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1 Área Temática: Gestão de Pessoas Relações de Trabalho: Planejamento e Novas Oportunidades de Carreira para o Trabalhador RESUMO Este trabalho teve como objetivo principal apresentar as novas oportunidades de carreira que se desviem da tradicional execução formal do trabalho e possam conduzir o trabalhador ao planejamento ativo de sua carreira. A identificação da construção da carreira para os indivíduos é de fundamental importância para o atingimento do sucesso profissional, principal preocupação contemporânea do trabalhador que planeja a sua carreira. A pesquisa procurou responder o problema do estudo: - Quais são as oportunidades e caminhos para aqueles trabalhadores que querem buscar, ativamente, o desenho de sua própria carreira, com a diminuição da dependência da organização ao qual pertence? Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito do assunto nos principais autores da literatura nacional e internacional sobre o tema, sendo examinados livros, artigos científicos e sites da Internet, constituindo-se um ensaio teórico. O referencial teórico para viabilizar o estudo tratou dos tópicos: carreira tradicional, sistemas de administração de carreiras, novos desenhos de carreiras, novas modalidades de carreira e carreira sem fronteiras. As principais conclusões foram que apenas uma minoria pode escolher ativamente o desenho de sua carreira, no momento, mas isso está se acelerando. Que novas oportunidades de carreira conduzem o trabalhador a um comprometimento com o seu trabalho e suas tarefas, e não mais à organização. E, finalmente, que buscar o planejamento ativo da carreira, conduz o trabalhador ao sucesso profissional e a um nível de qualidade de vida e contentamento maiores que os experimentados na carreira tradicional. INTRODUÇÃO No atual cenário, entre alguns estudos de importância para as organizações, encontra- se o estudo sobre carreiras, a fim de compreender o comportamento do indivíduo dentro do sistema de gestão de pessoal da organização e o nível de dependência desses em relação à própria empresa. Muito se tem discutido sobre o assunto, que evoluiu desde a simples execução do trabalho, de modo servil, alienado e repetitivo, até um modelo presente nos dias de hoje, evidenciado pela construção ativa e independente da própria carreira por parte do funcionário, caso haja iniciativa e oportunidade por parte desse último (DIMAGGIO; POWELL, 1983). As relações empresa-trabalhador tornam-se cada vez mais frias, interesseiras e utilitárias. Não que isso seja uma novidade, afinal os mencionados processos que têm levado à eliminação de postos de trabalho já caracterizam bem tais predicados. A diferença é que o trabalhador passou a retribuir na mesma moeda: utilizar a empresa como fonte de aprendizado e crescimento profissional e estar disposto a buscar mudar de organização, caso isso seja interessante aos seus olhos (POWELL, 1987). Terminadas as possibilidades de aquisição de novos conhecimentos, o indivíduo procura outra fonte de aprendizado, ou seja, outra empresa onde possa ampliar o seu nível de conhecimento e desenvolver-se. A lealdade total à empresa, antes um fator de diferencial entre os trabalhadores, está sendo substituída por um comportamento predominantemente individualista por parte dos profissionais. O investimento na carreira, antes financiado pelas empresas, agora podem ser feitos pela parte interessada: o trabalhador (HALL, 1996). Outra prática verificada a partir das novas relações do trabalho contemporâneo refere-se à diminuição dos postos de trabalho com vínculo empregatício e à

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    rea Temtica: Gesto de Pessoas

    Relaes de Trabalho: Planejamento e Novas Oportunidades de Carreira para o Trabalhador

    RESUMO

    Este trabalho teve como objetivo principal apresentar as novas oportunidades de carreira que se desviem da tradicional execuo formal do trabalho e possam conduzir o trabalhador ao planejamento ativo de sua carreira. A identificao da construo da carreira para os indivduos de fundamental importncia para o atingimento do sucesso profissional, principal preocupao contempornea do trabalhador que planeja a sua carreira. A pesquisa procurou responder o problema do estudo: - Quais so as oportunidades e caminhos para aqueles trabalhadores que querem buscar, ativamente, o desenho de sua prpria carreira, com a diminuio da dependncia da organizao ao qual pertence? Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliogrfica a respeito do assunto nos principais autores da literatura nacional e internacional sobre o tema, sendo examinados livros, artigos cientficos e sites da Internet, constituindo-se um ensaio terico. O referencial terico para viabilizar o estudo tratou dos tpicos: carreira tradicional, sistemas de administrao de carreiras, novos desenhos de carreiras, novas modalidades de carreira e carreira sem fronteiras. As principais concluses foram que apenas uma minoria pode escolher ativamente o desenho de sua carreira, no momento, mas isso est se acelerando. Que novas oportunidades de carreira conduzem o trabalhador a um comprometimento com o seu trabalho e suas tarefas, e no mais organizao. E, finalmente, que buscar o planejamento ativo da carreira, conduz o trabalhador ao sucesso profissional e a um nvel de qualidade de vida e contentamento maiores que os experimentados na carreira tradicional.

    INTRODUO

    No atual cenrio, entre alguns estudos de importncia para as organizaes, encontra-se o estudo sobre carreiras, a fim de compreender o comportamento do indivduo dentro do sistema de gesto de pessoal da organizao e o nvel de dependncia desses em relao prpria empresa. Muito se tem discutido sobre o assunto, que evoluiu desde a simples execuo do trabalho, de modo servil, alienado e repetitivo, at um modelo presente nos dias de hoje, evidenciado pela construo ativa e independente da prpria carreira por parte do funcionrio, caso haja iniciativa e oportunidade por parte desse ltimo (DIMAGGIO; POWELL, 1983).

    As relaes empresa-trabalhador tornam-se cada vez mais frias, interesseiras e utilitrias. No que isso seja uma novidade, afinal os mencionados processos que tm levado eliminao de postos de trabalho j caracterizam bem tais predicados. A diferena que o trabalhador passou a retribuir na mesma moeda: utilizar a empresa como fonte de aprendizado e crescimento profissional e estar disposto a buscar mudar de organizao, caso isso seja interessante aos seus olhos (POWELL, 1987). Terminadas as possibilidades de aquisio de novos conhecimentos, o indivduo procura outra fonte de aprendizado, ou seja, outra empresa onde possa ampliar o seu nvel de conhecimento e desenvolver-se. A lealdade total empresa, antes um fator de diferencial entre os trabalhadores, est sendo substituda por um comportamento predominantemente individualista por parte dos profissionais. O investimento na carreira, antes financiado pelas empresas, agora podem ser feitos pela parte interessada: o trabalhador (HALL, 1996). Outra prtica verificada a partir das novas relaes do trabalho contemporneo refere-se diminuio dos postos de trabalho com vnculo empregatcio e

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    adoo mais frequente da contratao de mo de obra temporria ou por projeto (BASTOS FILHO, 2005). Segundo Calvosa (2009), o modelo de carreira tradicional remete-se ao modelo onde a carreira do indivduo esttica, um caminho linear a ser seguido pelo indivduo dentro da organizao, marcada pela estabilidade e segurana no emprego e ainda, por progresso hierrquica (como uma escada com vrios e sequenciais degraus a serem subidos). Contudo, atravs dos novos conceitos de carreira, mudanas no modelo tradicional de carreira apresentam alternativas a esse modelo (ARTHUR, 1987). Com o passar do tempo, os indivduos buscaram entender as razes para se trabalhar, construindo e buscando um sentido para sua vida pessoal e profissional, e para isso, procuraram traar seus prprios planos de carreira. Ademais, as instituies passaram a ser mais flexveis e adaptveis s exigncias globais. Novas tecnologias, a velocidade das transformaes e a incrvel troca de informaes, somadas s novas demandas organizacionais fizeram surgir uma capacidade autnoma de gerenciamento da prpria carreira (de alguns empregados), com base em sua rede de relacionamentos, em suas competncias pessoais e nas oportunidades que a organizao pode oferecer (DRUCKER, 2005).

    O empregado, atualmente, pode no vir apenas a depender somente da organizao para o desenvolvimento de sua carreira. Sua carreira tambm est diretamente relacionada s suas competncias, experincias de vida e a busca pelo conhecimento. Aproveitar melhor seu tempo livre para o aprimoramento de suas habilidades e capacitaes, ter acesso a mltiplas informaes, ter uma eficiente rede de relacionamentos e possuir uma tolerncia multicultural podem conduzir o profissional a um preparo especializado para superar os obstculos observados na concepo da sua carreira pela organizao e as transformaes do turbulento mercado global (BASTOS FILHO, 2005). O trabalhador brasileiro tem uma natureza empreendedora. No cenrio nacional contemporneo, com nmeros atualizados recentemente, existem cerca de 4,7 milhes de empresas no Brasil (SEBRAE apud CALVOSA, 2008), sendo que desse total, 1,5 milho so compostas de um nico funcionrio, o empreendedor (fundador). Mais de 3 milhes das restantes so de micros ou pequenas empresas, com poucos funcionrios, porm inseridos em um ambiente de constante trocas. Apenas 330 empresas no Brasil tm capital aberto (CALVOSA, 2008). Muitas dessas empresas fecham as portas, cerca de 65%, nos trs primeiros anos de vida. Por que ento no empreender na prpria carreira, mudando apenas de organizao? Isso pode ser uma alternativa para atingir um satisfatrio grau de liberdade, sem correr os riscos de um empreendimento. Novas modalidades de carreira surgiram e se fazem presente como opes e iniciativas que devem ser buscadas pelo prprio funcionrio ao deslocarem o eixo de comando do capital do empresrio de um trabalho burocratizado, servil e regular para um autnomo, desprendido e oportuno, com carter de colaborao, livre dos muros organizacionais, com riscos e oportunidades que a carreira tradicional no pode apresentar (CALVOSA, 2009). Problema da Pesquisa e Objetivo Durante um perodo muito grande da histria, os trabalhadores no tiveram sequer alguma oportunidade de modificar a sua realidade laboral. De forma geral, primeiro eram obrigados a seguir o ofcio dos pais ou a expertise familiar, depois, principalmente aps a Revoluo Industrial, foram obrigados a servir ao dono do capital, entregando a sua fora de trabalho em troca de tarefas repetitivas, exaustivas e sem sentido amplo. Vivemos em uma poca de revolues. De aproximadamente duas dcadas at os dias de hoje, os trabalhadores j do passos significativos para mudar essa realidade de sculos de opresso servir passivamente ao dono do capital. Diante dessas reflexes, surgiu a pergunta-problema do trabalho: - Quais so as oportunidades e caminhos para aqueles trabalhadores que querem buscar, ativamente, o

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    desenho de sua prpria carreira, com a diminuio da dependncia da organizao ao qual pertence?

    Diante do problema de pesquisa, o objetivo principal do trabalho :

    Apresentar as novas oportunidades de carreira que se desviem da tradicional execuo formal do trabalho e possam conduzir o trabalhador ao planejamento ativo de sua carreira.

    Como objetivos secundrios o trabalho tambm pretende: Identificar a importncia da construo da carreira para os indivduos e diferenciar as

    modalidades e os tipos de carreira existentes, presentes no ambiente organizacional.

    Metodologia Para a execuo deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliogrfica a respeito do assunto nos principais autores da literatura nacional e internacional sobre o tema, sendo examinados livros, artigos cientficos e sites da Internet, constituindo-se um ensaio terico. Devido o assunto ser ainda de fronteira do conhecimento e estar embrionrio na aplicao organizacional, houve certa dificuldade de encontrar pesquisas secundrias sobre o tema ou questionrios validados para a aplicao no cenrio nacional. O que se mostrou uma limitao do estudo e d margem para futuros trabalhos, inclusive, uma pesquisa de campo sobre o assunto, com abrangncia nacional para verificar se o perfil do trabalhador optante pela carreira sem fronteiras encaixasse com o perfil descrito e sugerido pelos autores internacionais, principais tericos sobre o tema.

    O SIGNIFICADO PSICOLGICO DO TRABALHO E DA CARREIA O trabalho que situa o indivduo na sociedade, contribuindo para a construo de sua

    identidade e de sua personalidade (KILIMNIK; MORAIS, 2000). Por meio do trabalho, o indivduo pode manifestar suas potencialidades e talentos e se sentir capaz de participar, cooperar e produzir resultados a partir do prprio empenho; assim, o trabalho pode ser um importante meio de realizao do ser humano e de desenvolvimento de sua auto-estima. O trabalho em si apresentasse como fundamental para a satisfao do indivduo, mas o seu carter est mudando e, com isso, algumas necessidades individuais tambm. A necessidade de segurana, por exemplo, onde a escolha voluntria do funcionrio de pertencer mesma organizao por toda a sua vida profissional, j parece ocupar um papel secundrio na vida dos empregados. Em uma pesquisa nacional recente, alguns dados apontam que h duas geraes passadas ou cerca de 40-50 anos atrs, um funcionrio mudava de emprego, em mdia, trs vezes em toda a sua vida profissional (CALVOSA, 2009). Hoje em dia, esta mdia subiu para oito vezes, algumas vezes por escolha da organizao, mas em outras, pela prpria vontade do indivduo, muitas vezes para ganhar o mesmo salrio ou at com remunerao um pouco mais baixa.

    O trabalho um importante meio atravs do qual o ser humano procura relacionar-se com o mundo, num processo de busca do prazer e de fuga do sofrimento, como dizia Freud no incio do sculo XX, e ainda constitui-se um importante meio de aprendizado que est alm das outras esferas de aprendizagem primrias dos indivduos, como a famlia e a comunidade (KILIMNIK; MORAIS, 2000).

    Entretanto, nas ltimas duas dcadas observou-se uma tendncia no sentido de o trabalho ser percebido como extremamente rotineiro, repetitivo ou burocrtico por uma grande quantidade de pessoas, em diversos contextos organizacionais. Estaria existindo ao

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    mesmo tempo, uma desconsagrao e um desligamento dos funcionrios em relao ao trabalho? (KILIMNIK; CASTILHO; SANTANNA, 2006). Desconsagrao, porque o significado do trabalho estaria enfraquecendo-se e seu valor limitando-se s vantagens materiais que ele proporciona. Desligamento, porque a vida profissional representaria uma importncia cada vez menor na vida das pessoas, devido s drsticas redues de quadros de empregados nas empresas do cenrio de negcios atual, globalizado e altamente competitivo. Assim, enquanto uma minoria possui uma elevada qualidade de vida no trabalho, exercendo atividades significativas e bem remunerada, a maioria dos trabalhadores desempenha tarefas repetitivas, burocrticas, mal remuneradas e no usufrui de uma boa qualidade de vida no trabalho, quando no se encontra simplesmente subempregada ou desempregada.

    O QUE CARREIRA? Etimologicamente, "carreira" origina-se do latim, via carraria, que significa estrada

    para carros, um caminho estruturado. Pode-se utilizar carreira para se referir mobilidade ocupacional, como, por exemplo, o caminho a ser trilhado por um executivo em sua carreira de negcios ou para referir-se estabilidade ocupacional, ou seja, a carreira como uma profisso, como, por exemplo, a carreira militar (HALL, 1976). Em ambos os casos, a carreira passa a idia de um caminho estruturado e organizado no tempo e espao que pode ser seguido por algum. Carreira pode ser entendida como uma sequncia de atitudes e comportamentos, associada com experincias e atividades relacionadas ao trabalho, durante o perodo de vida de uma pessoa, se constituindo um percurso a ser trilhado pelo prprio indivduo ou da viso deste compartilhado com a organizao (HALL, 1976).

    No decorrer da histria puderam-se estudar vrias vises diferentes sobre o que carreira e esta tem sofrido alteraes. Somente a partir do sculo XIX passou-se a utilizar o termo para definir trajetria de vida profissional. As definies de carreira tm se transformado continuamente, segundo os principais autores da rea. O modelo de carreira tradicional, muito presente at o incio da dcada de 1990, relacionava os critrios de sucesso a fatores como o emprego de longo prazo, a ascenso contnua na hierarquia, a aquisio de benefcios e o smbolo de status crescente. A velocidade das mudanas no mundo organizacional proporcionou o surgimento de novos modelos de carreira onde muitos desses valores no so propriamente importantes ou decisivos para a construo do sucesso pessoal dentro de uma organizao (ARTHUR, 1994).

    A abordagem contempornea de carreira surge em decorrncia de mudanas sociais, tais como: a feminizao do mercado de trabalho (a execuo de trabalhos que antes s homens faziam); a elevao dos graus de instruo e a busca de conhecimento que, na poca em que vivemos, no mostra impedimentos por sexo; a cosmopolizao do tecido social que o alto comprometimento com a carreira com baixo comprometimento com a organizao (oportunidades profissionais no mais limitadas dentro da organizao); a afirmao dos direitos dos indivduos, a globalizao da economia e a flexibilizao do trabalho, entre outros fatores (EVANS, 1996).

    O conceito de carreira pode ser dividido em carreira interna, em que o indivduo busca uma ocupao e carreira externa, em que a organizao tenta estabelecer padres de desenvolvimento para os empregados durante sua vida profissional na organizao (HALL; MIRVIS, 1996). SISTEMA DE ADMINISTRAO DE CARREIRA Em uma organizao do sculo XXI, a administrao de carreiras no pode ser um plano bem estabelecido e engessado, como sugerido pelos burocratas de meados do sculo XX. Mesmo hoje, as pessoas tendem a acreditar em um processo contnuo, de complexidade crescente, sem percalos ou desafios inesperados. No entanto, o que se verifica na prtica um caminho tortuoso e surpreen-dente. A carreira deve ser pensada como uma estrada que est constantemente sendo construda pela

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    pessoa e pela empresa. Quando olhamos o que j foi feito, vemos o caos da preparao para o momento atual e, o futuro, como algo sem previso exata, mas que pode ser balizado e construdo ao longo de um processo de estabilizao. Uma empresa, ao administrar as carreiras de seus executivos, estar, na verdade, construindo organizaes dentro de certos limites (DUTRA, 1996).

    Para corporaes com centenas, milhares ou dezenas de milhares de profissionais seria impossvel conciliar as diferentes expectativas de carreira das pessoas com as necessidades organizacionais, caso no fossem disponibilizadas diretrizes, estruturas de carreira, instrumentos de gesto etc., que chamado de sistema de administrao de carreiras. O sistema de administrao de carreiras no deve ser entendido como uma moldura em que as pessoas obrigatoriamente se encaixam, mas como a estruturao de opes, como forma de organizar possibilidades ou como suporte para que as pessoas possam planejar suas carreiras dentro da empresa.

    Segundo Dutra (1996), um sistema de administrao de carreiras deve estar baseado em princpios (que representam os compromissos acertados entre a empresa e as pessoas), em estrutura (opes de carreira) e instrumentos de gesto (mecanismos que iro possibilitar os indivduos a maiores e crescentes nveis de abstrao e complexidade de tarefas e funes).

    Um sistema de administrao de carreiras contribui para: adequar os projetos de desenvolvimento das pessoas ao projeto de desenvolvimento da empresa; estimular e dar suporte para que as pessoas planejem seu futuro profissional; identificar e trabalhar pontos fortes e fracos; explorar os pontos fortes das pessoas, independentemente de suas preferncias profissionais; melhorar a comunicao entre empresa e funcionrios; oferecer maior transparncia na negociao de expectativas entre empresa e funcionrios e direcionar e integrar as prticas de gesto de pessoas (BASTOS FILHO, 2005).

    DESENHO DE CARREIRA NAS ORGANIZAES A carreira, em uma perspectiva tradicional, pode ser vista como um ajustamento do

    indivduo a uma ocupao escolhida ou imagem que dela possui e esse processo de ajustamento implica critrios dos quais nasce noo de hierarquia ou de sequncia de papis com maiores responsabilidades dentro de uma ocupao. Experincias passadas e expectativas futuras devem ser usadas no planejamento de carreira (MALVEZZI, 2000). Traar um objetivo de vida e carreira tornar a identificao com as oportunidades oferecidas mais claras a partir tambm de uma auto-avaliao, quando a carreira idealizada pelo prprio funcionrio. Isso, no entanto, no significa que o indivduo tenha que implantar esse planejamento na ntegra. No decorrer do tempo ele pode perceber competncias, interesses e oportunidades antes no perceptveis claramente e tomar outro rumo para sua carreira. O quadro a seguir mostra as principais mudanas na evoluo do modelo de carreiras (CHANLAT, 1995).

    Quadro 1: Modelos de carreira

    Fonte: Chanlat, 1995.

    Particularizando o estudo de carreiras, no Brasil, as pessoas so naturalmente resistentes ao planejamento de sua vida profissional por no terem nenhum estmulo para isso

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    ao longo da vida. Alm disso, encontra-se uma realidade onde o indivduo tende a guiar sua carreira mais por apelos externos, como oportunidade de ocupao, remunerao, status, prestgio, do que por preferncias pessoais (DA MATTA, 1980).

    O indivduo parte fundamental da organizao, pois ela formada por eles e sua contribuio no desenvolvimento das atividades da empresa, mas para que essa contribuio seja positiva necessrio que o indivduo sinta-se motivado ao aperfeioamento de suas competncias, tenha liberdade de expor sua opinio. Desse modo, a empresa talvez reconhea a pr-atividade de seu funcionrio concedendo-lhe maior autonomia e poder, colaborando assim, com o alcance dos seus objetivos. Porm, se os objetivos forem muito diferentes entre os funcionrios e a empresa, a probabilidade para que haja conflitos torna-se grande entre as partes e os objetivos no sero atingidos de maneira satisfatria. Por isso, o bom seria que desde o incio a empresa deixasse claros os seus valores e as suas normas, a sua cultura organizacional e caso exista a possibilidade, auxilie o funcionrio na construo de sua prpria carreira (MARTINS, 2001).

    Para a construo e o gerenciamento da prpria carreira o indivduo deve desenvolver competncias que daro subsdios para o alcance das metas, como pode ser observado no quadro a seguir:

    Quadro 2: Competncias necessrias para o gerenciamento da prpria carreira

    Fonte: Elaborado a partir de Arthur, Claman e De Pillippi (1995) e Jones e De Fillippi (1996).

    Essas qualidades so mais bem desenvolvidas quando a pessoa tem o controle de sua prpria carreira, tem oportunidades de escolhas diversas e no quando se est confinado em um nico emprego.

    O sucesso na carreira se difere por vrias constituies: interna como a pessoa v o seu prprio desenvolvimento em termos de valores, metas e aspiraes; externa como o sucesso percebido pelo ambiente externo em termos de status, hierarquia, renda e poder; organizacional em termos de poder e influncia organizacional, que podem ser medidos pela subida na carreira e de outras maneiras; social etiquetas de marca, desenvolvimento profissional e globalizado (JONES; De FILLIPPI, 1996).

    TIPOS DE DESENHO DE CARREIRA

    Trs tipos bsicos de desenho de carreira so identificados na literatura sobre o assunto, a partir das estruturas correspondentes: a carreira em linha, a carreira em rede e carreira em paralelo (DUTRA, 1996).

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    Carreira em linha As estruturas em linha (que geram a carreira do indivduo em linha) ordenam diversas posies em uma nica direo, sem alternativas, conduzindo o individuo a caminhos nicos, voltados para a especializao. Nesse caso, cada estgio da carreira corresponde a um conjunto especfico de responsabilidades e atribuies ou a um grupo de atributos pessoais.

    Carreira em linha identificada quando a empresa conduz o seu funcionrio para um caminho nico, voltado para a especializao e para nveis escalonados, sequenciais e estruturados de promoes, que o levam a posies gerenciais.

    Os requisitos de acesso tambm so definidos pelo desenho da carreira. As estruturas podem ser mais ou menos flexveis, dependendo de como so definidos os critrios de acesso. So muito encontradas nas empresas, sendo mais simples de configurar e administrar, mas apresentando as seguintes limitaes: (i) no h opes para outras trajetrias de carreira; (ii) o topo desse tipo de carreira corresponde a posies gerenciais, no existindo alternativas para os profissionais que preferem a carreira tcnica; (iii) por estarem atreladas a reas funcionais, as estruturas em linha so pouco adequadas para empresas que precisam de maior liberdade para realocao de pessoas ou para redefinio de suas estruturas organizacionais (DUTRA, 1996).

    Carreira em rede As estruturas em rede, que geram a carreira em rede, apresentam vrias alternativas

    para cada posio da empresa, permitindo ao profissional optar pela trajetria que mais lhe agrade, conforme os critrios de acesso estabelecidos (NELSON, 1984). O ambiente operacional de uma organizao tambm pode ser visto como uma rede de organizaes, que possam ser fornecedores, distribuidores, agncias reguladoras e outras organizaes. Esses autores ressaltam a importncia das relaes estabelecidas numa rede de organizaes, sendo que as aes, atitudes e comportamentos dos atores de uma organizao, so mais bem explicados em termos da sua posio nessa rede. Entretanto, as prprias redes no so imutveis. Elas se encontram num processo de contnua mudana e podem ser construdas, reproduzidas e alteradas como resultado das aes dos atores que a compem (CALVOSA, 2009). A antiga estrutura em pirmides baseada nos nveis hierrquicos, no conceito de base larga e topo estreito onde o conjunto se afunila a partir de uma base que pode ser mais ou menos ampla, para chegar a um topo no qual pode se encontrar um nico integrante o "chefe", mostra a comunicao entre integrantes de diferentes nveis fazendo-se de cima para baixo ou de baixo para cima, atravs dos nveis intermedirios queles que se comunicam (DUTRA, 1996).

    Nessa viso, uma estrutura em rede que uma alternativa estrutura piramidal corresponde tambm ao que seu prprio nome indica: seus integrantes se ligam horizontalmente a todos os demais, diretamente ou atravs dos que os cercam. O conjunto resultante como uma malha de mltiplos fios, que pode se espalhar indefinidamente para todos os lados, sem que nenhum dos seus ns possa ser considerado principal ou central, nem representante dos demais (WHITAKER, 1993).

    Na estrutura organizacional em rede horizontal todos tm o mesmo poder de deciso, porque decidem somente sobre sua prpria ao e no sobre a dos outros. No h dirigentes nem dirigidos, ou os que mandam mais e os que mandam menos. E todos tm o mesmo nvel de responsabilidade que se transforma em co-responsabilidade na realizao dos objetivos da rede (NOHRIA; ECCLES, 1992).

    Carreira em rede o desenvolvimento de uma carreira profissional em um ambiente interligado por diversos atores co-responsveis para o desenvolvimento do negcio, com diferentes tipos de laos que envolvem trocas ou transaes, gerando um posicionamento de co-responsabilidade e comprometimento (CALVOSA, 2009).

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    Tentando compreender o desenvolvimento da carreira nesse ambiente torna-se importante se buscar mais detalhes relacionados rede de relacionamentos e transaes comerciais que transcendem as fronteiras organizacionais e geogrficas, incluindo o papel da informao. A primeira rede do indivduo pode ser identificada como a sua famlia e medida que vai envelhecendo, conhecendo novas pessoas, passando por diversos empregos, frequentando outros grupos sociais etc., essa rede vai naturalmente se desenvolvendo. As redes podem ser condicionais (feitas pela prpria vontade do indivduo, predileo) ou incondicionais (colegas de trabalho, famlia etc.) no meio ao qual o indivduo est voluntariamente ou no (em um primeiro momento) inserido (LIMA; PENHA da SILVA; CALVOSA, 2008).

    As dificuldades consideradas nesse aspecto de rede so as questes de como saber administrar a tenso entre a vida profissional e a vida pessoal. O desenvolvimento de carreira, no contexto atual com um formato que no linear, passa pela aquisio, desenvolvimento e melhoria contnua na utilizao de competncias e habilidades essenciais ao profissional contemporneo. Esse tipo de estrutura tambm apresenta as limitaes seguintes: (i) as trajetrias profissionais conduzem a posies gerenciais; (ii) h dificuldade para redefinir a estrutura organizacional, uma vez que modific-la implica alteraes na carreira (DUTRA, 1996).

    Carreira paralelas Finalmente, existem as estruturas paralelas, que geram as carreiras paralelas, que

    criam alternativas de carreira no necessariamente relacionadas estrutura organizacional. Quando a estrutura de carreira no atende s necessidades dos diferentes grupos ocupacionais da empresa (tcnico, administrativo, gerencial etc.), especialmente em empresas de base tecnolgica, pode-se incorrer no risco de perda de capacidade tcnica e gerencial nas reas de pesquisa e desenvolvimento, com a sada, transferncia ou desmotivao de funcionrios. Isto comum quando os profissionais tcnicos vislumbram posies gerenciais como a nica forma de ascenso na carreira, o que os leva a no investirem no seu desenvolvimento tcnico (DUTRA, 1996). Carreira paralela uma seqncia de posies, que uma pessoa pode assumir no interior de uma organizao, orientada em duas direes, uma de natureza profissional e outra de natureza gerencial, sendo o acesso aos maiores nveis de remunerao e de reconhecimento oferecidos pela empresa garantido em qualquer uma das direes escolhidas. O sistema de carreiras paralelas fixa parmetros para o desenvolvimento dos profissionais tcnicos (bem como para os demais profissionais) e estabelece canais de negociao de expectativas entre as pessoas e a empresa. Isso incentiva a manuteno do profissional tcnico na carreira tcnica e evita que estes ocupem posies gerenciais mesmo quando no tm aptido e capacitao para executar tais funes. Assim, o sistema de carreiras paralelas permite empresa incentivar tanto o aperfeioamento tcnico como o gerencial, dependendo das vocaes e aspiraes individuais. As carreiras paralelas tambm apresentam limitaes, sendo a principal delas a dificuldade de administrao.

    Cabe organizao a responsabilidade pela definio de um plano de carreiras, que, por meio de trajetrias diversas, possibilite o crescimento e ascenso do empregado. Porm, compete pessoa a deciso sobre qual trajetria de carreira seguir. Por fim, na definio da carreira, importante para a empresa e para o profissional identificar quais so suas reais necessidades e particularidades e, a partir da, encontrar a melhor alternativa, uma vez que no existe alternativa ideal e, sim, a mais adequada para cada ambiente e situao (VAN MAANEN, 1977).

    CARREIRA TRADICIONAL VS CARREIRA SEM FRONTEIRAS

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    A partir da dcada de 1990, surgiu um novo conceito de carreira, que prev uma relao de independncia no desenvolvimento da carreira do individuo com a organizao. Com as mudanas ao longo do tempo na viso de carreira, o pesquisador Michel Arthur (1994) introduziu uma nova linha de pensamento, que prope que a carreira se torna sem fronteiras (boundaryless careers), isto , deixa de ter uma viso carreira tradicional e so encorajados a criar e desenvolver seus projetos de carreira, estabelecendo uma relao aberta com a organizao.

    Carreira paralela uma seqncia de posies, que uma pessoa pode assumir no interior de uma organizao, orientada em duas direes, uma de natureza profissional e outra de natureza gerencial, sendo o acesso aos maiores nveis de remunerao e de reconhecimento oferecidos pela empresa garantido em qualquer uma das direes escolhidas. Carreira tradicional aquela constituda a partir da funo de uma relao de emprego, onde os trabalhadores tm assegurada a progresso na hierarquia, a segurana no emprego, a aquisio de benefcios, smbolos de status e pertencimento formal a uma organizao.

    Com isso grande parte da responsabilidade pela construo da carreira deslocada, portanto, para o indivduo. A organizao, por sua parte, contribui para a carreira na medida em que constitui fonte de oportunidades para o exerccio e desenvolvimento de suas habilidades e competncias, gerando uma carreira sem fronteiras (SCHEIN, 1978).

    A carreira sem fronteira deixa de ser uma relao de emprego, no existe mais hierarquia e estabilidade na carreira. O indivduo passa a buscar sentido para sua profisso e preocupa-se menos com a organizao. A indeterminao e a flexibilidade, caractersticas da organizao flexvel colocam sobre o trabalhador a responsabilidade da criao do seu prprio trabalho, obrigando-o a tornar-se um agente ativo e a apropriar-se de seu destino dentro da empresa (HALL; MIRVIS, 1996). Carreira sem fronteiras prev o desenvolvimento de uma relao independente e transacional entre organizao e indivduo, onde o empregado no se limita a ter relaes comerciais com um empregador nico. Isto pode resultar em uma carreira com muitos empregadores por modificaes nos vnculos empregatcios e at ocupaes ou uma carreira que ganha significao de exterior, independente da organizao.

    Segundo Arthur (1994), a carreira sem fronteiras compreende diversos cenrios como:

    A carreira que atravessa as fronteiras entre organizaes, como comum, por exemplo, no Vale do Silcio;

    A carreira que extrai validade ou negociabilidade fora do atual empregador, como o caso, por exemplo, da carreira acadmica;

    A carreira que se sustenta em redes de relacionamento ou informao que esto fora da organizao, como, por exemplo, a do corretor de imveis;

    Ou ainda a carreira em que a pessoa escolhe passar um tempo dedicando-se famlia ou reciclando-se.

    Nas carreiras sem fronteiras, os trabalhadores precisam entender as suas razes para trabalhar, precisam tentar construir um sentido para a sua vida profissional e, para tanto, precisam fazer os seus prprios planos pessoais e profissionais. Esse conhecimento e o questionamento permitem que os trabalhadores: (i) desenvolvam suas habilidades de acordo com a prpria vontade; (ii) possibilita o entendimento de seu trabalho no local de trabalho e (iii) possibilita que busquem novas formas de solucionar problemas (SCHEIN, 1993).

    Observando o Quadro 3, nota-se que a carreira sem fronteiras demanda uma relao negocivel, onde ocorre uma troca do trabalho por uma remunerao adequada, onde o conceito de sucesso profissional est mais associado a critrios pessoais e onde o indivduo encorajado a se identificar mais com o prprio trabalho e com a sua profisso e menos com

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    uma organizao especfica. No entanto, a carreira sem fronteiras tambm vem sendo alvo de crtica, podendo ser observado em alguns discursos de acadmicos e dirigentes e nas prticas das empresas, o que confirma o quo complexo o tema carreira, pois essa modalidade de carreira produz um alto grau de insegurana e ansiedade para as pessoas (HALL, 1996).

    Quadro 3: As diferenas entre carreira tradicional e carreira sem fronteiras

    Fonte: Adaptado de Hall, 1996.

    Diferentes grupos de pessoas tero experincias distintas em relao carreira sem fronteiras: pessoas que esto entrando no mercado de trabalho e/ou empregados do ncleo estratgico das empresas, por exemplo, tero melhores condies de construir carreiras sem fronteiras do que empregados mais velhos ou que pertencem periferia da organizao (ARTHUR, 1994).

    Apesar da nova posio, em relao carreira, nem todos os empregados conseguem pensar ou agir assim, pois a grande parte da populao trabalha para suprir suas necessidades bsicas como comer, pagar as contas e vestir-se. Apesar de ser uma realidade, construir uma carreira sem fronteiras organizacionais no algo acessvel a todos os trabalhadores contemporneos, na verdade, para poucos. Estima-se que apenas 2% da populao economicamente ativa possa se permitir o luxo de gerir ativamente sua carreira ou escolher onde ir trabalhar (CALVOSA, 2009). Apesar desse nmero ainda reduzido, essa modalidade de carreira torna-se instrumento vantajoso para os empregados, apresentando como oportunidade de crescimento e do desenvolvimento de sua carreira pessoal, uma vez que grande parte que se dispe a carreira sem fronteiras tem na iniciativa pessoal e na autonomia as suas bases para um posicionamento a parte do envolvimento com uma organizao.

    Portanto, o profissional passa a ter uma relao de autonomia no desenvolvimento de sua carreira, o que na viso tradicional era de responsabilidade da organizao. A carreira do empregado, nessa alternativa de carreira, parece no seguir mais uma trajetria linear, esse novo estilo de profissional, est cada vez mais exigente em relao construo de sua carreira, pois no se prende as fronteiras da organizao e sim a satisfao profissional como a de sua vida pessoal (LIMA; PENHA da SILVA; CALVOSA, 2008).

    CARREIRA EM ESPIRAL O pesquisador Evans (1996) aponta para o fato de que as carreiras esto adotando uma

    configurao espiral, em ziguezague, em substituio ao formato de uma escada. Uma trajetria de carreira em espiral est muito mais alinhada, mais em sintonia com as necessidades do nosso tempo, pois possibilita o desenvolvimento de pessoas que tm profundidade e amplitude de habilidades. Carreira em espiral um tipo de carreira onde as mudanas constantes possibilitam a realizao de atividades novas e diferentes e onde a

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    progresso por maiores nveis de abstrao no se d de forma linear e sequencial, como no desenho tradicional (EVANS, 1996).

    Esses profissionais apresentam tanto a expertise de especialistas quanto uma viso mais ampla, do generalista. Em termos de desenvolvimento em espiral, diz esse autor, as pessoas no seguem apenas uma nica carreira, mas sim duas, ou trs, ou at quatro carreiras diferentes durante o curso de suas vidas e, s vezes, at de forma simultnea. Aposentadoria para elas no aposentadoria, apenas uma mudana em espiral, um ziguezague em outra direo, outra carreira, ou seja, a oportunidade de realizar atividades novas e diferentes. Tudo isso, no entanto, provoca tenses e dificuldades considerveis, trazendo tona questes tais como saber administrar a tenso entre a vida profissional e a vida pessoal, e o que isso agrega ao entendimento e convices sobre como se devem administrar s prprias organizaes (EVANS, 1996).

    CARREIRA PROTEANA A carreira tradicional caracterizada com promessas de empregos de longa durao e

    segurana tem sido substituda por um termo de entendimento de menor durao, a carreira proteana (uma espcie de carreira sem fronteiras), baseada nas necessidades atuais e desempenho, com frequente mudana e inveno prpria, autonomia e autodireo, levada mais pelas necessidades de pessoas do que da organizao (HALL, 1996).

    O conceito de carreira proteana foi apresentado por Douglas Hall (1996) como um contraponto carreira organizacional estruturada no tempo e no espao. O termo derivado do deus Proteu que, na mitologia grega, possua a habilidade de mudar de forma ao comando de sua vontade.

    O termo carreira proteana foi baseado em Proteu, que de acordo com a mitologia grega, era uma divindade martima, filho de Oceano e Ttis, deuses da gua. Tinha o dom de transformar-se a sua vontade, de prever o futuro e a capacidade de transformar sua aparncia fsica no ser que desejasse. Utilizava essa habilidade para afastar os curiosos que o importunavam, desejosos de saber os acontecimentos vindouros. Mas transportando a lenda mitolgica ao mundo dos negcios e fazendo uma analogia, o dom da adivinhao de Proteu se refere habilidade de planejar a carreira com base em uma viso de futuro compatvel com os objetivos fundamentais do indivduo, traduzindo-se na capacidade de mudar a forma de maneira verstil e adaptvel, para atingir esses objetivos. Para o autor, a deciso de Proteu de afugentar os mortais pode ser encarada como a utilizao das habilidades para buscar uma nova posio, ou mesmo redefinir a carreira, quando se percebe no estar alcanando os objetivos fundamentais. O profissional proteano se caracteriza pela independncia e flexibilidade com que administra sua carreira, norteando-se por critrios prprios de sucesso profissional e pessoal (HALL, 1996).

    Carreira proteana um processo em que a pessoa, no a organizao, est gerenciando a carreira. Consiste de todas as variadas experincias da pessoa em educao, treinamento, trabalho em vrias organizaes, mudanas no campo ocupacional etc. relevantes porque partiram de uma escolha pessoal buscando elementos integrativos e unificadores da vida. A carreira proteana, segundo esse autor desenhada mais pelo indivduo do que pela organizao, e pode ser redirecionada, de tempos em tempos para atender s necessidades da pessoa, embora, na viso de outros autores, as mudanas pelas quais passam os profissionais atualmente, possam ser interpretadas como meros mecanismos de defesa, acionados automaticamente e de forma condicionada, perante as inconstncias e ameaas do ambiente

    A principal preocupao de um funcionrio que opta pela carreira proteana a busca por auto-realizao, pois o critrio de sucesso interno, o sucesso psicolgico, e no externo.

    O desenvolvimento da carreira proteana se d por meio da aprendizagem, auto-direo e o constante desafio no trabalho. Para obter sucesso na carreira proteana um importante

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    ingrediente o know-how (conhecimentos e habilidades necessrios ao desempenho do trabalho), para que em vez de procurar um emprego estvel, o indivduo aumente sua empregabilidade no mercado. A gesto da carreira proteana define-se como um processo contnuo de tomada de decises e de solues de problemas relacionados ao trabalho e vida pessoal, exigindo um grande contingente de informaes que advm, primordialmente, do autoconhecimento. Sem isso, o profissional se capacitaria e trabalharia cada vez mais e melhor, sem, contudo, encontrar significado e satisfao naquilo que est realizando. Outros fatores relevantes seriam o ambiente externo, que abrange as variveis do mercado, as avaliaes de desempenho e competncia, e tambm a vida familiar do indivduo, e aos demais aspectos da interao entre carreira e vida pessoal.

    Segundo alguns autores (HALL, 1996; SCHEIN, 1996), o conceito de carreira proteana abrange:

    Carreira gerida pela pessoa, e no pela organizao; Carreira como uma srie de experincias ao longo da vida, das competncias,

    aprendizagens, transies, mudanas e identidade; Aprendizagem contnua; indivduo auto-dirigido; Alta capacidade de construo e manuteno de relacionamentos pessoais e

    profissionais que alavanquem as decises de carreira; Predileo por correr riscos e desafios encontrados no trabalho e no mercado; Alto desenvolvimento profissional e formao acadmica; Desenvolvimento de competncias e gesto de recursos (como tempo, dinheiro etc.); Desprendimento do sentimento de pertencimento a uma organizao e a sua

    consequente segurana associada; Ter como objetivo o sucesso psicolgico.

    Na carreira proteana o indivduo tem autonomia para gerir a sua carreira e a organizao deixa de faz-la e existe uma maior mobilidade da carreira. Assim, essa nova modalidade de carreira oferece ingredientes para o sucesso, a partir do know-how (saber fazer) e tambm da mudana da carreira tradicional para a carreira proteana. Partindo dessa premissa, pode-se verificar que a carreira proteana no se caracteriza pela estabilidade empregatcia, mas sim, pela independncia e flexibilidade do indivduo frente organizao, a fim de gerir sua prpria carreira (MIRVIS; HALL, 1994).

    A IMPORTNCIA DE GOSTAR DO TRABALHO

    Nos dias de hoje, passamos a maior parte de nossas horas produtivas trabalhando; precisamos trabalhar por dinheiro, mas tambm para dar algum sentido em nossas vidas: desafio, responsabilidade, possibilidade de colocar os sonhos em ao, isso que nos faz realmente sentir que estamos vivendo de fato (DIMAGGIO; POWELL, 1983).

    O fato de uma pessoa realizar um trabalho do qual ela realmente goste, faz com que ela cresa e em muito contribui para a sua qualidade de vida geral. Por outro lado, um trabalho inadequado reduz de algum modo a sua qualidade de vida. Um emprego que a pessoa odeie, podendo variar de presidente de uma companhia a coletor de lixo, de balconista de lanchonete a pesquisador, a faz sentir-se mal-humorada, deprimida e at mesmo revoltada. Realizar um trabalho desinteressante ou desagradvel esgota a energia, diminui a motivao e geralmente reduz a auto-estima. Num crculo vicioso, a pessoa passa a se descuidar pessoal e profissionalmente e a distanciar-se do circulo de pessoas que realmente faz a diferena em sua organizao ou profisso. E essa pessoa gostar menos ainda de seu trabalho e se sentir menos comprometida com ele (KILIMNIK; MORAIS, 2006).

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    H casos de profissionais que exerciam funes de nvel elevado, com todas ou quase todas as dimenses de qualidade de vida presentes e que, mesmo assim, partiram para outras profisses em busca de sua verdadeira vocao e, muitos tm sido exitosos nessa mudana. Atualmente, h uma forte tendncia de os orientadores profissionais incentivarem o cliente, no s o pr-vestibulando ou o jovem, mas tambm o profissional em transio de carreira, a escolher uma profisso que realmente o agrade e tenha a ver com as suas habilidades e aptides, com base na idia de que assim ele ter mais facilidade de encontrar o seu espao de atuao nesse mundo altamente mutante do trabalho, contrariando a tendncia de escolha da profisso focalizada na perspectiva de retomo financeiro. Schein destaca que a sua ncora profissional uma combinao de competncias, interesses, aspiraes e valores dos quais voc no deve desistir, pois eles representam a sua essncia. Sem conhecer sua ncora, incentivos externos podem tent-los a aceitar situaes ou trabalhos que no sejam satisfatrios e voc poder vir a experimentar sensaes do tipo Isso no era realmente para mim (SCHEIN, 1983).

    Essas colocaes reforam a importncia de se gostar do trabalho, no apenas como fator de qualidade de vida, mas tambm, de sucesso profissional. Gostar de um trabalho significa partilhar com ele as qualidades especiais que se possui e, em consequncia torn-lo tambm especial. Entretanto, a maioria das empresas parece ainda no perceber a importncia disso, pois a maior parte dos seus esforos para melhorar a qualidade de vida no trabalho centra-se em aspectos de contexto, como ambiente de trabalho ou aumento de remunerao e em iniciativas que passam longe da melhoria do contedo das atividades laborais. Finalmente, o fato de um determinado trabalho possuir um contedo altamente significativo e de se gostar demasiadamente do mesmo no impede que ele seja estressante. Gostar de um trabalho fundamental, mas confundir-se com ele, ou permitir que ele o defina, prejudicial sade fsica e mental do indivduo ou, ento, indicador de problemas psicolgicos que no esto sendo solucionados adequadamente. Cabe ao profissional conseguir um equilbrio entre a sua vida pessoal e seu trabalho, o que tem sido considerado, mais recentemente, um novo conceito de sucesso na carreira, juntamente com o de carreira auto-dirigida, que sinaliza tambm que a qualidade de vida algo a ser conquistado, mais do que concedido (CALVOSA, 2009).

    CONCLUSO Pode ser entendido por carreira uma sequncia de atitudes e comportamentos,

    associada com experincias e atividades relacionadas ao trabalho, durante o perodo de vida de uma pessoa, se constituindo um percurso a ser trilhado pelo prprio indivduo ou da viso deste compartilhado com a organizao e isso difere significativamente do trabalho executado de forma massiva e opressora experimentado pela grande massa de trabalhadores organizados ao redor do trabalho nos sculos anteriores. Essa opo ativa para se desenhar o prprio caminho uma particularidade dos ltimos tempos, sobretudo das duas ltimas dcadas. Apenas uma minoria atualmente consegue, de forma ativa, conduzir a sua prpria carreira, especificamente cerca de 2% da populao economicamente ativa, mas esse quadro sobe a cada dia e o movimento evolucionrio apresenta-se imutvel e permitir aos trabalhadores ganhos empregatcios e direitos trabalhistas medida que as organizaes tero que produzir novos desenhos e ferramentas de gerenciamento para conduzir esse novo modelo de empregado. A existncia de um planejamento ativo de carreira permite aos indivduos a ascenso a graus crescentes de abstrao e complexidade de tarefas e funes, de forma a aumentar o comprometimento e a motivao desse funcionrio como o seu prprio trabalho e desempenho e no mais com a organizao como os modelos de gesto que vigoram at ento

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    sustentam o vnculo de tal comprometimento e apego. Para as organizaes, principalmente as de grande porte, um sistema de administrao de carreira torna-se necessrio para conciliar as diferentes expectativas de carreira das pessoas com as necessidades organizacionais, com o estabelecimento de diretrizes, estruturas de carreira e instrumentos de gesto. O estudo e a aplicao de carreiras podem conduzir os indivduos a trabalharem mais motivados em uma organizao, pelo menos enquanto nela permanecerem. Uma nova oportunidade de desenho de carreira a carreira sem fronteiras, que o tipo de carreira construda pelo empregado (e no pela organizao) que prev o desenvolvimento de uma relao independente e transacional do indivduo com a sua organizao. Nessa modalidade de carreira, o empregado no se limita a ter relaes comerciais com um empregador nico ou com vnculos empregatcios estveis. Dentro desse novo desenho de carreira existe uma modalidade chamada carreira proteana, que um processo em que a pessoa, no a organizao, est gerenciando a carreira. Consiste de todas as variadas experincias da pessoa em educao, treinamento, trabalho em vrias organizaes, mudanas no campo ocupacional etc. relevantes porque partiram de uma escolha pessoal buscando elementos integrativos e unificadores da vida.

    O fato de uma pessoa realizar um trabalho do qual ela realmente goste, faz com que ela cresa e em muito contribui para a sua qualidade de vida geral, a maioria dos trabalhadores, ao contrrio do que muitos empregadores pensam, no est interessada primariamente em remunerao (como no incio do sculo passado), ou apenas em qualidade de vida no trabalho (viso defendida h cerca de 15 anos atrs), mas, essencialmente, no sucesso profissional, essa uma caracterstica observada no novo modelo de trabalhador e d fora ao planejamento de carreira e sustentao de seu estudo, com base na idia de que assim ele ter mais facilidade de encontrar o seu espao de atuao nesse mundo altamente mutante do trabalho.

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