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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Campus – Campo Mourão
Curso Superior em Tecnologia de Alimentos
CINTHIA MAYARA DIAS SPOSITO
ACOMPANHAMENTO DAS ETAPAS DE PRODUÇÃO DO AÇÚCAR MASCAVO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Campo Mourão
Abril/2013
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Resumo
O trabalho realizado teve como objetivo apresentar as atividades desenvolvidas
no decorrer do estágio curricular obrigatório do Curso Superior em Tecnologia em
Alimentos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Campus Campo
Mourão. As atividades de estágio foram realizadas na empresa DOCICAN
AGROINDUSTRIA LTDA, no período de Novembro de 2011 a Fevereiro 2012, onde as
atividades realizadas foram desenvolvidas no acompanhamento do processo de
produção do açúcar mascavo. Durante o estágio foram observadas varias etapas do
processamento da cana para obtenção do açúcar mascavo, como desde a chegada da
cana até forma de armazenamento.
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1. Introdução
A cana é uma gramínea pertencente à espécie Saccharum officinarum L.,
originaria do Sudeste da Ásia onde é cultivada desde épocas remotas (NATALINO,
2006). A cana-de-açúcar é a principal matéria-prima para a indústria açucareira
brasileira. É nesse aspecto da importância deste setor agroindustrial que se justifica a
necessidade do conhecimento e disseminação das informações pertinentes aos
processos de produção de um açúcar de qualidade evitando qualquer tipo de risco
químico, físico ou biológico. Existiam no Brasil, no início do século passado, cerca de
140 usinas de açúcar mascavo e aproximadamente dez mil engenhos rurais. Com a
criação do Instituto do Açúcar e Álcool, que deu início à industrialização da cana de
açúcar, em meados da década de 30, os pequenos engenhos foram desativados. Após
cerca de cinqüenta anos do início da industrialização, o que se observa é o
reaparecimento das pequenas usinas de açúcar mascavo (MARCHI, 2003; GROFF,
2010).
Os açúcares artesanais, como o mascavo e a rapadura, são produzidos
geralmente em indústrias de pequeno porte ou em empresa familiar. Sua produção
ocorre, basicamente, pelo esmagamento de colmos de cana-de-açúcar, sadios, frescos
e com um teor de sólidos solúveis (sacarose) pré-estabelecido, em moenda para a
extração do caldo, gerando a garapa e o bagaço. O caldo é inicialmente peneirado para
livrá-lo de impurezas que possam ter sido incorporadas na moagem, como pedaços de
bagaço. A seguir, a garapa é aquecida e, em muitos casos, tratada com leite de cal
para correção da acidez e por último concentrado por evaporação até o ponto de
cristalização da sacarose (LOPES; BORGES, 1998; DELGADO; DELGADO, 1999).
Como o açúcar mascavo não passa pelas etapas seguintes de refinamento, ele
conserva o cálcio, o ferro e outros sais minerais. O grau de pureza de sacarose neste
açúcar gira em torno de 90º e é muito recomendado por nutricionistas, devido ao fato de
não ser um produto altamente concentrado e de preço acessível, além de possuir mais
nutrientes (CHEMELLO, 2005). De acordo com Spears e Kassouf (1996), seu uso
moderado evita obesidade, diabetes, diminui sensivelmente as cáries dentárias e os
danos à calcificação infantil, além de ajudar no bom desempenho do sistema digestor e
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das funções hepática e renal, devido aos sais e vitaminas. Estas características fazem
com este seja um mercado em expansão, sendo que este tipo de açúcar tem sido a
base essencial para a elaboração de diversos tipos de alimentos e bebidas, além do
crescente consumo.
Este relatório teve por objetivo apresentar as atividades desenvolvidas no estágio
curricular realizado na empresa Docican Agroindustrial LTDA que consistiu no
acompanhamento das etapas da produção do açúcar mascavo, mostrando a
importância de se conhecer o processo de fabricação, visando observar o que pode ser
feito para melhorar este processo e adquirir uma melhor qualidade do produto.
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2. Descrição do local
O Estágio Curricular foi desenvolvido na Docican Agroindustrial LTDA, localizada
na cidade de Terra Boa–PR, Estrada São Lourenço lote 252, zona rural durante o
período de Novembro 2011 a Fevereiro 2012, das 7:00 às 13:00 horas, com carga
horária de 400 horas, onde foram acompanhadas as etapas de produção do açúcar
mascavo.
2.1. História da empresa
A agroindústria Docican deu início às atividades na década de 50, quando
vindos do estado de São Paulo para o Estado do Paraná, o Sr. Nedino Pereira da Silva
e a Sr.ª Maria Antônia de Jesus aqui se instalaram começaram a produzir rapaduras de
cana – de – açúcar nos sabores de coco, mamão, amendoim e banana.
As mesmas eram produzidas na forma mais artesanal possível, em engenho
tocado por animal, tacho de fogo direto e fornalha de barro. O produto era vendido na
cidade e no campo, de porta em porta, sendo muito apreciado por essa produção
artesanal, permanecendo com esta característica até a década de 80.
Por volta de 1990, a produção passou a ter a oportunidade de alcançar uma
escala maior, pois a partir desse momento passaram a ter a moagem elétrica. Nessa
época, os filhos do Sr. Nedino sentiram a necessidade de irem expandindo os
negócios, já que o produto era de excelente aceitação.
A partir do ano de 2000 iniciaram a produção do açúcar mascavo, o qual
apresenta um amplo mercado. A produção passou a ser comercializada em vários
municípios, até mesmo fora do estado do Paraná. Nesse momento, a produção, até
então familiar, tomou rumos de empresa, constituindo-se a Docican Agroindústrial,
empresa que passou a despontar na administração de Vanderlei da Silva, contando
com funcionários tanto na indústria quanto no campo, pois a matéria-prima utilizada é
produzida pela própria Docican.
Em 2005, ampliaram suas instalações, adequando-se a mudanças passando a
utilizar moendas elétricas, sistema de decantação e filtragem em aço inox, caldeiras a
vapor, vaporizador e aquecedor em aço inox, tachos automatizados, batedores
elétricos e peneiras em aço inox. O sistema de embalagens também foi aprimorado,
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sendo utilizados pesadores elétricos. A agroindústria Docican hoje produz cinco mil
quilos de açúcar por dia, contando com mais de 30 funcionários tanto na indústria
quanto no campo, pois a matéria-prima utilizada é produzida pela própria Docican,
onde são plantados aproximadamente 100 alqueires de terra. Ela atende aos mercados
de produtos naturais que estão localizados nos municípios de Maringá, Cianorte, Terra
Boa, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, atendendo também indústrias de biscoito em
Curitiba e São Paulo, sendo que a primeira constitui o maior consumidor desta
agroindústria. A mesma segue em um ramo onde não há muitos concorrentes na
região, onde a indústria similar encontra-se em Paranacity e Ivailândia.
A agroindústria Docican está há mais de 10 anos no mercado, considerada como
uma média usina de açúcar mascavo e o maior fornecedor desse produto no Estado do
Paraná, atendendo empresas de pequena, médio e grande porte.
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3. Atividades Desenvolvidas
O estágio curricular supervisionado realizado na Agroindústria Docican
apresentou as seguintes atividades desenvolvidas: o acompanhamento das etapas
da produção do açúcar mascavo que são:
• Produção da matéria - prima;
• Carregamento e transporte da matéria – prima;
• Moagem;
• Filtração e Decantação do caldo;
• Purificação e Limpeza do caldo;
• Concentração e Cozimento do caldo;
• Bateção e esfarelamento da massa;
• Peneiragem e Resfriamento do açúcar;
• Embalagem e Estocagem
O fluxograma do processo de produção do açúcar mascavo pode ser observado na
Figura 1.
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sim
Não
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Fonte : Autoria Própria
Figura 1: Fluxograma do Processo de produção do açúcar mascavo
Inicio
Carregamento e Transporte da Matéria - Prima
Moagem
Cana de Açúcar
Concentração e Cozimento
Purificação e Limpeza do Caldo
Decantação
Embalagem e Estocagem
Consumidor
Peneiragem e Resfriamento
Bateção e Esfarelamento
Resíduos
Fim
Bagaço Caldeira
Vapor
Sobras de Açúcar
Caldo
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3.1. Produção da matéria - prima
O processo de produção do açúcar mascavo da Empresa Docican Agroindustrial
se inicia na lavoura, onde a cana é plantada por lotes com períodos diferentes para que
a empresa sempre tenha matéria – prima disponível. Geralmente planta - se a cana no
tempo do calor por ter um melhor desenvolvimento entre o período de janeiro até maio
e é colhida após um ano. A cana tem um período de desenvolvimento de cinco anos
sem precisar replantar. Geralmente a cana de açúcar exige calor e umidade e a sua
temperatura adequada é de 25 a 35ºC. A variedade de cana escolhida pode ser
indicada pelas características do lugar de plantio, sem esse cuidado a produção pode
não ser eficaz. Na agroindústria Docican são plantadas duas variedades de cana uma
delas é RB 7515, indicada para solos fracos e médios, e a RB 5156, indicada para
solos bons, sendo que as duas variedades possuem uma quantidade rica em sacarose.
O teor de sólidos solúveis para se produzir o açúcar mascavo é normalmente de
18 a 20º Brix. O controle do teor de sólidos solúveis é feito com um refratômetro, sendo
esse processo realizado na lavoura mesmo. A cana é colhida sem a utilização de fogo
por meio de maquinários e moída em até 48 horas. O fruto agrícola da cana- de -
açúcar é o colmo, no qual se acumula sacarose no período de maturação.
Para a produção do açúcar mascavo, deve ser feito um maior desponte na cana a
fim de ser eliminada uma região rica em monossacarídeos e compostos fenólicos,
substâncias que causam problemas de escurecimento excessivo da massa,
dificultando para atingir o “ponto”, causando mela durante a estocagem e perda de
rendimento no processo (CHAVES, et al.,2003).
3.1.1.Característica da matéria prima
Delgado e Delgado (1999) afirma que para a produção de açúcar mascavo o
produtor deve cultivar as variedades de cana – de - açúcar conforme as seguintes
características:
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� Ser uma variedade rica em açúcar (sacarose);
� Ter baixo teor de fibras;
� Ter baixo teor de cinzas ou de elementos minerais;
� Ter baixo teor de substâncias nitrogenadas;
� Ser isenta ou de pouco florescimento;
� Ser resistente ás incidências de doenças e pragas;
� Não emitir brotações laterais;
� Ser fácil despalhamento;
� Ter um bom perfilhamento, após o plantio e cortes sucessivos;
3.2. Carregamento e Transporte da matéria - prima
Depois da cana cortada esta segue para o carregamento e transporte. A cana
quando entra na indústria é pesada para o controle de quantas toneladas são moídas
por dia e para avaliar o rendimento no campo. Um rendimento pequeno no campo
requer intervenções como a correção do solo para que produza mais cana.
3.3. Moagem
O processamento da matéria-prima se inicia com a moagem da cana para
extração do caldo. A cana chega à indústria muitas vezes já picada e segue para as
moendas onde passa primeiramente por um desfibrador que tem por objetivo o
retalhamento da cana facilitando a extração do caldo pelas moendas. A cana retalhada
(rasgada) é conduzida para a moagem, onde são utilizados na moenda (figura 2) para
extração do caldo um pré – rolo, um rolo superior e dois rolos inferiores, que exercem
uma força de compressão sobre cana. O nome dado a esse conjunto de rolos é terno
de moenda. A eficiência de extração do caldo é de 80 a 85%. Esse caldo segue para
uma peneira giratória de bagacilho localizado acima das moendas. Esta peneira tem
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por finalidade a retirada do bagacilho contido no caldo, diminuindo a quantidade de
sujidades e aumentando a eficiência do processo de decantação. Depois de peneirado
o caldo segue para o decantador, e o bagacilho retirado volta novamente para
moendas para não haver perdas no processo de extração do caldo, e logo após segue
para caldeira onde é utilizado para geração de energia para a própria agroindústria.
Esse bagaço tem em torno de 15 a 20% de umidade e a cada tonelada de cana moída
são produzidos aproximadamente 250 Kg de bagaço.
O tamanho da moenda é dado em polegadas, sendo que o tamanho da moenda
utilizada na agroindústria Docican é de 16 x 24 polegadas. A capacidade de TCH
(Tonelada de Cana moída por Hora) é equivalente a 10 toneladas de cana/H. Na figura
2 pode-se observar a moenda utilizada pela agroindústria Docican.
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Figura 2: Moendas
Este local é lavado 2 vezes por dia com água quente e 1 vez por semana com
água quente e soda, fazendo assim a limpeza de todas as peças, condutores e caixa,
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para eliminação das bactérias. Por ser uma etapa onde o caldo fica em contato com o
equipamento, condições inadequadas de limpeza podem causar contaminação e
fermentação do caldo, ocorrendo uma diminuição da quantidade da sacarose. Por este
motivo, essa etapa pode ser considerada um Ponto Critico de Controle no processo.
Não é indicada a lavagem da cana picada por ter muitas partes expostas, podendo
ocorrer uma perda grande de açúcar.
É importante frisar que o operador desse processo deve estar usando os
equipamentos de proteção individual adequados, por exemplo, as luvas de aço, óculos,
capacete e botas ou sapato de borracha. Observa – se nesse setor que os EPIs
(Equipamento de Proteção Individual) não são devidamente usados pelos
colaboradores, o que é de extrema importância dentro desse setor.
A quantidade moída por dia na agroindústria Docican é de 50 toneladas,
rendendo aproximadamente 30 mil/ litros de caldo por dia.
3.4. Filtração e Decantação do caldo
Depois da retirada do bagacilhos, o caldo segue automaticamente para um
decantador onde é feita a retirada das impurezas como terra, pedras, etc. O
decantador consiste de uma caixa com seis repartições, com telas em tamanhos
diferentes para filtração. O caldo passa por essas repartições, de modo que as
impurezas fiquem retidas nas telas e no fundo do tanque de decantação, saindo
apenas o caldo limpo. O mesmo é levado para uma caixa de reservatório de garapa
com capacidade de 2 mil litros, e as impurezas direcionadas para as lagoas de
decantação. Nessa etapa ocorre o controle de pH através de peagâmetro. Se o pH do
caldo estiver abaixo de 6,0 é necessário adicionar o leite de cal na etapa de cozimento,
para a neutralização do mesmo. A quantidade de caldo extraído por dia é controlado
automaticamente por um medidor, que fica ao lado da caixa de reservatório de garapa.
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3.5. Purificação e Limpeza do caldo
Nesta etapa o caldo é aquecido através de uma serpentina (caixa de
aquecimento) (figura 3) até aproximadamente 90ºC. Com este processo se faz a
remoção de substâncias que floculam pelo calor. Quando o caldo sai do decantador ele
ainda contém algumas impurezas que podem ser constituídas de folhas, proteínas
coaguladas, ceras, etc. À medida que essa caixa é aquecida, essas impurezas sobem
para superfície do caldo na forma de espuma. O operador dessa etapa deve prestar
muita atenção, para que as impurezas não sejam levadas com o caldo para o
evaporador (etapa seguinte para concentração do caldo), já que nesta etapa a mistura
atinge a temperatura de ebulição, podendo ocorrer dissolução das impurezas,
ocasionando problemas na obtenção do produto final, como não atingir o ponto do
açúcar mascavo ou adquirir um produto de cor muito escura. Portanto, assim que caldo
segue para o evaporador, fica na serpentina apenas a espuma contida de impurezas,
que é retirada pela lavagem da caixa. Esse processo exige muito cuidado e higiene do
colaborador. Na figura 3 é possível visualizar a caixa de aquecimento utilizada na
agroindústria Docican.
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Figura 3: Caixa de aquecimento
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3.6. Concentração e Cozimento do caldo
O caldo totalmente limpo é direcionado para o evaporador onde se inicia o
processo de concentração. Essa etapa tem por finalidade a remoção da maior parte de
água existente no caldo, durando em torno de 30 minutos a uma temperatura de
120°C. O teor de sólidos solúveis fica entre 55 a 65º Brix. O evaporador da
agroindústria Docican é do tipo vertical, com capacidade de 1000 litros, sendo que
dessa quantidade de caldo é retirada ao final uma quantidade de xarope de 600 litros.
Este equipamento é lavado de 6 em 6 horas com água quente em torno de 90ºC e 1
vez por semana com acido cítrico com o auxilio de um escovão.
A seguir o xarope grosso adquirido no processo de concentração é direcionado
para os tachos (figura 4) onde ocorre a etapa de cozimento do caldo, que faz com que
o xarope obtenha o “ponto” do açúcar mascavo, também chamado em alguns lugares
de massa cozida. Nestes tachos, o xarope é lentamente concentrado até que se
obtenha a condição de supersaturação, o teor de sólidos solúveis nessa etapa gira em
torno 82 a 85 ºBrix. Este processo dura aproximadamente 20 minutos.
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Figura 4: Tacho
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Como o pH do caldo da cana-de-açúcar que chega na indústria normalmente
está entre 4,0 e 5,0, faz-se necessário a adição do leite de cal ao xarope na etapa de
cozimento nos tachos, até que se atinja um pH em torno de 6,0. Esta é uma etapa
crítica para o processo, já que, se uma quantidade de leite de cal menor que a
quantidade necessária for adicionada, o caldo pode ficar ácido e turvo e assim ocorrer
à perda de açúcar por inversão da sacarose; já a adição de leite de cal em excesso
pode deixar o produto com cor muito escura. O operador deve ter muita atenção nesse
processo, para não deixar que ocorra a queima de açúcar. Por isso, a massa deve ser
mexida sem parar. Qualquer descuido operacional pode levar à inversão da sacarose,
o que gera muita dificuldade para se obter o açúcar mascavo. A massa de açúcar
assume a forma de puxa – puxa e não adquiri o ponto de esfarelamento. Este caso
ocorre devido à grande porcentagem de açúcares redutores formados (glicose e
frutose). Por outro lado, os açúcares redutores em teores aceitáveis na massa de
açúcar, além de contribuírem para maior insolubilização da sacarose, facilitam a sua
aglutinação quando chegar à fase de resfriamento.
A cor é um parâmetro importante da aparência, pois é percebido logo no
primeiro contato do consumidor com o produto e pode fornecer informação sobre o
processamento. De acordo com Lopes & Borges (1998) durante a fabricação do açúcar
mascavo formam – se muitas matérias colorido como a melanoídinas (cor amarela). Se
a temperatura de cozimento for muito alta ou o tempo de cozimento muito longo,
podem ser formados compostos denominados caramelos, que possuem cor escura. Os
caramelos escurecem o açúcar (açúcar preto), porém também um sabor especial de
açúcar queimado que pode agradar alguns consumidores.
Por serem funcionários antigos dentro da agroindústria Docican, estes já
adquiriram uma forma automática de verificar o ponto final do cozimento nos tachos, e
os novos funcionários são geralmente treinados para observarem esse acontecimento.
Mas existem diversas maneiras práticas de se verificar esse processo, uma delas é a
prova da bala, a qual consiste em se retirar umas gotas do xarope e colocá-las em uma
vasilha com água. Pelo manuseio com os dedos, o xarope, sendo resfriado,
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transforma-se em uma bala de consistência dura. O cheiro de queimado também serve
como um indicativo para o final do cozimento.
Neste setor, os operadores devem estar usando, touca, avental, bota de
borracha, calça comprida e camiseta de manga longa, para evitar qualquer risco de
acidente causado pelo açúcar quente como pequenas queimaduras. O ambiente é
lavado diversas vezes e o local é protegido por telas, evitando a entrada e queda de
mosquitos, vespas, abelhas e outros insetos. Observa – se a correta utilização dos
EPIs, que não acontece nas etapas anteriores.
3.7. Processo de bateção e esfarelamento da massa
Nesta etapa a massa de açúcar mascavo é direcionada para as batedeiras
(figura 5), onde ocorre o esfarelamento da massa, ou seja, a cristalização do açúcar.
Esse processo é constituído de uma agitação rápida e contínua para que a massa não
endureça e adquira um esfarelamento bom.�Essa operação leva em torno de 5 minutos,
até que a massa passe para o estado sólido produzindo um açúcar solto. A figura 6
mostra o momento que o xarope é colocado nas batedeiras para o esfarelamento da
massa.
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Figura 5: Batedeira
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3.8. Peneiragem e Resfriamento do açúcar mascavo
Depois de ser esfarelado o açúcar é peneirado em uma peneira giratória (figura
6) para destruição de grandes torrões de açúcar em partículas menores, sendo que
desta peneiragem sobram alguns caroços de açúcar. Esses caroços retornam ao
processo de concentração e cozimento para serem reprocessados para que não haja
perdas no processo.
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Figura 6: Peneira Giratória
Assim, o açúcar mascavo é levado para uma mesa de resfriamento, e quando
resfriado, volta novamente para peneira para ficar mais fino. O açúcar passa por duas
peneiras antes da mesa de resfriamento. Uma observação relevante que pode ser feita
em relação a este processo é que a peneira contém muitos parafusos e pequenas
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peças de metal. Uma possível maneira de se evitar a presença de sujidades metálicas
no produto final seria a utilização de ímãs ao final do processo. Este controle não é
realizado na agroindústria Docican, mas é interessante constatar que recentemente
diversas denúncias de contaminação de açúcar com fragmentos metálicos (envolvendo
outras indústrias) foram feitas à ANVISA (ANVISA, 2012). Segundo este órgão “a
presença de fragmentos metálicos é uma irregularidade de interesse sob o aspecto de
saúde pública, pois a depender da dimensão e formato desses fragmentos, pode haver
lesão no trato gastrointestinal do consumidor. É importante esclarecer que o ferro
metálico apresenta baixa biodisponibilidade (capacidade de absorção) e o risco de
lesão do consumidor é o aspecto mais relevante”. Ao que se refere às irregularidades
denunciadas, a Anvisa orientou as vigilâncias sanitárias a intensificar a atividade de
fiscalização das unidades beneficiadoras de açúcar. Em complementação, determinou
a interdição cautelar, em todo território nacional, dos produtos irregulares.
3.9. Embalagem e Estocagem
Quando já resfriado o açúcar é transportado até uma máquina empacotadora
que fica no setor da embalagem onde é embalado e armazenado em local seco e
arejado. O açúcar mascavo não pode ser embalado quente para evitar a condensação
de água e vire um melaço, evitando ainda crescimento microbiológico.
Neste processo, os operadores utilizam toucas, aventais, camisetas manga
longa e botas de borracha de cano longo, o chão e os maquinários são lavados
diariamente. O armazém deve ter um piso asfaltado preferencialmente, não se devem
conter janelas e poucas portas. É preferível que seja um local de mínima ventilação,
com umidade relativa de ambiente baixa.
4.0. Padrões Microbiológicos e Físico – Químicos do açúcar mascavo.
Por não ter laboratório próprio, as análises do açúcar e do solo da Agroindústria
Docican são realizadas pelo Laboratório Lbn análises, onde são feitas análises físicos-
químicas - umidade, cinzas, sacarose e glicose, e exames microbiológicos - Coliformes
à 45º e Salmonella sp. O açúcar mascavo deve atender aos padrões microbiológicos
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de qualidade conforme a RDC nº12 de 02/01/2001 – ANVISA – Ministério da saúde.
Nas tabelas 1 e 2 estão presentes os laudos de exames Físico-Químicos e
Microbiológicos em uma amostra de 25g da agroindústria Docican.
Tabela 1: Resultados das análises Físico – Químicas de uma amostra de açúcar mascavo
da Indústria Docican
Ensaio Resultado Especificação
Umidade 3,67%
Cinzas 0,90% 2,2%
Sacarose 90,33% 90%
Glicose 4,96% ----
Tabela 2: Resultados das análises microbiológicas de uma amostra de açúcar mascavo
da Indústria Docican
Ensaio Resultado Valor de Referência*
Coliformes à 45ºC <1,0x10¹ UFC/g est. 10² UFC/g
Salmonella sp Ausência em 25g Ausência em 25g
Fonte: Docican Agroindústria LTDA
A legislação brasileira estabelece o teor de sacarose como único parâmetro
físico-químico para avaliação do açúcar mascavo, exigindo valor mínimo de 90% ou
90ºS (BRASIL, 1978). O teor de sacarose no açúcar representa a eficiência no
processo de evaporação, ponto correto da maturação da cana no momento da colheita,
tipo de solo usado para cultivo e principalmente rendimento do processo produtivo
(CRISTOVÃO, 2007). Assim, pode-se observar na Tabela 1 que o açúcar mascavo
analisado possui teores de sacarose dentro dos padrões de referência, de acordo com
a Resolução – CNNAP nº12 de 1978. Embora a legislação vigente não regulamente os
teores de glicose, cinzas e umidade, estes são parâmetros importantes para avaliação
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da qualidade do açúcar mascavo. O teor de glicose pode indicar o grau de inversão da
sacarose durante o processamento. Já a quantidade de cinzas, fornece um indicativo
do teor de minerais como ferro, cálcio, potássio etc. Sabe-se, por exemplo, que altos
teores de potássio conferem sabor desagradável ao açúcar (LOPES; BORGES, 2004).
Já teores de umidade muito altos podem causar diversos problemas como
empedramento, dissolução de cristais (o açúcar se apresentar melado), infecção por
microrganismos, desdobramento de sacarose em glicose e frutose, o que implica baixa
vida útil para o produto. Apesar da legislação vigente não especificar o mínimo e o
máximo para os teores de umidade, Verruma et al (2007) sugeriram valores inferiores a
2,4% em função da estabilidade do produto. Lopes e Borges (2004) recomendam que o
valor de umidade não seja superior a 5%. Ainda segundo alguns autores, quando o teor
de umidade está acima de 6% ocorre perda de qualidade e deterioração do produto
(JESUS, 2010). De acordo com Verruma et al (2007) o açúcar mais apreciado
sensorialmente é o que apresenta pouca umidade visual.
De acordo com os resultados mostrados na Tabela 2, observa-se que o açúcar
mascavo produzido na agroindústria Docican possui qualidade microbiológica dentro
dos parâmetros exigidos pela ANVISA. A contaminação microbiológica não é
considerada o principal problema do açúcar mascavo, já que durante o processamento
são atingidas temperaturas elevadas, o que seria responsável pela eliminação de
grande parte dos microrganismos. Grande parte da contaminação por bactérias está
ligada à higiene insatisfatória no processo de envase do açúcar ou à conservação
inadequada nos estabelecimentos comerciais (GENEROSO et al.,2009). Os resultados
obtidos neste trabalho indicam que estas etapas do processamento foram realizadas
corretamente na agroindústria Docican. Todavia, algumas melhorias em relação às
práticas adequadas de higiene ainda poderiam ser realizadas nesta indústria. Por
exemplo, observou – se nos banheiros a falta de produto para a higienização adequada
das mãos. Ainda, a higienização do piso deveria ser realizada com uma freqüência
maior, sendo que, muitas vezes, este se encontra em condições precárias. O banheiro
fica muito próximo da área de produção do açúcar, o que não é adequado. Finalmente,
na portas de entrada para indústria, tem se a necessidade da instalação de uma
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barreira sanitária com pias, contendo sabão e álcool 70% para higienização das mãos e
das botas.
4. Conclusão
Durante o desenvolvimento do estágio foi possível associar a prática aos
conhecimentos adquiridos no decorrer da graduação em Tecnologia em Alimentos,
englobando uma série de disciplinas, especialmente higiene industrial, operações
unitário, análise de alimentos e microbiologia, o que é de extrema importância na
formação acadêmica. O vivenciamento das atividades de uma empresa, assim como o
convívio direto com todos que compõe uma área industrial proporciona ao aluno um
aprendizado significativo e sólido.
Neste estágio, todas as etapas de processamento do açúcar mascavo foram
acompanhadas, desde a recepção da matéria-prima, até o envase e a expedição do
produto final. Inúmeros pontos são críticos para o processo, sendo que falhas no
processamento podem ocasionar produtos finais com problemas de qualidade.
Observou-se que o açúcar mascavo produzido na agroindústria Docican possui
qualidade dentro dos padrões estipulados pela legislação, no que se refere ao teor de
sacarose e à qualidade microbiológica. Entretanto, o teor elevado de umidade do
açúcar pode causar diminuição da qualidade (empedramento, dissolução do açúcar,
inversão da sacarose) e do tempo de conservação. Este e outros parâmetros (teor de
cinzas, teor de glicose, presença de fragmentos metálicos), todavia, não são
regulamentados pela legislação vigente. Nota-se, portanto, que novas resoluções de
padronização para açúcar mascavo são necessárias para adequar a garantia de
qualidade do produto para o consumidor.
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5. Referencias
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Contaminação de açúcar com
metais. Disponível em: http://s.anvisa.gov.br/wps/s/r/blHS. Acesso em: 04 de Março,
2013.
ANVISA. Padrões Microbiológicos Sanitários. RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001.
Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_01rdc.htm. Acesso em: 20 abr. 2012
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