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Conceito e caracterização da surdez Ana Rachel Leão CEFET/MG

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Conceito e caracterização da surdez

Ana Rachel Leão

CEFET/MG

Audição x perda auditiva

• A perda auditiva, independente do grau, localou tipo, se caracteriza como um problemasilencioso, pouco visível, que produz sériasconsequências no desenvolvimento da fala eda linguagem, podendo acarretar tambémdistúrbios emocionais, pedagógicos e sociais.

Causas da surdez

• Diversos fatores podem ocasionar perdasauditivas. Tais fatores podem ocorrer noperíodo pré-natal, perinatal ou pós-natal.

• Pré-natal: hereditariedade, deficiência nanutrição materna, diabetes, ingestão demedicamentos durante a gravidez, uso dedrogas, viroses.

Causas da surdez

• Perinatal (durante o nascimento): falta deoxigenação, herpes simples, prematuridade etraumas do parto.

• Pós-natal (ocorre em qualquer idade):medicamentos, infecções bacterianas,traumas, viroses, ruído.

Fonte:http://3.bp.blogspot.com/_jGXZ_S1KKiU/SlII4etZK8I/AAAAAAAAAeo/PbX1tMxUeLI/s1600-h/audiograma.bmp acesso em 01/04/2014

Este gráfico é um audiograma que tem afunção de ilustrar o que podemos ouvir acada nível de audição e a cadafrequência. Por exemplo, a pessoa quetem audição normal é capaz de ouvir osom de folhas nas árvores, que ocorreem torno de -5 dB; já uma pessoa comperda auditiva leve (26 – 40 dB NA), nãoconseguirá ouvir tal som. Porém,pessoas com perda auditiva severa (71 –90 dB NA), conseguirão ouvir sons debomba explodindo e de turbina de avião,que são sons intensos, ocorrendo emtorno de 120dB.

A parte do gráfico sombreada em cinza éa área na qual se concentram os sons dafala, na faixa de 40 dB. Sendo assim,quanto maior a perda auditiva, maisdificuldade o indivíduo terá de ouviresses sons bem como de adquiri-los paraaprender a falar. (PASSOS, 2010)

Níveis de perda auditiva

• Quanto à época do aparecimento:

*congênita (ocorre antes ou durante o nascimento).

*adquirida (ocorre após o nascimento).

• Do ponto de vista da linguagem:

*pré-lingual: antes do desenvolvimento da linguagem.

*pós-lingual: após o desenvolvimento da linguagem.

Grau da perda auditiva

• Normal: 0 a 15 dB;

• Leve: 16 a 40 dB (não escuta cochichos);

• Moderada: 41 a 55 dB (dificuldade em ouvir voz fraca);

• Acentuada: 56 a 70 dB (dificuldade para ouvir conversação normal);

Grau da perda auditiva

• Severa: 71 a 90 dB (dificuldade para ouvir som do telefone. Dificuldade em adquirir a fala e a língua oral espontaneamente; não distingue os sons da fala);

• Profunda: mais de 90 dB (dificuldade em ouvir ruído de caminhão ou som de avião decolando. Não adquire linguagem oral naturalmente).

(Secretaria de Educação Especial, 2006)

Tipos de surdos

• Surdos sinalizadores x surdos oralizados

Surdos oralizados

• A principal característica desse grupo é nãoutilizar a Libras. A língua oral e a leitura labialsão as formas de comunicação utilizadas poreles. Os integrantes deste grupo costumamfazer tratamento fonoaudiológico durantemuitos anos como forma de treinar a fala, apronúncia considerada correta das palavras ea leitura labial.

Surdos oralizados

• os membros desse grupo entendem que aLibras atrapalha o surdo de se socializar, umavez que, para eles, o sinalizador ficará restritoa se comunicar somente com quem sabesinalizar, ou seja, com outros surdossinalizadores e alguns ouvintes que sinalizam(BERNARDINO, 2000).

Surdos oralizados

• Sacks ([1990] 2010, p. 33) comenta que o dilema desinalizar/não sinalizar para se socializar existe até hojee exemplifica com perguntas que costuma(va)m serfeitas:“de que valia o uso de sinais sem a fala? Isso nãorestringiria os surdos, na vida cotidiana, aorelacionamento com outros surdos? Não se deveria,em vez disso, ensiná-los a falar (e ler os lábios),permitindo a eles plena integração com a populaçãoem geral? A comunicação em sinais não deveria serproibida, para não interferir na fala? (SACKS, 2010, p.33)”

Surdos oralizados

• Para os surdos oralizados, imaginariamente,ao se tornarem usuários da língua oral faladapor seus familiares, sentem-se realmentemembros dessa família, quando tomam alíngua de sinais como aquilo que seusfamiliares não conhecem.

Surdos oralizados

• Para Bernardino (2000, p. 40), em algunscasos, há uma completa rejeição do surdo,pois “os ‘amigos’ do surdo não o aceitam,porque ele é diferente. A sociedade não oaceita, porque ele é incompleto. Os familiaresnão o aceitam, porque ele é defeituoso. Osurdo não se aceita, porque os outros não oaceitam”.

Surdos oralizados

• Outra característica desse grupo é seautodenominar deficientes auditivos. O termodeficiente marca exatamente que lhes faltaalguma coisa em comparação a outras pessoas,no caso, os ouvintes. Muitas vezes o termo vemassociado a pessoas que tiveram perdas auditivasconsideradas baixas ou moderadas, mas o termoé também utilizado para se referir às pessoas quetiveram perdas auditivas maiores, porém nãofalam a língua de sinais, apenas a língua oral doseu país.

Surdos oralizados

• Os termos utilizados pelos membros destegrupo para se referirem a si são: surdos,deficientes, deficientes auditivos e D.A.

Surdos oralizados

• E, exatamente pelo fato de esse grupo nãofalar uma língua de sinais, os seus membrosnão são considerados integrantes da culturasurda, nem pelos que se consideram membrosdesta, nem por eles mesmos. Isso porque alíngua de sinais é considerada a principalmarca da cultura surda. Os surdos oralizadosconsideram-se integrantes apenas da culturado local onde vivem.

Surdos oralizados

• Ao resumir algumas características que definem os surdos oralizados, Lobato cita como exemplos que,

“um surdo oralizado dificilmente vai entender umajanela com intérprete de Libras na televisão, uma vezque não domina esse idioma. Esse grupo precisa delegenda, porque geralmente tem facilidade de leitura etem o português como base linguística. Um surdooralizado quer apenas um pouco de paciência e boavontade do interlocutor, para falar com calma e deforma natural, sempre virado pra ele. (LOBATO, 2011,ensaio online).”

Surdos oralizados

• Sugestões de leituras para conhecer maissobre os surdos oralizados:

• Blog “Crônicas da surdez” (Paula Pfeiffer)

• Blog “Desculpe, não ouvi” (Lakshima Lobato)

Surdos sinalizadores

• “O ser surdo é aquele que apreende o mundopor meio de contatos visuais, que é capaz deapropriar-se da língua de sinais e da línguaescrita e de outras, de modo a propiciar seupleno desenvolvimento cognitivo, cultural esocial” (CAMPOS, 2008).

Surdos sinalizadores

• Os surdos desse grupo afirmam que a Libras éa principal forma de comunicação (línguanatural x português – língua artificial).

Surdos sinalizadores

• Para muitos surdos, a aprendizagem da línguade sinais acontece na infância ou naadolescência, quando se deparam com outrossurdos nas escolas ou até mesmo na rua.Assim, ao verem uma pessoa sinalizando, elesdizem perceber que utilizar o corpo é umaforma natural de comunicação para quem nãoescuta (CHAVES, 2002).

Surdos sinalizadores

• No imaginário desse grupo, a língua maternaé a língua de sinais. Esta é a representação delíngua natural para eles, mesmo que tenhamaprendido o português antes e o utilizem parase comunicar com seus familiares (que,segundo os surdos, muitas vezes, não têmvontade de aprender a língua de sinais) e comoutras pessoas do seu meio que não sabemsinalizar.

Surdos sinalizadores

• os surdos sinalizadores gostam de serchamados de surdos e não aceitam adenominação “deficientes auditivos”. Essessurdos tomam a posição contundente de nãose considerarem deficientes. De acordo comesse discurso, a audição não faz falta, uma vezque é compensada pelo uso da visão. Alémdisso, nessa representação, o surdo pode fazertudo que qualquer ouvinte faz, não marcandoa surdez um fator negativo em suas vidas.

Surdos sinalizadores

• Assim, nessa representação, é a língua desinais que faz com que os membros dessegrupo se considerem integrantes da culturasurda, pois a principal característica desta é osintegrantes utilizarem uma língua de sinaiscomum. Uma das grandes vitórias alcançadaspelo grupo dos surdos sinalizadores brasileirosfoi o reconhecimento da Libras como línguaoficial do país.

Surdos sinalizadores

• De acordo com Campos, esse grupo considera queincluí-los satisfatoriamente na sociedade exige,

“ILS [intérpretes de língua de sinais] para interaçãoentre pessoas que desconhecem a língua de sinais;aperfeiçoamento educacional; acesso às informações ediscussões vinculadas na língua falada; inclusão social.Sem a presença do ILS o surdo apresenta dificuldadespara adquirir as informações; progredir nos estudos efica privado da comunicação com os ouvintes.(CAMPOS, 2008, p. 26).

Surdos sinalizadores

• Em relação ao discurso sobre a educação desurdos, os sinalizadores lutam por escolasbilíngues, pois acreditam que a Libras deve sera principal língua utilizada para educá-los,enquanto o português deve ser ensinadocomo uma segunda língua (CAMPOS, 2008).Este grupo luta, ainda, pela promoção evalorização da cultura surda.

Referências

BERNARDINO, E. L. Absurdo ou lógica? Os surdos e sua produçãolinguística. Belo Horizonte: Editora Profetizando Vida, 2000.

BRASIL. Saberes e prática da inclusão. Desenvolvendo competências parao atendimento às necessidades educacionais especiais de alunossurdos. SEESP/MEC, 2006.

CAMPOS, M. L. I. L. Cultura surda: possível sobrevivência no campo dainclusão na escola regular? 221 f. Dissertação (Mestrado em Educação)Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal deSanta Catarina, Florianópolis, 2008.

CHAVES, T. A. A leitura dos surdos: construindo sentidos. Dissertação(Mestrado em Estudos Linguísticos) Programa de Pós-Graduação emEstudos Linguísticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, 2002.

LOBATO, L. 2011, ensaio onlineSACKS, O. [1990] Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos.

Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras,2010.