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    ARTIGOS

    25QUMICA117 - ABR/JUN10

    RESSONNCIAMAGNTICANUCLEAR FERRAMENTAVERSTILEMQUMICAFARMACUTICAEIMAGIOLOGIAMDICA

    ARessonncia Magntica Nuclear uma tcnica analtica verstil que pode ser utilizadadesde a anlise de compostos qumicos simples elucidao estrutural e investigao dadinmica de protenas e imagiologia de rgos de seres vivos de um modo no invasivo eno destrutivo. O presente artigo pretende fornecer aos leitores uma breve introduo te-rica sobre esta tcnica e apresentar algumas aplicaes da mesma nas reas da QumicaFarmacutica e Imagiologia Mdica.

    * Centro de Qumica Estrutural, Instituto Superior Tcni-co, Universidade Tcnica de Lisboa

    Av. Rovisco Pais, 1, 1049-001 Lisboa, Portugal E-mail: [email protected]

    Centro de Qumica Estrutural, Institut

    KONSTATINLUZYANINEMARTAABRANTES*

    O QUEARESSONNCIAMAGNTICANUCLEAR?

    A Ressonncia Magntica Nuclear

    (RMN) uma tcnica analtica que

    permite obter informao estrutural e

    dinmica sobre a matria, e que se

    baseia na deteco das propriedades

    magnticas dos ncleos (Figura 1)

    [13].

    Foi descoberta em 1945 por Bloch e

    Purcell (Prmios Nobel da Fsica em

    1952) na sequncia dos trabalhos de

    Isidor I. Rabi (Prmio Nobel da Fsica

    em 1944). Ao longo do tempo, muitos

    outros investigadores contriburam de

    forma decisiva para o desenvolvimen-

    to e para a aplicao desta tcnica,

    como se pode constatar pela lista de

    investigadores que foram laureados

    com o Prmio Nobel por contribuies

    para a RMN (Tabela 1)[4].

    1943 Otto Stern, EUAPrmio Nobel da Fsica "pelas suas contribuies nadescoberta do momento magntico do proto.

    1944 Isidor I . Rabi, EUAPrmio Nobel da Fsica "pelo seu mtodo de ressonnciapara registar as propriedades magnticas de ncleosatmicos.

    1952Felix Bloch, EUAEdward M. Purcell, EUA

    Prmio Nobel da Fsica pela descoberta de novos mtodospara medies magnticas nucleares precisas e pelasrespectivas descobertas associadas.

    1991 Richard R. Ernst, SuiaPrmio Nobel da Qumica pelas suas contribuies parao desenvolvimento da metodologia da espectroscopia deRMN de alta resoluo.

    2002 Kurt Wthrich, SuiaPrmio Nobel da Qumica "pelos seus desenvolvimentos daespectroscopia de RMN para a determinao tridimensionalda estrutura de macromolculas biolgicas em soluo.

    2003Paul C. Lauterbur, EUAPeter Mansfield, UK

    Prmio Nobel da Fisiologia ou Medicina "pelas descobertasrelativas a imagiologia de ressonncia magntica.

    A RMN explora as propriedades mag-

    nticas dos ncleos dos tomos. Os

    ncleos dos tomos podem ser vistos

    como pequenos pies com carga que

    rodopiam em torno do seu eixo, ge-

    rando o seu prprio pequeno campo

    magntico (Figura 2).

    Figura 1 Espectrmetro de RMN (500 MHz) noInstituto Superior Tcnico (IST/UTL) pertencente

    Rede Nacional de Ressonncia Magntica

    Nuclear (PTNMR). Para mais informaes sobrea rede consultar o site http://cqe.ist.utl.pt/networks/nmr/index_nmr.php

    Apesar de existirem ncleos que no

    exibem qualquer campo magntico

    (por exemplo, o 12C), a maior par-

    te dos ncleos comportam-se como

    pequenos magnetes (por exemplo, o1H ou o 13C).

    Normalmente, estes ncleos esto

    dispostos de forma aleatria (Figura

    3).

    No entanto, quando colocados sob a

    influncia de um forte campo magnti-

    co externo, so obrigados a alinhar-se

    em orientaes especficas.

    Estas orientaes alinhadas com o

    campo magntico caracterizam-se por

    terem diferentes nveis energticos.

    Tabela 1 Prmios Nobel relacionados com a Ressonncia Magntica Nuclear

    Figura 2 Representao de um ncleo arodopiar como um pio ( esquerda), que se

    comporta como um magnete tendo um plo sule um plo norte ( direita)

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    Quando expostos a uma radiao

    electromagntica na frequncia rdio,

    os ncleos recebem energia e so

    obrigados a saltar para uma outra

    orientao (de nvel energtico supe-rior) (Figura 4). Ao retomarem a sua

    orientao original os ncleos liber-

    tam energia, emitindo uma radiao

    caracterstica. Este fenmeno desig-

    na-se por ressonncia magntica nu-

    clear e d o nome a esta tcnica de

    caracterizao. Diz-se tambm que a

    RMN uma tcnica espectroscpica,

    uma vez que faz uso de radiao elec-

    tromagntica (neste caso na frequn-

    cia rdio).

    Com base neste fenmeno, numa

    experincia de RMN sujeita-se uma

    amostra a um intenso campo mag-

    ntico (Figura 5). Seguidamente,

    expe-se a amostra a um varrimen-to de radiao electromagntica na

    frequncia rdio. No momento em

    que a frequncia do aparelho corres-

    ponde exactamente frequncia de

    ressonncia caracterstica do ncleo

    (que se designa por frequncia de

    Larmor), os ncleos mudam para ou-

    tra orientao. Desligando a fonte de

    radiao electromagntica, os ncle-

    os retomam a sua orientao original

    emitindo uma radiao que origina

    Figura 4 O fenmeno da ressonncia magntica nuclear. Quando ncleos expostos a um campo magntico intenso (seta a cheio) so tambm expostosa radiao electromagntica na frequncia rdio (seta ondulada) ( esquerda), os ncleos saltam para outra orientao (ao centro). Ao retomarem a sua

    orientao original emitem uma radiao caracterstica

    Figura 3 Os ncleos esto normalmente dispostos de forma aleatria ( esquerda). Quando sujeitosa um intenso campo magntico (aqui representado pela seta a cheio), so obrigados a alinhar-se em

    orientaes especficas que podem ser paralelas ou anti-paralelas ao campo magntico aplicado. Estasorientaes so determinadas pelo estado energtico do ncleo

    um sinal elctrico. Aps tratamento

    matemtico (transformao de Fou-

    rier - FT) possvel traar um grfico

    da intensidade do sinal em funo da

    frequncia aplicada a que chamamos

    espectro de RMN.

    As frequncias de ressonncia dosncleos dependem, no s da nature-

    za do ncleo em estudo, mas tambm

    do ambiente qumico, aparecendo em

    stios diferentes do espectro de RMN.

    As frequncias de ressonncia so

    expressas numa unidade que se de-

    signa por desvio qumico (e expres-

    sa em ppm). Este desvio qumico indi-

    ca a localizao de um sinal de RMN

    em relao a um padro, que por con-

    veno tem um desvio qumico igual

    a 0 ppm.

    Assim sendo, a RMN permite deter-

    minar o nmero e o tipo de grupos

    qumicos num composto, sendo des-

    ta forma uma tcnica valiosa para a

    obteno de informao sobre a es-

    trutura de molculas. Nas figuras 6 e

    7 so apresentados, a ttulo de exem-

    plo, espectros de RMN de 1H e de 13C

    do etanol.

    Figura 5 Aamostra a analisar colocada no interior do aparelho dentro de um tubo e diluda com solvente deuterado (a utilizao de um solvente

    deuterado permite minimizar os sinais que provm deste mesmo solvente). A amostra contm ncleos activos, dispostos de forma aleatria. Aps aplicaode um campo magntico (esttico), os ncleos alinham-se na direco do campo magntico. Um emissor de radiaes electromagnticas na frequnciardio emite uma sequncia de ondas com diferentes frequncias. Quando a frequncia de ressonncia do ncleo (tambm designada por frequncia deLarmor) atingida, os ncleos saltam para outra orientao. Ao retornarem a sua orientao original emitem uma radiao que detectada originando

    um sinal elctrico (designado por sinal FID). O tratamento matemtico deste sinal, aplicando a transformada de Fourier (FT), origina um espectro de sinal emfuno da frequncia aplicada com os sinais correspondentes aos ncleos em estudo, que se designa por espectro de RMN

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    PARA

    QUE

    SE

    USA

    A

    RMN?A espectroscopia de RMN hoje usa-

    da de forma generalizada por todos

    os que se dedicam a estudar directa

    ou indirectamente compostos ou fe-

    nmenos qumicos. A espectroscopia

    de RMN uma tcnica analtica sofis-

    ticada e poderosa que tem aplicaes

    em diferentes reas. A diversidade

    de aplicaes s foi possvel devido

    ao contnuo desenvolvimento de di-

    ferentes tcnicas que se baseiam no

    fenmeno de RMN. Este desenvol-

    vimento permitiu que ao longo dos

    tempos cada tcnica fosse optimizada

    de acordo com as necessidades da

    respectiva aplicao. A RMN pode serutilizada tanto para a anlise qualita-

    tiva como quantitativa e as suas apli-

    caes vo desde a anlise de com-

    postos qumicos simples a seres vivos

    intactos, de um modo no invasivo e

    no destrutivo.

    Os campos mais comuns de aplica-

    o da RMN incluem:

    1) Anlise estrutural aplicada qumi-

    ca e biologia;

    2) Imagiologia mdica: tomografia de

    ressonncia magntica nuclear ou

    imagiologia de ressonncia magn-

    tica nuclear (maior rea de aplica-

    o);

    3) Prospeco geofsica (por exem-plo, de petrleo): geotomografia de

    ressonncia magntica nuclear.

    O presente artigo vai focar-se sobre

    as duas primeiras aplicaes.

    ANLISEESTRUTURALAPLICADAQU-MICAEBIOLOGIA

    A utilizao da espectroscopia de

    RMN est muito associada determi-

    nao da estrutura molecular em so-

    luo mas os estudos efectuados em

    estado slido so tambm frequentes.

    A RMN pode ser aplicada no s na

    elucidao estrutural de pequenas e

    Figura 7 Espectro de RMN de 13C de etanol (CH3CH

    2OH) (diludo em clorofrmio deuterado) que permite detectar os ncleos de 13C. So visveis trs

    conjuntos de sinais. Dois destes (a cerca de 18.5 e 58.6 ppm) correspondem aos dois carbonos presentes no etanol. O conjunto de sinais a 77 ppm provmdo solvente deuterado

    Figura 6 Espectro de RMN de 1H de etanol (CH3CH

    2OH) (diludo em clorofrmio deuterado) que permite detectar os ncleos de 1H. So visveis trs sinais.

    Dois destes sinais (um quadrupleto a cerca de 3.7 ppm e um tripleto a 1.3 ppm) correspondem a grupos protes que tm um mesmo ambiente qumico

    (protes dos grupos CH2 e CH3). O sinal a 1.6 ppm corresponde aos protes da gua presente no clorofrmio deuterado. O proto do grupo OH do etanolno visvel porque est sujeito a uma troca com os protes da gua. O sinal relativo ao solvente deuterado aparece fora da escala apresentada

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    mdias molculas, como tambm no

    estudo de macromolculas, como pro-

    tenas ou cidos nucleicos. Para alm

    de ser muito til na elucidao da

    estrutura molecular, a RMN pode ser

    tambm usada para estudar proces-

    sos dinmicos de molculas e para

    estudar interaces/reaces entremolculas.

    As experincias mais comuns de es-

    pectroscopia de RMN baseiam-se na

    observao directa de ncleos de 1H

    em soluo. As caractersticas favor-

    veis deste ncleo (elevada abundn-

    cia natural, elevada razo giromag-

    ntica) possibilitam medies de alta

    sensibilidade e baixo tempo de aquisi-

    o para este ncleo e so respons-

    veis pelo vasto nmero de aplicaes

    desta tcnica que vai desde compos-

    tos muito simples com baixo peso mo-

    lecular at protenas.

    Por exemplo, no espectro de 1H do

    etanol (Figura 6) so obtidos trs

    sinais com 3 desvios qumicos dife-

    rentes: um para o grupo CH3, o outro

    para o grupo CH2e um ltimo para o

    grupo OH. Um grupo CH3tem tipica-

    mente um desvio qumico por volta

    de 1 ppm, um grupo CH2ligado a um

    grupo OH tem um desvio qumico porvolta de 4 ppm e um grupo OH tem

    um desvio qumico entre os 2 e os 3

    ppm dependendo do solvente utiliza-

    do na experincia. O formato do sinal

    e a sua rea do mais informao

    sobre a estrutura qumica. A rea do

    sinal est relacionada com o nmero

    de protes relativos a um sinal. No

    exemplo em questo, o sinal do grupo

    CH2tem uma rea de integrao que

    equivale a 2/3 do tamanho do sinal do

    grupo CH3

    . O formato dos sinais (sin-

    guletos, dupletos, tripletos, etc.) est

    essencialmente relacionado com a vi-

    zinhana de ncleos do mesmo tipo.

    O mesmo tipo de raciocnio pode ser

    aplicado para os outros tipos de ncle-

    os que so frequentemente estudados

    por RMN, tais como, por exemplo, 13C,15N, 31P, 19F, 195Pt. No entanto, impor-

    tante mencionar que a relao entre

    a rea de um sinal e o nmero de n-

    cleos a que corresponde s possvel

    para espectros de RMN de 1H.

    Uma aplicao interessante da es-

    pectroscopia de RMN consiste em

    estabelecer a pureza isomrica de es-

    pcies farmacologicamente activas.

    Por exemplo, a cisplatina, frmaco

    antitumoral (Figura 8A), um comple-

    xo metlico que contm platina como

    centro metlico. Um dos principais

    problemas associados aplicao

    biolgica destes complexos metlicosest associado ao facto de estes com-

    plexos poderem existir sob forma de

    vrios ismeros, por exemplo, cis- e

    transplatina(Figura 8A e B, respecti-

    vamente).

    Para aplicaes farmacolgicas os

    compostos devem ser utilizados em

    formas isomericamente puras j que

    diferentes ismeros podem ter efeitos

    teraputicos/txicos muito diversos.

    Por essa razo, existe a necessidade

    de utilizar mtodos simples e fidedig-

    nos para confirmar a pureza destes

    compostos. No caso das espcies ba-

    seadas em platina pode ser utilizadaa espectroscopia de RMN de 195Pt. O

    desvio qumico da 195Pt sensvel

    natureza dos tomos doadores liga-

    dos platina e ao isomerismo geo-

    mtrico. Os desvios qumico da RMN

    de 195Pt surgem numa larga escala de

    12000 ppm (Tabela 2), o que permite

    uma distino clara entre sinais sem

    sobreposio dos mesmos.

    Composto Desvio qumico, ppm Referncia

    Na2PtCl

    60 [5]

    cis-PtCl2(NH

    3)2(cisplatina) (A) 2149 [6]

    trans-[PtCl2(NH

    3)2] (transplatina) (B) 2145 [6]

    trans-[PtCl4{NH=C(OH)Et}

    2] (C) 36 [7]

    [PtCl2{HOHNCMe

    2CMe

    2NHOH}] (D) 2492 [8]

    O espectro de RMN de 195Pt da cis-platina isomericamente pura origina

    um sinal a -2149 ppm relativamente a

    Na2PtCl

    6(que usado como padro).

    A presena do ismero trans(transpla-

    tina) e/ou de outros complexos de Pt

    origina picos com diferentes desvios

    qumicos, podendo desta forma ser

    claramente distinguidos da cisplatina.

    As tcnicas de RMN que mencion-

    mos at agora so tcnicas unidimen-

    sionais (1D). Estas tcnicas revelaminformao sobre o tipo e proporo

    de ncleos sob observao, mas nem

    sempre do informao sobre a forma

    como os ncleos esto ligados uns

    aos outros, ou seja nem sempre pro-

    videnciam informao suficiente so-

    bre as ligaes intramoleculares. Esta

    informao pode ser obtida usando a

    tcnicas de espectroscopia de RMN

    multidimensional, tais como, 1H,1H-

    COSY, 1H,13C-HMBC, 1H,15N-HSQC.

    Na Figura 9 exemplifica-se uma des-

    tas tcnicas aplicada identificao

    da molcula ciclosporina (representa-

    da na Figura 10).

    A espectroscopia de RMN tem vindo

    a enfatizar a aplicao em sistemas

    biomoleculares e tem um papel muito

    importante na biologia estrutural. Com

    os desenvolvimentos, tanto na meto-

    dologia, como na instrumentao nas

    ltimas duas dcadas, a RMN tornou-

    se numa das mais poderosas tcni-

    cas espectroscpicas para a anlisede biomacromolculas, permitindo a

    caracterizao de biomacromolcu-

    las e seus complexos at 100 kDa.

    Tabela 2 Desvio qumico de 195Pt RMN dos compostos seleccionados

    Figura 8 Complexos de platina caracterizados por RMN de 195Pt

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    Em conjunto com a cristalografia de

    raios X, a espectroscopia de RMN

    uma das duas tecnologias de ponta

    para a determinao da estrutura de

    biomacromolculas a nvel atmico.

    No entanto, a espectroscopia de RMN

    o nico mtodo com resoluo at-

    mica para a elucidao estrutural debiomolculas em soluo aquosa em

    condies prximas das condies

    fisiolgicas. Adicionalmente, a RMN

    providencia perfis de dinmica e in-

    teraces moleculares que contm

    informao preciosa sobre o funcio-

    namento de biomacromolculas, in-

    formao determinante no desenvol-

    vimento de novos frmacos.

    IMAGIOLOGIAMDICA: IMAGIOLOGIADERESSONNCIAMAGNTICA(IMR)NUCLEAR

    A imagiologia de ressonncia mag-

    ntica (IRM) uma potente tcnica

    de imagiologia mdica que se baseia

    essencialmente na espectroscopia deRMN de 1H.

    Como descrevemos anteriormente, a

    RMN de 1H detecta a presena de n-

    cleos de protes.

    Assim sendo, o que a IRM permite a

    visualizao da concentrao de pro-

    tes distribudos nos tecidos.

    Muitos dos protes visualizados so

    os protes da gua, por isso, a IRM

    particularmente adequada para a

    imagiologia de tecidos moles, tais

    como o crebro ou a medula ssea

    (Figura 11).

    Os ossos, no possuindo tanta guae, por isso, protes, emitem um sinal

    muito mais fraco aparecendo muito

    mais escuros.

    Apesar da resoluo espacial da IRM

    no ser to boa como a do raio-X con-

    vencional, a sua resoluo de con-

    traste bastante melhor.

    Figura 9 Espectro de RMN de 1H,13C-HMBC da ciclosporina. As linhas de interseco (que aparecem como pequenos crculos) correspondema carbonos e protes que esto a duas ou trs ligaes uns dos outros mas no directamente ligados entre si

    Figura 10 Estrutura de ciclosporina

    Figura 11 Exemplo de uma IRM da cabea.Imagem preparada pelos autores a partir deimagem animada de Dwayne Reed (licena

    Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0Unported)

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    A figura 12 ajuda a visualizar o fen-

    meno por detrs da IRM [9]. Na RMN

    de 1H sujeita-se uma amostra (e desta

    forma os seus protes) a um intenso

    campo magntico homogneo e, de

    seguida, a uma radiao com frequn-

    cia rdio (tal como descrevemos ante-

    riormente). Como aplicamos um cam-

    po magntico igual a toda a amostra

    (esttico) e a frequncia do sinal dos

    protes depende deste campo magn-

    tico, todos os protes com as mesmas

    caractersticas (ou ambiente qumico)

    originam espectros com um s sinal.

    Este sinal revela a presena de pro-

    tes mas no d informao sobrea sua localizao. Na IRM aplica-se

    a um tecido um campo magntico

    com um gradiente calibrado. Com o

    aumento do campo magntico (da

    esquerda para a direita) a frequncia

    emitida pelos ncleos (aps exposio

    rdio frequncia) aumenta tambm

    da esquerda para a direita na amos-

    tra. Ou seja, para duas zonas com o

    mesmo tipo de protes so emitidos

    dois sinais a diferentes frequncias.

    Este o princpio para a localizao

    dos protes. Na figura 12 s est es-

    quematizada a localizao ao longo

    de um eixo horizontal. No entanto,

    se for utilizado um campo magntico

    rotativo, recolhe-se informao sobre

    os vrios eixos, que se for combinada

    com o auxlio de informtica, produz

    um mapa tridimensional da densidade

    de protes (que pode ser visualizada

    em cortes).

    Uma vez que, como mencionmos

    antes, a densidade de protes varia

    com o tipo de tecido (por causa dos

    diferentes contedos de gua dos

    mesmos), diferentes sinais so tam-bm obtidos para diferentes tipos de

    tecidos.

    REFERNCIAS

    Recomendamos as referncias [1-3]

    para os que pretendem aprofundar os

    conhecimentos na rea de RMN.

    [1] Timothy D.W. Claridge, High-reso-

    lution NMR Techniques in Organic

    Chemistry, Elsevier, 1999.

    [2] J.N.S. Evans, Biomolecular NMR

    Spectroscopy, Oxford University

    Press, Oxford, 1995.

    [3] R. Abraham, J. Fisher, P. Loftus, Intro-

    duction to NMR Spectroscopy, Wiley,

    Chichester, 1988.

    [4] (http://nobelprize.org)

    [5] R.K. Harris, E.D. Becker, S.M. Cabral

    de Menezes, R. Goodfellow, P.

    Granger. Pure Appl. Chem. 2001, 73,

    17951818.

    [6] D.P. Bancroft, C.A. Lepre, S.J. Lip-

    pard, J. Am. Chem. Soc. 1990, 112,

    68606871.

    [7] K.V. Luzyanin, M. Haukka, N.A.

    Bokach, M.L. Kuznetsov, V.Yu. Kuku-

    shkin, A.J.L. Pombeiro, J. Chem. Soc.,

    Dalton Trans., 2002, 18821887.

    [8] K.V. Luzyanin, P.V. Gushchin, A.J.L.

    Pombeiro, M. Haukka, V.I. Ovcharen-

    ko, V.Yu. Kukushkin, Inorg. Chem.

    2008, 47, 69196930.

    [9] Para explicar a tcnica de IRM a um

    pblico mais jovem recomendamos

    vivamente o jogo didctico sobre este

    tema que est alojado no site do Pr-

    mio Nobel em (http://nobelprize.org/

    educational_games/medicine/mri/).

    Figura 12 Em relao a uma experincia de RMN de 1H convencional a IRM permite obter informao sobre a localizaoespacial de protes em tecidos. A aplicao de um campo magntico em gradiente origina um sinal que contm informao

    no s sobre a existncia de protes mas tambm sobre a sua localizao

    Sociedade Portuguesa de Qumica

    Avenida da Repblica, n45 - 3 Esq.

    1050-187 Lisboa - Portugal

    URL: www.spq.pt

    E-mail: [email protected]