu de sua reconstituio do rito antigo, se fazia em torno de uma mesa

    de terra batida de uns 15 centmetros de altura, e podia ser realizada com boas ou ms

    intenes. Mostra tambm o culto de Nossa Senhora da Montanha (: 155-7), padroeira do

    antigo aldeamento missionrio onde viveram os xucurus, com a dana do tor em torno de sua

    igreja, em Cimbres, na vspera e dia de So Joo Batista, quando tambm caminham sobre as

    brasas de uma fogueira; no dia de Santa Ana fazem uma procisso com a imagem de Nossa

    Senhora da Montanha em torno da mesma igreja. Descreve ainda a cerimnia que se realiza na

    ocasio em que o primeiro fruto silvestre do umbu (Spondias tuberosa) colhido, um rito

    tambm realizado pelos pancararus (: 157).

    Modo semelhante de abordar pode ser exemplificado pelo livro de Estvo Pinto (1956)

    sobre os fulnis.

    Articulaes sociais

    Uma outra maneira de estudar os ndios do Nordeste consiste em frisar os aspectos

    econmicos, polticos e conflitivos das relaes intertnicas.

    Os potiguaras da Paraba, remanescentes dos tupis que dominavam o litoral nordestino

    no passado, esto relativamente distantes dos ndios da bacia do So Francisco e, no passado,

    eram bem diferentes deles quanto ao aspecto cultural. Atualmente, entretanto, como todos os

    ndios do Nordeste com exceo dos fulnis, no usam mais sua lngua indgena. Tambm

    como todos os demais perderam a maior parte de sua cultura indgena e da organizao social

    original. Como os demais, tm suas terras invadidas, e mesmo o direito sobre o pouco que

    lhes resta colocado em dvida pelos vizinhos no-ndios. Vale notar que, tal como os

    fulnis, os potiguaras tm uma cidade dentro de sua terra indgena, a de Baa da Traio.

    Paulo Marcos Amorim (1970/71) fez uma tentativa de estudar os potiguaras como

    camponeses. Posteriormente planejou estender essa abordagem a outros grupos indgenas

    nordestinos (1975), mas talvez no tenha levado adiante o projeto.

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    Considerando que nas duas ltimas dcadas o estudo de camponeses no Brasil tomou

    um impulso considervel, tanto no que tange a sua economia, quanto a seus saberes e ainda a

    seus valores morais, vale perguntar em que o estudo desses remanescentes indgenas ainda

    teria a contribuir para ampliar a compreenso do modo de viver campons. Ser que todos os

    grupos indgenas do Nordeste esto se transformando em camponeses? E, nos casos que assim

    for, ser que ainda possvel acompanhar a passagem daquilo que "tribal" ou "indgena"

    para "campons"?

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    Jorge Hernndez Daz (1983) tambm acentuou os aspectos sociais e polticos ao

    abordar o contato entre os fulnis e a sociedade regional.

    Identidade tnica

    J bastante conhecido o fato de que os ndios fulnis, do municpio pernambucano de

    guas Belas, s margens do Ipanema, rio temporrio afluente do So Francisco, proibem a

    estranhos a presena na aldeia para a qual se deslocam durante o rito do Ouricuri, onde vivem

    nos meses de outubro e novembro. Alm dos fulnis, a entrada somente permitida aos

    xocs, do municpio alagoano de Porto Real de Colgio, na beira do So Francisco, que

    tambm realizam em suas terras uma verso talvez menos elaborada do mesmo rito. O local

    em que vivem os fulnis a maior parte do ano est ao lado da cidade de gua Belas, onde

    muitos deles trabalham. Esta cidade nasceu e cresceu dentro da prpria reserva indgena, a

    partir de casas construdas em torno do templo catlico para cuja construo os fulnis tinham

    cedido algum terreno no centro das suas terras reconhecidas pelo governo desde o perodo

    colonial. A expanso da cidade se fez sobre as terras indgenas. Como seu territrio foi dividi-

    do em lotes individuais, cada fulni pode alugar uma parte do seu a algum civilizado que nela

    queira construir sua casa. O morador fica assim na situao sui generis de possuir o prdio,

    mas no o "cho de casa", como a chamado, sobre o qual est construdo. O governo

    municipal tem tentado resolver o problema do crescimento da cidade propondo aos ndios a

    troca do centro da reserva pelo mesmo tanto de terra nas suas bordas. Porm os ndios

    desejam uma superfcie maior em troca, alegando que as terras perifricas so menos

    valorizadas. Por sua vez a populao fulni cresce e a reserva cada vez menos atende s

    necessidades de terra dos indgenas. O arrendamento de parte dos lotes aos civilizados agrava

    o problema. Por isso, algum controle necessrio para o acesso s terras, que tambm so

    requisitadas pelos cnjuges no-fulnis e os filhos de casamentos mistos. Desse modo, a

    frequncia ao rito do Ouricuri desde o primeiro ano de vida se torna o requisito para ser

    reconhecido como um fulni. Rito, segredo, terra e etnia esto relacionados.

    Esta relao entre rito, segredo, terra e etnia presente entre os fulnis tambm se nota no

    seio de outros grupos indgenas da rea, embora de modo menos incisivo. Ritos conhecidos

    pelo nome "tor" se realizam entre vrios deles. Tal como acontece com os prprios fulnis,

    h "tors" que podem ser assistidos por todos e aqueles que so reservados aos grupos tnicos

    que os realizam. Entre os pancararus (que vivem hoje no Brejo dos Padres, perto de Tacaratu,

    na margem esquerda do So Francisco) se faz a diferena entre o "tor", que pode ser aberto a

    todos, e o "prai", sempre vedado aos estranhos (Pierson 1972, tomo 1, p. 317). Tal distino

    encontra correspondncia tambm naquela que os cariris-xocs fazem entre o "tor de roupa"

    e o "tor de bzios": o primeiro, simples forma de lazer, em que os participantes usam trajes

    comuns e que pode ser levado a efeito at como brincadeira de crianas; o segundo, com a

    indumentria apropriada, que acentua o carter indgena, s deve ser realizado perante os no-

    ndios em ocasies oportunas, de modo a sublinhar junto aos espectadores a identidade tnica

    dos praticantes (Calheiros Mata 1989: 204-209).

    Sem dizer a que grupo corresponde, Donald Pierson (1972, tomo 3, pp. 205-232) se

    demora em descrever os ritos que se realizam na ilha do Tor, no trecho das corredeiras, a que

    se fazem presentes ndios de Rodelas (logo, tuxs), e em Passagem Grande, no baixo curso do

    grande rio, no qual alguns dos participantes entram em breve estado de transe (ficam

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    "enramados", ou, mais levemente, "sombreados"). Os prprios regionais que no participam

    dos ritos reconhecem que a reativao dos mesmos e a valorizao da ascendncia indgena

    por seus praticantes tem a ver com as reivindicaes de terra.

    Vale notar tambm que esses ritos tm sido passados recentemente de um grupo

    indgena para outro, na procura de recuperar as marcas de sua identidade. Assim, os tuxs, de

    Rodelas, que mantm o "tor" e o "particular" ou "oculto" (suponho que aqui tambm uma

    distino entre rito aberto e secreto), passaram suas prticas rituais aos quiriris (dos

    municpios baianos de Quijingue e Ribeira do Pombal, na bacia do Itapicuru) e aos aticuns (do

    municpio pernambucano de Floresta) (Carvalho 1982: 119).

    De qualquer modo, mesmo que se caracterize alguns grupos indgenas do Nordeste, seja

    do ponto de vista econmico, seja pelas suas atitudes perante o mundo, como camponeses,

    isso no esgota a questo. Historicamente, cada um deles parece resultar de cises e fuses

    que ocorreram ao longo de seu atribulado e secular contato com os brancos: envolvidos nas

    lutas entre portugueses e holandeses, primeiro; depois colhidos entre as alternativas de

    recolherem-se a aldeamentos missionrios ou serem alvo das investidas de criadores de gado e

    bandeirantes; pressionados a abandonar suas identidades tnicas ou suas terras depois da Lei

    de Terras de 1850; finalmente, hoje, alguns daqueles que sobreviveram a tudo isso tm suas

    terras submersas pelas modernas barragens das hidreltricas, ou afetadas pelos programas

    governamentais de remanejamento agrcola que as acompanham. As modificaes por que

    passa a regio, a presena de agncias indigenistas ou missionrias que apoiam as populaes

    indgenas, a reivindicao da garantia das poucas terras de que ainda dispem ou da

    recuperao das terras perdidas, tm propiciado a grupos que escondiam, devido s

    perseguies do passado, sua identidade indgena, que voltem a assumi-la. Desse modo, o

    Nordeste palco de um drama em que etnias se desdobram, se fundem, ressurgem.

    Por exemplo, com base em certos documentos, pode-se supor que os fulnis tm origem

    em duas aldeias prximas entre si, mas de lnguas e culturas diferentes (Hernndez Daz 1983:

    29-31). Entretanto, uma informao isolada, tomada por Jorge Hernndez Daz (1983: 31-38 e

    228) de um velho fulni, permite uma outra hiptese, a de que teriam sido o resultado da

    reunio de cinco grupos diferentes, mas, qui, de culturas semelhantes. Desse modo, os cinco

    cls fulnis que informaes pouco exaustivas de autores passados relacionam a um sistema

    prescritivo no-igualitrio de casamentos e a distintas evitaes rituais, teriam tambm

    diferentes origens tnicas: o cl periquito corresponderia aos pancararus; o cl porco, aos

    xucurus; pato, aos xucurus-cariris; peixe, aos xocs; e fumo, aos fulnis propriamente ditos.

    Os grupos tnicos de que seriam oriundos mantiveram relaes com os fulnis, mas o

    abandono do rito do Ouricuri por eles, ou o relaxamento do segredo, fizeram com que hoje

    somente aos xocs seja permitido assistir ao rito secreto dos fulnis.

    Vale notar que hoje h homens e mulheres fulnis casados com civilizados, que, por

    serem de outra etnia, no podem assistir ao rito do Ouricuri. Os filhos desses casais s podem

    ser fulnis se comparecerem ao rito desde seu primeiro ano de vida. Mas geralmente, mesmo

    no sendo fulnis, moram na reserva, uma vez que no raro era este o objetivo do seu pai ou

    me civilizado, ao casar com fulni. Por outro lado, h ndios fulnis, que vm de longe,

    como So Paulo, para assistirem ao rito. Os ndios, tal como os demais nordestinos, esto

    tambm envolvidos no fluxo migratrio para o sudeste do pas.

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    Entretanto, os grupos que essa informao isolada assegura como tendo contribudo para

    a formao dos fulnis so eles prprios resultado de fuses do passado, ou atualmente se

    juntam total ou parcialmente a outros. Vejamos o exemplo dos cariris-xocs que vivem em

    Porto Real do Colgio. Com o primeiro termo componente deste nome hifenizado se rotulam

    os remanescentes de um ramo dos cariris misturado a outros grupos extintos (aconans,

    carapots, ceococes, praquis Calheiros Mata 1989: 41) do baixo So Francisco, agregado resultante dos aldeamentos jesuticos coloniais. O segundo termo se refere aos xocs que, no

    sculo passado, foram expulsos da ilha fluvial de So Pedro, no rio So Francisco, acima de

    Porto da Folha, quando a provncia de Sergipe extinguiu, em 1855, as aldeias indgenas; as

    terras de So Pedro foram postas em aforamento em 1887 e arrematadas por diversos

    fazendeiros (Calheiros Mata 1989: 25-29, 66). A manipulao a que dava oportunidade a Lei

    de Terras de 1850 (: 52) vai atingir tambm os cariris da aldeia de Porto Real do Colgio,

    junto aos quais os xocs se refugiaram, com a extino das aldeias indgenas, em 1873, pela

    provncia de Alagoas (: 63). Com isso os ndios de Porto Real do Colgio perdem suas terras,

    de duas lguas de comprido por uma de largo (como eram duas misses vizinhas, So Brs e

    Porto Real do Colgio, cada qual tinha recebido uma lgua em quadra Calheiros Mata 1989: 35-36), que lhes eram reconhecidas desde o perodo colonial, e cuja confirmao

    atribuda pelos ndios atuais ao imperador Pedro II, quando ele visitou Colgio em sua viagem

    cachoeira de Paulo Afonso em 1859. Infelizmente, a venerao que os ndios dedicam a sua

    memria foi retribuda por comentrio bastante depreciativo que deles faz o imperador em seu

    dirio (: 67). Suas terras ficam nas mos de posseiros, antigos arrendatrios do tempo do

    imprio, considerados como os compradores preferenciais das mesmas pelo governo do

    estado, que tambm doa uma parte delas para o estabelecimento de uma estao experimental

    e uma sementeira a serem administradas pelos governos estadual e federal (: 71-72). Em 1944,

    quando o Servio de Proteo aos ndios instala um posto para atend-los, os cariris-xocs

    ocupam apenas dez hectares de terra, onde ficava a "rua dos ndios" ou "rua dos caboclos", na

    periferia da cidade de Porto Real do Colgio (: 72). Sem terras para cultivar, os cariris-xocs

    se valeram para sobreviver da cermica feita pelas suas mulheres, vendida nas feiras de

    Propri e Penedo, s vezes vendida por preos mais baixos ainda crua, aos homens, alguns

    indgenas, que tinham fornos. A obteno do barro apropriado para faz-la tambm era motivo

    de conflitos, porque os proprietrios das terras onde estavam as lagoas de onde o tiravam no

    queriam permitir a sua extrao (: 100-110). A pesca, feita com a tcnica de espantar os peixes

    para o capim das margens, onde eram apanhados no raso com ajuda de pequenas redes e

    covos, tambm no era bem vista pelos proprietrios, que controlavam a beira do rio, apesar

    de ser terra de marinha, e mandavam tirar o capim (: 110-113). Os ndios trabalhavam tambm

    para os proprietrios na cultura do arroz, que acompanhava o ciclo de cheias e vazantes do

    So Francisco, e, nas terras altas, do algodo (: 89-95).

    Entretanto, tal como os fulnis, os cariris-xocs guardaram o rito secreto do Ouricuri.

    Realizam-no uma vez por ano na passagem de janeiro para fevereiro, ficando uma semana a

    cargo dos cariris e outra dos xocs, num local a seis quilmetros de Porto Real do Colgio

    (: 192-3). Difere do fulni, que se inicia em outubro e dura perto de dois meses; difere

    tambm quanto rvore que ocupa um lugar de destaque na rea ritual, um angico para os

    cariris-xocs, um juazeiro para os fulnis. Mas num e noutro caso o rito um importante

    marcador tnico, pois participar dele desde os primeiros anos de vida uma das condies

    para ser considerado cariri-xoc ou fulni. Para os cariris-xocs, alm de "descendente",

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    preciso ser "conhecedor", isto , participar do segredo do Ouricuri, para integrar o grupo-

    tnico. O contrrio do "conhecedor" o "cabea-seca". Excepcionalmente, um no-

    "descendente", por exemplo, um cnjuge no-indgena, mas digno de confiana, pode vir a

    participar do rito e passar a "conhecedor", sendo-lhe aplicado neste caso o termo "entrado" ou

    "caboclo de entrada" (: 153-4). Raramente os cariris-xocs caam nas terras do Ouricuri, nica

    mata preservada na regio, usando a "tanja", tcnica segundo a qual vrios homens a fazer

    barulho espantam o animal na direo de caadores armados. Mas, preocupados em preservar

    a rea ritual, no o fazem com frequncia (: 111-5). Quando o preenchimento da represa de

    Sobradinho privou as margens do So Francisco, a jusante, do regime natural de cheias e

    vazantes, e a Codevasf iniciou a redistribuio de terras e a irrigao controlada, atingindo os

    agricultores de arroz, numa transio administrada de modo catico que levou muitos

    cultivadores a abandonarem as margens, os cariris-xocs foram os nicos a poderem reagir de

    modo organizado, graas ao rito do Ouricuri, que os ajuda a se pensarem e sentirem como

    grupo. Assim, em novembro de 1978, depois de reivindicaes infrutferas, reuniram-se nas

    terras do Ouricuri e dali saram para ocupar a Sementeira, que constitua parte das terras que

    lhes haviam sido reconhecidas desde o perodo colonial, criando uma situao que forou os

    rgos do governo envolvidos, Codevasf e Funai, a se entenderem e considerarem a rea

    retomada como indgena (: 272-9). O fato de reaverem parte de suas terras no os impediu de

    reivindicarem tambm o direito a receberem parcelas de terra do projeto de reassentamento de

    agricultores da Codevasf (: 248).

    Apesar de estarem juntos h um sculo, da existncia de intercasamentos, do

    reconhecimento da afiliao tnica tanto pelo lado paterno como do materno, vez por outra,

    como aconteceu aps a retomada da Sementeira, conflitos internos podem levar a uma

    manipulao de uma identidade cariri oposta a uma identidade xoc, embora pelo critrio de

    local de nascimento todos sejam cariris, e pelo critrio da ascendncia provavelmente todos

    descendam tanto de cariris como de xocs (: 140-5).

    Mas vale lembrar que existem tambm aqueles xocs que, ao perderem suas terras no

    sculo XIX, no fugiram para Porto Real do Colgio, mas permaneceram na ilha de So Pedro

    e vizinhanas, ameaados e perseguidos, no concentrados num grupo vigoroso, trabalhando

    como meeiros ou assalariados, vivendo da pesca e fabricando cermica. Mesmo assim,

    insistiram nos seus direitos, o que mostram as viagens de 1888, 1890 e 1916 que ndios xocs

    fizeram ao Rio de Janeiro para solicitarem do governo imperial e depois federal a recuperao

    de suas terras (Dantas & Dallari 1980: 170-2). At que finalmente, quando so impedidos de

    plantar na ilha de So Pedro, ocupam-na na dcada de 1970, enfrentando os processos

    judiciais dos fazendeiros, mas com o apoio da Diocese de Propri, do Cimi e da Funai (: 174).

    A retomada da ilha de So Pedro pelos xocs, com o apoio do Cimi e do bispo de Propri,

    cuja converso causa dos pobres se deu publicamente por ocasio de um confronto entre

    moradores e os representantes da Codevasf que iriam desaloj-los, tambm tema de um

    texto de Maurcio Arruti (2006).

    Em Porto Real do Colgio ainda permanecem membros da famlia que dali saiu para

    formar o grupo tingui-bot de Olho dgua do Meio (Calheiros Mata 1989: 26, nota 2).

    Por sua vez, os tuxs vivem tradicionalmente em Rodelas, na grande curva do So

    Francisco, onde sua aldeia fica no prolongamento de uma rua da cidade e junto da qual est a

    ilha da Viva, onde fazem plantio comercial de cebolas e arroz. Entretanto, a perspectiva da

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    construo da barragem de Itaparica f-los dispersar, e hoje podem ser encontrados tambm

    muito a montante, em Bom Jesus da Lapa, e at entre os javas, na ilha do Bananal.

    Em seu livro As Fronteiras do Ser Xukuru, Vnia de Paiva e Souza (1998) estuda os

    esforos desenvolvidos pelos xucurus, das vizinhanas de Pesqueira, no agreste

    pernambucano, pela recuperao de suas terras, perdidas ao longo dos anos para os

    fazendeiros e posseiros. Para compreender a questo de todos os seus ngulos e dos pontos de

    vista dos diferentes agentes envolvidos (ndios, fazendeiros, posseiros, Funai, Cimi, diocese

    etc.), recorre ao mtodo da anlise de drama de Victor Turner. Um primeiro drama o

    desencadeamento dos protestos dos xucurus contra um projeto da Sudene que iria incidir

    sobre a terra que reconheciam como sua. O segundo se desenvolve a propsito do local

    chamado Pedra d'gua, que para eles era tambm de importncia religiosa e ritual. O terceiro

    eclode a partir da proposta do proco de Cimbres de retirar os xucurus do local chamado

    Guarda para ali construir um santurio.

    A viagem da volta

    Recusando noes como "etnognese", "novas etnicidades", "ndios emergentes", Joo

    Pacheco de Oliveira (1999) vai buscar na poesia de Torquato Neto a expresso A Viagem da

    Volta como a mais adequada para designar o processo de recomposio, territorializao e

    caracterizao tnica dos grupos indgenas nordestinos e dar ttulo ao volume em que reuniu

    contribuies de diferentes pesquisadores sobre esse tema. Depois da introduo do

    organizador do volume, o captulo de Sidnei Peres examina o modo de proceder do SPI com

    respeito s terras indgenas do Nordeste, mostrando que ele inicialmente atuava na

    pressuposio do carter temporrio das terras reconhecidas aos ndios, fadados assimilao:

    parte delas se arrendavam a no ndios e se evitavam os confrontos com os poderosos da

    regio; em certos casos de resistncia dos arrendatrios ou invasores em sairem das reservas

    apelava-se at para a reduo das terras indgenas, de modo a deixar-lhes lugar (a expulso s

    avessas); foi pouco a pouco que o SPI chegou concluso de que as reservas deviam de ser

    exclusivamente para os ndios. A seguir vm seis textos sobre diferentes povos indgenas. O

    primeiro e o ltimo deles, de Henyo Trindade Barretto Filho e de Carlos Guilherme do Valle,

    sobre respectivamente os tapebas e os tremembs, da costa do Cear, deixam entrever a falta

    de unanimidade dos integrantes das comunidades em assumir nos mesmos termos a identidade

    indgena; no texto de Valle, a noo de situao tnica, inspirada na de situao histrica de

    Joo Pacheco de Oliveira, por vezes parece deslizar para o sentido mais prosaico de

    localizao. Os outros quatro textos referem-se a grupos que se dispem nas margens ou nas

    vizinhanas do trecho do rio So Francisco desde o ponto mais setentrional de seu leito (onde

    fica a cidade pernambucana de Cabrob) at sua foz. O de Rodrigo de Azeredo Grnewald,

    sobre os aticuns, da serra de Um, no municpio pernambucano de Floresta, bastante claro

    no recurso identidade indgena como meio de garantir a posse da terra que estava sendo

    invadida por intrusos. O de Jos Maurcio Andion Arruti aborda os pancararus das

    vizinhanas da cachoeira de Paulo Afonso e examina seu apoio para a formao ou para o

    reconhecimento da identidade indgena de outros grupos, tornando-se assim o texto de

    espectro mais abrangente; traz tambm uma boa descrio do tor, requisito fundamental

    estabelecido pelo rgo protecionista para o reconhecimento da identidade indgena. O

    captulo de Sheila Brasileiro, sobre os quiriris dos municpios baianos de Banza e Quijingue,

    na bacia do rio Vaza-barris, na regio onde ocorreu o movimento de Canudos, de que

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    participaram, o que explica com mais clareza o que era uma lgua em quadra, medida

    colonial usada nas concesses de terra feitas s comunidades indgenas pelos reis portugueses:

    era um octgono cujo centro distava uma lgua de cada ngulo da figura, equivalente a uma

    rea de 12.320 hectares. No sculo XX os quiriris ainda sabiam apontar aos funcionrios do

    rgo indigenista onde estavam os marcos desses ngulos, apesar de destrudos pelo tempo ou

    por invasores. O captulo de Silvia Aguiar Carneiro Martins, sobre os xucurus-cariris do

    municpio alagoano de Palmeira dos ndios, mostra como foram conseguindo, com o apoio de

    diferentes agncias, terras dentro ou fora da lgua em quadra em cujo centro hoje est a sede

    municipal. O volume poderia ter recebido outras contribuies, no fosse seus autores j

    estarem com outros compromissos, como Vnia Rocha Fialho de Paiva e Souza, que publicou

    o livro As Fronteiras do Ser Xukuru, acima referido.

    Pena que um livro to informativo e que aborda a situao dos ndios nordestinos com

    uma orientao bastante lcida pouca ajuda oferea ao leitor com suas ilustraes. Os dois

    mapas do Nordeste da parte introdutria (pp. 37 e 38-39) tm letras e algarismos em tamanho

    minsculo; por sua vez, o mapa da rede de relaes entre grupos indgenas que est no

    captulo sobre os pancararus bem feito e legvel (p. 262), mas no traz a chave dos nmeros,

    que nem mesmo correspondem aos constantes dos outros dois j referidos. Ainda nesse

    captulo falta uma legenda explicativa no esquema da "rvore" pancararu (p. 275). Um mapa

    da Funai que tem Palmeira dos ndios no centro (p. 179), alm de pouco legvel, est num

    captulo que no lhe corresponde; outro mapa de Palmeira dos ndios (p. 214), este no captulo

    correto, traz um quase octgono pontilhado em torno da cidade que, apesar da falta de legenda

    explicativa, s pode ser a lgua em quadra.

    Um curioso documento

    Os xucurus, tal como outros ndios do Nordeste, tambm parecem resultar de uma fuso

    tnica. Entre eles deve haver descendentes dos paratios, que lhes eram vizinhos no perodo

    colonial (Hohenthal 1954: 99-103). Tambm como outros ndios do Nordeste tiveram seu

    aldeamento extinto aps a Lei de Terras, o de Cimbres, em Pernambuco, o que ocorreu em

    1879 (: 102).

    Entretanto, nove meses antes, em 25 de abril de 1878, o Imperador D. Pedro II tinha

    emitido uma carta patente em que nomeava o indgena Alberto de Brito Cavalcante Arcoverde

    como Comandante Geral das Aldeias do Imprio, com a atribuio fazer revistas s aldeias

    que a seu ver delas necessitassem e solicitar as providncias aos presidentes das provncias e

    aos ministros do Imprio. H quem admita que esse comandante era um xucuru (: 101). A

    nomeao estava nos arquivos da 4 Inspetoria Regional do Servio de Proteo aos ndios,

    em Recife, e Hohenthal a transcreve (: 159-160).

    Bibliografia

    AMORIM, Paulo Marcos de. 1970/71. "ndios camponeses (os Potigura da baa da Traio). Revista do Museu

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    MATA, Vera Lcia Calheiros. 1999. "Tingui Bot".

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    VIEIRA, Jos Glebson. 2006. Potiguara.

    NORDESTE

    Nome tribal

    e sinnimos CGNT Populao Data Fonte

    caimb Kaimb 634 1999 ISA: 11

    quiriri Kirir 1.612 2006 PIB

    cariri-xoc Karir Xok 1.763 2000 PIB

    xoc Xok 250 1987 ISA: 15

    xucuru-cariri Xukur Karir 1.820 1996 ISA: 15

    xucuru Xukur 10.536 2009 PIB

    pancararu Pankarar 6.515 2006 PIB

    cantarur Kantarur 493 2006 PIB

    jiripanc Jiripank 1.500 1999 ISA: 11

    calanc Kalank 390 2009 PIB

    pancaru Pankar 179 2006 PIB

    pancar Pankar 2.702 2006 PIB

    pancarar Pankarar 1.027 1996 ISA: 13

    tumbalal Tumbalal 1.469 2006 PIB

    aticum Atikm 5.852 2006 PIB

    fulni Fulni [a] 3.659 2006 PIB

    tux Tux 1.630 1999 ISA: 14

    truc Truk 4.169 2006 PIB

    cambiu Kambiw 1.578 1999 ISA: 11

    uassu Was 1.447 1999 ISA: 14

    carapot Karapot 796 1999 ISA: 11

    capinau Kapinaw 422 1999 ISA: 11

    tingui-bot Ting Bot 302 2006 PIB

    potiguara Potigura 11.424 2006 PIB

    pitaguari Pitaguar 2.351 2006 PIB

    jenipapo-canind

    paiacu

    Jenipapo Kanind

    Payak 272 2006 PIB

    tapeba Tapba 5.741 2006 PIB

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    Abreviaturas e notas do quadro [a] Os fulnis so o nico povo da rea que fala um lngua indgena, o iat, do tronco macro-j.

    CGNT "Conveno para da grafia dos nomes tribais", assinada pelos participantes da 1 Reunio Brasileira de

    Antropologia, realizada no Rio de Janeiro, em 1953, de modo a uniformizar a maneira de escrever os nomes das

    sociedades indgenas em textos em lngua portuguesa. Essa "Conveno" foi publicada na Revista de

    Antropologia (vol. 2, n 2, So Paulo, 1954, pp. 150-152) e posteriormente nas primeiras pginas (no

    numeradas) do volume organizado por Egon Schaden, Leituras de Etnologia Brasileira (So Paulo: Companhia

    Editora Nacional, 1976). Prefiro, entretanto, usar a ortografia oficial brasileira.

    ISA RICARDO, Carlos Alberto. 2000. Povos Indgenas no Brasil 1996/2000. So Paulo: Instituto

    Socioambiental.

    PIB Site Povos Indgenas no Brasil (http://pib.socioambiental.org/pt), do Instituto Socioambiental, So Paulo.